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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE POS GRADUAGAO PSICOLOGIA SOCIAL SEMINARIO AVANCADO: EXPERIENCIA DA IMAGEM - PPGEDU Professoras: Fabiana de Amorim Marcello e Rosa Maria Bueno Fischer Mestranda: Luciane Engel Quinto Ensaio — 04/11/14 (21/10/14) Experiéncia da imagem, experiéncia de si. Vida © obra, ficgao € realidade. Sophie Calle—Countdown TITLE: EXQUISITE PAIN (COUNT DOWN - 52), 2000 A arte em fotografia de Sophie Calle é capaz de produzir catarses e, com base no texto de Fabris, “Entre imagens ¢ palavras’, a anilise seguiu 0 seguinte rumo. © teor melancélico ¢ supostamente derrotado da imagem que se apresenta no rol de sua arte, também pode levar a outras possibilidades de arranjos da experiéncia de viver. Desfechos «que nao sejam a morte, mas que sejam o desvanecido que reaparece e esté no jogo, na relago de poder existir e participar. A busca incessante por si mesmo, Sophie Calle com encontros imagéticos, proporciona emogdes ao fotografar; arte da existéncia, que na imagem capturada escapa da redundancia e da impossibilidade de descrigfo na linguagem. Nao cabem em palavras os encontros e desencontros, nem a intengo de desconstrugao e deslocamento que a artista pretende. A sua imersio na arte, a sua existéncia como parte dela, desvela 0 avesso das coisas ¢ das palavras ou pelo menos o outro lado de um mundo de significantes, cheio de imagens, ordens, regramentos e que escapa das visibilidades. A imagem acima suscita um pessimismo. A contagem regressiva que corre para um lugar de dor é indesejada, solitaria e vazia. E a imagem de uma auséncia, que o presente ecria no jogo da vida. “Nao se trata das imagens-lembranga de uma presenga, mas das imagens de uma auséncia, a de quem é seguido, a de quem o segue, de sua auséncia reciproca.” (Calle, p.83). E a busca incessante de si e do existir caracterizada nas narrativas de Calle, através da busca pelo outro. A legenda dé o tom ea diregao, indicando o prisma e 0 avesso. Se viramos a imagem, vemos exatamente coisa, mas diferente, com outro paradigma, que diz de uma semelhanga, que distancia, que turva e dé outro caminho. Algo que remete a imagens néo percebidas, a coisas a-significantes que abre para outras éticas, outras verdades. © carimbo 52 DAYS TO UNHAPPINESS destaca ¢ localiza 0 discurso que posiciona um jeito “certo” de olhar para o mundo. Implacavel na sua fungdo de registro e definigao. O quadrado que nos enquadra no detalhe; destoa da existéncia, do desejo, da experiéncia e se impdeg sorrateiramente arbitrério. Mas, o detalhe que compe a imagem e a linguagem, possibilita a visibilidade do que esta enunciado no carimbo. Algum deslocamento ¢ possivel e permite a questo. Aquilo que da a “ordem da vida”, também enuncia dor. Uma contagem do tempo em que o softimento é vivenciado ou suportado, colado @ existéncia. Ao se permitir virar a imagem, muitos sentidos se desfazem nesta auséncia de “ordem”, mas onde novos sentidos se constroem, Rompe-se a continuidade Conforme Deleuze “O estilo, num grande escritor, é sempre também um estilo de vida, de nenhum modo algo pessoal, mas a invengo de uma possibilidade de vida, de um modo de existéncia.” (1986, p.126) O estilo de Sophie Calle ¢ esta invengio de um modo de existéncia encontrado na dor, na contagem regressiva de um dia preto ¢ branco, No encontro de imagens ¢ palavras, a dimensdo imagética nas narrativas de Sophie Calle pode alcancar outros interiores, c atualizar modos de viver e de se experimentar em mudangas constantes, talvez irreais ¢ ficcionais, mas ainda assim percebida, sentida ¢ transformada existéncia. Referéncia bibliograficas: DELEUZE, Gilles. A vida como obra de arte, In: Conversagdes. Rio de Janeiro: Ed 34, 1992, p. 118-126. FABRIS, Annateresa, Sophie Calle: entre imagens e palavras. ARS (Séo Paulo). 2009, vol.7, 1.14, pp. 68-85

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