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PAUL FRESTON PROTESTANTES E POLITICA NO BRASIL: DA CONSTITUINTE AO IMPEACHMENT Este exemplar corresponde & redagao final da tese defendida & aprovada pela Comissio Julga~ dora em 3/12/93 Ko Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Ciéncias Sociais do Instituto de Filosofia ¢ Ciéncias Humanas da Universidade Estadual de Campinas Al Bis di bene L Ane Orient) Vor Prof. Dr. Sergio Miceli Pesséa de Barros AGRADECIMENTOS Este trabalho contou com apoio de inimeras pessoas que mandaram materiais, me hospedaram em viagens, realizaram pesquisas eleitorais em igrejas, transcreveram entrevistas € me indicaram os multiplos caminhos do protestantismo brasileiro. A colaboracao dos mais de cem entrevistados, tanto lideres politicos e eclesisticos quanto simples membros ou ex-membros de igrejas, foi da maior importancia para um trabalho que, por se tratar de historia contempordnea edecorrentesreligiosas populares, nao se contentava apenas com fontes escritas. Na impossibilidade de fazer justica a todos, menciono somente os apoios recebidos de forma mais institucional e/ou permanente ~ Ibope-SP (acesso aos dados de audiéncia da midia evangélica), Dr. Oliveiros Ferreira (acesso ao arquivo de O Estado de So Paulo) e Dr. Assad Deixara da lgreja Adventista do Sétimo Dia (acesso a pesquisa do IBOPE sobre o publico de programas religiosos). - Drs. David e Bernice Martin (London School of Economics) e David Lehmann (Universidade de Cambridge), pela interag&o proveitosa sobre varias ideias da tese, - 0 pessoal do CEDI (especialmente a bibliotecaria Christine Born), do IDESP e da ABU. pelo apoio constante: ” Alba Zaluar e Evelina Dagnino, membros da banca de qualificagao, = Renata Maria Ghedini Ramos, peia ajuda abnegada com a impressio final desta tese Foi indispensavel o apoio financeiro recebido da Unicamp (Bolsa de Incentivo Académico) FAPESP (Bolsa de Doutoramento) e ANPOCS (Programa de Dotagdes para Pesquisa. con recursos da Fundacao Ford) A colaboracao eficiente e entusiasmada do meu assistente de pesquisa. Alexandre Brasil di Fonseca, foi de grande incentivo em momentos dificeis da investigagao. Embora 0s defeitos deste trabalho sejam do autor somente, os méritos sao. em grande parte resultado da orientagio paciente recebida do Dr. Sergio Miceli ao longo de varios anos. Tanto na linhas gerais como, muitas vezes, em questdes especificas, seus comentarios foram fundamentai para elucidar 0 sentido dos complexos fendmenos protestantes. 'A maior ajuda foi, como sempre, da minha familia. Na esperanga de que lucrem com o resultados tanto quanto sofreram coma elaboracdo, dedico estatesea Yolanda, Rodrigo. Giovanni e Raphael. Eles vaiem muito mais INDICE Introducdo: Nova Republica: Novos Atores na Res Publica Parte 1: Os Novos Atores em Foco: O Estudo do Protestantismo Brasileiro e da Sua Politica Capitulo 1: Fanaticos, Fisiologicos & Fundamentalistas: Os Protestantes em Debate... e os Debatedores Tambem Parte 2: Os Novos Atores em Contexto: © Campo Protestante no Brasil Capitulo 2: O Mapeamento dos Protestantes Brasileiros Capitulo 3: O Protestantism Historico Capitulo 4° Metamorfoses do Protestantismo Historico Capitulo 5: A Primeira Onda do Pentecostalismo Brasileiro Capitulo 6: A Segunda Onda do Pentecostalismo Brasileiro Capitulo 7: A Terceira Onda do Pentecostalismo Brasileiro Capitulo 8: O “‘Carismatismo” Protestante de Classe Media Capitulo 9: As Entidades Paraeciesiasticas Capitulo 10; A Midia Evangélica Parte 3: Os Novos Atores em Acio: Os Protestantes na Politica Brasileira Capitulo 11: Da Independéncia a Abertura Capitulo 12: A Irrupgao Pentecostal na Politica (1) Capitulo 13: A Irrupgao Pentecostal na Politica (II) Capitulo 14: A Bancada Evangélica na Constituinte Capitulo 15: Os Protestantes na Eleicao Presidencial de 1989 Capitulo 16: Das Eleigdes de 1990 a0 Impeachment Conclusio: Os Novos Atores em Perspectiva: Pentecostais e Democracia Bibliografia Anexo 1. Repertérios Biograficos Anexo 2: Jornais ¢ Periddicos Protestantes Pesquisados Tabelas Tabela 1: Deputados Federais ¢ Senadores Protestantes. 1933-1987 Tabela 2. Deputados Federais e Senadores Protestantes. 1987-1992 Tabela 3. Atuacdo dos Constituintes Protestantes, 1987-1988 Tabela 4: Os Parlamentares Protestantes eo Impeachment sie 27 42 54 64 82 95 13 122 135 149 180 208 250 267 160 182 227 271 GLOSSARIO DE SIGLAS PROTESTANTES AD Assembléia de Deus AEVB Associacao Evangélica Brasileira BPC _Igreja Evangélica Pentecostal Brasil para Cristo CBB _Convengao Batista Brasileira cc Congrecagao Crista CEB _Confederago Evangéiica do Brasil CONIC Conselho Nacional de Igrejas Cristas IECLB igreja Evangélica de Confissao Luterana no Brasil IEQ Igreja do Evangelho Quadrangular IPB igreja Presbiteriana do Brasil IPDA Igreja Pentecostal Deus ¢ Amor IPI Igreja Presbiteriana Independente TURD Igreja Universal do Reino de Deus iii - INTRODUCAO: NOVA REPUBLICA: NOVOS ATORES NA RES PUBLICA O que tém em comum - 0 organizador do livro de nao-ficgio mais vendido na historia da lneratura brasileira (Brasil: Nunca Mais)? = 0 candidato da esquerda a presidéncia da Constiiuinte? ~ 0 Ministro da Agricultura responsavel pelas wrés."super-safras" do governo Sarney? E ainda: ~ 0. autor da emenda que deu cinco anos ao Presidente Sarney? ~ 0 candilaio a presidente que terta vendido sua vaga para Silvio Santos? ~ 0 deputado federal cassado por supostas ligacdes com 0 trafico de drogas? = 0 depuiado federal do PFL nomeado Mmistro da Educagdo no auge da crise do governo Collor en: 1992? Aos quais, juntam-se ~ a tinica mulher negra do Congresso brasileiro. <0 timeo piloto-indio do pais, fundador da Unido das Nagées Indigenas ¢ candidato a depuiado federal em 1990. =a figura religiosa mais comentada pela tmprensa nos tilnmos anos, & cuja pris prevemiva mereceu visita pessoal de Lula A resposta € que todos esses atores politicos do Brasil redemocratizado sao proestames. Falar de protestantes ¢ politica hoje ¢ falar de quase todos os temas centrais da historia brasileira recente: a restauragdo do Estado de direito; a Constituinte; a elei¢ao presidencial de 1989; a corrupgo. 0 poder da midia, a infiltragao do narcotrafico. a censura, e temas comportamentais como aborto e homossexualismo A atuacao destacada dos protestantes (ou evangelicos”) na politica é fenémeno da Nova Republica, apesar da antizuidade das igrejas. Imigrantes alemaes a partir de 1823 trouxeram fé luterana. mas as primeiras igrejas em lingua portuguesa com finalidade missionaria datam da década de 1850. O trabalho pioneiro de congregacionais ¢ presbiterianos foi seguido por metodistas e batistas. sendo os missionarios, na grande maioria, norte-americanos. Costuma-se 1 Pela ordem., os personagens sfio: Jaime Wright, Lysineas Maciel. Iris Rezende, Matheus lensen, Armando Cortéa, Jabes Rabelo. Eraldo Tinoco. Benedita da Silva. Marcos Terena. Edir Macedo. 2 No Brasil. "evangélico” ¢ gcralmente sindnimo de “protestanic”. Segundo Mendonca (1989;42), “evangélico” € preferido por membros das igrcjas ¢ por historiadores comprometidos com as mesmas. enguanto "protestante” € usado por historiadores ¢ socidloges nao comprometidos. O IBGE oferece duas categorias. "protestante tradicional” © "protestanie pentecostal”. A auto-identificagaio problemética reflete uma identidade foriada em oposigao a igreja dominante ¢ a falta de unidade mterna, Esta decorre niio so da concorréncia missionaria original, mas do crescimento rapido no qual todos os grupos encontram um lugar ao sol. A segmentacdo resultante precisa ser complementada por uma identidade unificadora, "Evangélico” ¢ a identificagio que une ¢ permite acdes conjuntas: € 0 nome denominacional (“batista", “metodisia” cic.) ¢ a identificagao que diferencia ¢ justifica a existéncia de organizagocs miltiplas. A ressalva que fazemos a Mendonca € que. nos ultimos anos. a imprensa consagrou o termo "evangclico”. 0 qual adquiriu espaco cm publicagdes académucas ¢ deixou de ser privativo dos "comprometidos”. Por questdo de estilo. usaremios "protestante” e "evangélico”. sem diferenca de sentido,

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