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JOHN MN@y.N RTHUR UMA CHAMADA PARA A BATALHA Neste exato momento, a verdade esta sob ataque; e muita coisa, em jogo. Nos Estados Unidos, talvez, ninguém tenha uma paixdo tao profunda por desmascarar aqueles que estado realizando esse ataque do que John MacArthur — principalmente aqueles que o fazem dentro da prépria igreja. NAO EXISTE UMA ZONA NEUTRA — NENHUM TERRENO SEGURO PARA OS QUE NAO ASSUMIRAM UM COMPROMISSO NESSA GUERRA. A BATALHA PELA VERDADE ESTA SE INTENSIFICANDO, ESTE LIVRO REVELA: +_ As armadilhas do pensamento pés-moderno + Por que o Movimento da Igreja Emergente é inerentemente defeituoso PO eo tone Op ees ee orc hac Raccoon ae ecg r! + Aimportancia da verdade e da certeza em uma sociedade pés-moderna + Como identificar e lidar com os erros e os falsos ensinos introduzidos eer otc tenet a ttt BONS Cates Romne hmmm Cr annem cle Retr ren Tale 0 ponto de fadiga letal no que diz respeito a encarar a verdade — uma época que ja nao acredita que a verdade possa ser conhecida. O Dr, John MacArthur nao concorda em OR Re Ee Tetirle Renu Meele ryan e tc Mes ie at Mar Me aaa eats oe Voce) Coden Lalaccy (seme Tsar Cc slcoM MaernLaTCS Con MECC oC MCMC cee RMI eri ec sua preocupacao com a igreja fica evidente em cada pagina. A igreja evangélica precisa Peconic Cen ketene ee hacomel tester e eB crea cM Pagan laa Saree RTE tod ae ST ae LI Cee ta) EDITORA FIEL EDITORA FIEL Caixa Postal. 1601 CEP 12230971 S30 José dos Campos-SP PABX.: (12) 3936-2529 www.editorafiel.com.br AGuerra pela Verdade: Lutando por certeza numa época de Engano Traduzido do original cm inglés: The Truth War: Fighting for certainty in age of deception Copyright © 2007 John F MacArthur, Jr. Publicado originalmente em inglés por Thomas Nelson, 2007. Publicado em portugués com permissio de Thomas Nelson. 1° edigao em portugués © 2008 Editora Fiel 14 Reimpressio ~ REVISADA: 2010 Todos os direttos em lingua portuguesa reservados por Editara Fiel da Missio Bvangélica Literdria PROIBIDA A REPRODUGAO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MBIOS, SEM A PERMISSAO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAGOES, COM INDICAGAO DA FONTS. Presideiste. Rick Denham Editor: Tiago J, Santos Filho. Tradugao: Gordon Chown Revisdo: Waléria Coicev, Marilene Paschoal Capa: The Designworks Group Diagramacao e Arte Final: Edvanio Silva ISBN: 978-8599145-37-1 No decurso dos anos, tenho comprovade que minha parceria com Phil Johnson foi determinada por Deus. A con- tribuigdo de seus conhecimentos teolégicos, de sua clareza de pensamento e de sua forte convicc4o tem sido essencial para o sucesso de nossa cooperacdo em empreendimentos como este. Devo a Phil a mais profunda gratidao pelos seus consideravcis esforcos editoriais neste livro. JOHN MacARTHUR A Igreja de Cristo é continuamente representada na figura de um exército, Entretanto, o seu Capitao é o Principe da Paz; o seu objetivo é estabelecer a paz, e os seus soldados so homens de disposicdo pacifica. O espirito de guerra é 0 extremo oposto do espirito do evangelho. Apesar dissy, a lyreja, uesla Lerra, tem sido e sera, até a segunda vinda do Senhor, a igreja militante, a igreja armada, a igreja que guerreia, a igreja que conquista. E por qué? De acordo com a prépria natureza das coisas, é necessa- rio que a igreja seja assim. A verdade nao poderia ser verdade neste mundo, se nao estivesse em luta; e suspeitariamos da verdade, se o erro fosse seu amigo. A pureza imaculada da ver- dade sernpre deve estar em guerra contra as trevas da heresia e da mentira. C.H. SPURGEON’ 1. SPURGEON, Charles. The Metropolitan Tabernacle Pulpit. London, 1879. v. 5. p. 41. INDICE Introdugdo: Por que vale a pena lutar pela verdade? .......oeniie 9 1 A verdade pode sobreviver numa sociedade pés-moderna? verssesscsrsnrerecennmeens sess 29 Guerra espiritual: Dever, perigo e triunfo garantidos «cesses 57 Compelidos ao conflito: Por que devemos lutar pela fé? 83 Apostasia dissimulada: Como os falsos mestres se introduzem furtivamente na igreja? eee LLL Asutileza da heresia: Por que devemos permanccer vigilantes? .......-sssssessesssssen 131 A malignidade da falsa doutrina: Como o erro transforma a graca em licenciosidade?........... 155 O ataque 4 autoridade divina..... Anegacdo do senhorio de Cristo 183 Como sobreviver numa época de apostasia: Aprendendo das ligdes da Hist6ria......-sccccceccseenniees 207 Apéndice: Por que o discernimento est fora de moda?............... 229 INTRODUCAO POR QUE VALE A PENA LUTAR PELA VERDADE? uem imaginaria que pessoas que alegam ser crentes — inclusi- ve pastores — atacariam a propria no¢4o da verdade? Mas eles 0 fazem. Um exemplar recente da revista Christianity Today destacou um artigo de capa a respeito da Igreja Emergente. Esse é 0 nome popular de uma associac4o informal de comunidades cristas, de alcance mundial, que deseja restaurar a igreja, alterar 0 modo como os cristaos interagem com sua cultura e remodelar a maneira de pen- saymos a respeito da propria verdade. O artigo incluia um resumo biografico de Rob e Kristen Bell, o casal que trabalhou em equipe para fundar a igreja Mars Hill, uma comunidade emergente muito grande, em Grand Rapids, Michigan, que possui um crescimento sélido. Segundo o artigo, o casal Bell sentia-se cada vez menos satisfeito com a igreja. “A vida na igreja se tornara téo insignificante”, afirma Kristen. “Para mim, aigreja foi produtiva durante muito tempo. Depois, parou de ser funcional.” O casal Beil passou a questionar suas suposigées a respeito da prépria Biblia — “descobrindo-a como um produto humano”, conforme Rob se expressa, e néo a produto de um decreto divino. “A Biblia continua sendo central para nés”, diz ta A Grerev pris Verbane Rob, “mas ela é um tipo diferente de centro. Queremos abracar um mistério, em vez de domind-lo”. “Cresci achando que jd tinhamos decifrado a Biblia”, comenta Kristen, “e sabiamos o que ela significava. Agora, ndo tenho a menor idéia de qual seja o significado da maiar parte dela. Entretanto, sinte novamente que minha vida é grandiosa & como se, no passado, a vida ey estivesse em pretoe branco, mas agora estd em cores”. Um tema dominante permeia A IDEIA DE QUE A todo o artigo: no movimento da Igreja MENSAGEM CRISTA Emergente, a verdade (scja qual for o DEVE SER MANTIDA grau de reconhecimento desse conceito) ADAPTAVEL E é admitida como algo inerentemente AMBIGUA PARECE obscuro, indistinto, incerto e, em ulti- ESPECIALMENTE ma anilise, talvez até incognoscivel. ATRAENTE AOS Cada um dos lideres da Igreja JOVENS QUE VIVEM Emergente, cujos perfis biogrdficos EM HARMONIA COM A CULTURA E AMAM O ESPIRITO DESTA RPACA. foram apresentados no artigo, expres- sou um alto nivel de desconforto ao lidar com qualquer indicio de certeza a respeito do que a Biblia significa, mesmo numa questo tao fundamental como o evangelho. Brian McLaren, por exemplo, um autor popular e ex-pastor, 6 0 personagem mais conhecido do movimento da Igreja Emergente e uma de suas vozes mais influentes. McLaren é citado acerta altura do artigo da revista Christianity Today, dizendo: “Acho que ainda nao conseguimos entender corretamente o evangetho... Acho que os liberais também n4o o conseguiram. Mas acho que nés também no 0 entendemos do modo certo, Nenhum de nés chegou a ortodoxia”? 1, CROUCH, Andy. “The emergent mystique” in Christianity Today. Carol Stream: Christi- anity Today International, 2004. p. 37-38 (@nfase acrescentada). 2. Ibid. INTRODLCAO i Em outra parte do artigo, McLaren vincula a nugdv couvencio- nal de ortodoxia a afirmacao: “Capturamos e empalhamos a verdade, e a penduramos na parede”.’ Da mesma forma, ele faz uma caricatu- ra da teologia sistematica como uma tentativa inconsciente de “ter a ortodoxia em uma forma fixa, congelada e inalteravel para sempre”.* Hoje em dia, esse tipo de coisa goza de muita popularidade. McLaren foi o autor ou co-autor de cerca de uma duzia de livros, e seu total desprezo pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a editora Zondervan e a orpanizacdo “Youth Specialties” (Caracteristicas da Juventude) trabalharam em conjunto para criar uma linha de produtes chamada Emergent/YS. Eles publicam livros, DVDs e produtos de audio num ritmo intenso e abundante, com titulos que variam desde: Repintando a Igreja: uma visio contempordnea, escrito por Rob Bell, até Adventures in Missing the Point (Aventuras num Ponto Perdido), um titulo bem apropriado, escrito com a colaborac4o de Brian McLaren e Tony Campolo. A idéia de que a mensagem crista deve ser mantida adaptavel e ambigua parece especialmente atraente aos jovens que vivem em harmonia com a cultura c amam o espirito desta época, c nado podem suportar que a verdade biblica autoritaria seja aplicada com precisao, como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamentos fmpios. E o veneno dessa perspectiva vem sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica. Mas isso nao € cristianismo auténtico. Nao saber o que se cré (principalmente numa questo tao essencial ao cristianismo como o evangelho) é, por definicéo, um tipo de incredulidade. Recusar reconhecer e defender a verdade revelada da parte de Deus é um tipe especifico de incredulidade obstinada e perniciosa. Defender a ambiguidade, exaltar a incerteza ou, de qualquer forma, obscurecer a verdade é um modo pecaminoso de nutrir a incredulidade. 3, MCLAREN, Brian. A Generous Orthodoxy. Grand Rapids: Zondervan, 2004. p. 293. 4. Ibid. p. 286. te AN Gerke A reey Vewoite Todo cristéo verdadeiro deve conhecer e amar a verdade. As Escrituras afirmam que uma caracteristica dos “que perecem” (aque- les que est4o condenados a perdicao por causa de sua incredulidade) é que nao acolhem “o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2.10). A conclusao dbvia desse texto é que o amor genuino pela verdade esta embutido na fé salvifica. Esse amor a verdade é, portanto, uma das qualidades distintivas de todo crente verdadciro. Nas palavras de Jesus, eles conheceram a verdade, e a verdade os libertou (Jo 8.32). Numa época em que a propria idéia de verdade esta sendo des- prezada c atacada, até na prépria igrcja, onde as pessoas devcriam tra tar a verdade com a maxima reveréncia, o sdbio conselho de Salomao nunca foi tao oportuno: “Compraaverdade en4oavendas’” (Pv 23.23). O VALOR ETERNO DA VERDADE Em todo o mundo, nada é mais importante ou mais valioso do que a verdade. E a igreja deve ser “coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15). A Historia esta repleta de relatos de pessoas que preferiram a tortura ou a morte a negarem a verdade. Em geracdes anteriores, 0 fato de alguém dar a vida por aquilo em que cria era considerado um ato herdico. Isso jA nado é mais assim. Parte desse problema deve-se ao fato dos terroristas e homens- bomba suicidas terem tornado posse da idéia de “martirio” ea distor- cido. Eles se chamam de “martires,’ mas sio assassinos suicidas, que Matam as pessoas porque elas ndo créem. Sua agress4o violenta 6, na realidade, 0 oposto do martirio; e as ideologias implacaveis que os impulsionam sie a antitese da verdade. Nada ha de herdico no que fazem, nem ha qualquer nobreza naquilo que defendem. Contudo, eles sdo simbolos relevantes de uma tendéncia profundamente per- turbadora que contamina a geracdo atual, em todo o mundo. Hoje em dia, parece que no falta pessvas dispystas a matar em prul de uma mentira. No entanto, poucas pessoas parecem estar dispostas a INTRODLCAQ 14 falar em prol da verdade - e muitu menos a morrerem por ela. Considere os testemunhos dos martires cristaos no decurso da Histéria. Eles eram valentes defensores da verdade. Naa eram terrorislas, nem vivlentus, é logico, Mas “lulavam” pela verdade; proclamando-a em meio a oposicao ferrenha; vivendo de um modo que testemunhava o poder e a graca da verdade; recusando-se a renuncia-la ou abandona-la, ndo importando as ameagas que fossem feitas contra eles. Esse padrao comeca na primeira geracdo da histéria da igreja, com os préprios apéstolos. Todos eles, com a possivel excecao de Jodo, morreram como martires. O préprio Jodo pagou caro por manter-se firme na verdade, pois foi torturada e exilada por causa de sua fé. A verdade era algo que eles amavam, em favor do que lutavam e pelo que, finalmente, morreram. passaram esse mesmo legado a geracao posterior. Inacio e Policarpo, por exemplo, eram guerreiros da verdade cristé na antigiiidade. Ambos eram amigos pessoais e discipulos do apdstolo Jodo; portanto, viveram e ministraram quando o cris- tianismo ainda era muito recente. A Histéria registra que ambos entregaram sua vida voluntariamente, em vez de negarem a Cristo e desviarem-se da verdade. Inacio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, que exigiu que ele fizesse um sacrificio publico aos idolos, como prova de sua lealdade 4 Roma. Inacio poderia ter poupado sua prépria vida ao ceder diante daquela pressdo. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior, realizado sob pressao, contanto que Inacio nao negasse a Cristo em seu coracao. Mas, para Indcio, a verdade era mais importante do que sua propria vida. Recusou-se a sacrificar aos idolos, ¢ Trajano ordenou que cle fosse langado as feras, no estadio, para a diversao das multidoes pagas. Policarpo, amigo de Inacio, procurado pelas autoridades (por- que também cra conhccido como lider entre os cristdos), entregou- se de espontanea vontade, sabendo muito bem que isso lhe custaria a vida. Levado a um estadio, diante de uma turba sedenta de sangue, 4 NOGrki ka @rea Venice Policarpo recebeu ordens para amaldi- HOJE, BOA PARTE soar a Cristo. Recusou-se a fazé-lo, com DA !GREJA VISIVEL estas palavras: “Durante oitenta e seis PARECE IMAGINAR anos, eu O tenhy servido; Ele nunca me QUE O08 CRISTADS fez injustica alguma. Como, pois, blas- DEVEM ESTAR NUMA DIVERSAO, E NAO ali mesmo, foi imediatamente queimado NUMA GUERRA. A vivo. IDEIA DE LUTAR EM FAVOR DA VERDADE DOUTRINARLA & ALGO BEM DISTANTE DO PENSAMENTO femarei do men Rei que me salvau?” E, No decorrer da histéria da igreja, em cada geracdo, méartires incontaveis preferiram morrer a negar a verdade. Serd que eles nao passavam de tolos que valorizavam demais as suas convicgdes? DA MAIORIA DOS sua total conf, a 5 7 ua total confianga n. EREQUENTADORES dad i a a que cram DAS IGREJA. era, na verdade, um zelo mal orientado’ Morreram de snecessariamente? sm E caro que muitos pensam assim nos dias de hoje — inclusive alguns que professam ter fé em Cristo. Vivendo em uma cultura cm quc a perseguicio violenta é quase des- conhecida, multiddes que se declaram crentes parecem ter esquecido que a fidelidade geralmente tem um prego. Eu disse “geralmente”? De fato, a fidelidade a verdade sempre custa caro, de uma maneira ou de outra (2 Tm 3.12). E é exatamente por essa razao que Jesus insistiu no fato de que todo aquele que deseja ser seu discipulo precisa estar disposto a tomar uma cruz (Lc 9,23-26).§ O préprio movimento evangélico tem de assumir parte da culpa 5. A quarta perseguicao durante o reinado de Marco Aurélio descrita em FOXE, John. “A Perseguicdo aos Primeiros Cristaos” - in Livro dos Martires. Traducio de Almiro Pizet- ta. Séo Paulo: Mundo Cristao, 2003. O famoso martirologio escrito por Foxe é um tes- temunho monumental sobre a honra e a coragem dos reformadores que entregaram sua vida por amor a verdade, As énfases sdo vigorosas e necessarias em nossos dias de comodismo destituido de conviccdes. 6. Veja também MACARTHUR, John. Hard to Believe. Nashville: Nelson, 2003. INTRODUCAO 15 pela desvalorizacdo da verdade, ao satisfazer aqueles que sentem coceira nos ouvidos (2 Tm 4.1-4). Alpuém realmente acredita que os freqientadores que enchem as mega-igrejas de hoje, famintos por diversées, estariain dispustus a dar sua vida em favor da verdade? De fato, muitos deles sequer estao dispostos a assumir uma posi¢do firme em relacdo 4 verdade, mesmo em meio a outros crentes, num ambieule uo qual nao existe qualquer ameaga grave contra eles e onde, na pior da hipéteses, o que poderia acontecer seria alguém ficar cam os sentimentos feridos Hoje, boa parte da igreja visivel parece imaginar que os cristaos devem estar numa diversdo e nao numa guerra. A idéia de lutar em favor da verdade doutrindria é algo hem distante da pensamento da maioria dos freqientadores de igreja. Os cristaos contemporaneos esto determinados a fazer com que o mundo goste deles — e, é claro, nesse pracesso, querem tamhém se divertir o quanto puderem. Vivem tao obcecados em fazer com que a igreja pareca “legal” para os incrédulos, que ndo se incomodam com o fato da doutrina dos outros ser sadia ou nado. Num ambiente como esse, a simples idéia de identificar o ensino de alguém como falso é uma sugestao desagradavel e peri- gosamente anticultural; assim, o que se dird do fato de “contender sinceramente” pela fé? Os cristaos “compraram” a noc4o de que quase nada é tdo desagradavel aos olhos do mundo quanto o fato de alguém demonstrar uma preocupacdo sincera em relagdo ao perigo da heresia. Afinal de contas, o mundo nao quer realmente levar a verdade espiritual a sério; sendo assim, as pessoas nao podem ima- ginar por que alguém faria isso. No entanto, dentre todas as pessoas, 0s cristéos devem scr 03 mais dispostos a viver e morrer pela verdade. Lembre-se: conhece- mos a verdade, e a verdade nos libertou (Jo 8.32). Nao devemos nos envergonhar de testemunhar com ousadia (S] 107.2). B, se formos chamados para morrer por amor a verdade, precisamos estar dispos- tos e prontos a perder a nossa vida, de livre vontade. Foi exatamente 1p A GUERRA Phia VERDADT sobre esse assunto que Jesus falou ao chamar os seus discipulos para tomarem a sua cruz (Mt 16.24). A covardia ea fé auténtica se opdem. O QUE BA VERDADE? E claro que Deus e a verdade so inseparaveis. Qualquer pensa- suento a respeilu da esséncia da verdade — o que ela 6, 0 que a torna “verdadeira” e como podemos saber algo com certeza — nos remete imediatamente a Deus. Essa é a raz4o por que o Deus encarnado — Jesus Cristo — é chamado de “a verdade” (Ju 14.6). Essa também é a azo por que nao nos surpreendemos quando uma pessoa que rejeita a Deus, rejeita igualmente a verdade divina Se uma pessoa nao tolera o conceito de Deus, também nao havera lugar adequado para a verdade na cosmovisdo dessa pessoa. Sendo assim, o aten, agndstica on iddlatra coerente pade muito bem adiar a simples idéia da verdade. Afinal de contas, rejeitar a Deus é rejeitar o Doador de toda verdade, Aquele que tem a palavra final sobre aquilo que é realmente verdadeiro, hem como a prépria esséncia ea corporificagao da prépria verdade. Contorme observaremos adiante, é exatamente a essa con- clusio que muitas pessoas do ambito académico e filosdfico tém chegado. Ja nao acreditam na verdade como uma realidade segura que pode ser conhecida. Nao se engane: a semente desse tipo de opiniao é a incredulidade. A aversio contempordnea 4 verdade é simplesmente uma expressdo natural da hostilidade contra Deus, por parte da humanidade caida (Rm 8.'/). No entanto, nos dias de hoje, a maioria das pessoas alega crer no Deus da Biblia, mas, apesar disso, afirmam que esto incertos acerca do que venha a ser a verdade. Uma apatia sufocante a respeito do conceito de verdade domina boa parte da sociedade contemporanea - incluindo um segmento cada vez maior do movimento evangélico. Muitos dos que se autodenominam evangélicos questionam INTRODUCAQ ~ abertamente se existe, de fato, algo chamado verdade.’ Outros supdem que, mesmo que a verdade realmente exista, ndo podemos ter certeza a respeito do que ela 6; portanto, ela nao deve ser muito importante. Os problemas da incerteza e da apatia em relacdo a verdade, dois problemas gémeos, sao epidémicos, mesmo entre alguns dos Os LIDERES DA IGREJA autores e porta-vozes mais populares ESTAO OBCECADOS do movimento evangélico. Alguns se COMO BSTULO & recusam. explicitamente a tomar uma A METODOLOGIA; posisav em favor de qualquer assunto, PERDERAM O porque resolveram que nem mesmo as INTERESSE PELA Escrituras s40 claras 0 suficiente para GLORIA DE DEUS serem disculidas. E TORNARAM-SE Na verdade, tais idéias, em si GROSSEIRAMENTE mesmas, n4o sia novidade, nem parti- APATICOS QUANTO cularmente chocantes ~ a nao ser pelo AVERDADE E ASA fato de que essa maneira de pensar DOU'TRINA, PELO tenha atingido grande popularidade MENOS NO MOMENTO, A BATALHA PARECE ESTAR VIRANDO EM FAVOR DO INIMIGO. em nossos dias e pelo modo como essas idéias estéo se infiltrando na igreja. Rm resumo, essa ¢ exatamente a mesma atitude adotada por Pilatos, ao desconsiderar a Cristo: “Que é a verdade?” (Jo 18.38). Certas evangélicos “vanguardistas” agem, As veres, como se 0 falecimento da certeza fosse um novo desenvolvimento intelectual sensacional, em vez de o perceberem como ele realmente é: wm eco da velha incredulidade. Trata-se da descrenca disfargada com uma capa 7. Nados extraidos de uma pesquisa realizada depois dos ataques terroristas, publicada em navembro de 2001, pela Grupn Barna, indicaram que dnis tercas das adnitas que frequentam igrejas protestantes conservadoras questionam se existe a verdade moral absoluta. “How America’s Faith Has Change Since 9/11” (Como a Fé nos Estados Uni- dos Modificou-se desde 11 de setembro). Disponivel em: http://barna.org/FlexPage. aspx?Page-BarnaUpdate&BarnaUpdatelD-102. 1s A GVerrRA PELA VERDATE de religiosidade, buscando legitimidade, como se fosse meramente um tipo mais humilde de fé. Mas isso nao é fé de modo algum. Na realidad, a recusa contempordnea em considerar qualquer verdade como certa e segura é 0 pior tipo de infidelidade. O dever da igreja sempre tem sido o de confrontar semelhante ceticismo e refuta-lo mediante a proclamacio clara da verdade, que Deus revelou em sua Palavra. Ele nos deu uma mensagem clara, com o propésito de con- frontarmos a incredulidade do mundo. Fomos chamados, ardenados e comissionados a fazer isso (1 Co 1.17-31). A fidelidade a Cristo o exige. A honra de Deus assim o requer. Nao podemos ficar sentados, sem fazer nada, enquanto atitudes mundanas, revisionistas e céticas a respeito da verdade se infiltram na igreja. Nao devemos aceitar tal confusao em nome do amor, do coleguismo ou da uniao. Precisamos nos manter firmes e lutar pela verdade — estar dispostos a morrer por ela — como os crist4os fiéis sempre tém feito. Segundo as Escrituras, 0 antigo conflito pela verdade é uma guerra espiritual — uma batalha césmica entre Deus e os poderes das trevas (Ef 6.12), Uma das taticas prediletas dos nossos inimigos é disfarcarem-se como anjos de luz e infiltrarem-se na comunidade dos crentes (2 Co 11.13-15). Isso nao é novidade, mas estou conven- cido de que se tornou um problema muito grave na gerac4o atnal. Infelizmente, poucos crist&us parecem dispuslos a levar essa ameaca a sério. A igreja tornou-se indolente, mundana e acomodada. Os lideres da igreja estao obcecados com 0 estilo e a metadalagia; per- deram o interesse pela gloria de Deus e lornaram-se grosseiramente apaticos quanto & verdade e sd doutrina, Pelo menos, no momento, a batalha parece estar virando em favar do inimigo. Quando Deus prumulyou o Segundo Mandamento, que proi- biu a idolatria, Ele acrescentou a seguinte adverténcia: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqiidade dos pais nos filhos até & terceira e quarta geracdo daqueles que me aborrecem” (fx 20,5). Outras passagens das Escrituras deixam claro que os filhos nunca sao castigados diretamente pela culpa dos pecados de INTRODUCAQ 19 seus pais (Dt 24,16; Bz 18.19-32). Todavia, as conseqliéncias natu- rais daqueles pecados passam realmente de geracdo a geracao. Os filhos aprendem com os exemplos dos pais e imitam o que véem. Os ensinos de determinada geracao estabelecem um legado espiritual herdado pelas geracées seguintes. Se os “pais” de hoje abandonarem a verdade, a restauracio demandara varias geracées. Os lideres da igreja sv vs principais responsaveis por esta- belecerem o exemplo. Hoje, nossa necessidade desesperadora é de “pastores segundo o meu [de Deus] coragao, que... apascentem [os crenles} com couhecimento e com inteligéncia” Jr 3.15; At 20.28- 31). Também é o dever solene de todo crente, resistir a todos os ataques contra a verdade; abominar até mesmo a idéia de falsidade e nao comprometer-se de modo algum cout o iniinigo, que é, acima de tudo, um mentiroso e o pai da mentira (Jo 8.44). A guerra pela verdade é, afinal de contas, uma guerra. Uma guerra € sempre séria, mas essa é a batalha de todas as eras, eu prul do mais elevado dos prémios; portanto, requer de nés a maxima diligéncia. POR QUE A VERDADE ESTA INENTRICAVEL VINCULADA A Des? Comecaremos o Capitulo 1 com uma definicéo da verdade em termos biblicos. Em tiltima andlise, notaremos, tamhém, que toda tentativa de definir a verdade em termos ndo biblicos tem falhado. isso acontece porque Deus é a origem de tudo o que existe (Rm 11.36). Somente Ele define e delimita aquilo que é verdadeiro. Também é Ele quem revela toda a verdade. Todas as verdades reve- ladas na natureza sao de sua autoria ($1 19.1-6); e algumas dessas verdades s4o a auto-revelacio do proprio Deus (Rm 1.20). Ele nos deu mente e consciéncia para percebermos a verdade e entendermos © certo e o errado. Criou-nos com um entendimento fundamental de sua lei, escrita em nosso coracao (Rm 2,14-15), E, acima de tudo, MM A GuIiRKA PRLA VERDADE deu-nos a verdade perfeita e infalivel das Escrituras (S] 19.7-11), a qual é uma revelacdo suficiente para tudo o que diz respeito a vidaea picdade (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.3), a fim de conduzir-nos a Ele mesmo como nosso Salvador e Senhor. Finalmente, Deus enviou a Cristo, a incorporac4o da prépria verdade, como o climax da revelacdo divina (Hb 1.1-3). Ba principal razdo para tudo isso era revelar-se a todas as suas criaturas (Ez 38.23). Toda a verdade, portanto, comeca com a verdade concernente a Deus: quem Ele 6; o que a sua mente sabe; 0 que a sua santidade envolve; o que a sua vontade aprova, e assim por diante. Em outras palavras, toda a verdade é determinada e devidamente explicada pelo Ser de Deus. Por conseguinte, toda nogao de sua inexisténcia é, pela propria defini¢do, inverdade. # precisamente isso que a Biblia ensina: “Diz o insensato no seu coracdo: Nao ha Deus” ($114.1; 53.1). As ramificagées de toda a verdade que comeca em Deus sao profundas. Voltando a uma consideracao anterior: essa € a razdo por que, uma vez que alguém negue a Deus, a coeréncia obriga-o, enfim, a negar toda a verdade. Negar a existéncia de Deus remove, num s6 instante, toda justificativa para qualquer Lipo de conhecimento. Conforme dizem as Escrituras: “O temor do SENHOR é 0 principio do saber” (Pv 1.7). Logo, 0 ponto de partida necessdrio para obtermos um enten- dimento auténtico do conceito fundamental da propria verdade é reconhecermos 0 unico Deus verdadeiro. De acarda com Agostinho, cremos a fim de entender; e a nossa fé, por sua vez, é alimentada e fortalecida A medida que obtemos um entendimento melhor. A fé em Deus, de conformidade com a maneira como Fle se revelou, ev entendimento produzido pela fé sao essenciais, se esperamos apreender a verdade com algum sentido sério e relevante. As Escrituras descrevem todos os cristios auténticos como aqueles que conhecem a verdade e que foram libertos por ela (Jo 8.32). Créem na verdade com todo o coragao (2 Ts 2.13). Obedecem A verdade mediante o Fsptrita de Deus (1 Pe 1.22), E recebem um INTRODUCAQ al amor fervoroso por mcio da verdade, mediante a obra graciosa de Deus em seus coracdes (2 Ts 2.10). Portanto, se nao ha sentido naquilo que vocé conhece, cré, ama e a que se submete, é porque, segundo a Biblia, vocé realmente nao assimilou a verdade. Ficlaro quea existéncia da verdade absoluta e seu relacionamento insepa- yavel com a pessoa de Deus constituem UMA PERSPECTIVA BIBLICA DA VERDADE © principio mais essencial de todo o TAMBEM ENVOLVE, cristianismo verdadeiramente biblico. NECESSARIAMENTE, Falo com franqueza; se vocé é uma O RECONHECIMENTO pessoa que questiona se a verdade é DE QUE A VERDADE realmente importante, peco-lhe que ABSOLUTA £ UMA nao chame o seu sistema de crengas de REALIDADE OBJETIVA. “cristianismo”, porque ele nao 0 é. A VERDADE EXISTE Uma perspectiva biblica da verda- FORA DE NOS de também envolve, necessariamente, E PERMANECE o reconhecimento de que a verdade INALTERAVEL, absoluta 6 uma realidade objetiva. A INDEPENDENTEMENTE verdade existe fora de nés e permanece DE COMO A inalter4vel, independentemente de PERCEBEMOS. A como a percebemos. A verdade, por VERDADE, POR SUA sua propria natureza, é tao fina e cons- PROPRIA NATUREZA, RAO FIXA E tante quanto Deus é imutavel. Porque a verdade pura (que Francis Schaeffer chamava de “verdade verdadeira”) é a expressdo inalterada e imutdvel de quem Deus é; e nao a nossa prépria interpretacdo pessoal e arbitra- tia da realidade. O fato de que os crentes de nossa geracau precisem ser lem- brados dessas coisas é estarrecedor. A verdade nunca é determinada quando examinamos a Palavra de Deus e perguntamas: “O que isto CONSTANTE QUANTO DEUS £ IMUTAVEL. significa para mim?” Sempre que ougo alguém falar desse modo, sinto vontade de perguntar: “O que a Biblia significava antes de vocé A Girxka pria Vikovpe existir? O que Deus quer dizer por meio daquilo que Ele diz?” é a pergunta certa a ser feita. A verdade e o seu significado nao sao de- terminados por nossa intui¢ao, experiéncia ou desejo. O verdadeiro significado das Escrituras ou de qualquer outra coisa - j4 foi deter- minado e estabelecido pela mente de Deus. A tarefa do intérprete é discernir esse significado. E a interpretacao apropriada precisa anteceder a aplicacdo. O significado da Palavra de Deus nao é tao obscuro, nem tao dificil de se entender como as pessoas geralmente fingem que é. Admitimos que algumas coisas na Biblia sao dificcis de entender (2 Pe 3.16), mas sua verdade central e essencial é suficientemente clara para que ninguém fique confuso a respeito dela. “Quem quer que por ele caminhe ndo errard, nem mesmo 0 louco” (Is 35.8). Além disso, nossa percep¢4o individual da verdade certamente pode e deve mudar. Todos nés comecamos sendo nutridos com o leite da Palavra. A medida que obtemos a capacidade de mastigar c digerir verdades mais dificeis, devemos nos fortalecer pela carne da Palavra (1 Co 3.2; Hb 5.12); ou seja, avancamos de um conhecimento meramente infantil para uma assimilacdo mais madura da verdade, em toda a sua riqueza e relacdo com outras verdades. Entretanto, a propria verdade nado muda devido a uma mu- danga em nosso ponto de vista. Enquanto amadurecemos em nossa capacidade de perceber a verdade, a propria verdade permanece fixa. O nosso dever é conformar todos os nossos pensamentos a verdade (S] 19.14); nao temos o direito de redefinir a “verdade”, para que ela se encaixe em nossos pontos de vista, preferéncias ou desejos. Nao devemos ignorar, nem descartar determinadas verdades simplesmente porque as consideramos dificeis de serem aceitas ou profundas demais para serem sondadas. Acima de tudo, ndo pode- mos ser apaticos ou indolentes no tocante a verdade, quando o prego para entender ou defender a verdade revela-se elevado ou bastante desagradavel. Esse tipo de abordagem egoisia da verdade equivale a usurpar a posicao de Deus (S1 12.4). As pessoas que seguem esse INTRODUCAQ 24 caminho garantem a sua propria destruicdo (Rm 2.8-9). Além disso, Deus, de fato, revelou a Si mesmo e a sua verdade com clareza suficiente. Mesmo 4 parte da revelacao especial e expli- cita da Biblia, Deus tornou bem claros para todas as pessoas alguns dos elementos principais da verdade espiritual. As Escrituras dizem, por exemplo, que as verdades principais a respeito de Deus, de seu poder, da sua gléria c da sua justiga séo conhecidas naturalmente por todos os povos, mediante a Cria¢ao e a consciéncia (Rm 1.19-20; 2.14-16). Essas verdades sio adequadamente claras e suficientes para tornar toda raga humana c todos os homens “indesculpavcis” (Rm 1.20). Todos os que seréo condenados no Juizo Final serio responsabilizados por rejeitarem qualquer verdade que estava a sua disposicéo. O fato de que o Deus justo ¢ santo responsabiliza tanto os incrédulos quanto os cristaos pela obediéncia a sua revelacao é uma prova irrefutavel de que Ele tornou a verdade suficientemente clara para nds. Alegar que a Biblia nao é suficientemente clara é atacar a sabedoria e a integridade do proprio Deus. CoMO A VERDADE A SENDO ALACADA NA IGREJA HO? A clareza e a suficiéncia das Escrituras, o estado de perdicao da humanidade nao-redimida e a justica de Deus em condenar os pecadores sao conviccdes antigas em todas as principais tradicdes do cristianismo histérico. Os cristaos tém diferido entre si no tocante as quest6es secundarias ou aspectos periféricos da doutrina. Mas, histévica e coletivamente, os cristios sempre tém mantido plena concordancia de que tudo quanto é verdadeiro — tudo que é objetivo e ontologicamente verdadeiro — continua sendo verdadeiro, quer de- terminada pessoa o compreenda, aprecie, aceite ou receba como verdade, quer ndo. Em outras palavras, visto que a realidade é criada por Deus ea verdade, definida por Ele, aquilu que é realmente verdadeiro, é verdadeiro para todos, independentemente da perspectiva pessoal a4 A GUPRRA PELA Virb Ane ou das preferéncias individuais. Hoje em dia, porém, as pessoas estao fazendo experiéncias com idéias subjetivas e relativistas a respeito da verdade, rotulando-as de “cristas”. Essa tendéncia indica um afastamento radical do cristia nismo biblico e histérico. Levada 4 sua conclusao necessaria, essa tendéncia conduzira inevitavelmente ao abandono ou transigéncia de todo elemento cssencial a fé crista verdadcira. Isso, segundo a minha convic¢ao, é outro grande ataque contra a verdade, feito pelos poderes das trevas, numa batalha que j4 tem durado muitos séculos. O fata de que esse erro estcja sende ensinado, defendido ¢ promovido por pessoas que professam conhecer e amar a Cristo nao altera o fato de que sc trata de um erro. Embora orelativismo seja frequentemente pro- pagado em livros que se encontram nas prateleiras dos best-sellers nas livrarias evangélicas, isso nao altera a gravidade AS PESSCAS ESTAO FAZENDO BXPERIENCIAS COM IDEIAS SUBJETIVAS E RELATIVISTAS A RRSPEITO DA VERDADE, do erro. A remodelagem de nossas ROTULANDO-AS DE idéias acerca da verdade e da certeza “cristas”, ESSA apresenta um perigo grave para o cerne TENDENCIA INDICA do evangelho cristao. UM AFASTAMENTO Como sempre, uma guerra RADICAL DO esté sendo travada contra a verdade. CRISTIANISMO Estamos de um lado ou de outro. Nao BIBLICO E HISTORICO. existe uma zona neutra — nenhum terreno seguro para os que nao assu- miram um compromisso nessa guerra. Recentemente, a questao da propria verdade — o que ela é e se realmente podemos conhecé-la —- passou a ser um dos principais pontos de contenda. Acontece, também, que estamos vivendo numa gerag4o em que supostos cristéos nado sentem o menor interesse por esse conflito e contenda. Multidées de cristéos subnutridos nas Escrituras e na INTRODUCAD : a doutrina chegaram a pensar que a controvérsia é algo que sempre deva ser evitado, custe o que custar. Infelizmente, esse 6 o exemplo que muitos pastores fracos tém lhes dado. Na igreja, nunca devemos apreciar ou nos envolver em contro- vérsia e conflito, sem motivos suficientes. Mas, em cada geracao, a batalha pela verdade tem sido inevitavel, porque os inimigos da verda- de sao implacaveis. A verdade esta sempre sob ataque. E, na realidade, éum pecado ndo lutar quando verdades vitais esto sendo atacadas. Isso é uma realidade, mesmo quando, as vezes, a luta resulta em conflito dentro da comunidade visivel dos cristéos professos. De fato, sempre que os inimigos da verdade evangélica conseguem se infiltrar na igreja, os crentes fidis sio obrigados a batalhar contra eles. Essa €, certamente, a situagau luje, assim como tem sido desde os tempos apostélicos. COMO O8 CRENTES FIEIS DEVEM REAGIR? A medida que o Espirito Santo levava a revelacao do Novo Testamento a sua conclusao, a importancia de lular pela verdade emergia como um dos temas predominantes. Encaixadas no final do Novo Testamento, 4 sombra do Aporalipse (que descreve a batalha final e o triunfo definitive da verdade), encontramos trés epistulas brevissimas, cujo tema comum é a devoc4o a verdade em meio ao conflito. O apdstolo Jodo escreveu duas dessas epistolas. Na segun- da cpistola de Joao, a palavra verdade aparece cinco vezes, somente nos quatro primeiros versiculos. Ela termina com esta mensagem solene (vy, 7-11): Porque muitos enganadares tém saido pelo mundo fora, os quais néo confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é 0 en- ganador eo anticristo. Acautelai-vos, para ndo perderdes uquilu que temos realizado com esforco, mas para receberdes completo galarddo. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela ndo permanece ndo tem Deus; 0 que permanece na doutrina, 2h A Guerre. pres Ver nso esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vern Ler cunvosco e ndo traz esta doutrina, ndo o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dé boas-vindas faz-se cimplice das suas obras més. De modo semelhante, a terceira epistola de Joao tem a verdade como tema principal. A palavra verdade aparece seis vezes nos quator- ze versiculos da epistola. O apéstolo Jodo escrevia, para defender a verdade, contra Didtrefes, que amava ter preeminéncia na igreja, mais do que amava a verdade. Em contraste, Joao recomenda Demétrio, dizendo: “Todos lhe dao testemunho, até a propria verdade” (v. 12). Judas escreveu a terceira dessas breves epistolas. Todo o seu propésito ao escrevé-la era lembrar os cristAos de seu dever de lutar pela verdade. Nao era sobre isso que cle pretendia escrever a prin- cipio. Quando comecou a epistola, seu plano era escrever “acerca da nossa comum salvacao”. Mas, pelo Espirito Santo, foi compelido a nos exortar, com todo ardor, a batalharmos, “diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3). Judas falava especificamente a respeito de batalhar contra a influéncia dos falsos mestres que haviam se infiltrado secretamente na comunidade crista. Segundo parece, esses homens estavam trans- formando os pilpitos cristios em plataformas, das quais promul- gavam mentiras que subvertiam o Amago da doutrina crista. “Pois certos individuos se introduziram com dissimulacio, os quais, desde rauito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenacao, homens impios, que transformam em libertinagem a graca de nosso Deus e negam o nosso tinico Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (v. 4). Essa adverténcia inspirada (Jd 3, 4) motivou-me a escrever este livro. JA escrevi um comentario completo sobre a Epistola de Judas,® portanto, nao hé necessidade de abordar este assunly por 8. MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament Commentary: 2 Peter and Jude. Chi- cago: Moody, 2005. INTRODUCAG a completo neste livro, Desejo focalizar bem de perto apenas dois versiculos (vv. 3, 4). Consideraremos a adverténcia de Judas por varios angulos diferentes. Fxaminaremos por que o defender a fé exige, de modo inevitavel, o conflito e nao a puslura ingenuamente cordial que muitos cristaos parecem favorecer hoje em dia. Veremos por que a indiferenca, a timidez, as concessdes e a nio-resisténcia sao excluidas como opc¢ées para os cristaos, quando o evangellio esta sendo atacado. Examinaremos alguns dos principais embates na guerra pela verdade no decurso da histéria da igreja. Acima de tudo, consideraremos por que a adverténcia de Judas é especialmente aplicavel aos dias em que vivemos. Meu coracdo ressoa a preocupacio de Judas pela igreja, seu amor pelo cvangelho e sua paixdo pela verdade. Lu, também, prefe- riria escrever a respeito de coisas positivas — tais como as riquezas da salvacao e todas as alegrias e béncdos que pertencem a todos aqueles que cstdo verdadeiramente em Cristo; sobre o nosso amor pelo Senhor; e, principalmente, sobre sua graca e gléria. De fato, este livro diz respeito a todas essas coisas e de como salvaguardé-las, porque clas sio cxatamente os aspectos da verdade que, em tltima anilise, estao em jogo na guerra pela verdade. Entretanto, em vez de aborda-las de modo completamente “positivo” e ndo-polémico, vejo-me compelido a ecoar as palavras inspiradas de Judas e a exortar os leitores que sinceramente amam a Cristo: vocés precisam batalhar, diligentemente, pela fé. A verdade osta sofrendo ataques intensos, c ha poucos guerreiros corajosos dispos- tos a lutar. Quando estivermos em pé diante do tribunal de Cristo, 0s crentes da presente geracdo nao poderdo justificar a sua apatia, queixando-se de que a uta na conflito pela causa da verdade parecia “sobremodo negativa” para o tipo de cultura na qual viviamos — ou afirmando que as questoes eram “tmeramente doutrinarias” e, por- tanto, nao valiam o esforco. Lembre-se de que, em Apocalipse 2 e 3, Cristo repreendeu as igrejas que toleravam falsos mestres em seu meio (2.14-16, 20-23), 28 A GVERBA PLLA VeERDADE Cristo elogiou especificamente a igreja de Efeso por haver examinado as alegacées de certos falsos apdstolos e té-los desmascarado como mentirosos (2.2). As igrejas tém o nitido dever de guardar a fé e agir contra os falsus mestres que se infillrain aelas. O proprio Cristo exige isso. Ao mesmo tempo, precisamas notar, com cuidado, que uma defesa poléinica da {é nao €, de modo algum, garantia de uma igreja saudavel e, muito menos, de um cristéo saudavel. Cristo também repreendeu os crentes doutrinariamente sadios de Efeso por aban- donarem seu primeiro amor (Ap 2.4). Por mais vital que seja o nosso alistamento na guerra pela verdade e na batalha pela nossa fé, mais importante ainda é lembrarmos por que estamos lutando — nao meramente pela emosdo de vencermos um inimigo ou ganharmos um argumento, mas por causa do amor genuino a Cristo, que éa en- carnacio viva e dinamica de tudo quanto consideramos verdadeiro e digno de lutarmos em seu favor, A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Bu para isso nasci ¢ para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz, Perguntow lhe Pilatos: Que é a verdade? — Jute 18.37-38 — evando em conta a Pessoa que estava diante dele e a gravidade das questées sobre as quais as pessoas rogavam que ele decidisse, aatitude de Pilatos foi admiravelmente desdenhosa. Mas certamen- te suscitou uma consideracao vital: Que é a verdade? De onde, afinal, ver esse conceito e por que ele é tao fundamen- tal para todo o pensamento humano? Toda idéia que temos, todo rela- cionamento que cultivamos, toda crenca que nutrimos, todo fato que conhecemos, todo argumento que levantamos, toda conversa da qual participamos e todo pensamento que desenvolvemos pressupéem que exista tal coisa chamada “verdade”. Essa idéia é um conceito essencial, sem. o qual a mente humana no poderia funcionar. Ainda que vocé seja um daqueles pensadores atuais que ale- ga ceticismo quanto ao fato de que a verdade realmente seja uma categoria util, para expressar tal opiniao, vocé tem de admitir que a verdade ¢ significativa em algum nivel fundamental. Um dos axiomas mais fundamentais, wniversais e inegdveis de todo o pensa- mento humano é a absoluta necessidade da verdade; e, poderiamos acrescentar, a necessidade da verdade absoluta. 30 A Gurney #ria Vewaary UMA DEFINICAO BIBLICA Entdo, o que € a verdade? Segue-se, aqui, uma definicdo singela, extraida daquilo que a Biblia ensina: a verdade é aquilo que é consistente com a mente, a von- tade, 0 carater, a gloria eo ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a auto-expresstio de Deus. Esse é 0 significado biblico de verdade; é a definigéo que emprego cm todas as partes deste livro. Posto que a definicdo da verdade flui de Deus, a verdade é teolégica. A verdade é também ontolégica - um modo requintado de expressar que a verdade 6 a mancira como as coisas realmente sao. A realidade é o que é porque Deus de- clarou que ela deveria ser assim e a fez dessa forma. Por isso, Deus é 0 autor, a fonte, o determinador, o governador, o arbitro, o padrdo maximo e o derradei- ro juiz de toda a verdade. A VERDADE E AQUILO QUE E CONSISTENTE COM A MENTE, A VONTADE, O CARATER, AGLORIA EQ SER DE . Deus. SENDO Mais O Antigo Testamento refere-se ao PRECISO: A VIRDADE Todo-Poderoso como o “Deus da verda- & A AUTO-EXPRESSAO de” (Dt 32.4; $131.5; Is 65.16). Quando DE Devs. Jesus disse a respeito de Si mesmo: “Eu sou,.. a verdade” (Jo 14.6, énfase acrescentada), Ele cstava fazendo uma declaragao profunda a respeito de sua propria divindade. Também deixou claro que toda verdade, em ultima andlise, deve ser definida em termos de Deus e de sua gloria eterna. Afinal de contas, Jesus é “o resplendor da gloria [de Deus] e a expressao exata do seu Ser” (Hb 1.3). Ele é a verdade encarnada — a expressao perfeita de Deus e, portanto, a corporificacio absoluta de tudo o que é a verdade. Jesus também disse que a Palavra escrita de Deus é a ver- dade. Ela nao somente contém pepitas da verdade; ela é a verdade pura, imutavel e inviolavel que (segundo Jesus) “ndo pode falhar” (Jo 10.35). Jesus, orando ao seu Pai celestial, em favor dos seus A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCTEDADE POSMODELNA® St discipulos, disse: “Santifica-ng na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Além disso, a Palavra de Deus € a verdade eterna, “a qual vive e é permanente” (1 Pe 1.23). E légico que nao pode existir qualquer discordancia on dife- renca de opiniao entre a Palavra escrita de Deus (as Escrituras) e a Palavra encarnada de Deus (Jesus). Em primeiro lugar, a verdade, por sua propria natureza, nao pode contradizer a si mesma. Em segundo lugar, as Escrituras sao chamadas de “palavra de Cristo” (C13.16). Ea mensagem dEle, a auto-expressao dEle. Em outras palavras, a verda- de de Cristo e a verdade da Biblia sio do mesmissimo carater. Estao em perfeito acordo, em todos os aspectos. Ambas sao igualmente verdadeiras. Deus se revelou 4 humanidade por meio das Escrituras e por meio de seu Filho. Ambos expressam com perfeic4o aquilo que averdade é. Lembre-se de que as Escrituras também dizem que Deus revela a verdade basica a respeito de Si mesmo por meio da natureza. Os céus proclamam a gloria de Deus ($1 19.1). Os demais atributos invisiveis de Deus (tais como sua sabedoria, seu poder e sua beleza) sdo constantemente demonstrados naquilo que Ele criou (Rm 1.20). O conhecimento de Deus é inato ao coracio humano (Rm 1,19), e o senso do carater moral e da sublimidade de sua lei esta implicito em toda consciéncia humana (Rm 2,15). Essas coisas sdo verdades universalmente auto-evidentes. De acordo com Romanos 1.20, a negacao das verdades espirituais que conhecemos de modo inato sempre envolve uma incredulidade deliberada e culpavel. E, quanto aqueles que duvidam que as verdades basicas no tocante a Deus ¢ aos seus padrées morais estejam realmente gravadas no coracao humano, esses podem achar uma comprovacao ampla disso na longa histéria das leis e das religiées. Suprimir essa verdade é desonrar a Deus, mudar a sua gloria e incorrer em sua ira (vv. 19-20). Ademais, 0 tmico intérprete infalivel daquilo que vemos na natureza ou conhecemog de modo inato, em nossa prépria consci- éncia, é a revelacado explicita das Escrituras. Posto que somente as a2 A Goerwe xy prea Verwiapd Escrituras nos fornecem o caminho da salvacao, a entrada para o reino de Deus e o relato infalivel de Cristo, a Biblia é 0 critério pelo qual devem ser testadas todas as afirmac6es concernentes a verdade e pelo qual todas as outras verdades devem ser avaliadas no final. A INADEQUACAO DE TODAS AS OUTRAS DEFINICOES Uma conclusao dbvia daquile que estuu dizendo é que, a parte de Deus, a verdade ndo significa coisa alguma. A verdade nao pode ser explicada, reconhecida, entendida ou definida sem que Deus scja a sua fonte. Visto que somente Ele é eterno e auto-existente, e somente Ele é 0 Criador de todas as coisas, Ele é a fonte de todaa verdade. Se vocé nao acredita nisso, tente definir a verdade sern referén- cia a Deus e veja quao rapidamente fracassam essas definicées. No momento em que vocé comegar a meditar sobre a esséncia da verda- de, vocé se deparard com a necessidade de um absoluto universal ~ a realidade eterna de Deus. Na proposic4o inversa, todo o conceito de verdade perde instantaneamente o sentido e, por essa raz4o, toda imaginacao do coragéo humano torna-se pura tolice no momento em que as pessoas tentam remover de sua mente o conceito de Deus. Essa foi precisamente a maneira como 0 apéstalo Paulo descre- veu o declinio permanente das idéias humanas, em Romanos 1.21- 22: “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, nio o glorificaram como Deus, nem lhe deram gragas; antes, se tornaram nulos em seus proprios raciocinios, obscurccendo-se-lhes o coracdo insensato. inculcando-se por sdbios, tornaram-se loucos’. Sempre existem sérias implicacées morais, quando algném tenta fazer uma dissociacdo entre a verdade e o conhecimento de Deus. Paulo, continuando seu argumento, escreveu: “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o prdprio Deus os entregou a uma disposicao mental reprovavel, para praticarem coisas A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODFRNA? 35 incunvenientes” (Rm 1.28). O resultado inevitavel do abandono da definicao biblica de verdade é a injustica e a impiedade. Vemos issa ocorrer diante de nossos olhos, em todos os cantus da sociedade con- tempordanea. Na realidade, a aceitacdo generalizada do homossexualismo, da No MOMENTO EM QUE VOCE COMECAR A MEDITAR SOBRE AESSENCIA DA VERDADE, VOCE SE DEPARARA COM A NECESSIDADE DE UM ABSOLUTO UNIVERSAL - A REALIDADE ETERNA Dg DEus. rebeldia e de todas as formas de iniqiii- dade que vemos em nossa sociedade é um cumprimento literal daquilo que Romanos afirma que sempre acuntece quando uma sociedade nega e suprime a conexdo essencial entre Deus e a verdade. Se vocé refletir sobre esse assunto com uma dose minima de sobriedade, ~ logo percebera que até as distingdes morais mais fundamentais — 0 bem eo mal, 0 certo eo errado, a beleza ea feitira, a honra ea deson- ra — nao tém qualquer possihilidade de possuir sentido verdadeiro ou permanente & parte de Deus. A razdo dissu é que a verdade e 0 conhecimento, por si mesmos, simplesmente nao possuem uma relevancia coerente A parte de uma arigem fixa, au seja, Deus. Como poderiam ser relevantes? Deus é, em Si mesmo, a propria definigao da verdade. Qualquer reivindicacao de uma verdade a parte de Deus 6 absurda. De fato, os filésofos humanos tém procurado, durante milha- res de anos, explicar a verdade e o conhecimento humano a parte de Deus — e, em ultima andlise, todos quantos fizeram semelhante tentativa fracassaram. Isso tem levado a uma mudanca apavorante no mundo do pensamento secular nos anos recentes. Vamos apresentar um esboco sucinto de como essa mudanca se realizou: os filésofos da Grécia antiga simplesmente admitiram a validade da verdade e do conhecimento humano, sem tentar explicar como sabemos aquilo que sabemos. No entanto, cerca de quinhentas a A Guerra Pria Verkpane anus aules dus Leupos de Cristo, Socrates, Platéo e Arisloleles co- mec¢aram a considerar o problema de como definir o conhecimento, cama descobrir se uma crenca é verdadeira e como determinar se realmente estamos justificados por acreditar em qualquer coisa. Durante quase dois mil anos, a maioria dos fildsofos pressupunha, em maior ou menor grau, que o conhecimento é transmitida, de alguma maneira, através da natureza e apresentavam explicacdes naturalistas, na tentativa de descrever como a verdade e o conheci- mento podem ser comunicados 4 mente humana. Mais tarde, em meados do século XVII, na aurora do chamado fluminismo, filésofos como René Descartes e John Locke comegaram a lidar seriamente com a questo de como obtemos o conhecimento. Essa ramificacdo da filosofia tornou-se conhecida como epistemo- logia — o estudo do conhecimento e de como a mente humana apreende a verdade. Descartes era um racionalista e acreditava que a verdade é conhecida A MAIS VALIOSA LICAO QUE A . » SAO mediante a razdo, usando como ponto HUMANIDADE . de partida algumas poucas verdades DEVERIA TER fundamentais e auto-evidentes, e empregando deducées légicas para edificar estruturas mais sofisticadas de conhecimento sobre aquele mesmo fundamento. Ao contrario disso, Locke APRENDIDO DA FILOSOFIA 6 QUE E IMPOSSIVEL QUE AVERDADE SEJA COMPREENSIVEL SEM QUE HAJA UM argumentava que a mente humana RECONHECIMENTO comeca como uma lousa vazia e adquire DE DEUS COMO O conhecimentos através dos sentidos. PONTO DE PARTIDA A opiniao de Locke é conhecida como NECESSARIO, empirismo. Immanuel Kant demonstrou que nem a légica somente, nem a experi- éncia somente (conseqientemente, nem o racionalismo, nem o empirismo) poderia explicar todos os conhecimentos humanos; e AVIRDADE [ODD SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? 25 elaborou uma proposta que cumbinava elementos do racionalismo e do empirismo. G. W. FE Hegel argumentou, por sua vez, que até mesmo a proposta de Kant era inadequada e propés um ponto de vista mais fluido da verdade, negandu que a realidade seja algo cons- tante. Pelo contrario, Hegel afirmou que aquilo que é verdadeiro se expande e se transforma no decorrer do tempo. As opinides de Hegel abriram a porta para varios tipos de irracionalismo, representados pelos sistemas “modernas” de pensamento, que variam desde as filosofias de Kierkegaard, Nietzsche e Marx até o pragmatismo de Henry James. Epistemologias primorosas tém sido propostas e repudiadas metodologicamente, uma apdés outra - como uma longa corrente, cujos elos anteriores sio todos quebrados. Depuis de milhares de anos, os melhores filésofos humanos tém fracassado completamen- te na tentativa de explicar a verdade a parte de Deus e a origem do conhecimento humano. A mais valiosa li¢éo que a humanidade deveria ter aprendido da filosofia é que € impossivel que a verdade seja compreensivel sem que haja um reconhecimento de Deus como v punto de partida necessario. A GRANDE “MUDANCA DE PARADIGMA” Em tempos recentes, muitos intelectuais incrédulos tém reco- nhecido que a corrente estd quebrada e resolveram que o culpado disso € 0 fato de que qualquer busca pela verdade é absurda. Com efeito, j4 abandonaram essa busca como se fosse alga totalmente fatil. Portanto, o mundo das idéias humanas esta atualmeute num estado grave de fluxo, Em quase todos os niveis da sociedade, esta- mos testemunhando uma mudanga de paradigmas profundamente radical — uma revisio, em grande escala, na maneira como as pes- Suas pensam a respeito da propria verdade. Infelizmente, em vez de reconhecer aquilo que a verdade ao A Greera pri. VERDADS exige e render-se 4 necessidade da crenga no Deus da verdade, 0 pensamento ocidental contempordneo ja cogitou maneiras de livrar totalmente a filosofia humana de qualquer nosao coerente acerca da verdade. O conceito de verdade esta sofrendo ataques pesados na comunidade filosofica, no mundo académico e no ambito da religiao no mundo. O modo como as pessoas pensam a respeito da verdade esta sendo totalmente renovado, e 0 vocabulério do conhecimento humano, completamente redefinido. Evidentemente, 0 propdsito é lancar no esquecimento toda nocdo de verdade. O alvo da filosofia humana costumava scr a verdade sem Deus. As filosofias contemporaneas estao abertas 4 nogdo de Deus sem a verdade — ou, falando com mais exatidao, a “espiritualidade” pessoal na qual todos tém a liberdade de criar seu proprio deus. Esses deuses pessoais nao representam ameaga alguma ao egoismo pecaminoso, porque, de qualquer forma, eles se adaptam as preferéncias pessoais de todo pecador e nado impdcm qualquer cxigéncia a ninguém. Esse fato ressalta a verdadeira razao de toda negacao da verda- de: “Os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram mas” (Jo 3.19). Nessa passagem, o Senhor Jesus esta dizendo que as pessoas rejeitam a verdade (a luz) por raz6es que sio fundamentalmente morais, e nao intelectuais. A verdade é clara — clara até demais. Ela revcla ¢ condena o pecado, Por isso, “todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e nao se chega para a luz, a fim de no serem argitidas as suas obras” (v. 20). Os pecadores amam seu pecado, de modo que fogem da luz, negando que ela exista. E claro que a guerra contra a verdade no é algo novo. Comecou no Jardim, quando a serpente disse 4 mulher: “E assim que Deus disse?” (Gn 3.1), Uma batalha implac4vel tem sido travada desde entao — entre a verdade ea mentira: o bem eo mal; aluz e as trevas; acerteza e a duvida; a crenca e 0 ceticismo; a retiddo e o pecado. Essa guerra é um conflito espiritual selvagem que abrange literalmente toda a historia da humanidade. Mas a ferocidade e a irracionalidade do ataque contemporaneo parece nao ter precedentes. A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADF POS-MODERNAY 37 As ramificaydes abrangentes da recente mudanca de paradigma tornaram-se bem dbvias. No decurso da geracdo passada — e es- pecialmente nestas duas tltimas décadas — temos visto mudangas convulsivas nos valores morais, ua filosvfia, na relipido ¢ nas artes da sociedade. A reviravolta tem sido tao profunda, que a gera¢ao dos nossos avis (e quase toda a geracdo anterior, em toda a histéria da humanidade) dificilmente teria imaginado que o panorama social pudesse mudar tao rapidamente. Quase nenhum aspecto do racioci- nio humano deixou de ser afetado. A devacdo tradicional e nominal aos ideais e aos padrées morais, a qual é derivada das Escrituras, esta morrendo juntamente com a geracdo mais velha. Muitos acreditam qne a mudanca de paradigma ja nos levou além da era da modernidade, a grande época subseqiiente no desen- volvimento do pensamento humano: a era pds-moderna. A MODERNIDADE Em termos simples, a modernidade eva cavacterizada pela crenga de que a verdade existe e que o método cientifico é a dnica maneira confiavel de determinar essa verdade. Na assim chamada era “moderna”, a maioria das disciplinas académicas (filosofia, ciéncias, literatura e educac&o) era direcionada primariamente por pressuposicées racionalistas. Em outras palavras, 0 pensamento moderne tratava o raciocinio humano como o 4rbitro final em re- lado ao que é a verdade. A mente moderna rejeitou o conceito do sobrenatural e procurou explicagées cientificas e racionalistas para tudo. Mas os pensadores modernos mantinham sua crenca de que o conhecimento da verdade era posstvel. Ainda buscavam verdades universais e absolutas que fossem aplicaveis a todos. As metodolo- gias cientificas tornaram-se o principal meio pelo qual as pessoas modernas procuravam obter esse conhecimento. Essas pressuposicées deram origem ao darwinismo, que, por sua vez, gerou uma fileira de idéias e cosmovisées humanistas. a8 A Guereea rria Venuane Dentre elas, destacaram-se varias filosofias ateistas, racionalistas e ut6picas — inclusive o marxismo, o fascismo, o socialismo, o comu- nismo ea liberalismn tealagico. As repercussdes devastadoras do modernismo logo foram sentidas em todo o mundo. Varios conflitos entre essas ideologias (e entre muitas outras semelhantes a elas) dominaram o século XX. Todas fracassaram. Apds duas guerras mundiais, revolucées sociais continuas, perturbacées civis e uma longa guerra fria ideolégica, a modernidade foi declarada morta pela maioria das pessoas do mun- do académico. A morte simbélica da era moderna foi marcada pela queda do Muro de Berlim, um dos monumentos mais apropriados e imponentes para a ideologia moderna. Uma vez que o muro cra uma cxprcs- sao concreta da cosmovisao utdpica e erronea da modernidade, sua demoli- cao repentina também foi um simbolo perfeito do colapso da modernidade. A maioria, sendo a totalidade, dos principais dogmas ¢ cosmovisdes da era moderna agora é considerada completamente antiquada e desespera- damentc desacreditada em quase todos os Ambitos do mundo intelectual e aca- démico. Até o fascinio que a religiao do modernista tinha pela alta critica deu lugar espiritualidade abstrata. O racionalismo grandemente confiante e a soberba humana EM TERMOS SIMPLES, A MODERNIDADE ERA CARACTERIZADA PELA CRENCA DE QUE A VERDADE DXISTE E QUE O METODO CIENTIFICO E A UNICA MANEIRA CONEIAVEL DE DETERMINAR ESSA VERDADE. que caracterizavam a era moderna — final e apropriadamente — perderam a maior parte de seu entusiasmo e influéncia. © POS-MODERNISMO Conseqitentemente, os novos modos de pensar tém sido apeli- dados, coletivamente, de pés-modernos. A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? 3 Se vocé tem prestado atensao ao mundo ao nosso redor, provavelmente j4 deva ter ouvido muito essa expressio. O termo pés-modernismo tem sido usado cada vez mais, desde os anos 1980, para descrever varias tendéncias populares na arquitetura, na arte, na literatura, na histdéria, na cultura e na religigo. Nao é um termo de cxplicagdo facil, porque descreve um modo de pensar que desafia (e até mesmo rejeita) qualquer definicao clara. De modo geral, o pds-modernismo é marcado por uma ten- déncia de repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sélido acerca da verdade. O pds-modernismo sugere que, se a verdade objetiva existe, cla nao pode ser conhecida de modo objetivo ou com algum grau de certeza; porque (segundo os pés modernistas) a subjetividade da mente humana torna impossivel o conhecimento da verdade objetiva. Portanto, é inutil pensar na verdade em termos objetivos. A objetividade é uma ilusao. Nada é certo, ¢ a pessoa sensata nunca falara com conviccao demasiada a respeito de coisa alguma. Fortes conviccdes no tocante a qualquer aspecto da verdade s4o reputadas como supremamente arrogantes e desesperadamente ingénuas. Cada pessoa tem o direito a sua propria verdade. Por conseguinte, 0 pés-modernismo no possui uma agenda positiva para declarar que algo é verdadeiro ou bom. Talvez vocé jé tenha notado que somente os crimes mais hediondos ainda sdo considerados maus. Na realidade, existem muitas pessoas hoje que est4o dispostas a debater se algo é “mal”; por essa razdo, essa lin- guagem esta desaparecendo rapidamente do discurso publico. Isso acontece porque a propria noc4o do mal nao se encaixa no esquema pés-moderno das coisas. Se nao pudermos ter nada como certo, como julgaremos que uma coisa 6 m4? Por essa razdo, 0 tinico objetivo e atividade singular do pds-mo- dernismo é a desconstrusdo sistematica de qualquer reivindicagao da verdade, As principais ferramentas que tém sido usadas para isso s4o: o relativismo, o subjetivismo, a negacao de todo dogma, a disse- cagao e o aniquilamento de toda definig4o clara, o questionamento

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