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Agora, para o caso de um mesmo fenômeno que possa ser igualmente bem
explicado por duas hipóteses distintas, como proceder? Como decidir-se por uma
ou outra?.Ora, usando o mesmo raciocínio do fim do parágrafo anterior, opta-se
pela mais simples, pela justa razão de não termos motivo nenhum para crer em algo
que exceda sua proposta original - explicar o fenômeno competentemente. Esse
critério de decisão é conhecido como a Navalha de Ockham e a conclusão do
parágrafo anterior é uma extrapolação ou generalização do mesmo conceito.
Vamos, agora, procurar nesse tipo de raciocínio um argumento físico.
Suponha que você, num ponto A, atira um objeto sólido para frente e para o
alto, que perfaz uma determinada trajetória sob influência, digamos, da força
gravitacional, durante um intervalo de tempo t, e chega ao ponto B. Essa será uma
trajetória parabólica. Imagine agora um outro percurso possível para que esse
objeto saia do ponto A e chegue a B, no mesmo intervalo de tempo, nas mesmas
condições. Claro que isso não seria possível fisicamente – e veremos o por que –
mas uma segunda trajetória pode ser possível matematicamente. Assim,
imaginemos uma outra trajetória - cheia de zigue-zagues, por exemplo – que esse
mesmo objeto percorre, entre A e B, ao ser atirado por você, sob ação das mesmas
forças e durante o mesmo intervalo de tempo. Se você calcular a diferença entre e a
energia cinética e a energia potencial em cada instante, e integrá-la no tempo ao
longo do caminho, verá que o resultado no segundo caso será maior. Em todo
percurso imaginado a diferença entre energia cinética média e energia potencial
média será sempre maior que o caso real. Esse resultado, conhecido como
Princípio da Menor Ação, nada mais é do que uma forma elegante de enunciar as
leis de Newton: o caminho que uma partícula percorre entre dois pontos é tal que a
diferença entre sua energia cinética média e sua energia potencial média seja
sempre a menor possível1.
Por exemplo, suponha que você pegue uma caixa de papelão e faça um
recorte bem sinuoso ao longo da parte de cima, e retire o topo da caixa recortado.
Depois, pegue uma membrana de borracha (como uma bexiga aberta, por
exemplo), estique-a e encaixe-a apertadamente sobre o recorte na caixa (o mesmo
pode ser feito com uma bolha de sabão). Atribuindo coordenadas x e y no plano do
fundo da caixa, e z para a altura, a cada ponto da superfície obtida, podemos dizer
que a função z = F(x,y) satisfaz a equação de Laplace. Uma bolinha que seja
colocada sobre essa superfície rolará para o chão porque a superfície não
apresenta nenhum vale onde a bola pudesse ser depositada2. Assim, as funções
que satisfazem à equação de Laplace - as funções harmônicas - não apresentam
pontos de máximo ou mínimo a não ser nas bordas. No interior desse contorno, a
área é sempre a menor possível, sem picos ou vales, assim como, para o caso
unidimensional, a menor distância entre dois pontos é uma reta.
No caso da eletrostática, a função potencial elétrico satisfaz a equação de Laplace:
∇2 V = 0
A equação de Laplace também se aplica a fenômenos envolvendo
magnetismo, condução de calor, gravitação, e outras aplicações3.
Há, ainda hoje, um longo debate acerca do destino do nosso universo. Por
enquanto, as evidências parecem sugerir uma expansão indefinida do universo.
Porém, no caso de a matéria escura ser grande o suficiente para reverter esta
expansão, o universo irá colapsar num buraco negro. Então, um novo big bang
pode dar início a outro universo, num processo cíclico.4 O físico John Wheeler
afirmou que, a cada vez que isso ocorre, as constantes adimensionais - como a
relação massa do próton/ massa do elétron - podem adquirir novos valores. Valores
para as constantes adimensionais que sejam muito diferentes daqueles conhecidos
no nosso universo poderiam impedir a ocorrência de vida em outras histórias do
universo. Com efeito, supondo que as constantes adimensionais de fato sejam re-
sorteadas a cada novo big bang, então histórias do universo em que sistemas
planetários e seres vivos ocorrem seriam raríssimas. A partir dessas considerações,
o astrofísico Brandon Carter formulou o Princípio Antrópico, segundo o qual a razão
para que as constantes adimensionais tenham os valores que conhecemos é que,
se fossem diferentes, nós não estaríamos aqui para sabê-lo. Assim, vemos que é
perda de tempo discutir como seria o universo se a constante de Planck (que não é
adimensional) tivesse um valor diferente.
Ao longo do século XIX, uma nova descoberta, que veio a ser conhecida
como a Segunda Lei da Termodinâmica, ou Lei da Entropia, veio a contestar a
teoria mecanicista. A segunda lei, que foi formulada de diversas maneiras por vários
cientistas, estabelece que o fluxo de calor de um corpo quente para um frio torna
impossível que se obtenha a máxima quantidade de trabalho mecânico a partir de
uma dada quantia de calor.6 Isso implica uma assimetria, uma irreversibilidade nos
sistemas físicos, haja vista que a lei prevê sempre o aumento da desordem de um
sistema enquanto, por outro lado, as leis de Newton admitem plenamente a
reversibilidade. Pela segunda lei da termodinâmica, então, o tempo não seria uma
dimensão simétrica, reversível, como as dimensões espaciais; pelo contrário, ele
“apontaria” sempre na mesma direção. É o chamado paradoxo da reversibilidade.
Coube a Ludwig Boltzmann resolver o paradoxo, mostrando que outra maneira de
enunciar a segunda lei é afirmar que, num sistema fechado, a entropia sempre
aumenta e, por entropia, entenda-se uma medida do grau de desordem do sistema,
dada por:
S = k loge (N),
Como Holton & Brush fazem questão de frisar, esses temas ainda são muito
recentes e quaisquer conclusões são ainda bastante discutíveis, haja vista que os
elementos científicos desse debate estão imersos em preferências pessoais e
filosóficas. Não há explicação ou interpretação consensual para a teoria quântica ou
a não-localidade, embora seja de entendimento geral que esses resultados, de fato,
ocorrem.
Referências:
4 – Holton\Brush. Physics, the Human Adventure. Rutger University Press, 3rd ed.,
pág. 515
Holton\Brush. Physics, the Human Adventure. Rutger University Press, 3rd ed.,
6- –
pág. 256