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ARTIGOS E DOCUMENTOS: * © GENERAL CAFE VAI COMANDAR 'A DERROCADA ECONOMICA DO BRASIL — J, J. Camarinha ® © COMUNISMO NACIONAL NAS DEMOCRACIAS POPU- LARES — Eurico Mendes » ‘PRAJETORIA POETICA DE GEIR CAMPOS — Elyseu Maia. rAS SOBRIOS” — Cal- © A FALSA TESE DOS “CAPITAL vino Filho © 1930: A III INTERNACIONAL, PRESTES e GETULIO — Isaac Akcelrud © A PLATAFORMA DA OPOSICAO NA RDA — Prof. Wolf- gang Harich OUTUBRO-NOVEMBRO DE 1957 - Pr.: Cr$ 20,00 NOVOS TEMPOS Redagio e Administragao Av, Rio Branco, 185 — Sala 509 RIO DE JANEIRO, DF — BRASIL * Diretor: OSVALDO PERALVA Conselho de Redacao ARMANDO LOPES DA CUNHA. BENITO PAPI, CALVINO FILHO, ERNESTO LUIZ MAIA, EROS MARTINS TEIXEIRA, HORACIO MACED? LEONCIO | BASPAUN. ROBERTO MCRENA e WILSON LOPES DOS SANTOS Editor CALVINO FILHO « Representantes: CARLETO FERRER FAVALLI Rua Sao Bento, 405 - 16° andar sala 1625 — Sao Paulo, $.P DULPHE PINHEIRO MACHADO FILHO Rua Antenor Lemos, 22 - ap. 1 Porto Alegre, RGS ° RAIMUNDO SCHAUN Rua Padre Vieira - Ed. Santa Cruz, 6° andar — Sala 605 Salvador, Bahia * Preco de cada exemplar: Crs 20,00 Assinatura anual: Para o Brasil: Crs 240,00 Para o Exterior: Cr8 500,00 NOVOS TEMPOS ¢ uma revista marxista sem vinculagao organica com qualquer entidade politica Os artigos assinados so de res- ponsabilidade exclusiva de seus autores A transcrigéo de documentos nao implica no endésso, por parte da revista, dos conceitos neles emi- tidos. Capa de Fernando P. Composto © impresso nas ofteinas da Companhia Brasileira de Artes Grafieas ria Rixchuelo. 128 — Rio de Janetre INDICE Editorial RICA OUTUBRO DE 17: NOVA BRA HISTO- ©. P. — AOS LEITORES Isaac Akeelrud — 1930: A IIT PRESTES E GETULIO INTERNACIONAL, Calvino Filho — 0 SR. CAIO PRADO JUNIOR E A FALSA TESE DOS “CAPITALISTAS SOBRIOS' Eurico Mendes — © COMUNISMO NACIONAL NAS DEMOCRACIAS POPULARES Eros Martins Teixeira — NOSSA REVOLUCAO. Luiz Alberto — Q CARATER SOCIALISTA DA RE- VOLUCAO NO BRASIL Armando Lopes da Cunha — FATORES ESTRUTU- RAIS E CONJUNTURAIS DO DESENVOLVI- MENTO DO CAPITALISMO DE ESTADO NO BRASIL, Ledncio Basbaum — RENOVACAO NO P.C.B.? J.J. Camarinha — 0 GENERAL CAFE VAI CO- MANDAR A DERROCADA ECONOMICA DO, BRASIL. Flyseu Maia — TRAJETORIA POBTICA DE GEIR CAMPOS. F, Carréra Guerra — © SOBRINHO DE RAMBAU Garcia Ramos ¢ outros —LIVROS DO MES ©. F. ¢ J. Toribio da Cunha — CARTAS ABERTAS f, PSB € PTB — DOCUMENTOS BRASILEIROS Wolfgang Harich — A PLATAFORMA DA OPOSI- CAO NA RDA Redacio — NOTAS F COMENTARIOS. M. G, Durmiahian rISIOLOGIA - A CORRENTE IDEALISTA EM Pas. u 31 a 60 6 65 1 N.°2 - Out. -Nov. de 1957 IO DE JANEIRO - BRASIL. ulubro de 17: Nova Era Historica \ A periodizagdo da histéria da humanidade foi sempre estabelecida \por grarides transformacées sociais. A passagem da Antigiiidade para @ Idade Média teve como marco a queda do Império Romano, no século V, sob os golpes conjugados das insurreicdes antiescravistas e das invasoes dos bérbaros — “revoluedo social provocada e mascarada por ‘uma superficial conquista estrangeira” (H. G. Wells) A passagem da Idade Média para a Idade Moderna foi assinalada, no século XVII, pela Revolucdo Francesa. Embora 0 medievalismo ja estivesse superado desde alguns séculos antes, a verdade é que 1789 é0 “limite entre o periodo feudal absolutista e a época burguesa inau gurada por uma longa série de guerras e desmoronamentos que transfi- guraram o mundo de entdo” (Tarlé) Assim também a Grande Revolucdo Socialista de Outubro, cujo 40. aniversério esti sendo comemorado internacionalmente (a 7 de novembro, segundo 0 novo calenddrio) por tédas as forcas avancadas, “iniciou uma nova época da histéria mundial, época de dominacao de uma nova classe oprimida em todos os paises capitalistas e que se enca- minha para uma nova vida” (Lénin). Colocados a wma distancia propicia para a justa avaliagdo, os historiadores futuros é que poderdo medif toda a magnitude déste acon- tecimento e situi-lo devidamente no panorama da civilizacdo universal. Desde logo, porém, é incontestdvel que se trata de wma revolugdo supe- rior, sob multiplos aspectos, ds revoluedes que a precederam. No que ela tem de intrinseco e essencial, abstraindo-se as graves deformacées de origem stalinista, representa a liquidacdo de tédas as formas de exploracdo e opressdo social e nacional, enquanto que as outras se limi- tavam a suavizar a exploracdo existente, substituindo-a por outra. A Revoluedo de Outubro, a mais libertadora de tédas as revolucoes, a tinica até entdo, que nao foi jeita em proveito de minorias, mas em beneficio direto da maioria esmagadora da populacdo, derrubou para todo o sempre as muralhas que separavam 0 homem de sua emancipacdo plena e definitiva, tornando possivel a construedo de uma sociedade, a sociedade comunista, antes s6 admissivel no dominio da fantasia NOVOS TEMPOS satida essa data — 7 de novembro — como a maior efeméride da Historia. Aos Leilores © presente niimero sai com um atraso de quase quinze dias, jé que o pri- meiro apareceu em meados de setembro. Isto se deve a epidemia de gripe que afetou a marcha normal da producao no pais e féz sentir seus efeitos também sobre os trabalhos tipograficos de composi¢aio e impressao de NOVOS TEMPOS © fato é, de certo, bastante lamentavel, sobretudo em face da desvanece- dora acolhida dispensada pelo piblico a éste periddico e da expectativa sur- gida em torno do mimero seguinte. De fato, numerosos foram os leitores que vieram até & redacao felicitar nossa equipe por esta iniciativa e oferecer su- gestées. Rapida e espontaneamente, formou-se, s6 aqui no Rio, um corpo de assinantes em creseimento continuo A imprensa, por sua vez, registrou cordialmente o aparecimento de NOVOS TEMPOS, em notas editoriais, como as que foram publicadas, entre outros, nos jornais diarios “O Dia”, “Witima Hora”, “Jornal do Comércio", no semandrio politico “O Nacional”, nos érgaos de literatura e arte “Para Todos” e “Leitura’ Foram igualmente motivo de estimulo para nos, desta revista, as cartas que recebemos de diversos leitores dos mais diferentes recantos do pais, de Sic Paulo, Fortalez:., Nova Iguacu, Florianépolis, Niterdi, Porto Alegre e da propria capital da Repiislica, como a que nos enviou o adido cultural da embaixada da India em nosso pais, agradecendo o exemplar de cortesia que Ihe envidramos © salientando as qualidades graficas da novel publicacao. Sensibilizou-nos, além disso, a homenagem silenciosa do leitor anénimo que, um apés outro, adquiriu seu exemplar na banca do jornaleiro. Com efeito, ja nos primeiros diss de circulacdo da revista, muita gente vinha procurar um exemplar na redacdo, porque na maioria das bancas do centro ou de seu bairro ela se havia esgotado. Por sua vez, de Salvador comunicavam-nos que toda a remessa fora imediatamente consumida e pediam que aumentassemos em 50 % ‘a quantidade de exemplares do mimero 2. As noticias de Sio Paulo e outros 1u- gares so, em yeral, nesse sentido. Levando em conta tudo isso, procuramos de algum modo oferecer uma com- pensacio pelo atraso, aumentando o numero de paginas de NOVOS TEMPOS € estabelecendo, daqui por diante, como data para seu lancamento nas bancas 0 dia 1° de cada més, atendendo melhor assim as conveniéncias, alias dbvias, da circulacao de um mensario Para tanto, mister se féz considerar esta edicio correspondente a outubro e novembro , sem que isso implique em prejuizo material para os leitores, porquanto © preco do exemplar permanece o mesmo, nem para os assinantes em particular, uma vez que os dois meses acima representam apenas um numero. Apraz-nos, finalmente, anunciar a introducdo de mais duas secées — uma de notas sobre livros e outra de cartas abertas a redacéo. A partir de dezembro, ainda outra seedo se inaugurara: sera uma revista das revistas, isto é, uma apreciacao sucinta do contetido das principais publicacdes brasileiras e estran- geiras, através das quais se expresse e se entrecruze 0 pensamento social de nossa época. 1930: A Ill Internacional, Prestes e Getillo © trnbathe aqui apresentado & um resumo, nos do que iss, uma simples sistematizacio de no- tus para um capitulo de uma tentativa de maior vul- to sob o titulo geral, talvez excessivamente am cinse para minhas possibilidades pessoais, de “O mersismo no Brasil Tenho perjeita nocio de que a contribuicio que pose dar & das mais modestas. Entretanto, acolhi ‘com entusiasmo a oportunidade oferecida por est revista. Prineiro, porque julgo indispensivel que ‘alguna cousa seju feita néste sentido e, estando men © Manifesto de Prestes e a Plataforma de Vargas so os dois documentos politicos mais im- portantes do decisivo e histérico ano de 1930. Am- bos estao situados no portico dos acontecimentos atuais. Um e outro figuram em relévo como a expressio mais acabada e sistematica das duas principais tendéncias novas que surgiam no pais ‘Nao se limitaram a abordar apenas problemas de carater imediato, pretendiam divisar a perspec- tica de muitos anos. Ambos faziam a critica da situaco imperante no pais, tendo em vista um novo desenvolvimento na vida nacional. Ja sio passados quase trinta anos e parece que ja € hora de iniciar, ao menos iniciar, a in- dispensavel snalise critica e 0 confronto daquelas posicdes tedricas e politicas com a realidade. Para Isso, julgo necessario partir do estudo de trés documentos essenciais ao esclarecimento da questao: as “‘Teses” da Internacional Comunista sobre 0 movimento revolucionario nos paises da América Latina, adotadas em fins de 1928 — 0 Manifesto de Prestes, lancado em maio de 1930 —a Plataforma da Alianca Liberal, apre- sentada por Getiilio Vargas, no comicio da Es- planada do Castelo, em 2 de janeiro de 1930. © Manifesto de Prestes é considerado aqui anterior & Plataforma da Esplanada do Castelo porque foi uma aplicagao das “Teses” da I.C As novas idéias e tendéncias politicas de Prestes Ja eram conhecidas. Nao podiam deixar de in- fluir nas idéias e na tatica da Alianca Liberal Verifica-se, logo, uma diferenca importante. A I.C. elabora teses, 0 PCB as adota, Prestes lanca manifests, enquanto a Allanca Liberal dirige-se As massas em comicios. ISAAC AKCELRUD trabalho muito atrasado, wn compromiss> piiblico representa um acicate, uma responsabilidade que obriga « trabathar mais intense organizatemente, Segundo, porque, lancadas algumas idéias « luz do dia, para fora do quarto de esindo, elas passam a bneficiar-se da critica e da controvérsia. Terceiro perque uma publicacdo parcial talvez venha « inte ressar a algim leitor benevolente que se disponhs @ ajudar na busea de informacées e documentos, ando a falta dramiticn de aquivos com que se defronta um trabalho de tal natureza. © ESPECTRO DO REVISIONISMO Em sua intervencdo no XX Congresso do Par- tido Comunista da Unido Soviética, Otto Kuusi- nen féz uma referéncia as teses da Internacional Comunista sébre os paises coloniais e dependentes. Kuusinen era secretario da I.C. e, nessa quali- dade, teve papel destacaco na elaboracdo dessas teses, em 1928, e na sua aplicacdo pratica, nos anos posteriores. Entretanto, quase 30 anos de- pols, transfere a outros a andlise de atos e con- cepedes que ninguém pode conhecer melhor do que éle, ao afirmar tranqiillamente que “nossos historiadores e propagandistas devem estudar e rever com espirito critico... as eélebres teses do VI Congresso da Internacional Comunista sobre a questao colonial, por exemplo”. (1) E afirma logo em seguida: “Concretamente, tenho em vista a definicao e a apreciacao do pa- pel da burguesia nacional nos paises coloniais e semicoloniais contidas nessas teses. J4 no mo- mento em que essas teses sdbre a questo colonial foram elaboradas, elas estavam marcadas de sec- tarismo. Nas novas condieées do presente, quando a autoridade da Uniio Soviética cresceu grande- mente, essa apreciaco nao corresponde mais em nada a realidade.” Estamos, pois, diante de um repidio frontal e completo as teses do VI Congreso da I.C. s0- bre a revolucao nos paises chamados de subd: senvolvidos no linguajar atual, os paises coloniais © dependentes. # preciso revé-las eriticamente © espectro do revisionismo ronda a Europa (1) V. discurso de O. Kuusinen, "XX." Congrs du Part! Communiste de I'Gnion Sovietique — Recueil de documents édité par “Les Cahlers du Communisme”, Paris, 1956. 4 Novos Revisio, néo porque tivessem perdido atua- lidade, porque a situacio tenha mudado e as teses tenham sido superadas pelo desenvolvi- mento histérieo. Nao. No proprio momento em que foram concebidas e elaboradas “ja estavam marcadas de sectarismo”. Falando claro: estavam erradas. Revisio, concretamente, de téda uma posicao - de principio, da concepedo do papel das classes sociais num dado momento em determinados paises. Pois era falsa e erréna a “apreciacao do papel da burguesia nacional”. De fato, uma con- cepedo errada do papel, das possibilidades e pers- pectivas de téda uma classe — e de uma classe em crescimento como é a burguesia nacional dos paises subdesenvolvidos — leva inevitavelmente, como levou em maior ou menor grau até os dias atuais, a um falseamento total do quadro poli- tico, arrasta a uma concepeao abusiva e idealista, nao marxista, da correlacao de féreas, determina um plano tatico e estratégico divorciado da rea- lidade histérico-conereta. Sem compreender a situacio e 0 papel da burguesia nacional nao se pode compreender o papel € a situacio do pro- letariado nacional Essa declaragao é, fora de diivida, uma con- tribuicao para se localizar a raiz e 0 contetido do sectarismo, na sua forma especifica e concreta, tal como se manifesta e atua entre nds, Nao se trata tao, somente de “mudar de métodos”, de Passar a uma nova linguagem, falando macio com 0s aliados, de adotar a “operacao sorriso” e a titica das palmadinhas nas costas. O que conta, aqui, é a “apreciacio do papel da burguesia na- cional”, apreciacdo que “nao corresponde mais em nada a realidade”. Bis o que é preciso rever com espirito eritico, revisio que nao devemos esperar cumprida, antes, pelos historiadores e propagandistas soviéticos a quem se dirige Kuusi- nen. Esta tarefa é nossa. AS TESES DA III INTERNACIONAL © VI Congresso da I.C. reuniu-se em Mos- cou, em setembro de 1928. £ o mesmo Kuusinen quem nos informa que estavam presentes, com direito de voz e voto os representantes dos oito seguintes paises da América Latina: México, Ar- gentina, Chile, Colombia, Paraguai, Brasil, Cuba e Equador. Acrescente-se que 0 PCB enviou trés delegados. (2) “As questdes do movimento revolucionario comunista na América Latina nfo figuravam na ordem do dia do Congresso como ponto especial”. Foram tratadas “durante o debate sobre o in- forme do Executivo sdbre a guerra e, particular- mente, sObre a questo colonial”, esclarece Kuusinen TEMPOS ‘Como ponto de partida, foram reafirmadas as teses de Lénin sobre os povos colonials e semi- coloniais apresentadas muito antes, no 11 Congres- so, com a declaracdo de que elas “conservam todo © seu valor e devem servir de premissa no tra- balho ulterior dos Partidos Comunistas”. Entre- tanto, 0 VI Congresso nao tomou em conta o fato de que as teses de Lénin concentravam a atencio no Oriente colonial e muito particularmente na China. “A determinacio exata (grifado por mim, IA) da relagao da Internacional Comunista com (© movimento revolucionario nos paises dominados pelo imperialismo, a China particularmente (gri- fado por mim, IA) 6 um dos assuntos mais im- portantes para o segundo Congresso e a propria Internacional. A revolucdéo mundial entra num periodo no qual ¢ necessario um conhecimento exato dessas relacdes” Lénin falou de olhos postos na China, Exigiu um “conhecimento exato”, que destacaria as eno! mes diferencas entre o Oriente asiatico ea Améri- ca Latina, entre a China e o Brasil. Entretanto, 0 VI Congresso adotou resolucdo em que determina: “O Congreso incumbe a C.F, da I.C. de con- ceder uma atencao maior aos paises da América Latina, a elaboracao de “programas de aco” para 0s partidos correspondentes. # verdade que foi designada uma comissao para a formulacdo de tais “programas de aco’ dela fazendo parte os delegados latino-ameri- canos. Mas 0 fato é que pelo menos a delegacdo brasileira voltou & patria sem nenhum documento. © relatorio que apresentou, como colhi em de- poimento pessoal de um dos delegados, fol ba- seado em notas e no que a meméria guardou Na realidade, sua participacdo foi minima, para nao dizer nula, na feitura do “programa”. Lénin estava morto, foi esquecida a tarefa do “conhe- cimento exato” da realidade. Stalin dava as cartas, foi cumprida a risca a incumbéncia de tracar “programas de aco". Os PP. CC. da América Latina nao eram chamados e estimu- lados ao estudo da situacao real de seus respec- tivos paises. Recebiam “programas de aco’ prontinhos e acabados. Vem de longe ésse mé- todo do prato feito. (2) Todas as informacées ¢ citagves relativas as "Teses do VI Congresso da I.C. sho tomadas do trabalho de Kuusinen, “Para a lbertacdo dos povos colonials © semi-coloniais". editado no México, em apéndice 20 yolnéto de Lénin. “A guerra e a humantdade” (Bdlcio- nes Frente Cultural. 1939), Dados complementares por ‘mim colhidos pessoalmente junto a pessoas que partici- param dos acontevimentos nio trazem mengio da fonte or motivos Obvios, Identifieo-os como acréscimo citagces. | Novos FEDERACAO LATINO-AMERICANA (© exame das “Teses” da I.C. revela, de logo, que elas nao estabelecem nenhuma diferenciacao entre 0s diversos paises e regides da América Latina. Pretendem aplicar-se a todos, indistinta- mente. Estabelecem um padrao igualmente valido para todos. Generalizam algumas informacdes obtidas da Bolivia e dos paises da América Cen- tral “Na vida econdmica dos paises da América Latina, dizem as “Teses”, domina a agricultura ea forma dominante de organizagdo da mesma @ a grande propriedade, enormes plantacées ¢ latifiindios gigantescos... (que) se formaram, como regra geral, como resultado direto da pilha- gem da populacio indigena Dai a conclusio de que as massas campone- sas’ sio compostas de indios, em boa parte. Isto, € claro, tem que ver com certos paises da Amé- rica Latina (Bolivia, México), Mas nao se aplica 20 Brasil, onde o indio é questao secundaria neste assunto. Nao obstante, houve em nossas cidades inscri¢des murais e volantes concitando os indios & unido e A tomada das terras. “Indios, uni-vos! Se ao menos fosse em tupl-guarani ‘Como regra geral, os proprietirios das grandes fazendas sio ou capitalistas estrangel- ros (ingléses ou norte-americanos) ou agentes di- retos. dos mesmos’ Isto cabe & América Central dominada pela “United Fruit Co.”. Mas ndo é, evidentemente, a “regra geral no Brasil, onde o grande fazen- eiro de café, de gado ou de cacau é nativo, li- gado a emprésas imperialistas através de um complexo sistema de intermediagdo comercial, sujeito aos ditames de um comprador monopolist e privilegiado que manipula precos e mereados. Assim era visto 0 campo. Quanto a formacio © desenvolvimento do proletariado, a apreciacio Gas teses é unilateral e confusa. Ei-Ia: “O capital imperialista que explora os paises da Amériea Latina, do mesmo modo que as de- mais colonias © semicolonias, (0 grifo ¢ meu, IA) contém 0 desenvolvimento industrial, pois 0 fim prineipal que persegue & obter matérias pri- mas € semifabricadas a baixo preco. Entretanto, para as necessidades correntes dessa indiistria de extracao, e para a exploragdo rapace das reservas de matérias primas é preciso um proletariado industrial, e 0 proletariado cresce sem interrup- cio nos paises da América Latina...” Temos aqui que tudo se passa “do mesmo modo que nas demais colénias e semicolénias”. Ora, no é bem isso. um tanto diferente que nas demais coldnias e semicol6nias. Também nao se explica que 0 proletariado cresca “sem inter- rupeao” apenas “para as necessidades correntes TEMPOS 5 da indistria’de extracio”. Ignora-se, nas “Teses' a0 menos em relacao ao Brasil, o surto industrial propiciado pela primeira guerra mundial. A In- ternacional desconhecia, por exemplo, o censo brasileiro de 1920. Nem sabia que os trabalhado- res paulistas ja tinham deeretado 0 boicote das Industrias Matarazzo, em 1917-18. Ignora-se a burguesia nacional. Mais ainda: Kuusinen de- clara que a burguesia nacional “acha-se situada no campo da contra-revolucao” As “‘Teses” estabelecem que os paises latino- -americanos “estéo em vésperas de revolucdes democratico-burguesas”. E que estas “podem transformar-se rapidamente em revolugdes socia~ listas e que é neste sentido que deve fundamen- talmente orientar-se 0 movimento revolucionario”, Dai resultam diretivas, subordinadas ao se- guinte objetivo estratégico “A orientacdo geral dos Partidos Comunistas dos paises da América Latina deve ser a luta pelo govérno operario e camponés e pela federa- cdo das repiblicas operarias e camponesas dos ditos paises” ROGRAMA DE AGAO” EM 1930 Dessas posicdes ¢ que Kuusinen partiu para estabelecer e difundir diretivas com sua respon- sabilidade e autoridade de secretario do Komin- tern, © “programa de acio” tinha os seis pontos seguintes: “Os comunistas em sua propaganda e agita- cdo devem acentuar especialmente as seguintes palayras de ordem: 1 — Expropriacdo sem compensacdo e entre ga das plantacées e grandes latifiindios aos tra- balhadores agricolas (braceros, na tradueio es panhola) para o trabalho coletivo, repartindo uma parte das terras confiscadas entre os cam- poneses, arrendatarios e imigrantes; 2 — Confiscacdo das industrias estrangelras (minas, emprésas industriais, bancos e outras) as grandes emprésas da burguesia nacional e dos latifundiarios; 3 — Anulacdo das dividas do Estado e liqui- acho de todo contréle sdbre o pais por parte do imperialismo; 4 — Jornada de trabalho de 8 horas e anu- lagio das semibarbaras condicdes de trabalho; 5 — Armamento dos operdrios e camponeses © conversio do Exército em milicia operaria camponesa; 6 — Instauracio do poder dos conselhos de operarios, camponeses ¢ soldados, em lugar do dominio de classe dos latifundiarios e do clero. Na agitagéo do Partido Comunista deve ceupar um lugar central a palavra de ordem do govérno operario € camponés (grifado por Kuusi- 6 NOVOS TEMPOS nen), ante o chamado govérno revolucionario da ditadura militar da pequena burguesia”. Era isto que estava em vigor em 1930. © MANIFESTO DE PRESTES Em 1930, Prestes ainda nao era offcialmente membro do PCB, no qual ingressou formalmente s6 mais tarde, em 1934. Mas 0 Manifesto de Maio Ja € elaborado como a resposta de um comunista aos acontecimentos. & uma aplicacao das ‘“Teses” da IC e, ao mesmo tempo, um documento com tracos pessoais, prestista. Prestes dirige-se “‘ao proletariado sofredor de nossas cidades”, aos trabalhadores oprimidos das fazendas e das estancias, & massa miseravel do nosso sertio. E muito especialmente aos revolu- clonarios sinceros. (7) Define a situacio como a de uma campanha politica encerrada. Tudo aquilo, “no fundo, nao era mais do que a luta entre os interésses contrarios de duas correntes oligarquicas, apoiadas e estimuladas pelos dois grandes imperialismos que nos escravizam”. A campanha da Alianea Liberal s6 foi “aparente- mente democratico”, pois, “mais uma vez, os ver- dadeiros interésses populares foram sacrificados e vilmente mistificado todo o povo”. Assinala que houve gente sincera no movimento que contou com “o concurso ingénuo de muitos e de grande numero de sonhadores ainda nfo convencidos da inutilidade de tais esforcos”. Nao pode deixar de reconhecer que “entre os elementos da Alianca Liberal (ha) grande mimero de revolucionarios sinceros com os quais creio poder continuar a contar". Faz autocritica publica. Também errou: “em parte, por omissio e, em parte, por indecisio fomos também ciimplices da grande mistifica- cdo”. Pois, “a tudo assistimos calados, sacrifi- cando 0 prestigio da revolucdo”. Além disso “houve quem afirmasse... apolar politicamente os lIiberais por ordem de seus chefes revolucio- narios. Nao foi desmentido”. Reconhece suas ilu- sdes. Acreditava no “milagre que seria a eventua- lidade de uma luta armada entre as duas cor- rentes em choque e que desta luta entre as duas correntes” surgisse “aquela que viesse satisfazer realmente as grandes necessidades de um povo empobrecido, sacrificado e oprimido” De um lado, satisfaz a I.C. que Ihe exige uma ruptura completa, nega qualquer contetido popular 20 movimento da Alianga Liberal, recusa admitir que 0 recurso as armas é pelo menos vidvel, possivel, muito provavel. A I.C. desen- cadeia violenta campanha contra o prestismo. E the mostra que o prestismo esta sendo explorado capeiosa e criminosamente. Mesmo os poucos que informaram sdbre o entusiasmo popular nos co- micios da Alianea Liberal nao foram capazes de resistir ao mandonismo cruel do Bureau Sul Ame- ricano da I.C. que se negava a recolher qualquer depoimento veridico sobre 0 Brasil. A realidade tinha que enguadrar-se no esquema, e acabou-se. Os fatos nao existem desde que nio se ajustem as “teses” préfabricadas. Mas essa ruptura se resolve em térmos te- nentistas. Os antigos companheiros da Coluna nao 0 acompanham porque no véem o que se passa realmente: nao véem que existe o dominio imperialista, que existe o latifiindlo. Justifica-os sio vitimas, ingénuos, sonhadores, enganados. Proclama que sio revolucionérios sinceros. E a éles, particularmente a éles se dirige, certo de poder continuar contando com éles. Nao reconhe~ ce que 0 povo esteja ausente, pols denuncia a mis- tifieaco das massas Afinal J estava correndo o més de maio, 0 manifesto tinha sido adiado, j4 tinha havido a elei¢ao presidencial, consumada foi a mistifica- cio das urnas. Getiilio aceita a derrota. Nao saiu revolucdo nenhuma. O caso estava encerrado e {sto ajudaria a convencer os antigos companhei ros de que era Prestes quem fazia a apreciacao correta da situacao. Agora separados, coineidiam na falta de confianca em relacdo aos politicos da Alianga Liberal, em que nfo era mesmo a “sua revolueao” a que se articulava. O manifesto ofe- rece a solucéo para um velho problema dos te- nentes — nada de mistura com os politiquelros, com os porta-vozes da oligarquia, ésses desonestos € frios calculistas. Quer manter no campo da revolucao 0s velhos companheiros, sem a macula, da alianca espiria com agentes do imperialismo € do latifindio Prestes reflete no manifesto a conviecéo de que s6 0 marxismo pode indiear a solucao. Entre- tanto, a decisio que toma nao se produz no campo da ciéneia, mas no terreno da confianea, da £6. Nao no quadro da analise multilateral da reali- dade, mas no plano das teses comprovadas arti- ficiosamente por aspectos e fatos isolados. O ar- gumento 0 “eu nao dizia? cadé a revolucio Assim, Prestes é arrastado pelo subjetivismo do Bureau Sul Americano ¢ nao pelo aprofunda- mento de sua conseiéneia de marxista. A ruptura com as velhas concepedes politicas é, na pratica, © isolamento do tenente mantido numa redoma para permanecer puro e imaculado, longe de con tacto com os politiqueiros © tenente Ievou 0 marxismo de reboque, ao isolamento. © marxista deixou o povo a mercé dos politiquetros. (3) © Manifesto de malo vem reproduzido quase integralmente no livro de Abguar Bastos. “Prestes e a revoluedo social”. Editorial Calvino, 1946 Novos TEMPOS UMA REVOLUCAO SEM ALIADOS E SEM RESERVAS Tudo € justificado pela andlise e intepreta- cdo da realidade oferecida pelo esquema de rou- pagem marxista. “Somos governados por uma minoria... proprietaria das terras, das fazendas e latifiindios e senhora dos meios de producao ¢ apoiada nos imperialismos estrangeiros", Estas sdo as classes no poder, tals so suas relacdes com 0 imperialismo, assim é seu Estado, seu poder politico, A dinamica désse regime é assim descrita: “O govérno dos coronéis, chefes politicos, do- nos das terras, s6 pode ser 0 que ai temos: opres- sio politica e exploracdo impositiva. Téda a acio governamental, politica e administrativa gira em t6rno dos interésses dos senhores que ndo medem recursos na defesa de seus privilégios. De tal sis- tema decorrem quase todos 0s nossos males “Vivemos sob 0 jugo dos banquelros de Lon- Gres e Nova York. Todas as nossas fontes de renda dependem do capitalismo inglés ou ame- rieano em cujo poder estao também os mais im- portantes servicos piblicos, os transportes e as indiistrias em geral. Os proprios latifindios vao passando aos poucos para as maos do capitalismo estrangelro. A éles ja pertencem as nossas gran- des reservas de minério de ferro do Estado de Minas Gerais, extensas poredes territoriais da Amazonia e do Para onde talvez estejam nossos depdsitos petroliferos. Tédas as rendas nacionais esto oneradas pelos empréstimos estrangeiros.” E mais adiante: “Os capitais estrangeiros investidos em nossa producao provocam um crescimento monstruoso em nossa vida econdmica, tendente exclusiva- mente & exploracdo das maquinas naturals (sic) das fontes de matérias primas, reservando o mer- eado nacional para a colocacdo dos produtos fa- bricados nos entrepostos imperialistas. A ativi- dade désse capital s6 pode, portanto, ser preju- Gicial a0 pais. Dessa forma, todo 0 esféreo na- clonal, todo 0 nosso trabalho é canalizado para o exterior" Essa economia, como ¢ deserita no Manifesto de Maio, esta em crise. “A crise econdmica... & incontestavel. Os impostos aumentam, elevam-se os precos dos artigos de primeira necessidade e baixam os saldrios". Sem quebrar os grilhdes, tal situacao s6 pode agravar-se, pois “a tinica solucdo encontrada pelo govérno, dentro das contradiedes do regime em que se debate, so os empréstimos externos com uma maior exploracao da massa trabalha- dora e consegiiente agravacio da opressio po- litiea Assim se desenhava, ja em 1930 0 dilema da revolucRo agraria e anti-imperialita ou coloni- zacio total. A opressio do latifindio gera um regime lberticida. © dominio imperialista recai sobre @ massa trabalhadora e agrava mais e mais ‘a opressio politica, As forcas da revolucio sio, portanto, os operdrios e camponeses. A burguesia industrial nem sequer é lembrada, nao tem ne- nhum papel positivo a desempenhar na revolueao. As contradicées inter-imperialistas também nao representam nada de positivo, de aproveitavel em beneficio da revolucao. Ao contrario, as lutas inter-imperialistas “preparam 0 esfacelamento da nagio”. Estamos, dessa forma, diante de uma revoluedo especialissima, sem aliados e sem re- servas. Désse documento fica de pé a dentincia do Imperialismo, 0 chamado ardente & luta anti- -imperialista. Essa é uma questao que ninguém ‘mais poder ignorar. # um avanco: introduz uma nocao da realidade objetiva na consciéneia poli- tia nacional. Mas na coneepedo das forcas re- volucionarias 0 esquema é falho, omisso, muti- lando a realidade. Nega o papel da burguesia nacional. E nfo toma em conta o fato que a prd- pria Coluna Prestes pode constatar: a nao exis- tencia de um movimento camponés. (+) Para de~ nunciar 0 imperialismo nao era necessario apelar para as “Teses” da I.C., em 1928, Lénin ja 0 tinha feito em 1916. A falta do “conhecimento exato” estava puxando a teorla para tris. Em conseqtiéneia, cria-se uma situaco tantas vézes repetida no movimento revolucionario marxista brasileiro de 1930 para ca: tem razao, esta certo em tese. Mas, ignorando ou deformando peculia- ridudes nacionais de nosso pais, perde a razao, erra ¢ colhe derrotas sobre derrotas. OS DOIS SOFISMAS DA BUROCRACIA Em seu manifesto de 1930, Prestes apresenta uma perspectiva revolucionaria de tivo soviético. Feita a caracteriza¢do do regime, assinala que © propésito de remediar seus males “pelo voto secreto ou pelo ensino obrigatorio é ingenuidade de quem nao quer ver a realidade nacional”. O que a andlise demonstra e a situacao comprova 6 a necessidade e a viabilidade da revolucdo agra- ria e anti-imperialista. Nao ha divida alguma (4) V. Lourengo Moreira Lima, “A Coluna Préstes — Marchas e Combates", Editéra Brasiliense, 1945, 'So houve adesoes sérias a Coluna, no Maranhao € ho Plaui", Em pagina indignada. o A. critica os serta- nejos que “se colocaram ao lado do governo". “fugiram para os mates”, “conservaram-se nas sUas cases", “massa fmorfa que néo tem a idela de lberdade”. Pags. 181- 182. Novos sobre 0 carater do govérno a ser levado ao poder por essa revolueéo. “O govérno a surgir precisaré ser realizado pelas verdadeiras massas trabalha- doras das cidades e dos sertées”. Sera “um go- vérno de todos os trabalhadores, baseado nos conselhos de trabalhadores da cidade e do campo, soldados e marinheiros”. © programa désse go- verno sera a “confiscacio, nacionalizacao e di- visio das terras, pela entrega da terra gratuita- mente aos que nela trabalham. Pela libertacao do Brasil do jugo do imperialismo, pela confisca- eo e nacionalizacdo das emprésas nacionalistas (sie) de latifindios, concesses, vias de comu- nicacio, servicos pitblicos, minas, bancos e anu- lacio das dividas externas” Esse govérno necessirio porque s6 éle sera “eapaz de garantir todas as mais necessarias e indispensiveis reivindicacdes sociais: limitacao das horas de trabalho; protecao aos trabalhos das mulheres e das criancas; seguros contra os aci- dentes, 0 desemprégo, a velhice, a invalidez e a doenca; direito de greve, de reuniao e de orga- nizacao” Portanto, temos ai que as reivindicacées mi- nimas, “as mais indispensaveis e necessarias”, 56 podiam ser obtidas com a conquista politica ma- xima — 0 poder dos conselhos de operarios, cam- poneses, soldacios e marinheiros. O poder sovié- tico. Nada menos. Esse é 0 primeiro sofisma dos burocratas dogmaticos da I.C. ao qual irla su- cumbir Prestes. Esse govérno 6 vidvel pois “as possibilidades atuais de tal revoluedo sao as melhores possiveis”. De um lado, a crise econdmica interna é incon- testével. De outro lado, a situacio do imperia- lismo é de grandes dificuldades: desocupacao de grandes massas de trabalhadores nas metropoles, insurreigdes nacionalistas nas colonias. “Além disso, 0 Brasil, pelas suas naturais riquezas, pela fertilidade de seu solo, pela sua extensao territo- rial, pelas possibilidades de um répico desenvol- vimento industrial auténomo, esta em condicdes vantajosissimas para vencer com relativa rapidez nesta Iuta pela sua verdadeira e real emanci- pacao”. Aqui se argumenta com dados de natureza diferente. Quanto ao campo da reacdo, mostra-se que esta mergulhado em dificuldades econémicas e politicas, minado por contradicées internas Mas, quanto ao campo da revolucdo, apela-se para um argumento geografico — a extensao territorial, a riqueza e a fertilidade do solo do Brasil. E désse dado geografico é que se deduz a possibilidade de um rapido desenvolvimento in- dustrial auténomo. £ a idéia do pais rico, gran- de, idéia de manobra militar. Mas a f6rea social, as massas, as classes, seu grau de organizacdo, seu nivel de consciéncia, sua disposicio de luta TEMPOS — nada disso entra em linha de conta. 0 inimigo| esti em erise, desorganizado, confuso — admita- mos para maior facilidade. Mas, ¢ a revolueao? Bstard ela de posse dos elementos minimos indis- pensivels para langar-se a0 ataque? A isso nao se dé resposta. Nesta hora é esquecida a teoria da revolugao de Lénin. A afirmacio vasia, 6ca,_ puramente verbal, da grandeza geografiea trans- | formada em tese tedriea do marxismo crlador, 0 apélo ao ufanismo pequeno-burgués e lirico, eis © recurso do sectarismo. Seu alimento é 0 atraso teérico. Assim se apresenta o segundo sofisma do es- quematismo subjetivista, no marxista e alhelo & dialética materialista, ao qual iria sucumbir Prestes. Esses dois sofismas sio as duas laminas da tenaz em que Prestes seria envolvido e cercado, @le que vinha de correr todo o Brasil quebrando e rompendo cereos. A PLATAFORMA DE GETULIO A Plataforma da Esplanada do Castelo, (*) documento programatio de uma campanha elei- toral e devendo manter coesa uma variada frente | politica, é vasada em linguagem completamente _ diferente do Manifesto de Prestes, que tem em vista uma insurrei¢ao e expde concepcdes de um partido contra todos os demais. Manifestagdes da mesma época, respondendo a solicitagéo dos mes- mos problemas, os dois documentos representam © infelo de um didlogo, de um debate que se vem Gesenvolvendo até os dias de hoje Tanto Getiilio como Prestes dirigem-se a0 ovo, aos trabalhadores das cidades e dos campos, a0s mesmos “revoluciondrios sinceros”, tenentis- tas. Vargas proclama que “o programa é mais do pove que do candidato”. Em larga medida atende ao que se pode chamar a ala esquerda da Alianca Liberal. Exige a anistia plena, geral € absoluta como “imperiosa necessidade” recla- mada pela conseiéneia nacional. Vai mais longe ““& anistia sera providéncia incompleta sem a re- vogacio das leis compressoras da liberdade de pensamento”. Cauteloso, pede “lels de defesa social”, novas, “que se inspirem nas necessidades reais do pais € nao se afastem dos principios sa~ dios de liberalismo e justica”. Explica as razdes € para que nos espiritos nao seja mantido o “fer- mento revolucionario”. No capitulo referente a legislacio eleitoral, resguarda-se das expressées violentas, no ataca nominalmente as oligarquias, mas articula um a um, com implacdvel frieza, os argumentos de (5) Getto Vargas. “A nova polities do Brasil”. £ vol. José Olimpio Baitora, 1998 NOVOS TEMPOS 9 um libelo. Esto calafetadas “todas as frestas por onde pode passar um sopro salutar de reno- vacdio — eis o regime vigorante, frondosamente, no Brasil”, E 0 retrato de um monopélio politico fechado, odioso, em que os direitos dos cidadaos “sao triturados pela maquina oficial, pela vio- éneia, pela compressio, pela ameaca” Vai direto e franco & questio social. “Nao se pode negar a existéncia da questo social no Bra- sil”, Neste mesmo capitulo, tratando de assunto tao explosive, opondo-se tao radiealmente a0 ponto de vista do Catete (a questo social é um caso de policia), Vargas vai mais longe e enfrenta © problema da terra. Descreve a situacio de “cen- tenas de milhares de brasileiros que vivem nos sertdes, sem instrucdo, sem higiene, mal alimen- tados e mal vestidos”, para proclamar que “é pre- iso grupi-los, instituindo coldnias agricolas; Investi-los na propriedade da terra, fornecendo- -Ihes os instrumentos de trabalho, o transporte facil...” A principal critica entdo feita A Plataforma da Alianea Liberal, cedo transformada em Plata- forma de Getitio (assim como 0 partido dos co- munistas acabarla se transformando no Partido de Prestes), € que éle “roubou” as reivindicacdes levantadas pelo PCB. Isto nem chegou a se transformar em discussio politica. Nesse terreno nao se discutem direitos autorals ou de paterni- Gade. As questdes politicas existem objetiva- mente e nfo porque alguém resolva trazé-las & tona © fato é que a Plataforma de Vargas féz a critiea da legislacdo social vigente. “O pouco que possuimos nao aplicado ou s6 0 é em parte minima, esporadicamente, a-pesar-dos compro- missos que assumimos, a respeito, como sinaté- rios do Tratado de Versailles, e das responsabi- lidades que nos advém da nossa posiedo de mem- bros do “Bureau Internacional do Trabalho”, cujas convencées e conclusdes ndo observamos”. Traca um programa de reivindicagées: salirio minimo, férias, higienizagao das fabricas e usinas, construcdo de vilas operarias, protecdo ao traba- Iho da mulher e do menor, estabilidade, amparo na doenea e na velhice. Preconiza “a adocio de providéncias de conjunto que constituirdo 0 nosso Cédigo do Trabalho” PLATAFORMA DA BURGUESIA NACIONAL © importante, para uma andilise marxista désse documento, é verificar de que ponto de vista de classe tais questées sio abordadas. Em nome de que interésse de classe falava Vargas? ® mais do que evidente que nao tomava po- si¢iio em nome dos interésses especificos, préprios, do proletariado e das massas trabalhadoras. Isto € claro no porque o proprio Vargas fosse um fa- zendeiro da fronteira, como nés todos, partidarios do marxismo, temos argumentado ingénuamente durante anos a fio. 6 um pobre materialismo dialético ésse que procura interpretar todo um desenvolvimento histérico pelo ntimero de cabe- cas de gado duma fazenda de Sio Borja. Ge- tallio, desde o inicio, proclamou na sua platafor- ma que “tanto 0 proletério urbano como o rural necessitam de dispositivos tutelares, aplicaveis a ambos, ressalvadas as respectivas peculiari- dades”. Nao se trata, pois, de um movimento inde- Pendente da classe operéria. Ai é que estava o centro ideolégico e programatico da divergéncia. Nésse ponto é que devia incidir nossa critica de principio, critica que devia estar apoiada conere- tamente numa acdo real que impusesse e fizesse respeitar essa independéncia de classe dos tra- balhadores. Mas no isso apenas. Era preciso responder & pergunta: dispositivos tutelares de quem? quem pretende ser o tutor? quem se can- didata a mentor, ao posto de dirigente ideolgico € pratico do “proletariado urbano e rural"? Cronoldgicamente, 0 Manifesto de Prestes posterior @ Plataforma de Gettilio. Tinha tempo suficiente para enfrentar a tarefa. Mas para isso precisaria estudar a realidade do Brasil e néo a forma literéria, verbal, de ajustar essa realidade ao esquema prévio tracado pela IC em 1928 Precisaria inclusive, nésse confronto dos fatos reals com as concepcdes importadas, fazer a cri- tica da tese basica sobre o papel da burguesia nacional. Porque, como podemos ver agora (s mente agora, tarde, demasiadamente tarde, para evitar erros grosseiros, em tempo de comecar a acertar pelo menos daqui por diante) Getiilio, em tédas as questées novas que aborda, coloca-se do ponto de vista da burguesia nacional. Essa é que devia ser a tutora dos trabalhadores. “ incontestavel, sob muitos aspectos, 0 pro- gresso material do Brasil”, diz a certa altura. Evidentemente, o ex-ministro da Fazenda no se refere aos produtos agricolas de exportacio entdo em crise. © que a Plataforma advoga ¢ o inere- mento das fércas produtivas, pois “‘a medida da utilidade social do homem é dada pela sua capa- cidade de producdo.” Esté pensando nos interés- ses burgueses de atrair mao de obra qualificada, quando afirma que “nenhuma atragéo exercerd, realmente, 0 Brasil sObre bons operarios rurais urbanos do estrangeiro enquanto a situacio do proletariado, entre nés, se mantiver no nivel em que se encontra.” Agitou as reivindieacées dos trabalhadores: Mas argumentou com as vantagens dai decorren- tes para o desenvolvimento da burguesia. £ a ésses Interésses de classe que correspondem as 0 Novos exigéncias de arejar e atualizar 0 ensino ja for- muladas no Manifesto da Conveneao Liberal, onde se denunciava que “os cursos de especializacao, praticamente, nao existem entre nos”. Nao é 0 latifindio, mas a burguesia sequiosa de progresso que reclama ateneao as ciéncias econémicas, as disciplinas financeiras e administrativas, aos cur- sos téenico-profissionais, “‘cujas vantagens nin- guém mais contesta”. A perspectiva que oferece é a do desenvolvimento econémico, numa série de idéias que podem ser assim resumidas: produzir muito e barato a maior quantidade possivel de artigos — cultura do trigo, exploragao do carvio nacional, aproveitamento gradual das quedas d'igua para produeao de eletricidade, adicionar Aleool aos dleos que nos faltam, subdividir a terra. Com essas medidas, acumular recursos para lan- car-se a industrializacio. Teme indistrias arti- ficiais. “O surto industrial so sera logico, entre nés, quando estivermos habllitados a fabricar, sendo tédas, a-maior parte das maquinas que Ihe so indsipensavels”. Isto nao permite mais “adiar, imprevidentemente, a solucio do problema. side- rargico". E aqui eleva o tom, em claro estilo na- cionalista: “Nao € 86 0 nosso desenvolvimento Industrial que o exige: é, também, a propria seguranca na- cional, que nao deve ficar a mereé de estranhos, na constituicao dos seus mais rudimentares ele~ mentos de defesa”. Em mais de um ponto da plataforma aparece claramente esta idéia de mostrar que os interésses a industrializagao correspondem as necessidades Ga seguranca nacional e que, portanto, o Exéreito, as Foreas Armadas tém um papel a desempenhar, so um esteio e forea propulsora da batalha do desenvolvimento econdmico. Esta nao ¢ simples mente uma idéia inspirada por motivos técnicos, € uma idéia politica, uma perspectiva para a fer- mentaco politica no seio das Foreas Armadas ¢ liderada pelos tenentes. Vislumbra-se, dessa forma, 0 plano politico Ga disposicdo de foreas que a Plataforma tem em vista como expressio dos interésses da burguesia nacional. # um plano de uma burguesia fraca econémica e politicamente, sem forcas para rom- per com os senhores da terra e menos ainda para Genuneiar abertamente o imperialismo, Essa bur- guesia procura aliados e os meios de abrir uma brecha na estrutura agraria que ela ainda nao TEMPOS } pode transformar radicalmente. ses aliados si os tenentes, os militares, os quadros politicos da pequena burguesia aos quais ela oferece postos de comando, e os trabalhadores, 0 movimento operario que ela procura pér a seu servico. A nosso ver esta ai descrita em linhas muito gerais ‘© que pelo menos tendia a ser a esquerda da co- ligacdo de foreas que era a Alianca Liberal. Dessa ala esquerda, excluiram-se os marxis tas que deveriam exprimir e encarnar os inte résses préprios, especificos dos trabalhadores, das massas populares, das forgas avancadas e pro- gressistas, no quadro dos interésses nacionais do_ Brasil. © desenvolvimento da situagio até os dias presentes esta mostrando de maneira cada vez mais cortante que a causa dessa auto-exclusao, materializada no Manifesto de Prestes, esta na apreciacao incorreta e nao cientifica da estrutura de classes da sociedade brasileira. Colocar a bur- guesia nacional no campo da contra-revolugao é vendar 0s préprios olhos, leva a formular exigén- clas descabidas inviaveis ao proletariado e sua vanguarda, Nada mais alheio ao marxismo na teoria e na pratica. Pior — nada mais eficiente para denegrir 0 marxismo, adulterd-lo, transfor- mé-lo numa grotesca caricatura, —empobrecé-lo até a indigéncia e dar pasto a tédas as calinias dos seus inimigos e detratores. © processo histérico real, nesses quase 30 anos ja decorridos, estracalhou ambos os esque- mas, 0 de Prestes e 0 de Getiilio. Nao existe mais ninguém, neste pais, capaz de negar 0 papel po- sitivo, progressista da burguesia nacional. © mo- vimento operario, as vézes sufocado brutalmente | pela violéncia, outras vézes acaudilhado e ames- | quinhado, emerge tona, afirma-se como forca nova, independente, cioso de sua autonomia Entretanto, os que deveriam e queriam agru- par a classe operaria sob a bandeira do marxis- ‘mo néo o conseguiram, falharam clamorosamente, porque substituiram 0 método do materialismo dialético pelo dogma stalinista. © resultado atual é que a classe operaria se encontra politicamente acéfala. Cobrir esta la- cuna, preencher éste vacuo — eis a tarefa gigan- tesea que a histéria incumbe aos marxistas bra- sileiros. Pelo menos criar as condigdes prelimi- nares para que isto possa ser feito — eis o que se esfoream por construir os comunistas renova- dores U Sr. Caio Prado Junior e a falsa tese dos “Capitalistas Sébrios”’ No n, 9 da “Revista Brasiliense”, 0 Sr. Caio Prado Junior escreveu um artigo de critica seve- rissima sdbre 0 “Manual de Economia Politica”, editado pelo Instituto de Economia da Academia de Ciéncias da URSS. Nésse artigo, entre outras coisas, 0 Sr. Caio Prado Junior diz o seguinte: ‘Encontramos mesmo no Manual de Economia Politica — diz — falhas grosseiras ao tratar do sistema econdmico do capita- lismo. E’ assim que entre os fatores negati- ‘vos do capitalismo que, segundo o Manual, impedem o desenvolvimento das foreas pro- dutivas do sistema, se encontra a larga “pro- digalidade” dos capitalistas, que “desperdi- am, somas enormes em comprar objetos de luxo e em sustentar uma numerosa criada- gem” (pag. 199). Eis-nos voltando com essa, afirmac&o aos tempos e as declamacées dos socialistas pré-marxistas e romanticos do século passado que Marx denunciava: “E falso ver na producdo capitalista o que ela nao 6; a saber, uma producao que tem por fim tmediato 0 g6z0 ou a produgao de meios de g6zo para o capitalista. Esquece-se to- talmente com isso 0 carater especifico des- sa produgdo”. (1). Seja qual for o crité- rio moral aplicavel ao esbanjamento e 03. tentacdo vaidosa da vida burguesa, o fato 6 que isso nao conta econdmicamente por nada nos desajustamentos e crises do sis- tema capitalista. Poder-se-ia até, dentro de certos limites, afirmar 0 contrario, a saber, que sao a excessiva capitalizagao e a ansia capitalista do iucro pelo luero e nao pelas satisfacdes que c lucro pode proporcionar, que constituem fatores importantes dos de- sequilibrios e desajustamentos do sistema Em outras palavras, os capitatistas, como classe, pecam econdmicamente untes pela sobriedade que pela prodigalidade” Examinaremos a seguir as afirmagoes conti- das nésse longo periodo de autoria do Sr. Caio Prado Junior. Propome-nos a provar que a) O Sr, Caio Prado Junior acusa, sem ne- nhuma base cientifiea, 0 “Manual de Economia CALVINO FILHO Politica”, soviético, de conter FALHAS GROS- SEIRAS. b) Deformou a verdale quando destacou 2 Jinhas de longo texto do Manual referente aos fatores que impedem o desenvolvimeto das for- gas produtivas do capitalismo, ©) Citou Marx maliciosamente. d) Fugiu & verdade quando insinuou que os autores soviéticos do Manual de Economia Poli- tica atribuiram as satisfagGes materiais dos ricos a responsabilidade dos desequilibrios e desajus- tamentos do sistema capitalista. De fato, a retransformacao de parte da mais- valia obtida & custa do trabalho nao pago em capital ¢ 0 fim imediato, ¢ 9 movel determinan- te da producao capitalista, mas com isso e para isso 0 capitalista nao se proibe em geral de des- perdigar e muito 0 que sobra das necessidades satisfettas da producao e reproducao capitalistas; e como sobra e como desperdicat Ademais é preciso que nos lembremos de que, em geral, o trabalho do capitalista esta na razio inversa da grandeza de seu capital e de sua qua lidade de capitalista, donde sobrar-the cada vez mais tempo para 0 uso e goso dos Iucros maximos extorquidos &s massas trabalhadoras. Em nenhuma pagina dos numerosos traba- thos de Marx encontraremos a afirmacao de que 0s capitalistas modernos nao esbanjem, nio des- perdicem. O sr. Caio Prado Jimior procura fazer acreditar ser pensameno de Marx, que 0s capita~ listas “pecam ecnémicamente antes pela sobrie- dade que pela prodigalidade”, mas com isso ape~ nas repde em: circulacdo a liquidada ha mais de 150 anos economia vulgar. Dizer que o capitalista moderno s6 e exclu- sivamente movimenta a producao para acumular lucros, efetivamente s6 um moderno economista vulgar poderia dizé-lo. Seria transformar 0 ca- pitalista moderno no usurario do pré-capitalis- mo. Se 0 seu objetivo inicial, imediato e mébit 6 obter lucros, ésse objetivo, atingida determi- nada etapa da producio e acumulacao, embora nao desapareca € esmaecido por outros que ad- quirem maior expressdo segundo 0 momento, im- postos pelo proprio mecanismo da produgio ca- 12 NOVOS TEMPOS pitalista, que limitam e pdem em perigo 0 obje- tivo imediato — o luero. Ontem como hoje, em geral, ninguém preten- de-ser capitalista com 0 objetivo tinico do lucro pelo lucro, mas pelas vantagens e privilégios pes- soals € socials que o lucro acumulado, a riqueza, enfim proporcionam, inclusive a possibllidade de esbanjar, desperdicar, ter um padrio de vida inaccessivel aos produtores da mais-valia, vida de ostentacio e de luxo incriveis. E mais iuxa, desperdiga e esbanja, atastando- se da produeao, quanto mais rico é o capitalista. Seu esbanjamento, ostentagao e luxo crescem com, © desejo de acumulacdo do capital que reailza, sem que aquéles limitem necessiriamente a éste e nem éste aqueles. Assim, no coracao do eapita- Usta se estabelece um conflito que amargura a sua existéncia. Nao é preciso ser economista, bastam olhos ara vér a0 nosso redor 9 esbanjamento dos a pitalistas. Pretendendo indicar como “falha grosseira” do Manuat, 0 sr. Caio destaca 2 de 4 linhas que se encontram na pag. 199 (da edi¢éo em espa- nhol do Manual), no longo capitulo (8 paginas) em corpo 9, tipogratico, dedicado a Renda Na- clonal, que diz com inteiro acérto, e apesar das desarrazoadas restricdes do Sr. Caio Prado Ji- nior “Uma parte muito considerdvel da ren- da nacional — 1é-se no “Manual” — se des- tina ao consumo parasitério dos capitalis- etas-e latifundidrios. Esses desperdicam so- ‘mas enormes em comprar objetos de luxo € em sustentar uma numerosa criadagem”. (O grifo é meu — ©. F.). Nao assistimos a toda hora e instante, aqui ¢ alhures, que essa afirmacdo do Manual é uma verdade meridiana? Que pretendeu o Sr. Caio citando falsamen- te a Marx, porque deformou o pensamento désse genio incomparavel, e subtraindo do longo trecho, do Manual em que estuda a distribuicdo da ren- dq nacional uma das suas partes, a menos im- portante, para transforma-la falsamente numa como que tese fundamental exposta pelo Manual e de que o Manual indicaria a producto capita- Uista como sendo uma produc&o para 0 géso luxo dos capitalistas? Justificar a sua falsa afirmacio de FALHAS GROSSEIRAS. ‘Quem puder que leia 0 capitulo “A renda na- cional” clo Manual; e “o proceso da producéo do capital”, em O: Capital, de Marx, para se horro- rizar com a afirmacio do Sr. Caio, tal como eu me horrorizel © Sr. Calo, continuemos, revela profunda ma vontade com os autores soviéticos, porque do con- trario nao teria do capitulo “Renda Nacional do Manual, destacado, realeado, o texto que leu linhas atrés e vamos repetir agora apenas parte que interessa a éstes comentarios: entre 0s fatores negativos do ca pitalismo que, segundo o Manual — diz 0 Sr. Caio — impedem 0 desenvolvimento das. foreas produtivas do sistema, se encontra a larga “prodigalidade” dos capitalistas, que “desperdicam somas enormes em comprar objetos de 1uxo e em sustentar uma nume- rosa eriadagem” (pig. 199)”. © Manual absolutamente nao apresenta co- mo fundamental, nem mesmo como das mais im- portantes componentes da distribuledo da ren- da nacional a parte que permite a prodigaliaad © 0 desperdicio por parte dos capitalistas, justi- ficando dess'arte o destaque dado pelo Sr. Caio, Absolutamente, nfo. rata-se de simples esca- moteacdo da verdade, a fim de justificar a sua referéncia gratuita e violenta, a transcricéo pri- ticamente de 2 linhas de importéncia relativ num texto indicando resumidamente componen- tes de distribulcdo da maxima importancia, que ocupam 60 linhas! O Sr. Caio destacou o an secundario para escamotear 0 principal. Inicjaimente, para bem compreendermos 0 assunto, em poucas palavras, vejamos o que sio Joreas produtivas, e depois, renda nacional. Para que a producio se realize € preciso aue existam instrumentos ou meios de producdo ¢ 0 homem ou forca de trabalho do homem, que deve maneji-los, sse conjunto é que se designa por forea produtiva da sociedade As forcas produtivas constituem 0 elemento mais dindmico e mais revolucionario da produ- co. Sao 0 elemento determinante de seu desen- volvimento. A principio, se modifieam e se de- senvolvem as foreas produtivas da socledade ¢, depois, em conezdo ¢ em consonancia com ésse desenvolvimento, transformam-se as relacdes de producao entre os homens. © que distingue as épocas econémicas umas de outras, nfo 6 0 que se produz, mas como se produz... Os meios de trabalho nao sio somente © bardmetro do desenvolvimento da forea de tra- balho do homem, senio também o expoente das TelagGes socials em que se trabalha. “De tempo imemorial, diz M. Rosental,, 0s homens trabalham para existir. O tra- balho do homem é uma relacio definida entre © homem ¢ a natureza, O homem dl- ferencia-se do animal pelo fato de que pro- duz 0s meios de trabalho, os instrumentos de produgio, e os emprega para obter os melos de existéncia de que precisa. Os ins- trumentos de trabalho, e a forca de traba- NOVOS TEMPOS tho do homem sio elementos sem os quais niio pode existir o trabalho; em conjunto, representam as f6rcas produtivas da. so- ciedade. As forcas produtivas e 0 respectivo de- senvolvimento constituem 0 contetido da vi- da social em téda socledade, A existéneia désse mesmo contetido es- ta, contudo, estreitamente, indissohivelmen- te relacionada com outro aspecto da produ- cao social. Os elementos das forcas produ- tivas — os instrumentos de trabalho e os homens que os vem em acdo — por si mes- mos, isolados uns dos outros, néo podem existir. Deve haver entre éles determinada eonexio, relacdo reciproca; no processo da produc&o, os homens acham-se em deter- minadas relac6es entre si. Essas relacdes podem ser de colabora- cdo e de ajuda mitua, podem ser relacdes de exploracdo de uma parte dos homens por outra, mas sio elementos tao necessarlos da produedo quanto 0 so as forcas:produ- tivas. Essas relagdes chamam-se relacées de producio e, diversamente das foreas pro- dutivas, comp6em a forma da producéo s0- lal. As forcas produtivas sio a base da so- cledade, sio aquilo de que se compée a pro- ducdo, de que esta se acha constituida. Sem elas, ndo poderia haver, em geral, uma producdo. ‘A forma da producdo social sio as re- lagées de produedo. Estas organizam, vin- culam de maneira determinada os elemen- tos das foreas produtivas, estabelecem de- terminado tipo social de organizacao das foreas produtives. Sem essa organizacio so- clal, as fércas produtivas ndo podem con- verter-se em forca atuante. Este é 0 sighi- ficado da forma em qualquer process e ob- eto. A forma é a estrutura interna, a orga- nizagao interna do préprio conteado. Desta ‘definiedo de contetido ¢ forma depreende-se também o cardter de suas re- lagdes reeiprocas. Se 0 contetido compée a base da forma, nao pode haver, por conseguinte, forma sem contetido. Se a forma é a estrutura interna, a or- ganizacdo interna do contetido, néo pode aver, por conseguinte, conteido sem forma, Forma e contetido, portanto, em qual- quer objeto e processo acham-se em estado de conexao estreita, indissoliivel, de pene- tracdo reciproca. 13 Um determinado nivel das forcas pro- dutivas gera determinadas relacées de pro- ducao, ou, seja, a forma da producao so cial. As ferramentas de pedra, nos tempos primitivos, deram vida & forma da organ zacdo de comunidades primitivas da socie- dade. © aparecimento das ferramentas de metal trouxe como consequéneia 0 nascl- mento do primeiro regime baseado na ex- ploracao do homem pelo homem, O capita- lismo esta ligado ao nascimento da grande indistria mecdnica. © comunismo, como forma superior de organizacdo social, s6 é ossivel com alto grau de desenvolvimento das fOrcas produtivas © método dialético estabelece nao soa conexio e a acio reciproca entre forma e conteiido, mas também o valor decisivo, de- terminante, do contetido. © fato de que © contetido determine a forma, de que a forma exprima determina- do contetido, demonstra que a correspon- déncia s6 pode existir entre um conteido definido e uma definida forma. Nem toda forma pode ser a de um contetido deter- minado, assim como nem todo contetido po- de ser a base de uma forma determinada. E, dado que nao ha na natureza, objetos imutaveis, dado que 0 contetido dos fend- menos muda constantemente, 0 contetido dos objetos em desenvolvimento tem, por conseguinte, de entrar em contradi¢io com a velha forma Essa contradicao é a fonte mais impor- tante do desenvolvimento, do progresso na natureza e na sociedade. importante compreender 0 carter dessa contradicao A contradicao nfo existe entre o contetido a forma geral, mas entre um novo con- teiido e a velha forma. Um objeto qual- quer representa a unidade de contetido forma, mas no processo de desenvol- vimento o conteiido muda, adquire novos elementos e converte-se, em iltima ins- tanela, em novo conteido, Pelo contrario, a forma do objeto continua sendo a ante- rior, a velha. Por certo tempo, a forma fa cilita 0 desenvolvimento do contetido, de- sempenha papel ativo, influi positivamen- te sobre 0 desenvolvimento do contetdo, mas quando 0 conteiido mudou, conside- ravel ou tadicalmente, entéo rompe-se a consonancia que antes existia entre o con- teiido e a respectiva forma. A forma, en- tao, transforma-se de elemento favordvel, que era, em obstdculo para o ulterior desen- volvimento do contetido. Surge 0 conflito, a contradigéo entre éles. B essa contradi- u Novos co s6 pode resolver-se quando a forma for mudada, quando entrar em consonancia com 0 novo contetdo. Isto demonstra, uma vez mais, a depen- déncia da forma dos objetos relativamen- te ao respectivo contetido. A forma fica atrasada em reiagao ao conteuilo, dado que a propria necessidade de nova forma s6 nasee quando 0 contetido, que tinha muda- do ou esta mudando, assinala a necessida- de da mudanea ¢a forma A nova forma, que exprime, correspon- dentemente 0 “novo contetido”, cria de no- Vo a possibilidade do desenvolvimento dés- te, constitui a organizacdo interna do con- tetido em desenvolvimento. Esse desenvol- vimento continua a efetuar-se até que sur- ja, novamente, entre éles, um conflito, ete. © capitalismo contemporineo oferece exemplo claro do agudo conflito existente entre as forcas produtivas e as relacdes de producao. Se, artes, nas primeiras décadas da existéncia do capitalismo, as relagdes ea pitalistas de producao eram a forma que favorecia, ativamente. o desenvolvimento das forcas produtivas da sociedade, ess mesma forma, ha muito tempo, entrou cm contradieao com as fércas produtivas de- senvolvidas. Entre 0 carater social da pro- duciio e a forma capitalista privada da apropriacio existe antagonismo tao profun- do, que 86 a revolucdo protetaria é capaz de destruir a forma antiquada e transforma- da em reacionaria das relacdes capitalistas de produeéo. A revolucdo socialista, na ‘URSS, destrulu tal antagonismo, estabele- cendo novo regime social © desenvolvimento de qualquer socie- dade depende, em ultimo térmo, do estado das fdreas produtivas. Se existe determina- do nivel das foreas produtivas, forea al- guma € capaz, por tempo mais ou menos longo, de voltar a histéria para tras ou obrigar a sociedade a dar um salto de mui- tos séculos para diante. O desenvolvimen- to das forcas produtivas é também o fun- damento da necessidade histética das leis elas quais se rege 0 movimento da socie- dade” Examinemos, agora, ultra-resumidamente, a base do “Manual de Economia Politica”, Soviéti- ©, a questéo da renda nacional. Toda a massa de bens materials produzidos na sociedade durante um determinado periodo — por exemplo, em um ano — forma o produto so- cial global (ou produto global) Uma parte do produto global, a que equiva- Je a0 valor do capital constante consumido, des- TEMPOS tina-se a repor, no proceso da reproducao, meios de producdo invertidos. A parte que rest do produto global materializa 0 novo valor eri do pela classe operaria no processo da produci Esta parte do produto global em que se m: terializa 0 novo valor eriado é a renda nacioni A renda nacional, portanto, é criada pel trabalhadores, ocupados nos diversos ramos di producdo material. Os ramos no dedicados producto material, entre os quais se encontr: © aparéiho estatal, 0 crédito, 0 coméreio (c excecdo das operacdes comerciais que continu: © processo da produgio na esfera da circulacao), e outros, nao criam renda nacional. Nos paises capitalistas, uma parte conside. rivel da populacdo apta para.trabalhar nio sd mente nao contribui para aumentar o produt social e a renda nacional, como nao partici em nada, do trabalho socialmente util. Tal é antes de tudo, 0 caso das classes exploradoras de seu numeroso séquito parasitario, do gigan. teseo aparélho burocratico, militar, policial, et Grande parte da renda nacional se consome sem © menor proveito para a sociedade. Assim ocor- re com as enormes despesas por forca da con- corréncia, da desenfreada especulacdo e desme- @ida propaganda para vendas. A anarquia da producdo capitalista, as de- vastadoras crises econémicas e 0 funcionamento das emprésas abaixo da sua capacidade de pro- ducio, so outros tantos fatdres que reduzem de muito 0 emprégo da forea de trabalho. Massas imensas permanecem em desemptégo. O niihe- ro de desempregados totais registrados nos pai- ses burguéses, néo baixou nunca de 14 milhoes, durante 0 periodo de 1930 a 1938. © capitalismo poe a renda nacional criada’ pelos operdrios & disposicdo dos capitalistas in-. dustriais (ineluindo os patrées capitalistas na agricultura), Os capitalistas industriais realtzam. as mercadorias produzidas e obtém o total de seu valor, compreendidas as massas de capital va- ridvel e da mais-valla. O capital variavel se con- verte em saldrios que os capitalistas industriais pagam aos operrios, ocupados na producio. A mais-valia fica nas mios dos capitalistas fidus trlais; dela saem as receitas dos grupos das clas- ses exploradoras. Uma parte de mais-valla se converte em Iucro dos capitalistas industriais, os quais cedem uma parte aos comerciantes, sob a forma de luero comercial, e outra parte aos ban- queiros, a titulo de juros. Outra parte da mais- valia a entregam os capitalistas industrials aos possuidores de terras a titulo de renda do solo. A verdade & que a distribuicdo da renda na- cional é sobretudo expressao das relacdes de pro- ducio, que caracteriza 0 modo de producao. A renda nacional se destina, em altima instancia, Novos TEMPOS 1 como assinala 0 Manual, uo consumo e & acumu- jago. O emprégo da renda nacional nos paises burguéses o determina a natureza de classe do capitalismo e reflete o carater cada vez mais pa- rasitarlo das classes exploradoras. Que a distribuiedo da renda nacional nos pai- ses capitalistas no se faz no sentido do desen- volvimento pleno das f6reas produtivas, pelo con- trario — é ffeil de se comprovar. A parte da renda nacional nos paises capi- talistas, que se destina a ampliar a producio, é¢ muito pequena em comparagio com as necessida- des da sociedade. Por que? Porque grande parte da renda nacional se destina ao consumo para- sitario dos capitalistas e a gastos improdutivos Uma parte cada vez maior se destina aos gas- tos de guerra, & corrida armamentista e & ma- nutenedo do aparélho estatal A parte da renda nacional destinada a satis- fazer as necessidades pessoais dos trabalhadores, € téio pequena que, em regra geral, nao Ihes asse- gura nem o minimo de vida Nos Estados Unidos, nestes ltimos anos, se destinam para fins de guerra mais de 70 % do total do oreamento e para a satide publica, ins- trugdes e construcdo de casas menos de 4% Quase o inverso désse tragico quadro ocorre nos paises socialistas. “além disso, diz Marx, cumpre acres- centar que os homens nao sao livres de es- colher suas fOreas produtivas que consti- tuem a base de sua histéria, pois toda for- ca produtiva é uma forca adquirida, resul- tado de uma atividade anterior. “assim, pols, as foreas produtivas sk a conseqiiéncia da energia humana pratica, mas esta energia esta por sua vez condicio- nada pelas cireunstancias em que se encon- tram os homens, gracas as foreas produti- vas Ja obtidas, 4 forma social existente an- terlormente atividade dos individuos, as quals nfo’ sio Gevidas ao esforco criador dos homens da atualidade, mas represen. tam 0 resultado da geracdo precedente Pelo simples fato de cada geracao sub- seqiiente se encontrar de posse de forcas produtivas conseguidas pela geracio ante- rior, as quais utiliza como material novo para nova producdo, chega a constituir-se uma conexio interna da histéria humana, désse modo, a histéria da humanidade adquire maior legitimidade desde o momen- to em que as forcas produtivas do homem e, portanto, suas relagdes sociais, se exten- dem. Segue-se dai que, necessariamente, a historia social dos homens nunca é outra coisa senéo a histéria de seu desenvolvi- mento, Suas relagdes de ordem material formam a base de suas demais relacdes. Estas relacdes materials nfo sio senao as formas necessérias em que se realizam suns atividades materiais e individuais”. (Cartas histérieas de Marx a P. V. Annenkoy-in- “Divulgagio Marxista”, pag 128 n. 17/18 de 25-3-47) . A condicéo e manifestacao principal do de- senvol¥imento das forcas produtivas, convém re- petir, sfio as relacées de producdo, embora estas ho seu desenvolvimento dependam inteiramente do desenvolvimento daquelas. Uma e outras i ‘ma e Indissoliivelmente entrelacadas consti tuem 0 modo de producdo. Essas relacdes de prto- cuedo que constituem manifestacdes do desenvol- vimento das forcas produtivas, em determinado momento, transformam-se em obsticulos a ésse desenvolvimento, quando novas formas de rela- des de produgéo se impéem, a fim de que as forcas produtivas continuem a desenvolver-se Quando 0 desenvolvimento das foreas pro- dutivas, que se realiza através de um longo pro- cesso histérico sob 0 impulso também de numero- 0s fatéres, todos sobre a base das necessidades is, entra em conflito com as relacGes de pro- dueao existentes, tornadas forcas frenadoras, es- tas sim, que fundamentalmente impedem 0 con- tinuado e posterior desenvolvimento ilimitado das forcas produtivas, impde-se um processo re- volucionario, que reajuste o estado existente do desenvolvimento das forcas produtivas com no- vas relacées de producio, que de foreas frenado- doras passem a ser estimuladoras do seu eterno desenvolvimento. “Ao chegarem a determinada fase de desenvolvimento, diz Marx, as forcas pro- dutivas materials da sociedade chocam-se com as condigées de producdo existentes ou com 0 que nao ¢ sendo a expresso ju- ridica disso, com as relacdes de proprieda- de dentro das quais se moveram até ai. De formas de desenvolvimento das forcas pro- dutivas esas relacdes convertem-se em seus obstéculos. E abre-se, assim, uma época dé revolucio social. Ao mudar a ba- se econémiea, transforma-se, mais ou me- nos rapidamente, toda a imensa superestru- tura sdbre ela erguida”. (Marx — Contri- buic&d a critica da economia politica, Obras Escolhidas, pig. 399. Barcelona, 1938) © que impede, fundamentatmente, 0 desen- volvimento das f6reas produtivas do sistema ca- pitalista, e esté clara e largamente exposto no ‘Manual, como em todos os textos marxistas sébre © assunto, largamente difundidos no mundo to- do, nao € a larga prodigalidade dos capitalistas, mas 2 contradieao entre o desenvolvimento das forcas produtivas as relagées de producio, uma 16 Novos TEMPOS das manifestades da contradicio antagonica, fundamental que a producdo ser social e a apro- priagio privada, capitalista. Na socledade socialista, onde, pela pri- meira vez na historia, a contradicao entre as forcas produtivas e as relacGes de pro- ducio € liguidada; onde, devido a isso, abre-se um horizonte ilimitado para o de- senvolvimento das forcas produtivas, a ciéncia e a técnica adquirem um novo sen- tido social e uma nova fora de desenvol- vimento. A atividdae do cientista, do pes- quisador, deixa de ser algo de interésse pes- soal, adquirindo um sentido para todo o po- vo, para o Estado. Em nenhum outro Es- tado ha nem pode haver um tal interésse para o desenvolvimento da ciéncia e da téonica, nem um tal carinho, como no Es- tado Soviético, onde as conquistas da cién- cla e da técnica no sio de interésse de tal ou qual empregador, mas de téda a so- cledade, em cujo beneficio estas conquis- tas so utilizadas. Por isso, em nenhum 1u~ gar o papel dos intelectuais téenico-cienti- ficos & tao apreciado como nos paises do socialismo. (C. Kovaliév — A “Inteliguént- sia” no estado soviético — in — “Divulga- cio Marxista” — pags. 29/30, n. 21 de 25-5-47) . Leia e estude, 0 Sr. Caio, os capitulos do Ma- nual de Economia Politica, da segunda secio: “O modo capitalista de producio”, e vera que as, “falhas grosseiras”, etc., que néle critica s6 exis- tem, na verdade, em sua imaginacdo. Portanto, convém seja repetido mais uma vez, © que frela, impede ou estimula o desenvolvimen- to das fér¢as produtivas, principalmente, é 0 es- tado das relagdes de producao. As relacdes de producio burguésas ja foram prodigiosa fonte de desenvolvimento das forcas produtivas, mas com 0 advento do imperialismo, foram mais € mals se transformando em forcas frenadoras. Essa a tese exposta nos capitulos apropria- dos do Manual e nao a do esbanjamento dos ca- pitalistas, simples aspecto secundério, mas tao importante para o Sr. Calo, “et pour cause”, que © destacou dos demais fatores ou aspectos e da ‘causa fundamental, apenas para poder criticar ‘© que ndo havia a eriticar. Fabulosa, outrossim, é a afirmacio final do Sr. Caio Prado Junior, no trecho de seu artigo, iniclalmente transcrit>, que repit “Em outras palavras, os capitalistas, como classe, pecam econémicamente antes pela sobriedade que pela prodigalidade”. Como revivescénela dos economistas vulzares, em pleno ano de 1967, © Sr. Caio deveria ter dito: se o mundo vive, todavia, é gragas & automort cagdo désse moderno penitente de Vichni, 0 pitalista! Coitados dos capitalistas, vivem miseri mente, sobrios que si0. Nao fosse essa “sobrie de", @sse espirito de economia, jamais chga a ser e se manteriam como capitalistas! Marx, em “O Capital”, tomo I, volume 11, vro 1, Se¢do 7.%, capitulo 22, que trata da “Tr formacdo da mais-valia em capital”, estuda mi ‘closamente a evolucdo do capitalista, desde 0 aparecimento no mundo até os primérdios do culo XIX, bem como a teoria da abstinéncia, tem paginas deliciosas que recomendo aos leito Se 0 Sr. Caio tivesse lido todo ésse capit 22, encontraria trechos como os dois que transcrever, para delicia dos meus eventuais tores que ndo possuam “O Capital”. “Nos comeces histéricos do modo cay talista de produedo — e todo aquéle q chega a capitalista passa por ésse est: historico — o apetite de riqueza e a avar so paixdes dominantes. Mas 0 progresso da producio capita ta njo cria somente um mundo de g620s abre mil fontes de enriquecimento sibit A um certo grau de desenvolvimento, “infeliz" capitalista se vé obrigado, cor necessidade do seu negécio, a um grau co vencional de esbanjamento, que ao me tempo é ostentagao de riqueza e, portant um meio de crédito. O luxo entra nos gas: tos de representacao do capital. Ademais © capitalista nao enriquece como o ente sourador, proporcionalmente ao seu traba. Tho pessoal e a0 seu n&o-consumo pessoal mas na medida em que absorve forca d trabalho alheia e impde ao operario a re. niineia a todos 0: gésos da vida. Assim pois, ainda que o esbanjamento do capita. lista nunea tenha o carter bona fide di prodigalidade de grao-senhor feudal e en seu fundo se escondam a mais sSrdida ava reza e 0 mais mesquinho calculo, seu ¢s: banjamento cresce com a acumulacdo, sem que aquéle limite necessiriamente a ests nem esta Aquele. Nasce, assim, no selo a individuo-capital uma espécie de conflit faustiano, entre o desejo de acumular e ¢ desejo de gozar” Marx conheceu apenas os capitalistas “po bretes” do inicio do século passado ‘Os modernos capitalistas, os monopolistas éstes sim, sio tao ricos que os do tempo de Mars € 0 grdo senhor-feudal, comparados a éstes, nac passariam de pobres indigentes... E seu esban- jamento eresceu nas mesmas ou matores propor- GOes que cresceram os lucros méximos. O COMUNISMO NACIONAL NAS DEMOCRACIAS POPULARES Ha certa contradieao no fato de o processo de democratizagdo nos paises do Bloco Soviético, agrupados em torno Ga URSS, realizar-se na for- ma de um movimento comunista nacional, pois a democracia visada pelas diversas oposicoes, que se manifestaram durante a luta, é leg:timamen- te socialista. As 1evindicacdes levantadas tém © objetivo de dar as massas maior participacio na administracao publica, como medida pratica de desburocratizacio. A palavra de ordem sob a qual se desenrola a luta da vanguarda 6 a volta, ao leninismo. Se chegamos a um estado de coisas, em aue © proletariade de paises, nos quais o capitalismo foi virtualmente destruido, levanta novamente reivindicacdes de carater nacionalista, deve- isso Unicamente correlacio de foreas 1é criadas. © chamado comunismo nacional nao é um programa e tampouco uma teoria. © um produto pratico do stalinismo, destinado a su- pera-lo. © fenémeno ¢ tao antigo como as proprias Democracias Populares. Na maioria désses nai- ses a revolucio foi trazida de fora, pelo Exér- cito Vermelho. Isso por si nao explica 0 caso, ‘como mostra o exemplo da Iugoslivia, mas tra~ cou desde 0 inicio as linhas gerais do desenvol- vimento. Nao demorou, entretanto, para que se fizessem sentir as conseqiiéncias do desvio de parte da renda nacional désses paises para a URSS sob a forma ce reparacées das chamadas sociedades mistas e de Tratados Eeonémicos des- EURICO MENDES favordvels. Nao é possivel, também, explicar 0 comunismo nacional unicamente por essas ra- z6es, pols éle surgiu igualmente na China, onde ésse fator no chegon a se verificar e subsiste na Buropa Oriental (Alemanha, ‘Tchecoslovaquia) onde essa fase ja fol superada. A causa maior primitiva da rebeiléo nacionalista, parece-n0s, fol a aplieacdo de pacrdes de um socialismo ras- s0 (stalinismo) em paises de estrutura social, cultura e tradigdes completamente diferentes. Abstraindo, no momento, o fato de Jé esta- rem superados ésses mesmos métodos na pro- pria Uniio Soviétiva, onde se iniciou aberto pro- cesso de reformas, que se manifesta, nao s6 pelas mudaneas politicas e administrativas, como tam- bém pela gigantesca reestruturacio econdmica (descentralizagio), cujos efeitos sociais nao ter- dario a se fazer sentir, foram os seguintes fato- res que possibilitaram o surgimento do stali- nismo Depois de 1923, quando se evidenciou a es- tagnacdo da revolugac mundial, impos-se a Ris- sla Soviética a necessidade da industrializacdo, a realizagio de uns acumulacdo socialista pri- mitiva, como conaicéo de sobrevivéncia num mundo capitalista hostil. Isolada e boicotada, nio podia contar com ajuda material do exte- rior, em forma de créditos, investimentos ou as- sisténeia técnica. O processo de industrializacao requeria o constante e radical sacrificio do nivel de vida da sociedade e a transformagao de milhées de “mujiks” em operarios industriais. A éstes Prossegue Marx: “Para defender ésse pobre homem (ca- pitalista-C. F.), contra 0 conflito desastro- so que se criarla em seu corac&o entre 0 desejo de g6zo e a séde da riqueza, Malthus preconizou, nos primeiros anos do século XIX, uma divisio particular do trabalho: os capitalistas realmente engajados nos negd- cios teriam sido encarregados da acumu- Jaco € os outros, a quem caberia igualmen- te uma parte da mais-valia, isto é, os lati- fundiarios, os dignitarios do Estado.e da Igreja, terlam @ funcdo de esbanjar” Numerosissimas sao as paginas que se en- contram nos trabalhos de Marx, que indicam quao falsa é a teorla da abstinénela, como igual- mente falsa 6 sua nova versio de que os capi- talistas “pecam econdmicamente antes pela so- briedade que pela prodigalidade”. O revisionismo e o reformismo esto ligados intimamente, por forea de légica interna, sejam quais forem as formas que tomem. Com um pou- co de trabalho, sio revelados. # 0 que sempre faremos nesta revista. (1) Kart Marx — ~~ Paris, 1924 - 1930 — ‘Tomo X, pag. Capital, trad, de J. Molitor 177. 18 Novos faltaram as premissas mais elementares para o modo de vida industrial e o processo de producio mecanizado. Os censtantes sacrificios mate- riais exigidos nutriram e reforcaram a oposicio primitiva dessas massas contra o novo modo de vida, oposicio que se manifestava numa resis- téncia passiva contra as méquinas, hordrio de trabalho e disciplina industrial em geral. Nessas conili¢des nao restava muito lugar para a democracia econémica e administracio obreira. “Liberdade ¢ 0 conhecimento da neces- sidade”, dizia Engels, mas as massas de campo- neses que, voluntariamente ou sob pressito, dei- xaram uma vida semi-asiitica para integrar-se num moderno pracesso de producio industrial, pouco ou nada podiam contribuir para a admi- nistracio de uma fabrica, necessitando, no ini- clo, freqiientemente de métodos drasticos para poder integrar-se na marcha da producio. Foi ai que surgiu a hierarquia burocratica, que de seu centro de Moscou determinava e regulava os minimos detalhes de produedo de uma empré- sa situada a milhares de quilometros de distin- cia, na Sibéria ou na Asia Central. A influéneia da burocracia crescia na medida dos primeiros sucessos industriais. A precdria situacio material da Russia Soviética daquele tempo e a nao existéncia de uma democracia econémica restringia as J4 estreitas bases da de- mocracia politica, que j4 involuiram nos anos da. guerra civil e da intervencéo imperialista. As lutas de fracdes e, especialmente, os métodos com que foram travadas por todos os lados acabaram com a democracia interna do Partido Comunista A Unido Soviética caiu sob 0 dominio absoluto da burocracia, que a administrava politica e eco- némicamente, imprimindo-lhe as suas feicdes préprias. # verdade que, mesmo comparado com padrées ocldentais, a administrava mal e defi- clentemente, gastava muito papel em “ukases” e energia humana, esbanjava os recursos, matava as iniclativas e consumia parte desproporcional- mente alta da renda nacional. Mas é verdade também que conseguiu a obra de transformar 0 pais agrario mais atrasado da Europa em sua primeira poténcia industrial. quando,os po- Vos soviéticos, na Segunda Guerra, conseguirem aguentar e rechacar o impacto das divisdes blin- dadas nazistas, equipadas pela industria alema, @les sabiam que todos os sacrificios nao eram em vao. © papel progressista da burocracia no campo econémico sé perdurou, todavia, enquanto nao havia outra alternativa. Esta surgiu no préprio processo de industrializacao. Criou-se um pro- letariado industrial qualificado. Formou-se uma TEMPOS intelectualidade soviética com seus novos q dros técnicos e administrativos. © analfabevs mo foi vencido e o nivel cultural dos povos viéticos cresceu incessantemente. Das Univei sidades Soviéticas sem hoje mais estudant formados do que das norte-americanas. As ses materiais para a Democracia Socialista est criadas. © problema, entretanto, no é de hoje. antes da guerra notou-se crescente choque ent ésses novos fatores na vida soviética e os vel métodos buroeraticos. “Fendmenos _histérict mesmo os mais importantes, ndo sabem distil gulr a hora em que tém de deixar o cenari disse Mehring, 0 bidgrafo de Marx. A buroc: cia ndo o sabia e fol justamente ésse o “erro” Stalin. Daqui em diante s6 podia conservar os vel métodos contra a crescente oposi¢ao das no forcas surgidas na sociedade soviética, 0 prol tarlado e a intelectualidade, que tinham aceito padrdes stalinistas como transitorios e de eme géncla, e que Iutavam, consciente ou inconscie temente pelo restabelecimento da democracia clalista em nivel mais alto. Nao foram s6 0s ¥ Ihos bolcheviques que fizeram oposicdo. fstes s viram mais como bodes espiatérios. Toda a no geracdo, saida das escolas, tinha de ser doma de novo. Daqui em diante Stalin s6 podia conser var o velho “statu quo” & base de terror e sangue. ésse o segredo das constantes ont de expurgos, liquidagées e processos monst: das quais Khrusehiov nos contou uma parte. Quando os Exéreitos Vermelhos penetrarat na Europa Central, implantaram um siste: politico que, dentro de poucos anos, devia cop as feicdes do modélo russo. Os planos de proai Go das fabricas Zeiss, na Alemanha Orient tinham de ser aprovados por Moscow. Os operé nos da SKODA, na Tehecoslovaquia, deviam t tao pouea voz ativa na administracao da sua om présa, como os sets colegas nos Urals. Os mé todos da acumulacdo primitiva foram implanta dos em paises que, devido as suas tradicGes in. dustriais, dispunham de uma base de saida mai elevada para iniciar uma producdo socialista, Das massas désses paises, habituadas a um nivé de vida mais alto, exigia-se uma aproximacd 20 nivel de vida soviétic. A situacio econdml ca désses paises foi agravda pela intromissio di reta da burocracia russa. A, situacdo politic tornou-se insustentavel devido a implantaci dos métodos politicos do stalinismo em pai- ses com um proletariado que, ao contrario russo, contava com fortes tradigdes democré- tieas, sindieals e de co-gestdo obreira. Paral NOVOS TEMPOS 19 completar o quadro, implantavam-se os mé- todos de expurgos e processos monstros para vencer a crescente resisténcia do proletaria~ do e da propria vanguarda comunista em ca- da pais, sob 0 dominio dos stalinistas russos € locais. Foram os melhores quadros dentro os Partido: Comunistas que sentiram primeiro os perigos do alienamento da classe operaria. © comunismo nacional no é outra coisa do que a manifestacdo concreta das contradicoes criadas entre os métodos stalinistas surgidos na Unido Soviética e as necesisdades do fortaleci- mento do socialismo nas Democracias Populares. Representa éle 0 esforco de vencer o abismo crla- do pelos stalinistas entre a classe operdria das Democracias Populares e a Unido Soviética. For- talece éie o campo socialista em seu conjunto — ® isso, no momento, s6 pode ser feito contra a resisténela da burocracia soviética. Na pratiea, 0 comunismo nacional revela dois aspectos, 6 composto de duas foreas: 0 ele- mento proletario, eonsciente e comunista, que se opde & burocracia soviética e seus satélites nacio- nais, porque luta pela democracia socialista & elas relagGes & base de igualdade entre paises socialistas. A outra forca ¢ representada pelo elemento pequeno-burgués e contra-revolucio- nario, que apota a oposicao comunista, porque vé em sua vitoria uma etapa vencida na luta pela restauracio de formas sociais burguésas. Existe © perizo da forca contra-revolucionérla tomar a Uderanca. Isso se pode dar, quando a resistén- cla, interna e externa do stalinismo as reformas, se mostra tao estipida e brutal que torna anta- gonica toda uma classe operdria e téda uma na- 40, como aconteceu na Hungria. proletaria- do htingaro desesperado, sem uma lideranca co- munista, aceitou os “slogans” nacionalistas pe- queno-burguéses, renunciando & idéia da refor- ma soclalista. Destruindo as bases da Demo- cracia Popular htingara, ndo havia mais o que reformar, — estavam abertas as portas para a contra-revolucao. A altemnativa para 0 caso hingaro fol de- monstrada na Polonia. Gomulka, ao contrario de Nagy e Kadar, preparou com seu grupo, cons- clentemente, a luta contra os stalinistas, & base de um programa de reformas socialistas. Orga- nizou a oposiedo dentro do Partido, mobilizou 05 operarios de Varsévia e outros centros indes- triais e aceitou 0 apoio pequeno-burgués como forea auxiliar. O resultado foi o completo iso- lamento dos stalinistas polonéses, e os soviéticos no se viam com forca moral para impedir 0 processo de clemocratizacao A precdria alianea entre comunistas e opo- sicko pequeno-burguésa tem de desmoronar, quando 0 comunismo nacional tomar de fato 0 poder. Chega 0 momento em que as aguas se dividem: de um lado 0s reformadores sociaiis- tas; de outro, as tentativas de volta a formas so- ciais burguésas. Na Tugoslivia, foi 0 caso Djil- las, que representou a pedra de toque. Na Pold- nia parecem ter sido as eleledes, que iniclaram nova fase. Na China assistimos recentemente & rebeliio dos Ministros pequeno-burguéses do go- vérno de Pequim, que pretendiam aproveitar-se da discussio inter-partidéria para fortalecer as suas posiedes & custa dos comunistas. Em todos ésses casos, tanto Tito, como Gomulka e Mao Tse Tung tomaram medidas que garantissem a con- tinuaedo das reformas pelo caminho socialista. As foreas contra-revolucionarias tém mais chances quanto mais as reformas socialistas de- morarem de ser realizadas e quanto maior tor- nar-se 0 abismo que o stalinismo criou entre as Democracias Populares e a URSS. O que resta- belece a unidade do campo socialista nao sio unicamente os gestos amigavels por parte de ‘Moscou nem as viagens de Khruschiov, que acon- selha os stalinistas tchecos e alemies, em con- versacées particulares, a mudar as suas atitudes, porque as coisas no podem continuar assim. A iimica maneira de superar o antagonismo ex- plosivo, acumulado dentro do Bloco Oriental, é dar aos operarios uscicnais a liberdade de deci- dir de maneira soberana quais os métodos mais aprorriados para o desenvolvimento socialista dos seus paises. Isto em parte dependera do ritmo do processo de desestalinizagio na propria Unido Soviética, que ainda esta longe de ter atingido 0 seu auge. Mas desde ja ficou dle- monstrado que 0 movimento comunista nacional pode vencer etapas nessa direcio. Ble nao de- saparecera enquantc os métodos stalinistas con- tinuarem a ser empregados. & éle um legitimo produto do stalinismo. 6 desaparecera ven- cendo, quando a Comunidade Socialista, a base de direitos iguais cos seus componentes, for criada, como reabilitagio formal do internacio- nalismo proletario, — 0 nosso aliado mais pode- roso, na hora da luta final. Nossa Revolucdao(*) Hl — AS ETAPAS DA REVOLUCAO BRA- SILEIRA. A ESTRATEGIA E A ‘TATICA. Em téda revolugio 6 indispensivel que focalize 0 problema do poder. Sen tara de “quem substituiré a quem” . correspondents a0 vi Jeslocar da posiggo dominante; que cm a tomada do poder; que novo regime se deseja estabelecer; que modificacdes ra. Tudo do em todas se cuida de sao pretendidas para a velha estr isto, sempre, tem de ser bem d e-em cada uma das etapas de qualquer revo- lucio Ente acérdo com os seus distribuem as classes de teréses particulares © co- stabelecer um plano de farcas soci distinguir que classes e camadas pretendem 0 po- der para transformé-lo em um NOVO poder © + as componentes do VELHO poder; eis os fundamentais problemas da ESTRATEGIA da revol muns; Mas, para se estabelecer o plano estratégieo de forcas 6 necessario que se conheca antes de tudo ¢ com profundidade a realidade social obj tiva. EF necessirio que se compreenda o se pe ceha com clareza em que sentido as leis sociais objetivas tendem a mudar o regime. Trata-se, pois, de estabelecer com precisio as etapas da re- volucdo. Assim, 0 conhecimento da realidave objetiva ¢ a estratégia sio inseparaveis, Desejo destacar aqui uma tendéncia iti e observada: em nome do “anti-stalinis. © porque Stalin elaborou esquen i estas pal, de- ja para os paises atrasados em certos periodos, ete.) tenta-se liquidar com distinedes entre linha estratégiea e medidas tat cas, entre fases ¢ etapas revolucionérias, entre 0 todo e a parte, como se tudo isto fasse uma “eria- cio” stalinista. Procurarei, de minha parte, evi- lar éstes extremos, F para os que, momentanea- mente, nao se recordam que se trata, justamente, de ensinamentos de Lénin, transcrevo estas suas simples frases diferenciadoras de fases ¢ etapas: “Em minha primeira “Carta de long (“a primeira etapa da primeira revolu- ), publicada no “Pravda”, ns. 14 ¢ 15, EROS MARTINS TEIXEIRA de 21 ¢ 22 de marco de 1917, € também em minhas teses, determinei “a peculiaridade do momento atual da Russia’, como f de transic@o da primeira etapa da revolugio & segunda”, (Cartas sobre tatiea — Carta 1. Marx, Engels eo Marxismo, pag. 353) . Como constatamos anteriormente, a vida nos ensinou nao mais encarar as revoluc demoeritico-burguesas © socialistas como se essem separadas por um profundo abismo. Ja na Revolucdo de Fevereiro na Riissia, a 1 voluedo democratico-burguesa trazia em sev, hojo a revolugio sovialista que, encontrando aberto pela. primeira 0 seu caminho, ito ses apés também se coneretizava, A duali dade de poderes — 0 poder central bur, Kerenski, de um lado, ¢ 0s sovietes de ops jos, camponéses, soldados ¢ marinheiros, outro lado — mostrav da hegemo sia, na primeira etapa da revolugio russa, classe oper hora ja favoravel a expunha esta sua concepgio +6 ces com muita elareza: “Quem coloque a questio sabre o mino” da revolucio burguésa ao velho estix lo, sacrifica 0 marxismo vivo em holocaus to a letra morta. Segundo o velho estilo, atrés do domi- nio da burguesia pode e deve chegar o do- minio do proleteriado ¢ do campesinato, sta ditadura Porém, na vida real as coisas resulta. ram ja de outro modo: resultow um entres lacamento de um e de outro em forma ex- diniriament» original, nova ¢ (obra citada, pag. 356) Apés a Revolugio de Outubro, outras revo- Iugies se sucederam no mundo, com novas ca racteristicas. Ja Dimitrov assim definia a de- mocracia popular, logo apés a segunda guerra mundial, ao se referir i futura Reptblica da Bulgaria: “ clada no numero anterior esta edigho. (© presente trabaiho teve sua publleacio inl. continuando e conelwindo Novos *...nao seré uma Reptiblica soviética, mas uma Reptblica popular na qual o papel wente sera exercido pela enorme maio- ria da Nacio: operarios, camponeses, ar- tesios, intelectuais.” (O que seré a nova reptibliea biilgara — Problemas, n.° 3) . E 0 economista soviético Eugénio Varga assim deserevia as novas democracias, em artigo traduzido no n.° 6 da revista citada e intitula- do —“O que é a democracia de novo tipo “Nao é a ditadura da burguesia, nem tampouco a ditadura do proletariado”. Na China Popular, a ditadura da democracia popular, a nova democracia ou a reptiblica popus lar chinesa (varias denominagées para um mesmo regime ou um mesmo poder) foram 0 corox mento da revolucio democratico-burguésa que se iniciara em 1911. Mas nao foi uma revolu- Nela constatamos que na “eta- estabelece emocratica-burguésa “se um po- der ditatorial de varias classes, de operarios, camponéses, da pequena burguesia ¢ da burgue- sia nacional, ditadura que nao era outra coisa, seniio uma NOVA FORMA de ditadura do pro- letariado. Eis como em 1940 Mao-Tse-Tune diferenciava a Revoluedo Chinésa: a revolucio democratico-burgui da China sofreu uma transformacio depois do desencadeamento da primeira guerra mundial imperialista de 1914 e a Revolucio russa de 1917 que edificou um Estado So- sta em uma sexta parte do globo. An- e ntos, a revolucao chi nésa entrava no marco da velha revolucio democratico-burguésa mundial, da qual fa- zia parte: depois désses acontecimentos ela se transformou ¢ pertence 4 nova revolu- gio democratico-burguesa; evista pelo Angulo revolucionario, ela forma parte da revolugio socialista do proletariado. Por que? Porque a primeira guerra mundial ¢ a primeira vitéria socialista da Revol cio de Outubro transformaram 0 curso da histéria mundial.” (La Nueva Democra- cia, pig. 66) . E mais adiante: “Sua revoluc#o nao mais perteneera a0 dominio da velha revolugio democri- tico-burguésa mundial. Os paises colo- ¢. semicoloniais revolucionarios ja nio podem ser considerados como aliadoe TEMPOS 21 como aliados da frente socialista © maria mundial.” E evidente que nio tratamos de aplicar me- cinicamente a experigneia chinésa ou imitar os te6ricos chinéses na interpretacao das etapas re- volucionaria: no Brasil, Ao contririo, ¢ necessi- rio estudarmos as novas circunstineias inter- nacionais ja acentuadas no capitulo Ie que, certamente, modificaram mais ainda 0 carater das revolugdes democritico-burguésas. E ainda mais, ndo podemos ignorar que « especificidade de cada pais faz com que variem a estratégia © a titiea revolucionarias. Como 6 sabido, nao temos um passado de grandes Iutas camponésas. Por outro lado, embora num crescendo quantitative © qualita. tivo, nosso proletariado nao conseguiu ainda a lideranca hegeménica, nao constituiu até hoje uma sélida alianga com os camponéses, base indispensivel nao s6 da vitéria final nesta meira etapa, como da hegemonia desejada, Nao esté, porém, afastada a possibilidade, é claro, de vilérias titieas, parciais, de alguma fase ou mesmo sem a partici fases, ainda nesta clap: pacio das grand cularmente ‘no que fore iis tarefas anti- imperialistas. FE até facilmente con velo maior av: go na solucio das tarefas antiimperialistas (que poderemos dizer — nacionalistas) do que das agi Tudo nos indica ser possivel — ja ai com a indispensivel colaboragio da la de nosso povo, os camponé uir ésse govérno heter senta o latifiindio ¢ 08 int ticularmente norte-ame embora ja representando © defendendo a ans fazendeiros esa nacionalista. eal is progressistas, 0 faz débilmente: vérno que nao representa absolutamente a pe- quena burguesia, a classe operaria e os cam- poneses: é viavel, diziamos, mudé-lo por um govérno hem mais avancado, apenas represen- tativo destas cinco tiltimas classes ¢ cam: por ultimo referidas. Quanto & divisio esquemitica como eta- pas distintas, da revolugdo de nossos dias ¢ nos paises atrasados e dependentes, em revolugio democratico-burguésa ¢ revolugio _socialista, julgo nao mais corresponder a realidade e ela eva ser encarada sob novos aspectos, préprios da nova situacéo mundial ¢ das particularida- des de cada pais. Nao que clas ou stias tarefas caracteristicas tenham deixado de existir. Ape- nas clas no mais existem isoladamente. Quan- to aos aspectos antiimperialista e agrario da 22 revolucio, penso que éles nio devem também esquematicamente definir uma determinada ¢ tinica etapa revoluciondria, pois, mais acen- tuado ora um ora outro aspecto numa fase ow etapa, éles so © serio indissociaveis ¢ earacte zarao, juntos, varias ctapas, ou pelo menos al; mas etapas. Imagino ser possivel dividir a nossa revo- Tugdo em trés etapa: 1." — REVOLUGAO NACIONALISTA, DE LIBERTACAO NACIONAL OU NACIONAL- -LIBERTADORA; 28 — REVOLUGAO DEMOCRATICO- POPULAR e 3.8 — REVOLUGAO SOCIALISTA. Atravessamos no momento a primeira eta- pa da REVOLUGAO BRASILEIRA. vitéria nesta etapa, finalmente, sera deci alianga entre as foreas mais populare os trae halhadores das cidades ¢ do campo, ¢ sera im- prescindivel a formacio, no processo da Iut nao antecipadamente, de poderosa frente nica da qual deverio participar, além da classe ope- riria e dos camponéses, a pequena burguesia, a burguesia nacionalista e alguns setores de latifundiirios. © objetivo fundamental desta frente, © portanto da Revolucéo Nacionalista ou de Li- hertacio Nacional, sera o afastamento do go- yérno das classes mais retrégradas que 0 com- psem: dos agentes do imperialismo norte-ame- ricano oriundos de varias classes ¢ camadas sociais; da burguesia especuladora e dos la tifundiarios mais reacionarios. Contra ést ser dirigido, pois, 0 GOLPE PRINC A razio de ser da luta sera, enfim, a conquista do poder. jo pretendo ignorar que na_primeir como nas demais etapas, na frente xinica for- mada, cada classe tudo desejara para si, 0 que niio impedira se aliarem par a tomada do po- der. Certamente cada qual procurara “puxar a sardinha para o seu lado”, pois uma alianca nio liquida, mas pelo contrario, aguca as con- tradigdes entre as classes que ¢ aliam. Sera, porém, sempre dominante dentro da frente — se nio disfarcadas as contradicies internas existentes, mas sim superadas — 0 in- terésse comum de libertar o pais da domina- Joa formar junto aos edo estrangeira ¢ Ic demais paises pacificos, de impul: desenvolvimento industrial, capitalista, mesmo. Novos TEMPOS porque, conforme dizia Lénin de certos pai- ses: ...a classe operaria sofre nao tanto do capitalismo como da insuficiéncia déste iiltimo”, Um outro problema é preciso ficar claro. Refiro-me a possibilidade que existe de as prin- cipais reivindicacées da primeira etapa s6 vi- rem a ser cumpridas totalmente na segunda ou terceira etapa. Uma etapa nunca leva i total resolucao suas tarefas. A posterior sempre her- da algumas delas ou parte delas. Para se julgar da justeza do objetivo fun- damental de’ nossa revolugio em sua primeira etapa 6 necessirio térmos em mente os ensina- mentos da Internacional Comunista. Eis como éste organismo, em seu II Congreso, em 1920, depois de constatar que... - a@ dominagio estrangeira freia constantemente 0 livre desenvolvimento da vida social.” (Atas Taquigrifieas do 1 Congresso da T.-C.) . ..assim define 0 objetivo primordial das revo- lucSes nos’ paises atrasados © dependentes: *... por esta razio, 0 primeiro passo da revoluefo nas colénias ha de ser a der- rubada do capitalismo estrangeiro.” (Lu- 0 grifo é meu — EMT.). gar citado. No que se refere a directo da revolucio nessa primeira etapa, cla sera conquistada pela burguesia nacionalista ou pelo proletariado, ou ainda por ambas, predominando, porém, quem, com maior sabedoria, couber conquistar 0 apoio das demais classes ¢ camadas interessadas na revolugéo. Julgo néo ser esta afirmativa ples conviegio teériea, pois a pritica da vida no nos tem mostrado outra coisa, senio esta disputa de lideranca entre 0 proletariado ¢ a burguesia nas revolugées democritico-burguc- sas, principalmente nas que tém tido, iiltima- mente, carater de libertacio nacional, como st- cede no Egito, na india e noutros paises. Do ponto de vista dos interésses do prolet: riado, mesmo que suas foreas néo consigam mai do que dividir com a burguesia nacionalista a Tideranca, a superagéo dessa primeira etapa sera um grande avanco na conquista futura do so- cialismo. E 0 maior ou menor avanco em uma segunda etapa dependera do sucesso inicial ¢ da influéneia do proletariado nessa primeira etapa, a qual podera assim ser... “um trecho da estrada que nos conduziré ao socialismo”, como se referiu com acérto Agildo Barata ao nacionalismo que, justamente, caracterizaré o atual periodo revolucionario. NOVOS TEMPOS 23 (0 que se refere a tatica, deve ser ela esta- helecida de momento, nas varias fases, pois é de momento a momento que ela podera e deve- ré variar, dentro de uma mesma etapa, Ja a ia, principalmenta no que se refere & acio das forcas sociais distintas, perma neceré imutavel dentro déste mesmo periodo. Qundo as seguidas vitérias titicas dialéticamen- te vierem a mudar a estratégia, acontece que elas, entio, também teréo mudado a etapa da revolugio. Estaremos ja entrando na 2.* Revo- lucao, na segunda etapa, mais avancada. Tratarei_ neste estudo apenas de alguns problemas taticos, mas 0 farei em outro capi- tulo, especial. 1V — ALGUNS PROBLEMAS TATICOS. Abordarci neste capitulo, como disse, ape- nas alguns problemas taticos, isto é, os que julgo de maior atualidade. Da parte subjetiva do movimento revolu- cionario, dentre a titica © a estratégia, a pri meira (ao contrério da segunda) é que muda durante detefminada etapa da revolucio. Suas grandes “viradas” correspondem a marcos pre- cisos da etapa e caracterizam o que em lingua- gem revolucioniria designamos por fases. A seqiiéneia quantitativa de fases taticas levam a revolucio & mudanga qualitativa. Entio, a “vie rada” & um pouco maior ¢ a revolugio é con- duzida a uma nova etapa, para a qual nova es- tratégia deve ser estabelecida. Fste momento 6 que sempre corresponde, simultaneamente, i queda e & tomada do poder, ou a sérias modifi- caches em sa composica Fis 0 que, para mim, diferencia fases e eta- pas. Nas primeiras ha mudancas titicas, ape- nas. Nao ha necessiriamente alteracées na com- posi¢io de classes do poder ¢ das componentes da frente vinica. J as segundas se caracte zam por transformagées estratégicas (composi- iio de classes e camadas) na frente tinica e, pox teriormente, no poder. Estes sio velhos ensi- namentos leninistas, como podemos constatar: “A passagem do Poder de Estado das miaos de uma as mios de outra classe é 0 primeiro traco, © principal, o fundamen tal da revolueao, tanto no significado rigo- rosamente cientifico, como no politico-pri- tico déste conceito.” (Marx, Engels ¢ 0 Marxismo, pig. 354 — Cartas sdbre tatica). E ainda quando Lénin, categérico, define 0 problema fundamental de téda revolugio: “0 problema fundamental de toda re- volugio — diz le — é 0 problema do Po- der de Estado. Sem compreender clara- mente isto, no sera possivel intervir cons- cientemente na revolugéo, nem muito me- nos dirigi-la.” (Obras Escolhidas — A dualidade de poderes. pag. 17). Como sabemos, « Latica refere-se as formas de organizagao, as formas e tipos de lutas; re- fere-se as palavras de ordem no movimento, diz, respeito também & “linguagem” falada entre a vanguarda (os Partidos Comunistas) ¢ as mas- sas. Estes so ensinamentos para os quais, de fato, Stalin contribuiu, embora sdmente “tro- ‘ando em mitidos” a teoria e¢ a pratica leninista da revolucdo, ensinamentos que, em nome da luta contra 0 culto da personalidade (érro que do ponto de vista dos principios & secundario, pois 6 conseqiiéncia de um mal maior: a infra- cio do principio da direc&o coletiva), nio devemos de maneira alguma desprezar. Mesmo despretenciosamente, como desejo abordar alguns aspectos titicos da primeira etapa de nossa revolugio, foieme imprescindivel precisar a terminologia revolucionaria ¢ definir térmos, para que os conceitos por mim emiti- dos fésem perfeitamente entendidos. Assim tentei fazer, embora alongando-me um pouco Vejamos os problemas titicos: 1°) 0 “caminho pacifico“ da revolugao brasileira. Uma coisa que precisa ser eselarecida pe- Jos que defendem esta tese diz respeito a “rela tivamente a quando” se referem-’ possibilidade da vit6ria pacifica da revolugéo brasileira. A que etapa ou a que “fase” se referem? Signifi. ca que conseguiremos um govérno nacionalis- ta, democratico-popular ou socialista por via pacifica? Ou apenas um ou outro déstes? Ou tGo-simente se avancar alguns pastos, ultrapas- sar algumas f2ses, no caminho da conquista de um poder, de um govérno nacionalista? Esta iiltima hipstese, alias a tinica viivel, 6 a que me parece defendida, embora sem clareza de Timi- tes, pelos teéricos da solucio pacifica. Mas neste caso nie poderio generalizar uma possi vel experiéncia tatica de uma ou mais fases para tada a revolucio, para téda a ctapa. Ainda eu diria com Lénin: “eonfundem-se duas questées de carater completamente distinto: nossa par- a4 Novos ticipacio em uma das fases da revolugio demo- critica e a revolugio socialista.” Nao julgo possivel a classe operaria alijar do poder as classes retrégradas dominantes e déle participar, sem antes encontrar violent resisténcias, Além dos argumentos que ante- riormente apresentei, penso que a modificacto na correlagéo de foreas, para passar a ser favo- rivel a nosso povo (condicio indispensivel da vitéria, principalmente pacifica) seré conquis- tada sem os aplausos e sem o heneplicito das classes. dominantes. Nosso povo encontrar certamente a violéncia — pois isto é que ensina a historia — ¢ nao seremos necessiriamente pi- tonisas se admitimos para o futuro inclusive a “Juta contra o invasor... norte-americano”. Sé numa hipétese seria aceita como certa para nés a via paeffica para a tomada do po- der: se aguardassemos a derrocada do imperi Jismo no mundo, Neste caso, embora nio ob: atria, mas possivelmente, outros teriam luta- do por nés. Para alguns paises da Europa, da Asia ou mesmo da Africa, podera ser possivel a viGGria popular sem violéncias; isto porque podem éles se encontrar numa posicio em que, usando um térmo técnico de fisiea no referente © seu “momento” ma a0 equilibrio de forcas: balanca internacional seja igual ou maior que 0 da reacdo. Isto possibilitara manter uma esta- bilidade, um equilibrio de forcas internamente, ou uma vantagem que, por sua vez, tornara viée vel 0 caminho pacifico, Nao sera, poré todo absurdo se prever em alguns casos (parti cularmente na Europa) que os povos, em lugar da conquista do poder, provoquem a guerra mundial. A debilidade resultante de certas “facilidades” na conquista do poder ¢ na cons trugio do socialismo, ou um sucesso pacifico temporirio, poder levar & contra-ofensiva os inimgos. A Hungria é um exemplo gritante disto ¢ de que o imperialismo nunca se confor- ma com as derrotas. La, aproveitando-se dos sérios erros cometidos, a reacéo agin com fic ciéncia ¢ habilidade, servindo-se, inclusive, dos, justos movimentos operarios ¢ populares. $6 0 auxilio militar soviético pode vencer a contra- -revolucio, por um preco, é verdade, difieil de ce avaliar como compensador, pois, se foi eo" seguida a manutencao do socialismo em um pais, em particular (e um duv ialismo), aba- lou-se 0 prestigio do socialismo em geral, por que, justamente, se comprometeu o pais qne mais se deveria preservar dos ataques inimigos, a Unio Soviétiea. Valorizou-se mais 0 parti- cular que o geral na luta de classes interna- cional. TEMPOS 2.°) A fase de ACUMULAGAO DE FORGAS na primeira etapa. © reforcamento por nés da burguesia na- cionalista que ja participa do poder; o desmas- caramento das classes reacionarias e de seus re- presentantes no govérno; 0 fortalecimento de toda alianca com outras classes sociais no senti- do de pressionar de fora o govérno ¢ forgi-lo a caminhar num sentido progressista; a parti pagio em tédas as batalhas reivindicatérias que possam trazer vitorias populares e das massas, constituem para a classe operaria fases de acumulagéo de forcas e preparatorias para a Batalha maior que sera inevitavel: a retirada do poder das classe dominantes, ja bem caracte- rizadas. Isto e a instituigéo de um govérno composto pelas classes participantes da frente liniea (operdrios, camponéses, pequena burgue- sia, hurguesia nacionalista ¢ alguns setores Je latifundiarios interessados em nossa emancip: cio, pelo menos no que se refere & pol terior), constituirio 0 objetivo da primeira etapa da revolucdo que *6 sera conquistada por todo © povo, incluindo-se a sta maior parcela, os camponeses. Ji vs fases de act forcas nao necessitario obrigat apoio decisvo de todo 0 campesinato; nao ne- cessitario de prévia constituigzo de uma sélida alianca operariocamponesa. Esta _justamente se forjaré no processo das Iutas, com a obtencio de vitérias em varias fases revolucionarias ¢ na medida em que a classe operdria ajude a seus irmaos do campo a obter as suas reivindicagoes préprias. Nao se propugnara, mesmo em toda a primeira etapa ¢ quicé na segunda, por rad cal reforma agraria, mas por algumas modific: oes da estrutura. Nosso proletariade © nosso povo, ape grandes qualidades que possui, tem um grande defeito: sua desorganizacio. Tamhém o tem © restante de nosso povo. Além dos sindicatos que, apesar de liderarem importantes lutas gre- vistas, somente congregam uma pareela dos que trabalham, também nosso povo é, nesse sentido, inexperiente ¢ pouco dado ainda a organizacao. F ainda 0 “caudilhismo” que aproxima — e nio organiza — os filiados dos partidos traball tas, populistas ou operarios. No campo, sio poucas as organizacdes exi tentes. As unides ¢ associagées de lavradores nio si numerosas, como também nao sio as verdadeiras cooperativas agricolas. Infeliz- mente, em grande parte dos municipios, 0 pa- dre, 0 médico eo “coronel” ainda dirigem nostos evédulos “roceizos” Novos TEMPOS 25 No que se refere as mulheres € aos jovens, m mesmo particularmen- te os estudantes, estio organizados e, justica seja feita, suas entidades sio bem eficientes nas lutas pelas reivindieagdes préprias e nas campanbas patridticas que entusidstiea ¢ real- nyente nossos estudantes. lideram. stes tiltimos, ass Assim, nosso povo nao pode ir neste mo- mento as mais altas formas de lutas, além ‘le reves econémieas ou mesmo politicas © de algumas outras manifestacdes. Atuando em frente viniea que precisara forjar e ampliar, estar nosso poyo cuidando sempre de se orga- nizar. preparando-se para formas de Iutas {u- turas, mais elevadas. 3.9) As formas de lutas. As cireunstineias é que deverao determi- nar as formas de lutas. A eleitoral merece especialmente citada, no s6 pela sua impor- tancia como pela proximidade das eleicdes. Ou- tras formas tradicionais ¢ eficientes nunca deri ser subestimadas mas, pelo contririo, cievadas a primeiro plano, como as sreves eco- namicas € politicas, 0 que nos obriga mesmo a dar maior destaque * LUTA SINDICAL, por- que, sem ela, qualquer iuta nacionalista perdera © exato contetido de classe © todo carater ver- dadeiramente revolucionario. F necessirio, po- jcamente nossa orientagao sin- cal, néo 86 nacional, como internacionalmente. 4.) As formas de organi: Sao as formas de organizacio uma fun diveta das formas de Inta. Como dissemos, os sindieatos as organizacées da classe operaria proprias para as suas lutas, pelo menos econ: micas. Porém, s6 a vida poderé nos indicar quais os melhores tipos de organizacio para as lutas do restante de nosso povo. Na Iuta politica, a frente tiniea, a FRENTE POPULAR NACIONALISTA devera congregar todo 0 povo. De acérdo com as formas que deverio tomar as lutas, algumas frentes restri- tas, dentro ou paralelamente a frente mais pla, se destacario, como ja 0 vem fazendo a FRENTE PARLAMENTAR NACIONALISTA ampliada a sua influéneia a tédas maras legislativas, estaduais ¢ municipais, dara outro conteido ao MUNICIPALISMO. tomara uma importancia imensa ¢ refletiré com fidelidade as aspiragdes do povo brasileiro. Quanto a juventude, penso ser d Ihayel a manutencio ou eriagéo de organizagées de massas ¢ ilegais, pois estas duas qualidade se nao incompativeis, pelo menos sto di de se combinar. Al is, me parece, assi n pene sam também os nossos jovens comunistas, quan- do opinam decididamente pela dissolucio da U.J.C. Ea) © papel das farcas armadas 0 sentimene to nacionalista de nossa oficialidade. Nossa oficialidade tem tradigao progres: sista, tendo sofrido certa influéncia positivista. Sua atuacio anti-escravagista, quando se negava a ser “capitio do mato”, sua participagio nos varios episédios histéricos, onde foi decisiva na maioria das yézes, como na recente “manifesta do de novembro”, denominada ainda de “r térno aos quadros constitucionais”, para s6 citar a iltima, permitiu demonstrar tam- hém nossas foreas armadas, particularmente a oficialidade do Exéreito, um poderoso destaca- mento de vanguarda na luta nacionalista. con- tra o imperialismo e pela nossa total indepen- deni Eis uma grande garantia para a vitoria principalmente quando. admitimos a violénc por parte das classes dominantes para petuarem no poder. © povo hy prestigiar © apoiar essa forca e com ela se irma- nar, porque déle ela faz parte, 6.°) As palavras de ordem, os “slogans” do, quer de propa elas definem posigdes. A. paiavra e a acdo, combinadas, diferenciario nossa politica de uma politica dea, de simples jargées, logan” que necessita no momento ser di- vulgado, porque traduz nossa posicéo en: rela- cio As duas forcas politieas que atuam decisiv mente no panorama nacional, definindo o- qu desejam entregar nossa Patria 0 imperialismo © os que querem defendé-la, & esta palavra dle ordem que indica acio firme em dois sentidos: Todo o poder aos NACIONALISTAS! Fora do govérno os ENTREGUISTAS! V — 0 PROGRAMA MiNIMO. PLATAFORMA SUA Uma vez eselarecida a ctapa da revolugio, para o que é imprescindivel 0 conhecimento da lc objetiva, ai subentendidas as re jes de todos os aliados da frente tiniea uma definida a linha estratégica © tatica ~~ ¢ tudo isto faz parte de um progr. poderemos pensar em colocar em letra de f ma. em definir numa plataforme, coneretamen- dicagies que serio ape- da sua correspen- tapa. Estas aspiragoes se realistas leis soviais «| © procesto da resolucio das contradi- Jos, podera pe. serio prop das tarefas, que, como vi pela etapa subseqiient r de nossa historia, Kis nosso PROGRAMA rminagao da primeira etapa com sua estratégia e tities das coneretas reivindicag; MINIMO: que a compoem, na elaboracio de sua PLATA. FORMA na mesma etapa O PROGRAMA MAXIMO se: da lt © prograu: a etapa histériea da revolugio, a ex- dos iiltimos cheques antagénicos das clases em nosso pais, sera 0 progrania mo, que seria sectirio se defender como objetivo imediato em qualquer outra eta cujos fins, em qualquer delas, sera justo 0 um dever dos Partidos Comun stas propaga aro esti que poderio exi clapas médias existir ir programas Aqui ficou ineia prevavel de, pelo menos. a etapa média: a demoes F um pro edie. amanh inimo, porque o ido superado. ente uma prefunda discussie popular, de tada a frente nica, poderé completar com Tinhas gerais de sua plataform dram cm quatro ponte 280. N3 JONAL, PAZ, LIBERDADES DEMOCRAT ¢ MELHORIA DE VIDA podem ser ex: ista de um imediatos do proleta- jonéses, da pequena burguesia, da nacionalista ¢ de alguns fazendciros intereseados na ampli hurgnes latifundiarios, os mereados: 2.9 —E dependenie do imperialismo, par NOVOS TEMPOS norie-americano. Reatamento de rela: maticas com todos os paises io com todos 0+ paise Jades demoer: prensa, de reuniao, de pal ete.) Legalidade para os comunistas © suas organiza. voto a analfabetos, 5.° — Melhoria ¢ de salirios para a clas Ihadores em geval: 6° — Aplicacio da legislac ‘os assalariados no campo. Estimulo ¢ jes de lavrado- Seguranea oficial de precos para os pro dutos da lavoura ¢ yarantia oficial de seus pre- cos inter a de estinut Jo a produgao agricola. Maiores os arrendatirios, com prorrogay rias dos prazos de arrend: das terras de Estado ¢ execu ertas desaprop oriais, com ou sem indenizacio ¢ de acdrdo tias para com a posigio dos latifund rios atravessadores 8" — Aplicagéo de me nirias. Estimulo a producio ¢ a0 com aumento de crédito ¢ oe prazo, pi 10." blico. Melhories para o funcional Reorganizagao da administragi ca visando maior aproveitamento do funcior 0 ¢ maior rendimento nos servicos piiblices: 11." — Efetivac » da gratuidade do ensine primario em todo o j Liquidacio do fabetismo: 12.° — Levar a ineidéncia dos impostos mais pesadamente sdbre os lucros extra rios, visando maior arrecadacio ¢ da para aquéles que mais d sobre 0 povo: NOVOS TEMPOS 7 13." — Execngao de medidas protetoras da nacional em relagao aos investimentos estrangeiros, Reforma tarifaria e cambial, pro- tetora de nossa indtistria estatal ou privada; indiistri 14.8 — Navionalizacio de certas emprésas norte-american de interésse nacional ¢ social; 15.° — Estimular ao maximo o desenvoh stria hasica, dos monops- Petrobras, Eletre- Estimulo e mento de nossa. ind lios de Estado ja existentes: bras, emprésas sideriirgicas, ete protecdo aos demais ramos industriais, que deve ser livre i inieiativa privada Muito desejaria aprender com os estudiosos com os que se dedicam aos estue iis, politicos ¢ econamicos, maria ouvielos s6bre as wees aqui mal explanadas ¢ defendidas. Para ecer, mas que nao ignore ser_insufi- ciente, © como uma modesta contr ERRATA: ‘Tendo a primeira parte déste trabalho, pu- blicado em nosso primeiro ntimero, saido com algumas incorregées graficas, anexamos, entao, as, retificagées devidas: Na pag. 23, 28 coluna, 38 e 4 linhas, ao invés de: também, o surgimento — leia-se: tam- bém, em muitos déles, o surgimento Pag. 25, 28 coluna, nas 25. e 268 linhas, excluir a frase: no que se refere & exportacao. Na pag. 26, 1 col., na 28* linha, onde se Ié: 0 niimero — leia-se: 0 do ntimero, Idem, 2 col., na 30° linha, onde se 1é: devido a forca — lela-se: por forga Na pag. 27, 2. col., 3 linha, onde se lé: 0 tendando — leia-se: tentando. Idem, idem na 48 linha, leia-se: com 0 objetivo — e néo como esti: no objetivo. Na pag. 28, 1 col., na 5.* linha, exclua-se a palavra: que. Na linha seguinte, onde se 1é: na~ clonalista 6 — leia-se: nacionalista que é. Na mesma pag. e col., na 40.° linha, ao invés de: duas — deve ler-se: delas. Na pag. 29, 2" col., na 38 linha, onde se 1é: pacificamente. Se elas — leia-se: pacifica- mente, se elas. O Cardter Socialista da Revolucdo no Brasil Colocar 0 problema do desenvolvimento na- clonal do Brasil em térmos de alianca do prole- tarlado com a burguesia é retroceder diante da revoluedo e do socialismo. A luta contra os trusts e monopélios internacionais deve ser dirigido do ponto de vista de classe, ou seja, do proletariado contra o sistema geral de exploracao capitalista. © crescimento da producio industrial, no Brasil, supera de muito o crescimento da pro- duedo agricola. A burguesia esta no poder e as relagdes de produc&o capitalistas, dominantes, embora 0 atraso de grandes setores da economia nacional, que progride de forma irregular, desi- gual e combinada, definem o carater eminente- mente socialista do proceso da revolueio no Brasil. A IMPOTENCIA DA BURGUESIA E O PAPEL DO ESTADO A burguesia mostra-se impotente para levar avante, de per si, as suas realizacdes no campo industrial e agrario. O Estado é, dessa forma, chamado a desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento nacional. A sua intervencao na economia cresce, em ritmo acelerado, ou através de empreendimentos diretos nas atividades in- dustriais ou incentivando e orientando iniciati- vas privadas, com subsidios e financiamentos. Os grupos da burguesia, chamados “progres- sistas”, sfo precisamente aquéles que, por fra- queza e incapacidade para competir com os ali- mentados pelo capital imperialista, vivem & som- bra do Estado. A prova disso é que, quando com- batem a exploracio do petréleo pelas firmas es- trangeiras, nao a reclamam para si, mas, para 0 poder publico. INTERESSES REAIS DA CLASSE OPERARIA. Resta, no entanto, saber quais sio os reais interésses da classe operdria no processo do de- senvolvimento nacional. Lutar pelas suas reivin- dicacdes especificas, como ponto de partida para © programa da revolucio, ou fortificar 0 Estado da burguesia, numa hora de crise mundial do ca- LUIZ ALBERTO pitalismo? Os marxistas nao podem perder a vista a conjuntura econémica na qual se integr@ © Brasil. © Brasil est intimamente ligado aos Estados Unidos por lacos histéricos, geograficos, politicos © econémicos, 0 que Ihe da dos mais decisivos Papéis, pela sua localizacdo estratégica, no movi- mento operario internacional. Uma revolucao aqui, nfo s6 poderia arrastar todo o continente sul-americano para 0 socialismo, como, também, produziria profundos reflexos no seio da classé operaria norte-americana. PERIGO DE DITADURA BONAPARTISTA ‘Uma das tarefas fundamentais, no momento 6, por conseguinte, a organizacio e a formacao da consciéncia de classe para si no proletariado Essa tarefa s6 se realizara, portanto, a base de uma luta por suas relvindicacdes especificas ¢ néio de “slogans” nacionalistas, que s6 podem con- fundi-lo ainda mais e agravar os prejuizos que the causaram anos e anos de colaboracionismo getulista e stalinista Essa politica de aliancas e de conchavos, com a burguesia a testa do movimento, poe em evi- déncia o perigo de uma ditadura bonapartista, demagégica, de direita, em face da mentalidade nacionalista criada num proletariado sem tradi- ges de lutas, formada pela propaganda malsa do Partido Comunista e pela carta-testamento de Getiilio Vargas, que escreveu quando de seu sul- cidio, a 24 de agdsto de 1954 A EPOCA DOS KERENSKIS JA PASSOU © nacionalismo do Partido Comunista foi conseqiténcia de uma orientacao submissa aos in- terésses episddicos da diplomacia soviética em detrimento dos interésses gerais da revolucdo proletaria, representando concessdes a tendén- clas pequeno-burguesas, & mistificacdo do pater- nalismo politico, proprio dos paises atrasados, que podem constituir o estefo para uma ditadura mi- litar e reacionaria, sustentada, econdmicamente, pela propriedade estatal capitalista NOVOS TEMPOS 2 No Brasil, a época dos Kerenskis j4 passou A revolucdo, na Bolivia, — pais ainda mais sub- Gesenvolvido, — velo demonstrar 0 fracasso das frentes nacionalistas de aliancas com a burguesi La, os problemas fundamentais das massas con- tinuam por se resolver, 0 que sé sera possivel ‘com o impulso da revoluedo para os campos do socialismo. A burguesia de Paz Estensoro e Ziles Zuazo, que estéve a frente do movimento de 1953, cedeu, apés a tomada do poder, & pressio do im- perialismo. © MUNDO ESTA MADURO PARA O SOCIALISMO Na Bolivia, porém, onde as forcas da revo- luedo se desencadearam, a crise ¢ permanente e nao tera solueao dentro dos quadros democratico- ~burgueses. Mas, nao so a Bolivia se encontra em ‘tal situacio, As revolugGes estéo fermentando, com maior ou menor intensidade, em todos os paises da América do Sul. A América do Sul é um barril de pélvora. O Oriente e a Africa do Norte ja explodiram. Nao se deve alegar o atraso dos paises latino- -americanos para afastar ou adiar a idéia do so- cialismo. © mal, no Oriente Médio e na Africa do Norte, é que os levantes nacionais vém sendo liderados pela burguesia, que faz, em certos casos, © jogo inter-imperialista, em favor dos Estados Unidos contra a Inglaterra e a Franea. Nasser é uma constante ameaca da reacio. O mundo, en- tretanto, esta maduro para o socialismo. A REALIDADE SUPERIOR DA ECONOMIA ‘MUNDIAL © capitalismo, erlando um mercado e uma Givisdo do trabalho acima das fronteiras, prepa- rou 0 conjunto da economia mundial para 0 s0- clalismo. & bem verdade que essa transformacao revoluciondria se coneretizara, entretanto, de acérdo com o ritmo industrial de cada pais, po- endo, em determinadas condicdes, nos mais atrasados, a classe operdria chegar ao poder an- tes que nos demais. Isto se dé em conseqiiéncia de haver uma realidade superior: a economia mundial ‘Ha entre os diversos paises uma interdepen- déneia que amarra os destinos de um aos desti- nos do outro. © Brasil, por exemplo, esta entre- lacado com os Estados Unidos de tal sorte que, no caso de uma revolucio aqu! vitoriosa, esta, cer- tamente, provocaria a ruptura do equilibrio nas relacdes politicas internacionais, mesmo se fosse esmagada pela intervencio militar. A existén- cla, todavia, de varios paises no caminho do so- cialismo no s6 dificultaria a repressio armada do estrangeiro como, também, evitaria a degene- rescéncia da revoluedo pelo isolamento e pelo cérco imperialista. EDIFICACAO DO SOCIALISMO EM ESCALA INTERNACIONAL © proletariado podera chegar ao poder no Brasil, embora a edificacao ulterior do socialismo dependa da revolucio nos outros paises, parti- cularmente na América do Sul. & de se prever, todavia, que a insurreieao, deflagrada no mo- mento oportuno, seria vitoriosa no Brasil, rom- pendo as relacdes de forcas entre as diversas po- téncias e abalando, profundamente, os alicerces do sistema capitalista internacional. No mundo inteiro, as massas comecam a ter conseiéncia da necessidade do socialismo. Nos Estados Unidos, onde a classe operdria carece de politizacio, 0 curso objetivo da historia, como conseqiiéncia do mais alto grau a que atingiu a sua evolucéo econémica, criou um poderoso mo- vimento sindical e as condicées necessarias para que, agucando-se a crise e surgindo uma van- guarda revolucionaria, possa ser expropriada a burguesia A CLASSE OPERARIA NO BRASIL A agitacio em quevive a classe operaria, no Brasil, poe em xeque a frente nacionalista. As reivindicacées salariais e as greves, em numero crescente, rompem, a todo momento, o pacto com a burguesia. A espiral da inflacdo gira vertigino- samente. As massas sentem que o capital explo- rador é um s6 — seja do Estado ou dos particula- res, estrangeiro ou nacional A classe operdria, que, em 1945, emergiu dos anos de ditadura, mais forte e mais robusta, em- bora embriagada pelo paternalismo politico, re~ presenta, atualmente, uma poderosa base na po- litica brasileira, pela conquista da qual lutam. 0s diversos grupos, tanto da esquerda quanto da direita, Mas o impulso de suas reivindicacdes choca-se com os limites das liderancas partida- rias. Prestes, hoje, nao ousaria aconselhar, fran- camente, que o proletariado “aperte o cinto na barriga e evite as greves” NACIONALISMO — EXPRESSAO DEFORMADA. DA REVOLTA A onda nacionalista é uma expressio defor- mada e pequeno-burguesa da revolta coletiva. O 230, NOVOS TEMPOS que é preciso, no entanto, é transforma-la num movimento geral de cunho e de objetivos socia- listas. A defesa nacional ¢ uma tarefa que nfo compete ao proletariado, Defender 0 que? — A Burguesia, O Estado da burguesia. A patria da burguesia. — Essa politica leva, infalivelmente, derrota da revolueao e do socialismo. A revolta contra os trusts e monopédlios es- trangeiros deve. ser orientada no sentido de um levante contra o sistema geral de exploracdo ca- pitalista. Nao ser pelo nacionalismo que o prole- tariado se libertara das correntes que o esmagam. Ao contrario. “No interésse da pretensa riqueza nacional, buscam-se os meios de estabelecer, arti- ficialmente, a pobreza do povo” (Marx — “O Capital”, cap. XXV, vol. 1) POR UM PROGRAMA DE TRANSICAO PARA. ‘© SOCIALISMO A politica de nacionalizacdes pelo Estado burgués, se bem que, em determinadas condicées, possa e deva ser apoiada, implicaria, se possivel fosse a sua completa e real efetivacao, no retar- damento do movimento socialista. O Estado é um instrumento de opressio de uma classe sobre ou- tra. E se o Estado burgués nacional tivesse forcas para coneretizar as nacionalizagées, de um lado, nio tiraria o Brasil da esfera de influéncia do outro, imprimiria uma grave derrota ao proleta- riado. Assim como a concorréncia deu lugar ao mo- nopélio, as disputas inter-imperialistas abriram as portas para a hegemonia dos Estados Unidos sobre as diversas poténcias. Vence o maior ca- pital, Triunfa o Estado mais forte. A Inglaterra ea Franca ja nfo sfo adversarios. © capitalis- mo no Brasil, como em todos os paises atrasados, nao tem futuro. E 0 que cabe A classe operaria lutar por um programa de transicio para o socialismo. NO CAMINHO DO PODER. Esse programa devera constituir-se de rei- vindieacées especificas das massas trabalhadoras, — escala-mével de salarios, contrdle dos lucros patronais, central sindical, reforma agraria, — preparando a transformacdo revolucionaria do socialismo. Esta s6 se realizara com a tomada e a destruicéo do poder politico da burguesia pelo proletariado militante. necessirio, todavia, compreender as exi- géncias da situacio. No momento s6 pode ser laneado um programa de reivindicaces minimas, um programa socialista, que conduza o proleta~ riado, orientando-o e educando-o numa luta de classe aberta contra téda a burguesia, a frente das outras camadas da popula¢ao do campo e da dollar nem do dominio dos Estados Unidos e, do cidade, no caminho do poder SOBRE FRENTE 0) NICA NO BRASIL. No trabalho de A. Guedes, estampado no mimero anterior — “Algumas Idéias Sobre Frente Uniea no Brasil” — verificou-se um érro tipografico que eliminou todo um trecho, mutilando dessa forma pensamento do autor. Assim € que, na pag. 31, 14 coluna, linhas 18 a 19, depois da palavra “imperialismo”, deve-se ler 0 seguinte “.!.e contra os restos feudais no campo Parece-me que se criam, no momento atual, condicdes objetivas para um tal govérno: de um Jado, o choque dos interésses da burguesia nacional com o imperialismo norte-americano; de outro lado, 0 aumento da forca do proletariado e das massas trabalhadoras em geral.” Fatores Estruturais e Conjunturais do Desenvolvimento do Capitalismo de Estado no Brasil Nos iltimos anos, é patente a tendéncia «0 erescimento da formacdo capitalista de Estado na economia brasileira. Trata-se de um, tend- meno fortuito e temporirio ou de uma tendén. cia duradoura, decorrente do jogo mais profun- do das varlévels que atuam no proceso de de- senvolvimento econémico? A resposta a esta per- gunta impée um breve exame dos mévels e das caracteristicas do processo de desenvolvimento que 0 pais atravessa. Historicamente, o Brasil se formou como pais que participava da divisio internacional do trabalho como fernecedor de produtos alimen- ticios e de matérias primas aos paises mais adiantados, que ja haviam ingressado na fase capitalista de desenvolvimento, fase em que a industria assume a funcdo de forca dirigente e dominante de téda a economia. Tal quadro, que configura o carater colonial com que se desen- volveu nossa economia durante séculos. signifi- cava que so 0 comércio exterior permitia a or- ganizacio no Brasil de atividades econémicas de importancia. Essas atividades variaram — quan- to @ cultura ou produtos extrativos predominan- ‘tes — de acdrdo com as mudaneas ovorridas nas condicdes de producéio e de cooméreio, em escala mundial. A importacio supria 0 consumo inter no de bens manufaturados e dos produtos agri- colas cuja demanda nao era satisfelta pela la- voura de subsisténcia, que se mantinha em tor- no das absorventes monoculturas de exportacio Durante 0 século XTX, devido de um lado ao crescente consumo mundial e, de outro lado, as excepcionais condiges que a cultura encontrou na regiio centro-sul Go pais. 0 café se tornou 0 principal produto de exportacio Esse tipo de entrosamento do pais com a eccnomia mundial favorecia 9 desenvolvimento das relacdes mercantis e, além disso, parece ter oferecido a0 Brasil vantagens relativas, duran- te certo pericdo. Permitia-lhe desfrutar, em es- cala maior do que seria possivel com producio prépria, dos produtos criados pela indiistria das nacdes mais avaneadas. De fato, a eriagho e ex- pansao da industria entre nds tinha como con- ARMANDO LOPES DA CUNHA digo preliminar a ampliagio do mercado inter- no até os limites minimos que a tornassem eco- némicamente vantajosa. Mas, embora necessa- ria, esta condi¢do no seria ainda suficiente para determinar um surte industrial significativo Embora seja ésse um problema que exija inves- tigacdo propria e cuidadosa, pode-se admitir, tedricamente, que o desenvolvimento industrial pressupunha também o desaparecimento das vantagens que advinham uo pais da tradicional estrutura de trocas externas ('). Parece que foi exatamente 0 que se deu e isto em consequéncia de trés fatores principais: 1) as variacdes na oferta, no mercado internacional, dos bens im- portados pelo Brasil; 2) a deterioracdo das re~ lacdes de trocas entre os bens importados e ex- portados; 3) 0 reflexo da conjuntura interna- cional sobre os nossos produtos de exportacdo, particularmente 0 cate Os momentos de profunda perturbaeao no sistema internacional de trocas, ocorridos por ccasiio da primeira grande guerra, durante a crise de 1929-32 e quando da IT guerra mundial, levaram a momentos agudos de nao satisfaeio da procura nacional de produtos manufatura- dos e condicionaram, consequentemente, os trés primeiros surtos industriais no Brasil Quanto aos outros dcis fatores referidos, exerceram éles influéncia menos espetacular, contudo mais permanente, no sentido do desen. volvimento do parque industrial brasileiro, De fato, a constante deterioracio das relacdes de troca internacionais em detrimento. dos nossos produtos exportavels diminuia _relativamente nessa capacidade para importar, Era a conse- qiténcia inevitavel da especializacao polarizada da economia mundial, que beneliciava os paises avancados, onde se desenvolvia a indiistria, de produtividade mais elevada, Assim. & nas con- dicdes de paulatina ampliacao do mercado inter- no, provocada pelo desenvolvimento da econo- (2) Ver a respeito o trabatho de Jazez Stanoyntic ‘A Unldade da Economia Mundial, in QUESTIONS ACTUELLES DU SOCIALISME, n.? 39. 1957, mia mercantil, exercia-se pressio constante ¢ erescente no sentido da instalacdo de indiistrias no Brasil A crise persistente em que entrou a cultura caféeira no Brasil a partir dos anos 20 veio acentuar ésse fenémeno. Realmente, os precos do café entram em baixa prolongada, em conse- quéncia da superprodueao que se formara ao antigo nivel de precos. As reservas mundiais eresceram até aleancar 0 nivel de 2 milhdes 214 mil toneladas em 1931, mantendo-se ainda em nivel muito elevado nos anos posteriores (1) Quanto aos precos, s6 depois da II guerra vol- taram aos niveis de 1922. O carater persisten- te prolongado desta crise terminow por deses- timular novas expansées da cultura caféeira, 20 tempo que incentivava a inversio dos recursos acumulados pelos fazendeiros do café em outros setores. Por outro lado, a erise do café dimi- nuia ainda mais nossa capacidade para impor- tar, estimulando a instalacio de manufaturas. A conjugaeio de todos ésses fatores levou realmente & expanséo do parque industrial bra- sileiro, sobretudo nas indistrias leves. Caracte- risticamente, a indiistria paulista nasce vincula- a aos fazendetros de café. Bsse desenvolvimen- to conservava no entanto um carater precério © ndo rompia a estreita dependéncia de nossa economia em relacéo 4 conjuntura internacio- nal. Essa a razio pela qual muitas indistrias que surgiam sob 0 influxo de dificuldades mo- mentineas de importar determinado produto. desapareciam uma vez superados os estimulos conjunturais que as haviam gerado. De qual- quer modo, porém, formava-se uma indistria, ineipfente mas que creseia, e seus representan- tes passaram a exercer influéncia sobre o apa- relho estatal, influéncia essa que tendia e ten de a se acentuar com 0 correr do tempo. Foi nos quadros désse tipo de desenvolvi- mento que comecaram a surgir as primeiras for- mas de capitalismo de Estado, na década de 1930. Assim, ao fracassarem certos negécios es- peculativos de capitalistas que viviam & sombra do aparetho estatal e que conseguiam financia- mentos oficiais através de influéncia politica, o Estado encampava 0 acervo, assumindo a res. ponsabilidade de operar o estabelecimento. E° 9 caso de muitas das emprésas incorporadas a0 patrimonio da Unido, da prépria Acesita, mais recentemente, e de umas tantas mais. Muito nos aproxima do capitalismo de Estado também a transferéncla para o Estado de companhias e es- tracias de ferro pertencentes ao capital estran- geito e tornadas deticitarias em virtude da dete- rloracdo das relacdes de troca e do distancia- mento crescente das zonas de produeio em rela g€o aos portos, gravando sobremaneira os custos NOVOS TEMPOS dos transportes. Outro caminho intervencionis- ta que chega as raias do capitalismo de Estado € se confunde mesmo com éle é 0 da criacao de institutos para resguardar 0 equllibrio estatis- tico producio-consumo, ou defender da ruina, de outro modo irremediavel, regides !nteiras do pais. © do Aciicar ¢ do Alcool ¢ talvez 0 mais tipico, embora seu papel ndo se limite a isso Essas formas de capitalismo de Estado pre- dominaram, possivelmente, até por volta de 1945, embora subsistam até hoje. Nao brotavam elas, em absolut, da necessidade de o Estado impulsionar 0 -desenvolvimento econdmico, ele- mento que parece diferenciar as formas que co- mecam a surgir com Volta Redonda Tera efetivamente outro carater o capitalis- mo de Estado que surge iltimamente e que se torna predominante no apés-guerra? Havera ra- z6es econdmicas que justifiquem tal interpreta cho? Parece-nos que surgem realmente diferen- cas entre o capltalismo de Estado oriundo do periodo anterior e 0 que esté surgindo de na eérca de quinze anos para ci. Aparentemente, ‘a radio de ser dessa mudanea delta raizes no contetido novo do processo de desenvolvimento, econémico nacional apés a segunda guerra, Ve- Jamos as linhas gerais désse aspecto da ques- tio, pois, para bem compreender 0 processo de desenvolvimento, nao basta medi-lo, mas é pre- clso verificar de onde parte e como se processa @le. Alguns grupos de causas parecem contri- buir principalmente para a mudanca referida Antes de mais nada, temos o fendmeno de 05 paises de economia complementar se verem privados de mereados, desmoronando-se com isso a divisio internacional do trabalho que surgiu com 0 capitalismo e que, em fins do século XIX, se estendera a todo o mundo, estabelecendo a unidade da economia mundial. Devido a seu ca- rater polarizado, era uma estrutura insustenta-- vel a longo prazo, em virtude da constante de- terloragio das relagdes de trocas internacionais em detrimento dos paises subdesenvolvidos, co- mo j vimos para o caso brasileiro. No segundo quartel do século XX, porém, um fato novo velo revolucionar completamente aquele estado de coisas: a ascencio dos Estados Unidos & posi- eGo de centro da economia capitalista mundial A estrutura das trocas mundiais fot substancial- mente modificada com isso, pois, além de po- téncia industrial de primeira ordem, so 0s Es- tados Unidos-um’ grande produtor de matérias primas e géneros alimenticios. Realmente, até (1) — Ver “World Production and Prices’ of Nations, 1935-86, p. 138; 1996-37, p. 118. League

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