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RD artigo original Importancia da implantacgdo de programas de garantia de qualidade em imagens radiograficas* Rita Elaine Franciscato Cérte, Thomaz Ghilardi Netto?, Jorge Miguel Floréncio®, Livio Nanni* Este trabalho apresenta, de forma sucinta, as principals etapas de implantaco de um programa de garan- tia de qualidade de imagens radiograticas, de acordo com os procedimentos adotados pela Area de Fisica Médica do Centro de Engenharia Biomédica, em conjunto com o Departamento de Radiologia do Hospital das Clinicas da Universidade Estadual de Campinas. 0 objetivo principal esté na apresentacdo dos resul: tados obtidos com a implantag&o deste programa que, apesar de possuir um contetido de baixa sofisti ‘G80 tecnolégica, reduziu 0 indice médio de rejeicao de radiografias de 30,6%, em 1986, para 8,6%, em 1992. Unitermos: Controle de qualidade. Controle de qualidade em imagens radiogréticas. Corte REF, Ghilardi Netto T, Floréncio JM, Nanni L. Importancia da implantacdo de programas de garantia de qualidade fem imagens radiograticas. Radiol Bras 1995;28:25-27, INTRODUCAO. A Area de Fisica Médica do Centro de Engenharia Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, desde meados de 1986 vem desenvolvendo um Programa de Garantia de Qualidade (PGQ) de imagens radiografi- cas no Servigo de Radiodiagndstico do Departamento de Radiologia do Hospital das Clinicas desta univer- sidade. Num primeiro estudo, feito com as radiografias re- jeitadas no Servico, verificou-se que aproximadamente 40% de todas as radiografias produzidas apresentavam, qualidade insuficiente para 0 diagnéstico médico e, desse total, um porcentual importante era devido a fa- Thas no sistema de processamento automatico dos fil- mes radiograficos. Esse resultado veio confirmar a ne- cessidade de se investir em um programa de garantia de qualidade como um meio para diminuir os indices, de rejeigdo de radiografias, os niveis de dose de radia- Gao recebida pelos pacientes e, consequentemente, os Custos operacionais do Servigo. Um dos pré-requisitos para 0 PGQ a ser implan- tado € que fosse composto por testes simples, mas que apresentassem precisio e reprodutibilidade. Esses testes deveriam estar em concordancia com protocolos inter- nacionais, mas passiveis de serem executados com equi- rotecdo da Faculdade de Filosofia, Ciencias « Letras de Ribeiro Preto, USP. Magica Uncamp Banderantes, 3900 14030-670 ibewse Preto — SP Radiol Bras 1995;28:25.27 pamentos de baixa sofisticagéo tecnolégica, para que © programa pudesse ser condizente com a realidade da maioria dos hospitais do Pais. pardmetro adotado para avaliagao dos resultados obtides com a implantacao do PGQ foi a taxa média de rejeigdo de radiografias (TMR), posto que qualquer variagao na cadeia de imagem € refletida diretamente no nlimero de radiografias que necessitam ser repetidas. METODOLOGIA ‘A metodologia adotada foi implementada em trés fases complementares. Na primeira fase foi realizado um levantamento do porcentual de radiogratias que eram rejeitadas no Departamento. Em seguida a isto implementaram-se os testes de controle de qualidade das processadoras automdticas de filmes radiograficos € dos aparethos de raios X!"—*. As processadoras passaram a ser monitoradas diaria~ mente € para isso realizaram-se os seguintes testes: 1) temperatura; 2) tempo de revelagao; 3) densidade de base +fog: 4) velocidade relativa; 5) gradiente médio. Com esses testes foi possivel monitorar tanto os para: metros de processamento quanto 0s de resposta dos fil- mes e, para isso, foram utilizados os seguintes equipa- mentos de teste: 1) sensitometro de trés passos; 2) den- sitémetro; 3) termémetro de haste de metal; 4) crond metro. Os equipamentos de raios X passaram a ser monito: rados periodicamente, segundo recomendacao da litera- tura basica utilizada™", Os testes basicos para 0 progra- ma inicial de controle de qualidade dos aparelhos de raios X foram: 1) tensdo de pico aplicada ao tubo de raios X; 2) corrente elétrica do tubo; 3) tempo de expo- sigdio; 4) coincidéncia entre os campos luminoso ¢ de raios X; 5) perpendicularidade do eixo central do feixe de raios X; 6) resolugdo de alto € baixo contraste; 7) 25 Importincia da implantacdo de programas de garantie de qualidade em imagens radiogréficas tamanho de ponto focal; 8) contato tela intensificado- ra-filme, Esses testes foram realizados utilizando-se os seguintes equipamentos de medida*: 1) chassi mod cado para teste de kVp; 2) crondmetro de raios X; 3) medidor de mAs; 4) sistema para verificagdo de alinha- mento de feixe € medida do tamanho focal; 5) sistema para avaliasao de alto e baixo contraste em fluorosco- pia; 6) tela para verificacao do contato tela-filme. Além disso, todos os chassis foram identificados externa ¢ in- ternamente e passaram a ser verificados periodicamente quanto a sua integridade fisica A segunda fase foi caracterizada pelo inicio de um trabalho conjunto entre a equipe de Fisica de Radiodiag- néstico, no controle do desempenho dos equipamentos € na detecgiio de possiveis problemas, ¢ a equipe de manutengao, tanto na solugdo de problemas detectados como no exercicio conjunto de um trabalho preventivo. Na altima fase deu-se a implementagdo de um sub- programa de gerenciamento e capacitacao, objetivando nao $6 a supervisao e 0 controle do trabalho exercido pelos técnicos operadores de equipamentos de raios X imaras de revelagao mas, principalmente, a orientagdo € capacitagao de todo 0 pessoal envolvido no servigo de radiologia do Hospital das Clinicas da Unicamp. Para a orientacdo e a capacitagao do pessoal técnico envolvido no servico, foram elaborados e ministrados cursos de reciclagem para técnicos operadores de raios X e de cdmaras de revela¢do. Além disso, incluiu-se, no programa de residéncia médica mantido no Departa- mento, um curso regular de Fisica de Radiodiagnéstico, a ser ministrado anualmente para residentes iniciantes, com carga horéria média de 40 horas. Dentro desse subprograma foram adotadas também algumas medidas que auxiliaram na superviso do tra. batho de técnicos operadores de equipamentos de raios, X, tais como: 1) identificagao dos técnicos nas radiogra- fis; 2) analise mensal das causas de rejeigdo de radio Brafias; 3) célculo dos custos envolvidos; 4) anélise men. sal do desempenho de cada técnico do servico™® Para o estudo das causas de repeticdes e perdas ra- diograficas, passaram a ser analisadas, desde entdo, to- das as radiografias rejeitadas no Departamento, atual: mente em torno de 1.500 peliculas radiogriicas. Como resultado desse estudo, as causas de rejeigao so clas- sificadas como apresentado na Tabela 1. Esta tabela apresenta 0 resumo dos estudos das causas de rejeigao realizados durante 0 ano de 1992 No céleulo dos custos envolvidos e, portanto, do custo aproximado de uma radiografia produzida no Departamento de Radiologia do HC-Unicamp, foram consideradas tanto as despesas diretas como as indire- + MRA. Rua Appa, 1837. 14081-060 Ribeirio Preto — SP. Telefone Fax: (016) 633-0500, 26 Corte REF e cols. Tabsla 1 Sintese dos estudos de causes de rejeicdo de radiogra fias em 1992. Caran ‘Aguko Change CT Total TMR IN| Nio-evelados 8 ~SC:SC«SC “Totelmente velados 332 7 3381.82 Revelades sem exposicdo «824. 2171.049 5.60 Movimento do paciente ws 6538337181 Mav posicionarnento sar 160 - = 7514.04 Aproveitiveis 371828823 2.28 Eros de residertes 6958 7133.84 Eros médicos a0 4 4a 223 Fatha técnica cémara escura 489 4a 5332.87 Fatna processadora 18 2 6 073 Fatha equipamento raiosX B81. «2318.95 Falhe de exposiglo 7.827. 2.723 196 10.686 57.51 Outros az - = 4222 Testes 945 9785.28 To iar 18.582 100,00 Tabola 2 _ Taxas médias anuais de rejeicdo de radiogratias (TR) mostrando oresutade da apicacte de PCO de imagens rasiogra Ano TW 1986 =~*~C~*~S BS 1987 227 1986 185 1989 18.2 1990 16.4 1991 149 1992 86 tas, envolvidas no processo de confecgao de uma radio- grafia. Como despesas diretas consideraram-se 0s seguin- tes itens: 1) custos com pessoal (médicos, técnicos, en- fermeiros, auxiliares e administragao direta); 2) custos com material de consumo (filmes, chassis, telas intensi ficadoras, solugdes fotoquimicas, material cirirgico de enfermagem, formulatios, etc.); 3) depreciagdo de equi- pamentos; 4) diversos (agua, luz, oxigénio, etc.). Den- tro das despesas indiretas foram considerados os por- centuais, referentes ao Departamento de Radiologia. dos seguintes servigos gerais: 1) administragdo geral; 2) transporte; 3) almoxarifado central; 4) servigo de hi giene; 5) manutengdo; 6) lavanderia; 7) lactario; 8) nu tricdo; 9) refeitdrio; 10) servigos de apoio RESULTADOS E DISCUSSAO Os resultados de um PGQ em imagens radiografi: cas se refletem diretamente na taxa de radiografias re- jeitadas no Servigo de Radiologia, como pode ser vis: to na Tabela 2. Radio! Bras 1995;28:25-27 Conte REF e cols Na primeira fase, © principal fator de diminuigao dos indices de rejeigdio de radiografias foi a monitora- a0 e estabilizagdo dos sistemas de processamento de filmes radiograficos. Durante esta fase, quando efetua- dos os testes de controle de qualidade dos equipamen- tos de raios X ¢ detectado aleum problema, este nao era corrigido imediatamente. Com isso, a perda de ra: diografias continuava, a despeito de identificadas as causas. Este fato conduziu a uma proposta de trabalho conjunto entre as equipes de Fisica Médica e Engenha- ria de Manutengao. Com a implementagao desse traba- Iho conjunto, foi possivel nova redugao nas radiogra- fias rejeitadas, de aproximadamente 10%, mostrando assim a eficiéncia do esquema de trabalho complemen- tar entre a detecgao de problemas ea sua solugao imediata, Apés essa queda de 10%, os indices de rejeigao ad- quiriram tendéncia a estabilizagio, evidenciando a ne- cessidade de nova reformulagao do PGQ ¢ complemen- tagao da metodologia adotada até entao. O estudo sobre causas de rejeigdo, mostrando a im- Portancia relativa de cada um dos problemas que leva- vam a perda de uma radiografia, forneceu subsidios su- nes para essa reformulacao, Com a implantagéo do subprograma de gerencia- mento e capacitagao de tecnicos operadores de equipa- mentos de raios X e cdmaras de revelagdo e, ainda, com © programa de treinamento de médicos residentes em radiologia clinica, os indices de rejeigao atingiram, em 1992, a média de 8,6%. Ainda com a andlise de custos padronizada dentro do Programa’, 0 custo médio do metro quadrado de radiografia para o Hospital das Clinicas da Unicamp, em 1992, era de aproximadamente US$ 200.00. Com base nesses valores, pode-se afirmar que, com o indice de rejeigdo de 8,6%, foi possivel, no ano de 1992, ob- ter uma economia de aproximadamente US$ 1 milhao em relago a 1986 (rejeigao de 30,6%) ¢ US$ 285 mil em relagao ao ano de 1991 (rejei¢ao de 14,9%). CONCLUSAO Neste trabalho foram descritas as etapas bisicas que constituiram a implementagao do PGQ de imagens radiograficas no Departamento de Radiologia do Hos- pital das Clinicas da Universidade Estadual de Campi- nas, pela Area de Fisica Médica do Centro de Engenha- ria Biomédica. s resultados obtidos mostraram que os testes pro- postos neste programa sao eficientes na detecgao de fa- thas, tanto em equipamentos de raios X como em pro- cessadoras automaticas de filmes radiograificos. Consta- tou-se, também, que se houver um sincronismo entre as atividades da equipe de Fisica Médica e de Engenha- Radio) Bras 1995;28:25.27 {49 implantagdo de programas de garantia de qualidade em imagens radiograticas ria de Manutencao 0s resultados obtidos podem ser ainda mais positivos. Porém, evidenciou-se, durante o tempo de aplicagao deste Programa, que um dos fatores de grande relevan- cia dentro de um Departamento de Imagens Medicas ¢ © trabalho executado pelo pessoal técnico envolvido. Este trabalho, se nao executado satistatoriamente, com- promete 0s resultados do Programa, mantendo altos indices de rejeigdo de radiogratias, a despeito dos es- forsos empreendidos pela equipe de Fisica Médica. Por- tanto, fica clara a necessidade de se investir em méto- dos efetivos de conscientizagao, orientagao e capacita- sao de todo 0 pessoal envolvido em um Departamento de Radiologia. ‘Com a reducdo nos indices de rejvigdo, pode-se ge- rar, em conseqiéncia, importante diminuigdo tambem nas doses de radiacdo recebidas pelos pacientes, 1écni- 0s € médicos € nos custos operacionais do servico. A economia de recursos, decorrente desse proceso de redusao nas taxas de rejei¢ao de radiografias, pode- ria ser revertida, por exemplo, na melhoria das condi- des de atendimento médico da populagéo. Portanto, a implantacdo desses programas deveria contar com 0 apoio de setores governamentais para a constientizagio das direcdes dos hospitais do Pais, ndo apenas quanto & sua importancia téenica e/ou econdmica mas, prinei= palmente, quanto a sua importancia social Abstract, The importance of implementing a radiotogical rae: Jing quality assurance This work describes the basic steps to implement a Radiolo- ical Imaging Quality Assurance Program in the Department of Radiology of the “Hospital das Clinicas da Universidade Estadual de Campinas”. However, the main objective is 10 present the results obtained after the implementation of this Program, which uses low cost equipment’s to perform the ‘quality control tests. The results have shown of revealed a retakes substantial drop in the percentage of radiographi from 30.6%, in 1986, t0 8.6%, in 1992. REFERENCIAS British Institue of Radiology (BIR). Assurance of guilty in the Diagnostic X-Ray Department, London, 1988. 2. Burkhart RL. Quality assurance programs for diagnose ral: ‘ogy facilttes. HEW Publication FDA 80.8110, 1980. 3. Corte REF. Implantaydo de um programa de controle de qualidade de imagens radiograficas em um hospital de grande porte. Tese de Mesirado. Ribeirdo Preto: FFCLRP-USP, 199, 4. Ohilardi Netto T, Cameron JR. Garantia de qualidade em radio diagnostico. Ribeirio Preto: FCLRP-USP, 1979, 5, Doldman LW, Beech 8. Analysis of retakes: understanding manag. ing. and using and analysis of retakes program for quality assur- ance. HEW Publication FDA 79.8097, 1979. 27

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