Você está na página 1de 6
5 Formas de Corrosao Os processos de corrosio so considerados reagdes quimicas heterogéneas ou reagdes eletroquimicas que se passam geralmen- te na superficie de separagao entre o metal e 0 meio corrasivo. Considerando-se como oxidagio-redugio todas as reagées guimicas que consistem em ceder ou receber elétrons, pode-se considerar os processos de corrosdo como reagies de oxidagio dos metais, isto é, 0 metal age como redutor, cedendo elétrons que so recebidos por uma substincia, o oxidante, existente no meio corrosivo. Logo, a corrosao ¢ um modo de destruigao do metal, progredindo através de sua superficie. ‘A corrosio pode ocorrer sob diferentes formas, e o conheci- mento das mesmas é muito importante no estudo dos processos ‘As formas (ou tipos) de corrostio podem ser apresentadas considerando-se a aparéncia ou forma de ataque e as diferentes causas da corrosio ¢ seus mecanismos. Assim, pode-se ter cor- reso segundo: +a morfologia — uniforme. por placas, alveolar, puntiforme ou Por pite. intergranular (ow intercristalina), intragranular (ou transgranular ou transcristalina), filiforme, por esfoliagao, grafitica, dezincificagao, em torno de cordio de solda ¢ empolamento pelo hidrogénio: + ascausas ou mecanismos — por aeragio diferencial,eletroliti ca ou por correntes de fuga, galvanica, associada a solicitages mecénicas (corrosio sob tensdo fraturante), em torno de cor: diode solda, seletiva (grafitica e dezincificacao), empolamento ov fragilizagio pelo hidrogénio; +08 fatores me sob tensto, sob fadiga, por atrto, as- sociada & erosio: +0 meio corrosivo — atmosférica, pelo solo, induzida por mi- crorganismos, pela égua do mar. por sais fundidos, ete.; +a localizagdo do ataque — por pite, uniforme, intergranular, transgranular, etc A caracterizagao da forma de corrosio auxilia bastante no esclarecimento do mecanismo e na aplicagio de medidas adequa- das de protegdo, dat serem apresentadas a seguir as caract as fundamentais das diferentes formas de corrosio: *uniforme: + por placas: + alveolar; + puntiforme ou por pite: + intergranular (ou intercristalina); + intragranular (ou transgranular ou transcristalina); + filiforme: * por esfoliacdo: + grafitica + dezincificagio; + empolamento pelo hidrogénio; + em tomo de cordiio de solda. A Fig. 5.1 apresenta, de maneira esquemitica, algumas des- sas formas. Uniforme: a corrosio se processa em toda a extensio da super- ficie, ocorrendo perda uniforme de espessura. E chamada, por alguns, de corrosio generalizada, mas essa terminologia ndo deve ser usada $6 para corrosio uniforme pois pode-se ter, tam= bbém, corrosio por pite ou alveolar generalizadas, isto é,em toda a extensio da superficie corroida, Por placas: a corrosio se localiza em regides da superficie metdlica e ndo em toda sua extens2o, formando placas com es- s (Fig. 5.2). Alveolar: a corrosdo se processa na superficie metélica pro- duzindo sulcos ou escavagdes semelhantes a alvéolos (Figs. 5.3 5.4) apresentando fundo arredondadoe profundidade geralmen- te menor que o seu didmetro, Puntiforme ou por pite: a corrostio se processa em pontos ou «em pequenas éreas localizadas na superficie metalica produzindo pi- tes (Fig. 5.5) que so cavidades que apresentam o fundo em forma angulosa e profundidade geralmente maior do que o seu diametro. ‘As és tltimas formas de corrosio podem no ser considera- das da maneira como foram apresentadas. preferindo alguns no usar os termos placas ¢ alveolar. ‘As publicagOesem lingua estrangeira usam somente a afirma- tiva corrosao por pte, tendo-se, por exemplo pitting corrosion (inglés), picadura (espanhol) e piqire (francés). A Norma G 46- 76-ASTM! apresenta diferentes formas de pites, Fig. 5.6. Pode- se observar que algumas se assemelham bastante as classifica ‘Ges usuais no Brasil para placas e alveolar. Shreir® utiliza os termos pites arredondados ¢ pites angulo- s0s ou puntiformes, nao citando a corroséo alveolar € a corro- sdio em placas. 40 corrosAo a) 2A) ‘GHAPA SEM CORROSAO ‘CORFOSAO UNFORME (CORROSAO INTERGRANULAR ‘OU INTERGRANULAR. (VISTA DA AREA EXPOSTA) hee EF ‘Bs eee pre Hw (CORROSAO ALVEOLAR ‘CORROSAQ PUNTIFORME (Pre) CCORRCSAO INTERGRANULAR ‘CORROSAO FLIFORME ‘CORROSAO INTRAGRANULAR TMICROGRAFIA) (WiCROGRAFIA EMPOLAMENTO CORROSAO EM CCORROSAO POR ESFOLIACAO PELO HIDROGENTO TORNO DE SOLDA Fig. $.1 Fig, 5.2 Corrosio em placas en chapa de ago carbono de costado de tang. Fig. 5.3 Corrosdo alveolar em tubo de ago carbono. Fig. 5 A Corrosio alveolar generalizada em tubo de ago carbone, Fig. £6 Virias formas de pte, segundo a ASTM. Em alguns processos corrosivos pode ocorrer dificuldade de se caracterizar se as cavidades formadas esti sob a forma de placas, alyéolos ou pites, criando divergéncias de opinides entre os técni- «0 de inspeedo e/ou manutencao. Entretanto, deve-se considerar «pea importancia maior ¢ a determinagao das dimensoes dessas ca- vidades, a fim de se verificar a extensao do processo corrosivo, To- smando-se como exemplo 0 caso de pites, ¢ aconselhavel considera: *oniimero de pites por unidade de érea’ *odidmetro; +a profundidade, s dois primeiros valores sao facilmente determinados ¢ a ofundidade pode ser medida das seguintes formas: com micrémetro: o transversal do pite e medindo-se diretamente: *com auxilio de microscépio — focalizar,inicialmente, no fun éo do pite e, em seguida, na superficie nao corroida do mate fal. A distancia entre os dois niveis de foco representa a pro: fundidade do pite. FORMAS DE CORROSAO 41 Usualmente, procura-se medir o pite de maior profundida. de ou tirar 0 valor médio entre, por exemplo, cinco pites com maiores profundidades. A relagao entre o valor do pite de maior profundidade (P.,.) ¢ 0 valor médio (Py) dos cinco pites mais profundos da-se 0 nome de fator de pite (F,,,). tendo- se, entdo © pode-se verificar que quanto mais esse fator se aproximar de | (um) haverd maior incidéncia de pites com profundidades proxi- Intergranular: a corrosdo se processa entre os griios da rede cristalina do material metilico (Fig. 5.7), 0 qual perde suas pro- priedades mecanicas e pode fraturar quando solicitado por esfor- 0s mecainicos, tendo-se ento a corrosao sob tensio fraturante (CTF) (Stress Corrosion Cracking — SCC) (Fig. 5.8). Fig. 5.8 Corrosio sob tensio fraturante em tubo de ago inoxidaivel AISI 304, 42 coRROSAO Fig, $.9 Corrosto intragranular ou transcristalina, em ago inoxidavel submetido a agdo de cloreto ¢ temperatura, Intragranular: a corrosiio se processa nos gros da rede eris talina do material metilico (Fig. 5.9), 0 qual, perdendo suas propriedades mecanicas, poderd fraturar 4 menor solicitagiio me- clinica, tendo-se também corrosio sob tensdo fraturante (Fig, 5.10), Filiforme: a corrosio se processa sob a forma de finos fila: mentos, mas nao profundos, que se propagam em diferentes di Fegdes € que no se ultrapassam, pois admite-se que 0 produto de corrosio, em estado coloidal. apresenta carga positiva, dai a repulsio, Ocorre geralmente em superticies metilicas revestidas com tintas ou com metais. ocasionando o deslocamento do re- vestimento, Tem sido observada mais freqilentemente quando a lumidade relativa do aré maior que 85% e em revestimentos mais permedveis & penctragio de oxigénio e dgua ou apresentando falhas. como riscos, ou em regides de arestas. Esfolingi saa de forma paralela a super- ficie metilica. Ocorre em chapas ou componentes extrudados que Liveram seus gros alongados e achatados, criando condigées para que inclusées ou s es, presentes no material, sejam a corrosiio se proc Fig. §.10 Corrosio sob tensio fraturante em palheta de agitador de ago noxidavel transformadas, devido ao trabalho mecfnico, em plaquetas alon. gadas. Quando se inicia um processo corrosivo na superticie de ligas de aluminio, com essas caracteristicas, o ataque pode atin: air as inclusbes ou segregagSes alongadas € a corrosio se pro- ccessard através de planos paralelos a superficie metdlica e, mais freqtlentemente, em frestas. O produto de corrosdo, volumoso, ‘ocasiona a separagdo das camadas contidas entre as regides que sofrem a ago corrosiva e, como consequencia, ocorre a desinte ¢graco do material em forma de placas paralelas & superficie. Essa forma de corrosio tem sido observada mais comumente em li ¢gas de aluménio das séries 2.000 (Al, Cu, Mg), 5.000 (Al, Mg) ¢ 7.000 (Al, Zn, Cu, Mg) Corrosio grafitiea: a corrosio se processa no ferro fundido cinzento em temperatura ambiente e 0 ferro metilico € convert do em produtos de corrosao, restando a grafite intacta. Observa- se que a drea corroida fica com aspecto escuro, caracteristico da agrafite. e esta pode ser facilmente retirada com espitula: colo- cando-a sobre papel branco e atritando-a, abserva-se 0 risco pre: to devido a gratite Dezineificagdo: € a corrosio que ocorre em ligas de cobre: zinco (lates), observando-se 0 aparecimento de regi loragio avermelha ‘do amarela dos latdes. Admite-se que ocorre uma corrosio pre- 2 contrastando com a caracteristica colora- Fig. §.11 Liga de slumnio com esfoliagdo em drea de festa sujeita a esta 12 Comosio ago de solaydo aquosa de cloreto de sédio. tica do ferro fundido, notando-se 0 aspevto excuro da rea corti Fig §.13 Trecho de tubo de latin (70/30) com dezincificago: as feeas mals escuras sio as derincificadas. ferencial do zinco. restando 0 cobre com sua caraeteristica cor avermelhada. A Fig. 5.13 mostra trecho de uma tubulagio de la- tGoCu-Zn (70/30), com dezincificagio em regides com depésito de gordura e absoredo de sal, NaCl: as regides dezincificadas so as mais escuras na fotografia. A dezincificagio e a corrosio grafitica sa rosdo seletiva, pois tem-se a corrosao pre ferro, respectivamente. Empolamento pelo hidrogénio: 0 hidrogénio atomico pene: twa no material metilico e, como tem pequeno volume atOmico, difunde-se rapidamente © em regides com descontinuidades, como inclusdes e vazios, ele se transforma em hidrogénio mole: cular, H., exercendo pressio e originando a formagao de bolhas, aio nome de empolamento (Fig. 5.14), Em torno do cordio de solda: forma de corrostio que se abserva em torno de cordiio de solda, aparecendo sob a forma esquematizada na Fig. 5.15. Ocorre em agos inoxidaveis nao: estabilizados ou com teores de carbono maiores que 0.03%, € a corrosio se processa intergranularmente, Em capitulos subsegiientes serdo apresentadas as possiveis razbes que permitem explicar as diferentes formas de corrosao, Eniretanto, num estudo comparativo entre as formas apresenta das pode-se concluir que as formas localizadas — por exemplo, alveolar, puntiforme. intergranular ¢ intragranular — so mais Prejudiciais aos equipamentos pois. emboraa perda de massa seja exemplos de cor: neial de zinco e Fig. 5.14 Tubo de ago o sianado por H.S e agua. bono com empolamente pelo hidrogénio, ova FORMAS DE CORROSAO 43. Fig. 5.15 pequena, as perfuragies ou fraturas podem ocorrer em pequeno Periodo de utilizagao do equipamento. Entre os fatores que mais freqiientemente esto envolvidos em ‘casos de ataque localizado devem ser citados: relagao entre in as catddica e anddica, aeragao difetencial, variagao de pH e pro- dutos de corrosio (xidos, por exemplo) presentes na superficie metilica ou formados durante o processo corrosive, Ente as heterogeneidades que podem originar ataque locali zado podem ser citadas aquelus relacionadas com: + material metélico — composigZo, presenga de impurezas, tra tamentos térmicos ou mecinicos, condigies da superticie (pre senga de peliculas protetoras e descontinuidades). depésitos, frestas e diferentes metais em contato: + meio corrosive — composi¢o quimica, diferengas em concen. tragio, aeragdo, temperatura, velocidade e pH, teor de oxigé ni, s6lidos suspensos, condigies de imersio (total e parcial) e movimento relativo entre 0 material metilico e 0 meio, Para evidenciar a importancia de considerar essas heterogeneidades, pode-se exemplificar com o pite, que é uma das formas de corrosdo mais prejudiciais, pois, embora afe! somente pequenas partes da superficie metilica, pode causar fi pida perda de espessura do material metilico originando perfu- rages e pontos de concentrago de tensdes. ocasionando a di- mninuigdo de resisténcia mecinica do material e conseqiente possibilidade de fratura, Areas de estagnagiio do meio corrosive possibilitam 0 ataq por pite, pois favorecem a presenga dle depésitos e permanés de solugdo em frestas. Muitas vezes o aumento da velocidade do luido faz decrescer o ataque por pite, pois diminai a possibili dade da existéncia de dreas de estagnagao ou deposigao. A composigao quimica do meio corrosive ou do material metilico pode influenciar bastante no atague por pite. Assim, a presenga de cloreto no meio corrosivo acelera a formagio de pi les no ago inoxidavel, e as inclusdes de sulfeto so responsiveis pelo inicio do ataque por pite em ago carbono ¢ ago inoxidavel, A Tabela 5.1" apresenta o efeito, na resistencia & corrosio por pite, da adigao de alguns elementos em ligas de ago inoxidavel, Os mecanismos* propostos para explicar 0 inicio da forma: 80 do pite admitem +0 fon, como por exemplo, cloreto, penetrando na pelicula de passivagdo, como a rede cristalina de xido, existente na superti- cie do material metilico, aumenta a condutividade idnica da pe cula e ocasiona ataque anddico localizado com formagiio de pite: 44 corRosAo TABELA 8.1 Elemento Resisténcia A Formagiio de Pite Carbone Diminui, especialmente em ago sensitizado Cromo Aumenta Emxofre e selénio Diminui Molibeénio Aumenta Niquel ‘Aumenta Nitrogenio ‘Aumenta Silteio Diminui; aumenta quando presente com molibdénio Titénio e ni6bio_Diminui em FeCl; sem efeito em outros meios +0 fon € adsorvido na interface “pelicula de passivagio (6xido)- solugao”, baixando a energia interfacial, ocorrendo fraturas da Pelicula ou deslocamento da mesma, No inicio, a formagao do pite ¢ lenta, mas, uma vez formado, hd um proceso autocatalitico que produz condigées para um continuo crescimento do pite. Admitindo-se ago em presenca de gua aerada contendo cloreto, a agdo autocatalitica pode ser ex- plicada considerando-se as possiveis reagdes no interior do pite: * na érea anddica, dentro do pite, ocorre a oxidagao do ago com formagao dos ions Fe’*, Cr ¢ Ni**, e exemplificando com 0 ferro tem-se Fe > Fel + 20, a produzindo um excesso de carga positiva nessa érea e ocasionan do a migragao, para dentro do pite, de fons cloreto que tém mai- ‘or mobilidade do que fons OH”, para manter a compensago de cargas. com 0 conseqiiente aumento da concentragao do sal, FeC,. Este sal sofre hidrélise, formando acido eloridrico, HCI (ar +Cr) FeCl, + 2H,0 —> Fe(OH), + 2H* + 2CI @ Fe +2H,0 —> Fe(OH), + 2H" 3) ‘+0 aumento da concentragio de fons H*, isto é, decréscimo de DH, acelera o processo corrosivo, pois tem-se 0 ataque do ma- terial metélico pelo HCI formado Fe + 2HCI—> FeCl, +H, a Fe + 2H* —> Fe +H, 6) com conseqiiente formagao do FeCl, que voltaré @ softer a hi- drdlise conforme reagao (2), mantendo a continuidade do pro- ccesso corrosivi + como o oxigénio tem solubilidade praticamente mula em solu- ‘ges aquosas concentradas de sais, ndo se tem no interior do pite a redugo do oxigénio segundo a reagio H.0 + HO, + 2e —320H- 6 sim a reagio 2H + 2e—> Hh, 0 + asinclusdes de sulfeto no ago aceleram a formagao de pites ee Fazio estd no fato de que o decréscimo do pH, no interior do pite, ocasiona a solubilizagZo de inclusdes como MnS: MnS + 2H* —> Mn HS 8) €.0 H,S pode se dissociar nos fons $* ataque corrosivo, ‘Yerifica-se que, se forem adicionadas ao ago pequenas quan- tidades de cobre, ocomte a formagao de sulfeto de cobre (I). Cu.S, ue reduz a atividade dos fons HS~ e S*- para um valor tio baixo ue nao catalisam mais o ataque anddico do ago. Fyfe" e colabo- radores apresentam mecanismo semelhante para explicar aresis- ‘nia a corrosio, em atmosferas industriais, de agos contendo cobre, ou HS”, que aceleram o REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Standard Practice for Examination and Evaluation of Pitting Corrosion. Av ‘val Book of ASTM Standards, Section 3, Metals Test Methods and Anal tcl Procedures, vol. 03.02, Wear and Eresion: Metal Corrosion, 1987. pip 273. 2. SHREIR, LL. Corrosion Vol. 1 — Metal/Envinonment Reaction. Newnes Buterworts, London, 1978, pigs 1131 ¢ 1:13] 3. WRANGLEN, G. Corrosion Setence, 14,331 (1974, 4 GREENE, N.D. e FONTANA, MG. Corrosion, 15.25 (1959). 5. BOND, AP. Localized Corrosion — Cause of Metal Fulure, ASTM-STP 516, American Society for Testing and Materials, 1972, pags 250-261 6, FYFE,D., SHANAHAN. CEA. e SHREIR, LL Corrosion Science. 10.817 asm),

Você também pode gostar