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WALLAWIG-OYN VidvusLOdnt Wd SOIdIONIdd SO e”Dg plese], 7. OS OITO PRINCIPIOS BASICOS Os prineipios bisicos que guiam o terapeuta em todos of seus conta. ‘tos niiodiretivos sfio muito simples, mas grandiosos em suas possibilidades, ‘quando seguidos com sinceridade, seguranca e inteligéncia. Os princfpios sio os seguintes: © terapeuta deve desenvolver um amistoso e' célido relaciona- ‘mento com a-crianga, de forma que logo se estabeleca o “rapport”. 2. © terapeuta aceita a crianca exatamente como ela 6. 3. © terapeuta estabelece uma sensacio, de permissividade. no rela- cionamento, de tal. modo que a crianga se sinta completamente Ii ‘re para. expressar seus sentimentos. 4. © terapéuta esté sempre alefta para identificar os’ sentimentos que a crianga esté expressando ¢ para refleti-los para cla, de tal forma que ela adquira conhecimento sobre seu comportamento. 5. © terapeuta mantém profundo respeito pola capacidade da erian- ¢a em resolver seus prdprios problemas, dandoihe oportunidade para isto. A responsabilidade de escolher e de fazer mudangas 6 deixada & crianga. 6. © terapeuta nfo tenta dirigir as agdes ou conversas da crianga de forma alguma, Ela indica o caminho e o terapeuta o segue. © terapeuta nio tenta abreviar a duragiio da terapia. O processo 6 gradativo e assim deve ser reconhecido por ele. 8. © terapeuta estabelcee somente as limitagées necessirias para fundamentar a terapia no mundo da realldade e fazer a crianga consciente de sua responsabllidade no relacionamento. 67 © terapeuta compréende que a terapia niodiretiva nfo 6 uma “pana- eéia”, Admite que — como todas as coisas — ela também tem as suas limi- tages, mas experiéneias diversas indicam que suas implicag6es so um do- safio e uma inspirago As pessoas ligadas aos problemas de ajustamento. Quando uma crianga vem para a ludoterapia é normalmente porque algum adulto a trouxe ou mandowa ao consultério para tratamento. Ela so langa nessa experiéncia singular do mesmo modo que penetraria em outras novas experiéncias — amedrontada, entusiasmada, cuidadosa, ou de qualquer outra maneira que the seja tfpica em sua reac&o ante situagdes no- ‘vas. O contato inicial é de imensa importfincia para o sucesso da terapia. # neste primeiro contato que é estabelecido o cenirio, que possibilitaré o andamento posterior da terapia. Os princfpios si demonstrados & crianca, ‘nnio somente por palavras, mas pelas relag6es que so, estabelecidas entre terapeuta e cliente. A palavra estruturagio é usada neste caso para representar 0 desen- volvimento do relacionamento, de acordo com os prinefpios bisicos ante- riormente citados, de forma que a crianca entenda a natureza dos contatos terapéuticos e fique apta a usufruir deles plenamente. A estruturacio nio 6 uma coisa casual, mas um mod6 cuidadosamente planejado para condu- mir a orianga a um meio de autoexpresséo, que traga o entendimento de seus sentimentos e o valioso auto-conhecimento. Nao é uma explanagio so- mente verbal, mas um estabelecimento concreto de um relaclonamento, © relactonamento que é eriado entre terapeuta-é cliente 6 fator deck sivo para o fracasso ou sucesso da terapia. Este néo 6 um relaclonamento facil de ser obtido. © terapeuta deve demonstrar im empenho sincero em entender a crianga e constantemente controlar as suas respostas que possam ser contrérias aos princfpios bésicos, Deve, ainda, avaliar seu trabalho em cada caso, de forma que ele, também, evolua em seu entendimento da dina- mica do comportamento humano. 8. ESTABELECENDO O “RAPPORT” O terapeuta deve desenvolver um amistoso e cdlido relacio- namento com a crianca, de forma que logo se estabeleca o “rap- port”, ‘Uma terapouta encontra a crianga pela primelra ves. Ela esté come- sando 0 contato inlclal. A estruturagio comegou. O que deve fazer? Um sorriso 6 usualmente uma indicac&o de calor ¢ amizade. As primeiras pala vras de saudagio estabeleceriam 0 “rapport”. Entdo, a terapeuta iria até a crianga e, sorrindo Ihe diria “Boa tarde, Johnny. Wstou feliz em ver vocé. ‘Voc’ gosta daquele Mickey ali em cima da mesa?” Neste momento, Johnny corresponderia ao sorriso e diria: “Sim, ele 6 engragado.” Ble poderia ter dito isto, mas o préprio fato de ter sido encaminhado & ludoterapia, indica que ele no vai agir “de acordo com as regras”. Ele poderia muito provavel- mente ter voltado as costas para a terapeuta. E entio? A busea do enten- @imento miituo por parte dela nao deve desvanecer tio facilmente. “Vocd gostaria de vir para a sala de brinquedos comigo e ver todos os brinquedos bonitos que estio 14?” “Nao.” “Ora, venha Johnny, 16 vocé vai encontrar tin- tas, argila e soldadinhos. Vocé gosta de soldadinhos nio ¢ mesmo?” “Nao. Eu nfo quero ir!” diz Johnny. A terapeuta deve, entio, fazer uma pausa. De fato, ela deveria ter in terrompido talvez até antes. Baseada em qual dos principios bisicos ela tenta convencer Johnny? Tenta estabelecor um relacionamento eflido e ami gAvel, sacrificando, porém, alguns dos outros principios bésicos. Ela nio esté aceitando Johnny como ele é.Nao esta refletindo seus sentimentos. Ele disse que nao queria ir ver os brinquedos com ela. Aparentemente, esta te- rapeuta ainda nfo comegou a permitir que a crianga assuma sua responsi Dilidade em fazer escolhas, “Muitas crlangas vém aqui e gostam da nossa sala de brinquedos,” ela diz, persistente. “Nés temos uma casa de brinque- 7 do e uma familia de bonecas.” A terapeuta o ola suplicante. Ele the di uma olhadels. Ela esta tentando fazélo agir como outras criangas. Esté cow gindoo. Est célida e amigavel mas, talvez, em excesso. Johnny, que se res sente cada vez mais com tudo isso, comeca a choramingar. “Mamie, eu nfo quero.” A mie torna-se enérgica. “Agora, Johnny, vé com a senhorita, Ela tem muitos brinquedos para vocé brincar.” Johnny comeca a chorar. “Hu no quero. Eu quero ir para casa.” “Anda, Johnny”, diz a mae, “eu es- tow envergonhada de voc. Aqui esté uma linda moga oferecendo a voce uma sala de brinquedos e voce faz isso. A moca nfo vai gostar de vocd!” A. mie interferiré ne estruturacao, se e terapeuta nfo se prevenir contra isto. “A senhorita nio vai gostar de vocé", niio é especificamente uma boa base para so estabelecer um relacionamento terapéutico. © que a terapeuta deverla fazer? Pegar a crianca ¢ levéla no colo para a sala de brinquedos e, quando ela gritasse seu protesto, refletiria seus sen- timentos? Vocé esta furioso porque eu o carreguei e trouxe até aqui. Vo- 6 nfo gosta de sor tratado desta forma.” Assim ela seria introduzida na sala de brinquedos. Entretanto, nem todas as terapeutas sio “amazonas” e nem todas as criancas sio “pesosleves”, Talvez fosse melhor levar 0 menino para a sala de brinquedos por suas proprias forcas. Hla deverin dizer: “AIO Johnny. Eu estou feliz por ver voc’. ‘Voce gosta do Mickey, em cima da mesa?” Johnny viralhe as costas. “Oh. ‘Yocé nfo gosta de conversar comigo. Vocé nfo me conhece.” A terapeuta deve observar seu tom de voz. Ele niio deve soar como uma reprovacio. -Mas, ela nfo pode esquecer a mie. Esta deveria estar dizendo: “Johnny, olhe para @ moca quando ela fala com voc.” Johnny dirla choramingando: “Eu nio quero. Eu quero ir para casa.” Entio a terapeuta dirla: “Vocé niio quer na- da comigo. Vocé quer voltar para casa. A sala de brinquedos esté logo ali, caso vocd queira véla antes de se decidir ir para casa.” Ela se encaminharia para ld. A mie a seguiria, Johnny tria, relutante. Entio a terapeuta pode- la ter uma inspirago. “A senhora tem que ir falar com 0 sonhor X..., nfo €D...? “Sim, eu tenho.” “Bem”, diria a terapeuta, “se Johnny n&o quiser ficar na sala comigo e brincar, ele pode ficar aguardando a senhora na sala de espera.” “ Johnny”, dirla a mie, “vocé prefere ficar na sala de espera? Eu volto dentro de uma hora.” “Eu quero ir com a senhora” diria Johnny, choroso. “Voc8 nfo pode ir com ela, Johnny. Ela tem que conversar em particular com o senhor X. Voc fica na sala de espera ott na sala de brin- quedos. Voc ¢ quem sabe.” Mais um pouco de choro e Johnny entra na sala de brinquedos. Metade da batalha estd ganha. A terapeuta deve estar pronta para o caso da mie nao ser coopera- dora, mas sim daquelas que tornam seu Johnny dependente. Esta queers, entrar na sala de brinquedos com cle, O que deverd a terapeuta fazer neste caso? Levaré a mie consigo pensando que, a menos que faga esta concessio, os contatos terapéuticos jamais se realizario? Ela dird: “S6 as criancas sho admitidas na sala de brinquedos, Johnny..Sua mie ficaré esperando por vor’. Ela indo vai embora deixando-o aqui.” Mas Johnny chora, “Johnny néo quer largar da mamée”, diz a terapeuta. “Ele est com medo de ir so- zinho para a sala de brinquedos.” A mie acorre, incentivando. E Johnny se esgueira para a sala de brinquedos. A porta é fechada. A mie espera fora: E se’a mie nio quisesse deixar Johnny sozinho? Haveria ainda espe- ranga na terapia? Tem havido ocasi6es em que a mie entra na sala, assem tase durante a sesso e a propria orianga pede que ela se retire, 0 que 6 considerado um sinal de progresso. Mas, e se a me de Johnny insiste em Permanecer na sala, qual devers ser # atitude da terapeuta?. Parece que. esta deve permitir isto, se segue os prinefpios bésicos. De fato ela deve ser capaz de clarificar muitos sentimentos entre a mie ¢ Johnny, tendoos am: bos na sala de terapia, Esta é uma teorla ainda nio testada, mas parece oferecer possibilidades, no caso de ser o unico caminho. A mie, pelo me. nos, pode conseguir algum “insight” se a terapeuta conduzir habilmente a situagio. Johnny pode demonstrar sua completa dependéncia em relac&o & mie, por seus constantes pedidos de que ela ihe faca isto ou aquilo. A terapeuta, alerta as atitudes e sentimentos, pode aproveitarse de alguns de- Jes. “Johnny quer que a mame Ihe mostre como brincar com a boneca.” “Johnny quer que a mame Ihe diga o que fazer agora.” Ela pode até mes- ‘mo chegar a refletir alguns dos sentimentos da mie. Talvez ela esteja, vo- luntariamente, conduzindo Johnny. “Ndo faca isto, Johnny. Bringue desse modo.” A terapeuta deve ajudar a mie a obter algum “insight” dizendoxe: “Voc’ acha que Johnny nio pode fazer isto por si mesmo, Vocé gosta de wer a ele tudo o que tem que fazer.” Entretanto, uma tentativa, assim nao € indicada aos terapeutas inexperientes, % interessante notar que a maioria das crlancas entra prontamente na sala de brinquedos. Isto torna-se uma fonte de grande satisfaglo para elas. Nio ha um sério problema no estabelecimento de um célido e ami- RAvel relacionamento com a crianga que val espontaneamente com a tera- peuta, # bom lembrar que a terapeuta pode, desapercebidamente, influir de maneira sutil no relacionamento, num esforgo para obter um bom entendi- mento. Por exemplo, dizendo a um cliente cooperador: “Oh, que belo garoto voce é! Voo8 quer vir para a sala de brinquedos? L4 tom argila, tinta, e mul- tos brinquedos.” Uma ver dentro da sala, talvez ele comece a pintar e diga & terapeuta: “Eu no pinto muito bem.” E ela responde: “Qual nada, ew acho que est um desenho étimo! E voc8 o fez sozinho, E vocé nfo acha que ele est assim to bom.” Finalmente ela reflete a atitude expressa pela crian- ‘sa, mas este procedimento 6 bastante diminufdo em seu valor, pelo tempo que ela gasta em rodelos, o que nfo devoria ser feto. E alnda hi 0 caso de dois irmaos, um de quatro e outro de cinco ‘anos, que estavam tendo sessiio de Iudoterapla, Um deles estava pintando 7B ©, acidentalmente, espirrou tinta. Pegando um pano, ele limpou tudo, A terapeuta disse: “Bobby 6 culdadoso. Ele limpou tudo que sujou.” Daf en- to, 0 contato passou a ser uma verdadeira exibigio de quio culdadosos eram ambos, e os comentérios eram sempre: “Olha, eu estou sendo cuida- doso, vit? Estou sendo cuidadoso.” Nao intenclonalmente, a terapeute agiu diretivamente quanto ao comportamento das criancas. Elogios feitos as agées praticadas na sala nfo so condizentes com a terapia. ‘Uma terapeuta ainda sem muita experiéncla examinou 0 caso de Oscar, um menino de sels anos. Ele foi trazido por sua mie. O pai tinha sido as- sassinado quando Oscar contava dois anos de idade. No dia em que o pai fol morto, ele caiu doente com um sério caso de sarampo. A mie sofreu um abalo nervoso e ficou hospitalizada durante trés meses. Finalmente, quando ela recobrou a satide o suficiente para-poder voltar a seu emprego do secretéria particular, trouxe Oscar de volta & casa e contratou uma ama para cuidar dele. Esta no fol satisfatéria e muitas outras se sucederam em pequenos intervalos de tempo. Oscar nio tinha o menor sentimento de seguranca. Algumas destas em- Pregadas o maltratavam. Tornowse uma das criangas mais desajustadas que se possa imaginar. Era agressivo, hostil, negativista, inseguro, depen- dente e petulante. Era o protétipo de sentimentos conflituosos. Sua mie, vacilante e nervosa, levou-o psicdloga. Eis um trecho do contato inicial. Mie: Este 6 Oscar. $6 Deus sabe o que a senhora pode fazer por ele. ‘Mas elo, ‘Terapeuta: Vocé gostaria de vir & sala de brinquedos comigo? Osear: NAO! (grita) educagio, Oscar (mais alto que antes): N&o! Nao! Nao! Mie: Bem, vocé est insistindo. Por que voc8 acha que eu o trouxe aqui? Para passear? Oscar (choramingando): Eu nio quero! ‘A terapeuta inexperiente se pergunta: “E agora? Adulélo?” Nos te- mos lindos brinquedos na sala, Vocé é um lindo garoto. Vem comigo que cu te mostrarei o que temos Id para brincar.” Isto no ¢ aceitar 0 menino exatamente como ele 6. Ble no quer entrar. Bla deveria dizer, num tom. de tristeza: “Sua mie te trouxe aqui e agora voc8 nao quer entrar na sala!” Esta 6 uma reflexiio dos sentimentos mas também est transmitindo uma. certa condenagio. Fica implicito. “Ora, vocé é um garoto ingrato e indeli cado!” Se a terapeuta quer somente refletir seus sentimentos, 0 que deve. ria.ela dizer? “Voe8 no quer vir comigo.” A terapouta tenta isto. rey Mie (gritando também): Oscar! Seja polldo. Pare com esta falta’ de. Terapeuta: Vocé nfo quer vir comigo. Oscar: NAO! (Faz caretas para a terapeuta e cerra os punhos.) Cala a bocal Mie: Se vood nfo for, vou delxar vood aqui para sempre: Oscar (Colocandose & mie e solugando.): Néo me deixe: (Soluga histerieamente. ) ‘Terapeuta: Osoar esté amedrontado porque suia mie emeazou deixé-lo aqui; Este 6 um reconhecimento do sentimento de Oscar, porém, inclui uma condenagéo & mie, que subitamente se inflama Mie: Bem, eu tentei fazer algumia coisa; Deus 6 testemunha, Oscar, que se voc nfo calar a boca e for com a senhorita eu vou deixar vooé. Oi dar vocé para os outros! Oscar: A senhora me espera? (Com voz queixosa.) A senhora esta- ¥4 aqui quando eu voltar? Mie: Claro que eu estarei, se voc8 se comportar. Oscar (deixando seu agarramento desesperado 4 blusa da mie e transferindo-o para a blusa da terapeuta): A senhora espera? ‘Terapeuta: Vocd quer que sua mie prometa que vai esperdlo Oscar: A senhofa promete? Mie: Eu prometot (A terapenta e ele entram na sala de brinquedos. Ela comeca a fe- char a porta.) Oscar (gritando): Nao fecha a porta, Nao fecha a porta. (Légrimas rolam sobre seu rosto.) Terapeuta: Vocé néo quer que eu feche a porta. Vocé tem medo de ficar comigo so nds fecharmos a porta Isto 6 um reconhecimento de seus sontimentos. Hle levanta os o- thos, surpreso, e concorda com a cabeea, H agora? Apés o reconhecimen- to deste sentimento distrairso4 e dird: “Mas quando a gente vem aqui, gente fecha a porta” e convencese de que esta 6 uma limitagio valio- sa. Para que isto serviria? Para apontar o fato de que reconhecemos 0 sen- timento, mas o ignoramos? Esté ela aceitando Oscar exatamento como ele 6, com seu medo de portas fechadas e tudo mais? Esté ela mos- trando A crianga que pretende doixt-la escolher e tomar iniciativas? Tsté estabelecendo uma atmosfera de permissividade suficiente para que ela oid ¢, acidentalmente, espirrou tinta, Pegando um pano, ele limpou tudo, A terapeuta disse: “Bobby ¢ cuidadoso. Ele limpou tudo que sujou.” Daf en- tio, 0 contato passou a ser uma verdadeira exibigio de quiio culdadosos eram ambos, e os comentarios eram sempre: “Otha, eu estou sendo culda- doso, viu? Estou sendo culdadoso.” Nao intencionalmente, a terapeuta agit, diretivamente quanto a0 comportamento das criancas. Elogios feltos as’ ag6es praticadas na sala nfo so condizentes com a terapla. ‘Uma terapeuta ainda sem muita experiéncta examinou o caso de Oscar, um menino de sels anos. Ele foi trazido por sua mie. O pai tinha sido as- sassinado quando Oscar contava dois anos de idade. No dia em que o pai fol morto, ele caiu doente com um sério caso de sarampo. A mie sofreu um abslo nervoso e ficou hospitalizada durante trés meses. Finalmente, quando ela recobrou a satide o suficiente para-poder voltar a seu emprego do secretéria particular, trouxe Oscar de volta & casa e contratou uma ama para cuidar dele. Esta no fol satisfatdria e muitas outras se sucederam em pequenos intervalos de tempo. Oscar nio tinha o menor sentimento de seguranca. Algumas destas em- Progadas o maltratavam. Tornowse uma das criangss mais desajustadas que se possa imaginar. Era agressivo, hostil, negativista, inseguro, depen- dente e petulante. Era o protétipo de sentimentos conflituosos. Sua mie, vacilante ¢ nervosa, levow-o psicdloga. Eis um trecho do contato inicial. Mie: Este 6 Oscar. $6 Deus sabe 0 que a senhora pode fazer por ele. ‘Mas elo, ‘Terapeuta: Vocé gostaria de vir & sala de brinquedos comigo? Oscar: NAO! (grita) Mie (gritando também): Oscar! Seja polido. Pare com esta falta’ de. educagio. Oscar (mais alto que antes): No! Néo! Nao! Mie: Bem, vocé esté insistindo. Por que voc acha que eu_o trouxe aqui? Para passear? Oscar (choramingando): Eu niio quero! ‘A terapeuta inexperiente se pergunta: “E agora? Adulélo?” Nos te- mos lindos brinquedos na sala. Vocé é um lindo garoto. Vem comigo que cu te mostrarei o que temos Id para brincar.” Isto nio ¢ aceitar 0 menino exatamente como ele 6. Ele ndo quer entrar. Hla deveria dizer, num tom. do tristeza: “Sua mile te trouxe aqui e agora vocé nio quer entrar na salal” Esta 6 uma reflexio dos sontimentos mas também est transmitindo uma. certa condenagio. Fica implicito. “Ora, vocé é um garoto ingrato e indeli- cado!” Se a terapeuta quer somente refletir seus sentimentos, 0 que deve. ria. cla dizer? “Voc8 néo quer vir comigo.” A terapsuta tenta isto. 4 Terapeuta: Vocé nfo quer vir comigo. Oscar: NAO! (Faz caretas para a terapeuta e cerra os punhos.) Cala a boca! ‘Mie: Se voe8 nfo for, you deixar vood agul para sempre: Oscar (Colocandose & mie e solugando.): Néo me deixe: (Soluga histerieamente. ) ‘Terapeuta: Osoar est amedrontado porque sua mie ameagou deixé-lo aqui. Este 6 um reconhecimento do sentimento de Oscar, porém, inclui uma condenagéo & mie, que subitamente se inflama ‘Mie: Bem, eu tentel fazer algumia coisa; Deus é testemunha, Oscar, que se voc8 nfo calar a boca e for com a senhorita eu vou deixar vooé. Oa dar voce para os outros! Oscar: A senhora me espera? (Com vox queixosa.) A senhora esta- x4 agui quando eu voltar? Mie: Claro que eu estarei, se voc8 se comportar. Osear (deixando seu agarramento desesperado & blusa da mie e transferindo-o para a blusa da terapeuta): A senhora espera? ‘Terapeuta: Voc? quer que sua mie prometa que vai esperdo ‘Oscar: A senhofa promete? Mae: Eu prometot (A terapenta e ele entram na sala de brinquedos. Ela comega a fe- char a porta.) Oscar (gritando): Nao fecha a porta, Nao fecha a porta. (Ligrimas rolam sobre seu rosto.) ‘Terapeuta: Voc8 nio quer que eu feche a porta. Vocé tem medo de ficar comigo so nds fecharmos a porta Isto 6 um reconhecimento de seus sentimentos. Ele levanta os o- Thos, surpreso, e concorda com a cabega, E agora? Apés 0 reconhecimen- to deste sentimento distrairso4 e diré: “Mas quando a gente vem aqui, @ gente fecha a porta” e convencese de que esta 6 uma limitagio valio- sa. Para que isto serviria? Para apontar o fato de que reconhecemos 0 sen- timento, mas o ignoramos? Est4 ela aceitando Oscar exatamento como ele 6, com seu medo de portas fechadas e tudo mais? Esté ela mos- trando A crianga que pretende deixi-la escolher e tomar iniciativas? Esté estabelecendo uma atmosfera de permissividade suficiente para que ela iy expresso seus sentimentos verdadeiros? Est4 ela mantendo um profundo respelto pela crlanga? Parece que ela est4 desprezando todos os princi- los bisicos, se fecha a porta. Entio? Que deverd dizer? ‘Terapeuta: Vocé nio quer que eu feche a porta. Voce tem medo de ficar aqui comigo se eu fech4la, Muito bem. Eu vou deixar a porta aberta e voc’ vai fech4la quando quiser. (sto deixa a responsabilidade sobre a crianga, Compete a ela fa er a escolha. Oscar corre os olhos em tomo da sala, Logo que pira de chorar, torna.se agressivo.) Oscar: Eu vou estourar tudo aqui, © que se pode dizer sobre as limitagSes? Se a terapeuta dissesse, “Voo8 pode brincar com todos os brinquedos que tem aqul, mas nio po- de quobré-los", ou “As outras criangas usam estes brinquedos também, Por iss voc® nao pode quebrélos”, néo estarla respondendo 20 sentl. mento expresso. E cairia na armadilha de responder apenas ao quo a erianga diz e néo ao que ela realmente sente. Terapeuta: Vocd agora esté se sentindo valente, Oscar (Fitando a terapeuts.): Eu vou estourar voc® também. ‘Terapeuta: Voct ainda esté so sentindo valente. Oscar: Eu you... (De repente ri.) Bu vou... (Perambula pela sala © pega o telefone de brinquedo.) O que 6 isto? Este € outro desafio & terapeuta, Hla diré “Voot quer saber o que 6 isto?" ou “Isto é um telefone". Parece mais vantajoso ao progresso des- ta sesso responder simplesmente & pergunta ¢ nilo a seu verdadeiro son- ido. Terapeuta: Isto é um telefone de brinquedo, Oscar: Eu vou estourar ele também, ‘Terapeut Voo8 quer quebrar o telefone também, Oscar (sorrinde como um anjinho): Sim. Eu gosto de quebrar as coisas © machucar as pessoas, Terapeuta: Voc8 gosta de quebrar as coisas e machucar as pessoas. Oscar (calmamente): Sim. Olha! Pratos! Eu vou brincar de cask nha. (Comega a arrumar a mesa e pega o telefone. Falando ao telefone.) Ald, 6 voce, Mary? Eu estou em casa, estou ceiando. (Dirigese & terapeu- ts.) Eu estou ceiando, nfio estou? 1 Terapeuta: Voc’ esté: ceiando. Oscar (de volta a0 telefone): Sim. Estou cetando. O que nés te mos? (O tom da voz dé a entender que Mary perguntahe e ele repete a pergunta. Voltase novamente para a terapeuta.) Que que nés temos: pa- ra ceiar? Voc@ quer que eu Ihe diga o que nds temos para ceiar? ‘Terapeut Oscar: Sim, diga depressa. Deverla a terapeuta dar rapidamente 0 menu? Ou deveria dizer: ‘De que yoc8 gostaria?” Ou ainda: “Vocd quer que eu diga para voce, mio 6?” O menu parecoria trazer & brincadeira um pouco mais de. viva- cidade. A terapouta rapidamente cita algumes comidas. Oscar 9s. repe- te, palavra por palavra, ao telefone. Oscar: Qué? Vocé ‘quer saber se aqui nés temos uma casinba de ‘bonecas? (Virando-se para a.terapeuta.) Aqui tem? (A casa de bonecas esti em completa evidéncia all.) Terapeuta: N6s temos uma casa de bonecas. Oscar: Nés temos soldadinhos de brinquedo? (Diz isso & terapeuta, que responde: “Temos soldadiahos de brin- quedo.”) Oscar prossogué nesta lista de todos os brinquedos que estio- na Sala. A terapeuta responde a toda pérgunta que Ihe é dirigida. O' que Oscar esta tentando fazer? # 16gico que ele sabe a resposta das’ pergun- tas. Entdo, por que continua a perguntar? De que modo mais ele pode- Tia estabelecer 0 contato com a terapeuta? Parece que é isso que ele: es- td tentando fazer. Apés as perguntas sobre'os objetos & vista, diz 20 te Jefone: “Quer saber se vou beijar a moca?” E para a terapeuta: “Vou te beljar, moga?” A terapeuta lembrase da prudéacia a ser tomada contra excessiva exibigio de ternura, que pode ser prejudicial & terapia. Diria: “Voc gos- tarla de me beljar?”; ou deveria levar isto também adiante? Terapenta: Voc8 quer saber se poderia beijar a senhorita? Oscar (aproximando-se): Quero saber, sim, ‘Vem, e muito gentilmente, belja a mio da terapeuta; e entfio, retor- nando a seus velhos modos, langase ‘sobre o tmartelo e comega a golpear na bigorna. A porta ainda esti aberta. Aqui est4 outro desafio para a te- rapeuta. Que fazer a respeito da porta? © barulho é insuportavel. Pode- Tia cla dirigir a atengio do -menino para este fato e perguntar-ihe se cle a7 pensava em fechéla? Deveria ela nada dizer A erianga e esperar que al- guém, ao. ser incomodado pelo barulho viesse e pedisse para parar com aquilo? Neste caso particular ninguém foi incomodado, e nfio se tornou necessério fechar a porta. Entretanto, se alguém tivesse vindo, teria si- do necessirio & terapeuta informar a Oscar que o barulho estava incomo- dando os outros e que, ou a porta deveria ser fechada, ou o barulho in- terrompido, permitindo a ele fazer a: escolha e ficando alerta para reflo- tir todos os sentimentos expressos até entio. Isto contribuiria com uma dose de realidade, o que criaria uma limitagao & permissividade da situs- 0 do terapia, Na semana seguinte, Oscar, voluntariamente, fechou a porta, logo ao entrar na sala de brinquedos com a terapeuta. No tives: 50 ele feito isto, a terapeuta deveria esperar que ele decidisse por si mes- mo. Sugerir isto teria sido uma tentativa de acelerar as coisas, 0 que nio se justifica. © espontineo fechamento da porta pode indicar um certo Progresso no estabelecimento de relagdes. Isto parece ser uma atitu- de de confianca na terapeuta, tanto quanto uma indicacio de evolucio, Por parte do Oscar, em relagéo & nova independéncia e capacidade de de- cidir. APLICACAO EM TERAPIA DE GRUPO Embora parega que o relacionamento estabelecido na terapia de grupo entre a crianga e o terapeuta seja talvez menos intenso que o es- tabelecido na terapia individual, a presenca de outras criangas — que reagem de maneiras diferentes em situagdes semelhantes — parece ser vantajosa no deserivolvimento do contato. Ura orfanga um pouco mais cesenvolta entusiasma a turma, A crianca timida tem a vantagem de por A prova a seguranga da nova situagio, observando alguém que Ihe abra © caminho. O desenvolvimento da autoexpressio parece ser alcancado mais rapidamente, em algumas criancas, nas sessées em grupo. Além dis- 0, uma crianga pode se valer da presenca das demais, caso as coisas es- tejam muito penosas para ela, Os primeiros minutos na sala de bringuedos, usualmente, parecem ser constrangedores para as criangas, Esta 6 uma nova experiéncia ¢ elas reagem de varlas maneiras, proporcionalmente ao medo sentido; com 1s- grimas © até com crises préximas da histeria, aventurando-se em atlvidades exploratérias. © torapeuta precisa ser prudente para evitar se concentrar numa crianga, em detfimentzo das outras. Deve fazer um esforgo para Integrar ho grupo todas as criangas timidas, mesmo que elas estejam apenas & espera de um sorriso amigivel ‘As erlangas no costumam se apresentar to consclentes durante 0 primelro contato em grupo, como as vezes 0 fazem quando o contato 6 B individual, porque a presenga de outras crlancas na sala diminul as ten- Ges e cria uma maior naturalidade nas respostas destas ao terapeuta. ‘As criangas estéio mais dispostas a aceitar mais rapidamente 0 te- rapeuta quando em grupo. Possivelmente elas sentem maior seguran; na aglomeragiio. De qualquer maneira, a crianga em um grupo par desenvolver um sentimento de confianga no terapeuta bem mais cedo do que quando o faz em contatos individuals. Isto, é claro, varia com o in dividuo, mas hé evidéncias de que o grupo desenvolve melhor o relaciona- mento desejével entre o terapeuta e a crianga 9. ACEITANDO A CRIANCA COMPLETAMENTE O terapeuta aceita a crianga exatamente como ela é A completa aceitac&o da crianca é evidenciada pela atitude do te. Tapeuta, que mantém uni relacionamento calmo, firme e amigével com ela, Culda em nunca mostrarse impaciente. Evita criticas ou reprimen- das diretas ou implicitas, assim como evita elogidia por atos ou pale vras. Tudo isso exige vigilancia de sua parte. Ha diversas armadilhas nas quals pode cair um terapeuta descuidado. A crianca é um ser muito sensivel ¢ percebe sempre quando é réjeitada, ainda que de uma forma velada, por parte do terapeuta, Quando slguém so detém para eénsidarar que a erlanga fot trazida canta porque sous, pals querem modifcdia, pode conelulr (o scary damente, no que parece) que os pals esifo rejeltando uma parte da ei anga, se ndo a rejeitam totalmente. Portanto, aceitacio completa parece ‘ste tuportinoln prindvia para 0. bom resus di Gtanin: "DS Ge maneira pode a crianga adquirir a coragem de exprimir seus verdadeiros fentimentor, 30 no’ 6 totalmente acelta pelo terapeuta? Como pode evitar © sentimento do culpa rosullante das eoless quo fa, se nfo so Senta noel ta, a despolto do que possa der ou fazer? & acoltecto nto implica na « Provagio do que ela esteja fazendo, nunca seria demais insistir. A apro- Yoolo de cortos sentimentes negativos quo erlanga pode exprimlr so is mols um obstdculo eo. que tm auxilo. Jean fol trazida A clinica por sua mie. Jean é uma menina de doze anos, impossivel de ser cortrolada. Nao respelta sua mie, briga com os immfozinhos monores, nfo quer contato com os outros meninos nai esco- la. Depois das apresentagées, Jean vai para a sala de brinquedos com 81 a terapouta, que tenta estruturar a situagdo verbalmente: “Voo8 pode brinear com qualquer um dos brinquedos aqul. Hé tinta, argila, pintura do dedo, bonecas.” Sorri para a menina que the devolve um olhar enfa. Gado. A terapeuta espera alguns momentos. Jean senta-se e mantém sou silencio de pedra. A terapeuta, ansiosa para pér as coisas em andamen. , fale Rovamente: “Vood no est sabendo por onde comesar? Ob, all casinha de bonecas tem uma famili neces Be gasinha de Donseas tn ia inteirinha de bo: ‘Voed ‘gos- Jean balanca negativamente a cabeca. A terapeuta continua: “Voce nfo gosta de brincar com ponecas, mas niio haveré por aqui alguma cot S& com a qual tivesse vontade de brincar? Pode brincar com qualquer col. 8, do jeito que quiser.” Ainda um siléncio gelado, Af a terapeuta dim [Moco nfio quer brincar. Quer 56 ficar seatada.” A menina concorda ‘Muito bem", diz a terapeuta sentandose ao lado dela; um siléncio mor fal desce sobre as duas, mas a terapeuta esté tensa. “Vocé quer bater um Papo?” “Ndo.” A terapeuta bate com o ldpis em seu bloquinho de ano. tagGes, tamborila com os dedos impacientemente, otha para Jean com um ar de aborrecimento. © siléncio 6 enlouquecedor. Ha entre as duas uma batalha silenciosa, da qual Jean est plenamente consciente ‘A terapeuta, depois de um longo siténcio, pergunta: “Jean, voc8 sa- bo por que 6 que est aqui?” Jean olna para ela, “Sun mie te trouse aqul Para que nds te ajudéssemos.nos problemas que vocé tem.” Jean olha Para o outro lado. “Néo tenho problema nenhum”, diz friamente. “Pols dom, esta hora voc® poder usar do jeito que quisor”, replica a terapeu, fa. Jean estd amuada. A terapeuta esté bem proxima de ficar amuada também. Passamse vérlos minutos. Entio: Terapeuta: Voo8 fol A escola hoje? Jean: Ful ‘Terapeuta: Correu tudo bem? Jean: Sim. (Mais Silencio.) Terapeuta: Sabe, Jean, estou aqui para te ajudar ¢ quero que voce me considere sua amiga. Bem que vocé poderia me contar 0 que Per que esté te Jean (susplrando): Nao tem nada me amolando! Nao 14 mais diividas; a terapia esté bloqueada. O relacionamento ainda no fol estabelecido. Jean tem a aguda consciéncia de que aqui, também, ndo ¢ aceita e se ressente muito da tentativa de sua mie de mu. Gila, © bastante para que isso a faga resistir até o fim. Em tais circus. tincias, que deve fazer a terapeuta? As vezes esta pensa que é possivel inspirar o desejo de atividade, Se pegar na argila @ comecar a entoléla de maneira convidativa, fazendo, 82 depois a pergunta: “Vocé também gostaria de fazer isso?” Nesse caso, talvez ela conseguisse uma participagio por polidez, mas 6 duvidoso que a terapia evoluisse muito além dessa participacio polida. No caso exposto, a terapeuta tenta controlar a atividade da hora. Parece he importante que a menina faga alguma coisa, por isso é que dé Sugestes © tenta forcar as coisas, “Nio sabe como comecar?” implica numa critica & falta de participagio de Jean. A terapeuta reconhece os sentimentos de Jean quando Ihe diz que ela nio quer brincar, mas no pode aceitar isso. “Prefere bater papo?” “Nao.” Isso também nio foi aceito. E as batidas impacientes com o Ifpis e.com os dedos! Depois, ela comete o erro imperdodvel de introduzir um elemento de ameaga na si- tuacéo terapéutica. “Sabe por que vocé est aqui?” Em outras palavras: “ melhor ir tratando de fazer alguma coisa por si mesma. Ha muito de errado com voc’, do contrério nio estaria aqui.” Ela insiste também, na palavra “problema”, o que Jean nega ter. Mas a terapeuta néo aceita sua negagio. E Ihe diz que gostaria de ouvir a respeito do que a preocupa. Dizihe que aquela hora pode ser usada da maneira que bem entender. A primeira reagio de Jean é uséla para calarse.e resistir. A terapeuta inexperiente tenta de novo, perguntandolhe se foi & escola. E, de modo ainda insistente e inoportuno: “Quero que voc’ me considere sua amiga.” De nada adiantou, pois a terapeuta niio estava sendo consistente, nfo a estava aceitando, nem estava tendo uma atitude terapéutica. ‘A sugestiio alternativa de que a terapouta devo levar a erianga a participar de manelra mais sutil implica, da mesma forma, numa nio.acel- tagio. Se a menina esté lutando por aceltago fora da clinica, por que deveria continuar a fazé-lo aqui dentro? Se 6 dbvio que ela néo quer brin- car nem conversar, por que nio ser coinpreonsiva e permissiva a ponto de deixar que ela simplesmente fique ali em siléncio? Depois de explicar a situago claramente, mostrandothe que ela pode brincar com qualquer coisa dentro da sala, ou usar aquela hora da forma que deseje, a terapeu- ta compreensiva prosseguiria o jogo assim como foi determinado pela cerianga e se o siléncio fosse a ordem do dia, ela o observaria. Seria bom que se incluisse, na explicagéo preliminar, que a menina, ali, tem 0 privi 1égio de brincar ou no, de conversar ou nao, como quiser; e depois que a erianga tena feito » sua escolha, 0 papel da terapeuta ¢ esperar por ela. Se a terapouta achar que deve fazer alguma coisa, que se ocupe rabiscan- do notas ou fazendo caricaturas; mas deve estar alerta, para perceber qualquer sentimento expresso pela menina. Um suspiro profundo, um olhar pela jancla, podem ser usados por ela — “it chato ficar sentada ‘aqui comigo. Talvez vocé preferisse estar 14 fora.” Diante dessa compre- ensio, Jean relaxaria um pouco, Mas se permanecesse insonsivel, a terar euta deveria continuar aceitandoa da mesma forma, Isto colocanos uma questio: quanto tempo deve a crianga perma- 83, necer na sala de brinquedos? Essa pergunta 6 discutida no capitulo 15: “O Valor dos Limites”. “A aceitagBo da crianga vai mais além do que o simples contato ini- cial, ou do momento em que ela é levada & sala de brinquedos e come- ga a brinear, Depois que a terapia tem inicio e vai seguindo normalmen: te 0 seu curso, o terapeuta deve manter uma atitude de aceitagéo em rela- fio a todas as coisas quo a crianga fala ou faz. O processo de terapia niodiretiva tem seus principios tio entrelacados, que & diffeil dizer on- de um deles comega e onde o outro acaba, JustapSem-se e so interdepen- dentes. Por exemplo, o terapeuta ndo pode ser compreensivo sem ser per- missivo, @ nfo pode ser permissive sem ser compreensivo. Nao seria ca- Paz de dar a uma crianga a responsabilidade de fazer escolhas, se cle nio a respeita. O grau pelo qual ele é capaz de por em pritica esses prineipios parece afetar, em profundidade, até-onde pode chegar a tera- pia. Quando a crianga esta expressando seitimentos violentos e agressi- ‘X0s, © terapeuta deve ficar alerta para também aceitar esses sentimentos. }O silénclo, numa hora dessas, pode ser um instrumento usado pela cri. anga, indicando desaprovagio e falta de aceitacio. O tom da voz, a ex pressio facial, até os gestos usados pelo terapzuta aumentam ou dimi- dBuem 0 grau de aceitagio que se esté dando & situagio. APLICACAO EM TERAPIA DE GRUPO Para aplicar esse principio numa situacio de grupo, o terapeuta & continuamente obrigado a controlar as respostas, de modo que.uma eri- anga nfo sinta que esté sendo comparada ou posta em contraste com outro membro do grupo. Tal sentimento pode ser despertado de forma espontanes, se o elemento de clogio ou critica, direto ou indireto, 6 in troduzido pelas respostas do terapeuta. Uma afirmativa do tipo “Johnny sabe 0 que fazer, estio vendo, J est4 todo ocupado” poderia muito facil- mente ser tomada como uma critica por outros membros do grupo, so or acaso estiverem gozando do encanto de uns poucos minutos de in- doléncia, enquanto silenclosamente avaliam a situagio. Ou quando a eri. anga enrola uma bola de argila, parecendo que nfo sabe o que fazer de- Ja, uma pergunta do tipo “No estd sakeado o que fazer, Bill?” surge co- mo uma critica & atividade indecisa da crianga. Parece que os estimulos mais vallosos do ponto de vista terapéutico sio reflexos de sentimentos © atitudes expressos mais do que estimulos com um contetido determi- nado. O tom de voz ¢ a maneira imparcial pela qual esses estimulos sio distribuidos contribuem muito para elimninar o seatimento, por parte da crianga, de que ests sondo criticada pelo terapeuta. Parece claro que o sentimento de completa aceitagio pelo terapeu. ta estabelece-se mais facilmente nos contatos terapéuticos-individuais, do que nos contatos de grupo, porque o elemento de comparacio ou de eri tica implicita ndo entram na situacio, 84 10. ESTABELECENDO UM SENTIMENTO DE PERMISSIVIDADE O terapeuta estabelece um sentimento de permissividade no seu relacionamento com a crianca, de forma que esta se sin- ta livre para expressar por completo os, seus sentimentos. —« ‘A hora da terapia 6 a hora da crianga, para ser usada como ela quiser. A profundidade de sentimento que ela demonstra, durante 0 tem- po que passa na sala de brinquedos, 6 tornada possivel pela permissivi dade estabelecida pelo terapeuta. Numa certa medida, isso depende de uma expressio verbal da permissividade por parte do terapeuta, mas vai bem mais longe que isso. Quando a crianca e o terapeuta entram na sa- Ja de brinquedo, este diz: “Pode brincar com tudo isso aqui do jeito que quiser, durante uma hora.” Se a crianga for timida, ou tiver experién- cias anteriores tio inexpressivas que ndo saiba como usar o material, alguns terapeutas sentem que é uma boa medida demorarse mais apon- tando e explicando 0 modo de usélos, na primeira vez que vio & sala “As tintas nesta caixa foram feitas para pintar quadros. Aqui esté o pa. pel, ali os tubos de tinta. Nes‘a jarra tem argila. Vocé pode trabalhar ‘com ela e fazer um monte de coisas bonitas. Isso aqui é pintura de de dos, Molhe o papel assim, ponha um pouquinho da tinta em cima dele e espalhea com as mios. Aqui esto os fantoches. Poahaos na mao as: sim. Pode falar como se fossem eles — dizer tudo 0 que vooé quer que eles digam. Aqui é a casinha de bonecas. Este 6 o pal e esta é a mie, es" te 0 filhinho. Agora pode brincar com tudo o que quiser, do jeito que quiser. Voeé vai ter uma hora s6 para vocd.” Durante a primeira hora a crianga explora o material ¢ fica muito atenta A atitude do terapeuta. Por isso é que s6 palavras nfo sio o bas- tante. A pormissividade estabelecese também pela atitude do terapeuta ~ m relagio & crianga, pela sua expresséo facial, pelo seu tom de voz e —v | seus gestos. Se a crianga deliberadamente derrama gua no chio e 0 terapeu- ta logo a enxuga, isso suprime, numa certa medida, a expressio oral da permissividade. Se © terapeuta, pensando que os problemas da crlanga provém de relacionamento familiar, empurralhe a casinha de bonecas, dizendo: “Es- t& vendo a familia de bonecas? Nao quer brincar com cla?”, nfo esta dando liberdade de escolha & crianga. Se esta pega numa bola de arg la e comeca a enroléla com mios indecisas, 0 melhor a fazer 6 evitar 0 comentario: “Vocé nio sabe 0 que fazer.” Tal observagio levaria a crian- a a pensar que o terapeuta no esta satisfeito por véla rodar a argila do um Jado para outro, sem nada fazer, A permissividade implica numa ~y escolha de usar ou nio usar 0 material, de acordo com os desejos da eri- anga. Perguntase sempre o que fazer da crianga que vem para a sala cheia de entusiasmo, e depois fica all sentada, timidamente, sem dizer ou fazer nada. Isto é produtivo para a terapia? Vem sempre a tentagio de encorajar a crianga a usar 0 material. As vezes o terapeuta acha que, se comegar a brincar com a crianca, despertard nela alguma acio. Nesse caso, & ele quem escolhe 0 caminho e tenta fazer com que a crianga 0 a- companhe. Isso parece mals uma técnica de auxilio, que nada tem a ver com a terapia niodiretiva. A crianca continua a depender do terapeuta © seré mais um bloqueio a romper mais tarde, durante as sessdes poste riores. Ai entio, a mudanga de técnica poderé causar confusio na crian- a, deixé-la ressentida e, conseqiientemente, provocar um afastamento da participagio ativa. Paroce que a absoluta permissividade, construida Sobre absoluta auséncia de sugestdes, é mais produtiva para a terapia Se o terapouta diz: “Pode brincar como quiser”, e a crianga néo parece querer brincar, a melhor soluedo é deixt-la ali sentada, sem nada fazer. Se 0 terapeuta so mostrar amigével para com a crianga e aceitar seu st- Iéncio e indoléncia, esté fazendothe ver que realmente pensava no que disse © que ela realmente pode fazer como quiser. A crianga vai tomando consciéncia de sua responsabilidade para escolher. Governase a si mes- ma, # ela quem decidiré 0 curso da agio que seguiré. Aqui nfo hé nin. guém para dizerlhe 0 que deva fazer, HA seguranca no relacionamento, mas ndo ajuda, As vezes levase um corto tempo, até que a crianga acel- te esse sentimento de autosuficiéncia. Ela propria pode procurar algo que a ajude a ganhar independéncia e capacidade de autodirigirse, mas a interferéncia do terapeuta s6 retarda 0 proceso de caminhar para a obtengio disto. 85 Depols que um certo tempo tena passado, 0 terapeuta pode; sam problemas, dizer com vox tranqllla e amistosa: “Comecar 6 sempre di ficil. Voc8 ainda nio sabe bem o que gostaria de fazer. Ou, talvez, quel-| ra s6 ficar sentadinno aqui, sem fazer nada?” A crlanca resminga uth] Fupouls, FOaS Ser Bid quo Sige sim.o continue sentada em slléocio, Po: Fao terapouta, € mals vélldo que ele fique all sentado com a erlanca, di ante toda a hora, e demonstra a sinceridade de suas pelavres: “Pods brinear — qu nfo brincar — como quiser", do que tentar dirt o uso ue a erianga faré do. sua hora de terapia. Desde-a sessio inicial, o terapouta tora claro. para a crianga que respeita sua capacidade de tomar suas prdprias decisdes e mantém fir- memente esse principio As vezes, esse 6 0 perfodo de teste por parte da crianca. No prin- cfpio, elas encaram ceticamente essa atitude permissiva. Testamna. A crianga que fica sentada sem nada dizer pode estar testando o terapeu- ta, para ver se ele realmente tenciona fazer o que Ihe disse. Uma vex mais, essa indoléneia pode ser uma resistencia passiva, contra a mudan- ca que alguém parece querer Ihe impor. A crianga resiste a todos os es forgos para mudéla. Se a falta de participagio, durante a hora de tera- pia, exprime seu ressentimento contra as presses exterlores, 6 melhor Permitirlhe que mostre esse ressentimento daquela maneira, A permissividade no relacionamento vai bem além do contato ini cfal. Continua em todos os encontros com a crianga. E algo delicado de se manejar. Requer do terapeuta uma constante atengio para que se mantenha uma atmosfera permissiva, Hi muitas coisas que podem per- ‘turbar 0 sentimento de permissividade — as vezes, sem que 0 terapeuta tenha a menor intengio de fazélo, Nio se deve tentar guiar, de forma! alguma, a conversa ou os atos da crianga, Isso quer dizer que nenhuma | ¢~ porgunta, toncfonando esquadrinhar sua vida intima, deve lhe ser feita. Por exemplo, May, de cinco anos de idade, que foi trasida & clinica por causa de uma experiéncia traumatizante no hospital, esté brincando com @ familia de bonecas. Pega na bonequinha, deita-a em seu carrinho de bebé e empurra.a pelo assoalho, A terapeuta, pensando captar a ex- periéncia crucial, pergunta: “A menininha esté indo para o hospital? “Es- ta", diz a crianga. “Esté com medo?” “Hsté.” “Ko que acontece?” Af, a crianga, virandosIhe as costas, vai para a janela e pergunta: “Ainda fal ta muito tempo? A hora ainda nio acabou?” £ assim que ela afasta a per- gunta indiscreta. A crianca ainda nfo esté pronta para explorar a expe- riéneia que, para ela, fol tio perturbadora. Nao foi aceita como ela 6. Nao Ihe permitiram abrir aquela porta no exato momento em que se sen- tisse com forgas para enfrentar 0 que esté por tris dela. 87 © terapeuta deve estar atento aos sentimentos que a crianga expres sa, Raramente uma erianca vai para a sala de brinquedos e demonstra, de'saida, seus sentimentos mais profundos, através do bringuedo. Pric meiro hé um periodo de exp'oragio, de tests, de tomada de contato. A Grianga deve confiar no terapetta, se 6 com ele que dividird seus senti- mentos. Deve sentirse segura bastante, para poder trazer & luz, tanto seus bons, quanto maus sentimentos, e nio ter medo de que esse adulto a reprove. Essa conflanga no terapeuta basela'se na maneira pela qual jeste aplica os principios bisicos. 3 importante que a crianga nfo desenvolva sentimentos de culpa, em consegiiéncia de seus contatos de ludoterapia, Encorajamento, apro- vagio e elogio sao tabu em uma sessio de ludoterapia niiodiretiva. Tais reagdes por parte do terspeuta tem uma teadéncia para influenciar no tipo de atividade ou para criar um sentimento de culpa, Da mesma for- ma que a reprovagio ou a critica negativa. A atmosfera deve ser neutra. Quando uma crianca entra na sala e comega’a pintar, 0 terapeuta fica sentado, observando-a. Toma notas. A crianca diz: “Nio sei pintar. Que Tuim!” Talvez o desenho seja até muito bom. O terapeuta deverin dizer isso & crianga? Ele talvez dissesse: “Vocé nfio acha seu quadro bo- nito, mas eu acho.” © que ele pensa néo tem importancia. Suponhamos que ele diga: “Vocé nio acha que pinta bem” e, como resultado disso, a crianga espalhe a tinta preta por cima de seu quadro. Quer isso dizer que ela ficou tio desencorajada que sujowo todo de preto? Ou esta sentida. com o terapeuta, por nio ter apreciado a sua obra de arte como devia? Ou 6 uma reagio da crianca contra a sua falta de aceitacio? Se 0 tera- pouta acompanhar a crianca, conseguird que ela revele seus verdadeiros sentimentos, de maneira reconhecivel. O que no deve é porse & sua frente, ou tentar Jer na situagio algo que nela no existe. (© grau de permissividade que faz com que a terapia seja realmen. te bem sucedida 6 diretameste proporcional & aceitagéo da crianca. Quando esta se sente tio firmemente aceita pelo terapeuta a ponto de poder bater na bonecamie, ou enterrar o bebé na areia, ou deitar'se no chao © tomar mamadeira, embora ji tenha nove ou dez anos, quando ela pode fazer todo isso sem um sentimento de culpa ou de ridiculo, ¢ af que Jo terapeuta conseguiu fazé-la sentir sua permissividade] A erianga esté ‘ivre para exprimir seus sentimentos. D4 vazio a seus impulsos mais a gressivos e destruidores. Grita, urra, espatha areia pela sala toda, joga Agua no chio. Libertandose de suas tensbes, tornase emocionalmente re- laxada, % assim que sio estabe'ecidos os alicerces para um comporta. mento construtivo. Bla se livrou de seus antigos sentimentos; esta pron- ta para experimentar os novos. A experiéncia traz A crianga uma visio interior de seu comportamento, Ela se entende melhor. Ganha confianca 88 em si mesma, # capaz de resolver seus préprios problemas. Sabe, pela experiéneia, que pode construir as coisas por si. APLICACAO NA TERAPIA DE GRUPO A exporiéncla de grupo parece acelerar 0 sentimento de permissivi- dade da crianga. Cada crianga obtém do grupo um sentimento de segu Tanga, A medida que cada uma delas d4 um passo A frente, as outras ga- ham a coragem necess4ria para prosseguir em suas atividades, obser- vando a bem sucedida manipulacio do ambiente por esse membro’ do grupo. O perfodo de exploragio da situagio 6 mais ou menos encurtado, pois cada individuo dentro do grupo avalia o grau de permissividade da situacdo, direta e indiretamente. Se Jimmy teve a coragem de pegar a mamadeira e mamar com prazer evidente, Fred, que 6 mais reservado, sentese encorajado a tenté-lo também. Se May tiver a coragem de bater no boneco-pai, talvez Jean ganhe a coragem necessdria para bater no be- be (se € isso o que sente). Uma crianca que tenha sido sempre muito inibida em suas agdes e que tenha medo de confusio ou sujeira pode sen- tirse tentada a brincar com a pintura de dedo, que parece dar tanto Prazer a seus colegas. As criancas notam como o terapeuta aceita pron- tamenie as expressées de cada membro do grupo e essa lIiberdade de ex- Pressio parece ser contagiante. 89 IL. RECONHECIMENTO E REFLEXAO DOS SENTIMENTOS O terapeuta fica em alerta para reconhecer os ‘sentimen- tos que a crianca esté exprimindo e os reflete de maneira tal que possibilite, a ela, obter uma visdo interior do seu comportamen- to. Muito freqllentemente, durante os primeiros contatos, as respostas do terapeuta parecem um tanto inxepressivas, @ siio mais respostas ao contetido do que ao sentimento que a crianga esté exprimindo. © terapeuta ea crian- {6a esto se experimentando ¢ tentando estabelecer contato. A crianca esté explorando a sala do brinquedes. Pega uma bonsca. “Que ¢ isso”, pergunta. “Uma boneca”, responde o terapeuta. Apoata para as tintas: “I isso?" “Tin- ta. As criangas pintam naquela tela, se tam vontade disso.” “ue 6 isso?” © assim por diante. Alguns terapeutas, tentando captar sentimentos, tem res- pondido: “Tente imaginar 0 que é isso”, mas parece que esse tipo de res- posta retarda mais a terapia do que a ajuda a prosseguir. © aconselnével reoponder a porqutas objlives d@ mance diet, o que pera B eianca iF adiantepartindo daguele panto. Na maiorla das vezes, nflo passa de uma tentativa da crianca de fazer relagles com o t2rapeuta. Que mais tém eles “em comum, a respeito do que possam falar? No entanto, o terapeuta deve Ticar atento aos sentimentos que a crianga est expressando, sea por meio de conversagio direta, seja através do brinquedo, que 6 a maneira natural dela demonstrar seus sentimentos Reconhesimento ¢ interpretacio de sentimentos sfo duas coisas ine teiramente diferentes. No entanto, é diffcil diferencid-las. O jogo da crianga simbéliza Sous sentimentos e, sempre que o terapeuta tonta traduzir 0 com- portamento simb6lico em palavras, est interpretando, pois esté dizendo © que acha que a crlanga quis dizer com seus atos. Isso parece inevitével ©, com 0 tempo, parece ser a melhor politica, procurando o terapeuta inter 1 pretar 0 menos possfvel e, quando o fizer, baseandose na atividade hidica evidente da crianga. Mesmo neste caso, a resposta do terapeuta deveria in- cluir 0 simbolo usado pela crlanga. Yor exompo, um meno de ses nos fol taido para ence para ena aaa ap pe psn os fern Penne ents taibie'&: net, Gros 6 benoqunie to Grate do ‘osrc ina Sts use mandanan 0 meriainvn pas areas movedias. Ee ts com es ceases ces Ge as ge me op na Bea Great eaten cnesa ambulance Oe Sr rata mes sen ¢ eeleaa cola 6 Sen mao a ettentersatsnnde st tele 2 oor sontiaesto ao tuepuranie 6 falta de compreensio, Como deve a terapeuta responder a isso? # evidente | que a crianga estd exteriorizando, através de seu brinquedo, as bases de seu | Problema, Sei acmpasiar longus “O meno alse made By cinon de hon pet onde Wanda mnvelpa, Est com tate © shore, aaa slo an cn a oa leTi] oat ea ees ees ae aoa a coos aca aoe era Genen anpmenito rar coer a] OoeateninTomseoams] | Prat saneas ee Gru ios “Vendo oom men'o sun ao th len | a eye cae ne ecet aes oes etesnar ec psa Fenn da soma o neta nas Surin Tuis& mrp | Saget 1s panes as cee cee eo peat ee Gen cn estee ponta pure iso Quando ca dar “Eso com moto anh, | S's toss andvo mas mano me eorige a inser lno-de gualger lo af | mn aul proats’pare a rayon cireer "Word et ocr mono’, ae. ker | Te ete ae poem er sooo os senate pouta deve usd-la também. 7 Quando esta cupta o sentimento expresso e o reconhece, a crianca pode continuar, a partir dali, e a terapeuta poderd, de fato, observar que a orianga esta tendo “insight”. Isso ficou claro no primeiro contato individual com Tom, apresentado A pfgina 28. Nesse contato, fornecewse ao menino um grau suficiente de Permissividade para que mudasse do que fora estabelecido nos contatos de aconselhamento para o que seria nos de ludoterapia. Ele péde escolher seu melo do expresso. Seus sentimentos Ihe foram devolvides com clareza su- ficiente para que Ihe fosse possfvel obter uma visio interior, de forma a po- dor evoluir da negacio de que tivesse problemas para a compreensio de que todo mundo pode télos, inclusive ele. A situacdo permissiva que Ihe dew © direito de ficar ou irse embora, de falar ou calar-se, parece té1o relaxado ¢ Ihe assegurado de que aquela hora era realmente sua, de que poderia usé-la, como bem entendesse. # interessante notar que, na tiltima parte do con- tato, uma vez mais ele voltou & sua afirmativa original de que nada tinha 1 dizer, @ quando {sso fol reconhecido e a terapeuta Ihe ofereceu a possibili- ' 92 dade de escolher entre ficar ou saii ‘casaco e decidiu ficar, Nesse caso, a aceltagio de Tom, a permissividads da situagio, mais 0 reconhecimento © a reflenio de suas atitudes expressas, atliaram-no larficar sua manéira de pensar a dar um passo positivo no sentido de Ajudarse a si mesmo ele simplesmente tirou 0 chapéu ¢ 0 As vezes, a verbalizagio eo jogo da crianca parecem entrar em con- ‘flit. For este o-caso com Jack, Ele vivia numa instituiclio. Sous pais ti Thham-se divorciado e ambos tornaram a casar. O pai obteve a custédia do irmio mais velho de Jack. Este, muito sentido, sofria principalmente por nilo ter podido trazer consigo seus brinquedos — “Especialmente o revl- ver!” como dizia sempre. Um dia, Jack foi em casa fazer uma visita, H4 muito tempo que a planejava. Queria pegar seus brinquedos. HA cinco semanas antes dessa visita A sua casa que freqiientava as sessdes de ludoterapia, No primeiro dia, depois que voltou, Jack entrou na sala com um sorriso. Jack: Pois 6, fui 14 em casa. (Sentou-se & mesa de pintura e puxou uma folha de papel limpa, abriu a caixa de tintas e comegou a pintar, ainda. sorrindo feliz.) Vi meu pal e meu irmio, Sabe por que nio vieram me ver? ‘Terapeuta: Nio Jack: Porque acharam que isso ia me fazer ficar triste: ver os dois e depois ter de ficar 14 sozinho. Fol o que meu pai disse, E eles me levaram pra fazer um piquenique, tomamos sorvete, chupamos bala, passeamos de bareo. Disse pro papai que queria levar meus brinquedos. Perguntel pelo meu revélver. E fomos passear no campo também. (Durante todo o tem- po em que Jack esteve contando a sua histéria, pintava uma mancha ver- de bem limpa, cercada de tinta preta. No final, todo 0 papel estava cober- to de preto.) Pois é, fui 14 em casa. Mas néo peguel meus brinquedos. E meu irmio tinha quebrado meu revélver. E olha que ele tem brinquedo pra burro. Brinca o tempo todo. Ele fica 14. ‘Terapeuta: Voc8 fol A sua casa, mas ficou desapontado com a visita. (Essa observagio é uma interpretacio —ela est tirando uma conclusio do que Ihe foi dito por Jack.) Vocé niio conseguiu os brinquedos que foi pro- curar e seu irmao quebrou © seu revdlver. Jack: #2. (Levantowse da mesa, fol até a estante e pegou a mamadetra. ‘Trouxe-a para a mesa e sentouse de frente para a terapeuta.) Mas eu disse ‘@ eles umas verdades. Eu disse que queria meus brinquedos. (Parecia estar quase chorando. Olhou para a terapeuta.) Eu sou um bebé. (Comesou a mamar.) 93, ‘Terapeuta: Agora vocé é um beb8. Voc nfo acha que te trataram bem quando vocé esteve em casa, (Isso também é interpretagio, pois vai ‘além do que foi expresso pela crianca. Na realidade, 6 aquilo que a tera- peuta sente a respeito da situagiio em casa, mas a interpretagio estd proxi- ma 0 bastante dos sentimentos de Jack, para que ele possa aceitéla.) (Jack encheu a boca de 4gua e, inclinando-se, cuspiua no cho.) Jack: Olhe, tou cuspindo na minha casa. ‘Terapeuta: Vooé est cuspindo na sua casa. (Sack arrancou 0 bico e, enchendo mais a boca, cuspiu de novo.) Jack: Cuspo no meu Irmo, Cuspo no papal. Cuspo.na cara deles. Nao quiseram me dar meus brinquedos. Ele estragou meu revélver. Eu ainda mostro pra eles. Bu cuspo neles, (E tornou a encher a boca de égua cuspiia no chao.) ‘Terapeuta: Voce esté muito zangado com seu pai e seu irmio. Voce gostaria de cuspir-na cara deles, porque nfo te trataram bem. Jack: Eles quebraram meu revdlver. (Foi até a pla, tornou a encher a mamadeira ¢ voltou a cusplr em seu pai e sew irmio.) LA em casa tem um tapete novo. Olhe. Vou cuspir no tapete e molhar ele todo. Vou estragé-lo.. E no terno novo de meu irmio também, Vou cuspir no terno dele e estragar ele todo. ‘Terapeuta: Vocé vai estragar o tapete novo © 0 terno novo, e, com sso, acertaré as contas com seu pal e seu irmio. Jack (violentamente): Odeio meu pai! Odeio meu irméo! ‘Terapeuta: Voc8 odeia seu pal. Vocé odeia seu irmiio. (Jack, de repente, sentase, muito calmo. Sua vor amansou e ele pos de novo o bico na mamadeira. Comegou 8 mamar.) Jack: Quando fui 1é em casa, nfio sabia quanto tempo fa ficar, Nao level roupa que chegasse. Fiquel mais tempo do que eu pensava. Eu nunca sei de nada. Eles nunca me contam nada. ‘Terapeuta: Vocé nunca sabe o que esperar deles. N&o pode fazer pla- nos para suas visitas, pois nunca Ihe dizem quanto tempo voo8 pode ficar. Por isso 6 que vocs nunca tem roupa que chegue. Jack (pegou no bonecopal e bateu com sua cabera na mesa.): Toma! Isso 6 pra vocé! Toma, toma! ‘Terapeuta: Vocd esté batendo nele. Jack (torcendo a eabega do boneco): Vou morrer do rir se a cabeca delo sair. (Riu.) of ‘Terapeuta: Vood gostaria de arrancar a cabeca dele. Jack: Seria bem feito, le deu meus bringuedos todos para meu ir- mio. Nao me deixou trazer eles pra cé, Meu irmao quebrou meu revélver. Terapeuta: Vocd no acha que ele te tratou bem. Ele tirou seus brin- quedos @ deu pra seu irmio. Vocé quer seus brinquedos. Vocé quer seu re- volver, também, Jack (jogando o boneco-pai através da sala): Eu nio tinha levado muita roupa e tive de usar roupa suja, E nao consegui trazer meus brin- quedos. ‘Terapeuta: Vood.teve de usar roupa velha ¢ suja e no conseguiu 0 que foi buscar. Jack: Aquele ladréo sujo! Terapeuta: Blo te roubou coisas que voc8 acha que sfo suas. Jack (pega uma bola de argila): Posso ficar com essa argila pra mim? ‘Terapeuta: Voc8 gostaria de ficar com ela pra vocé, mas nio posso dla. Ele pertence a essa sala, sabe? Pode uséla quando vier aqui, mas ndo pode levéla pra fora daqui. Jack: Mas eu quero ela. ‘Ferapeuta: Eu sei que voc’ quer, mas nfo pode. Todas as criangas querem levar alguma coisa daqui. Se-deixissemos, néo haveria mais nada pra vocés brincarem, quando viessem aqui. Jack (empurrando 3 mamadeira para a terapeuta): Enche isso pra mim. (Ela 0 fez. Notow que, quando Jack achou que ela nfo o via, entiou uma bola de argila no bolso: Ela Ihe deu a mamadelra. Ele bebew.) Isto iio sai depressa. Vocd tem um alfinete? ‘Terapeuta: Nao. Gack tirou de sua calca um enorme alfinete de seguranca. Sua calga, que era uns quatro numeros maior, quase caiu. Ele tentou alargar 0 orifi- cio do bico com 0 alfinete. Depois olhou para suas calgas com desgosto evidente.) Jack (Irritado): Olha essa calga. 3¢ um monstro para mim. Quem me dera que me dessem umas roupas que servissem em mim. ‘Terapeuta: Vood nfo gosta de usar roupas to desconfortiveis Jack: Me dé um pedacinho dessa argila? ‘Terapeuta: Eu sol que vocd quer quo ou todé aargila, Jack. Eu sef que 95, isso significaria muito para yoo. Vocé queria pegar seus préprios brinque- dos e seu revélver, mas nfio consegulu, Agora quer que eu te dé essa argila, mas isso eu ndo posso fazer, porque ela tem de ficar aqui. (Isso decidida- mente, foi interpretacdo da parte da terapeuta, e niio 6 muito boa coisa pra ser inclufda nesse estagio da terapia, pois val muito além do simples pedido de argila feito pela crisnga.) Jack (triste): Ninguém me dé nada. (Isso é um reflexo do que a te- Tapeuta disse.) ‘Terapeuta: Isso te faz infeliz. (Isso se baseou no tom de voz ¢ na cexpressio facial do garoto.) . Jack: Mas se voo8 desse tudo, af a gente nao podia mais voltar aqui. (Tiron a argila do bolso e botoua na mesa.) Quer dizer, poder vir, a gente podia, mas nio ia ter mais nada com que brincar. ‘Terapeuta: Certo. Jack: Devolvi a argila, viu? Olha aqui o pedago que eu tirel. ‘Terapeuta: Vocé queria a argila e a tirou, mas no ficou com ela. Quer que eu veja que a devolveu. Jack (revira os belsos): Té vendo? Devolvi. (Tentou botar o alfinete de volta na calga, mas nio conseguiu, Enfiou o alfinete com forga e se es- petou. Praguejou.) ‘Terapeuta: Voce ests tendo problemas com esse alfinete? Jack: Nao consigo entiar, ‘Terapeuta: Quer que cu te ajude? Jack: Quero. Quem me dera eles me dessem umas roupas que servis- sem em mim. ‘Terapeut Jack (enfitico): Claro que néo.(Fol até a pla e encheu a mamadeira Depois, pegou o esfrego, que sempre fica no canto da sala, e limpou 0 chio-) Fiz uma bela sujeira hoje, hein? ‘Voe8 no gosta de roupas que nfio sirvam em voc’. ‘Terapeuta: Voc® acha que fez uma bela sujeira. (Jack limpou a sala.) Neste caso, o menino progride de uma verbalizagio polida sobre sua (viagem para casa, até uma liberagio violenta de seus sentimentos. # in- ~ | teressante notar que ele os lbera com significado cada vez maior, & medida que cada sentimento expresso 6 devidamente reconhecido. A aceitagio dos sentimentos negativos de Jack, a permissividade que Ihe permite libertar se deles daquela maneira, a reflexio desses sentimentos, tudo parece ajudar 9 ‘a Jack a ter uma visio suficientemente clara de si mesmo, que Ihe permita devolver a argila roubada, e terminar a sessiio de Iudoterapia de maneira mais construtiva, embora nfo haja indicagdo alguma de que ele tenha ex- perinieitado um sentimento de culpa por ter molhado o assoalho. Cuspir ‘no cho era uma acio tipica de Jack, enquanto estava dentro da sala de terapia. Limpéla 6 que foi alguma coisa de novo. APLICAGAO A TERAPIA DE GRUPO Quando hé mais de uma crianca na sala, as possibilidades do terapeu- ta de refletir os sentimentos sio diminuldas. Nao possivel captar todos 08 sentimentos que estio sendo expressos. O terapeuta deve contralizar ‘Sua atengio nos individuos e, ao mesmo tempo, dividir suas respostas de forma que nenhuma das criangas se sinta abandonada. Nao 6 uma coisa fécll de se fazer. As yezes uma crianga imita um membro do grupo apenas para atrair a atengio do terapeuta. Se ele desenvolve uma sensibilidade para entender a maneira de brincar das criangas, peresberé quando é que elas estio tentando apenas chamar sua atengo, Sua resposta deve refletir esse desejo de atengio que esta por trds da atividade. No exemplo seguinte, ‘a terapeuta niio considerou esse aspecto. Delbert: Vou pintar um quadro pra minha mie, ‘Terapeuta: Voc8 quer fazer alguma coisa pra sua mie. Jenay: Vou pintar um quadro, também. ‘Terapeuta: Voc também quer pintar, como Delbert. Delbert: Isso 6 pra mamie, ‘Terapeuts Voos quer fazer algo para sua mie. Jenny: Isso 6 pra mamée... pra minha mie... pra minha mie... ‘Terapeuta: Vocd também quer fazer alguma coisa para sua mie. Delbert: Isso 6 um tanque pra minha mie. Jenny: Isso é um tanque maior ainda pra minha mie, Delbert: © meu vai ser do tamanho do papel. O tanque grandio da mamie, Jeany: © meu ainda vai ser malor que esse papel. Vou colar um no outro e vou dar pra mamde o maior tanque do mundo. ‘Terapeuta: Vocts dois querem dar um presente para suas mies. ‘A terapeuta no parece ter compreendido o sentimento expresso pelas criangas, pois, na realidade, tratava-se de uma disputa entre Jenny e Delbert; © fato de que ambos queriam fazer coisas para suas mies 6 absolutamen- te secundério. 7 Em alguns casos, a adigdo de outras ériangas nos contatos terapéutt cos traz A luz sentimentos e atitudes que nio teriam sido mostrados num contato individual. Para ilustrar isto, a passagem seguinte é contada, Ha- via trés criancas no grupo, todas elas de quatro anos. Billy estava pintan- do um quadro, quando Carry e Evelyn comecaram a brincar e gritar. Car. zy tinha encontrado a boneca de trapo ¢ Evelyn a tomara dela. Ambas as crlangas pediram a ajuda da terapeuta. Evelyn parecia capas de resolver a situagdo sozinha. A terapeuta nfo interferiu. ‘Terapeuta: Carry achou a boneca e Evelyn tomou-a dels, Carry quer a boneca de volta e Evelyn quer ficar com ela. Carry quer que eu a ajude e Evelyn quer que eu a ajude também. Billy (8 terapeuta): Eu também queria brincar com a boneca, (A te- rapeuta reconheceu o problema novamente, dessa vez incluindo Billy. Carry eomegou a chorar ¢ a pedir socorro. Seguiuse uma briga de verdade.) Billy: Voc8 no vai fazer elas pararem? Néo val bater nelas? Terapeuta: Vocé acha que eu devia fazer elas pararem e talvez bater elas. Billy (depots de othar duramente para ela): Acho que néo. (Carry foi até a caixa de cubos e escolheu o maior e mais pesado. Voltando para Evelyn, levantouo acima da cabeca para darlhe um violen- to golpe na cabega.) Terapeuta: Vocé esté muito zangada e quer machucar Evelyn pra valer, (Carry imediatamente deixou de lado 0 cubo e Evelyn Ihe devolveu a boneca. Ela pegou a boneca e, parando imediatamente de chorar, colocow- a sobre a mesa ao lado de Billy:) Carry: Pode brincar com ela, Billy. (E comegou a pintar.) 98 12. MANTENDO © RESPEITO PELA CRIANCA © terapeuta mantém um profundo respeito pela capacida- de da crianga de solucionar seus préprios problemas, se uma opor- tunidade the for dada, A responsabilidade de fazer escolhas, ou de estabelecer mudancas, pertence a crianca. ‘Uma mudanga no comportamento, para ter um certo valor permane’ te, dove vir do interior do individuo, como resultado de ‘um “insight” que | 4 tio adquirlu, Quando 0 terapeuta coloca nas mios da crlanca, © responsa- Diidade de mudar ou ado mudar, 6 nela que etd contalzando a tarapia, ) udanga em seu comportaento no quer entio dizer conformistno de al frum tipo de pressio, pols o conformismo a certas padrbes esiabsteldos no é um sinal de ajustamento. Q terapeuta tenta fazer com que a crianga ‘compreenda que ¢ responsével por si mesma. Nao seaplica pressio_alguma. para levéla a isso. # uma parte da estrutura terapéutica. Comeca ay ‘coisas pequenas — coisas materiais, na salade brinquedos —e o seu campo de agio vai aumentando através do relacionamento. dada & crianca uma | ¢ possibilidade de conquistar seu equilibrio. Ela adquire auto-confianga ¢ autorespeito. Constréi sua autoestima. Essa hora 6 toda sua. Esté por sua, propria conta. Quer brincar? E, em caso afirmativo, com qué? Ela é quem faz a escolha, e seja lé 0 que escolher, 0 terapeuta estar de acordo. Quer simplesmente ficar sentada ali? Para 0 terapeuta nfo faré a minima dife- yenca. Ele permanece amistoso, relaxado o interessado. Nao a segura. le a compreende. A erianga pode perceber isso polas observagies que ele faz Parece saber exatamente © que a crianga esté sentindo, o que faz com que esta 0 procure. Ela pode escolher 0 brinquedo com o qual vai brinear. O terapeuta nunca faz objegSes &s coisas em que ela p2ga. 99 Bil, por exemplo, poga a bonecamfe e reviraa de cabega para baixo. ‘Tira suas roupas, Ninguém diz nada, Ndo se fazem objegdes. Apenas a ob- servagio: “Vocé quer tirar a roupa dela.” Nao 6 uma observagio muito Profunda, mas esté de acordo com o que ele faz. Bill: Vou bater nela, (Pega num cubo enorme e o faz.) ‘Terapenta: Voc8 esté com vontade de bater nels. BI: Agora eu vou enterrar ela na are!a. Ela vai sufocar. ‘Voed vai sufoeéla na areia, agora. ‘Terapent: BI: Ninguém vai ver ela de novo.(Enterraa na area.) ‘Terapeuta: Pronto, vocd esté livre dela. Ninguém a verd de novo. (Bill vat até a estante, pega na mamadeira e levaa & boca, olhando Para a terapeuta para ver como ela vai encarar isso.) ‘Terapeuta: Voc8 quer. tomar a mamadeira. (Ele chupa o bico com mais forgs.) Bill: Eu sou um bedé. (Fala com voz de bebé.) ‘Terapeuta: Agora vocé ¢ um beb. Bill: Ti bom! (Falando errado, como um bebé.) ‘Terapeuta: As vozes 6 bom ser um bebé, (Bill deitase no chio, balbuctando e tomando a mamadeira, Que im- portancia tem os seus oito anos? Agora ele 6 um bebé. A terapeuta no dé mostras de se aborrecer com seu brinquedo de bebezinho. Durante vinte minutos ele se faz de beb8, pois sabe que a terapeuta o acompanharé du rante todo o tempo que Ihe aprouver brincar assim, Vive a experiéncia relaxado, seguro em seu relacionamento, Nio hé diferenca se ele é um bebé choréo ou um jovem selvagem sedento de sangue; aceitammno inteiramente. Depols que satisfaz seu desejo de mamar e de ser um bebi, ele tira 0 bico da mamadeira © bebe o resto da gua.) Bill: Est4 vendo, estou bebendo cerveja agora, feito papal. ‘Terapeuta: Agora voc’ j4 nao 6 mais bebé. Vocé cresceu. (Isso tam- bém 6 interpretagio.) Bill: Pois 6. (Deixa de lado a mamadelra, Ele fez sua escolha. mals divertido ser um adulto do que um bebé.) (Bill empunha um revélver @ prepara os soldadinhos para a batalha. ‘Comecam suas agressies. Mata um, depois 0 outro. DivisSes inteiras sio ceifadas. Ele urra como um assassino sanguindrio. A terapeuta continua a refletir seus sentimentos. ) 100 Bill (gritando): Sous filhos da mile, por que nfo fazem 0 que eu digo? ‘Vou matar vocés. Vou matar vocés todos. (E ele o faz:) ‘Terapeuta: Nio fizeram 0 que vocé mandou e vocé os matou. Bill: Esse tanque vai esmagar a tinica cabana que ficou. Mas olha, esse cara vai dar 0 fora. Esse sou eu, e vou dar o fora daqui. ‘Terapeuta: O tanque arrebenta a cabana, mas voc se livra, Nada acontece com vood. Bill: Ble dé 0 fora. Puxa, ele esté morrendo de medo! Olha como ele treme. Acha que eles vio matélo. ‘Terapeuta: Ble est4 com medo. Bill: Af o inimigo vem atras dele e quase dé cabo dele, mas af ele dé ‘uma reviravolta ¢ dé no pé. Terapeuts: Quase que o pegaram, mas ele ainda teve tempo de se safar. Bill (gritando): Ble grita “MAMAEI” ‘Terapenta: Elo chama a mie porque esté com medo, Bill: E quando ela aparece, ele mata cla. ‘Terapeuta: Ele mata a mie quando ela aparece. BU: #, Bla nilo queria fazer 0 que ele disse a ela, ‘Terapeuta: Ele a matou porque ela nfo fazia o que ele queria BIL: , mas depois ele leva ela pro hospital e ela fica boa de novo. Terapeuta: Ele a faz ficar boa de novo. Bill: Ai foram pro cinema e vimos “O Pirata Vermelho Ataca Outra Vez.” Vocé jé viu “O Pirata Vermelno Ataca Outra Vez?" Terapeuta: A mie ¢ 0 menino foram ver “O Pirata Vermelho”, depois que a batatha acabou. Bill: Voc j4 viu esse filme? ‘Terapeuta: Néo. Bill: Puxa, 6 bacana! 14 um menino no meu quarto que tem um cin- turio de Pirata Vermelho. Legal! ‘Terapeuta: Voo8 gosta dos filmes e dos cinturées do Pirata Vermelho. Bll: Voc ouve os programas do Pirata Vermelho no rédio? ‘Terapeuta: Infelizmente nfo. Bill: wf bacana, Basta mandar des eaixas de cereal Hunchy Crunchy & dea centavos, para ganher um cinturio daqueles. Vou mandar assim que puder. ‘Terapeuta: Vocd também quer ganhar um einturdo, 101 BIN: 38. O cinturfo desse menino é marron e tem umas pedrinhas brihantes em volta. & assim, quer ver? (Sentase e desenha uma cépia do cinturso com os lapis de cor.) ‘A terapeuta acompanba Bill quando ele muda de bebé para adulto, @ daf para a tipica crianga de oito anos. # ele quem escolhe. A mudanga se produz dentro dele mesmo. ~B A terapeuta acredita no fato de que a crianga pode ajudarse a si mes- ma, Ela a respeita, ‘Toda crianga. que vem A sala de terapia defrontase com esse desa- flo: agir por sua prépria conta. E quanto & erfanga dependente? A crianca timida? A que nunca fez uma escolha importante por si mesma? Seré ela ‘esmagada por essa experiéncia? Ser4 coisa demais para ela? Temporaria. mente ela precisaré de um apoio? Jerry foi a erianga mals timida e desajustada que jamais dou entrada numa sala de Iudoterapia. Tinha quatro anos, era mentalmente retardado, © seu crescimento fisico estava atrasado. Nao falava, sua coordenagiio mo- tora era muito pobre, e nfo parecia possuir a menor auto-diregio. Trouxe- ammo A sala de terapia por causa de seus medos irracionais, por seus pro- blemas de alimentago, e porque sua mile achava que, em resultado dessa ex- perléncia, ele aprenderia a falar. Quando a terapeuta viu Jerry pela primeira vez, deparou com um su- Joltinho chorio, inseguro e assustado, que nfo percebia nada do que se assava & sua volta. Balbuciava e andava em circulos, quando a terapeu- ta tomouo pela mio e levou-o para a sala. A mie de Jerry combinara con- versar com outra psicSloga que a ajudaria em seus problemas. ‘A terapeuta levou Jerry para a sala, cheia de apreenstio, Que 6 que uma criaturinha daquelas poderia fazer na sala de terapia? Esse caso ilustra © poder do individuo para amadurecer, se Ihe for dada uma oportunidade. As notas tomadas pela terapeuta revelam interessante desenvolvimento. PRIMEIRO CONTATO Jerry olhou para os brinquedos & sua volta, na sala. Depois, comecou 8 pegar nos brinquedos, darthes uma olhadela ¢ deixéos cair no chio de novo. Grunhiu, murmurou, mas nada disse de inteligivel. Pegou no cami- nhSo do exército, deu um sorrisinho © jogowo no chio. Tevantou a caixa com a famflia de bonecas, pegot.as uma por uma e foi jogando-as no chido. Dopols foi até a caixa de cubos e repetit sua atividade, jogando.os a esmo, som nem olhar para que Indo cafam. Durante essa brincadeira, grunhia e murmurava baixinho, Seus movimentos eram nervosos, apressados, desco: ordenados. As cosas cafamlhe das maos e ele nio fazia qualquer esforgo 102 para segurélas, Depois pegou no martelo e comecot a dar marteladas na mesa, mas no conseguia controlé-lo, Depois de um perfodo de marteladas, Pegou os talheres de brinquedo e atirouos através da sala. Por fim, todos ‘03 objetos existentes na sala tinham sido jogados a0 chido. Jerry pegou no trenzinho e comogou a empurrélo pela sala. Durante essa brincadelra, toda vez que ele tla, a terapeuta dizia: “Jer- ry gosta de fazer isso”, ou “Jerry acha isso engragado.” Ocasionalmente, ele ‘agarrava um caminhiozinho de brinquedo ou uma boneca e grunhia para a terapeuta. Ela dizia o nome do objeto que cle estava segurando, Jerry arecia encontrar grande satisfagio nisso. Comecou a centralizar sua aten- ‘go nesse tipo de atividade. Pegava no brinquedo, estendia-o para a tera- Peuta, esta diziathe 0 seu nome, depois do que ele o deixava cair de volta ao chio, para ir pegar uma outra coisa. Depois de um momento, comegou a preferir o caminhio por mais tempo. A terapeuta continuou a repetir 0 nome dos brinquedos, especial: mente “caminhfo”, que ele segurava com mais freatiéncia. Até que, en- fim, Jerry disse “caminhio”, ao segurélo, A maior parte do tempo man- tinha os olhos fechados @ tateava por entre os brinquedos, em vez de tentar realmenté brincar com eles. Finalmente, voltou 20 trenzinho ¢ comegou a empurrélo. A tera- peuta disse, acompanhando a sua atividade: “Jerry esti empurrando o trenzinho”, “Jerry esté dado um tiro com o revélver”, “Jerry esta ba- tendo os caminhdes um no outro.” Af éle comegou a berrar. Batia os caminhdes um no outro, cada vez com mais forga, berrando alguma col sa que soava como: “Caminhéo quebroul” Nisso, um carro de bombeiros passou pelo edificio™ Targando ime diatamente o que estava fazendo, Jerry correu para a terapeuta, chora- mingando e tomoudhe a mio. “Jerry est4 com medo do barulho”, disse a terapeuta. Ele, repentinamente, sorriu. Foi até a casa de bonecas, pe gou toda a mobilia e despejoua no chio. Tirou o telefone do gancho, Ievou-o ao ouvido, jogouo no chéo, fol até a jarela, tentou olbar para fo- ra, depois voltou a pegar 0 caminhfio. O carro de bombeiros voltou com todo seu barulho e de novo ele reagiu como fizera antes. Novamente a terapeuta Ihe disse: “Jerry esté com medo do barulho.” Entio Jerry segurou a mio da terapeuta e tentou transmitirthe alguma mensagem. Disselhe, enfaticamente: “Faz! Faz!" “Voo8 quer que eu faca alguma coisa”, disselhe a terapeuta. Jerry paxoua com mais for- cae Tepstiu “Faz!” Parecia compreender o que a terapeuta Ihe dizia. Fi- nalmente, quando a terapeuta se levantou, ele a levou até a eaixa de brim quedos que estava no chio e, pegando sua mio, colozavaa na caixa de brinquedos, E entdo, punha um brinquedo na mio dela para, depois, dir!- 103 gila até sua propria mio. Finalmente a terapeuta compreendeu que Jer- ry querla que ela Ihe entregasse os brinquedos. A terapeuta o féz, dando” Ihe de cada vez um brinquedo, que ele prontamente jogava no chio. Ele ainda se agarrou A mio da terapeuta, como se quisesse que ela: fizesse alguma coisa. Esta comezou a dizer 0 nome dos brinquedos, & medida ‘que os estendia a Jerry ¢ era isso realmente 0 que ele queria. Comegou a sorrir, depois a tagarelar, rir e gritar, Ocasionalmente berrava “cami- nhao!”. Depois ajoelhouse no chiio, coberto de brinquedos espathados, € empurrouos pela sala, indo e gritando. No fim do hordrlo, Jerry nfo quis sair da sala de terapia. Come- ou a choramingar e a berrar: “Nio!” Mas quando a terapeuta saiu da sala, ele a acompanhou. SEGUNDO CONTATO (dois dias depois) Jerry parezeu mais timido durante essa sessio, do que durante a pri- meira. De cada ver que um bonde passava pela rua, ele choramingava © dava demonstragdes de medo. Quando 0 hordrio acabou, a sua me com tou que, ao vir para a clinica, ele andara ce bonde pela primeira vez e th. vera tanto medo, que ela pensara que seria obrigada a descer, Contudo, ela insistira e, embora ele chorasse e gritasse durante todo o trajeto para a clinica, ficaram no bonde. Durante toda a hora de terapia, Jerry continuou a se libertar de seus medos. Pegou nos bichinhos de madeira e nas bonecas e atirouos longe. Acidentalmente, um deles fizou de pé ao cair. Jerry olhou para ele e riu. A terapeuta the disse: “Jerry gosta de colocar o bichinho de pé.” Depois de levantélos, derrubava-os de novo. Brincou com ss bonecas e os bichinhos dessa maneira, durante uns dez minutos, depois voltou sua velha brincadeira de jogar tudo pelo chi, Gastou a mator parte do tempo fazendo isso. Depols pegou o trapo de linpar pincéis, enfiouo na vasilha de égua para pintura de dedo e passou uns cinco minutos espre- mendo a gua no chao Cada vez que um onde. passava, ele choramingava e -gritava e, de cada vez, a terapeuta dizia: “Jerry esté com medo do barulho.” No fim da hora, quando o bonde passou, ele foi até a jancla, mas no chorou. Sé tentou olhar para fora, “Bonde”, disselke a terapeuta, e ele repetiu: “onde, onde”. 'YERCEIRO CONTATO (daqui por diante os contatos foram com intervs- los do uma semana.) ‘Uma caixa de areia tinha sido adicionada ao equipamento da sala, desde a ultima visita de Jerry. Ele foi direto até 16. A terapeuta ajudouo i 104 a subir nela, Ele atlrou longe punhados de areia, por trés minutos, de- pois tentou sair da caixa. Choramingou, pediado que a terapeuta o levan- tasse, e esta disse: “Jerry quer sair da caixa de areia.” Ele tentou fazd- Jo sozinho e ela doulhe o minimo possivel de assisténcia. Foi até a calxa de brinquedos e comegou a tirélos de 16. Olhava para a terapeuta e grunhia, Ela sorriu para ele e Ihe disse: “Jerry quer tirar os brinquedos da caixa.” Ele deu as costas & terapeuta e olhou pa- ra dentro da caixa. Tirou dali o caminhio, estendeuo para a terapeuta e disse: “Caminbio. Depois fez a mesma coisa com uma vaquinha de madeira; parecia estar querendo que ela Ihe dissesse o seu nome. Voltavam & rotina. En to ele escolheu, deliberadamente, a vaca, 0 caminhio, e 0 boneco e es- tendewos um a um para a terapeuta, que thes dava nomes; ele entio repe- tia: “Camino.” “Vaca.” “Menino.” Depois ele atravessou a sala com eles e foi até a caixa de areia; entrou nela sozinho, ficou jogando areia fora durante uns cinco minutos, depois saiu de 14 de dentro sem ajuda, Quando os bondes passavam, ele sempre ia até a janela, olhava pa- ra fora e choramingava, e de cada vez a terapeuta refletia seu medo do barulho, Ele fol até onde estava a boneca, pegou nela, embaloua um pow. co, depois deixowa cair, Subiu no banco ¢ apontou para o vidro de pintura de dedo, com tin ta azul. A terapouta 0 abriu e derramou um pouco de tinta azul em cima do papel. Jerry inclinowse e olhou para cla, “Esté vendo”, disse a tere: euta, mostrandohe como espalhar a tinta. Ele come;ou a chorar. “Jer- ry nio gosta disso.” E realmente ele nfo gostava, e desceu da mesa. Mais tarde ele voltaria a olhéa e, levando a terapeuta até a mesa, tomaria sua mo ea enfiaria na tinta, para logo largéa, bom depressa. Depois jogou uns cubos no chiio, pegou a boneca maior e a mamadeira e comegou a @arihe de mamar. Jogou a boncca no cho, pbs a mamadeira no bergo tentou olhar pela Janela, Depols pegou no caminhiio @ comegou a empur- &lo pelo chio. QUARTO CONTATO Jerry entrou sozinho na caixa de areia, Encontrou um caminhfiozi- nho dentro da caixa e gastou dez minutos enchendoo e esvaslando-o. De- ois, salt da caixa sozinho, foi até a janela, olhou para fora, pegou uns sol- dadinhos e voltou para a caixa. A arela entrou em seus sapatos @ ele co- mecou a chorar. A terapeuta tlrou-lhe os sapatos e meias Cada vez que um bonde passava, Jerry levantava a cabeca, mas jé nio apresentava sinais de medo e, a cada vez, a terapeuta Ihe repetia a ‘onde” @ ele balancava a cabeca. Lé pela metade da hora, ele “bonde", quando um deles passou. 105. Brincou na caixa por mais dea minutos, depois salu dela e foi ‘pro- curar os pratos de brinquedo. Levou uma xicara e uma colher para a cal: xa e ficou brincando de encher a xicara e esvaziéla com a colher. De- pols ficou subitamente alegre, e jogava grandes punhados de arela longe, indo e gritando, De repente ele saiu da caixa, pegou a terapeuta pela mio, e levowa até a porta. Ela o acompanhou. Ele fol até a sala de espera e olhou em torno, “Esté procurando sua mie?” perguntou a terapeuta. Ele dew meia volta, correu para a sala e subiu de novo na caixa de arela. Comegou a enterrar 0s pratos e o caminhio na areia, depois pegou na mio da te- Tapeuta e fez com que ela os procurasse, Ela os desenterrou, e ele riu. Depois pegou dois caminhdezinhos e bateuos um contra o outro, gritan: do: “Caminhio!” ¢ “Bang, Bang!”, rindo. Quando a campainha tocou anun- ciando o final da hora, cle teve um estremecimento. Depois riu. ‘A terapeuta pds suas meias ¢ sapatos para ele, e Jerry voltou & sa- Ja do espera. QUINTO CONTATO Quando Jerry, voltou A sala, sentowse no chiio, tentou tirar sapatos & meias, sem conseguito direito, ea terapeuta ajudou-o um pouco. Subiu na caixa de areia e brincou com os pratinhos e caminhdes por meia-ho- ra. Depois saiu de 14, pegou a boneca, enroloua num cobertor e ficou com ela no colo por uns dez minutos; depois disto colocoua carinhosa- mente no bergo ¢ voltou para a caixa, onde ficou brincando por uns vin- te minutos. Durante esse brinquedo, sempre que ele pogava num objeto a ferente a terapeuta dizia: “Agora Jerry esta brinzando com o patinho”, ou “Agora Jerry esta brineando com 0 cavalinho.” Jerry fez um esforgo para repetir os nomes e conseguiu dizer: “pato” e “vaca”. Uma vez, durante esse contato, quando um bonde passou ele olhow Para a terapeuta e disse: “bonde.” Nem uma vez deu mostras de ter medo. No final da hora ele tentou por os sapatos e meias sozinho. Com uma ajudazinha ele 0 consegulu, SEXTO CONTATO Quando Jerry entrou na sala, sentouse, descalgouse sozinho e en- trou na caixa de areia. Brincou pot uma meiahora, depois saiu, pegou a boneca e deuthe de mamar por dez minutos. Depois deitou.a carinho ‘samente no bercinho e empilhou por cima dela os toquinhos de constru 80. Foi até a casa de bonecas e gastou uns dez minutos tirando a mobi Ma € colocandoa sobre a mesa. Quando a casa estava vazia, ele colocou 103 @ mobflia em seu lugar, mas nfo na ordem. S6 queria tornar a encher a casa com a mobflia, Depois voltou para a caixa de arela e brincou du- zante todo o resto da hora, Nilo pareceu nem uma vez notar o barulho dos bondes, ou qualquer ‘outro barulho. No final da hora, entowse no chio e calgouse sem aju- da. Precisou de um certo auxilio para por 0s sapatos, mas esforgouse por fazé-o sozinho, SETIMO CONTATO Jerry gastou a hora intelra na caixa de arela, brincando com pra tinhos, caminhGes e bichinhos. No inicio do hordrio ele se descalgou sem. ajuda e, no final, pos as melas sem dificuldades, mas para calcar 0s sa- patos ainda foi preciso ajudiélo um pouco. OrraVO CONTATO Jerry passou a primeira meiahora no chéo, brincando com os bi chinhos que tirara da caixa de brinquedos. Punha-os de pé, puxavaos pe- lo assoalho, e dava mostras de uma organizagio definida na brincadeira. Quando ia subir na caixa de areia, lembrouse dos sapatos, sentouse no chilo e tirouos sozinho. Estava com sapatos novos, que tinham elisticos em ver de cadargos, Conseguia manejélos sozinho. Subiu na caixa de a- reia e comecou a brincar com os brinquedos que tinha eleito como seus favoritos — os bichinhos, os pratos, os caminhdes. Ficou ali até o fim da hora, rindo a mafor parte do tempo. Um carro de bombeiros passou du- ante esse perfodo, mas ele nem notou. Na hora de ir embora, calcouse sem dificuldade. Néo conseguia fazer passar o elistico, mas o resto cle fazia faciimente. Esse foi o titimo contato que a terapeuta teve com Jerry. Hla sem tiu que ele poderia ser ajudado por contatos mais freqtientes, e ndo deu 0 caso por acabado, mas devido ao fechamento da clinica, nfo fot possfvel vélo de novo. Fol a clinica quem deu um fim aos contatos, e nio a mie Ambos foram encaminhados a uma nova clinica, onde continuaram 0 seu tratamento, A mie relatou uma notével mudanca no comportamento de Jerry desde 0 primeiro contato. Ele tornowse mais positivo, A sua maneira nfio- verbal. Anteriormente, sempre fora muito décil, e ficava onde o punham, nada fazendo, a no ser engatinhar de um lado para o outro, no cercado ‘onde ela 0 colocava. Ble agora tinha tentado sair. Sua mie o pbs fora. Depois, ela notou outras melhoras: ele tentava falar. Dizia umas poucas palavras, que todo mundo entendia: “camtahio", “bonde”, “pato”, “vaca”. A mie dizia as novas palavras que tinha ouvido, Jerry deve t0las real 107 ie mente dito em casa, pols sua mile néio tinha meios de saber com que brin- quedos elo so distraia e que palavras teria dito, durante a hora de lu. doterapia, Ficou muito contente, quando ele comecou a tentar a calcarse © descalgarse sozinho, Disse que ele estava comendo melhor, e interessa- vase mais pelas coisas que 0 cercavam. Disse que a maior mudanca nele era o aumento de sua atencdo e capacidade de concentragdo. Seus brin- ‘quedos tinham agora um certo objetivo, e duravam horas, enquanto que, antes, ele nada mais fazia, senio pegélos © deixdlos cair novamente. B claro que a atitude da mie deve ser levada em consideragio, quando se tenta dar conta das transformagGes que se operaram em Jer- ry. Cada vez que ele se encontrava na sala, a mie visitava um psicdlogo, para uma consulta nfodiretiva, Com isso, ganhou uma certa visio dos pro- blemas de seu relacionamento com 0 filho, o que influenciou suas atita- des e gestos para com ele. Comentou, uma certa vez, que agora Jerry era muito mais dificil de manejar, pois parecia estar desenvolvendo uma ma- neira prépria de pensar, mas sabla que isso era para bem, ¢ recebia a mu- danga de bragos abertos. “ Examinando esse caso, 0 leltor pode perguntar o que aconteceu a Jerry, para trazer tanta mudanca? Terd sido porque, na sala de terapia, elo experimentou, pela primeira vez na vida, um sentimento de indepen. déncia © de autosuficiéncia? Seré porque nessa experitneia ele foi leva- do a agir por sua prépria conta, ¢ ganhou com isso uma auto-confianca que Ihe permitiu ir mais adiante? Teré tido um “insight” de seu valor como individuo atuante? -“ f interessante notar a maneira pela qual ele explorou o material posto & sua disposigio, e como, finalmente, centralizou sua atengéo nuns poucos escolhidos, embora todos os outros tivessem estado & sua vista, durante todos os contatos. Isso é a prova de que até Jerry podia fazer escolha por si proprio, se lhe dessem uma oportunidade para isso, tanto ‘quanto dar iniclo a mudangas em seu préprio comportamento, Aparente. mente, achou sua independéncia muito mais satisfatéria do que a depen- déncia infantil anterior. Deve ter experimentado um sentimento de sequ- ‘ranga nesse relacionamento, que Ihe permitiu dominar seus medos e an siedades. wy Parece que Jerry obteve tal satisfagio em ser autosuficiente duran- te essa hora, que ganhou confianca para prosseguir sozinho. Suas tensbes foram eliminadas, Ele conseguiu um sentimento de equilfbrio que Ihe Permitiu auto-controlar se. APLICACAO NA TERAPIA DE GRUPO Este principio 6 vilido em qualquer situacio de terapla, soja ela individual ou de grupo. Aplica-se a qualquer crianca, esteJa ela sozinha, 108 ‘ou em grupo. As virias personalidades dos membros do grupo néio alte- zm 0 prinefplo. Até num grupo em que uma determinada crianca seja ‘completamente dominada pelas outras, é ela quem, voluntariamente, es- colhe o momento de libertarse dessa dominagio. A dinémica do relacio- namento do grupo &s yezes traz & tona problemas de relacionamento de um individuo com os outros, dentro do grupo. As criancas do grupo 1o- 0 comecan a interagir © discutem as atitudes e sentimentos dos outros membros. Sio generosas em sua avaliagio opinido. A reacio indivi dual de cada erlanga para com os outros membros é significetiva. © possivel ajudar a crianga a ganhar uma visio de seu problema de ajustamento social, devolvendo'the os sentimeatos que ela exprime, ao brincar com as ‘outras, Mas, embora o relacionamento de grupo pareca apontar os pro- biemas @ apressar 0 desenvolvimento desse “insight”, a responsabilidade, em fazer mudangas pertence & crianca. 109 13. A CRIANCA INDICA O CAMINHO 0 terapeuta nao tenta dirigir os atos ou a conversa da crian- ¢a, de maneira alguma. £ ela quem o faz. O terapeuta a acompa- nha, © terapeuta adere definitivamente & orlentag%io: nfodiretiva, Nio faz perguntas indiscretas, exceto, talvez: “Quer falar nisso?", se a crian- ga comega uma discussio sobre algo que @ tenha perturbado, Exclui os elogios, de modo a excluir também a possibilidade de que a crianca so- Ja levada a agir de determinada maneira, para obter mais cumprimentos. Nao critica o que ela faz, para que ela no se sinta desencorajada e de| sajustada. Se pede ajuda, ele a dé. Se pedir indicagdes sobre a maneira/ de usar o material, ele as fornece. © terapeuta nio oferece sugestes. A sala e 0 material estio & dis- -Dosigo da crianga, esperando pela sua decisio. O perfodo de terapia 6 seu campo de prova, 0 tempo no qual ela toma suas prdprias medidas. Se tentar fazer alguma coisa fora do esquema, 0 terapeuta nfo lhe su- gerird que faga algo Por ele especificado. Nem estabelece uma selogio prévia de bringuedos, esperando que o material ali disposto soja tomado ela crianga Uma terapeuta, que sentiu que o seu grupo tinha problemas que se centravam em torno do relacionamento familiar, colocou a casa de bone- as @ a familia bem no meio da sala, e p0s todo o resto A distancia, Quando as criangas entraram, perceberam logo o arranjo prévio do ce- nario, sentaram'se preguigosamente, perguntando por quanto tempo te riam de ficar ali, e se teriam de voltar, Com sua selegio do material, por mais sutil que cla fosse, ela havia-cancelado toda a estruturagio an- terior, tinha confundido © assustado as criangas com sua tentativa de al- rigir 0 brinquedo, tinha trafdo a conflanga que tinham nela e obrigado m1 as crlangas a uma répida retirada, Tornarase autoritéria para elas, 0 que 6 evidenciado pela pergunta: “Quanto tempo temos de ficar?”. “Seré que temos de voltar aqui?” Sugestes por parte do terapeuta sio igualmente intteis. Quando ele diz & crianga: “Os outros meninos estiio brincando com as mamadel- ras. Voc8 nfo gostaria de tentar?", esté tentando dirigir sua agio, A ork anga, &s vezes, se ressente dessas sugestGes e torna-se indiferente. As vo- zes, numa situagSo de grupo, as outras criangas podem pensar que sio obrigadas a seguir uma delas e a entrar num tipo de atividade da qual nio sentem vontade, nem necessidade Infelizmente, muitas criangas j4 tiveram a experiéncia de, tendo.he sido dito que podiam escother, descobrir que, a menos que sua escolha coincidisse com a dos adultos, ela seria nula e vazia, Como resultado de varios tipos de experiéncias diferentes, as criancas a principio mantém- se receosas das consegiiéncias da permissividade na sessio de terapia. Isso pode ser notado quando a crianca conta sua hora de terapia a um amigo: — “Juro que voc nunca viu nada igual. Vocé pode fazer tudo o que quiser, mesmo! Parece mentira, mas 6 verdade!” A hora da terapia no 6 apenas uma outra hora de recreio, ou ho- ra social, ou experiéncia escolar. # a hora da crianga. O terapeuta no € um companheiro de brincadeira, nijo 6 um professor, nio 6 um subs tituto da mae ou do pal: é uma pessoa unica aos ollios da crianga. Eo palo onde pode por & prova sua personalidade. Ea pessoa que segura o espelho onde ela so veré. O terapeuta guarda para si suas opinides, seus, sntimentos e sua orientagio. Quando se considera que a crianca esté na sala de terapia para ter contato consigo mesma, percebese que as opt nides e desejos do terapeuta nio sio benvindos. A crianca é bloqueada pela intromissio da personalidade do terapeuta, no brinquedo. Conse- qiientemente, este deve manterse de fora. # a crianca quem indica o caminho. O terapeuta a acompanha. — c Isto 6 ilustrado no trecho seguinte. Richard, de nove anos, esté num jardim de infancia particular. Indicaram ludoterapia para ele, por- que é um sonhador, porque faz xixi na cama e fala feito bebé. Testes de inteligéncia provaram que a sua era mediana, e apesar disso, seus tra- balhos escolares eram um fracasso. Esse trecho é da quarta sessio. Mostra de que maneira a crianca usa a terapia, quando Ihe permitem fazelo, e torna clara a diferenca entre o papel do terapeuta e o do adul to tipico com o qual ela esta acostumada, Richard velo para a sala, sentouse A mesa e comegou a pintar manchas coloridas. Usava tinta vermelha e alaranjada. Sorria para a terapeuta. 112 Richard: Estive capinando o Jardim pra ganhar algum dinheiro. Quero comprar um presente pra minha mde. Vou pra casa no meu ani- versério © vou passar duas semanas com minha tia, Ela mora pertinho de mamio; vai dar pra ir fazer uma visitinha a ela. Terapeuta: Vocé quer ir visitar sua mie, Richard: Eu quero. Vou levar uma coisa bem bonita pra ela. Vai ser uma surpresa. ‘Terapenta: Vocé vai levar uma bela surpresa para cla. Richard: Vou passar duas semanas 1é, Talve trés, Puxa, val ser bom sair dagui! Terapeuts: Voce gostaré de sair daqui por uns tempos: Richard: Vou fazer des anos. Estou no quarto ano. Papai quer que ex passe pro quinto ano, mas eu disse pra ele que no quero. Gosto de tomar bomba. ‘Terapeuta; Voce gosta de tomar bomba, Richard: Escrevi para minha mie; disse pra ela que ou pra casa no mou aniversério, Disse pra ela que ia fazer cinco anos ¢ que queria ci co velinhas no meu bolo, Terapeuta: Voc quer fazer cinco anos nesse seu aniversério, Richard: O aniversirio do papai é no més que vem. Ele vai pro exér. cito. No més passado ele velo me ver. Sabe o que ele me perguntou? Se eu queria um irinfiozinho ou uma irmizinba. Eu disse que niio me importava. Acho que eles vio arranjar um. (Nesse ponto, ele pinta Iis- tras pretas sobre as bolas vermelhas e alaranjadas.) Terapeuta: Vocé disse a seus pals que nfo se importava se eles ar- Tanjassem outro bebé. Richard: ¥, foi 0 que eu disse. Terapeuta: Fol isso 0 que voce disse, mas na realidade vocd se im- porta. Richard: Sabe, meu pai e minha mie no sto mais meus pals. Eles se divorciaram © papsi casouse de novo. (Suspira fundo © fecha a caixa de tintas com um baque forte. Vat até a estante © pega a mamadeira.) Richard: Sou um bebezinho. ‘Terapenta: Bem que voc8 poderia ser o nenenzinho deles. (interpreta. 0.) Richard val pegar o tabuleiro de xadrez e o trax para a mesa, sentan- dose em frente & terapeuta, Richard: Joga comigo (Coloca as pogas do tabuleiro e comecam a jogar, mas é Richard quem iz & terapeuta que pecas mexer para onde.) Terapenta: Voo8 quer me dizer 0 que devo fazer neste jogo. 3 Richard: ¥ sim. Otha, 6 assim que eu quero que vocé jogue. ‘Terapeuta: Voc8 quer me dizer o que devo fazer. Richard: x6 sim. Nao mexa com essas pedras daqui. (Dessa forma, Richard esta certo de ganhar 0 jogo. De repente, ele derruba o tabuleiro © empilha as pedrinhas.) Agora é um jogo novo. Vamos empilhar as pe Grinhas: facer um montinho com elas. As vermelhas sio minhas. As Pretas sio suas. Agora vamos brincar de guerra. (Richard move seus ho. mens ¢ depois os da terapeuta. Ela val aos poucos se afastando do joeo € ele toma conta sozinho. Move os dols grupos de homens, atirando-os tns contra os outros.) Esse aqui 6 um grandalhio. Um gigante. Pode fa. er tudo nesse mundo. (Voa para cima dos homens da terapeuta e atira- ©s para fora do tabulelro.) Terapeuta: Seja quem for, nfio resta diivida que 6 poderoso. Richard: Pode fazer tudo. (De repente para de brincar, reorganiza aS pegas como se fosse jogar normalmente, depols coloca um rei verme- Iho do lado do tabuleiro em que esté a terapeuta, no canto esquerdo da Ultima earreira.) Esse aqui 6 0 menininho viu? Bsté sozinho. Sua mie mandou ele embora. Nao teve outro jeito, sabe? Ndo tinha lugar pra ele © ela tinha de trabalhar. (Esti muito nervoso. Move rapidamente os de. dos por cma do tabuleiro ¢ toca Ievemente as pecas.) ‘Terapeuta: A mae mandou o menininho embora. Richard: Esse ¢ 0 pai do menino. Esse 6 o av6 dele. Essa aqui & @ outra mae, que se casou com o pai. Essa éa tia. E essa (a peca no can to oposto a todas as outras) 6 a mie dele, Agora esse pessoal — (Moves, colocando-os entre a mie e 0 menino.) — esse pessoal nio vai deixar que ele chegue perto dela, e essa outra mie também nfo vai deixar que o pai venha pra perto dele, ¢ 0 menino grita: “Socorro! Socorro!” Ai os solda. Gos escutam, vém correndo, jutam com o pal. A mie corre pra lf. O pai corre pra cd. A outra mée s6 fica olhando. Af... (Richard joga longe a pega que representa o pai. Esta rola pclo chao.) Nao, nio!(Ele esti mul- to excitado, aos berros.) A mie esté chegando mais perto. A outra mie avanga pra ela, Elas lutam, (Mistura as pedras e atira-as para fora do ta- buleiro, fazendo-as rolar em todas as direcdes.) Mie! Mamiezinha! (Ri chard chora. Depois levantase e enxuga os olhos.) Terapeuta: Vocé quer estar com sua mie. O pai e a mie querem ambos ajudar 0 menino, mas a outra mie nilo deixa que eles cheguem perto, Richard (concorda com a cabega): # isso. (Val para a janela e di as costas A terapeuta.) ‘Terapenta: Isso te faz ficar muito infeliz. . Richard: Vou estar com minha mie no dia de meu aniversdrio, Terapeuta: Vocé vai gostar disso, m4 (Richard comeca a mamar na mamadelra, Volta A mesa e senta-se diante da terapeuta.) Richard: # bom vir cd. (Suspira.) Quando fosse pra casa, gostaria ‘que Ned viesse ficar em meu lugar. ‘Terapeuta: Voc? quer que alguém venha ficar em seu lugar quan do voot for para casa. Richard: 36, no quero que fique um buraco no lugar onde eu es tava ‘Terapeuta: Voc’ gostarla de que, enquanto estivesse ausente, Ned viesse guardar seu lugar aqui. Richard: #, Ned é um bom menino, ele gostaria disso aqui. Seré que cle pode vir no meu lugar? ‘Terapeuta: Se ele quiser, pode vir Richard: otimo. Vou mandar 0 Ned. © leitor observaré que nfio houve tentativa alguma de dirigir brin™ quedo. Nao se tentou fazer perguntas a Rihard a respeito de sua afir- mativa de que gostava de levar bomba, ou de corrigélo quando disse que| tinha cinco anos de idade. A terapeuta nio Ihe fez ver que néo era boné- to gostar de perder o ano, ou diminuir a sua idade. Nao se tentou desco- brir a identidade do gigante. A terapeuta deixou que o préprio Richard se dirigisse, e acompanhou-o 0 melhor que pode, Nao Ihe ofereceu sua simpatia nem sua ajuda. Deixou seus préprios sentimentos inteiramente fora da situagio. APLICAGAO EM TERAPIA DE GRUPO Num contato de grupo, a crianca dirige 0 brinquedo ¢ o terapeuta. ‘]@ acompanha da mesma forma que no contato individual. Uma das cri ‘ancas do grupo pode tentar dirigir as agSes e conversas das outras, mas essa direcio nao tem o mesmo sentido da exercida pelo terapeuta. Este, ‘em tal circunstincia, deve prestar muita atezgfio As suas respostas, de for- ma que nio transmitam & crianga dominadora nem 0 mais leve poder de diregio. Uma estrita aplicagio do principio deve ser a norma de perguntas feitas por ele, A excecdo de uma —“Vocé gostaria de me falar sobre isso?” — a qual defxa a erianga livre para falar ou nio falar, como ela, quiser. As vores 0 terapeuta sente que algumas perguntinhas poderiam apressar ‘© desenvolvimento ay torapia. ¥_possivel que seja verd em alguns ca- / almmente rete: | ds, mas em outros Taz com quo a crianca febriceda e reAlmiente ret a0 proceso teraplutico, Como hao se podem prever as reagGes da cri 15 anga, é melhor nfo correr esse risco. Esse princfpio impSe restrigdes ao terapeuta, Nao facil deixar que a crianga dirija ela mesma o brinquedo, quando parece que ela est bem préxima do centro do problema e, no entanto, vése que éla gira em toro dele, A experiéncia ensina que nio so pode apressar a terapia, 16 14, A TERAPIA NAO PODE SER APRESSADA O terapeuta nao deve tentar apressar a terapia, & um processo gradalivo ‘¢ assim deve ser reconhecido por ele. rc _j A lei da “prontidio” opera na sesso de terapia. Quando a erlanca jesté pronta para exprimir seus sentimentos em presenga do terapeuta, lela o fara. Nio se pode forgéla a fazélo as pressas, Uma tentativa des. | {se tipo obrigaa a retroceder. Muito freqlientemente as criangas passam. Por um periodo de brinquedo aparentemente sem significado, durante a hora de terapia. Tal perfodo exige paci&ncia @ compreensio por parte do terapeuta. Algumas criancas chegam muito vagarosamente aquilo que © terapeuta consideraria como uso terapéutico da hora. No entanto, até chegarem af, elas vio reunindo condigses de se expressarem. Se o tera peuta deixilas em paz, deixilas demorar 0 quanto quiserem, sera larga- monte recompensado por seu comedimento. ‘A crianga vive num mundo extremamente agitado. As coisas passam por ela com espantosa velocidade. Fazemna correr para cd e para lé. Ela 6 lenta por natureza. Esse mundo 6 muito grande e ela precisa do tem- Po para tomilo nas mios, Todo mundo conhece aquele tipo de adulto- que nunca deixa as eriangas fazerem as coisas sozinhas, porque — como ele diz — “elas iam levar a vida toda”. Por exemplo, a exasperagio muito co- mum demonstrada por alguns adultos, quando uma crianga nfo consegue abotoar 0 casaco “AS pressas”, ou amarrar os sapatos “As pressas” — pols, na verdade, nao hé muita coisa que elas consigam fazer, assim, “As pressas’ Os adultos, entao, vém correndo ¢ fazem tudo para elas multiplicando assim ‘as tensOes e frustragbes, 7 Se © terapeuta estiver tentando aliviar tenses e pressbes, e dar & crianga uma sensagio de ajustamento, nio deve seguir o “esquema da pres- a”. Reconheceré o valor de dar & crianga uma oportunidade de ganhar seu equilibrio. Deixaré que a crianca faca as coisas calmamente. Esta ¢, finalmente, uma situagfo na vida da crianga em que ela nio ¢ apressada nem empurrada. Pode se relaxar. Se quiser apenas sentarse © ficar olhando, pode fazélo — pela hora inteira, se ihe der vontade. Se sogura a areia entre os dedos e deixa cair devagarinho, um grao de cada ves, assim o faz porque Ihe dé prazer. e se sentir contente em apenas yolar a argila de um lado para o outro, experimentando sua flexibilida- de, poderd fazélo, Se quiser ficar calada durante a hora inteira, nin’ guém a obrigard a dizer uma sO palavra. Finalmente, quando a crianca co- mega a perceber que j4 nfio existe aqucla pressiio usual para fazé-la andar depressa, ela se relaxa visivelmente. le So o terapouta pensa que a erianga tem um problema e quer atacé-lo © mais depressa possivel, deve Iembrarse de que o que ele sente nio é importante. Sea crianga tem_um problema, ela o trard para fora apenas @uando estiver pronta. O problema de desajustamento é tio complexo, que nao s° pode simplesmente tragar um circulo em torno de uma expe. riéncia individual e dizer: “# isso!” A personalidade da crianca é um meca- nismo to complexo que é dificil, se no for impossivel, isolar um dos ele- mentos que a fazem assim e dizer: “ isto que est4 causando todos esses problemas.” © terapeuta nfo conhece a erianga tio bem quanto ela prépria Se conhece. Néo pode expressar os verdadeiros sentimentos da crianga tio exatamente quanto ela prépria pode expressé los. Ele pode ser capaz de refletir os sontimentos expressos. Pode ser capaz de, em certos casos, qua- se adivinhar, Mas nfo pode pretender conheser todos os sentimentos da cerianca, Se 0 terapeuta pensa que a crianga nio est4 fazendo progresso algum, depois de semanas de terapia, que examine e tore a examinar suas notas para ver se descobre algo que possa ter causado a resisténcia & terapia. Que se lembre de que a mudanga 6 um processo gradativo e de que certas erlancas se movem lentamente como tartarugas. Que ele se lembre de que a crianca ests vivendo em um dinimico mundo de relasionamentos huma- nos. As condigdes que criaram o desajustamento ainda podem estar ope- rando. A crianga talvez néio soja capaz de combater as outras forcas que @ tolhem em seu crescimento psicolégico © terapeuta dove tentar ver as coisas do ponto de vista da crianga, deve tentar desenvolver uma empatia para com ela. Deve ter sempre em mente o prinefpio de que a mudanga nao pode ocorrer sem a participagio do individuo, e de que as mudangas que realmente valem a pena vém de dentro para fora. Deve lembrarse de que 0 crescimento 6 um processo gradativo. us 34 fol dito algumas vezes que a experiéncla de grupo parece acclerar a terapia, No entanto, o terapeuta nfo deve accleréla. O emprego de uma técnica que force a crianga é perigosa e de resultado duvidoso. Pode sor que nfo cause mal algum a terapia, mas pode ser também que provoque um retrocesso ou uma destruigio do “rapport”. 119 15. 0 VALOR DOS ’LIMITES O terapeuta estabélece apenas aqueles limites necessdrios para que se situe a terapia no mundo da realidade, e para que a crianca tome consciéncia de sua responsabilidade no relaciona~ mento Os limites estabelecidos nos relacionamentos da terapia n&o-diretiva so, naturalmente, muito poucos, mas multo importantes. Parece essencial para uma terapla mals profunda que a maioria dos limites so Festrinja BS colsas materials, tais como evitar que se destrua irremediavelmente o mate. Hal de Dringuedo, que se danifique a sala, ou que se ataque o terapeuia. Tambem os limites de senso-comum, quo Wiam a protecso da erianga de- vem ser incluidos. Parece haver pouco, ou nenhum valor, numa hora de terapia gasta com uma crianca que se dependura numa janela alta, ou se ‘ocupa com alguma coisa perigosa para cla. Se ela deve sair da sala de terapia om uma sensagdo de seguranga e de respeito pelo terapeuta, deve ser tra- tada de maneira tal, enquanto estiver na sala, que esses sentimentos pos- sam ser estruturados. Isso nao significa que o terapeuta deva tornarse um apoio ou uma protegiio. Significa, isso sim, que ele esta convencido de que, para ter efeito, a hora de terapia no deve estar tio dosvinculnda a vida quotidiana, a ponto de que o que nela acontece no possa ir além da sala de terapin. O terapeuta deve ter sempre em mente que a a] bem sucedida liberta sentimentos que trazem o desenvolvimento de “ins! hts", que acabarfo por trazer uma autodirecio mais positiva. ¥ importante para o terapeuta perceber que, muitas vezes, as ativi- dades da erianga, dentro da sala, se realizadas fora dela, provocariam sérias criticas, Deve também considerar o fato de quo a crianca tende a se sentir culpada quando chuta a bonecapai, ou bate na bonecamie, ou maltrata 121 as bonecasirmio, ou irmf, Para proteger a crianga de possiveis sentimen: Flerianca que se a faga entrentar os limites quo the sero impostos pelos re- se eetetipae para provenir ¢ formasio de qualquer falso concelto em | | Nacionamentos humanos, do gue delxtla dar livre curso aos seus impulsos ee ee save 'respat do que deverla ser um comportamento acaltéve, dove laser se colocar uma certa énfase no fato do so restringir a terapia apenas B see ee sia de lndeterapian, sta mie, ou sta babé, isso nio é censurado na sala de terapia, e Ihe & ‘quando os sentimentos ¢ as atitudes da erianga sto expressos através pormitido ater neles, ararés do boneses. Ela pode se lbertar do seus de palavras e brinquedos, a experiéncla pode ser encarada objetivamente, sentimentos usando os bonecos. Bate neles, enterra-os, chuta-os. Por que e tanto a crianca quanto o terapeuta podem aceitar honesta e completa- entéo, nfo poderia ela encontrar mais satisfa¢3o usando meios legitimos oar sc combtamente simbélicg e verbal. Se 6 removido 0 elemento para extravanar cous sentimentos? A autora acredita que a crianca encon. simbélico e verbal, certas atitudes e impulsos trazidos & agdo podem nao. tra mais satisfacio, quando suas agbes sio canalizadas em direcio ao ma- aan se, tom ele erlanga nem palo terapeuta. Conseqieatemente os terial que estd na sala para eese fim, do. que encontraria, se Ihe perratis mites necessdrios para que se atinjam essas condigSes sio estabelecidos sem quebrar todas as janelas, sujar as paredes a seu alcance ou atacar 0 como prérequisitos para a terapia satisfatéria. terapeuta. quanto & erianga que infringe 0 limite? Suponhamos que aponta”] com um cubo para a janela e, ombora seu sentimento seja reconnecido e | sesso estd marcada para o hordrio de des &s onze, a crianga chega Ss Ihe digam que nfo o faga, ela o atire. Usualmente, o reconhecimento é su- Gez'e mela, 6 as onze que ela termina. Certas oircunstincias, no entanto, fictente para impedir que se Jogue 0 cubo; mas suponhamos que, dessa podem alterar até essa determinagao de tempo — se as circunstincias do vez, no o soja. O terapeuta deve estar alerta para a possibilidade de | fatraso, por exemplo, foram inevitdveis. A crianga, cu o adulto que a traz, de- ‘que a erlanga nko delxe o cubo de lado. Deveria tentar impedir que ¢ } aia, For eee, fra IN palo | gar o tempo, a pedido da crianga. Eveatualmente, ela viré a perceber os se © cubo fosse jogado pela jancla, o que fazer? Passar um sermio na | {limites de tempo, e uma aceitagao consciente disso pode ser multo uti, — crianga? Expulsécla da sala do brinquedos? Ou agir como se no so im- | Q elemento tempo ¢_o limite mais brio, O encontro esta fixado. ‘A duraio do-contato de ludoterapia estf determinada ¢ 6 mantida. Se a portasse? Tal situacio seria um real desafio para o terapeuta. Ele ni © material da sala ¢ 0 melo através do qual a crianga expressa sous n 2 - eae sentiments. Hé varios tipos de material & sua diszosicio. Se ela se sente poderia, nem mesmo temporariamente, deixar de lado seus princfpios bé- agressiva, hé brinquedos com os quais pode dar vazio a seus instintos. sicos, ¢ rejeitar a crianga porque esta o desobedeceu. Continuaria ali, ‘Seus sentimentos sio reconhecidos e o terapeuta tenta canalizar as agdes refletindo os sentimentos da crianga: “Era Amportante par vost jogéi\ em dirego ao material mais adequado. e_qualquer jeito. Queria me mostrar que podia fazé10” © Suponhamos que um menino pegasse num pesado cubo de madeira 44 foi dito que o material na sala deve ser 0 mais s6lido posstval ‘e apontasse com ele para a janela. © terapauta deve dizer — e 6 melhor Certas coisas, entretanto sio quebrivels. AS mamadeiras © os vidros de que o faga depressa — “Vocé quer jogar 0 cubo pela janela mas nio pode tinta podem ser quebrados — e quase sempre 0 sio — as vezes por aciden- Pee ae” pene jogélo no chfo, golpetlo com um tronco, amassar a argh to, © ts veres, deliberadamente, Quando forem quebrados por acidente, o te la com ele, derrubar os brinquedos, mas nio pode Jogé-lo pela Janela.” So rapeuta deve retirar os cacos do caminho, como medida de seguranca, da cle se enfurece porque o terapzuta tenta interferir em algo que queria fa maneira mais répida e eficiente quo puder, reconhecend 0 fato de que” ter, esse sentimento deve serine imediatamente devolvido: “Vocé esté zan- foi um acidente .O que deve fazer o terapeuta quando a erlanga quebra al- gado porque nfo o deixel fazer isso.” Se a crianga enzara 0 terapouta com guma coisa de propésito? Reconhecer o sentimento que provocou a acho, far furioso e parece querer jogarthe 0 cubo no rosto, hi outro sentimento remover os cacos, se estes estiverem no meio do caminho, ¢ continuar 0 fa tornar reconhacido: “Voeé esta furioso comigo, porque 56 te deixel jozar contato sem substituir 0 objeto quebrado? Parese que tal comportamento © cubo no chio, onde ele nio ha de fe ir ninguém, e no vai estragar na- ‘mostraria & crianga a sua responsabilidade pelos seus atos. O terapeuta, @a.” 0 terapzuta esté ajudando o menino a enfrentar seu problema de de- deve prestar muita atongio A sua atitude e &s respostas que d4, nesse mo- sajustamento, em face de um mundo realista. Fora da clinica, ele encon monto, para que no se erie na crianga um sentimento de culpa. Se sua trard obstéculos, assim que tentar dar vazio a seus in:tintos destruidores aroitagao da crianca for verdadeira, esta nao se sentiré culpada, mesmo que 5 e sem que haja o reflexo de seus sentimentos. Parece mais util para a tenha infringido um dos limites. 122 123 ~ Qualquer ataque ao terapeuta deve ser interrompido imediatamente. ‘Néo ha valor algum em permitir que se ataque o terapeuta fisicamente. \Pode haver prejuizo nessa-prética — e nao somente para o terapeuta. Para Jque 0 relactonamento teraptutico seja um sucesso, deve ser construfdo em torn de um gentino respeito da crianga pelo terapeuta ¢ vice-versa. A crianga precisa de uma certa dose de controle. Nao ¢ inteiramente auto-su- ficlente. O controle proveniente do desenvolvimento do respeito mtituo, pa- rece levar a boas atitudes mentais bem mais depressa do que qualquer ou- tro método de controle. A experiéncia terapéutica ¢ uma experiéncia de crescimento, Da- se & crianga a oportunidade de se libertar de suas tensées, de se desta” ger, por assim dizer, de seus sentimentos mais perturbadores e, assim fa- zendo, de ganhar uma compreensio de si mesma que the permita auto- controlarse. Através dessa viva experiéncia na sala de brinquedos, ela descobre a si mesma como uma pessoa, assim como novos caminhos que lhe permitam ajustarse ao relacionamento humano, de maneira sau: davel © realista. 8 necessirio que de uma forma ou de outra, esta experiéncia es- teja vinculnda & realidade. De que melhor maneira fazélo, senio esta- elecendo os limites que provém do bomsenso? # importante que, de- ois do se ter estabelecido os limites, eles sejam soguidos & risca. Con” sistoncia dentro da sala de terapia 6 tio importante quanto a consis. téncia no relacionamento didrio. Esse elemento de consisténcia 6 que jtransmite & crianga um sentimento de seguranga. A consisténcia de- mostrada pelo terapeuta é que dé & crianca a certeza de ser aceita. A consisténcia na permissividade com que ¢ encarada a situaglo 6 que de- termina a profundidade até onde pode ir a crianga na expresso de seus sentimentos. Quando devem ser apresentados os limites? O terapeuta deve ex- plicélos assim que a crianca entra na sala pela primeira vez? Deve es- perar até que surja a necessidade de uma elucidagio desse género? Al- guns terapeutas acham que isso deve ser feito assim que a crianga en- tra na sala pela primeira vez, de modo que ela nio se sinta frustrada ou traida, quando se deparar com um desses limites. Outros pensam que a expresso verbal dos limites poderla parecer um desafio e chamar a atengio da crianca para as atitudes que eles implicam. Sentem, também, que isso talvez impedisse certas criangas do manifestar seus sentimen- tos negativos ou violentos, com medo de, com isso, desagradar ao tera- euta, ‘A autora -acha que 6 melhor esperar até 0 momento em que soja necessdrio falar desses limites. As oxperléncias quotidianas das crian- as geralmente preparamnas para algumas restrigses &s suas agdes. So 124 ‘0s limites sfo mantidos num minimo e s6 vém & tona quando hé neces: sidade deles, a terapia pode progredir mais facilmente. Por exemplo, € importante que se impeca a crianga de ficar sain- do a todo momento da sala de terapia, a menos que seja extremamen- te necessério fazé-lo. Quando uma crianga sai da sala e volta, depois tor- na a sair, esti fugindo da terapia, ou tentando transforméla numa es- pécie de jogo. Para que se dé uma énfase maior A responsabilidade da cerlanga no processo terapéutico, importante que ela compreenda que, se sai da sala a todo momento porque esté aborrecida, zangada ou por teimosia, nio pode mais voltar, durante essa sesstio. O terapeuta nfo deve falar nisso, até que a crianga comece a sair da sala. Depois, deve mostrarlhe porque est querendo sair tanto, se tiver conseguido reco- mhecer 0 sentimento; om seguida explicarIhe que, se ela sair da sala, nfo poderé mais voltar, até a semana seguinte. A menos que isso seja feito, a crianga pode muito facilmente transformar a hora de terapia num en- trae sai interminavel. Feito isto, a crianca percebe que no pode fugir de sua responsabllidade de enfrentar o problema, a menos que prefira sav crificar o que resta de sua hora de contato terapdutico. Se quiser fazer assim, 6 porque realmente sente a necessidade de so safar desta vex — ainda nfo esté pronta para a terapia. Ha excegdes para isso, que o te- Tapeuta deve encarar de mancira inteligente ¢ realista. Um terapeuta sen- sivel sera capaz de diferenciar entre esse tipo de comportamento.e ima necessidade real da crianga de deixar a sala — por exemplo, plra ver 59 sua mie ainda esta lé, — ou para esconder sas angiistias, de pressio. A terapia niodiretiva no deseja exercer pressdes para pro- vocar mudangas na crianga. Toda mudanga digna de nota vem de den: tro para fora. Por isso, 0 terapeuta evita usar de um limite para focali- Yar um problema, Por exemplo, uma crianga que tenha problemas de ali- mentagio no recebe, como condigio para vir & sala, a ordem de comer. ‘A crianga anti social no se diz que deve b.Lacar com as outras criangas, ao ingressar num grupo. Fsses nao sio limits honestos. Néo passam de chantagens Impostas a uma crianga que jé esta sob o impacto de pressies excessivas e, por sorem chantagens, nio sio dignas de ocupar um In gar na terapia auto-diretiva, # a crianga quem escolhe so val ou nao fa. Jar. O problema 6 dela e no do terapeuta. => Devese tomar cuidado para nio confundir os limites com “| Em resumo, parece que limites usados com inteligéncia e consistén- cia servem para estabelezer a ligagio entre a sesso de terapia e o mun- do da realidade, e para defender a tesapia de possiveis concepgdes err0- eas, confusSes, sentimentos de culpa e insoguranca. Esse principio ser- ve de referéncia para que a participagio da crianga, sua responsabilida- de © cooperacéo possam ser avalladas. 0 principio que exige todo o ta. 125 ~ to, cuidado, honestidade, coeréacia e forga do terapeuta. O uso dos Ii mites indica mais ou menos até onde a terapia pode avangar entre rapeuta ¢ crianga. ~ APLICACAO EM TERAPIA DE GRUPO Na terapla de grupo, os limites sio mantidos ao minimo, como na individual. No entanto, slo parte necessirla de qualquer terapia, © 6 pro- ciso que 0 terapeuta tenha uma idéia bem definida do tipo de limites que vai usar com um grupo de criangas, ou na terapia individual. Deve haver seguranga e consisténcia na pritica terapéutica, Dessa maneira, as crian- gas podem aceitar os limites de maneira mais proveitosa, do que seriam capazes de fazer, se eles fossem inconsistentes e apresentados ao grupo de maneira indecisa. Os limites podem tornarse uma espécie de desafio pa Fa o grupo se forem manejados indevidamen‘e, Assim como podem tor- narse uma ajuda eficaz e positive, sempre que forem introduzidos no brinquedo de maneira sincera e natural. s limites que dizem respeito ao comportamento destrutivo, agres- sivo ou perigoso, discutidos em relagdo & terapia individual, aplicamse também & de grupo. O mesmo se apliza & discussio sobre 0 momento em que tais limites devem ser introduzidos, Na situagio de grupo, mais um limite aparece: 6 0 que se refere & agressio fisiea a outros membros do grupo. Com respeito a esse limite hi teorias que se opdem. Alguns ensam que esse tipo de agressividade é atividade valiosa, desde que o terapeuta consiga mantéla sob controle, e observar se esté sempre pre- sente o espirito de esportividade. Outros acreditam que h4 mais prejui- zo do que beneficio em ataques fisicos, e que isso tende a envolver o terapeuta num papel que exigiré dele uma tomada de posicio de autori- dade e julgamento, o que, vez por outra, poderia parecer parclalidade para com certo membro — ou membros — do grupo. ¥ opiniéo da auto- Ta que a exclusio das agressbes fisicas poderia ser um dos limites da te- rapia de grupo, mas que a introdugilo deste limite nfo ocorra até 0 mo- mento em que o terapeuta perceba que o ataque esta iminente Um tapi nha ou um murro de leve podem ser aceitos sem problemas pela crian- a que os recebe e a introdugao de uma “frase limitadora” por parte da terapeuta poderia, quando tal ato ocorresse, desviar a atividade do gru- Po para canais indesojaveis. TE se isso, no entanto, acontecer, as atitudes negativas devem ser manejadas pelo terapeuta. Por exemplo, se uma ert- anga esbofeteia uma outra de leve porque esta est fazendo alguma coi- sa que a aborrece, o terapeuta deve dizer: “Voc® nflo gosta do que Jim est fazendo e chegou até a bater nele.” Se dissesse, no momento dese primeiro incidente: “Mas nio pode bater nele, enquanto estiverem aqui na sala de brinquedos” poderia parecer as outras criangas e ao Jim, que cle estava sendo protegido. O grupo poderia dividirse em faccdes pré e 126 contra Jim e estaria lancado &s criangas um desatio para que descobris- sem até onde poderiam ir. Se o limite nfo fosse mencionado até um se- gundo incidente desse tipo, ele seria bem mais aceitvel para o grupo. O terapeuta teria de tomar o cuidado de incluir todas as criangas que se tivessem esbofeteado, se achasse necessdrio falar a respeito. Por exem- plo: “Primeiro Jim bateu em Bob, depois foi Bob quem bateu em Jim, porque um no gostava do que 0 outro estava fazendo. De agora em diante, vamos deixar os tapas e murros de lado. Tentem resolver suas divergéncias de algum outro modo”. © tom de voz 6 multo importante em tais casos. Nao deve trazer em si nenhuma critica ou desaprovagio. Deve haver a mesma aceitagio das duas criancas. Deve ser uma informacio calma e firme, que apresente o nite de tal mancira, que ele ao tranaforme nuns ) parte construtiva da terapia, 127

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