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Biblioteca Pioneira de Ciéncias Sociais EN Cae oae ect Sew et cd Cre eae rec cnn colnet Bee neat Ok orem each r rt im ; } A BASE DO SERVICO SOCIAL CEP ort) CEL au eC ct EO eo ear i See cee ey Biblioleca Pionelra de Cléncias Soolals, demos mais um passo para tornar esta série uma das mais completas e autorizadas, no campo das Core eMC mnt oe + Peete cue Ue ue eu e tA eet oo a Soe ue Kone acetone ae Dl Muy econ ee ae nh néo somente destinado & aplicagdo técnica imediata, mas, sobretudo, Oeil eae er oa ete et ort Sea, no sentido de que deve transcender os limites da ciéncia aplicada, CL ea eo ne cue eco) © pensamentos da Aurora, desde sua participagao no grupo da profis- PEON a i ice orien rine Servigo Social” (publicada em apéndice do livro). Definigéo que conti- ee ur ee uence erarcee tic de natureza tedrica tendo como campo a pratica do Servigo Social Neste momento da histéria —- em meio as fortes presses de uma Ree cue eae uc eee nea i Cael nich Petcare eos HU Re Me Ue octet aceon ee ee Mee hence cen oy CN Ue ue ie ae ees Se rene oe age Cs unt eu oc eescic te ee ey Neste Oe a occa Oe se es ae COR tate at AVI.) Re | SOCIAL ova i a HAo PIONEIRA EDITORA | Biblioteca Pioneira de Ciéncias Sociais | A BASE DO | SERVICO SOCIAL BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIENCIAS SOCIAIS SERVIGO SOCIAL Consetho Diretor: Marcaripa Luzzi PIZANTE FILHA Suzana RocHa MEDEIROS ManiANGeLA BELFIORE Harriet M. Bartlett coma assistencia de Beatrice H. Saunders A BASE DO SERVICO SOCIAL Tradugao de Margarida Luzzi Pizante Filha 4° Edicao LIVRARIA PIONEIRA EDITORA — Sao Paulo Institute, p. Sanief Titulo do original em inglés ‘The Common Base of Social Work Practice © Copyright National Association of Social Workes, Inc., 1970 Capa de Jairo Porfirio Reconheeimento XI Nenhuma parte deste livro podera ser reproduzida sejam Introdu xvit quais forem os moios empregados sem a permissao, por escrito, da Editora. primeira parte Aos infratores se aplicam as sangGes previstas nos artigos 122 & ANTECEDENT 190 da Lei n® 5.988 de 14 de dezembro de 1973. 1. Em ausca pas roreas bo Sznvico SociAL 3 Passos do pensamento em face da profissao. Conceita de wma profissao, 2. Texpuncias inicuis 15 ____ © Copyright, 1993 A pratica do Servico Social em campos se pa- ; - rados. Agéncia e profissdo. Um modelo da Todos 08 direitos reservados por 4 ‘ p osimbtadios etéanteas. pratica baseado sobre os métados ¢ téenicas. ENIO MATHEUS GUAZZELLI & CIA, LTDA, 02515-050 — Praga Dirceu de Lima, 313 ‘i FRERAT ; + BARRELKAS AO PENSAME SGRATIV 37 sTalst6(ies-e88-9109 FON Seana oe Eola 8 3. Barnettas ao prxsaseNro irecnative 8 Seine ee om | _ Abordagens pareiais ¢ subprodutos invotun- Impresso no Brasil tarios, Caréncia de conceitos de Service So- Printed in Brazit cial segunda parte UM MODELO PROFISSIONAL PARA A PRATICA DO SERVICO SOCIAL 4. Uw moveto prorisstonat pana 4 PRATICA DO SERVICO SOCIAL Necessidade de um modeto profissional. Um modelo profissional (“A Definicao Operacio- nal”) 5. wrementos & co SOcrAL Vatores e conhecimento. O elemento valor. O elemento conhecimento, Interveneao do Ser vico Social. Unindo os elementos essenciais NCIAIS NA PRATICA DO SERVI 6. 0 expogue po ruxcionamenTo soctaL Identificacao do foco de wma profissie. Pri meiros conceitos. Conceiios iniciais de Ser. 2i¢o Social. O conceite de confronto. Um conceito de funcionumenta social para 0 Serniga Social. Implicugoes para a clabora cio do conhecimento, O concetto do functo- mamento social: uma recupitalaetio 7. ontentacao em SeRvIgO SoctAL A orlentacdo do Sereigo Social para pessous Orientagao do Servico Social para o conhen cimento. Novas qitestoes, Conctusiia 8. avaweanno pana a wast: comun 53 69 99 143 terceira parte O USO DA BASE COMUM NA PRATICA 9. 10. 11. APENDICE O JULGAMENTO PROFISSIONAL Na AVALIACAO Julgamento profissional. Aspectos da «oalia- Gao na pritica do Servico Social. A avaliacdo conta um processo cognitive. Fundamento profisstonal para a weatiacdo, Exemplos da pritica, A avaliacéo como wm proceso pro- fissional basico. A AGAO INTERVENTIVA Um exemplo da pritica. O uso do conheci- mento e dos valares, Maneiras dos Assisten- tes Sociais verem as situacdes sociais. Abor- dagens interventivas, Algumas implicagies para a prética atual do Service Soctal, Mu- dancas inecadoras nu pritica. A uedo inter- ventiva em relagdo a base comune ConsTRUGAO DE UMA BASE SOLIDA A praticn especifica v a priticu especiatizada Completando 0 conhecimento para a pratica A competéncia profissional, Os passos ulte- riores da base comum: o relacionamento dos componentes, Pensumento integrativa e acao. Encarande o futuro, DEFINICAO OPERACIONAL DA PRATICA bo SERVIGO SOCIAL 171 201 an Apresentacao A edicao, em portugués, desta obra de Bartlett” consti- tui importante contribuigao aos esforgos empreendidos dentro do que se generalizou denominar “movimento de reconceituagao de Servico Social”, Bartlett situa-se entre os autores norte-americanos que — como William Gordon, Martin Loeb, Henry Maas, Al- fred Kadushin — vém se destacando no empenho da cons- trugde do corpo de teoria do Servigo Social. Considera que © Servico Social encaminha-se no sentido da formulacao do seu proprio acervo de saber profissional, nao somente destinado & aplicagao técnica imediata como também A Produgao de conhecimentos sobre os fenémenos de que A tradutora contou com a colaboracao de uma equipe formada por Cris tiana Minimisawa Hirata, Kleyde J Taboada, Marta Alice F. Buriolla, com a orientagao da professora v ussistente social, Dr." Nadir Gouves: Kfouri, a qual cuidou para que a edigao em portugues transmitisse, oom Aidelidade, o pensamento da autora. Dora John Baptista, professora de Uteratura brasileira, burilow paciente, ¢ integralmente, todo o texto cin portugues. XIL ARRIETT 0, NARTLETT trata, Ou seja, transcended os limites de ciéncia apli- cada. A Base do Servigo Social 6 um texto bastante ilustrativo dos trabalhos’e pensamento da autora, desde sua partici- pacdo no grupo de profissionais que formulou a conhecida “Defini¢do Operacional da Pratica do Servigo Social (pu- blicada em apéndice do livro). Defini¢ao que configura um paradigma expressamente elaborado para nortear pesquisas de natureza tedrica tendo como campo a pratica do Servigo Social A posigéo sustentada por Bartlett representa, assim, ruptura com 0 modelo tradicional assentado sobre “o mé- todo € as técnicas”, dando lugar a um modelo — com- preensivo — amplo quadro de referéncia conceptual — en- focado sobre a base comum do Servico Social enquanto constelagao de valores, objetivos, conhecimentos, méto- dos e técnicas E de se notar que na América Latina, a grande maioria das obras versando sobre a reconceituagao continua a pri- vilegiar 0 componente metodolégico, no que pesem os en- foques ideoldgicos. Eis, portanto, a meu ver, 0 valor do texto, Esta visuali- nagao do Servigo Social como um todo, um todo trabalha- vel ¢ a ser urgentemente laborado. Resposta “operaciona- lizada" ao velho anseio de globalidade, historicamente contraditado pela éntase nos métodos, barreira A formula- cao de um pensamento integrativo. A pratica emerge como fonte precipua de construgao te6rica; impondo-se reconhecé-la enquanto composicao de elementos dentre os quais valores ¢ conhecimentos so- bressaem como os seus grandes definidores © texto se desenvolve em funeao desse quadro de refe- réncia conceptual, concebido como um instrumental para sistematizacao de pesquisas basicas de Servico Social, in- dispensavel & formagao de um corpo cumulative de co- nhecimentos € conseaiiente maior eficécia na agao. A past be sevice sociat XU idéia repousa em que — se as pesquisas alinharem-se nessa perspectiva referenclal — assegura-se 0 caminho & formulagao cumulativa de conhecimentos, acelerando-se © processo de teorizagao. Sao Paulo, fevereiro de 1976 NADIN GOUVEA KFOURT Professora de Servigo Social RECONHECIMENTO Esta monografia, concebida em 1965, tem raizes nos projetos da NASW, sobre a pratica do Servigo Social e segue a corrente geral do pensamento sobre a pratica. A discussie de problemas profissionais, naqueles projetos, foi uma importante fonte de i As seguintes pessoas que léem mais do que se redige, fizeram as vezes de con- sultores, nesta monografia: Bess S. Dana, Alice Taylor Davis, William E, Gordon, Margaret L. Schultz © Theo- date H. Soule. A medida que esta obra ia sendo elabo- rada, através de varias etapas, os consultores contri- buiam com muitas perguntas e sugestées significativas que tornaram mais claro ¢ enriqueceram o material. A maior parte das questoes de pratica aqui consideradas, foram discutidas, através dos anos, com William Gordon © com Margaret Schultz; assim, nosso pensamento com- partilhado exerceu grande influéncia sobre este material. Estou em divida, também, com outros associados profis- sionais que conferiram comigo seges de monografia ou providenciaram material a respeito das tendéncias e con- XVI ARROETT M, RARTLETT trovérsias sobre a pratica do Servigo Social. Agradeco em particular a Walter L, Kindelsperger ¢ Jeanette Regens- burg, que Ieram o primeiro esbogo ¢ Ihe fizeram comen- tarios pondérados. Desejo expressar profundo reconhecimento a Beatrice Saunders, por sua assisténcia editorial na preparagao desta monografia. O problema de alcancar um pensa- mento basico em um periodo de mudanga acelerada e de incerteza, em ambas, na profissao ¢ na sociedade, foi di- ficil a ponto de parecer, as vezes, insoltivel. Enquanto trabalhavamos juntas nos sucessivos esbocos, a Sra Saunders ajudou-me a expressar as idéias essenciais ¢ a apresenté-las sob forma e ordem mais ajustadas ao tema, aos Ieitores e As circunstancias. Sem sua arguta assis- téncia e apoio firme, esta monografia nao poderia chegar a se concretizar. Wendy Almeleh deu-me assisténcia va- Tiosa nas etapas finais de preparagae do manuscrito para publicagao. Finalmente, desejo agradecer a contribuigao de Jessie B. MacDonald, que assumiu a responsabilidade de datilografar 0s manuscritos. Tendo completado uma andlise desta espécie, em que as idéias foram lentamente desenvolvidas e constante- mente retrabalhadas por um consideravel periodo, a Au- tora sente-se finalmente pronta para comegar a escrever a monografia inteira, outra vez, desde o principio. Ja que isto ndo 6 possivel, é publicada como esta, com profundo agradecimento a todos que Ihe deram ajuda. INTRODUCAO Uma das forgas mais vigorosas que determinam 0 cre cimento de uma profissio, é a maneira pela qual os seus prdprios membros percebem ¢ definem 0 que estao fa- zendo ou tentando fazer, seus objetivos, conhecimento e técnicas. Neste momento da Histéria, 0 Servigo Social tem potencial para dar uma contribuigito importante © significativa a sociedade, O impulso para a frente € 0 crescimento dependem do interesse e da capacidade dos aissislentes sociais de identificar e conhecer as possibili- dades e limitagées essenciais de sua profisséo consoli- dando forcas para prover uma fonte poderosa de aga Em meio as fortes pressdes de uma sociedade em mu- danga, que clama por respostas amplas, Hlexiveis e ime- diatas, alguns assistentes sociais perderam a esperanga de que sua prolissdo possa satisfazer a essa o Sentem que os esforgos para consolidar a profis serio muito lentos ¢ inadequados, [Outros rejeitam esfor- cos para fortalecer a profissao por outras razées, por exemplo, porque percebem que tal agdo levara inevita- xvnr HAIER se nawrEeee velmente ao “profissionalismo", no sentido de estreiteza, rigidez, insensibilidade ¢ burocracia, Esta falta de co fianga na profissao é consegiiéncia, em parte, da ausén- cia de uma ‘percepedo nitida do Servigo Social porque, sem uma sélida e convincente imagem da profissao, os assistentes sociais 86 a muito custo poderao entender a sua forea. Procuramos focalizar, diretamente, a protissao do Ser- vico Social, como em posigao-chave nas miltiplas ativi- dades que visam_ao bem-estar de nossa sociedade. Esta posigdo cnvolve uma responsabilidude a lideranga e na acho, que, por sua vez, exige um uso completo das poten- Cialidades da profissdo. Hoje, 0 Servigo Social possui muitas forcas insuspeitadas mas também deve encarar e lidar com suas limitacocs, Em nossa opiniao, podemos dar 0s passos necessarios, sem que nos levem ao profis, sionalismo acanhado. © que importa é ter uma visio ampla do Servico Social © identificar o seu potencial.] Esta monografia trata da pratica do Servic Social Nao € uma deseri¢éo ou uma andlise da pratica, mas antes uma consideragao das “maneiras de pensar dos assistentes sociais, a respeito de sua pratica. No interesse da consisténcia, 0 ponto de vista da pratica foi mantido através deste estudo: nao se tentou considerar as impli- cages edueacionais ou outros aspectos profissionais. Nem 6, este estudo, uma pesquisa formal, Aplicou-se 0 método de anélise © da descri¢ao baseadas na experién- cia da autora na educagao e na priitica do Servigo Social, © sua constante participagao nos programas das organi. zagoes profissionais, por um longo periodo. Foi feito um especial esforco para identificar as tendéncias do pensa mento do Servigo Social , quando surgiam divergéncias, para ampliar a conceituagao a fim de estabelecer um nexo entre as idéias. Importantes fases do pensamento do Servico Social serao examinadas, em busca de idéias criativas, de influéncias e obstaculos latentes e desenvol- A WAS DO SHRWICO SOTA XIX vimentos a longo prazo. A cobertura de todas as aborda- gens possiveis pretende ser compreensiva, mas nao exaustiva, Nas décadas recentes, 0 Servico Social fez avancos marcantes através da uniao de seus membros em amplas organizagées nacionais. O pensamento vigoroso s¢ man- tém em variadas facetas isoladas de sua pratica. Tam- bém se fez progresso significante, ao organizar 0 pensa- mento sobre a pratica global; mas tal pensamento ¢ difi- cil e tende a defasar. O propésito desta monografia é orientar a ampla corrente do pensamento sobre a pratiea, vista como a pratica da totalidade da profissao, Este es- forco tende a unir algumas das idéias ¢ das questoes per- tinentes, de tal modo que possam ser encaradas num proceso de inter-relacao, mas nao a formular um sis- tema tinico de conceitos ¢ de teoria. O importante é man- ter a continuidade e a convergéncia de idéias. Esperamos que este empenho possa unir algumas pegas, tornd-las mais visiveis ¢ ordenadas e, estimular outras pessoas a trabalhar nos varios problemas envolvidos ¢, finalmente, gerar pensamentos que prossigam na mesma ou em novas diregées. primeira parte ANTECEDENTES 1 EM BUSCA DAS FORCAS DO SERVICO SOCIAL “A que se destina 0 povo” pergunta JULIAN HUXLEY. “A atingir uma qualidade superior de vida", é a sua res- posta.' A evolugao cultural humana, diz ele, opera atr: vés de um processo de desafios ¢ de respostas. Algum: coisa, na situagao existente, age como estimulo ou des fio & sociedade ou ao cérebro humano e a sociedade e o cérebro humano fornecem alguma espécie de resposta. Pode nao ser sempre a resposta correta, mas ha sempre um proceso que resulta em mudanga dirigida,” Esta espécie de desafio e de resposta é evidente em nossa sociedade moderna, em relagao a um niimero cres- cente de agudos problemas sociais, tais como a crise ur The Human Crisis Seattle: University of Washington Press, 1962, p 27, ‘bie, p. 22, 4 amar? st eauercere bana, os direitos civis, a pobreza ¢ a delingiiéncia. Os es- foros para tratar com esses problemas sao, como HUx. LEY indica, algumas vezes mal dirigidos, de modo que os resultados ndo produzem a desejada melhoria do bem- estar humane e podem até criar novos problemas. Muitos assistentes sociais sentiram, vigorosamente, que deveriam ser capazes de oferecer contribuigao sufi- ciente para aliviar ou solucionar esses mumerosos pro- blemas sociais, em acréscimo aos servigos tradicionais prestados a individuos, a grupos ¢ a comunidades. De fato, 08 assistentes sociais j4 se encontram envolvidos nesses esforgos mais amplos, mas o seu impacto néo tem sido proporcional a suas esperancas. Realmente, h razao para se acreditar que 0 que 0 Servigo Social tem a oferecer é particularmente pertinente para as necessida- des sociais modernas, mas ¢ dificil pensar claro sobre tais assuntos, em face das confusdes, incertezas ¢ temores que cercam a humanidade. Apesar da ameaca de desor- ganizagao social, a plasticidade fmpar dos acontecimen tos humanos, atualmente, oferece uma esfera de agio em expansie para o bem, que s6 raramente aparece na hist6- Na década de sessenta, apés mais de cingtienta anos de desenvolvimento, a profissdo do Servigo Social enfrenton um perfodo de transicao soctal que apresentou problem: © oportunidades de natureza sem precedente. Pediam-se respostas imediatas e vigorosas, mas os assistentes so- ciais no estavam preparados para agir rapidamente Apesar de repetidas andlises demonstrarem que 0 Servico Social possui muitos dos atributos de uma profissao (como sera mais tarde discutido), suas forcas nao foram ainda plenamente reconhecidas ou desenvolvidas. De- vido a falta de reconhecimento, a contribuigio que seus ~MENeill, William H. The Rise af vee West, Chicago: University of Chicago Press, 1963, p. 807 2 ASE DO SRVICO BoKtAE 5 membros estao oferecendo a sociedade ¢ menos eficaz do que deveria ser. Como, entao, poderiam essas forgas ser mais plenamente postas em uso? Pouco antes desse periodo de répida transformag ao so- cial, como parte de um programa profissional de estudos da pratica, houve uma tentativa de andlise dos campos da pratica de Servico Social, a partir de um de seus cam- pos.’ A abordagem envolveu trés estégios: 1) partiu dos elementos essenciais do Servigo Social; 2) procedeu ao levantamento do campo no qual a pratica do Service So- cial deveria ter lugar; e entao 3) aplicou os elementos es- senciais ao campo para identificagao das caracteristicas da pratica. Observou-se consideravel evidencia de que tal abordagem foi titil para muitos assistentes sociais, neste pais e no estrangeiro, para observar ¢ analisar com am- plitude a sua pratica. Posteriormente, a necessidade de reexaminar as ativi- dades dos assistentes sociais, devido as mareantes mu- dangas ocorridas na sociedade americana, sugeriu que a abordagem utilizada para a analise dos campos, deveria ser relevante e esclarecedora para uma andlise da pratica de Servigo Social como um todo. De acordo com essa abordagem, a hipotese sustentada € de que 0 Servigo Social, tendo-se desenvolvido tanto, poderd dar sua maior contribuigao a sociedade, fortalecendo-se, ainda mais, como profissao solida, De- pois de meio século de exploragao de varias formas de servigo, os assistentes sociais capacitaram-se agora, pela primeira vez, para perceber claramente 0 vasto campo de possibilidades. Depois ‘de prolongada concentragao no trabalho com individuos e com pequenos grupos, a profis- sfo foi violentamente sacudida pelo stibito reconheci- Bartlett, Marriot M. Analizteg Social Work Practice by Fields and Social Wark Pructice tn the Healy Field, Nova York: National Asso. chution of Social Workers, 1961 6 DARReTe Mt Bact Laer mento de urgentes problemas sociais, pelo aparecimento e proliferagao de novos programas de satide e de bem- estar social, Explorando, outra vez, a sua contribuigéo aos problemas da pobreza, da delingiéncia, do desenvol- vimento urbano € dos problemas sociais semelhantes, os assistentes sociais nao podem mais confinar-se em suas préprias agéncias, e ao seu proprio ritmo, mas devem estar prontos para trabalhar através de novos canais e, freqitentemente, em colaboracao com novos tipos de au. xiliares, Gis como, engenhetros, planejadores urbanos, cientistas politicos, peritos em administragao publica ¢ com trabalhadores da prépria regiao. O espirito de inova- Ao paira no ar e a flexibilidade é um pré-requisito. Provavelmente, a principal caracteristica desta mu- danga 6 a radical ampliagdo da pratica de Servico Social, tanto no que diz respeito ao ponto de vista, quanto & atua™ lidade. O circulo de pessoas a sorvir, dos programas nos quais atuar ¢ dos associados com quem colaborar, abriu- se rapidamente como um leque. Os velhos critérios de trabalho em equipe e de prestacao de servigos nao se aplicam mais do mesmo modo. Grande numero de assis- tentes sociais estd se mudando para novas Areas de pré- tica com interesse € entusiasmo, o que € desejdvel. Com a atual énfase na modificagao das condigdes sociais e dos programas sociais, ha, entretanto, wma tendéncia para rejeitar as preocupagdes anteriores dos assistentes so- clais com 0s individuos © com os pequenos grupos, como inadequadas & sociedade de hoje. Tais diferengas pode- riam levar a uma crescente e eventualmente aguda sepa- ragao entre duas visdes da pratica de Servigo Social. Em tais circunstancias, a forca da profisso seria minada e sua unidade ameagada. Assim, wma decisio importante « tomar, em face da profissao, ¢ determinar se ela tem a intengao de tornar seu interesse nos individuos, nos araspos e nas comunidades, real « efetivo,¢ de que modo A ASE DO SERVIED soCtAL, 7 Embora 0 Servigo Social j4 seja encarado como tendo alcangado status profissional, nao se pode afirmar que seja uma profissdo solidamente estabelecida, Numa pro- fissdo, ainda em formagao, ¢ em fase de amadureci- mento, como esta, que opera em area ainda relativa- mente Indefinida, é necessario um grande esforgo para fortalecer o processo de crescimento, particularmente em uma época de rapida transformagao social, de forgas em conflito e de necessidades em aceleragio. Trata-se do que se poderia chamar de “‘construgao da protissad”’. No mundo de hoje, ndo é provavel que tal crescimento se processe naturalmente, através dos esforcos relativa- mente desorganizados de milhares de assistentes sociais. E verdade que os assistentes sociais sto conhecidos por sua inclinagao para o auto-exame e para a autocritica, mas tenderam demais a obstruir com formulagées. O que é necessario é a espécie de agiio deliberada empreendida por um cientista, que define um problema, desenvolve uma ou mais hipéteses para enfrenti-lo, e segue com firmeza para a frente, por periodo de anos, visando a ex- perimentar as hipdteses e a procurar as solugdes neces rias. Em Servigo Social, isto quer dizer movimento cons ciente em direcao a solugées intelectuais positivas dos problemas enfrentados pela profissao, E necessario um esforeo deliberado para identificar as questoes centrais relativas a pratica, bem como maior planejamento da expansao eficax dos recursos profissio- nais. A experiéncia da primeira Comissao Sobre Pratica da Associagao Nacional de Assistentes Sociais (NASW), que realizou trabalho pioneiro em 1955, sugere o valor estratégico de desenvolver canais ¢ expectativas com vis- tas a um pensamento integrado e cumulative. O firme programa do Conselho sobre Educagao do Servigo Social é, também, essencial. Mas um reconhecimento mais amplo, através da totalidade da profissao, e um pensa- mento mais criativo de parcela significativa de seus @ HAGMETT ot pARTEE:TT membros, sie necessaries para resolver os problemas verdadeiramente complexos da pratica do Servico Social. Como engajqr-se para tratar com seu vasto, mas nao concebido potencial é, atualmente, talvez, a decisao in- dividual mais importante ante a profissao. Passos do Pensamento em Face da Profisséo Considerando as prementes decisdes, ao enfrentar a profissao com respeito A sua propria pratica, convém de tacar certas etapas do pensamento a percorrer, em dire- do da realizacdo do seu potencial. Estas podem ser ex- pressas pelas seguintes proposigoes: © F fundamental a capacidade de visualizar a inte- gridade da pratica do Servico Social, A convergéncia nao sera obtida se todos 0s profissio- nais, professores, administradores e pesquisadores opera- rem com diferentes perspectivas dentro de diferentes quadros de referéncia. Nos uiltimos anos, os articulistas da revista Ciencia, 0 periédico da Associagao Americana para o Avango da Ciéncia chamam a atengao para 0 fato de que estamos no meio de uma forte tendéncia geral de decompor fendmenos © experiéncia em entidades cada ven menores, Mas muitas respostas para os problemas de hoje somente serio encontradas através de conceitos e de hipoteses que estimulem a sintese.’ Tal pensamento in- tegrativo é hoje necessaria ao Servico Social, Ver, por excmplo, Eimmanuel 6, Mesthene, “Our Threatened Planet The Technological Phague”. artigo de Burry Commoner, Seience aunt Survival. Nova York: Viking Press, 1966, f Science, vol. 155, 1." 3761 Janette, 27, 1967, pp. 481-49; David I. Truman, “The Social Sciences nd Public Polley. Science, Vol, 160, 1. 3827, mao, 3 1968, pp. BUS. 12; Don K, Price, "Purist and Politicians". Scienee, Vol. 168, 1.0 3862, Janeiro, 3. 1969 pp. 25051 4 Base: bo SERVICE soctat 9 © A identificagao do foco especifico do Servico Soctat — sua area de interesse central como uma profissao — surge como um primeira passo lgico especifico Deve-se encontrar um equilibrio entre a superambi- ciosa tentativa de satisfazer a todas as necessidades da sociedade ¢ um envolvimento estreito com técnicas limi- tadas, Quando finalmente definido, 0 foco central apare- ceré como um tinico conceito, ou como constelagao de conceitos, no qual podera basear-se a pratica, e em torn do qual a teoria podera desenvolver-se. © Os elementos comuns ao Servico Social precisam ser identificados e estabelecidos como base para toda a pratica do Servigo Social. Os varios segmentos da pratica, ainda muito fragmen tada, precisam ser unificados. Os campos e outras dreas da pratica, relatives a grupos ou problemas particulares bem como métodos ¢ abordagens interventivas, aqui in~ cidirdo. Os assistentes sociais sempre se identificaram mais facilmente com “campos” ou com “métodos”. O problema nao solucionado esta ainda para ser tratado, isto 6, 0 que € comum e o que é diferente nesses viirios tipos de pratica? E, como podem as semelhangas e as di- ferencas ser mais cficazmente relacionadas entre si para produzirem uma prética integrada de Servigo Soc Este passo de pensamento nao poderia e nem pode ser alcangado até que os assistentes socials tenham feito su- ficiente progresso na identificagao do foco do Servigo So- cial e da base comum da pratica, para levar em conside- ragao 08 processos exigidos de analise e de sintese. © O Servic Social precisa reconhecer ¢ examinar as limitagaes e dilemas de seu proprio pensamento ¢ tratar com eles Os autores de Servigo Social assinalam a existéncia de modos de pensar latentes e implicitos que vém produ- 10 ASR Bs BART zindo as falhas, as inconsisténcias é’as contradigées des- eritas.’ O Servigo Social esta se tornando consciente da necessidade de entender suas caracteristicas peculiares como profissao em crescimento, tanto em suas impli goes positivas como negativas. © A falha na construcgéo do conhecimento esta sendo reconhecida como 0 maior problema ea mais impor- tante area de potencial nao desenvolvido Perguntas extremamente complexas, mas também es- timulantes ¢ desafiadoras surgem, quanto aos passos ne- cessdrlos para focalizar ¢ formular, sistematizar e validar os conhecimentos de Servico Social. Aqui, especialmente sdo essencials as maneiras organizadas para os assisten- tes sociais se unirem para trabalhar tais problemas — a NASW Comissao de Pratica é um caso ilustrativo. © Uma vez que 0 propésito de todos esses passos 6 produzir tideres e profissionais competentes para dar a necessdria contribuicao & sociedade, deve haver cuidadoso exame sobre como os elementos es- senciais de tal pratica podem ser identificados e in- corporados pelos membros desta profissao. Aqui, a pratica e a educagao agem juntas. E pressupo- sig4o desta monografia que 0 Servigo Social seja fortale- cido na medida em que os elementos da pratica forem mais nitidamente definidos ¢ testados do que o foram, habitualmente, no passado. Além do mais, tal definigao & tal verificagao, dentro do quadro de referéncia profissio- nal abrangente, deveré andar de maos dadas com sua tradugao, em termos educacionais, para o curriculo, por- que a andlise da pratiea e a construgao do curriculo sao duas fases do mesmo processo. Ver, por cxemplo, Alfred J. Kahn, “The Nature of Social Work Know ledue". fr Cora Katused. New Directions tn Social Work, Nova York Harper & Bros., 1954, pp. 194.21: Alfved Kadushin. “The Knowledge Base of Social Work” Joy Alfred J. Kalin, org. Issites i Aurerfeat Social Work, Nova Yorks Columbia University Press, 1959, pp. » BASH DO SEEYICO SOCIAL rrr Coneceito de uma Profissio Importante, nesta monografia, 6 0 conceito geral de uma profissao, tal como é desenvolvido na sociedade oci- dental e, particularmente, neste pais.’ Ax autoridades no assunto geralmente enfatizam dols atributos essenciais. 1) um alto grau de generalizagao ¢ de sistematizagao do conhecimento; ¢ 2) a orientagao para o interesse da co- munidade, de preferéncia ao interesse pessoal do indivi duv.? O coulevimenw e os valores di profissao, bem como as téenicas especiais neles baseadas, siveis através da educacao. As profissbes sao responsa- veis pelos padrées da pratica e pela competéncia de seus membros. A pratica profissional, por sua propria natu- reza, implica ampla dose de discrigao, Além do mais, foi assinalado que a pratica que envolve relacionamento di- reo € pessoal com clientes, ao mesmo tempo que con! deravel exercicio de julgamento pessoal, proveca um sen- tido especial de xesponsabilidade. A distingao principal entre uma profissio e uma ocupa- cao & usualmente vista como sendo o corpo substancial de conhecimento ém que a profissio repousa, Um tipo de ocupagao, algumas vezes deserito como “semiprofissio", usa de habilidades técnicas e estabelece como base de seu conhecimento um corpo de experiéncia derivado da pratica ocupacional. A Enfermagem e 0 Servigo Social, Ver, A. M. CarrSaunders © P. A. Wilson. The Projessiews. Oxtord Pnglaad Clarendon Press, 1933; Abvaham Flener, "ly Svial Wark Profession?” Lr Proceedings af Ure Nationul Conference of Charities and Correetion. Chicaue National Conterenee of Charities and Cornec tion, 1915, pp. 576-90; Ernest Greenwood. "Attibutes af a Profession Suctud Wark. Vol. 2, 1.8 4, julho, 1957, pp. 45-55: Ralph W. Tyler, "Dis Unetive Ateibutes of Education for the pratessions”. for Sectul Work Journal. Vol. 3, 9.02, abril, 1952, pp. 53-7. “The Professivns” aed Jus, vol, 92, 0.4, omlone 1965, todo o artige, “Rarber, Bermud. “Somes Problems in the Soeialogy of dhe Profs: Sons". Duedats. Vol 92, 1.4, entono, 1963, p. 672 12 ARIE as Banta como atualmente praticados, podem ser assim descritos. Alguns assistentes sociais pensam que 0 Servigo Social deveria permanecer uma ocupacao. Esta opiniao esta em oposicao A que considera que o Servigo Social deveria se mover na diregao de se desenvolver como uma profissao. Duas fungoes essenciais das profissdes s4o constituidas pela pratica profissional e pela educagao profissional, Além disso, as profissdes tém muitas outras fungoes im- portantes, tais como a organizagao de seus membros para facilitar 0 alcance de objetivos, a formulagao de um cé- digo de ética, o recrutamento de pessoal, as relagées pi- blicas, a manutencao de relacionamentos de cooperagao com instituigées e com o pessoal engajado em sua drea geral de servigo ¢ 0 encontro com os interesses de seus proprios membros Examinando a pratica, devem-se fazer perguntas sobre 0 quanto e de que maneira os assistentes sociais estao reconhecendo os elementos comuns de sua pratica, moven- do-se em diregdo ao pensamente integrativo sobre cles, e tornando as forcas de sua profissao cada vez mais efi. cientes na sociedade, Antes deste periodo de transforma- cao social, forcas ja atuavam dentro da profissao para consolidar seu vigor. Estas apareciam particularmente em forma de movimento ém diregao a um curriculo “ge- nérico” nas Egcolas de Servigo Social e na organizagao de associagées profissionais de Ambito nacional. Na pratica, entretanto, 0 progresso foi mais lento. Na tentativa de compreender porque deveria ser assim, devemos comegar "Meyer, Henry J. “Peofessionalization and Social Work’. fr Kalin, oF Op. eit, pp. 325-94; © A. M. Carr-Saunders. “Metvopolitan Conditions ‘und Traditional Professional Relation-Ships". fy K, M. Fisher, oni, Hee Metropolis in Moslern Life, Nova York: Doubleday & Co, 1955, pp. 280-81, conforme sumiirio de A. J. Reiss Je., “Occupational Mobility of Professional Workers”. America Sociotoqieat Review, Vol. 20, 2." 6, slezembra, 1955, p.695. A BASE DO SERVIGO SOCIAL, 13 examinando e esbocando algumas influéncias e tendén- cias iniciais que modelavam as percepgées dos assisten- tes sociais a respeito de sua pratica profissional.” *Depois que esta monogralia Fok Impress, em tins de 1969, nal Association of Social Workers moveu uma ago, através de um refe rendirm, para ampliar seu guadro de associados regulares, pelo acres cimo dos seguintess portulores de titulo de graduacio Bachelor of Arts Ae Hveewem complotida win jwagranma de subgeaduagio om Soeviga Social dle acordo com critérios estabelecidos pelo Conselho de kducagae em Serviga Social, estudantes insevitos om Eseolas Superiones de Sex vigo Social © determinadas pessoas portadoras de titulos ce doutorselo om campos correlacionados, Uma categoria de iendbro-ussoctudo Lok estabelecida para incluir portadores de uraus de bachavel de qualguer area, atualmente empregados na qualidade de axsistentes sociais. A responsabilidade para 0 estabelecknento de cxitérios adicionas fol dada a Nasw Board of Dixectors. Veja “Relerendum. Anvendnyents ta Bylaws “The Ballots in Brief: What you are Asked to Vote on", Nasw News, vol. 15,11." 1, novembro 1969, p. 2. Na epiniio da autora, a necessidade de recontweer ede desenvolver as fargas do Servign Soctal, came ex: minadas nesta monografia, nao € 46 relevante para a situacao eriada pela agiio da NASW, mas se toma mais urgente que antes, par caus do Campa erescente e da complexidade da peatioa 2 TENDENCIAS INICIAIS O Servigo Social teve origem em dois tipos de esforcos: reforma social e assisténcia a individuos e familias que sofriam tensdes. Abrangidos com reforma social, havia uma variedade de esforgos da comunidade que revela- vam forte senso de responsabilidade para melhorar 0 bem-estar dos que eram carentes ou deficientes. Os assis- tentes sociais compreenderam seu papel de chamar a atengao para o problema, despertando a consciéncia pi- blica, dirigindo-se as pessoas envolvidas ¢ estimulando sua participagao, oferecendo provas da natureza de suas, necessidades e lutando por medidas preventivas.e corre- tivas. Suas acoes foram dirigidas a fim de eliminar ou aliviar problemas ¢ condigées sociais que afetavam co- mumidades inteiras ou grupos de populacao, como, por exemplo, o bem-estar do menor ou emprego de mulheres. A lideranga do Servigo Social produziu um impacto signi- ficativo sobre a politica social, através do aperfeigoa- mento de servigos de bem-estar puiblico e da ampliagao dos programas de atividades sociais voluntérias. Outra abordagem foi feita através das instituigées que enfatiza- ram 0 fato de estarem ligadas as pessoas, vivendo € tra- balhando entre elas na vizinhanga, oferecendo oportuni- dades de crescimento dirigido para autodiregao e para a 16 DARWETT 3 RARTEERT completa participagdo como cidadaos de uma sociedade democratica e pleiteando medidas sociais para melhorar as condicées de vida. ‘A outra principal fase da pratica de Servico Social — sténcia a individuos e familias sob tensao — desenvolveu-se fora do movimento da caridade organi- zada. Este trabalho foi, inicialmente, desempenhado por voluntarios, mas na passagem do século reconheceu-se que as pessoas que iam prestar servigos individualizados relacionados com os complexos problemas da pobreza e da vida familiar precisariam de treinamento. Pouco tempo antes ¢ logo depois de 1900 as primeiras escolas de Servigo Social foram estabelecidas € os profissionais tomaram o lugar dos visitantes amistosos. A partir desta pratica inicial e destas escolas, desenvolveu-se 0 conceito de Servigo Social como um processo especializado de prestagdo de auxilio. Embora os que praticavam Servigo Social logo se con- siderassem profissionais, as forgas que operavam neste periodo de formagao estimulavam mais diferengas que integragao. Durante os primeiros cingiienta anos de his- t6ria do Servico Social, um observador olhando a pratica, de maneira geral, teria! visto uma profissdo crescendo através de suas partes separadas. Os conceitos assim de- senvolvidos relacionavam-se suficientemente para man- ter os assistentes sociais unidos , por um consideravel periodo, esta forma de pratica, a despeito de sua falta de integracao, continuou a estimular 0 desenvolvimento da profissao. A Pratica do Servigo Social em Campos Separados Um primeiro © importante segmento da pratica tornou-se conhecido como 0 “campo da pratica”. Em. nossa moderna civilizacao industrial, as sociedades esta- A BASE DO-SERVIGO SOCIAL Ww helecem instituigdes sociais para providenciar servigos exigidos para satisfazer as varias necessidades humanas basicas, tais como a manutengo da familia, a habitagao, a educagao ¢ a satide ou para tratar com problemas s0- ciais, tais como a delingiéncia. Desde que sempre ha al- gumas pessoas, cujas necessidades nao foram satisfeitas pelos servicos, desde que a maneira pela qual os servi- cos sao prestados pode bloquear 0 uso eficaz pelos que deles necessitam, os.assistentes sociais foram arrastados A pratica de um campo para ontra. Na épora em que a pratica do Servigo Social comegou a se evidenciar, nos anos 20 e 30, foi crescendo rapidamente em campos se- parados. Naquele tempo nao havia conceito de pratica de Servico Social profissional, como uma entidade isolada. No fim dos anos 20, cinco campos da pratica emergi- ram — bem-estar da familia e do menor, no qual os assis- tentes sociais cramempregados em atividades de bem- estar social, e servico social médico, psiquidtrico e esco- lar, nos quais 0s assistentes sociais eram empregados em atividades que nao eram de Servico Social.’ Os assisten- tes sociais trabalhavam intensivamente nestes campos, mas dentro de seu proprio campo para esclarecer a natu- reza de sua competéncia. A partir de 1922, os assistentes sociais médicos tinham uma comissao permanente, para analise da pritica e os assistentes sociais psiquidtricos formaram mais tarde uma comtssao semelhante. Que instrumentos intelectuais eram, entao, utilizdveis para analisar a pratica? Quais as abordagens usadas? Dois conceitos predominavam naquele tempo — 0 con- ceito de método do Servi¢o Social ¢ 0 conceito de estru- tura. O conceito de método se desenvolveu primeiro em tomno do Servigo Social de casos e, mais tarde, em relagao ‘A Amenican Assgelation of Sockal Workers, organiza em 1921, era uma entidade que representava o Servigo Social come um todo, Seu prouraina cufatizava hormas pessoais € aigho social e dava relativa. mente mencs atengao a lideranga ol 4 coardenaghe de esfongo no de senvelvimente do pensamente prafissional a tespeila da pratica. 18 Manet at eantecr® ao trabalho de grupo € a organizaga4o da comunidade. Baseava-se em feixes selecionados de teoria concernen- tes ao comportamento humano. O,conceito de estrutura referia-se ao ambiente de uma organizagio dentro do qual 0 servigo era prestado. Este conceito dirigia a aten- ¢40 para as caracteristicas das atividades e dos progra- mas nos quais 0 Servico Social tinha que achar um lugar. A estrutura social do hospital da escola publica, os obje- tivos e os métodos de médicos e professores, a natureza do grupo de clientes, ¢ fatores similares eram analisados e descritos, Esta abordagem fendia a enfatizar o que era diferente entre os campos ¢ assim, enquanto estimulava © pensamento a respeito da contribuicao do Servico So- cial e elucidava a pratica dentro dos campos, tendia a produzir maior fragmentagao na pratica como um todo. Os assistentes sociais definiram seu problema central e sua responsabilidade como aquela caracteristica do campo especifico. No bem-estar do menor, a responsabi- lidade principal do assistente social foi definida como a satisfagdo das necessidades do menor quando a respon- sabilidade dos pais desaparecia e as comunidades falha- vam na providéncia dos recursos e da protegdo exigida pelos menores ¢ pelas familias. Por muito tempo, esta responsabilidade era primariamente vista como a bus: de cuidado substituto, particularmente em forma de cui- dado fornecido por lares de adogao para a crianga. Ao passar do tempo, entretanto, enfatizou-se, cada vez mais, © apoio & familia e 0 seu fortalecimento por meio de ser- vigos realizados no lar.* © bemestar da familia, além da sua contribuigao ao pensamento do Servigo Social de casos, também conser- vava 0 conceito de familia perante os profissionais do Servigo Social. Todos os assistentes sociais interessam-se pelas familias mas, pela natureza de seu trabalho, os que *Child Welfare as « field of Social Work Practice, Nova York: Child Welfare League of America, 1959 HAST BO SERVICO SOCIAL 19 se dedicam ao trabalho com familias, sempre tiveram como seu interesse primordial. Depois que 0 programa de seguranga social ndo tornou mais necessario que as ati vidades junto as familias continuassem primordialmente preocupadas com os problemas financeitos, 0 interesse se transferiu mais para os problemas psicossociais, tais como as dificuldades conjugais. Na década de 50, um impulso de interesse de imimeras profissdes para o diag- néstico ¢ tratamento dos problemas de familia estimulou 08 assistentes sociais junto 4s familias a expandirem seu interesse nesta diregao.* Nas organizagées médicas, os assistentes sociais acha- ram uma clara distingdo entre os quadros de referéncia da profissao dominante — a Medicina — e a perspectiva de progresso do Servigo Social. O problema, entretanto, no era somente de encontrar um lugar na organizagao, mas também de encontrar um meio de unir estas duas perspectivas. Como poderia 0 conhecimento cientifico re- ferente a doenga e aos métodos da pratica médica ser re- lacionado de maneira mais sensivel a sidades do paciente como uma pessoa?* O Servigo Social junto as Escolas tinha seu principal interesse voltado para os problemas de menores em rela- ¢A0 ao programa educacional ¢ A escola. Neste campo, nao havia um amplo corpo visivel de conhecimento sobre © problema principal — por exemplo, a natureza do en- sino € 0 proceso educacional — como havia em alguns dos outros campos. Logo, 0 que importava era compreen- der e trabalhar com a escola como uma instituigao por um lado, ¢ com 0 menor ¢ sua familia, por outro.* ‘Ver “Family Casework inthe Interest of Children", Soetal Cusewark. ‘Vol. 39, n" 2-3, fevereixo.margo, toda 0 artis. “Bantieti, Harriet M, Some aspects of Social Casework in a Medical Setting. Chieauo: American Association of Medical Social Workers, 1940, ‘Sikkema, Mildved. School Social Practice in Twelve Communities Nova York: American Association af Social Workers, 1853, 20 MARKET? M. DALE Na satide mental os quadros dé referencia do principal grupo profissional (Psiquiatria) e do Servigo Social esta- vam mais préximos do que em qualquer outro campo que envolvesse pritica multidisciplinar. O diagnéstico era freqitentemente realizado em conferéncias interdiscipli- nares ¢ 0 diagnéstico psiquidtrico era muito importante para 0 assistente social compreender 0 paciente ¢ suas necessidades, Por estas razdes 0 pensamento do Servic Social, como expresso em sua literatura e em seu ensino, enfatizava os aspectos psiquicos do problema e os proces” sos de prestar ajuda através do relacionamento profissio- nal direto com o individuo. Esta fol uma grande contri- buigdo para o Servigo Social de Casos ¢ o Servico Social entenderem 0 comportamento humano, mas sobrecarre- gavam bastante um dos aspectos do complexo pessoa- -ambiente com que os assistentes sociais estavam envol- vidos.® Retornemos, agora, para os primeiros campos da pré- tica; na década de 40, o desenvolvimento de dois campos orientados para 0 método — Servico Social de Grupo e Organizagao de Comunidade — expandia a pratica de Servigo Social para novas diregées. Estes diziam respeito nao somente a servigos prestados a grupos ¢ a comunida- des, mas também aos métodos relacionados especifica- mente na prestagao desses servicos. Nos anos 50, estes dois campos ainda estavam no estagio de definir seus in- terosses centrais ¢ seus conceitos.” 0 Servigo Social no campo correcional nao foi reconhe- cido como um campo da pratica, senao depois dos outros. Derkman, Tessie D. Praetive of Social Workers én psychiatric Hos pitals and Clinics. Nova York: American Association of Psychiatrie So- chal Workers, 1953, ‘Wilson, Gertrude v Gladys Ryland, Sect! Group Work Practice Cambridge, Mass: Riverside Press, 1949; « Commnnéty Organisations His Nature amd Setting. Nova York: American Associition of Social Works, 1947, © primelro livra foi tradurido pelo Service Seetal do Cir méveid (SESC), em 1961, seb o citulo de Praticn de Servign Suciat de Grupo A BASE Do Senvico soctaL 21 Na década de 50, através do apoio do U.S. Children’s Bu- reau e 0 Conselho de Formacao para 0 Servigo Social, a definigdo da pratica do Servigo Social em reeducagao progrediu rapidamente. Chegando, como chegou, num es- tagio posterior do desenvolvimento da profissao, 0 Servico Social em reeducagdo no teve que atravessar algumas das dores de crescimento dos campos mais velhos. Uma contribuicao particular foi dada por este campo para a. compreensao dos problemas de autoridade, da maneira como eram encarados, tanto pelos clientes, como pelos assistentes sociais." 0 Servigo Social em Bem-Estar Publico (ou Assisténcia Publica) as vezes tem sido descrito como um campo da prdatica, mas néo se tornou organizado isoladamente dentro da estrutura da profissao. Por causa de seu inte- resse em familias e em criangas, esta area da pratica foi incluida, mais freqiientemente, dentro dos campos de bem-estar da familia ¢ da crian Durante agueles primeiros tempos de trabalho em vé- rios campos, 1a pela década de 50, os assistentes sociais estudaram uma ampla série de problemas sociais. Aprenderam como os problemas afetavam os individuos ¢ as familias € como as préprias pessoas se sentiam ante as dificuldades. Os assistentes sociais adquiriam, também, experiéncia valiosa trabalhando particularmente com os membros de outras profissées e com a colaboragao que prestavam fis agéneias e aos programas dos quais patti cipavam. Os problemas eram vistos como caracteristicos de Areas especificas da pratica, tais como Bem-Estar Pt blico ou satide mental. A maneira de trabalhar com ou- tras pessoas e de contribuir nos programas de atividade era considerada como associar-se a determinadas insti- tuigdes. Estas idéias a respeito da pratica foram discuti- das na literatura ¢ no ensino, mas por raz6es que vere- ‘Studi, Elliot. Education for Sociul Workers in the Correctional Fields, Nova York: Counell on Social Work Education, 19 22 ARIE A, BARTLETT mos adiante ndo foram apresentadas como conceitos ou como conhecimento préprio ao Servigo Social om geral ¢ capazes de levar a uma visio integrada de sua pratica ‘Assim, a pratica de campos estava dirigindo o Servico Social para o desenvolvimento profissional, mas nao de uma maneira coordenada. A énfase nas diferencas entre as instituigdes, dentro das quais os assistentes sociais praticavam, continuou a ser um fator divisério. Num passo para compensar isto, PERLMAN apontou, em 1949, que os aspectos pretendidos pelos profissionais como ca- racteristica de uma ou de outra instituicdo, tais como tra- balho de equipe com outros profissionais, eram, na rea- Tidade, relevantes para todas as instituicdes. Enfatizava, assim, os aspectos genéricos das instituigdes.” Era uma idéia de integracdo titil, mas ndo suficientemente forte para superar a fragmentacao, por causa das limitagoes inerentes ao conceito da propria instituigao. O que os es- tagidrios daquele perfodo nao percebiam era que 0 con- ceito repousava em fatores externos & sua pratica — clementos da agéncia ou do programa — que, é verdade, modelavam seu trabalho de maneira importante, mas eram exteriores a ele, O que o Servige Social, particular- mente, necessitava era de uma abordagem de conceitua- ¢40 baseada nos elementos essenciais internos de sua propria pratica, indiferentemente ao lugar onde o assis- tente social praticasse. Agéncia e Profisséo A pritica do Servigo Social é caracteristicamente diri- gida as agéncias ¢ programas de satide e de bem-estar e nelas se completa. O assistente social tem sido um fun- cionario que opera em agencias especificas. Nesse tempo nao havia uma “pratica geral", no senfido que se en- "Perlman, Helen Haris. “Generke Aspects of Specitie Casework Sot lings”. Social Sercice Review, 23 (2): 293-301, setembro, 1949. A BASE DO stiawigD SOCIAL, 23 contra em algumas profissoes, embora recentemente uma pratica privada em ascensao se tenha desenvolvido, cujo foco ainda nao esta claramente definido. Como campos de pratica, as agéncias exerceram uma importante influéncia no desenvolvimento da pratica do Servigo Social e do crescimento da prefissao. As agéncias © 0s programas sao social e legalmente estruturadas para organizar, administrar e wansmitir servicgos e conseguir recursos pata as pessoas que deles necessitam ¢ que os desejam. O Servigo Social pode ser um dos servigos pro- fissionais assim oferecidos e, numa agéncia de bem- estar, pode ser o principal servico. Sob estas circunstan- cias, um assistente social profissional presta o principal servico € a profisséo de Servico Social determina e de- senvolve a competéncia necessdria em primeiro lugar. © apoio que a diretoria ¢ a administragao da agéncia dao para 0 Servieo Social é de importancia principal em relagdo contribuigdo que a profissao pode dar a socie~ dade. Quando administradas por assistentes sociais, as agéncias sociais continuamente lideram na extensao de servigos na comunidade ¢ na identificagao de novas ne- cessidades que exijam servigos suplementares. A colabo- racao entre as agéncias e as escolas no desenvolvimento da educagao para 0 Servigo Social tem sido um notavel aspecto desta profissao desde os primeiros tempos, O emprego de pessoal profissional, em nossa sociedade, pelas agéncias ¢ pelos programas tem sido crescente ¢ a pratica independente esta se reduzindo.® Uma razao para isto é 0 crescimento da especializacao, com 0 conse- qiiente aumento na pratica multidisciplinar. Traba- lhando inicialmente em agéncias, os assistentes sociais ficaram assim numa linha de tendéncia social geral. Di- versas conchusées gerais envolvem-se nesta pratica pro- ~*Freidson, Ehot, “The organization of Medical Practice”. fy Howard E, Freeman, Sol, Levine e Leo G. Reeder, orgs., Handbook of Medieul Sociology. Englewood Cliffs N. J-: Prentice-Hall, 1963, pp, 302-05. 24 HAnREe a RARTLET fissional dentro dos programas das ayéncias. O profissio- nal deve ser capaz de se relacionar com as agéncias de tal maneira que favorega seus propésitos sem perder sua propria identidade, Ha sempre tensao entre estas duas exigéncias." A teoria sociolégic’ ¢ a teoria da organiza- cdo rapidamente utilizam os conhecimentos que tém em vista o da natureza da estrutura e do comportamento em modernas organizagées complexas, VINTER discutiu estas conclusoes duma maneira esclarecedora, de como aparceen ua pratica do Servico Social. Ele mostra que, do ponto de vista da profissao, a agéncia como uma estru- tura burecratica nao pode permitir, aos profissionais, li- berdade suficiente para suas principais operacées, Do ponto de vista da agéncia, por outro lado, a liberdade exi- gida pelos profissionais pode confundir ¢ bloquear a exe- cugao de seus objetivos, ” Sem diivida, este aspecto do re- lacionamento agéncia-profissao exige estudo adicional Obseureeimento dos Conceitos da Prétien A tendéncia de perceber ¢ discutir a pratica do Servico Social em termos da pratica de agencia foi forte em toda a histéria do Servigo Social. Nos primeiros tempos, as agencias eram os aspectos mais proeminentes do campo do bem-estar social. A pratica de Servigo Social era até entao dificilmente visualizada como uma entidade. As agéncias eram reconhecidas pela comunidade e, assim, era por intermédio delas que 0s assistentes soc! tavam sua seguranga inicial ¢ sua identidade. Os conceitos de Bem-Estar Social, de agéncia social ¢ de Servigo Social, foram continuamente obseurecidos, Os jals encon- Barileit, Hareiet M, Soctal Work Prctice i the Hteuldh Field. Nowa York: National Association of Social Workers, 1961, py 47-60. Vinter, Robert D. "The Social Sireture al Service’. br Altied J Kahn, org. tssnes tn Amertewst Social Work, Nova Yark: Coluwabi tai versity Press, 1959, pp, 249-69: € Vinten, “Analysis af Treaemene Ors nizations”. Sacial Work, 8b: 415, julha, 196% 4 BASE 90 SENVICD SOCIAL 25 livros-texto de Servigo Social tratam de programas de agéncia e de pratica profissional, alternadamente. Os ar- tigos de jornais sobre Servigo Social freqiientemente sao portadores de titulos que sugerem a pratica de Servigo Social, mas 0 contetido oferecido se refere aos servicos das agéncias. Durante os primeiros 50 anos, a pesquisa sobre Servigo Social tratou amplamente de organizagao, estrutura e servigos das agéncias, incluindo processes como relatérios ¢ Estatistica, Nao foi senio no meio do século, quando os assistentes sociais se tornaram com- pletamente cénscios de sua prépria profisséo ¢ comega- ram a desenvolver uma percep¢ao compreensiva de sua pratica, que reconheceram sua prépria contribuigao como uma forga potencial na sociedade. 0 problema de fazer a distingao necessaria aparece mais claramente nos campos de bem-estar da famlia ¢ do menor. Na sociedade americana havia menos inicia- tiva em estabelecer agéncias de bem-estar do que em es- tabelecer agéncias de satide, de educagao e de correcdo penal. Nao havia programa de seguranga social e 0 bem-estar, como responsabilidade governamental, era mal visualizado. Portanto, foram organizadas agéncias yoluntarias de bem-estar para atender as diferentes ne- cessidades, No Bem-Fstar da Familia e do Menor, as or- ganizagées na compostas de agéncias-membros, assumiram a lideranga a fim de desenvolver objetivos & padrées de pratica, tanto para programas de agéncias como para pratica de assistentes sociais empregados nas agéncias,” Desde que parecia claro, naquele tempo, que todas estas atividades podiam ser consideradas como Servigo Social, nao parecia necessario fazer qualquer dis- tingdo entre agéncia ¢ profissao, "Ent 1911 as agéncias de familia formaram uma Federagiio — Asso: sage Nacional de Saciedades para Caridace Organizact — precursor a atval Associagan do Servigo a Familia da América. Era 1920, a Liga do Hen-Estar do Menor, da Amériea, fol hindada, 26 Manian a Bante Neste interim, outros assistentes sociais estavam pra- ticando em hospitais escolas, onde trabalhavam asso- ciados a outras profissoes em ambientes que ndo eram de Sexvigo Social. Desde que nao pediam formar associagdes estabelecidas numa agéncia formavam associagées pro- fissionais compostas por praticos individuais. Além disso, porque tinham de responder a pergunta sobre 0 que esta- vam trazendo que fosse novo e que representaria um acréscime ao programa em que estavam se integrando, cram forgados, desde u principiv, a concentrar-se sobre sua propria pratica profissional para avaliar e demons- trar sta contribuicao a toda agéncia, Embora 0 Servico Social de Casos fosse nitidamente considerado como um processo profissional no bem-estar da familia ¢ do menor continuava preso & agéncia, como pode-se observar na frase persistente: “Agencia de Ser- vigo Social de No Bem-Estar do Menor os ser os sempre foram prestados através de uma variedade de pessoas e de recursos, tais como: lares substitutos, Lares de adogao ¢ instituigées de menores. O Bem-Estar da Familia, com 0 passar do tempo, incluiu também servigos como os de dona de casa. Muitos destes servigos exam uma parte do programa de agéncia e eram supervisiona- dos pelo corpo de funciondrios do Servic Social, de tal modo que 0 limite entre a agéncia ¢ a pratica profissio- nal do Servigo Social nao era claro, Os artigos no Anudrio de Servico Social (publicado cada trés anos, desde 1929), descrevendo os diferentes campos, revelam as tendéncias do pensamento, da pro- fissio e da agéncia. No perfodo inicial, os artigos sobre Servigo Social Médico ¢ Psiquidtrico focalizavam a pra= tiea do assistente social, enquanto os artigos sobre 0 bem-estar da familia ¢ do menor focalizavam a agéncia e seu programa. No primeiro volume da Enciclopedia do Servico Social (que se seguiu ao anudrio de 1965), ha pela primeira vez uma discussao dos “aspectos profissio- AAAs bo SERIES SOCIAL, 27 nais” sobre o bem-estar do menor, mas o artigo sobre o Servigo Social da Familia continua a ser escrito segundo 0 ponto de vista de servicos prestados pela agéncia. A Es- cola de Servico Social fica entre estas duas abordagens, enfatizando a agéncia, mas sempre com alguma mengéo aos profissionais do Servigo Social e tendendo para uma. focaliza¢ao da pratica do Servigo Social. O campo de ser. vigos correcionais, que se desenvolveu lentamente, foi di- ferentemente descrito no Anudrio de Servico Social em termos de agéncia, até que um artigo, claramente, focali- zou a pratica de Servigo Social em Correcées Penais na Enciclopédia de Servico Social, em 1965." 0 insucesso dos primesros tempos, para distinguir entre © bem-estar social ¢ 0 Servigo Social aumentou a confu- sao. A formagao do Conselho para a Educagao em Ser- vigo Social e a Associago Nacional de Assistentes So- ciais (NASW), na década de 1950, contribuiu para am- pliar a visibilidade da profissao do Servigo Social. Na- quele tempo, a Conferéncia Nacional de Servigo Social minagao para o de Conferéncia Nacional tar Social, reconhecendo que sua esfera mudou sua den sobre 0 Bem- de ago era mais ampla que 0 Servigo Social Distinguindo Agéncia e Profissao Ao nivel da pratica individual, os assistentes sociais sao orientados, de muitas maneiras préprias, pelos pro- gramas ¢ pela politica das agénelas em que estado traba- Ihando. Nao sao, porém, estimulados a examinar a con- tribuic¢de de sua profissao, ao ponto das agéncias e pro- gramas perceberam claramente a profissdo como uma "Wer Turity, Zitha 2 © Rebecea Smith. “Child Welfare”, pp. 137-45; Clark W, Blackburn, “amily: Social Work” pp. 219-25; ¢ Eliot Stadt “Correctional Services (Soeial work practice in), pp. 21925. Luceto pedi af Social Work Nova York: National Association of Social Wor ers, 1965, 28 HARKETE % BaRELEDT instituigao social independente, que tem a responsabili- dade de definir seus préprios objetivos, seu contetdo ¢ seus padrdes. Na opiniao da autora, 0 insucesso para fazer a distingao entre agencia e profissao tem sido um ‘obstaculo importante para o esclarecimento da pratica profissional. Como 0 movimento em diregao a integragéo da profis- sao do Servigo Social prosseguiu, muitos assistentes so- ciais se tornaram conscientes de que a profissao possui forcas que faltam as agéncias. As agéncias sao restritas em relagao ao planejamento de programa e prestacao de servico, devido a seu isolamento e inflexibilidade. A des- peito dos anos de esforgos, através dos Conselhos de Co- munidade, 0 progresso para a coordenagao dos progra- mas de agéncias é limitado e nao se alinhou com as espe- rangas ¢ expectativas iniciais. Muitas vezes as agéncias resistiram As mudancas. Os hiatos nos servigos de comu- nidades persistiram e até mesmo pareceram aumentar, a despeito do esforgo persistente para expandir os servicos da agencia, quando necessérios. A profissdo do Servico Social tem uma esfera de ago do tamanho da nagao. Por um lado, tem maior continui- dade e consisténcia e, por outro lado, maior flexibilidade do que se encontra num grupe de agéneias da_comuni- dade. Assim, ha a possibilidade de que & profissie possa, no longo percurso, ter maior impacto sobre a necessidade social ¢ sobre a mudanga social do que as agéncias. Um dos problemas sobre os quais voltaremos a trai a questa de como 0 assistente social pode estar cons- ciente e ser mais eficiente ao dar a contribuigao essencial A sua profissao, se estiver operando numa agéncia tradi: cional ou em alguma outra posicdo em programas que surgem diariamente. A despeito do firme esclarecimento persiste a confusao sobre as agéncias ¢ a pratica de Ser- A nase po stieico Soca, 29 vica Social. Discutindo e escrevendo a respeito de Sex vigo Social, os assistentes sociais continuam a se dirigir da agéncia para a pratica profissional, voltando outra vex para agéncia, sem reconhecer as diferengas entre elas ou sem identificar as caracteristicas ¢ as responsabilidades de cada uma. A profissao e as agéncias, juntas, deveriam ser capazes de oferecer uma resposta flexivel e adequada para as necessidades da sociedade, mas isto requer que os assis- tentes sociais reconhegam como suas proprias fungées & responsabilidades se relacionam com as das agéncias, re- conhecendo também aquelas que se distinguem das ag clas. Um Modelo da Pratica Baseado em Métodos e Técnicas ‘A prdtica em campos separados ¢ a pratica em agén- cias estavam entre as primeiras influéncias que modela- ram 0 creseimento da profissao. Ainda mais importantes, mas se desenvolvendo a passo um tanto mais lento, foram as préprias percepgées dos assistentes socials, em relagao & natureza profissional de sua pratica ¢ a ma- neira pela qual definiam estas percepeoes. ‘As primeiras diregées que provaram sex teis na com tmucao da pratica profissional desenvolveram-se a partir Gos dois tpos de Servigu Social. a reforma social ¢ © ser vigo familiar. Nas décadas de 20 e 30, 0 trabalho com grupos ¢ com problemas de comunidade desenvolvia-se como uma atividade do Servigo Social, mas s6 mais tarde atingiu a formulagao profissional. Uma pergunta interes: sante é porque os conceitos de ciéncia social concernen- tes aos relacionamentos sociais nao tiveram maior in- fluéncia nos primérdios do servigo soctal. Naquele tempo, "Wade, Alan D. “The Sacial Worker in the Political Process", The So- cial Welfure Forum, 1966, Nova York: Cohimbia University Press, 1966, pp. 58.9, " 30 HARKIETE mM BanrLrT 08 socidlogos, como SIMMEL © CooLEY, pressentiam vigo- r0s0 corpo de teoria no proceso social, na comunicagao, na lideranga_¢ no conflito— teoria que foi relevante para todos os assistentes sociais e particularmente para aque- les engajados em trabalhos de grupos ¢ de comunidade.” Mas, nesse tempo, os assistentes sociais estavam come- ¢ando a introduzir a atmosfera académica como profes- sores, ¢ principais contactos interdisciplinares ndo foram com cientistas sociais mas com outros profissionais. Foi 0 trabalho com individuos, mais que a ago comu nitaria, que primeiro avangou em direcao a formulacao profissional, aparentemente porque 08 modelos visiveis & as teorias satisfatorias eram prontamente acessiveis. A formulacao pioneira sobre o Servico Social de Casos, de Mary RICHMOND, apresenta duas importantes profissdes, para seus temas centrais: 0 conceito de diagnéstico social da Medicina; 0 conceito de evidencia social, do Direito. Posteriormente, a Medicina forneceu 0 modelo clinico, que abrange 0 estudo, o diagnéstico ¢ 0 tratamento.” A formulagao de RICHMOND, geralmente, 6 vista como a primeira afirmagao autorizada sobre Servico Social que comecou a deitar o fundamento teérico para a profissio. E importante entender melhor como as varias forcas © as varias influéncias operaram neste perfodo de forma- ao. A andlise de RICHMOND dirigiu a atengdo para um modelo clinico de pratica. Logo apis, a Pequiatria Psica- nalitica ofereceu um corpo de teoria que os assistentes sociais imediatamente acharam itil. Seu interesse na personalidade individual e sua base terapéutica foram particularmente significativos como um processo de ajuda, em relacdo ao Servigo Social de Casos, A énfase "Simmel, Georg. Sociologie. Leipzig, Germany: Duncker & Humber, 1908; ¢ Charles H, Cooley. Social Proves. Nova York: Charles Serihy ex's Sons, 1918, Richmond, Mary E. Suciat Diagnosis. Nova York: Russell Saye Foundation, 1917. Traduvido por Paria, José Alberta de, en Lisbon 1950, sob o titulo Diagwostico Socket Santo 1 do Es Instituto Educacion A DASE bo senviCo s0¢t8 a nas emogées dirigiu a atengéo para os aspectos psiquicos do desajustamento social. Desde que os assistentes so- ciais dependem, principalmente, de seu contato directo ¢ de seu relacionamento com outras pessoas para conse- guir resultados, a nova teoria ofereceu ulterior concep¢ao através de seus conceitos de transferéncia e do papel do terapeuta. O fato de que os assistentes sociais exerciam sua atividade, cada vez mais, em colaboracae com psi- quiatras, proporcionou a oportunidade para atuagao constante da teoria ¢ reforcou esta tendéncia no pensa- mento do Servigo Social © modelo psiquidtrico, por sua vez, reforgou o modelo médico, com sua énfase no tratamento. Fol uma aborda- gem terapéutica. O objetivo do Servico Social de ajudar pessoas chegou, deste modo, a ser reconhecido como um. processo de tratamento que opera através do relaciona- mento cliente-assistente social. Desde que 0 Servigo So- cial nao tinha categorias de doencas como a Medicina e a Psiquiatria, 0 diagndstico em Servigo Social de Casos era dirigido para a compreensao do cliente individual e de seu problema. Assim se esperava que cada assistente so- cial desenvolvesse uma atitude de aceitacao, de toleran- cia ¢ de cordialidade para com seus clientes. Fle olharia 08 sentimentos, os ideais 0 ponte de vista individual do iente como sendo de importancia fundamental e faria todo esforgo para entendé-los, © assistente social se em- penharia em ajudar o cliente a resolver suas dificuldades € a solucionar seus problemas tanto quanto possivel, a sua propria maneira, Trabalharia com o cliente como um’ ser humano tinico. Portanto, para atingir tais objetivos, tornava-se neces- sario ao assistente social estar consciente de seus pré- prios preconceitos emocionais ¢ 0 meio pelo qual pode- riam bloquear ou desviar seus esforgos para ajudar. Pre- cisaria de ser capaz de desenvolver um relacionamento profissional com as pessoas a serem ajudadas, através do 32 AKMETE m BANTER qual poderiam receber apoio sem sérem dominadas ou conduzidas a uma dependéncia impropria, de tal modo que poderiam, dirigir-se para o reconhecimento ¢ para 0 uso de suas préprias forgas. Esta abordagem foi, entao, transferida para 0 processo educacional. Assim, tal como era necessario para o assistente social individualizar 0 cliente, tornou-se necessario para 0 professor ¢ para 0 su- pervisor individualizar o estudante do Servigo Social ou 0 Jovem profissional, de tal modo que pudesse desenvolver : autodisciplina exigida para incorporar estas atimdes ¢ técnicas essenciais ao seu ew profissional. A aprendiza gem era compreendida, antes de tudo, como se reali- zando através de experiéncia supervisionada. Isto condu- ziv para o desenvolvimento do trabalho de campo ¢ da superviséo como novos procedimentos profissionais. As sim, 0 método de Servico Social de Caso ¢ a Supervisio tornaram-se os principais canais do ensino ¢ da aprendi- zagem. Como 0 Servigo Social de Casos evoluiu, a percepgao dos assistentes sociais tornou-se definida em diregoes que demonstraram ser importantes para toda a profissao. Uma delas era o desenvolvimento de intimeras idélas que se tornaram 05 conceitos centrais do ensino e da pratica, Estas idéias eram a antodeterminagao do cliente, a acei- tucdo do cliente pelo assistente social, 0 relacionamento cliente-ussistente social © & autoconciéneia do assis- tente social. Estes temas se difundiram além do Servigo Social de Casos e, de uma ou outra forma, tornaram-se caracteristicos de toda a pratica de Servico Social. Em toda a extensao desta monografia estard sempre presente a importancia destes prineipios para a profissao. Uma outra diregdo em que as percepgées peculiares ao pensamento do Servigo Social estavam se desenvolvendo foi em relacao ao conceito de método. Isto parece ter sur- gido originalmente das percepcdes dos assistentes sociais em relacdo a sua maneira de ajudar as pessoas. Na Me- 10 SERVIED SOCIAL 33 dicina, todos os médicos usavam a mesma abordagem diagnéstica, qualquer que fosse o problema, fosse de doenga ou fosse de satide, Entretanto, os assistentes so- ciais individualizavam sua abordagem, porque lidando com pessoas que tinham problemas, procuravam com- preender o cliente como um individuo ¢ entender que 0 problema significava para ele. A unicidade do individu era enfatizada. A consciéneia do assistente social de seus proprios sentimentos, a sua sensibilidade para com os sentimentos do cliente ¢ a oferta de ajuda por meio do relacionamento tornaram-se temas predominantes Uma abordagem diagnéstica e técnica de tatamento que envolvessem a compreensao ¢ 0 trabalho com um in- dividuo tnico, obviamente 86 poderia ser relevante para 0 Servigo Social de Casos. Enquanto a teoria da personali- dade estava sendo ensinada para todos os assistentes so- ciais, 0 conhecimento particular exigido e usado para en- tender e ajudar as pessoas sob tensao — tendo em vista seus sentimentos na busca de auxilio, 0 uso que faz do auxilio ¢ outros aspectos similares — era compreendido como um componente do Servico Social de Casos ¢ incor- porado ao método, no momento em que as atitudes ¢ as téenic Deu-se grande importaneia ao reconheceu-se menos o “pensar & conhecer”. ‘Quando ov assistentes sociais de um srnpo 6 o8 a tentes sociais de organizacao de comunidade comegaram a se dirigir para a formulacao de seus principios da pra- tiea voltaram-se para as ciéncias sociais, em busea de conceitos e de teorias, porque, por esta época, outras dis- ciplinas — particularmente a Sociologia, a Psicologia So- cial e a Antropologia — desenvolveram teorias imediata- mente aproveitaveis pelo Servigo Social. Os assistentes sociais de grupo e os assistentes sociais de organizagao de comunidade selecionaram algumas destas tcorias, tais como a teoria relacionada com o processo de grupo ¢ com Ss essenciais cram incorporadas no estudante e, sentir e agir’ 34 HARRIETT M RARELETY as forgas da comunidade e as aplicaiam om sua propria pratica. Ae contrario dos assistentes sociais de casos, que tratavam primordialmente com problemas de desajusta- mento, os assistentes sociais de grupo visualizaram-se como situagées antes que a patologia aparecesse ¢ fica ram bastante interessados em promover 0 eresclmento Positive dos membros do grupo (por ex., oferecendo servi Gos recreativos para adolescentes ¢ preparando os imi- grantes para a participagao em uma sociedade democra- tica), Por sua parle, us assistentes socials da organiza a0 de comunidade, em seus esforcos para coordenar ser- vigos © programas sociais, encaravam a comunidade como um todo. Estas extensdes do conhecimento, o inte- resse pela contribui¢ao positiva de Servigo Social ¢ a ampla percepgio do esforgo foram todos relevantes ¢ ne- cessarios para a pratica crescente da profissao. Chegando & formulagao mais tardiamente que no Ser. vico Social de Casos, os assistentes sociais em Servico Social de Grupo ¢ da Organizagao da Comunidade tive- ram uma oportumidade para dirigir profissao para ma- nelras integrativas de pensamento, Talvez, pudesse té-lo feito através da identificagao de algum aspecto comum 20 comportamento humano ¢ aos problemas sociais em que todos os assistentes sociais estavam interessados e mostrando como isto poderia se tornar parte de um corpo comum de conhecimento para a profissio. Mas em vez disso seguiram 0 modelo do Servigo Social de Casos € deram primazia & maneira de trabalhar com pessoas — a abordagem metodolégica. Este fato dividia a pratica em tres métodes focalizados nos individnos, nos grupos ¢ nas comunidades. O conhecimento para cada método foi também dividido ¢ usado separadamente. Os estudantes aprendiam em seqiténcias separadas, tanto nas escolas como nos diferentes tipos de atividade. Assim o conceito de método do Servigo Social desenvolveu-se, conside- rando esse método o que incorpora sua prépria aborda- A BABE DO SERCO SOCIAL 35 gem diagnéstica, seu conjunto de conhecimento e seus meios de trabalhar com as pessoas." Sob estas circuns- tancias, uma abordagem diagnéstica basica, para todos 0s assistentes sociais, nao poderia ser formulada. Além disso, nenhum corpo visivel de conhecimento estava sendo construfdo. Muito conhecimento estava subordinando-se ao método, ao invés de ser ensinado como conhecimento de Servico Social, geral para a pro- fissio, aplicavel conforme a necessidade e apropriado em qualquer fase de pratica especifica. No momento em que os campos separados da pratica produziram a fragmen- taco, também os trés métodos separados tenderam a li- mitar ¢ 4 manter 0 pensamento do Servigo Social dentro das barreiras de suas respectivas abordagens. Pode-se ver, agora, que 0 que estava se desenvolvendo era um modelo para a prética do Servigo Social baseado em método e em técnicas." Isto nao se desenvolveu deli- berada e conscientemente como um modelo, mas se tor- nou, realmente, um modelo no sentido de que estava moldando as pereepgdes de pratica dos astistentes so- clais, através da definigho de um foco e estabelecendo limites para seu pensamento. O principal interesse era com © assistente social especializado © com os métodos que usaria; em outras palavras, um modelo de metodo Servign Saci téenicn. Nao ostava cont “Gordon, Willam E. “Preliminary Report on Social Wark Methods" Nova York: Nesw Commission ow Practice, saxgo, 21-23, 1065. (Mt: seca) Dr. Ganon era no epost o prides Subcamisao da Definigho Operacional. O teatro diz="O métoo de Servigo Soctal & : ff a de assistentes sociais, incluindo valor, conhect- usadlo ‘pela maioh mento € abjetivos associados com 0 métoco' a "O termo modelo é aqui sade de acordo com as sexsintes definigdes lo Nove Diviondrio futernactonal da Webster, Springfield, Mass: G, Merriam Co., 1961, p. 1451: “... 14.°: uma descri¢ao, uma colecao de dados estatisiicos ott uma analogia usada para ajudar a visualizar, mul tas veres, mum meio simplifieads, alguma coisa que nao possa see dine tamente observada (como win lomo) eb: una projegse tedrica, sem detathe, de wm possivel sistema de relacionamentos humanos (coma em Eeonomis, Policies ot) Psicologia) 36 MARKET at BARTLET sos, mas foi também seguido pelo Servico Social de Grupo © pela Organizagao de Comunidade. Reconheceriamos as forgas deste modelo. Surgiu de um esforco altamente responsayel para atender as necessi- dades das pessoas, Produziu um profissional sensivel ¢ especializado e um importante grupo de conceitos em re- lagao & contribuigéo do Servico Social para com os clien- tes, Vimos como as qualidades ¢ as habilidades a serem incorporadas ao tabalhador individualmente — tais coma respeita pelas pessoas, cordialidade, aceitagao, o:- forco para entender seus problemas, autoconsciéncia ¢ re- lacionamento profissional disciplinado — tornaram-se ca- racteristicas ideais da profissao em geral. O método da supervisao foi surpreendentemente bem sucedido ao pro- duzié um profissional sensivel as necessidades ¢ aos sen- timentos daqueles que estavam sendo auxiliados (seja individuais ou em grupos) e especializado em ajudar. Os assistentes sociais prezam, devidamente, este aspecto de sua pratica. Como a profissdo se amplia ¢ cresce, estas caracteristicas nao seriam perdidas, pois que egtéo no mage do Servi¢o Social como um proceso de auxilio. 3 BARREIRAS AO PENSAMENTO INTEGRATIVO © primeiro passo na solugdo de um problema é reconhecé-lo, Em conseqiiéncia, tendo discutide as per- cepcées dos assistentes sociais sobre sua pratica, parece importante, neste ponto da discussao, atentar para iden- tificar alguns dos aspectos do pensamento do Servigo So- cial que retardaram seu crescimento como uma profissao e que representam riscos para‘ futuro. © reconheci- mento destas limitagdes ¢ lacunas fornecerao uma foca- lizagdo mais clara sobre os aspectos positives da contri- bui¢ao dada pela profissdo, Duas caracteristicas do pensamento dos assistentes so- ciais sobre sua pratica — ambas consequencia da pratica tradicional — tém um significado particular. Uma é a preocupagao primordial com as habilidades ¢ com 0 mé- todo ¢ a outra é a énfase colocada no “sentir ¢ air”, em 38 HARRIETT 9) BARTLETT oposigao ao “pensar e conhecer". Todas as profissées tem métodos distintos ou meios de transmitir sua experiéncia Para as profissées de ajuda, ligar sentimentos e agao pa. rece apropriado. A maneira pela qual estes modos de pensar sao usados, a énfase com que sao utilizados e de que forma esto relacionados aos elementos essenciais da profissao, ¢ que torna o ponto crucial, Atitudes Antitntelectuais Comenta-se consideravel- mente, nos tltimos anos a atitude antimtelectual que tem existido e que permanece forte no Servico Social. As origens desta atitude sao complexas © profundas porque parecem estar emaranhadas com algumas das forgas & das caracteristicas basicas da profissao. Talvez a razio dominante tenha sido a focalizagao sobre o individuo — seu valor, sua dignidade, seus sentimentos ¢ seu crese mento. Como ja indicado anteriormente, a unicidade do individuo tem-se mantido fortemente através de toda a histéria do Servigo Social. Tem havide resisténcia para “quebra-la em pedagos” através de toda a espécie de ana- lise cientifica. “O assistente social se relaciona com a to- talidade da pessoa ¢ ela tem que ser sentida em sua total integridade. Desta forma, encontra-se no ensino ¢ na lite- ratura uma tendéncia que foi predominante durante um_ longo periodo, ou seja, a dependéncia a um cinico caso como uma maneira de compreender e de aprender." Ca- racteristicamente, 0 caso era apresentado primeiro, se- guido de andlise tedrica. Que a generalizagio nao pode advir de um tinico modelo, nao parece afetar este padrae de pensamento. Para o assistente social, a realidade era 0 caso tinico que demonstrava a habilidade do assistente no trabalho com um Unico individu, O que se conhece © se entende de experiéncia profissional, pressentiu-se emergir melhor através de tais exemplos exaustivamente descritos. Como aconteceu com o conceito de relaciona- "Perlman, Heln Harris. The Charge to the Cusewark Sequence. So: ial Work. Nova York: 9 (3): 47-55, jualin 1904 A past Do si¥IgD SOCIAL 39 mento, 0s assistentes sociais se comunicavam uns com os outros ¢ alcangavam um senso de comunidade através de fais discussoes intensas de sua propria pratica, mas 0 desenvolvimento da teoria era adiado porque a generali- zagao nao era possivel Sob estas circunstancias, opde-se resisténcia a uma ri- gerosa abordagem intelectual associada ao pensamento cientifico, seja consciente ou inconscientemente. Percebe-se isto, por um lado, como uma ameaga para a unicidade do individuo. Por outro lado, desde que parega frio © impessoal, percebe-se como uma ameaca para a habilidade do assistente social, para a sensibilidade e para o clemento artistic, que sao vistos como muito im- portantes no Servigo Social. A orientagao psiquiditrica de muitos assistentes sociais, com énfase na compreensao dos aspectos irracionais do comportamento — provavelmente favoreceu a atitude antiintelectual. Assim, para alguns tentes socials, as abordagens intelectuais diretas para compreender as pessoas © com elas trabalharem, podem ser rejeitadas com 0 termo depreciative “intelectualizagao” Resistencia & Abordagem Deditiva. Barreitas para o pensamento do servigo social também aparecem sob a forma de resisténcia a quadros de referéncia e a generali- zagoes sobre a pratica do Servigo Social. Tais tentativas para analisar e para descrever a experiéncia parecem dar, a muitos assistentes sociais, a sensagao de serem impostores, dominadores e artificiais. Suspeita-se da abordagem dedutiva. Considerande o exame da pratica, 0s assistentes sociais freqiientemente afirmam que pre- feririam comecar com alguma pratica familiar a eles e, nao se envolver em hipoteses globais ou em quadros am- plos de referéncia que abranjam elementos essenciais de sua pratica. Uma critica literria em Science, cita Co- NANT a respeito deste assunto, 40 HARRIETT M BaReLER “Certamente ha dois modos de pensamento © tal vez, mais gue dois, mas nenhum dos maiores cien- tistas © inyentores, ou mesmo fildsofos, tem sido sempre exclusivamente indutives ou dedutivos Ambas as abordagens sao necessarias, mas é preciso haver alguma espécie de cquilibrio significativo entre as duas.”* Muitos assistentes sociais pensam que, 86 por se apro- ximarem da realidade, podem, de algum mudo, aprender e atuar melhor. A pratica de colocar estudantes em tra- balho de campo, tao logo entram na escola, se baseia na suposigéio de que aprenderao através de sua “real” expe- riéncia, Nao se reconhece que a realidade mesma é um caos de detalhes, que somente fatos e experiéncia nunca revelardo seu sentido proprio ¢ que é somente quando o homem ordena a experiéncia através de seu proprio pen- samento que a compreensio se torna possivel, CONANT explica a relagao entre fatos e conceitos do seguinte modo: “A experiéncia de um nove conceite nao é somenie a economia © a simplicidade com as quais ela pode adaptar observagées conhecidas, mas a sua fertili- dade. A Ciéncia tem uma qualidade di quando vista nao como um empreendimento pratico, mas como um processo de desenvolver esquemas conceituais. A Ciéneia avanca, nao pela acumulagao de novos fatos (um process que pode até, concebi- velmente, retardar @ progresso cientifico, mas pelo desenvolvimento continuo de noves ¢ férteis concei- tos... A historia mostra que s6 por um desenvolvi- "MacLeod, Robert B. “Science and Education", artigo de Jumes Bryant Conant. Two Modes of Thought: My Encounters with Sevier and Education, Nova York, Trident Press, 1964. 1) Selence, 118. (8674): 1207, maio 24, 1965. | BASE nO SERVIC SoCtAL 41 mento continuo de Ciéncia Pura podem as Artes Prdticas, incluindo a Medicina, progredir.”” Ainda, apesar da resisténcia a abordagem dedutiva, os assistentes sociais tém mostrado demasiada confianga em limitados feixes de teoria. Além disso, ainda que haja resistencia ao esquadrinhamento cientifico, como uma, ameaga & individualizagao, mostrou-se que a capacidade de profissionais para individualizar 6, com freqiiéncia, positivamente limitada, ¢ os esteredtipos podem ser acei- tos com muita facilidade no diagnéstico de caso.’ Uma observacdo interessante, que precisa de melhor entendi- mento, é que os assistentes sociais tém estado mais dis- postos a aceitar a teoria de outras disciplinas que a sub- meter sua propria experiéncia & analise mais rigorosa. Abuso da Abordagem Democratica. Um outro fator que retardou 0 avango teérico foi um abuso da abordagem democratica que caracteriza — e algumas vezes mesmo oprime — a profissio, Esta atitude enfatiza a liberdade daquele que se engaja na meditagao dos assuntos profi- sionais de prosseguir na direcao de seu proprio interesse pessoal. Tal liberdade, muito freqientemente, impede o exame cuidadoso de sugestoes férteis ¢ leva A dispersio de idéias. Linhas de avango, potencialmente promisso- ras sdo assim afastadas, porque grupos profissionais ou comissdes nao reconhecem a responsabilidade deles para desenvolver e para continuar a a¢ao no desenvolvimento da teoria ¢ na elaboracao de conhecimento anteriormente feitos, Cada grupo que dar nova partida. Infelizmente, esta tendéncia desvaloriza e ignora a necessidade de pensar, por um perfode suficientemente longo, para reve- Conant, Jaumes Bryant. “The Seientist in our Unique Society". ke Atlentic. 181 (3): 48, maxco, 1948. Shanshel, David, "Sourses of Strain in Practiee-orionted Research’ Soci Casework, Nova York, 47 (6): 357-62, junhe, 1966; © Alfred Ka dushin, “Diagnosis and Evalwation for (Almost) All Ocasions". Sociat Work, 8 (1): 12-9, janeiro, 1963, 42 Aner waREEAeT Jar resultados, para que haja contimiidade e consisténcia de pensamento. Os pesquisadores nao parecem experi- mentar as descobertas mtituas, como é habitual em ou- tras profissées. A contribuicdo imaginativa do individuo é enfatizada & custa do desenvolvimento do corpo da pro- fissdo. Abordagens Atuais da Agdo Social. © aumento dos problemas sociais esta atualmente produzindo um outro tipo de énfase, no “sentir e agix”, que se encontra na agéo social ¢ que esté tendo uma erescente influéncia. © tipo de acdo social, que € primordialmente dirigido para os di- reitos humanos ¢ para a acao imediata, em vez de plane- jamento social, esta embuido de grande emogao. Tende a usar métodos e medidas baseados na pressdo ¢ no poder de inimeras pessoas, ¢ a desvalorizar — ¢ algumas vezes a rejeitar — 0 conhecimento ¢ a pericia da profissao. En- quanto muitas das abordagens iniciais da pratica do Ser- vigo Social acentuavam o “sentir e agir” de tal modo como que a produzir um tipo de pensamento fragmentado € restrito, esta abordagem pessoal de agao social emprega uma nova combinagao de “sentir e agir” que tende na direcao de uma atividade que se espalha amplamente, na qual alguns dos elementos essenciais da profissao, parti cularmente seu conhecimento, poderiam perder-se. Abordagens Parciais e Subprodutos Involuntarios Uma concentragao constante em fases parciais da pra- tica de uma profissao, sem esforgo igualmente firme para desenvolver ¢ para sustentar vinculos com o resto da pra- tica, pode produzir resultados involuntarios, que podem permanecer latentes por considerdveis periodos, antes de A BASE D0 SERVICO SOCIAL 43 serem reconhecidos.* Quando os assistentes sociais en- travam em uma nova agéncia ou organizagao e depois em alguma outra, ficavam impressionados com a neces- sidade de encontrar um lugar apropriado dentro de cada Programa. A literatura voltada para os varios campos de pratica discute a natureza especializada do trabalho e as adaptagées que os assistentes sociais precisam fazer para 4 pratica especifica. A colocacéo, as caracteristicas dos problemas sociais ¢ as fungées especificas dos assistentes sociais sao normalmente descritas, mas o que osté sonde adaptado nao é esclarecido.' & aparentemente o que os assistentes sociais aprenderam nas Escolas de Servigo Social ou alguns conceitos gerais de Servico Social e de sua pratica. Desde que estas suposigées nao se tornaram explicitas, falharam em prover uma base firme para a operagao dos assistentes sociais em organizagoes particu- lares. Sob estas circunst os assistentes sociais em. Pregados em complexas instituigdes como escolas ou hospitais, to envolvidos pelo simples fato de ajudar individuos a lidar com necessidades e com proce- dimentos confuses, que se desviam de sua responsabi- lidade de Servigo Social — aquela de ajudar em casos de problemas psicossociais mais significativos. Outros, em colacagées que nao tem relagdo com Servigo Social, algumas vezes vém a identific ceitos ¢ metas de outros grupos profissionais, como a Me- dicina ou a Psiquiatria, mais fortemente que com os de sua prépria profissdo. Ainda outros assistentes sociais esto de tal modo estabelecidos que tém dificuldade de conservar-se em estreito contato com as pessoas a quem servem. Os assistentes sociais de grupo tém um problema mith, Elliott Dunlap. “Réucation and the ‘Task of Maleing Social Work Professional”. Social Service Review, 31 (1); 1-10, marco, 1997, “Ver as reforéncias sobre os campos da pritica, natas de redape capitulo 1, deste I aa, HARRY? Mm BARTLETT especial pelo fato de que freqientemente supervisionam grupos destreinados de lideres e, assim, tém relativa- mente pouce contato direto com os membros do grupo. Os assistentes sociais em organizagao de comunidade, que trabalham principalmente com os programas de agen- cias, podem ter pouca oportunidade de contato direto com as pessoas que tém problemas. Em todas estas circuns- tancias, a complexa estrutura da situagao requer que os assistentes sociais tenham um conceito claro de sua pré- pria contribuicao profissional, se nao quiscrom scr expul- sos de sua propria base pelas pressdes externas ¢ pelas forcas latentes que operam nesses ambientes. Os periges especiais para o Servigo Social resultaram da énfase no método e na habilidade descritos anterior- mente. As operagdes técnicas ¢ habilidosas tendem a tornar-se mais eficientes quando se dirigem para melhor entendimento — e assim sao mais restritamente defini- das — dos problemas e das situagées. Profissionais expe- rimentam maior satisfag4o e seguranga no tratamento de um problema manejavel; portanto, podem inconsciente- mente aplicar primeiro a técnica “bem sucedida" e de- pols buscar situagées que convenham ao método.’ Even- tualmente, isto pode conduzir (e tem conduzido) a um desvio do interesse pelas pessoas necessitadas ou de valo- res do Servicgo Social, que esta em um estagio em que a perspectiva se encontra, ainda, relativamente mdefinida. Os assistentes sociais profissionais, especializados em casos, em grupos ou em organizagao de comunidade, estado necessariamente em posigao de oferecer seu mé- todo tinico, como sua competéncia. Isto os leva a procu- rar pessoas para ajudar, que podem usar seu tipo particu- lar de servigo. Isto produz, em troca, uma situagao na qual os candidatos sao aceitos ou rejeitados por uma ahn, Alfred J, “The Funedion of Social Work in the Modern World Ine Kahny org. Isstees 1 American Social Work, Nova York: Columbia University Press, 1959, pp. 68, A BASH DO SERVICO SoCTAL 45 agéncia, segundo se enquadrem ou nao ao padrao rigoro- samente tracado de clientes que podem ser ajudados pela técnica ou pelo método particular ou, quando aceitos, os clientes s6 podem receber o tratamento mais pertinente para os problemas dos clientes. Os assistentes sociais podem ficar frustrades quando suas técnicas nao sao usadas, como quando clientes “errados” recorrem a agéncias ou quando os médicos fazem “pobres” referén- cias aos assistentes sociais médicos ou psiquiatras nas agéncias de satide, Durante 0 perfodo em que 0 aconse Thamento intensivo, através de entrevistas de gabinete, cra enfatizado, os assistentes sociais de casos procura- vam clientes que podiam definir seus problemas ¢ que possuiam suficiente forea do ego para fazer uso constru- tivo do relacionamento cliente-assistente social. As listas de espera, exigidas por causa da lentidao do método, tornaram-se uma barreira para os clientes que procura vam ajuda. A duragao e a continuidade de um caso vie- ram a ser valorizadas por si mesmas, enquanto os conta- tos breves foram desvalorizados. Sob estas circunstan- cias, 0 cliente tinha que se conformar com um programa da organizacao rigorosamente definido, que tendia a ser- vir decrescente ntimero de individuos em face de uma populagao creseente ¢ de necessidades socioeconomicas que aumentavam, Foi esta pratica que levou a critica dos assistentes sociais ¢ das agéncias, como rigidos ¢ aliena: dos daqueles necessitados de ajuda, particularmente do pobre que nao sabia expressar-se.” As téenicas desenvolvidas através das primeiras teorias psicanaliticas capacitaram os assistentes sociais a seguir os sentimentos dos clientes ¢ a lidar com elementos de transferéncia no relacionamento profissional, sendo, as- sim, titil para os clientes emoctonalmente perturbados. O ‘Perlman, Robert ¢ David Jones, Neighborhood Service Centers Washington, D.C: U.S. Department of Health, Eduedtion & Welfare, 1967, po 416 HARAIEOT My, maRzcere reconhecimento dos aspectos irracionais e inconscientes do comportamento humano foi uma influéncia muito im- portante na pratica do Servi¢o Social, capacitando os as- sistentes sociais a aceitar 0 dependente, 0 hostil ¢ os o- tros tipos de comportamento “problema”, andar devagar, a trabalhar compreensivamente com as pessoas e a nao esperar muito por resultados. Houve satisfagao em ob- servar como a teoria realmente esclareceu o comporta- mento de tantos dos individuos que procuraram auxilio ase meupceblersae wreskoaia 101s ne Glialagetdarorare tacao infantil, as agéncias de familia ¢ outras entidades de satide e de bem-estar. “Tal diagndstico envolve a avaliagao de motivos de uma outra pessoa ¢ a identificagao dos elementos no seu com- portamento, como as defesas das quais ela nao tem consciéncia, colocando assim, inevitavelmente, 0 profis- sional em uma posigao de superioridade. Todavia, resul- tados involuntarios podem ocorrer em tal situagao. Quando 08 clientes sao rotulados de “regressivos” ou de “infantis”, 0 calor do relacionamento cliente-assistente social se dilui. Quando os assistentes sociais comegaram ‘a pesquisar sobre 0 problema “real” que se esconde sob as simples dificuldades que se apresentam com tanta freqiiencia nas primeiras entrevistas, alguns clientes sentiram esta resposta como insensivel as suas necossi dades nao yoltaram, Aqui havia um corpo de teoria de brilhantes “insights” que ofereciam ao homem a primeira grande oportunidade na historia para abrir caminho para uma compreensao dos até agora ocultos mistérios de seu proprio comporta- mento. Era, entretanto, teoria limitada no sentido de que tratava, principalmente, com os aspectos psiquicos de comportamento e era um tipo ndo facilmente sujeito & experimentagao cientifica. Além disso os detentores da teoria, tanto os psquiatras quanto os assistentes sociais, eram capazes de classificar 0s outros que levantavam A BASE DO seRVICG SOCIAL, aq questées como “resistentes” ¢, assim, usar a teoria como proteao contra a investigacao de sua validade. Por um tempo, a pratica do Servico Social, dominada pelo Ser- vigo Social de Casos, fez grande progresso através do uso da teoria psicanalitica. Nos anos quarenta, 0 desenvol- vimento de duas escolas de pensamento, a “diagnostica” € a “funcional”, exigiram consideravel revisao, que ten- deu a reforgar a énfase na habilidade do relacionamento profissional € no processo de ajuda.’ Por este tempo, a lacuna de conhecimento, resultante de tao intensa de- pendéncia a um s6 corpo de teoria, tornou-se muito grande para uma profissdo em crescimento, com uma es- fera de agao tao ampla quanto 0 Servigo Social. Outras conseqiiéncias involuntarias seguiram-se & én- fase no autoconhecimento ¢ na autodisciplina na pratica do Servigo Social, O propésito original era desenvolver um profissional que ndo permitisse, a seus preconceitos emocionais, interferir em sua capacidade de ajudar seus clientes, particularmente em seu controle de relaciona- mento cliente-assistente. © desenvolvimento de tal conseiéneia, através do pro- cesso de supervisao, é um empreendimento complexe. Se © ensino enfatizasse isto como uma meta principal, sem o equilfbrio de uma perspectiva do Servigo Social mais ampla — como as vezes ocorreu — tal ensino poderia pro- duzir jovens profissionais que estivessem tao preocupa- A escola “Diagnostica”, baseada na Psicologia Freudiana, enfatizou a responsabilidade do assistente social no entendimenta do cliente © de seu comportamento, passade © presente, ¢ no traballio com 0 cliente para conseguir uma melhor compreensso de seus problemas, que coo duzitia a possiveis mancivas de lidar com eles. A'escola “Funcional” tomou @ psicologia de Bank e seu conceit de vontade come siia base, Acentuow a importineia de o chente resolver seus problemas da situa a0 presente dey organizagio, A divergencia principal centvalizava:se fm torne da natureza e do grau de reeponsubilidade do assistente no procesko de solugae da problema. O canflito tedrico levou a reexame Significant da pritica de Servigo Soctal de Casos, diminuinda a dife renga com o passar do tempo. 48 HARWETe nagTLseT dos com sua disciplina e “neutralidade” profissionais que seriam incapazes de responder a um cliente com 0 entusiasmo, a aceitagao e a sensibilidade que s4o essen- ciais a0 Servigo Social. A preocupagao excessiva com um 86 aspecto da habilidade produziu, assim, exatamente 0 oposto do que se pretendeu. Fol ensinado aos assistentes sociais que ouvissem 0 cliente, seguissem seus sentimentos ¢ evitassem domin4-lo ou subtrair-Ihe o problema. Tendo-se originado no Servigo Social de Casos, essa abordagem estendeu-se por toda'a profisséo e tornou-se uma de suas forga atuagao junto As pessoas. Sob certas circunstancias, en- tretanto, esta abordagem teve resultados involuntérios, Os assistentes sociais ampliaram-na para situacées ou- tras que as relacionadas com os clientes, isto 6, a suas relagées profissionais com colaboradores, como nas con- feréncias de planejamento das agéncias ou na comuni dade. Tenderam a trabalhar indiretamente para facilitar ‘a contribuigao de outros, mas evitaram sua propria con- tribuicdo direta, Em conferéncias multidisciplinares do campo da satide, 08 assistentes sociais muito freqtiente- mente acomodavam-se passivamente esperando que ou- tros falassem. Desde que os médicos esperavam que-o pessoal profissional desse sua contribuigao a discussao de equipe, intrigaram-se com este comportamento passive ¢ © comentaram. Obviamente, num mundo cheio de inova- ¢A0 social ¢ de mudanga, os assistentes sociais poderiam exercer pouco impacto em situagdes através de tal abor dagem, Necessitavam de maior confianga em sua propria contribuicao ¢ de maior iniciativa em apresenta-la Estas manifestacoes, descritas aqui como resultados in- yoluntirios, tlustram © que ScHORK chama de “o refigio para 0 técnico”, uma situagao em que um estreito foco na técnica ¢ na habilidade realmente obscurece 0 essenci. primordial interesse pe Le as pessoas que precisam de auxi- A BASE nO SERIE SOCIAL 49 lio € pelos amplos objetivos da profissio.” um fend- meno de profissionalismo, do desenvolvimento profissio- que teve mau resultado. Isto pode ocorrer em profis- s que amadurecem, mas é menos provavel que acon- tenga nas que tém uma base forte e bem reconhecida. Caréncia de Conceitos de Servico Social A operagao efetiva de uma profissae repousa em um corpo de simbolos comuns, de que idéias ¢ de conceitos, através dos quais a pratica pode ser descrita ¢ os profis- sionais, podem comunicar-se entre si. Um dos problemas no Servigo Social tem sido a caréncia de palavras ade- quadas, de termos e de conceitos para representar as fa- cetas importantes ¢ os componentes da pratica profissio- nal como um todo. Uma lacuna significativa era a falta de um termo tnico para abranger todas as medidas usadas pelo profissional para lidar com problemas psicossociais. Isto resultou na tentativa de estender os conceitos do Servigo Social de Casos as outras areas da pratica. Frases como “trata- mento da comunidade como cliente” sao freqiientemente encontradas na literatura. Mas ambos, “cliente” “tra- tamento” sao enganosos, quando usados em tio amplo contexto. “Cliente” inevitavelmente transmite a idéia de tabalhar atraves de contato direto ou de um relaciona- mento, “Tratamento” traz consigo todas as gradagoes de sentido da Medicina Geral e da Psiquiatria, que implicam na atividade de um profissional que diagnosticara a pato- logia do individuo ¢ que dirigira a acao para 0 alivio ou para a cura. O Servigo Social de Casos, apesar do movi- mento em direeao da enfatizagao das foreas do ego, tem continuado a destacar a oferta de tratamente para indi- hor, Alvin L. “The Tetceat ta the Technician”, Soeéal Wark, Nova York, (1): 28/33, janeiro, 1959, 50 iawiower ot wawteary viduos perturbados, relgressivos e “doentes” e a colocar 0 problema predominantemente dentro da personalidade. E necessario um.termo que nao tenha implicagées terapeu- ticas e que nao esteja ligado aos tres métodos. Sao necessérios termos mais amplos € positives para Gescrever a pratica do Servigo Social. A iniciativa, 0 po- tencial e a independéncia das pessoas a serem servidas exigem maior apreciagao, Achando “cliente” insatisfato- rio, esta monografia usa a frase “pessoas envolvidas na situacdo ou problema”, Esta é uma frase incomoda para manejar, mas evita as conotagoes indesejaveis. Da mesma maneira, 0 termo “situacao” é usado em lugar de “caso”, j4 que 0 tiltimo traz a implicaggo de trabalhar com individuos. Deve-se notar uma outra tendéncia do pensamento. Na iltima ou nas duas tiltimas décadas, os que esereveram sobre a profissio do Servigo Social e sua pratica ¢ as co- missdes de trabalho nos problemas profissionais tende- ram a procurar identificar os assuntos com os melhores: meios de entender uma situacao. Perguntamo-nos se esta tendéncia é influencinda pelo interesse crescente a res- peito dos problemas sociais e da politica social desde que na area politica a diferenga de opiniao é uma caracteris- tica importante, Em uma profissao, ou em uma disciplina cientifica, todavia, 0 melhor caminho para o entendi- mento é usualmente considerado ser o da identifieagao de fendmenos, de condigdes de situacdes e a relacao entre eles. Esta 6 uma abordagem metédica em que a com- preensdo vem antes da acao. O conceito dos assuntos, por outro lado, trouxe em sia idéia de controvérsia e de de- bate. Ambos os tipos de conceitos sao necessarios em uma profissao como o Servigo Social, para serem usados em seus contextos apropriados fm face de uma complexa realidade, os assistent ciais compreendem-se com mais clareza ¢ comunicam-se entre si, observando melhor aquelas entidades que te- 2 BASE BO SeievACD SOCIAL 51 nham sido nitidamente conceitualizadas, As partes da realidade que nao foram conceitualizadas, mesmo que possam ser importantes para 0 pensamento harmonioso, permanecem como lacunas na estrutura geral do pensa- mento. Assim, o progresso do Servico Social foi retardado € blogueado pelo fato de, por tanto tempo, nao haver con- ceitos abrangentes adequados, e, assim, nem palavras € termos consistentes para descrever 0 feco central da pro- fissdo, as pessoas a quem serve, ¢ suas maneiras de aju- dar. A longo praza é mals importante constrnir nma es: trutura te6rica vidvel para a profissao como um todo que ser influenciado por correntes politicas e por estilos aca démicos do momento, segunda parte UM MODELO PROFISSIONAL PARA A PRATICA DO SERVICO SOCIAL 4 UM MODELO PROFISSIONAL PARA A PRATICA DO SERVICO SOCIAL Uma impressao deixada pela visdo geral do desenvol- vimento do Servi¢o Social através de suas partes, como descrito anteriormente, € que havia muito nesta pratica em campos © em agéncias e neste uso de métodos © de téenica que poderia ¢ deveria contribuir para uma base profissional comum. Mas, até que se estabelecesse tal base, a fragmentagae da pratica continuaria Em seu periodo inicial, 0 modelo de método-e-téenica levou a um pensamento criativo. A técnien, a antocons- ciéncia e o método definide sio essenciais para a profis- so, Mas no séo adequados por si mesmos para prover uma completa base profissional. Os profissionais de va rias dreas da pratica muniram-se de um conjunto de idéias que eram. limitadas, mas s6 suficientemente via 56 HaRWIETT M. oARELET vels para viver harmeniosamente com élas. Por causa de seus quadros de referéncia parciais e separados, entre- tanto, grupos diferentes de profissionais enfatizaram abordagens diferentes. A conceitualizagao original da pratica identificou os trés métodos como entidades sepa- radas — Servigo Social de Casos, Servico Social de Grupo e Organizacao de Comunidade. Esperava-se que os profis- sionais fossem competentes em um ou outro e que os usassem, Nas escolas, 0 curriculo oferecia ( e exigia ) a concentragao em um método, assim, os estudlailes segue ram trilhas diferentes A énfase na técnica do trabalho de campo predominava sobre a énfase no conhecimento basico ¢ na teoria da sala de aula apresentavam-se bacharéis, aqueles que se olhavam a si mesmos, primordialmente, como “assisten- tes sociais de casos”, “assistentes sociais de grupo” ou “assistentes sociais de organizacao de comunidade". A idéia de que todos eram assistentes sociais era menos reconhecida, Em uma profissie a que ainda faltava unidade era mais cémodo praticar em uma érea definida. Uma parte do melhor pensamento era realizada nas areas de priitica separada ou em uma estrutura edueacional com elas re- lacionadas. Entretanto, 0 método — a menos que pertur: bado por alguma fora radical — tende em diregao a uma precisdo técnica sempre maior e a uma restr! cente de foco, Assim, os assistentes sociais trabalhavam no aperfeigoamento de suas proprias Areas, mas eram impedidos, pelas barreiras entre 0s métodos, de ficil co- municagao enire si, visando a ‘area de interesse comum — a pratica do Servigo Social como um conceito abran- gente. Tendiam a criticar um ao outro, por serem unilate- rais em um ou em outro sentido, sem perceber como po- deriam caminhar juntos em direg unificada, De tempos em tempos faziam-se esforgos para neutra- oa uma perspectiva A taste no envied soc 57 lizar as tendéncias divisérias da pratica. Por volta de 1929, a conferéncia de Mildford (uma comissao volunts- ria de assistentes sociais interessados na andlise ¢ no esclarecimento do Servigo Social de Casos), desenvolveu © conceito “genérico especifico”, que ativou a idéia de uma base genérica que sustentasse a pratica do Servico Social de Casos nos campos especificos. A parte genérica do conceito estimulou a unificagao do Servigo Social de Casos ¢ 0 crescimento do curriculo genérico nas escolas, mas 0 conceito global revelou-se muito complexo para aplicagao eficaz em todas as partes da pritica, naquela fase inicial do desenvolvimento da profissao.'Em meados dos anos cingiienta seguindo uma decisdo de interromper © ensino de especializagao por campos nas escolas, 0 Consetho de Educagao do Servico Social solicitou a repre- sentantes dos campos da pratica para examinar sua pra- tica © relatar quais os pontos, em termos de conheci- mento particu! jar, de téenicas e de atitudes, que conside ravam basicos para todos os assistentes sociais © 0 que, além disso, era essencial 4 competéncia dos assistentes sociais na pratica de seus campos especificos,” Outro es- forgo foi feito logo apés pela Associacao Nacional de As sistentes Sociais, que submeteu aos varios campos um questionario propondo critério para identificar caracteris- ticas comuns a todos os campos da pratica.’ Muito em- bora estes projetos estimulassem o pensamento integrado sobre a pratiea do Servic Social, nao foram bem sucedi- Social Case Work, Genecie and Specific. Nova York: American Asso. ciation of Social Works, 1929; ¢ Harriet M. Bartlete, “Generle-specttic Concept in Social Work Eduction and Practice”, tw Alfred J. Kahn, rg, Issues te Americas Sactat Wark, Nava York: Columbia University 85, 1959, pp. 159-90. ‘Description of Practice Statements: elds of Social Work Practice Nova York: Cauneil on Social Work Education, 1959 (Mimeouratudlo) Nis” Commission on Social Work Practice’ Subcommittee an Fields of Practice, "Identilyin Bields of Practice in Soctal Work”, Social Works 72). Fela, abil, 1962, 58 ARREETT m nawrEarr dos em obter a espécie de concordancia sobre elementos comuns, que era necessaria ¢ que se procurava Necessidade de um Modelo Profissional Finalmente, nos anos cingitenta, as responsabilidades de uma abordagem fragmentada da pratica vieram a tona. O assistente social, profissional técnico, poderia atuar proveitosamente, prestando servigos aos clientes Os professores © os profi Ito gabarito estavam escrevendo com notavel autoconsciéncia sobre sua pra tica e ensino em publicacdes de Servigo Social. Mas, por causa da énfase em “a unicidade do individuo”, em “o caso” € em “a situagao especifica”, nao surgiram genera- lizagées da experiéncia pratica em qualquer niimero sig- nificativo, Alguns dos aspectos importantes da pratica, como 0 relacionamento profissional com os clientes, foram examinados totalmente, mas outros — como a na- tureza do conhecimento do Servigo Social — receberam relativamente pouca atengao. O crescimento da teoria foi detido e a literatura profissional nao estava se desenvol- vendo de forma cumulativa,’ Em 1959 HEARN comentou que um ponto de decrescente retorno na construgao da teoria da pratiea de Servigo Social parecia ter sido alean- cado.* Outros observadores notaram que os assistentes socials na pratica da profissao nao tmham consciéncia do conhecimento no qual repousavam a sua pratica.” Desde que os atributos profissionais do assistente social eram assim obscurecidos, nao cram bem entendidos pelas ou tras profissées com que colaboravam ou pela sociedade em geral. A profissao atingia 0 ponto no qual tinha que ionais de ‘Lidle, Roge W. “The Literature of Social Casework”. Social Case work, 24 (7): 287-91, julho, 1952, “Hearn, Gordon, Theory Building 9 Soca! Work, Toronto, Canada versity of Toronto Press, 1958, p. 23, ‘Gordon, William F. “Toward a Social Work Frame of Heference Journal of Educational for Sactal Work, | (2): 24, outono, 1965. 4 BASE DO SERVIGO SOKTAL 59 assegurar a competéncia de seus membros em sociedade, mas por causa da maneira pela qual a técnica fora con- ceituada uma formulagéio autorizada ¢ um consenso vol- tado para os elementos essenciais desta competéncia nao eram disponiveis. Comentando 0 regulamento legal res- tritivo em 1962, a Associagao Nacional de Assistentes Sociais disse em uma declaracao oficial que nao apoiava tal acdo naquele momento “pois que a profisso de Ser- vigo Social néo esta preparada para definir as atividades que abrangem a pratica do Service Social, de mancira a descrever os elementos comuns a toda a pratica, os limi- tes da pratica ¢ os elementos distintivos.”” Crescia 0 re- conhecimento de que a velha visdo da pratica estava ob- - soleta; necessitava-se de uma verdadefra ruptura na ma- neira de pensar. ‘Transformagées importantes, no Servigo Social como um todo, estimulavam novas maneiras de olhar a pra- tica. No fim dos anos quarenta, convencidos de que para desenvolver a profissdo teriam que formar uma organl- zacao profissional unida, os assistentes sociais empenharam-se em seis anos de exploracao e de plane- jamento. Em 1955, as organizagées de pratica separada © a Associacae Nacional de Assistentes So- ciais, uma nova organizagao de classe, estabeleceu-se, Este passo — a formagao de uma organizagao profissio- nal umda, compreensiva — tornou possivel ocupar-se com a pratica de Servigo Social como um todo, com uma clareza nao anteriormente possivel na histéria de Servigo Social. Desta percepgao ampliada emergiu um novo € abrangente modelo para a pratica, baseado no modelo geral de uma profissao. Este modelo pretende que uma profissfo possua um corpo de principios teéricos, éticos € técnicos, que ¢ wansferido para seus estudantes e profi sionais através de canais educacionais sob a forma de Legal Regulation of Social Work Practice’. Nasw Newa, 7 (2): 9 Fevereira, 1962, 60 MARMSTT A. BARTLETT generalizagoes © de principios. As agdes do profissional séo dirigidas por estas generalizagoes e por estes princi. pios, que ele aplica a gituagées individuais na sua pra- tica. A primeira vista, 0 modelo método-e-téenica eo modelo profissional parecem semelhantes. Ambos giram em torno de “um assistente social em agao”, mas a diferenga € que, no iiltimo modelo, a ago do assistente est colo- cada dentro de um quadro de referéncia e de uma pers pectiva geral do Servico Social, e ¢ conscientemente din- gida pelos valores, pelo conhecimento ¢ pelas técnicas, amplamente definidos, da profisso como um todo.” As implicagées desta distingao sdo de grande alcance. Costuma-se descrever a profissio como uma combina- ¢ao da Arte e da Ciéncia. O desempenho do profissional individual demonstra a Arte; encontra-se a Ciéncia no. corpo de conhecimento da profiss%io e nas maneiras de pensar. Reconhece-se que uma profissao cresce mais vi- gorosa conforme 0 componente cientifico se avoluma em seu conhecimento e em seu pensamento. Toda profissao tem que encontrar um equilibrio entre sua cléncia e sua arte que Ihe possibilite desenvolver ¢ melhorar a eficién- cia de seu servigo na sociedade.” Foi antes a arte, que a ciéncia da profissao, que se de- senvolveu fundamentalmente pelo modela método-e- técnica no Servico Social. O conceito central € 0 de um Veja a discussfio do conceito de uma profissio, pp. 9-10 deste liv. 'O leitor encontrard valor, al jumas veres no singular e outras no phi val Nenbuma intenedo especial se eneontra em qualquer use, mas en eral quando o assunto € discutide de forma abstrata, juntamente com conhecimento, Sinalidade ¢ ontres compenentes hisicos da profissie, lusamos calor (singular), Quando estames discullndo o assunto ex mos mais especilicns, como o uso dos valores na pratica, usamos vato- rex (plural). © exame da literatura mostra que 0 passude fol Inconsts tente © que as conotagées ligndas ao singular e aa plural ainda devern ser procuradas nos termos de suas implicugdes Filosdlicas. "Paton, Joseph W. "Science, Art and Uncertainty in Social Work” social Work. & ): $10, julho, 1938, ‘A RASH Bo SERVICO SOCIAL 6L servigo de ajuda. O foco é terapéutico nos objetives de tratamento ¢ na técnica profissional nos processos de tra- tamento. Espera-se que 0 profissional incorpore as atitu- des ¢ as técnicas essenciais. Enfatiza-se o “sentir ¢ agir” em vez de 0 “pensar « conhecer”; ensina-se a teoria de tal modo como se fosse para ser diretamente integrada com 0 “sentir e agix”. Neste modelo, 0 pensamento nao € enfati- zado ou ensinado, normalmente, na pratica come um processo distinto que seja de valor para trazer compreen- sao e ordem a situagées complexas." Esta abardagani leva ao conceito de método do Servigo Social, que une co- nhecimento e valor & habilidade e técnica. Assim, os elementos profissionais essenciais nao se distinguem, ni- tidamente, na priitica do Servico Social, € 0 perfil da pro- pri pratica profissional é nublado. Os dois modelos priticos resultam de examinar a pré- tica sob abordagens diferentes — a do profissional indivi- dual e a da prof De certo modo, podem ser olhadas como niveis diferentes de definigao ¢ de descrigao. Na realidade, ambas as abordagens s40 necessarias ¢ nao deveriam ser separadas, De fato, muitos assistentes so- ciais assinalaram que a pratica do profissional técnico seria mais virogosa ¢ mais eficaz, se baseada em um corpo ordenado de conhecimento e de valor, ‘As razées pelas quais o Servic Social chegou tao longe sem dar mais atencao a seu corpo de conhectmento ¢ de valor precisam ser entendidas. Provavelmente, deveu-se isto a0 proprio sucesso do modelo método-e-téenica du- rante um longo periodo, Parece que professores ¢ super visores sensiveis foram capazes de transmitir aos estu- “Reconhece-se atualmente que esta concentrugao no estudante ov ne profissional individual ¢ sua aproadizagem através dat experiéneia di Fela prolongaram injustilicadamente 0 método de aprendizado no en sino do Servigo Social. Vela Walter L. Kindelsperger, “Observations from a Social Work Educator". Potentials wud Problems iv the Chav ging School Agency Relations Ships. In Sectal Work Education, Nova York: Council. on Social Work Fducation, 1967, pp. 6-14: 62 HARKIECE M, BARLEY dantes € aos profissionais jovens ¢ de neles desenvolver através da comunicacao pessoal e do exemplo, uma alta proporcdo das capacidades e das atitudes que se deseja- vam no profissional. E notavel que isto tenha chegado to Jonge, enquanto os conceitos centrais tais como a auto- determinagao e a aceitacao ou 0 relacionamento e 0 apoio ainda nao tinham formulagao definitiva. Com 0 passar do tempo, muitas questdes foram levan- tadas pelos préprios assistentes sociais, Por que expan- Aimos este foco estreito em um periodo de ampla trans: formacap social? Onde esta 0 corpo de conhecimento da profissao? Qual é a contribuigdo central do Servico Social & sociedade? De que perspectiva ela se desenvolveu? O que se precisa agora, para a expanso da profissao, é nao livrar-se do modelo método-e-téenica como um todo, mas dele transferir aqueles aspectos que estéo contri- buindo para as forcas do Servigo Social e inclui-los no novo modelo profissional. Deste modo, o conceito do pro- fissional técnico pode ocupar seu lugar justo dentro de um conceito abrangente de Servigo Social e de sua pra- tica, O modelo método-e-téenica precisa de maior ampli tude, enquanto 0 modelo profissional global precisa de substancia, O problema é achar como estas limitagées podem ser vencidas ¢ como a integragao efetiva pode ser aleangada de modo a combinar ambas as forgas. Um Modelo Profissional (“A Definigao Operacional”) Nos primeiros anos, escritores como PRAY comegaram, a ampliar idéjas integrativa sobre Sexvico Social; mas, quando se formou a Associagéo Nacional de Assistentes Sociais em 1955, nenhum quadro geral de referéncia para exame da pratica estava disponivel," Uma Comis- vray, Kennth L. M. Soctal Work tn « Revolutionary Age. Filadélfia University of Pensylvania Press, 1949, | A 5H po SieRvIGD SOCAL 68 sao da Pratica de Servigo Social recém-organizada, preci. sando tanto de uma’formulagao, come, de uma base para seu programa, relatou o que chamou de “Defini¢so Ope- racional da Pratica de Servigo Social”. Simples definigoes de Servigo Social foram, é claro, tentadas no passade por individuos e por grupos. A Definicao Operacional diferiu delas naguilo em que era concebide como um empreen- dimento em curso, para 0 qual muitas pessoas contribui- riam ¢ gue continuaria a expandit-se como a propria pro- fissao crescia ¢ amadurecia. Uma formulagao-inicial foi completada por uma subcomissao especial em 1958." Ao mesmo tempo, outra formulacao util apareceu na literatura, sob a forma de uma declaragao geral quanto & natureza do Servigo Social, preparada por BOEHM, como parte de um estudo abrangente sobre a educagiio do Ser- vigo Social." Esta declaragae produziu estimulo por causa de sua harmonia com a formulacao da comissao de pratica, particularmente em relacao a valores e metas Por causa de sua orientagao educacional, a declaracao de BOBHM colocou menos énfase em definir a pratica. ‘A Defini¢ao Operacional é um inicio promissor para um modelo profissional abrangente da pratica dg Servigo So- cial e é importante porque procura ver toda a pratica de Servigo Social e de fazé-lo sob 0 ponto de vista da profis- so, Noasa anéliac do pensamento precedente mostra porque este 6 um progresso muito necessario ao Servigo Social ¢ um passo significante em seu crescimento, Ja que a Definicao Operacional foi 0 comego de uma corrente de pensamento em curso sobre a pratica do Ser- vigo Social € conveniente a nossos propésitos rever a his- toria da declaragao ¢, também, para considerar 0 desen- Wor 1 Definition of Social Work Practice”. Soeiu! Work. 3 (2) 5-8, abzil, 1958, Veja a transeri¢do integral da Definigdo Operacional no apendice, p. 283 deste Ivey “Bouin, Werner W. “The Nanure of Sociat Worle”. Soctal Work, 3 (2) 10.8, abril We 1958, 64 volvimento ulterior das idéias que contém. De acordo com ¢ plano original, a formulagao deveria ser revisada de tempos em tempos, mas até o momento deste trabalho nenhuma revisdo verdadeira foi concluida.Entretanto, numerosos artigos sobre o assunto, baseados no trabalho de uma segunda subcomissao, sob a presidéncia de Wit: LIAM E, GORDON, € por outros que participaram do esforco inicial, foram publicados. Os leitores deveriam ter em mente que é necessario estar familiarizado com a discus- s4o continua sobre a Definigao Operacional na literatura do Servigo Social para entender os conceitos de desenvol- vimento e suas implicagoes totais.” A primeira pergunta perante a subcomissao sobre a De- Finigao Operacional de Pratica de Servigo Social foi: 0 que estamos definindo? Surgiu confusao, no passado, porque 0 conceito de Servic Social fot usado em relacao a to ampla série de atividades dentro do campo extenso do bem-estar social, inchuidas as atividades de pessoal que nao eram assistentes sociais, bem como os progra- mas € servigos de agéncias sociais. Concordou-se que esta definigho interessava-se pela profissio de Servico Social e enfocava-se na pratica. Esta distingao ofereceu uma entidade a ser estudada, que era suficientemente extensa para cobrir 0s componentes bisicos da pratica ¢ que ainda podia ser examinada objetivamente. ‘A pergunta seguinte tinha a ver com a construgao de um quadro de referéncia. Quais deveriam ser seus ‘com- ponentes? Em uma profissao de ajuda, eles sdo normal- mente identificados como valor, propésito, conhecimento, jurtlett, Hartiett M, “Coward Clarifieation and Improvement of So lal Wark Practice", Soviet Work, 3(2): 319, abril, 1958. Bartlett, Amatty sing Suchid Work Practice by Fields, Nowa Yor National Associaton of Social Worleers, 1961; William Gordon. “A Critique of the Working, Definition”, Sockat Wark. 7 (4): 313, outubeo, 1982; “Gorden, Know leelge and Value: their Disdnetion and Relationship in Claitying Socia Work Practice”, Social Wore, 10 (3): $2-9, julho, 1965; ¢ Gordon. “To: ward 9 Sockil Work Frame of Reference", pp. 19-26 A Base DO StiEIED SOCIAL 65 método ou técnica, Como foi usada na Definicdo Opera. cional original, esta estrutura mostrou-se estimulante € utd para o pensamento ulterior, Um conceito central, que se desenvolvera antes, foi que 0s elementos que dirigem a acao dos assistentes sociais formam uma constelagao, “Alguma pratica de Servigo Social”, dizia a definigao, “mostrara um uso mais athplo de um ou de outro dos componentes, mas sé é pritica de Servico Social quando todos se apresentam em certo grau.”” Assim, ha variagao adequada no uso dos elemen- tos, mas eles esto solidamente presentes como os ele- mentos essenciais que identificam a pritica, como sendo do Servico Social. Combinando as idéias sobre a profissao e sobre a pratica, a idéia central tornou-se a agdo do pro- fissional dirigida para um propésito ¢ gutada por valores, por conhecimento € por técnicas, devendo ser todos eles descritos em termos de Servico Social.” Os propésitos de uma profiss, em geral, dirigidos para a satisfagao dos resultados implicitos em seus valo- res, Portanto, no Servico Social, 0 propésito global seria promover 2 realizagao maxima do potencial de cada indi- viduo e outros propésitos seriam relacionados com este de alguma sélida maneira. O conhecimento, também, esta relacionado com o propésito, ji que, em qualquer oeasiso determinada, 0 conhecimento disponivel torna certas metas mais prdticas € atingiveis que outras, Assim, 0 valor ¢ 6 conhecimento atuam um sobre 0 outro na de terminagdo das metas profissionais que serao dominan- tes e operativas na pritica de um periodo a outro. Por causa desta intima relacao do propésito com o valor ¢ com 0 conhecimento e a fim de concentrar-se em uns poucos elementos principais, 0 propésite nao sera enfati- ado como um elemento separado da pratica neste exame Woda i Definicao Operaéianal, no apéndlice p. 288 Gondon, WW. "A Crtkgue of the Workdnu Detinitianp. 3 i semen» eaRruert © conceito de sancao foi incluide na definigdo original para cobrir os auspicios sob os quais a prética é condu- zida, A sango, refere-se A autorizagao que é concedida a pratica de servico Social pela sociedade, pela lei, pela or ganizagao ou programa, e pela propria associagio profis- sional. Uma consideracao feita mais tarde pela subco- missao da NASW, entretanto, surgiu que a sangao nao é uma caracterizagao basica da priitica do Service Social no mesmo sentido que os outros elementos essenciais ¢ atua diferentemente deles.” E, portanto, omitida do quadro de referéncia usado nesta monografia. Alguns de seus aspectos que tém a ver com a maneira pela qual 0 programa influencia a natureza da pratica de Servigo So- cial serao considerados em capitulos posteriores. Através da formulagao desenvolvida na Definic¢ao Ope- racional, 0 conhecimento e 0 valor tornaram-se nitida- mente visiveis, separados do método e colocados em sua Posi¢ao correta como basicos em uma profissao. Fez-se Progresso significante em realgar a énfase despropor- cional no método ¢ na técnica que caracterizaram a pratica do Servigo Social nos primeiros anos.O método que segue 0 valor e 0 conhecimento na definigao j4 esta se afastando da conotagdo particular que Ihe fora dada no conceito dos trés métodos. F apresentado como um con- ceito basico na pratica do Servico Social e nao esta ligado aos métodos separados, nem se divide entre eles, En- quanto 0 conceito em si’é vago, permite ao menos liber- dade para uma nova abordagem Intimeras idéias que sao apenas mencionadas brove- mente na Definigtio Operacional assumem significancia Por indicar uma tendéneia e por constituir um ponte de partida para pensamento ulterior. A declaragao original no discute em que lugar a preocupacao central do Ser- vigo Social deve encontrar-se, nem indica a necessidade “id. ps A BASH DO SERVIC SOCAL 7 de reconhecimento desse foco; mas declara que o profis- sional se preocupa com a “interagao entre o individuo € 0 seu ambiente social com uma continua compreensao dos efeltos recfprocos de um sobre o outro.” Outras segoes da formulacao indicam que a idéla deve ser estendida a gru- pos. Enguanto a técnica é enfatizada, a responsabilidade do profissional por “observacao sistematica e a contribui- cao de um individuo ou grupo, em uma situacdo”, e por “julgamento profissional” é claramente estabelecida.” Como uma formulacdo inicial, a Detinigdo Operacional original dew um passo importante para o esclarecimento da pratica do Servigo Social. Identificou os elementos essenciais da profissae — 0 valor, 0 conhecimento ¢ as téenicas — ¢ mostrou como guiam o assistente social em sua pratiea. Esses elementos essenciats podem ser con- siderados como elementos hasicos do Servigo Social, no sentido em que: 1.°) devem estar presentes em gualquer “pedago” da pritica do Servigo Social; € 2.°) sio comuns, isto é, partilhados por todos os profissionais, Em razao de que, na opiniao da Autora, a necessidade de pensamento integrativo deve ser considerada como uma preocupagao dominante do Servigo Social de hoje, 0 segundo aspecto — que os elementos basicos $0 comuns e compartilhados — esta sendo enfatizado aqui, Comecamos da idéia ex- pressa pela segunda subcomissio em Definigao Opera. cional, que “a esséneia do profissional em sua pratica deve provir dos valores, dos conhecimentos ¢ dos métodos da profissdo compartilhados e consideraremos adiante, nesta monografia, como 0 pensamento a respeito dos elementos comuns pode ser desenvolvido e usado para fortalecer 0 Servigg Social e sua pritica.” Presentemente, muitos profissionais nao foram prepa- rados para pensar desse modo, nao tendo aprendido, no passado, a pensar em termos de uma perspectiva geral Veja a Definigae Operucional no Apendice. ‘Gordon, “A Critique of the Working Definition”. p. 8. 68 ARRIETT a. pawrLETa para sua pratica, nao a ouvindo discutida em reunides, ¢ nao a encontrando na literatura. Os assuntos discutidos em livros e em jornais foram habitualmente aspectos particulares da pratica, tais como o relacionamento cliente/assistente, a lideranga de um grupo ¢ a coordena- gao de agéncias ou os problemas de bem-estar social, como a avaliagao de rendimentos. Apenas recentemente tem aparecido material na literatura e no ensino, no qual 08 assistentes sociais discutem 08 elementos comuns da pratica no sentido aqui pretendido.m 1962, a Autora fez um esforco exploratério para deserever as caracteristicas do Servigo Social tao amplamente como podiam ser per- cebidas.' A formulagdo apresentada nesta monografia, em relagdo aos elementos comuns, tenta uma anidlise mais abrangente do que as tentadas anteriormente. “Bartlett, Hatriett M, “Characteristics of Social Work”, Butlding So cial Work Knowledge, Report of « conference. Nova York: National As- sociation of Social Workers, 1984, pp. 1-15. 5 ELEMENTOS ESSENCIAIS NA PRATICA DE SERVICO SOCIAL ‘A Definigao Operacional nem bem tinha side formu- ada ¢ deu origem a perguntas inguiridoras. Forgou os a sistentes sociais a olhar diretamente para as questoes re- ferentes 4s caracteristicas e aos componentes basicos da pratica de Servigo Social, que nao tinham sido encarados previamente, por causa da preocupacio com os aspectos parciais da pratica. De fato, em oposi¢ao & expectativa, 0 sentido da definigao provou ser menor na formulagao em si, que no processo vigoroso de pensamento a respeito da pratica profissional que estimulou. Como presidente da Comissao de Pratica de Servigo Social da NASW, a Au- tora ainda recorda vivamente 0 sentimento de excitagao e de descoberta que prevalecet entre os participantes, du- rante aqueles primeiros dias de exploragao. 70 HARROD M. BARTLETE Valores e Conhecimento A definigdo-original incluin uma série de valores, de Areas de conhecimento ¢ de técnicas, Em discussées sub- seqiientes, uma segunda subcomissdo sobre a Definicao Operacional reconheceu a inadequagao de tais relagoes de componentes ¢ a necessidade de um exame mais in- quiridor da natureza de cada elemento, bem como de seu relacionamento entre si. A comissao reconheceu que pro- fissdes maduras repousam em corpos fortes de conheci- mente e de valores, dos quais se derivam principios cien- tificos e éticos, que guiam a atuagao do profissional. Neste sentido, 0 conhecimento e 0 valor tomam priori- dade sobre 0 método e sao os principais definidores do método da técnica.' Estudando a Definiedo Operacional, a comissao achou que os assistentes sociais confundiram conhecimento e valores. Assim, 0 relacionamento e, particularmente, a distingio entre conhecimento e valores, exigi interpre- tagao ulterior, no esclarecimento da pratica de Servico Social. Os valores, disse a comissao, se referem ao que é olhado come bom ¢ desejavel. Estes sao julgamentos qualitativos; nao 40 empiricamente demonstraveis Esto cobertos de emogao e representam um propésito ou meta, em cuja direcao a acao do assistente social sera dirigida. As proposigées de conhecimento, por outro lado, referem-se 4 experiéncia verificdvel e aparecern sob a forma de declaragées rigorosas que so feitas tao objeti- vas quanto possivel. As declaracées de valor referem-se ao que se prefere. As declaracées de conhecimento, a aguilo que se confirma ou que é confirmavel. Na Defini- gA0 Operacional original, por exemplo, uma declaragao de que “ha interdependéncia entre os individuos nesta Gordon, William E. “A Critique of the Working Definition”, Social Work, vol. 7, 0.94, outubra de 1962, p. 12, | BASE Do SEILICO SOCIAL n sociedade” foi incluida como valores. E dbvio, entretanto, que este é um fato demonstravel, que nao deveria ser classificado como um valor.” Em gualguer etapa no desenvolvimento do conheci- mento cientifico, ha algumas proposigdes que nao pare- cem confirmaveis ¢, assim, devem ser olhadas como su- posigdes de valor. Em alguns casos, entretanto, declara- ‘gde5 que sao idénticas na forma podem ser admitidas, seja como parte de conhecimento, ou como valores. A idéia de que o lar 6 0 melhor lugar para a erianca é um exemplo; pode ser tomada como preferencial ou como uma hipésete para investigacdo. Aqui é a intengdo em face da proposi¢io, ao invés da substancia real, que faz a diferenca. H4 também um deslocamento de longo al- cance que tomara lugar entre 0 corpo de conhecimento e de valores de uma profissao. Na medida em que o conhe- cimento cientifico aumenta, algumas proposicoes que inicialmente foram suposigdes preferenciais se tornario estabelecidas como conhecimentos confirmados. As con- digdes sociais que foram visualizadas como desejaveis, podem tornar-se estabelecidas na sociedade, através de transformagao social.* Em cada momento do desenvolvimento de uma profis- so, professores, profissionais e pesquisadores deveriam estar certos quanto a diferenca entre valor e conheci- mento, e quanto ao status de qualquer proposigav parti- cular. Conhecimento ¢ valor desempenham papéis distin- tamente diferentes, ambos necessarios. Por exemplo, um assistente social pode tornar-se to comprometide com 0 valor da autodetermina¢ao que concentra seus esforcos naquilo que considera ser a liberdade de crescimento das criancas no seio da famflia a que cle serve ¢, assim, falha Gordon, William E, “Knowledge and Their Distinction and Re lationship in Clavitying Social Work Practive”, Soetal Work, Vol. 10, 9.9 3, julho de 1965, pp. 32 Thid., pp, 356. R HARRIET? Mm BARRLEES em procurar € usar 0 conhecimento sobre o importante papel da disciplina paternal no desenvolvimento da per- sonalidade. Aqui, um valor esta sendo usado como um guia, quando se precisa, também, de conhecimento, In- versamente, em uma situacao controvertida referente & direcao que um programa de atividades deveria tomar, um administrador baseia sua decis4o em critérios para atuagao eficiente; entretanto, os acontecimentos provam, mais tarde, que os valores do Servico Social em face das necessidades dos grupos desfaverecidos, na comunidade, teriam sido um guia melhor nesta situagao especifica. Assim, é importante reconhecer a distingdo entre conhe- cimento ¢ valor e 0 uso adequado de cada um na pratica, © uso junto de conhecimento ¢ de valor consiste nao 36 em distinguir aquelas proposicdes que pertencem a cate- gorias diferentes, mas também em reconhecer que a in- tengao do usuario — seja como uma declarago preferen- cial, seja como confirmavel — também, faz uma dife renga quanto a forma em que seriam classificadas." De acordo com esta abordagem, proposigdes vistas como ve- rificdveis pela ciéncia e pela pesquisa — e que se preten- dem verificar — sao consideradas ser de conhecimento. Algumas pessoas contestam a inclusao, dentro do conhe- cimento da profissao, de proposigdes que néo tenham sido validadas, Entretanto, tais proposigées, certamente nio deveriam ser vistas como valores. Parece melhor incluir no conhecimento de uma profissao aquelas proposicoes que estao sendo usadas pelos profissionais, embora te- nham até agora s6 a severa prova da pratica, junta- mente com as proposicdes validadas através de experién- cia rigorosa, Eventualmente, uquelas que nao podem ser verificadas tendo que ser excluidas. Professores e profissionais deve- rao, naturalmente, estar alertas quando tratam com co- nhecimento “mal definido” ou “ja estabelecido”.* “hid, pp. 36-7 “Soft” ou “hard” knowledge, no original. (N. do Trad.) A BASE D0 SERVICO SOCAL 73 O Elemento Valor © pensamento do Servigo Social a respeito de valores esta tao freqiientemente entrelagado com a discussao de outros elementos na pratica, que uma formulagao abran- gente ¢ autorizada nao esta disponivel. Provavelmente, 0 valor mais antigo ¢ mais amplamente sustentado no Ser- vigo Social assevera a valia e a dignidade de todo ser humano. De crescente importancia no pensamento do Servico Social existe outro valor que tem sido expresso de forma variada como “autodeterminagao”, “auto- satisfacao” ou “auto-tealizagao”. A subcomissio sobre Definigao Operacional expressou-o como “méxima reali zagao do potencial de cada individuo para desenvolvi- ‘mento através de sua vida”.’ Em termos simples, é bom, para cada individuo, realizar seu potencial para o cres- cimento tao pleno quanto possivel Desde que interessa a todos os individuos, suas neces- sidades devem ser equilibradas as dos demais. Assim sendo, na satisfagdo de seu préprio potencial, cada pes- soa tem a responsabilidade de ajudar. as outras a se reali- zarem da mesma maneira. Outro valor, que decorre do resto, assegura 0 direito dos individuos serem diferentes uns dos outros. Isto é de particular importancia na socie- dade de hoje com suas presses no sentido da conformi dade. O conceito de potencial est4 recebendo mais e mais atengao e esta se deslocando para a linha de frente das discussdes do Servigo Social a respeito de valores, Por um longo periodo, autodeterminacao era o termo preferido, & ainda esta em uso ativo, mas, uma compreensdo maior de maneira pela qual o crescimento humano tem lugar através da interacdo social, indica as suas limitagées. Autodeterminagao enfatiza apropriadamente o individuo, "bid. p. 38. “ MARRIEET Me, RARE mas 0 separa excessivamente dos demais.” 0 conceito de potencial coloca 0 homem dentro do processo global de evolugao neste planeta. Em virtude da natureza da evo- lugao cultural, o homem tem tanto um crescente controle Sobre o seu crescimento, quanto uma correspondente responsabilidade pela diregdo do proceso. Como DuBos apontou, 0 homem é a criatura que pode escolher, eliminar, reunir, decidir e, desse modo, criar.’ Alguns assistentes sociais podem preferir definir as dire- goes nas quais 0 potencial deve realizar-se. Outros podem preferir ndo procurar uma definigao de metas e de valo- res normativos especificos. “A £¢ de que se pode confiar no homem, quando livye, para crescer e desenvolver-se nas direcdes desejaveis, 6 provavelmente a mais alta ex- pressdo de fé na dignidade humana”.” Assim, tomado como uma proposigao de valor, a consecugdo do potencial humano se torna um bem por si mesma. © segundo maior tema que emerge dos valores preferi- dos pelos assistentes sociais ¢ crescimento. Somente através do crescimento continuo pode o individuo alean- Gar seu potencial completo. Ele ganha forga em Ihe sendo dada liberdade e apoio para resolver seus préprios pro- blemas. Respeito pelo seu esforgo é essencial. Um dos temas principais, através de toda historia do Servico So- cial, tem sidv v ue que, av individu, deve ser dada a oportunidade para crescer do seu préprio modo. En- quanto outvas profissdes enfatizam o potencial humano e © crescimento, a énfase do Servigo Social no direito indi- vidual de ser ele mesmo e de resolver seus problemas a seu modo, com 0 apoio e a oportunidade que sao necessa- “Bemsiein, Saul. "Self-Determination: King or Cieizen in the Realm of Values?” Saciat Work, Vol. 5, n° 1, janeixo de 1960, pp. 3-8. “Dubos, René. “Humanistic Blology". The American Scholar, Vol. 34, 22 2, primavera de 1965, p. 196, ‘Gordon William TE. "Knowledge and Valuey Their Distinction and Re Iationship in Clarifying Social Work Practice”, Op. cit. pe 38. ‘A ASE bo SERVIGD SoctAt 5 rios, esta dando a esses valores um significado que é ca- racteristico da profissao de Servico Social.’ Enquanto revemos estes valores inter-relacionados, a posigao central do individuo no sistema de valores do Servi¢o Social se torna clara, Isto é, algumas vezes, mal interpretado como significando énfase no Servico Social de Casos, mas eles nao sio a mesma coisa. A auto- satisfagao e a realizagao do potencial para os individuos podem ser promovidas pelo servico social de grupo, pelas comunidades e pelos programas nacionais. Em contraste com a filosofia totalitaria, quando ha prioridade ao Es- tado, 0 ideal democratico exige um compromisso com 0 bem-estar de cada cidadao. F. neste sentido que 0 Servico Social coloca o individuo no centro de seu interesse. ‘Tem havido muita confusao, na profissao, sobre este Ponto. Os assistentes sociais envolvem-se, freqiente- mente, em situagdes nas quais 0 bem do individuo con- flita com 0 bem dos outros. Como podem os assuntos ser resolvidos, quando as necessidades da comunidade de melhores construgées de estradas se defrontam com as necessidades das pessoas mais velhas de continuar vi- vendo em uma vizinhanga onde se sentem seguras? Ou quando a necessidade dos cida de protegiio contra 0 crime, parece oposta a necessidade do delingiente indi- vidual de maior compreensio e oportunidade? PUMPHREY sugere que a dedicagao do assistente social, tanto pelo bem individual como pelo bem geral, exige uma capaci- "Veja Bertha €. Reynolds. “Social Case Work: What is its place is th World “Today?” pp, 13637, Chaelotle Towle, “Factors im Treatment” pp. 321 ¢ 326; ¢ Gordon Hamilton, “Baste Concepts In Social Case Work”. p. 158, em Fern Lowry. org. Readings in Social Case Work, 1920-1938. Nova York: Columbia University Press, 1939; Gordon Ha itn. “Helping People — ‘The Growth of a Profession”. Social Case uiork, Vol. 28, n.9 8, outubro de 1948, pp. 204-95; e Gordon Hearn Theory Building in Social Work, Torento, Canada: University of To. onto Press, 1958, p. 36. 16 HaMRBY? B, BARTLETT dade de encontrar 0 equilibrio entre eles.” Assim, a ma- neira pela qual os valores relativos ao individuo € a so- ciedade enredam-se no sistema de valores do Servigo So- cial exige um esclarecimento especial. Outra caracteristica importante da orientagao de valo- res do Servigo Social € que crescimento e potencial, quando expressos em valor de auto-satisfagdo, sao orien- tados para 0 futuro. Deste fato decorrem implicacdes que apenas comecaram a ser reconhecidas. Os assistentes sociais preocuparam-se sempre com os objetivos de vida dos individuos, mas a técnica psicanalitica desviou a atengao para as causas do seu comportamento, isto é, para o passado, Fizeram-se estudos clinicos elaborados como meios de compreender a motivagao e de planejar 0 tratamento. Agora, entretanto, examinando os esforcos dos individuos ¢ daqueles que os cireundam, para resol- ver 08 problemas que impedem a atuagao deles, esta sendo dada maior ateng4o as conseqiiéncias desses esfor- gos para o crescimento individual. O efeito devastador das condigées ¢ das transformagoes sociais em bloquear 08 objetivos de vida de tantas pessoas nesta sociedade, dirige a atengao para a necessidade de criar condicées sociais, dentro das quais os esforgos das pessoas e 0 seu potencial possam ter maior oportunidade para satisfagao, Realmente, os assistentes sociais tem-se preocupado sempre, caracteristicamente, com as conseqiiéncias dos esforgos das pessoas para lidar com suas dificuldades ¢ com 0 impacto do ambiente social sobre a atuagao daque- las. A énfase do Servigo Social no crescimento como um valor reforea esta preocupacao pelas conseqiéncias ¢ pelos resultados futuros. E necessario esclarecer que quando nos referimos a va- lores profissionais, nesta discussao, temos em mente os Pumphrey, Muriel. Te Teatching of Vatues und Ethics in Soviet Work Education. Nova Yorks: Council on Social Work Education, 1959, p43. Fee A BASE BO SERVICED SaCIAL 7 conceitos € os prineipios éticos identificados pela propria profissao."" Estes devem ser distinguidos do sistema de valor cultural, que inclui os “mores” ¢ as expectativas re- ferentes ao comportamento individual e social na socie- dade. E necessario esclarecer, ainda, que 0s valores sfo os proprios principios. Alguns assistentes socials classifi- cam como valores todos os aspectos de sua profissio que consideram como particularmente importantes, porque os “valorizam”. Sob tais circunstancias, pontos de co- nhecimento ou de técnicas, tais como “a familia como uma unidade na sociedade” ou “o relacionamento cliente/assistente” podem ser relacionados como valores Esta é provavelmente, uma razdo pata a confusao entre conhecimento ¢ valor, anteriormente discutida.”” Os valores so freqitentemente divididos em valores basicos, que so conceitos abstratos daquilo que deveria ser, ¢ idéias roferentes aos meios para alcangar aqueles valores, freqiientemente mencionados como valores ins- trumentais.” A medida que as profissdes desenvolvem seus valores, um ou mais podem emergir como valores ‘basicos. Por exemplo, na Medicina, a consecugao da satide, em sua medida mais ampla, para todos os indivi- duos ¢ a obrigagao de dedicar todos os esforgos para sal- var a vida, seria um exempl6 de tais valores € obrigacées basivus. F possivel que v Seivigo Social venha a conside- yar a consecug%e do potencial humano como seu valor bisico, Outros valores so, entdo, decorrentes do valor ou dos valores globais ¢ com eles se relacionam, A responsa- bilidade pelo crescimento de cada um leva ao reconheci- mento de que a sociedade tem a responsabilidade de re- mover obstaculos e de prover oportunidades para 0 cres- "Veda 0 Cale of Fae of dhe National Association of Sottal Worker, Gordon. “Kovelede and Values: Thai Disncuon nd Relatonsbp Clarifying social Work Practice retene Paplbeys ope: PaO.) 8 HAKIETT a. BaRTLEry cimento individual, Essa responsabilidade € particular. mente inerente a uma sociedade democratica. Em vir- tude da dependéncia do crescimento individual nos rela- cionamentos ¢ na organizacao social, os assistentes 5 ciais estao comprometidos com os principios democr: cos € com o direito dos grupos de atuar em tal sociedade ‘Tanto a responsabilidade dos grupos em contribuir para o bem-estar social, quanto sua oportunidade de 0 fazer, sa0 acentuadas. Outros valores decorrentes desenvolvem-se da mesma maneira PUMPHREY assinalou a necessidade de entender melhor quais valores realmente atuam na orientagao da pritica e a que niveis de abstragdo. Em seu exame do ensino dos valores ela observou que os valores instramentais ou de meio-termo cram muito freqitentemente usados na dis cussao da pratica,“ A confideneia, por exemplo, é um valor desse tipe freqientemente usado pelos assistentes sociais, Presentemente, muitos valores que se relacio- nam com metas sociais intermedidrias, como melhor par- ticipacao da comunidade ou vida familiar fortalecida, stao apenas frouxamente relacionados entre si e com os valores basicos do Servigo Social. Enguanto se dao passos para definir a maneira pela qual 0s valores basicos ¢ ins- trumentais se relacionam entre si, em um sistema logic adoquado ao modo de pensar do Servigo Social, ocorrera um movimento no sentido de um sietema de valor inte- grado. A Definigao Operacional ¢ as influéncias concor- rentes na educagao e na pratica do Servigo Social sao in- teresses estimulantes para este esclarecimento. Deste modo, a profisséo esta caminhando para construir 0 seu corpo visivel de valores. O Elemento Conhecimento Geralmente, 0 mais forte fundamento de uma profissao € seu corpo de conheciment. Como o Servigo Social de- "Wid., pe. 46-7. A DASE D6 SERVICO SOCIAL 79 fine progressivamente seu foco central ¢ seus propésitos, seu conhecimento sera construido em torno deles. No co- nhecimento pasado apareceu, principalmente em forma de feixes separados de conceitos e de teoria, ligados a va- rias areas da pratica. Houve interesse enorme, evidente ‘em muttos artigos da literatura profissional, sobre o lento avango em desenvolver um corpo sistemitico de conhe- cimento ¢ o perigo para a profissao, resultante desta de- mora, tem sido repetidamente sublinhado.” Como em re- lagao aos valores, a Definigao Uperacional estimulou es- forgos continuados para explorar as maneiras pelas quais 0s assistentes sociais podem contribuir, mais direta- mente, na construgao de conhecimento, € passos seme- Ihantes estao sendo dados nas escolas de Servigo Social.” Durante longo tempo, 0 que os assistentes sociais co- nheciam estava tao misturade com seus valores e com suas técnicas, que a idéia de um corpo isolado de conhe- cimento de Servigo Social nao parecia util nem impor- tante. Com crescente reconhecimento de que a profiss4o que amadurece deve ter tal conhecimento, a questao de que modo uma profisséo, como 0 Servigo Social, se ocupa da construgao de seu corpo de conhecimento, tinha de ser encarada. Ricas fontes de conhecimento estado disponi- veis, provenientes de muitas diregées. O problema é 0 de identificar, de formular, de sistematizar ¢ de cxperimen- tar 08 conceitos e as generalizagdes apropriados e signifi- cativos para a profissdo, O Servico Social partilha, com “Kalm, Alfeed J. “The Nature of Seclal Work Knowledge”. hr ¢ Kasius, org, New Directions m Social Work, Nowa York: Harper & 1954, pp. 194-214; e Alfred Kadushin. “The Knowledge Base of 5 Work”. In Alfred J, Kalin, org. Issues tx American Socval Wark, Nova York: Columbia University Press, 1959, pp. 39-79. “Building Social Work Knowledge: Report af a Conference. Nova York: National Assveiation of Social Workers, 1964; © Merlin Taber « Tels Shapiro. “Sacial Work and Its Knowledge Base: a Content Analysis of the Perlodical Literature". Soctal work Vol, 10, n.° 4, outubro, L965, pp. 100-06, 30 HARRIETE 9 RARPLUE muitas outras profissdes ¢ disciplinas, as dificuldades inerentes & natureza complexa e difusao de seu tema — comportamento humano. Estes acontecimentos humanos intrincados nao entrarao em ordem por si mesmos, Cada profissao e cada disciplina tem que achar seu préprio modo de organizar seu conhecimento, um caminho que seja mais titi a seus propésitos.” 0 Conhecimento de Outros Campos Como, ontao, 0 Servigo Social evté caminhando om di recao deste processo de construco do conhecimento? Ao procurar conscientemonte a teoria para guiar sua p ica, os assistentes sociais, em primeiro lugar, se voltam para fontes exteriores. A parcela de conhecimento maior e mais visivel vem de outras profissdes, como a Medicina © de disciplinas académicas, mais particularmente as Ciencias do Comportamento e as Ciencias Biolégicas. Os conceitos ¢ a teoria sao selecionados destas fontes pela sua relevéncia para o Servigo Social, experimentados na pratica e, talvez, ampliades ou reformulados em termos de Servico Social. E habitual as outras profissoes apropriarem-se, deste modo, de outras fontes, cujo co- nhecimento é relevante para sua pratica, freqiientemente acrescentando-as a0 conhecimento ¢ enriquecendo:se através de tal aplicagao. COYLE assinala dois problemas inerentes & apropriagéo interprofissional. © primeiro est na aceitagio das teo- vias na hase da autoridade de outra profissao, particu larmente se cla tem alto prestigio. Sob tais circunstan- cias, h4 a possibilidade de que a teoria possa ser aceita como dogma. O segundo periodo esta na confusao de identificacao e de fungao que, com tanta freqiiéncia, pa- rece resultar da apropriagao interprofissional.” Building Social Works Knywledue: Report of « Conference Casle, Grave Longwell, Surtal Science ti the Projesstanal Bdiew tion of Social Workers. Neva York: Couneil an Social Wark Paucation, 1958, pp, 12-3, A was po SEnvicD SOCtaL 81 Quando todo um corpo de conhecimento cientifico é re- levante para a pratica de uma profissao, 0 sistema edu- cacional desenvolve-se, as vezes, na forma de uma estru- tura de duas camadas, formada por ciéncias basicas e por cursos profissionais, como no exemplo da Medicina.” Nao tendo sido possivel, até agora, nenhuma Ciéncia So- cial inteiramente desenvolvida que possa ser usada desta maneira, os assistentes sociais apropriaram-se tanto de conceitos isolados como de pequenos feixes de conheci- mento e de teoria de outros campos. Encontrando segu- xanga em um feixe de teoria (como no exemplo da teoria psicanalitica), concentraram-se excessivamente em tac isolado corpo de conhecimento, até que as limitagées dele foram reconhecidas. Entao, veio uma inclinagae para a Ciencia Social, em um esforgo para restaurar 0 equilibrio. Como resultado de movimento tao descoordenado, os vi- rios conceitos ¢ feixes de teoria permaneceram separ: dos, predominantemente usados por assistentes sociais de grupo, assim como os especializados em Servico Social de Casos e em Organizagao de Comunidade, Os conceltos que uniriam as varias facetas do comportamento pelo qual o Servigo Social se interessa nao foram encontrados logo. E a tese desta discussao, que tal fragmentagao de ¢ a ocorrer, até que o reconheci- mento dos elementos essenciais ao Servico Social seja su- ficientemente forte para manter a profissdo mais firme- mente unida. A psicologia do ego, a teoria do papel, a teo- ria organizacional, e outros ramos de conhecimento sio relevantes para o Servigo Social, se estiverem apropria- damente integrados com seu proposito € com seu foco. Se usados separadamente, entretanto, tendem a arrastar 0 profissional para fora do foco do Servigo Social, em dire- go Aquele da outra profissao ou disciplina da qual deri- 82 HARRIETT M. BARDLEEE vam, como CovLE assinalou. Os assistentes sociais ten- deram, freqiientemente, a identificar-se com psiquiatras, com cientistas sociais ou com outros, em vez de levar seu conhecimento a cobrir inteiramente a propria area da pratica do Servigo Social. A espécie de pensamento integrative que deveria con- vir ao interesse do Servico Social, que uniria a pessoa e seu ambiente, esquivou-se A apreens4o por muito tempo. Ao final do meio do século, uma mudanga de pensamento do Servigo Social comcgou a aparecer. Isto se ilustia pela evolucdo gradual de corpo de conhecimento referente aos estdgios sucessivos de crescimento ¢ do desenvolvimento humano, originalmente desenvolvido para cursos de en- sino sobre 0 comportamento humano nas escolas de Ser- vigo Social. A partir de uma tinica focalizagao nos aspec- tos psiquicos da personalidade, 0 conhecimento foi am- pliado para mostrar o individuo dentro de sua cultura ¢ sua sociedade com as instituigdes préprias, Fol um acrés- cimo importante a contribuigdo de ERIKSON referente & personalidade saudavel, & identificagao do ego, e As cri- ses psicossociais do crescimento.” Por consideravel pe- riodo, 05 componentes biolégico e intelectual do cresci- mento receberam pouca atengao; agora esta sendo dado a eles maior reconhecimento. Conhe mento Berivado de Kxperiéneia de Servico Social Anteriormente aos anos cingiienta, j4 que os assisten- tes sociais possuiam somente limitados corpos de teoria, estavam necessariamente praticande em larga escala sobre a base dos principios do senso comum e em sua ex- periéncia em desenvolvimento, na ajuda as pessoas com Erikson, Exik HM, “Identity and the Life Cycle”. In George 8. Klek ife Cycle”. In George 8. Klein ung, Psuchotogtcat Issies, Nava York: Intemational University Press. on Penge jationial University Press ‘5 BASH DO SERVIEO SOCIAL 83 varias espécies de problemas psicossociais, Com a cons- ciéncia crescente de sua responsabilidade para desenvol- ver seu préprio conhecimento, os assistentes sociais co- megaram a voltar sua atengao para esta experiéncia pra- tica, como uma fonte. Seria possivel que 0 Servigo Social tivesse oportunidades especiais para desenvolver um corpo distinto de conhecimento? Em seu papel de membros de uma profissao de ajuda, muitos assistentes sociais (a maioria da profissao), estao trabalhando diretamente com as pessoas a quem sexve Procuram langar 0 impacto da situagao sobre as pessoas por ela envolvidas e compreender a sua significagao ¢s- pecial, para elas, 1.6., a sua percepgao, seus sentimentos € desejos a ela referentes. De acordo com esta aborda- gem, 0 relacionamento estabelecido com as pessoas que estao sendo ajudadas e o método da entrevista visam a capacitar as pessoas a falar livremente sobre seus pro- blemas e seus objetivos de vida. Como os assistentes so- clais deste modo observam e ouvem, ¢ interferem, em um esforco para causar mudanga, sentem eles mesmos a tenséio emocional e, através desta compartilhagao, sen- tem vividamente a significdncia da situagao em termos humanos. Assim, através de sua intimidade com uma ampla série de problemas sociais, de sua maneira de relacionar-se com as pessoas, ¢ de sua participagdo na experiéncia viva, os assistentes sociais tem oportunida- des especiais para compreender problemas de atuagao social Esta segunda fonte principal de conhecimento de Ser vigo Social — a experiéncia dos profissionais de trabalhar com pessoas ¢ de ajuda-las a defrontar-se com uma ampla série de problemas de vida — descreve-se geral- mente como “sabedoria pratica’” ¢ a maior parte dela esté submersa na prtica. Ela nao foi formulada e, por isso, nao se reconhece a sua extensio e se subestima sua im- portancia. Parte dela pode ser extraida da literatura do Hi HANRIETE M. maRTLEeT Servico Social, mas nao foi codificada e, assim, nao esta prontamente disponivel para 0 uso. Mas, sem diivida, a maior parte dp conhecimento pratico est implantado na pratica, E ensinado ¢ é usado como parte de um dos mé todos — Servico Social de Casos, Servico Social de Grupo ou Organizacao de Comunidade. F transmitido de um as- sistente social para outro através de supervisao e de orientagdes pessoais, Aqui, 0 modelo de método-e- técnica da pratica de Servico Social, que enfatiza a arte, estimulou o desenvolvimento do conhecimento dentro dos métodos, mas nao favoreceu o desenvolvi- mento do conhecimento sistematizado para a profissio como um todo, Na preocupagao com “sentir” ¢ “agir”, 0 que é “conhecido”, muito freqientemente, nao € sequer identificado como conhecimento ou expresso como gene- ralizagdes do conhecimento. Isto é importante, porque ha uma real possibilidade de que parte do que o Servico So- cial aprendeu, ¢ que esta continuamente aprendendo, pode nao se tornar conhecida por outras profissées ¢ dis- ciplinas, ou pela sociedade, podendo todas usé-la para melhorar 0 bem-estar social. Uma comissao da Associa- cao Nacional de Assistentes Sociais, que estava exami- nando 0 problema da construgao do conhecimento do Servigo Social acentuou, particularmente, a importancia de aprender ¢ de articular 0 que os profissionais conhe- cem, mas que nao foi suficicntemente verbalizado ou comunicado a toda a extensdo do campo, e que nao foi, ainda, reconhecido essencialmente como parte do corpo de conhecimento do Servigo Social.”* Recentemente, esforcos preliminares para chegar 20 conhecimento do profissional (ndo relatado na literatura), indicam que 0 processo de extrai-lo da pratica nao sera facil. Embora, reconhecidamente, esta compreensao ¢ estes “insights” devam ser parte do profissional, j4 que contribuem para a sua habilidade, ele nao parece prepa- ‘Building, Social Work Knowledge: Report of a Conference, p. LIL A BASE bo SENVIGO SOCIAL 85 rado para reconhecer e para formular 0 que sabe. Que perguntas, entdo, podem ser feitas a ele? Como pode ser ajudado 2 identificar e a articular o que est aprendendo da sua experiéncia direta em trabalhar com pessoas? Tal conhecimento implantado na pratica pode ser ilus- trado por um artigo sobre os fatores do tratamento, es- crito por ToYLE, nos anos trinta. O cliente, disse ela, “pode alcangar a autocompreensao ¢ a auto-aceitagéo clevadas, com uma elevada capacidade resultante de so- lucionar suas dificuldades, através da entrevista de tra- tamento em que é ajudado a assegurar alivio de senti- mento e em que experimenta aceitagao daquele senti- mento”. E ainda, 0 assistente social de casos “concede- Ihe a realidade de seu sentimento sobre seu problema de tal modo que, no processo de revelar suas necessidades, ele possa sentir a ajuda que pode levé-lo a procurar assis- téncia ulterior em outras éreas”.*” Seu artigo esta focalic zado no tratamento do Seryigo Social de Casos, mas sente-se que, ocultas pela discussao do método, existem algumas generalizagoes sobre dar e receber ajuda que tém relevancia mais ampla que para 0 tratamento do Servigo Social de Casos isoladamente. Em outro ponto, TOWLE sugere imimeros critérios para determinar as “possibilidades de tratamento de um caso.” Entre estes estio a duragdo do comportamento sintomatico, a extensdo da experiéucia da vida envon- vida e a mobilidade do ambiente.” Estes fatores a0 ob- viamente relevantes para compreender os esforgos dos individuos para lidar com seus problemas existenciais. Tais generalizagoes, todavia, néo ocupam seu lugar como parte do conhecimento da profissao até que sejam extrai- das do contexto de “tratamento” e sejam formuladas como conhecimento sobre comportamento social. Vé-se isto pelo fato de que os critérios de TOWLE nao foram ado- Towle. op. cit.. pp. 319-21. "Yhtd.. pp, 822-25,

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