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H aqueles que contam a histria de seus amores pela inflexo de cada

olhar, pelo tom da voz, pela intensidade do toque. Nossa histria se l na


tua barba. Sim, na tua barba. Palavra spera, como a princpio era ela
prpria, machucando meu rosto quando nossos lbios se encontravam
naqueles primeiros beijos apaixonados. At ento, nada sabamos sobre o
nosso futuro, e cada beijo poderia ser o ltimo. E era com esse desespero
emocionado de ltima chance que nos beijvamos, e a tua barba por
fazer, spera, dura, penetrante, riscava minha pele, traando as primeiras
linhas da nossa histria.
Mas no era nossa ltima chance. E com a sua barba cresceu tambm o
nosso carinho mtuo. A aspereza inicial deu lugar suavidade do toque da
pele que hoje eu acaricio com todo o afeto do mundo. Tua barba a
moldura perfeita dos lbios que tanto quero beijar. E quando o fao, de
olhos fechados, sentindo que posso levitar a qualquer momento, perdida no
infinito do nosso bem-querer, nela que toco para ter certeza de que sim,
verdade, estamos juntos, unidos por um fio por todos os fios que
emolduram o sorriso mais charmoso entre os sorrisos mais charmosos.
Assim, enquanto os outros amores so contados por dias, meses e anos, o
nosso ser contado pela sua barba: no nosso primeiro beijo ela estava por
fazer, no primeiro eu te amo, seu cavanhaque estava perfeito. Naquela
viagem apareceu o primeiro fio branco!
Quem sabe estaremos juntos at que ela se torne totalmente grisalha,
depois branquinha? E, como fao hoje, ser ao tocar nela, ao senti-la na
minha pele, que todos os dias eu pensarei, feliz: real!

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