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Arg. Cién. Mar, 13 (1) : 31, — 37 Junho, 1973 — Fortaleza, Cearé, Brasil INDUSTRIALIZAGAO DO CARANGUEJO UCA, UCIDES CORDATUS (LINNAEUS). | - TECNICAS PARA O PRO- CESSAMENTO DA CARNE” Masayoshi Ogawa — Tarcisio T eira Alves Maria da Conceicéo Caland-Noronha Carlos Antonio Esteves Araripe Everardo Lima Maia Laboratorio de Cléncias do Mar Universidade Federal do Ceara Fortaleza — Ceara — Brasil © caranguejo uc, Ucides cordatus (Li- nnaeus), ocorre em quase todo o litoral brasi- leiro, tendo lugar de destaque entre os crusta- eos de valor comercial que habitam as zonas de mangue. As capturas do caranguejo ucé alcancam niveis significativos ao longo da costa nordes- tina do Brasil (Paiva et al., 1971) , ocupando razodvel contingente humano, em virtude do sistema de coleta manual. Poderdo ser am- pliadas, desde que se implantem industrias para o seu processamento, uma vez que sio crescentes as solicitacées dos mercados inter- no e externo. © presente estudo trata da industrializa- Go da carne do caranguejo uca, pela transfe- Téncia e adaptagao de tecnologia, para a obten- Go de produtos destinados’ & alimentacao humana. Para tanto, foram pesquisadas trés Unhas de aproveitamento: carne congelada, carne pasteurizada-congelada e carne enla- tada. MATERIAL E M&TODOS Para efeito do célculo de rendimento da came e dos residuos, trabalhamos com 100 individuos de ambos os sexos, capturados nos Estados do Ceara e Piaui (Brasil), levando-se em consideragdo 0 comprimento da carapaca (1) — Trabalho realizado em decorréncia de convé- nig firmado entre o Banco do Nordeste do Brasil 8/A e a Universidade Federal do Ceara — Labora- térlo de Ciéncias do Mar. € 0 peso médio dos individuos (tabela 1) . Os rendimentos foram calculados tendo como base o peso do caranguejo vivo (tabela II) . ‘Os caranguejos foram cozinhados em sal- moura (3%) fervente, durante 15-20 minutos, sendo a seguir estocados em antecimara (5 a 10°C) , por 12 horas, isto é, uma noite, para maior facilidade na retirada da carne e mais alto rendimento (Lee & Sanford, 1964) O método de extragio da carne foi 0 co- mumente utilizado na regido, que consiste no seguinte: os pereidpodes so desligados ma- nualmente da carapaca, quebrados com pe- quenos porretes de madeira, sendo a carne re- tirada com canivetes apropriados. Quanto 20 rostro, este previamente limpo, apds 0 aue se faz a retirada da carne, também com ca- nivetes. Foram retiradas amostras de carnes cruas e cozidas dos pereiépodes, em separado, e dos pereidpodes e rostro, em conjunto, para and- lise da composigio quimica (tabela IIT) , de- terminando-se: proteina bruta, pelo método de Kjeldahi, usando-se 6,25 como fator de con- versio; gordura bruta, pelo extrator de Soxhlet, tendo-se, a acetona como solvente; umidade, por dessecagio a 105°C, até peso constante; cinza, por incineracio a 550°C Tudo de acordo com a A.O.A.C. (1965) . Os métodos de processamento adotados esto detalhados na figura 1. Carnes congelada e pasteurizada-congelada Um total de 2.560 g do produto foi aco1 dicionado em 32 sacos de cloridrato de polivi- nilideno, sendo estes distribufdos em 4 lotes de 32 TABELAL Material utilizado para a obtencio dos rendimentos em carne e residuos, do caranguejo uci, Ucides cordatus (Linnaeus). ‘Comprimento Nimero de reso da carapaga individuos medio (mm) ) ® 325 2 405 318 4 508 425 24 84,3 413 22 1046 525 a 143.0 515 14 183.9 625 6 235.8 675 1 2830 Total 100 TABELA IT Rendimentos em carne e residuos do caranguejo uga, Ucides cordatus (Linnaeus) Rendimentes Material ay caranguejos vivos 100,0 earanguejos cozidos 26,5 — came 22 ‘dos pereidpodes 134 do rostro 18 residuos 64 TABELA 111 Composi¢éo quimica da carne rua, cozida e enla- tada do caranguejo ued, Ucides cordatus (Linnaeus) Valores médios (3) pereiopodes Constituintes | rostr perelopodes: crue eo PSB: | crue ncaa proteina bruta| 1600 18,98 | 1530 | 76,5 } 19.17 gordura bruta] 140| 227) 129| 092} 227 umidade ‘9.92 | 75,98 | 81,00] 79,59 | 75,77 einza 308| 282| 241| 334 j 2,79 8 sacos. Os lotes I e III continham carne do rostro -+ carne dos pereiépodes, e os lotes II e IV apenas carne dos pereidpodes. Os lotes I II foram acondicionados em seguida extra- go, sem qualquer tratamento, enquanto os lotes III e IV foram submetidos a imerséio em solucdo gelada a 0,05% dos dcidos ascorbico e cftrico, na proporeao de 4 para 96, durante 3-5 minutos, apés 0 que foram acondicionados e pasteurizados. © processo de pasteurizagdo obedeceu as seguintes etapas: os lotes foram imersos em Agua quente, ai permanecendo com uma tem- peratura interna de 85°C, durante 30 mi- nutos, sendo em seguida resfriados em Agua corrente. MASAYOSHI OGAWA et al. © congelamento de todos os lotes foi pro- cessado em ttinel com circulagdo forgada de ar (- 30°C) , e a estocagem foi feita em cé- mara fria ( - 25°C) . Para avaliagéo dos caracteres organolépti- cos, foi obedecido 0 método de Kurtzman & Snyder (1960) , e os escores constam da tabe- la IV. As andlises quimicas, fisieas e micro- biolégicas est&o representadas na tabela V, tendo sido realizadas aos 0, 30, 60 e 90 dias de estocagem. Carne enlatada Foram utilizadas latas de flandres enver- nizadas a base de epox de aluminio. Como con- dimento usou-se salmoura contendo 3,785 1 de Agua, 33,88 g de Acido citrico, 386,9 g de sal, de acordo com o método citado por Tanikawa (1967) . ‘As embalagens foram forradas com papel vegetal, e em cada uma colocada uma porcao de 100g de carne, adicionando-se 10 ml de salmoura. Efetuou-se a exaustao a 100°C, du- rante 20 minutos, apés 0 que as latas foram recravadas. A esterilizacéo se processou a 110°C, durante 50 minutos, de conformidade com Nippon Kanzume Kyokai (1967) , seguin- do-se de resfriamento em Agua corrente e esto- cagem A temperatura ambiente. As anilises quimicas, fisicas e microbio- légicas foram realizadas logo apés o enlata- mento € aos 40 dias de estocagem (tabela V) . RESULTADOS E DISCUSSAO Ulmer Jr. (1964) relata que o rendimento de carnes de siris varia com a estacdo, caracte- es biologicos, utilizacdio de maquinas para ex- tracéo, mao-de-obra e intimeros outros fatores. Citado autor, trabalhando com a espécie Caltinectes sapidus, conseguiu um rendimento TABELA Iv Avaliagio dos caracteres organolépticos para as carnes congeladas ¢ pasteurizada-congelada do ca- ranguejo uca, Ucides cordatus (Linnaeus), segundo Kurtaman & Snyder (1960) ‘Avaliagho Descri¢io da avaliagio sabor delicado, doce. perda de docura; nenhum indicio de odor ou sabor de- sagradavel. 3 [regular | ligeiramente sem sabor, com odores muito fracos. 2 |toleravet | notavel falta de sabor e odor, porém, ainda, comestivel. Tortes odores sabores desa- gradavels, 1 |ruim INDUSTRIALIZACAO DO CARANGUEJO UCA 33 CARANGUEJO GOZINHAMENTO EM SAL- MOURA (3%) FERVENTE RESFRIAMENTO EXTRAGAO DA CARNE RENDIMENTO = 21.2% ENSACAMENTO GONGELAMENTO - 30°C IMERSAO EM SOLUGAO 0.05 % DE AcibO ciTRE- CO E ACIDO ASCORBICO (96:4)/3-5 MINUTOS FORRAGAO DAS LATAS COM PAPEL VEGETAL GOLOGAGAO DA CAR- NE E CONDIMENTOS ESTOCAGEM ENSACA MENTO -25 +306 FIGURA | - FLUXOGRAMA PASTEURIZAGAO 85°C/30 MINUTOS EXAUSTAO 100°6/15 MINUTOS 00 PROGESSAMENTO DA CARNE DO GARANGUE- JO UGK, UGIDES CORDA- TUS (LINNAEUS): | — GARNE GONGELADA 2 — RESFRIAMENTO GONGELAMENTO - 30°C —————+ CARNE PASTEURIZADA GONGELADA, 3~- CARNE ENLATADA, méximo de 17,53% , cozinhando os individuos em gua, durante 10-15 minutos, e estocan- do-os por uma noite em baixa temperatura, antes da extracio da carne. Fazendo 0 cozi- nhamento a vapor, sob press&o, 4 temperatura de 121°C, por 10 minutos, o rendimento por ele obtido foi de 15,9% . Suas conclusdes fo- ram as seguintes: a) — 0 cozinhamento em Agua quente é menos eritico do que o cozinha- mento a vapor, sob pressiio; b) — o uso de ma- quinas para extracdo da carne dos pereipodes ESTOGAGEM -25tsec RECRAVAGAO ESTERILIZAGAO 108°C/SOMINUTOS LC RESFRIAMENTO ESTOCAGEM apresenta 25% a mais de rendimento, do que quando extraida manualmente, porém a po- pulacdo bacteriana no primeiro proceso é muito maior; c) — a refrigeracio, por uma noite, dos siris cozidos, influi no rendimento e no prazo de perecibilidade do produto; d) — a separacdo dos pereidpodes e sua lavagem, jun- tamente com 0 rostro, apés o cozinhamento dos siris e antes da estocagem por uma noite, influem no rendimento de carne. MASAYOSHI OGAWA et al. TABELA V Aniilises quimicas, fisicas e microbiologicas dos di- versos produtos da carne do caranguejo ued, Ucites cordatus (Linnaeus), durante 0 processaniento e estocagem, Cares congelada e pastcu- Tendtcongetsde | Carne enlatada anilises quimicas ¢ fisicas = PH: em potenciémetro METROHM Her #350B, na proporeao de 10 g de carne 100 mi de agua destilada, homogenelzuda em liguidificador. —Nitrogénio da aménia|— Aciaez cia acide (N-NH_); pelo método de|~ itrico: _ segundo 2 : A.0.A.C. (1965) Conway, modifieado por Kawabata (1955), com leitura em especttofcts- metro SPECTRONIC 20, 2.420 nm. — Nitrogénio da trimetila-]— Analises __fisicas: mina (N-TMA): pelo aé-} foram observados todo de Dyer, modificado} os aspectos exter por Kawabata (1956) | no e interno das com leitura a 410 nm latas; pesos bruto, liquido, e do s6- lido. — Turbidez do dcido picrico|— Coniposicao qui- (TAP): segunda Kuriz-|~ mica: idénticas as man & Snyder (1960) , li-| de carnes conge- daa 540 nm. lada e pasteuriza- da-congelada, analises microbiolégicas = Constaram da determinacio do niimero total de bactérias, deteccao e contagem de estreptococos fecais, deteccao de Jungos e contagem do N.MP. de bactérias do grupo coliforme, tudo de acordo com Sharf (1972) Lee & Sanford (1964) , observando em Chesapeake Bay (Maryland — U.S.A.) in- dtistrias que trabalham com a mesma espécie, encontraram rendimentos entre 12 ¢ 15% . Tretsven (1971) , pesquisando rendimento da- quela espécie, submeteu os residuos do rostro e pereiépodes a uma moagem, colocando o moido em salmoura saturada e centrifugou o produto, aumentando o rendimento em 15% . Por outro lado, Edwards & Early (s/d), trabalhando com a espécie Cancer pagurus, obtiveram rendimento da ordem de 30% , om pregando ar comprimido na extracao da carne ‘dos pereiopodes No nosso estudo, trabalhando com espécie de pequeno tamanho, e usando processo ma- nual para extracdo da carne, obtivemos um rendimento total que, para ambos os sexos, chegou a 21,2% , sendo 20,9% para as fémeas € 22,6% para os machos. Os residuos ficaram em torno de 64,6% , para ambos os sexos (ta- bela II) Suehiro et al, (1962) registram a seguinte composicao quimica para o siri gazami, Neptu- nus [Neptunus] trituberculatus: proteina bruta — 17,5% , gordura bruta — 0,8% , umi- dade — 78,0% e cinza — 1,7% . Tais valores séo bem aproximados dos que encontramos para o caranguejo ued, e também muito se assemelham aos obtidos por Edwards & Eearly (s/d), para a espécie Cancer pagurus. No caranguejo ued houve uma elevac&o do teor de proteina e gordura e uma queda da umidade e cinza, na carne cozida, em relacio @ carne crua. A carne enlatada, por sua vez, comportou-se diferente, com queda nos indices de proteina, gordura e cinza, e elevacéio no teor de umidade (tabela III) . Os resultados obtidos com os diferentes processamentos séo discutidos a seguir. Carnes congelada e pasteurizada-congelada Os lotes I e II — carne congelada —, que no dia do processamento receberam escore 5 (tabela VI) , sofreram sensiveis alteragdes no 30.9 dia de estocagem, baixando para o esvore 3, no qual se mantiveram até o 60.° dia. No 90.0 dia atingiram o escore 2, bem caracteri- zado. Apesar de nao constar da tabela de ava- liagdo, verificamos que a textura se mostrava mais ou menos firme, para ambos os lotes, no 30.° dia; no 60.° dia estava um tanto flacida, € totalmente inconsistente no 90. dia de es- tocagem. . Quanto aos lotes III e IV — carne pasteu- rizada-congelada —, desde 0 30.9 dia de esto- cagem, mantiveram o escore 4, até 0 90.9 dia (tabela VI) . Tais lotes, inclusive com rela a textura, sempre mostraram boas caracte- risticas Com relacéio a pH. todos os lotes sofre- tam modificacées logo no 30.9 dia de estoca- gem, havendo porém algumas alteragdes mais significativas no 90.° dia, Observou-se, entre- tanto, que o lote IT manteve o seu pH inalte- tado, desde 0 30.° dia (tabela VI) Os resultados obtidos ndo caracterizaram © pH como ponto marcante na avaliacio do produto, corroborando afirmagdo de Kurtzman & Snyder (1960) , que trabalharam com Calli- nectes sapidus. As variacées dos teores de N-NH, , duran- te o perfodo de estocagem, foram acentuadis- simas, principalmente para os lotes I e II, os quais, de 8,2 mg% , em cada lote, passaram para 44,0 e 43,6 mg% , respectivamente, logo no 30.9 dia de estocagem, apresentando no 60. dia caracteristicas organolépticas e qui- micas de produto impréprio para o consumo humano; 0s lotes IIT e IV, que apés 0 cozi nhamento apresentavam os mesmos valores que 0s outros dois, sofreram variacdes me- nos acentuadas até'o 60.° dia de estocagem, elevando-se em seguida, porém possufam va- lores finais de produto ainda bom para consu- mo (tabela VI) INDUSTRIALIZAGAO DO CARANGUEJO UGA 35 TABELA VI Dados das andlises procedidas com a carne do ca- ranguejo ued, Ucides cordatus (Linnaeus), logo apos © processamento e durante o periodo de estocagem. ‘Tratamentos carne pasteurizada- Dias | carne congelada pagelada aa oy caracteres organolépticos eS ° 72 ih A a 30 ia) al a7) ozs ® me | BL 7 | TB 90 a | at v3! 86 wi % i, me%) o a2) 82 2) 8a 0 — oe 194 | U8 0 oso | 930 3 | 40 w | 16s | mad ¢ 10s | 79 N-TMA (made) 0 zt | aad] 20 | Si 30 476 | 55 | Bie 60 iad | 9,07 [431 90 952 | 13,98 | a4 ‘turbidez do acido pierico (TAP) 9 138) 128 135 | 128 30 330 | 540 147 | 160 60 4 | 115 yo | 170 90 mms _|_ 1040 355 | 267 Thimero de bactérias/grama de carne um) | 49 x 105) 55 x 105 | 49 x 105] 55 x 105 oe | | AL x 103} 11 x 103 30 | 65 x 105) 67 x 105 | 13 x 103] 14 x 109 & | al x 106, 39 x 105 | 21 x 103/33 x 109 90 | a8 x 106] b5 x 105 | 22 x 103| 25 x 103 (® — antes da pasteurizacao, (2) — apos a teurizacéo. © nitrogénio da trimetilamina quase ndo existe no produto fresco. Logo apés o cozinha- mento, observou-se um teor de 2,97 mg‘ para os lotes Ie TIT, e de 3,12 mg% para os fotes II e IV (tabela VI) . Comparando-se os caracteres organolépticos e os teores de N-NH.,, com os valores apresentados pelo N-TMA, julgamos que entre 7 e 9 mg% de N-TMA esté o limite para que a carne do ca- ranguejo uca possa ser utilizada na alimen- tagéo humana, Sendo assim, 0 lote IT néio ti- nha condicdes de consumo no 60.° dia e 0 tote Ino 90. dia de estocagem. Kurtzman & Snyder (1960) , trabalhando com carne de Callinectes sapidus, sem refe- réncia ao tempo de estocagem, consideraram que a carne do rostro com valores de turbidez do acido picrico abaixo de 35 era de boa ou regular qualidade; a carne esfarinhada do rostro, com valores abaixo de 40 era também de boa ou regular qualidade; e a carne das patas e pincas, com valores abaixo de 25, era igualmente de boa ou regular qualidade. No presente estudo, por se tratar de es- pécie de pequeno porte, no efetuamos a se- paraeao da carne do rostro em dois tipos, e os seus valores de TAP , logo apés o cozinha- mento, foram 13,5 para os lotes Ie III, e 12,3 para os lotes II e IV (tabela VI) . O lote II logo no 30.° dia de estocagem, superou o limi- te estabelecido pelos autores citados; o lote I também o ultrapassou, quando da analise feita ao 60.° dia; os lotes IIT e IV tiveram comporta- mento bem melhor, j4 que apresentavam os valores 35,5 e 26,7, respectivamente, no 90.° dia. No que se relaciona com as andlises mi- crobiolégicas (tabela VI) , todos os lotes, logo depois do cozinhamento, tinham um numero total de bactérias bem significativo; nos lotes Te IT, ao 30.9 dia, observou-se um ponderdvel acréscimo, que foi progressive até o 90.° dia de estocagem; nos lotes IIT e IV o acréscimo 86 foi significativo entre os 60.° e 90.° dias de estocagem, ainda assim com ntimeros bem in- feriores aos dos dois primeiros lotes. Observou- -se, por outro lado, uma queda acentuada nas contagens feitas antes e depois da pasteuriza- Go. Para todos os lotes, oN.M.P. de bactérias niio foi significativo, e a deteccéo de fungos foi nula. O Departamento de Satide Publica do Es- tado de Maryland (U.S.A.), regio onde exis- tem intimeras indistrias que se dedicam a dustrializacao de cane de siris, estabeleceu que © numero maximo tolerdvel de bactérias seja da ordem de 100.000/g de carne e um N.M.P. de 50/100g, para o produto cozido (Ulmer Jr., 1964). Para. o produto pasteurizado, a mesma instituicdo estabeleceu um maximo de 25.000/g de carne, com N.M.P. igual a zero. No presente estudo, os lotes Ie II ultra- passaram, desde 0 cozinhamento, o limite aci- ma estabelecido, a excecéo do N.M.P.; os lotes TIT e IV apresentaram-se com valores in- feriores desde a pasteurizacéo até 0 90.° dia, quando o lote IV atingiu o limite de tolerancia para o produto pasteurizado. ON.M.P. foi in- significante. Flynn & Tatro (1966) , trabalhando com a espécie Callinectes sapidus, acondicionaram a carne em sacos plasticos de polipropileno (INDEPLAS 307 x 400) , e submeteram 0 pro- duto a temperatura de 185 a 187°F (durante 100, 105 e 110 minutos) e de 190 a 1920F (du- rante 115 minutos). Verificaram que, nesta Ultima faixa de temperatura, a contagem total de bactérias foi insignificante, porém a cor e © sabor da carne foram afetadas. Na primeira 36 MASAYOSHI OGAWA et al. faixa, tais qualidades persistiram normais, e a contagem total de bactérias revelou nuimeros também insignificantes, principalmente apés a pasteurizagao durante 110 minutos. No nosso caso, usando-se saco de clori- @rato de polivinilideno, o material foi pasteu- rizado a 85°C (temperatura interna), durante 30 minutos; 0 comportamento do produto, do ponto de vista bacteriolégico, foi satisfatério, preservando-se a cor eo sabor da carne. Segundo Tatro (1970), a carne de siri Callinectes sapidus, enlatada e pasteurizada, pode ser estocada por um perfodo de 6 meses, desde que a temperatura de estocagem seja 32a 36°F, Carne enlatada Apés 40 dias do processamento, o produto se mostrava com sabor agradavel, muito seme- Thante ao da carne recém-cozida. O odor es- tava bem caracteristico, a textura macia, com © mesmo aspecto fisico das carnes congelada e pasteurizada-congelada. © pH da carne enlatada, durante aquele perfodo, atingiu 7,6, mostrando alteragéo em relacéo & carne crua, cujo pH fot igual a 6.8. ‘As andllises quanto a acidez em dcido ci trico, revelaram o valor 0,21% para o produto condimentado, e de 0,11% para o condimento, valores por nés reputados como normais. © aspecto externo das latas manteve-se normal, sem nenhuma dilatacdo ou oxidacdo. Tgualmente, a parte interna (verniz) se com- portou bem, sem apresentar indicios de altera- Ges, resultantes do aquecimento da esterili- zac&o ou posteriores reacdes do produto vom © papel ou deste com o verniz, ‘Os pesos bruto, liquido, e do sdlido foram os seguintes: 175 g, 125 g, e 100 g, respecti- vamente. As anilises microbiolégicas, realizadas quando do enlatamento e apds 40 dias de es- tocagem, nao revelaram a presenca de bactérias. CONCLUSOES E RECOMENDAGOES 1 — O rendimento de 21,2% foi conside- rado satisfatério para a espécie, em face mes- mo do pequeno tamanho dos individuos, 2— A carne pasteurizada-congelada, com- parada com a carne simplesmente congelada, ofereceu melhores resultados, pelo que se re- comenda prioridade para o método, num apro- veitamento industrial. 3 — Entre 7 e 9 mg% de nitrogénio da tri- metilamina est o limite para que a carne do caranguejo possa ser utilizada na alimentagao humana. 4 — 0 indice de turbidez do dcido picrico € muito significativo como indicador da qua- lidade da carne congelada e pasteurizada-con- gelada, 5 — © verniz de epox de aluminio nas latas demonstrou bom comportamento. 6 — O produto enlatado, apés estocagem de 40 dias, apresentou-se em condicdes de ser usado na ‘alimentago humana, SUMMARY This paper deals with the meat processing of the mangrove crab, Ucides cordatus (Linn- aeus). We studied the meat recovery figures and preservation of frozen, frozen-pasteurized and canned meat. After conducting experiments with the mangrove crab, the following con- clusions were drawn: 1 — The average recovery of meat remo- ved from the mangrove crab was 21.2% on the laboratory scale. 2 — Frozen-pausteurized meat gave good results in comparison with simple frozen meat. 3 — The range limit in crab meat for human consumption lies between 7 and 9 mg% of nitrogen of trimethylamine. 4 — The picric acid turbidity test is signi- ficant method which is a good indication for quality of the product. 5 — Epoxy aluminium for lining the in- side of the can is a good protective factor 6 — After 40 days of stock, the canned meat showed good conditions’ for human comsumption. 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