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fon Ol: (85)87303376 ou (85)8753: TIM: (85)99082291 ou (85)965 6. Conta: 38 64.9, Boletim O Anti-Quiproco (Futebol Clube) neo Fortalea« Cour «Junho 2013, 0 Anti-Quiproeé (Futebol Clube) © Anti-Quiprocé Futebol Clube vai a campo; sem téenico, artiheiro ou torcida organizada; sem tiete, mascote ou camisa patrocinada; sem brasio, hino ou titulo de campedo, Na lateral, o grande Detetive Bacurau; de volante, Zé dos Olhos de Diamante; no meio, 0 tal ‘Augusto que ndo veio; ¢ se esta & procura, por certo, de alguns jogadores diletos. Até aqui, limitou-se a ser time de racha, se organizando, ainda que embrionariamente, ‘num modus vivendi ds avessas (em que © ponto comum dentre as divergéncias néo_ pretende apazigué-las), ccontrério @ qualquer modus operandi (no qual 0 vivo se engessa, se petrifica em prineipios ¢ procedimentos quase inquestionaveis). Boletim especial da Copa (© Brasil ja nfo & Vindouro, como 0 Augusto", a0 contririo, & uma das atuais vedetes da modemnizacao em crise. As Copas ¢ a Olimpiada, a usina de Belo Monte ¢ ‘0 Pré-Sal, ¢ todo o seu rastro de remogdes, especulagdes imobiliérias e financeiras, disputa entre Estados e destruigo ambiental, sdo 0 Abre Alas do tiltimo surto de ‘modemizagao tarda. Para o brinde de celebrag3o algumas das capitais do aiantedesperto oferaram um ds fantasmas do espiito io tempo, Sir Paul McCartney, tornando atwal uma antiga ligdo de Estado: “te deixarei pao e espeticulo”. Em tempos de copa de fim de mundo - pelo fim do mundo da copa! ~, nada melhor do que a ginga, a malandragem, amolecagem, a malemoléncia e maledicéncia do Dioni dos gramados, Mané Garrincha, nascido e crescido no Pau Grande, para dar um drible desconcertante na sociedade baseada na produgao de mercadorias! —Decerto seria grandiosa uma festa popular, a qual alguns chamam de revolugio, que virasse as costas aos mega eventos € mega projetos, aos fantasmas, bobos da corte ‘mercantil, 20s partidos e demais burocracias e & barbérie, tanto a violencia quanto o esvaziamento, deste decadente modo de produgao e de vida baseado no capital! Augusto Vindowro, @ alta da lira desafinada dos seus vinte anos tortas, era um Jovem tio promissor um rapacote tao atotetmado ¢ crc gues mal intent qe en pyre Lniverstiriaselargow-se na vida sem rede de undo, despedida de mae (1 bajo de namorada, Sobre o drible nas relagies fetichistas Se hi um Deus que regula o futebol, esse Deus & sobretudo, irénico e farsante. Garrincha, que nunca foi ‘Mané, era diferente dos deuses do Olimpo — talvez.fosse tum anjo torto, um anjo demdnio incumbido de zombar de tudo e de todos. Como o Deus dinheiro, Cronos devorador de seus fihos, derrotou e submeteu ao scu reinado todos ‘0s demais deuses que a pré-historia humana carregou eonsigo até aqui, sua relagdo com Garrincha no se deu diferente: pobre, pardo e feio, pequeno, pera torta fe mero mortal, ajudou um mundo inteiro a sublimar 0 soffimento. Mas 0 altamente trigico € que o sofrimento ainda persiste, e ndo hi mais outro Garrincha disponivel ‘Ainda assim, Se caso aprendemos algo com 0 seu drible, fesse algo é singular e uma marca cultural & qual no se pode prescindir para dar um drible no tempo da pré- historia humana marcada pelas relag6es fetichistas! A interrupgio do tempo histérico do fetichismo Antes de se transformar 0 mundo, hé tanto que se ‘compreender criticamente a esséncia do tempo quanto interromper praticamente a sua vigéncia, A temporalidade a base fluida sobre a qual se edifica 0 mundo colossal do Ser-valor, enquanto reino espetacular da contemplagio passiva de imagens ¢ do mero fazer inconsciente de mercedorias. O negativo fundamento ontolégico originario do sujeito da experiéncia histérica moderna (o capital), enquanto infinito reacoplamento de instantes de {quantum de tempo a si mesmo de forma sempre crescente, € © masculine devir do. trabalho abstrato-concreto produtor de mercadorias. Imprimir ao devir o caréter de ser eterno é a pulsio mais abcecada do Ser-ai do capital. © modo de ser da temporalidade do Ser-ai do capital & a cotidianidade miseravel da “Vida nua” dos individuos coisificados por uma forma social abstrata, que tende a destruic¢io da sensibitidade dos contetidos coneretos da realidade. A esséncia do tempo € 0 continuo de agoras homogéneos, vazios ¢ infinitos no qual a experiencia vivida dos individuos enquadrados pela canga fatigante do tripalium se constitui como sofrimento € estranhamento. tempo € a alienagio pela qual uma fantasmagoria se transpbe na existéncia com 0 propésito esquizofrenico de efetivagao do nada estrutural que marca a sua indole. O nada que preside imanentemente a regido abissal oculta dda existéncia modema determina fundamentalmente a experiencia do tempo homogéneo, vazio e infinito dos individuos mercantis. © homem, animal fetichista que existe até agora na medida em que pressupde um Ser no qual projeta estranhadamente a sua poténcia social numa esfera separada que se autonomiza frente a ele, é processo ccontraditério de temporalizagao histérica do conjunto de 6 suas relagdes sociais entre si e com a natureza. A hist6ria €0 paleo no qual os atores socialmente determinados atuam portando miscaras de cariter social constituidas mediante um prius fetichista, que condiciona os. seus feitos empreendidos no tempo segundo a autoridade identitéria do Ser. Esse animal etichista configura seu ser social estranhado no tempo histérico como sendo natural O ceardter fetichista desse animal diz respeito a0 proceso em devir de seu ser social determinado originariamente por uma zona de indistingio entre 0 histérico © 0 natural, entre o transitério e o etemo. Portanto, a historia humana tem de ser compreendida como histéria de sua constituigio fetichista, onde ocorre a marcha de um fantasma autonomizado por sobre o conjunto das relagdes sociais. O ser social estranhado desse animal nao cai no tempo, mas se forma no interior do tempo hist6rico do fetichismo em geral. Para se criar uma poténcia negadora do continuo de sofrimento da historia das relagdes fetichistas, hi que se reapropriar do conteido dos artefatos culturais da histéria mutilado pela forma social abstrata, operando nele um processo antropofigico de ressignificagdo critico-radical. A forma social abstrata do pensar e do agir historicamente determinada tem de ser combatida pela poténcia negadora de anti-sujeitos conscientes da sua inconsciente constituigdo fetichista. Tais anti- sujeitos tém de requalificar sua virtd através de_uma nova experiéncia de tensdo contra o tempo homogénco, vazio € infinito de codgulos de quantum de trabalho, baseando-se em tempos-de-agora heterogéneos, prenhes de contetidos, finitos ¢ irreversiveis. Um artefato da cultura histérica brasileira que tem de sofrer uma_metamorfose conteudistica pelo fogo ressignificador de uma nova teoria critico-radical & 0 teor 7 sensivel do corpo malemolente e sambado do Mané, que soube muito bem como brincar com a bola, ironizando seus marcadores. A pueril brincadeira de boia do Mané, que envolve sensualidade, sensibilidade e sexualidade, pode ser reapropriada e desviada como um fator dentre miitiplos outros que requalifique esses anti-sujeitos. Ha de acontecer um grandioso evento histérico, depois do ‘iltimo dia, no qual anti-sujeitos vao ter de se por diante da fantasmagoria que habita na estincia mais profunda de sua constituigd0 fetichista, suspender por um étimo a vigéncia do tempo homogéneo, vazio ¢ infinito, depor 0 esiado de excegio ¢ efetuar um drible desconcertante na estrutura do Ser estranhado, interrompendo-se, pois, a transmissio do continuo de sofrimento da histéria do monstruoso deserto de ruinas das relagdes fetichistas. Quem sabe se 0 monumento da hist6ria apés essa interrupgdo ndo seja 0 “eireo em chamas”. ‘Toda emancipagio que no emerja de onde esté o perigo permanece ainda na niZo emancipacao. Ora, anti-sujeitos, a vida é breve, se a nossa existéncia contraria a logica da necessidade do poder ser animal fetichista com a introdugdo de uma nova dimenséo da contingéncia do poder no sé-lo mais, entio vivamos para profanar a Spria condigao fetichista Sobre o enlace de coragio e mente Pensar déi. ©. gozo mercantil, como suspensio da reflexio, coloniza 0 desejo. O” desejo propulsiona 0 pensar, Como so raras as intengdes a margem do sistema que nio visam integrarem-se a ele, a nao participacao no gozo mercantil ger revolta, Essa revolta espraia- se como barbérie, © nao como conscigncia critica, Garrincha, que ndo era Mané, decerto foi tiete, mas tiete ambigua: mesmo integrado ao espeticulo ainda cra Garrincha cotidiano, namorador € moleque; expressav: de modo pratico, que a vida é, dentre outras coisas, uma luta corporal, uma ginga nao adequada, uma alegria de viver, Sem esquecer que “pra fazer um samba com beleza & preciso um bocado de tristeza”, quem dera a nds, na tristeza secular dos tr6picos colonizados, entrelacarmos sensibilidade e razio, consciéncia critica e paixio como no entrelagamento de tons ao qual chamamos aurora. ‘Aguilo em que um século de tentativas revoluciondrias falhou, foi em nao ter racionalizado e tornado ‘apaixonante a vida humana”. (Dominagao da natureza, ideologia e classes. Internacional Situacionista) Narragio da partida de abertura da Copa do Fim do Mundo ‘A modemagem ocupou_o mundo. Suas_fiequéncias jé aleangam as mais remotas paisagens naturais e humanas. A narrativa que agui encontraré registro foi ouvida nas ondas de radio aié das brenhas da tegito do rio das almas No povoado do Sacramento, num certo dia de Domingo, & mulher de Jodo Belo, Dona Mocinha, ligou o ridio para ouvir amissa do Papa. “Atengiio torcida brasileira! Atengio todos os povos! Vai ccomegar a primeira partida da Copa do Fim do Mundo. A arena esti cheia e os dois times prometem um grande jogo. ‘Quem vos fala & Grilo Falante e ao meu lado tenho o grande comentarista e migo, escritor de colunas futebolisticas © sociais, Chico Panelada, ‘A arena esti uma beleza! Afinal, os govemos deixaram de lado direitos bésicos. (educagio, sade © moradia) © priorizaram as vias e o sistema de transportes para que as, ‘mercadorias (coisas e pessoas) circulassem e fizessem girar a roda emperrada da economia! Para que, enfim, estivesse tudo assim como est: - Espléndido! Em campo o time da Sociedade Patriaeal Produtora de Mereadorias, fazendo da bola um pretexto para. o lucro, dos jozadorés uma vedete, da torcida uma bobaleia e da Vida’ um espeticulo: na comissdo técnica, © Banco Mundial © 0 FMI, dando as ditetizes estratégicas; no gol, o Estado, uc or abe aspen, or fz grands defense sqm lo time; a dupla de zagueitos sio a policia e o exército dduas forgas brutes que param todas as jozndas contririas fiquemos de olho no juz, o tal dreito, pois este costume fazer vista grossa ds apdes truculentas dos zagueiros; nas laterais, a politica e a economia, uma no lado oposto da outra, mas sempre tabelando; de volantes, a nagio ¢ o trabalho, dando 10 sustentagio tanto pritica quanto ideoldgica & estratégia do time, o capitio € o capital, que joga como meia-antador, © comego € o fim das jogadas passam por ele; mereadoria, valor e dinheiro, por suit vez, se dinamizam com 0 capital do ‘meio para 0 ataque formando um quarteto mais destemido do que o dos Tres Mosqueteros. Esse é o time titular. No Danco de reservas esti a arte, que tornou-se design mercantil enarcssmo ettcoesquizftenico, « democraci, que pode ou mio entrar em campo dependendo do desenvolvimento do jogo, ¢ a sustentabilidade, que vez ou outra & escalads, ras mio deixa de tratar a natureza como mero objeto, mero recurso natural ~ Chico Panelada, nos dé sua opinido sobre o time, ~ Antigamente, o Capitio Blue dizia que ‘nem 0 Brasil de 58 cenfrentava esse time!”; hoje, nessa noite histrica e estrelada, ‘eu repito: nem o Barga o enfenta! ‘Senhoras e senhores, meninos € meninas, estamos realmente esenciando esse grotesco momento historico, o time da XR ciedade Patriaral Produtora de Mereadoris, antes mesino dde comegar a partida, esti brigando entre si: policia nio aceita o salirio que o time the paga € nem as condigdes de ‘Jogo que o Estado e a economia Ihe impoem — dizem até que eli se recusa entrar em campo; o direito no quer perder seu espago no campo do Estado para a politica; € o capital, diante do valor contundido de tristeza e a economia em depresio pla atl contatpfo de auoracdo no lugar do trabalho, j& no i como antes. Essa briga, que fio Fil e'0 Banco Muidialrepensarem e imporem suas «stratégias para reorganizar o time, esti gerando na toreida um descontentamento: Sio vaias, faixas de protesto, palavras de ant-ordemefumultos em repo tal stuagio!Aesquetdae 0s atuais baluartes da modernizagdo tardia (Brasil, sede da tal {Cop do Fim do Mundo, Affica do Su, dima se, Rissa, ia € China) tentam intervir nos confitos, mas em vao. i Do outro lado do campo comega seu aquecimento 0 ‘Transnacional Futebol Clube...”. A transmisslo cai ~ Decerto 0 jogo ainda precisa ser jogado (ou ndo, 0 Transnacional Futebol Clube, por falta de treino, organizagao e estratégia, pode vir a optar pela pritica do boicote). [Transmissio feita pela ridio Anti-Quiprocé, levando a subversio do litoral ao sertio, assistindo a partida numa TV de 12 polegadas]. 12 Contribuicio para uma arte de viver e transcender 0 capitalismo na crise do seu limite 1° parte “Tempo...tempo...tempo... Tempo que passa soberano... terno ‘encedor dh Eomplens bath Jo tempo. Tempo enigtico, ccheio de sutilezas, tempo hier6glifo.. Tempo necessirio, ‘tempo historico, nao ontoldgico, que a todo custo precisa ser decifrado! Tempo que nos escapa como o vento, € que nos

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