Você está na página 1de 22
ECONOMIA REGIONAL: CONCEITO E FUNDAMENTOS TEORICOS' Nali de Jesus de Souza” lina Economia Regional, abordando seus conceitose fundamentos te6ri- 0s, Estuda a influéncia do pensamento neoclassico sobre a anilise econdmica tradicional, que exclui todo contexto geogrifico. Expde outras razBes do abandono da andlise espacial e © porqué do surgimento da Economia Regional. ‘presenta definigdes, abordagens, conteddo.e métodos da andlise regional. Estabelece a diferenga entre espaco e regiao ¢ discute riteios de regionalizagdo, Ao analisar a mobilidade dos fatores de produgio e o equilfrio geral, detalha as causas da mobilidade do capital, do progresso téenico ¢ da mio-de-obra, incluindo o talento gerencial Palavras-chave: Economia Regional. Métodos de regionalizagio. Mobilidade de fatores. Abstract: This article presents a survey of Regional Economics, analyzing their concepts and theoretical foundations. It studies the influence of the neoclassic thought about the economic analysis that excludes the geographical context. It iscusses other reasons of the abandonment of the spatial analysis and the reason why the Regional Economics arises. It presents definitions, approaches, contents and methods of the regional analysis. It establishes the difference between space and region and discusses the regionalization criteria. It analyzes the causes of capital, labor, technology and hu- ‘man capital mobility, Key-words: Regional Economics. Regionalization methods. Factors mobility JEL Classification: R10, General; R11, Regional economic activity: growth, development, and changes. I. ANALISE ECONOMICA TRADICIONAL © clemento espaco nao aparece na andlise econdmica tradicional: a teoria cléssica e neoclés- sica fundamenta-se em um mundo estético ¢ sem dimensGes, onde o fator tempo é a Varidvel essen- cial. Somente na anélise das trocas internacionais ¢ que se tem a insergao do elemento espaco, apoi- ada, contudo, por uma hipétese irrealista de custo de transporte nulo. No interior da economia na- ional, em verdade, no poderia haver motivo para estudos espaciais, em virtude da suposigao da perfeita mobilidade dos fatores de produgZo, dos bens e servigos e das pessoas. Ela conduziria o sistema econdmico ao equilibrio, uma vez. que se observassem desigualdades marginais e transit6- rias nos custos de producdo, nos saldrios e nos pregos dos bens. Havendo, pois, uma diferena nes- ses elementos, os fatores deslocar-se-iam instantaneamente, em resposta e ganhos marginais, restau- rando 0 equilibrio em todas as regides. Dessa forma, nao haveria necessidade da intervengo do Estado na economia, As forgas de mercado eram tidas como suficientes para conduzir o sistema econdmico a0 equilfbrio. Elementos vitais da andlise regional, como a localizagao das atividades econdmicas, os custos de localizagio ¢ de transporte, quando nao considerados nulos, eram medidos pelo ganho ou perda de tempo. Uma vvez mais 0 elemento tempo tomava o lugar de uma possfvel insergo da varidvel espago na andlise econémica. As considerages dinamicas ¢ o papel do tempo na economia, tornada a variével relevante da anélise, pelo desenvolvimento da Escola hist6rica alema, proporeionavam bons aportes & andlise econdmica, contribuindo para 0 completo esquecimento do elemento espaco. Por outro lado, os e- Jementos temporais prestavam-se mais facilmente & andlise matematica rigorosa, a construgio de curvas suaves e continuas, enquanto a varidvel espago nunca se inseriu bem nos modelos tradicio- * Publicado originalmemte na revista Perspectiva Economica, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Ano XVI, v. 11, n. 32, 1981, p. 67-102. Professor do curso de P6s-Graduaco em Economia do Desenvolvimento da Pot Grande do Sul. Site: www.nalijsouza.web.br.com, icia Universidade Catlica do Rio nais. Acreditava-se, além disso, que a distribuigao espacial das atividades econdmicas tinha somen- te causas no econémicas, que os fendmenos econdmicos ocorriam em um mundo sem dimensdes e sem custos de transporte. 1.1 Influéncia do pensamento neoclissico A longa tradigo da escola neocléssica na teotia econdmica impediu que se considerasse cfetivamente 0 elemento espago na andlise. As hip6teses marginalistas no sto aplicdveis 4 dimen- sio espacial por que pressupdem continuidades. O territério nao possui, entretanto, elementos dis tribuidos de maneira uniforme; a heterogeneidade e a descontinuidade constituem a regra mais fre- quente. Constituem prova disso os centros nodais, a auséncia de vias de transportes em todas as di- regées e a existéncia de concentragao demografica ¢ industrial. Por outro lado, caso houvesse perfeita flexibilidade dos pregos ¢ perfeita mobilidade dos fatores de produgdo, dentro de um mesmo pais, nao haveria desigualdades regionais e 0 problema da Economia Regional deixaria de existir. As diferencas nos pregos, custos, saldrios e rendas entre as regides persistem ja pelo simples fato da presenga de custo de transporte significativo. A distan- cia restringe a interagao espacial e concede prote¢do monopolista as firmas, de modo que as forgas de mercado nao so suficientes para igualar as rendas regionais e para proporcionar alocagao étima dos recursos no espago, Existem resisténcias econémicas ¢ ndo-econdmicas & mobilidade dos fatores de produgao. As forcas de mercado nao levam inevitavelmente a igualdade das rendas per capita tegionais ou alocagio étima dos recursos. Em certas circunstincias, podem até atuar de forma desestabilizadora. A economia de mercado, em verdade, proporciona 0 deslocamento de populagdes para as regides centrais, ocasionando a concentragZo urbana em um reduzido nimero de centros. 1.2 Criticas ao pensamento neoclassico As condigdes do equilibrio neocléssico so as seguintes: a) igualdade dos pregos dos fatores em todas as regides; b) igualdade da produtividade marginal dos fatores em todo o espago nacional (mesma tecnologia e mesma produtividade da m‘io-de-obra em todas as regides); c) igualdade do prego de produtos idénticos em todo o espago (inexisténcia de custo de transporte ¢ de outros custos originados pela fricgo da distincia); d) no equilfbrio, supde-se a igualdade entre a produtividade marginal de um dado fator com o seu prego, em cada regio. ‘Tendo em vista que as produtividades marginais e os pregos so os mesmos em todas as re~ gides, 0 equilibrio inter-regional é visto de uma ética paretiana; em outras palavras, 0 equilfbrio do sistema é tido como 0 conjunto dos equilfbrios regionais (somatério das quantidades de equilfbrio de um dado bem a um mesmo prego). Essas condigées implicam que 0 nfvel de equilfbrio varia exclusivamente por modificagdes tecnol6gicas e por alteragdes da demanda. Existe convergéncia inter-regional do prego dos fatores € das rendas de maneira instanténea ¢ sem custos. Toda mobilidade espacial de fatores cessaria uma vez atingido 0 equilibrio, isto é, quando houvesse a convergéncia do preco dos fatores e dos bens em todas as regides; dessa forma, nao haveria outros motivos para a mobilidade dos recursos. Nesse sentido, a alocago étima dos recursos de uma regiao coincidiria com 0 6timo do sis- tema nacional de regides. Essa identidade de maximizago da renda regional com a renda nacional implica na hip6tese de concorréncia perfeita e de continuidades espaciais, Entretanto, havendo custo de transporte significativo, 0 prego dos fatores e o prego dos bens sero diferentes entre as regides, ‘uma vez que a zona de producio nio é necessariamente a mesma zona de consumo. A presenga de economias de escala nas empresas e economias externas nas indistrias have- ria indugdo a movimentos de fatores de produgio em sentido oposto ao do equilibrio. Com isso, aumentariam as diferencas regionais no prego dos fatores, em vez de diminuir. [gualmente, 0 grat de urbanizagto e as diferengas na produtividade do trabalho acarretam divergéncias na taxa de salé- rios, implicando desigualdades regionais nas condigdes de equilibrio entre as regides. Por outro lado, a distancia e as preferéncias de residéncia das pessoas limitam a migragdo da mio-de-obra de uma Area para outra em resposta a variagdes marginais na taxa de salérios. Esse imobilismo natural verifica-se em relagio aos demais fatores de produgéo. Tendo em vista que a dotagio inicial dos recursos naturais € diferente entre as regides, a regra do desequilibrio é mais aceitavel do que a do equilibrio. 1.3 Outras razbes do abandono da anilise espacial Outros motives do atraso da analise espacial resultaram principalmente da atuagao das poli- Lucas econdmicas dos governos centrais, que tinham sua atengo concentrada nos grandes problemas nacionais, como pleno emprego, inflagio ¢ desigual repartigao da tenda entre as classes sociais. A- demais, os problemas regionais quando nio so muito acentuados mostram-se com menor evidén- cia, face as dificuldades estatisticas regionais. Outro motivo do atraso da andlise espacial prendeu-se ao fato de que as indidistrias tinham sua localizago imposta, na maioria dos casos, pela localizagiio das fontes de matérias primas (jazi- das de carvao mineral em particular). Com o surgimento da eletricidade e da redugio do indice de material dos produtos, ' a localizagao das firmas ficou mais orientada ao mercado consumidor, ou, €m certos casos, em pontos intermedidrios. A relagdo entre industrializago e urbanizacao tomou-se mais evidente pela dependéncia crescente das firmas em relagio ao mercado consumidor ¢ ao mer- cado da mio-de-obra, * Este fator contribuiu para o crescente interesse pela andlise regional. Pode-se, hoje em dia, moldar a distribuigio geogratica das atividades econémicas ¢ das po- PulagGes influenciando a rede dos transportes, a dotagiio de infra-estruturas industriais e a concen- tragdo urbana através da criagio de novos centros urbanos planejados. IL SURGIMENTO DA ECONOMIA REGIONAL 2.1 Razées do surgimento da Economia Regional Como foi dito, 0 modelo neoclissico do equilfbrio parcial da firma e do equilfbrio geral dos mercados ndo necessita do elemento espaco para se construir. O ajustamento instantineo dos pregos € das quantidades implica na imobilidade de fatores, bens e servigos e populagdes, bem como na inexisténcia da Economia Regional. Entretanto, as crescentes desigualdades regionais na renda per capita sio uma prova de que os postulados da abordagem neoclissica nao se verificam e de que 0 fator espago é um elemento importante a ser levado em consideragao nos modelos econémicos. Ao lado das deficiéncias teéricas da abordagem neoclissica, da existéncia de custos de transporte significativos, do fator distancia que concede protegio monopolista as empresas, consta- tou-se que a industrializagao ¢ a urbanizagio das regides ocorreram de maneira desigual no espago; isso acentuou a defasagem entre regides ricas ¢ regides pobres dentro de um mesmo pais. As mudangas nos padres locacionais, a intensa industrializago ¢ a revolugdo agricola pro- Porcionaram répida expanstio urbana nos principais centros metropolitanos dos Paises. 0 cresci- | Inuce de material €a relago entre o peso das matériasprimas insumidas por unidade de produto final. A priori se diz ue Se 0 indice de material for superior 8 unidade, a fabrica tender a localizar-e junto a fonte da matéia prima de * ponderagio; quando for inferior &unidace, isto &, quando 0 produto ganhar peso durante o processo produtive (Pela adigdo de insumos nio considerados, por se encontrarem em toda a parte a0 mesmo custo) a firma tenderd a loo, lizar-s junto a6 mercado consumidor. * No meio urbano, as ‘empresas beneficiam-se da proximidade dos consumidores; da existéncia de insumos urbanos, como servigos, consultaras especializadas, administrago pablica; da presenga de insumos industiis, bem come de contatos divers; estas Slo as chamadas evonomias de aglomeragao ou economias extemas em geral mento desses mercados urbanos atraiu sobremaneira a concentra butram para a criagzio de economias de aglomeragiio mais do que proporcionalmente no centro prin- cipal nacional do que nas regides periféricas, acentuando ainda mais as desigualdades regionais. No nivel internacional, certos acontecimentos como a crise de 1929, a crise urbana nos Es- tados Unidos e o surto rodoviario nesse pais contribuiram de maneira decisiva para a multiplicagao dos estucios empiricos nos niveis regional e urbano. Com a crise de 1929, encarou-se o problema da concentrago industrial como nociva, uma vez que o desemprego ¢ demais efeitos da crise nao se difundiram de maneira uniforme no espago, gerando maiores problemas sociais em certas regides do que em outras. Em certas cidades inglesas, por exemplo, 0 desemprego atingiu a cifra de 50% nas regiGes mais ricas. Os programas de recuperagao econdmica foram obrigados, conseqiientemen- te, a considerar o elemento espago na sua elaboragao. Os investimentos foram naturalmente maiores nas regides mais atingidas pela crise ¢ estudos laterais foram efetuados para avaliar seu impacto multiplicador nos demais setores de atividade. A crise urbana nos Estados Unidos, apés a Segunda Guerra Mundial, intensificou os estudos econdmicos urbanos. © meio urbano era uma érea até entdio monopolizada pelos socislogos. A crise urbana decorreu do abandono das zonas urbanas centrais pelas atividades econdmicas e pelas pes- soas de alta renda, que buscavam na periferia urbana maior espago para habitagao lazer. Esse des- locamento foi motivado pelo desenvolvimento dos meios de transportes, que proporcionavam gra- dativamente facil acesso ao centro das cidades. ‘A migragao para a periferia urbana e, mesmo, para outras cidades, atingiu também as cama- das pobres da populagdo, pela redugdo da oferta de empregos no centro das cidades. Esse abandono do centro das cidades pelas atividades e pelas pessoas ocasionou uma séria crise financeira para as subprefeituras centrais e provocou a deterioragio do meio ambiente urbano. Tudo isso contribuiu para afugentar os contribuintes de mais alta renda, vindo em seu lugar as pessoas mais pobres, so- bretudo a populago negra, atrafdas pela redugdo dos aluguéis nas reas centrais. ° Nas demais zonas urbanas, os problemas de poluigo e de renovagao urbana e a necessidade de desenvolver os transportes piblicos e demais infra-estruturas, contribufram para 0 surgimento de planos urbanos e regionais de desenvolvimento, As disparidades regionais, que se tornaram mais evidentes com a industrializagio das regi- Ges centrais dos paises, foram outro dos elementos a induzir maior atengo aos estudos regionais. Na Franga, até fim dos anos de 1970, eram altamente industrializadas apenas as regides de Paris, Lyon e Norte; enquanto a Bretanha, no Oeste, era uma regio agricola com problema de baixa renda na campanha e desemprego nas cidades. Na Itdlia, também por essa época, havia uma dicotomia bastante nitida entre o Norte indus- trializado e o Sul agricola. No Sul, a regio do Mezzogiomo apresentava problemas mais graves do que os da Bretanha francesa, O dualismo do desenvolvimento esti representado no Brasil pelo Nor- deste e por So Paulo; os focos de pobreza na Venezuela acentuam-se na zona da Guiana, na Argen- tina na da Patagonia, na Inglaterra na de Glasgow, nos Estados Unidos na regio da Virginia Oeste. Nas titimas décadas, principalmente nos paises desenvolvidos, tem havido grande colabora do oficial visando transferir renda para as regides com problemas de desemprego ¢ pobreza. A déia € deslocar 0 capital ou mesmo criar cidades novas nessas areas. Foi o caso da Inglaterra, que implantou uma série de cidades novas visando descentralizar a indistria nacional. Por tiltimo, a expansio rodovidria nos Estados Unidos, um verdadeiro surto, proporcionou a destinago de massa considerdvel de recursos para pesquisas regionais. Os Bancos da Reserva Fede- > Atualmente, com a renovagdo urbana, fruto de transferéncias de recursos do Governo Federal, 0 centco das cidades «sti endo iis procurado pela classe médi, sobretudo pela implantagio de atividades tercidvias, que empregam mo- e-obra bem mais remunerada € de nivel superior. Tais atividades ocupam pequeno espago em relagdo & indistria, po- ddendo, em um andar de um edificio, empregar centenas de pessoas. Esse segmento do setorterciério é conhecido como tercirio superior, ou quatemério, © quatemario esté tendo grande expansio atualmente nos paises desenvolvidos € ‘compreende os servigos prestados as empresas (servigos de engenharia, bancos, Seguros, assessorias diversas et). ral, que constituem uma organizagdo regionalizada, deram muito apoio a projetos regionais. Até 1930, as politicas regionais eram eventuais e parciais, de caréter local. Criou-se mais tarde divisdes regionais na Inglaterra; nos Estados Unidos, fundou-se 0 Planejamento do Tennessee Valley, visan- do o desenvolvimento de sua bacia hidrogréfica. Sinteticamente, pode-se afirmar que os problemas regionais nascem de disparidades engen- dradas pela difusfio desigual do processo de crescimento no conjunto do espago econdmico nacio- nal. Economias externas nas regides mais ricas drenam fatores das regides mais pobres. ‘As politicas piiblicas podem visar, seja a frenagem do crescimento das regides de expansio muito répida, seja 0 estimulo ao crescimento das regides onde o desenvolvimento € insuficiente. A primeira politica é impraticavel porque as proprias regides centrais tém desemprego; a segunda é a ‘mais praticada em todos os paises. Certos programas de investimento, destinados a manter 0 equili- brio no nivel nacional, podem exercer efeitos desestabilizadores em certas regides; tais desequilt- brios podem, mais tarde, se estender as demais regides do sistema nacional, prejudicando 0 cresci- ‘mento da economia nacional em seu conjunto. crescente interesse despertado pela Economia Regional deriva, em parte, do crescimento explosivo das cidades, das migragOes rurais/urbanas e intra-urbana, bem como da concentragéo da atividade econdmica ¢ dos desequilfbrios regionais daf resultantes. As cidades constituem um foco de concentragao da atividade e de irradiagdo das inovagdes, ‘A concentragio urbana esta associada aos conceitos de localizagao das atividades econémi- cas, de economia de escala, de mercado de consumo e de reserva de mio-de-obra. A irradiagtio das, inovagdes associa-se a hierarquizagZo e o espacamento dos centros urbanos e a capacidade multipli- cadora dos mesmos. O sistema de cidades articula a economia das regides ¢ do Pafs; scu desenvol- vimento é um problema de integrag3o nacional. 2.2 Definigao e abordagens da Economia Regional A Economia Regional compreende o estudo da diferenciago espacial, das inter-relagdes en- tre as areas dentro de um sistema nacional de regides, enfrentando um universo de recursos escas- 808, desigualmente distribuidos no espaco e imperfeitamente méveis (cfe. Dubey, 1977). Hé separa- fio espacial entre os mercados de consumo, entre as fontes de recursos € os locais de produgao; os mercados, 0s recursos ¢ as produgdes ndo se distribuem igualmente no espago nao sé pela sua im- perfeita imobilidade, mas também pela desigual dotagio de recursos e estoques iniciais. Nem todas as reas sfio exploradas com a mesma intensidade e a0 mesmo tempo; as que so valorizadas em primeiro lugar tendem a adquirir uma vantagem adicional sobre as demais. ‘A Economia Regional compreende: & introdugo do elemento espago na andlise econémica; © estudo de problemas localizados ¢ que envolvem separagio espacial, tais como: a estrutura dos parques industriais locais e regionais; os meios de comunicagao entre dois ou mais centros urbanos; © problema do emprego rural e urbano; as finangas municipais e regionais; 0 aproveitamento racio- nal dos recursos naturais locais; os impactos de investimentos em determinadas indiistrias sobre 0 emprego, as demais atividades industriais, as finangas piiblicas, ete. Segundo Walter Isard, a Economia Regional depara-se com cinco problemas principais: a) identificar as inddstrias a implantar com prioridade em cada regido, para maximizar o crescimen- to regional e assegurar rentabilidade satisfat6ria para o empreendimento; b) aumentar a renda per capita e os niveis de emprego regionais; ©) proporcionar a integragao interna do parque industrial regional, bem como sua diversifica 4) proporcionar o planejamento nacional com base na agregagio dos planejamentos regionais, de sorte a obter-se a alocagio racional dos recursos escassos; ©) ocupar mais racionalmente o espaco nacional, repartindo da melhor forma possfvel os homens ¢ as atividades econ6micas. Existem trés maneiras de se analisar as implicagOes econdmicas da dimensdo espacial: a) a primeira delas & a abordagem linear, que consiste em serem considerados fixos: 0 sistema de transporte ¢ a localizagio das atividades econdmicas e dos recursos produtivos; por essa aborda- gem, concebe-se 0 espago como um fator de atrito no fuxo de bens, servigos e fatores entre dois Pontos fixos. Esse atrito espacial € medido pelos custos de transporte, que limita a interagdo es- pacial, reduzindo os fluxos. Dentro dessa abordagem, o problema da Economia Regional consis- tiria em minimizar 0 atrito entre dois pontos, que so medidos pelos custos de transportes; estes se apresentam como fungio linear da distncia; ) a segunda é a abordagem locacional, que estuda os fatores de localizago dos agentes econ6mi- cos ¢ maximizar os lucros no espago; ela procura explicar porque as atividades localizam-se em certos locais especificos e nao em outros. O espago é descontinuo, formado por uma matriz de localizagées possiveis para as atividades econémicas; ©) terceira abordagem é a da macroeconomia regional, na qual se estuda as inter-relagdes entre as regides e a economia nacional; as regides integram-se no sistema nacional; desagregam-se mode- Jos nacionais para o nfvel regional. Nessa abordagem, entretanto, a regidio torna-se um ponto nao se considera, efetivamente, o elemento espago na analise. Os defensores da Ciéncia Regional, como Perloff (1960), negam a possibilidade de isolar-se a Economia Regional do contexto interdisciplinar da anélise espacial. Outros julgam que a econo- mia estuda apenas aspectos da atividade humana, podendo ser isolada da Ciéncia Regional. Pode-se, inclusive distinguir-se um grupo de problemas que forma o campo de atuago da Economia Regio nal, mas eles no serio os tinicos que a Economia aborda. Por exemplo, a Economia Regional nao é simplesmente uma disciplina que trata exclusivamente dos problemas locacionais ou da imobilidade dos fatores. Ela trata igualmente da distribuigdo desigual dos recursos, de sua mobilidade; mesmo havendo mobilidade perfeita dos recursos haveré sempre Economia Regional, pois persistirdo os problemas das desigualdades regionais e da md alocaco dos recursos (desigualdade na repartigZo dos recursos naturais e humanos). 2.3 Contetido e métodos da Economia Regional O contetido da Economia Regional enriqueceu consideravelmente apés a revisio efetuada por Meyer em 1963. Meyer (1973) arrola como contetido unicamente quatro itens: a) teoria da Localizagao (Lash); ) teoria do multiplicador (base econémica); ©) andlise interindustrial de insumo-produto (Leontief); 4) e programagio matematica, De 1960 para c4, tornou-se necessirio acrescentar, ainda: a) teoria do crescimento regional (Richardson); ») teoria dos polos de crescimento (Perroux); ©) contabilidade regional (Stone); 4) modelos gravitacionais; ©) anilise espacial dos pregos (microeconomia espacial); £) teoria da difusdo espacial de inovagées, de tecnologia, de bens ¢ servigos e de fatores de pro- dugio. Além desses itens, a Economia Regional pode desenvolver-se ainda mais enfatizando-se a estrutura de mercado, organizacao financeira, capacidade empresarial, decisio de investimento, po- litica fiscal, além do tema “efeitos da separagio espacial”. A TEORIA DA LOCALIZACAO € 0 mais velho ramo da Economia Regional; ela enfatiza © papel dos custos de transporte. Trabalhos mais recentes tentam construir uma teoria geral da loca- lizagdo; outras énfases sio dadas sobre o efeito de aglomerago e a maximizagao de lucros, a mini- mizago dos custos totais (embora os custos de transportes no sejam minimos). O problema da lo- calizagio étima € que nao se pode ter a certeza de que os padres de custo do presente vio se man- ter no futuro. Por outro lado, hé um conflito entre a maximizagdo de lucros ¢ a maximizagao da uti lidade daquele que toma a decisio de localizar-se em determinada certa rea. A escolha da localiza- ‘¢o com base na satisfagio tende a ocorrer em uma grande cidade, com alto grau de acessibilidade rodoviaria e, se possivel, perto das fontes de matérias primas, onde a firma, mesmo ndo maximizan- do lucros, maximiza a satisfago por lazer dos proprietirios e minimiza os riscos. ‘A concentragdo tende a efetuar-se em mesma indiistria, na forma de complexos industrais. A teoria da localizagao esbarra nas dificuldades da suposi¢ao de concorréncia perfeita (coeficientes de produgio constantes, ou precos fixos, padrées de consumo constantes). Economias de escala, extemnalidades, indivisibilidades, so exemplos de que 0 equilfbrio competitivo nao se realiza. A TEORIA DO MULTIPLICADOR, como modelo empitico, esté associada & teoria da base econdmica. Seu conceito é similar ao da macroeconomia tradicional; hé necessidade de definir-se as atividades exégenas situadas fora da economia regional ou que dependem de forgas externas, como as exportagdes; determina-se o multiplicador observando 0 desenvolvimento hist6rico da base eco- némica; esse multiplicador e é aplicado para projegdes da atividade total ou para medir impactos de variagdes na base exportadora sobre a economia regional. A ANALISE DE INSUMO-PRODUTO tem como base uma matriz de coeficientes técnicos de produgio que se identificam por indistria e/ou por areas de atividade econémica. A consideragao das relagdes interindustriais ¢ inter-regionais, ao mesmo tempo, depara-se com o problema da mul- tiplicidade dos dados estatisticos necessérios. Uma solugao seria considerar unicamente a matriz das relagdes interindustriais, como no caso da matriz nacional, globalizando-se as relagdes com as demais éreas unicamente em duas contas de importagdo e exportagiio; a outra soluco consiste em considerar somente as relagdes inter-regionais, agregando-se o valor da producio das indistrias de cada regio. As matrizes de relagdes interindustriais so bastante tteis para a andlise da integragio interna dos parques industriais regionais. A PROGRAMAGAO MATEMATICA apresenta duas dificuldades. A primeira diz, respeito 2 obtengo de dados, que so mais amplos dos que os da matriz insumo-produto, A segunda deriva do fato de a racionalidade econémica ser muito complexa, para que ela possa ser incorporada nos modelos atuais de programagao operativa. TEORIA ESPACIAL DOS PREGOS - A introduco do espago na teoria dos pregos muda a Enfase porque o prego para um bem homogéneo nio seri mais 0 mesmo, no nivel de equilfbrio, ¢ variard entre localizagées diferentes. A mais simples solugao é empregar programagdo linear para minimizar os custos totais de transporte, sujeito as restrigdes localizagdio do mercado ¢ das fontes de matéria prima. O resultado final: na localizagdo étima, o diferencial de pregos para o prego de equi- Iibrio ¢ igual ao custo de transporte, Também a discriminagio de prego pelo monopolista pode ser examinada no contexto espacial. © monopolista discrimina contra os compradores proximos se a taxa de variagao da elasticidade da demanda for maior do que a taxa de variago no prego. DIFUSAO ESPACIAL DAS INOVACOES - Para 0 economista neoclassico, a difusiio es- pacial das inovagdes € um t6pico sem sentido. O progresso técnico, em condiges de concorréncia, acentua os efeitos dos investimentos e do crescimento da forga de trabalho. Alguns economistas considera o progresso técnico como o fator que explica 0 crescimento econdmico residual; outros ‘© consideram como o principal fator do crescimento (Schumpeter); embora se reconhega que as i- novagdes € 0 progresso técnico sejam importantes para explicar o crescimento econémico, 0 pro blema € que elas se difundem desigualmente no espaco. Pesquisas empfticas indicaram dois tipos de difusio espacial: a) difusao radial geral, sendo descrita por uma distancia exponencial negativa, que decresce em fun- gio da distancia; b) difusao hierdrquica, que decresce com a distribuigdo espacial do tamanho das cidades e combina economias de escala num modelo gravitacional com a distribuigao classe-dimensio das cidades. A hipétese geral € que a difusio radial € mais relevante nos pafses desenvolvidos; mas, medida que aumenta 0 niimero de inovagdes nos transportes, encurtando as distancias, a difusio hierérquica tende a predominar; porém, na maioria dos pafses urbanizados, a difusio radial e a difu- so hierdrquica tendem a ocorrer simultaneamente. A difuso das inovagdes é maxima no meio urbano, porque a concentragio das firmas e das populagdes cria um ambiente favordvel. Se a concentrago urbana (hierérquica) favorece a criago de inovagdes, uma alta taxa de inovagdes promove uma posterior concentrago espacial. Os mode- los de inovagdo hierérquica complementam 0 modelo de causagdo cumulativa do desenvolvimento regional (Myrdal, 1968), mesmo quando inserirem tendéncias & difusio e & dispersio. MODELOS GRAVITACIONAIS - Desenvolveram-se em estudos relacionados com os transportes © problemas urbanos (distribuigdio da populagio, fluxos de trifico). © modelo basico consiste em supor que os fluxos entre dois pontos sao diretamente proporcionais & populagio de cada centro e inversamente proporcionais a distancia entre eles, ou s¢j ARP, iE Onde: k é um pardmetro ea é a elasticidade de transagao e varia de acordo com o bem considerado. A varidvel populagdo P de cada centro (i ¢ j) pode ser substituida, com vantagens, por varidveis e- conémicas de comportamento como renda, emprego, custo etc. CONTABILIDADE REGIONAL - é andloga & contabilidade nacional com a diferenga basi- ca de que as regides so economias mais abertas do que a nagio, A contabilidade regional é um ins- trumento bastante «til para a aplicagio de modelos macroecondmicos a nivel subnacional. As difi- culdades do estabelecimento de uma contabilidade regional so os custos de obtengdo das diferentes contas, porque é bastante dificil e oneroso a obtengdo de dados a niveis desagregados. POLOS DE CRESCIMENTO - A teoria da polarizagao deriva da observagao de que o cres- cimento nao se distribui de maneira homogénea no espago, mas se concentra em pontos ou pélos de crescimento, podendo difundir-se a partir dai no conjunto da economia. A matriz de insumo- produto é um instrumento indispensével para a andlise da polarizagao técnica, isto é, para a consta- tagdo de pélos de indistrias dentro de subconjuntos da matriz (complexos industriais fortemente conectados). A polarizacio ¢ também geografica, podendo ser analisada em termos de uma mattiz de relagées inter-regionais; a polarizagZo humana pode ser detectada com uma matriz, dos movi mentos alternantes domicflio-trabalho (migragdes didrias urbanas ou interurbanas). Os diversos mé- todos de anélise da polarizacdo tém como objetivo determinar os pontos fortes de relagdes (pélos) e 68 pontos de estrangulamento que dificultam os contatos entre os pontos (auséncia de certas ati dades, falta de algumas estradas, ou transportes coletivos). TEORIA DO CRESCIMENTO REGIONAL - os métodos abordados apenas afloram 0 pro- blema do crescimento regional. Foi ap6s o trabalho de Myrdal (1968), sobre a teoria da causagdo cumulativa (de 1957), que o problema do crescimento regional foi amplamente pesquisado. Ap6s 1960, multiplicaram-se os trabalhos te6ricos e empiricos sobre o crescimento regional nos Estados Unidos (Perloff et al., 1960). Mas esses trabalhos eram todos efetuados dentro da senda neoclissica ¢ preocupavam-se particularmente com a convergéncia da renda per capita. Por outro Jado, eram simples transposicZo, ao nivel regional, da andlise macroeconémica nacional, tratando a regidio como se fosse uma nagio em miniatura, descurando-se dos aspectos espaciais, que devem caracterizar mais particularmente a Economia Regional. Embora esses modelos possani mencionar fatores relacionados com a concentragao geogré- fica da populagao e da atividade econdmica, sintetizados no termo externalidade, eles continuam ignorando a natureza do processo do crescimento regional. Os pontos néo inseridos dentro de um. modelo global de crescimento regional so os seguintes, conforme Richardson (1977, p. 20): 4) que dimensio deve ter uma aglomerago urbana para atrair a indiistria de outras reas? ) qual a distribuig0 mais conveniente da populagio regional? ©) a disténcia entre as regides é um fator relevante para explicar as diferengas do crescimento regional? 4) qual a importancia das economias de aglomeragao para explicar 0 crescimento regional? €) 0s investimentos piblicos sero suficientes para dotar as regides atrasadas das condigdes necessdrias para crescerem mais rapidamente? f) qual é 0 grau de influéncia da estrutura espacial da economia nacional na mobilidade inter-regional dos fatores ¢ na difusio das inovagSes e, assim, sobre os indices do crescimento regional? Como se verifica essa influéncia? 2) qual 0 papel da urbanizagao no crescimento regional? h) qual € a influéncia de fatores nio-econdmicos nos fndices de crescimento regional, como pre~ feréncias de localizagio, comportamento da comunidade ¢ restrigdes e/ou atuagdes politicas? ‘A teoria da polarizagao ou dos pélos de crescimento trouxe nova abordagem & Economia Regional quando afirma que as regides tém em seu seio as fontes de seu préprio crescimento; essas fontes so as interdependencias técnicas entre as firmas, a agio das unidades motrizes ¢ as ativida- des criadoras de economias externas como a ago do setor piblico. E uma abordagem que sai um pouco da dtica neockissica; abordagens similares so as do modelo estrutural-diferencial que procu- ra detectar na regio as atividades mais dindmicas, comparadas com as mesmas atividades no nivel nacional. Ill - NOGAO DE ESPAGO E DE REGIAO 3.1 Nogiio de espago Existe uma diferenga entre a nogiio de espaco e a nogdo de regido. Uma regitio € um espago contfguo, enquanto que 0 espago econdmico de um pafs, por exemplo, pode apresentar descontinui- dades. O espaco pode ser geogrifico, matematico € econdmico. O espaco geogrifico é a nogao ba- nal dé espago, que diz respeito ao solo, relevo, clima, vegetagao ¢ atmosfera. O espago matematico €0 lugar abstrato das relagdes entre varidveis independentes, fora de qualquer representagio geo- gréfica. Tem-se como exemplo a superficie de produgo de uma firma, as curvas de indiferenga do consumidor. O espago econdmico corresponde & aplicagaio do espago matemético ao espaco geogri- fico. E 0 espago das atividades econémicas ¢ dos lugares geograficos. A~ Espago econdmico (Boudeville, 1972, p. 19) Figura 1 — Espago econdmico: exemplo de regides argentinas B - Exemplo de espago matematico (matriz das relagdes técnicas; indvistrias X) Tndisirias x [s])s |u| = ; Stat Grafo associado i Ina) <2) <3) % 9 cial 7 uhh ey % 1 T i 1 7 ad Xs 1 0, 7 T 1 LC (42) (sy Xs 7 TT @m&l[! 1 C—Espago geogrifico (Matriz das relagdes rodovidrias; regides Y) Regides Yr [¥2 [Ys | Ys Grafo associado Yi 1 1 fi fi ay {2) =a oo % tet ta} Ya TE let D-~A aplicago do espago matematico ao espago geogrifico forma o espago econdmico O espago econdmico intra-regional figura sobre as matrizes diagonais Yj, sendo i = j. O es- ago econdmico inter-regional figura sobre as demais matrizes Y, sendo i diferente de j (conforme a matriz quadrada de Isard de ordem 5x 5, adiante) Nas matrizes intra-regionais repete-se a matriz. das relagGes técnicas (B), desde que a regio possua a indistria respectiva [isso nos mostra o grifico das relagdes dominio x campo (A)] As ma- trizes inter-regionais sio construfdas com base na matriz rodovidria (C) ¢ nas matrizes intra- regionais, Havendo acessibilidade entre as regides, supde-se que haja comércio entre elas, desde que seja permitido pelas relagGes técnicas de produgio. Na matriz acima, em linha estdo representados os setores vendedores (X) assim como as re- gides vendedoras (Y); em coluna estilo figurados os setores (X) e as regides (Y) compradoras. Para preencher a submatriz YiYi, € necessério verificar no gréfico das relagdes dominio- campo (A) as inddstrias que a regido Y; possui. No caso presente, Y| possui Xz, X3 ¢ X4, mas niio possui as indtistrias Xi e Xs. Por conseguinte, X; e Xs nfo aparecem nem em linha nem em coluna, tanto na regio Y;, como nas demais regides, que poderiam comercializar com Y). ‘Observando a matriz das relagdes técnicas (B), verificam-se as relagdes existentes entre as industrias presentes em Yj. No caso em questo, Xz vende para X2 e para X3; Xz vende para Xa, X3 e Xs; e Xq vende para Xs © X; (vé-se em linha). As relagdes entre Y; e as demais regides so dadas pela matriz das relagdes rodovisirias (C). Y) € acessivel a todas as regides; portanto, suas indiistrias X2, X3e Xj estardo ligadas a X3¢ Xyem Y2, a Xp em Ys (io hé relago com X;), a X4 em Y; ¢ a Xo € X4 em Ys. O mesmo procedimento é efetuado para o estabelecimento das relagbes entre as demais tegides. 3.2 Nogio de regifio Nao existe uma definigdo de regio segundo o tamanho; supdem se que a regido seja um subsistema do sistema nacional. Porém nao é evidente como uma economia nacional possa ser sub- dividida em regides. O espago regional deve, entretanto, ser contiguo e todo o espago nacional deve ficar contido em uma ou em outra regio. A definigio etimol6gica significa governar, pois a palavra regio vem do latim regere. Do ponto de vista geognéfico, a regido é uma entidade natural e humana elementar; do ponto de vista sociolégico, € um conjunto de tragos culturais semelhantes; do ponto de vista econémico hé varias definigdes de regido, sendo a divisdo ternéria a mais conhecida: a) regiao homogénea; ) regido polarizada ou nodal; c) regido de planejamento. Na concepgao de regio homogénea, as unidades espaciais so reunidas quando mostram caracteristicas to uniformes quanto possiveis. As caracteristicas de homogeneidade podem ser es- truturas de produgo e de consumo semelhantes, uniformidade da renda per capita, espécie de re- cursos naturais existentes, tipo predominante de agricultura, topografia, clima e tragos culturais se~ melhantes. ‘A macroeconomia regional supde uniformidade da regio, pois a reduz. a um ponto. As dife- rengas inter-regionais (cidade/campo) podem invalidar a suposigao de homogeneidade (diferenca na renda e nos habitos de consumo). Além disso, hi diferencas de densidade no interior da regio, de sorte que ela nunca sera perfeitamente homogénea ¢ nem isso seria desejiivel do ponto de vista eco- némico. Os centros urbanos e a aglomeragiio industrial introduzem heterogeneidade no sistema es- pacial. Na concepgio de regio polarizada, por suas caracteristicas de heterogeneidade, a énfase & colocada na dependéncia ow interdependéncia dos diferentes componentes dentro da regio. Os mo- delos gravitacionais consideram a varidvel distincia como inibidora dos fluxos de transagao. O con- ceito nodal acentua igualmente o fator distancia, o papel de pontos nodais menores dentro da regio € que gravitam em torno do centro de um centro predominante. Os centros nodais menores so in- terdependentes. Com 0 auxflio dos modelos gravitacionais, pode-se medir o grau dessa interdepen- déncia dos fluxos de pessoas, bens e servigos e comunicagdes. ‘Uma cidade sera inclufda ou exclufda de uma regidio em fungio de seus vinculos de interde- pendéncia; se ela possuir um grau maior de relagdes com o centro dominante de uma regio vizinha do que com 0 centro que polariza a regio em questio, ela serd inclufda na outra regio. As transa- ‘sGes dentro da regido sao mais intensas no interior do nédulo central, decrescendo para a periferia; chega-se a um ponto, nas fronteiras regionais, que as transagdes atingem um minimo, decrescendo, a seguir, pela influéncia de outros nédulos. A terceira concepgio de regiao, regifio de planejamento, como uma area administrativa politica, constitui uma unidade no sentido dos instrumentos politicos ¢ tributarios. A vantagem des- se método deriva da disponibilidade de dados que se poder contar; a desvantagem consiste na pos- sivel incompatibilidade entre os limites administrativos ¢ os limites econdmicos. O conceito de re~ gido como uma unidade natural, capaz de ser definida com preciso no espago, tende a ser abando- nado. O conceito de regidio tem sido tomado pela nogao mais neutra de espago. A regitio de planejamento é definida em termos de coeréncia e unidade do processo decis6- rio. As unidades da regidio-plano religam-se a um centro de decisdo normalmente localizado fora da firea. A sua fronteira € delimitada em fungao dos problemas a enfrentar ou pelas fronteiras adminis- trativas. Uma regido pode ser também definida quanto ao tamanho, em fungao das necessidades do planejamento. Um conglomerado de municipios pode formar uma regidio muito pequena se o objeti- vo for assegurar 0 desenvolvimento harménico de todas as partes do territ6rio nacional; pode for- ‘mar uma regio muito grande se o objetivo for estudar problemas de localizago muito precisa, co- mo zonas a urbanizar com prioridade, ou estudo de sistemas de estradas rurais. Quanto ao tamanho, poderemos ter as regides cidade, regio urbana ou regiio metropolita- na, quando 0 objetivo for o planejamento urbano ou metropolitano, Este um tipo particular de re- gifo polarizada; € uma drea densamente povoada. No centro, a densidade populacional € maxima, assim como a acessibilidade aos locais de trabalho, aos locais de compra e de lazer; conseqiiente- mente, o aluguel af é mais elevado. Esses fatores decrescem do centro para a periferia; na periferia pode-se, entretanto, criar centros menores com 0 objetivo de reestruturar os arrabaldes, criando em- pregos, centros de compras, areas de lazer, para reduzir 0s movimentos alternantes urbanos centro- periferia, ‘Acima da regido cidade podem-se ter as microrregides, que formam um conglomerado de municipios (tal como uma regiao metropolitana), porém menor do que uma regido. Em paises como © Brasil e os Estados Unidos, os Estados constituem as regiées tipicas. As macrorregides sio for- madas por conjuntos de Estados (Nordeste, Centro-Oeste, por exemplo). ‘A microrregiao teria a fungdo de organizar um sistema de pequenas cidades em torno de uma cidade relativamente importante, para servir de apoio entre a zona rural e a capital regional. Quando uma microrregiao tiver varios centros do mesmo porte, a capital seré escolhida (para rece- ber investimentos em prioridade) entre os centros com maior potencialidade de crescimento. A regio ou a macrorregidio sio espagos polarizados por uma grande cidade (capital regio- nal); no seu interior, entre as cidades médias e a capital regional, as trocas so intensas. Nas capitais regionais o setor secundario é relativamente desenvolvido, assim como o setor tercidrio eo quater- nario (servigos prestados & indiistria). Ha a localizagio de grandes projetos (ou pelo menos & sua proximidade), dada a sua estrutura industrial e a importancia de seu mercado consumidor, 3.3 Diferenga entre regidio e nagio Tendo em vista que, no contexto da Economia Internacional, pode-se formar "regides" pela aglutinagio de nagGes, a distingdo entre regio e nagdo nao parece tio clara quanto parece. Existe, contudo, diferengas entre o espago subnacional, nacional e supranacional. ~ A regidio, compreendendo aqui o espago subnacional, é mais aberta do que a nago, sendo relativamente mais intensos os fluxos de bens e fatores do que no caso nacional ¢ internacional. ~ As barreiras postas nas fronteiras nacionais, que nfo existem no caso regional, dificultam essa mobilidade: alffndegas, licengas de imigrac3o, diferengas das moedas, dos habitos de consu- mo, das fungdes de produgao etc. ~ No nivel regional, os planejadores no podem contar com os instrumentos politico- econémicos que se encontram a disposi¢do dos governos nacionais: instrumentos cambiais, monet rios, fiscais, politica de pregos e gastos paiblicos em grande escala. Quanto mais centralizado for 0 poder da economia nacional, menos opgdes de politica regional terdo os governos regionais e locais. ~ Os objetivos da politica econdmica variam na medida em que se desce do nivel nacional a0 nivel regional. No nivel nacional, a preocupagiio bésica poderd ser a criago de novos empregos, © controle da inflagiio ¢ 0 equilibrio do balango de pagamentos; estes ltimos objetivos nfo so im- portantes no nivel regional, porque exigirem instrumentos de politica indisponiveis aos governos regionais, Em compensagio, os objetivos regionais mais focalizados sao 0 de crescer no longo pra- zo, obter melhor distribuigo espacial de populacio e das atividades econémicas, reduzir ou ampliar as correntes migratérias, controlar a qualidade do meio ambiente etc. E importante ter em mente a distingdo clara entre regio e nagao, porque nao é possfvel tra- tar a regio como um sistema fechado; pelo contririo, é necessério identificar as varidveis exdgenas chaves do crescimento regional e os elementos desequilibradores. Segundo Richardson (1977, p. 20), apesar de a regio contar com poucos instrumentos de politica econémica, existe uma relago mais estreita entre crescimento econdmico ¢ politica econ6- mica piblica em nivel regional do que no nivel nacional. No nivel regional, certos fatores favors- veis tornam possivel obter taxa de crescimento mais elevada do que no nfvel nacional nas mesmas condiges, A diferenca basica entre a andlise regional e a nacional é a consideragio pela primeira de elementos espaciais, enquanto a segunda raramente se preocupa com 0 contetido espacial. Ao intro- duzit-se 0 elemento espago na andlise, esté-se, implicitamente, tratando de economia regional. ‘A considerago do elemento espacial, segundo Isard, tem quatro vantagens principais: a) proporcionar a utilizagdio racional dos recursos naturais — os planos nacionais no devem conside- rat unicamente os agregados nacionais, mas a desigual repartigio espacial dos recursos energéti- cos, matérias-primas, mlo-de-obra e centros de consumo e produgio; ) Proporcionar a andlise das flutuagdes conjunturais — as regides podem sofrer ou provocar, de maneira diversa, os fendmenos ciclicos, bem como podem influir diversamente sobre certos de- sequilfbrios nacionais. Na Franga, por exemplo, acredita-se que esse pais tenha maior propensio do que a Alemanha a inflagdo, em parte, porque a distribuigo espacial de suas atividades e de sua populag3o é menos uniforme do que na Alemanha. Na Franca, grande parte da produgao é encarecida pelos altos salirios da Regio de Paris, onde se concentra 50% da atividade econ6mi- ca nacional; os maiores custos de produg2o dessa regio tendem a influir sobre o nivel de custos das demais regides do Pats; ) Proporcionar a anélise das regiées deprimidas - hd necessidade de se elaborar planos regionais de desenvolvimento para melhorar a situago econdmica das areas mais pobres. No Brasil. O exem- plo é dado pela Sudene, Sudam, Sudesul, etc; na Franga, pela reconversio das regides de indus- trializago antiga, hoje decadentes (zonas téxtil e siderdrgica); 4) Proporcionar a conducio da politica econdmica geral — pois néo se pode conduzir a politica eco- némica global unicamente pela distribuicao setorial dos gastos e das despesas piiblicas. Os fun- dos piiblicos devem ser repartidos entre as regides do sistema nacional em fungao de suas neces- sidades ¢ potencialidades. A regionalizagao da politica monetéria e do crédito ¢ € igualmente uma necessidade. 3.4 Critérios de regionalizagio Os critérios de regionalizagao, ou determinagao das fronteiras entre as regides, so estabele- cidos de acordo com a nogao de homogeneidade ou heterogeneidade. A- REGIAO HOMOGENEA - A delimitagao da regio homogénea envolve duas restrigdes: contigtidade ¢ niimero das unidades a serem estudadas. Nao deve haver nenhum vécuo geogrifico entre as diferentes unidades da regido, O problema é minimizar a dispersio ou a distancia entre as, unidades locais, dadas as condigdes de contigilidade e 0 niimero de regides. O prinefpio da delimitagao das fronteiras das regiGes homogéneas consiste em reagrupar, no espago, certo mimero de unidades locais que apresentem caracteristicas to proximas quanto possi- vel, observando a restrigfio de contigiiidade. A varidvel utilizada para o reagrupamento depende dos objetivos da regionalizagio ¢ do tipo de regido. Se o territério for ocupado predominantemente pela agricultura, podem ser usados indices indicando a natureza das produces, culturas e tipos de pro- priedades, ou pode-se usar a hidrografia, o clima e o solo em fungao de sua homogeneidade. Se for uma drea industrial, podem ser usados indices revelando o grau de industrializagao ou arenda per capita. Escolhida a unidade de medida, pode-se calcular 0 desvio padro de suas uni- dades. Por exemplo, se as unidades forem municipios, e se a varidvel for a renda per capita, pode-se efetuar uma classificagao preliminar da regido, obedecendo a contigilidade ¢ calcular seus desvios padrées. Em seguida, verifica-se o grau de homogeneidade resultante para as regides: aumenta-se 0 fgrau de homogeneidade, mudando-se uma unidade da regio A para a regido B se isso reduzir 0 desvio padrao de A, mais do que aumentar o de B. Normalmente, efetuar-se-4 a transferéncia da unidade de A para B, se 0 valor dessa unidade estiver mais pr6ximo da média de B do que da média de A. A verificagao final do grau da homogeneidade é efetuada pelo teste de homogeneidade F. abe 5 Gabe, : p= Zabe, ©: H o Quanto maior for o parimetro F, mais homogéneas ficam as regides, pois maior serd a vari- Ancia global e menor seré a varidincia regional. Quanto maior for a varidneia global, mais se justifica a regionalizagio; quanto menor a variancia regional mais homogénea esta a regido. ‘A Tabela 1 mostra a alocagao do Estado de Virginia do Oeste em trés regides possiveis, em fungo da andlise de variancia e segundo a estatistica “F" (Zobler in Boudeville, 1972, p. 56): * Tabela 1 - Alocagio do Estado de Virginia do Ocste em regides diferentes segundo a varidncia Regides Varincia total ‘Varifincia intra-regional Estatistica "F” Regiiio Atlintico Médio 46,09 8,91 3,17 Regio Atkintico Sul 7,55 4,66 15,35 Regido Centro-Sudeste PAZ 457 17,78 0 Estado de Virginia do Oeste ficou classificado na Regitio Centro-Sudeste, que apresentou a menor varidincia intra-regional e a maior varidncia total, ou maior "F", com a incluso do Estado em questo. B - REGIAO POLARIZADA - A delimitagio da regidio polarizada envolve igualmente 0 problema da continuidade e fornece a descrigdo das relagdes entre os elementos da regidio, estabele- cendo uma hierarquia interna. A interdependéncia pode ser descrita por uma tabela de insumo- produto ou por modelos gravitacionais. A regio polarizada constitui uma nogio mais realista de regidio, pois normalmente tem-se uma cidade central organizando o espago, cuja rea de influéncia dependera do seu grau de industri- alizagio, dos servigos especializados que possuir em beneficio das éreas subordinadas. A drea de influéncia da cidade central determinard o tamanho da regio. Suas fronteiras podem ser determina- das pelo modelo gravitacional derivado da Lei de Reilly, segundo a qual as transagGes entre duas cidades variardo diretamente com sua massa (populagao, diversificagio econémica) ¢ inversamente com 0 quadrado da distancia que as separa: * Lembrando, as férmulas das varidncias sto: “y" € a varidvel utilizada para mediar as unidades ¢ “n” € 0 seu némero. ‘A poténcia "a" segundo Reilly € dois, mas poderé mudar em fungiio da varidvel escolhida para medir as massas P, ¢ P,, que poderdo ser as populagdes das cidades i ej. A distincia "d” € um freio que limita as transagies. Sejam quatro cidades Cy, C2, C3 ¢ Ca e cinco vilas fronteiras F), Fo, Fs, Fs ¢ Fs. Pede-se de- terminar quatro regiées com base na area de influéncia das quatro cidades, isto é, determinar os pontos das vilas da fronteira. Por hipétese, a rede dos transportes & conhecida e estével, no curto prazo, assim como a estrutura econémica. Figura 2 - Fronteira das regides polarizadas Em cada vila-fronteira, hé igualdade de transagao para dois centros dados, isto é, 50% dos fluxos se verificam para cada cidade C (0 consumidor é indiferente em comprar no centro i ou no centro J, de tal sorte que Tir= Tye. ou: KAP, _KPIPp OP Pi dp dy dy diy Temos, finalmente, que: d, tog 2) = ato“) PR dy (Os pontos representando as cidades fronteiras encontram-se sobre uma reta de inclinagao "a" na Figura 3. O problema é determinar a inclinagio da reta (a), que € 0 coeficiente de elasticidade de transagiio para a unidade de medida referida por P; ¢ Pj. Estudos feitos na Franga determinaram um coeficiente a igual a 2,7 para bens de consumo corrente, com coeficiente de correlago de 0,95. A elasticidade varia para cada tipo de bem (Boudeville, 1972, p. 129). a tog Ly % ag Figura 3 —Reta das cidades fronteira A varidvel populagio (P) pode ser substituida pela renda ou pela populagao ativa, pois cida- des com mesma populagao podem ter maior forga de atra¢ao do que outras de mesmo porte, tendo em vista sua diversificagdo econémica interna. E possfvel, igualmente, introduzir-se coeficientes na formula de Reilly, para dar conta da diversificagio econdmica, o que altera as fronteiras regionais: onde: bj € bj sto indices da diversificagao econdmica das cidades i e j; P pode referir-se & populagao ativa ou a renda urbana. Quanto mais diversificada for a economia de uma cidade, maior serd sua rea de influéncia, C- REGIAO PLANO - No caso das regides plano, normalmente adotam-se as fronteiras po- litico-administrativas, podendo utilizar-se os critérios de regionalizagdo das regides homogéneas ou polarizadas, Hé casos em que a delimitagao precisa das fronteiras regionais € muito importante. Por exemplo, uma firma comercial que deseja distribuir no espaco suas filiais ou centrais de distribuicao de produtos. IV. MOBILIDADE DOS FATORES 4.1 Mobilidade dos fatores e 0 equilibrio geral A mobilidade dos fatores afeta 0 equilforio geral da economia, assim como a mobilidade de bens, Mundell (1957, apud Richardson, 1975, p. 281) salientou que o sistema tende ao equilfbrio mesmo se a mobilidade de bens nao for perteita, desde que a mobilidade de fatores o seja, Esta ten- deré a eliminar as diferengas no prego dos fatores cessando © movimento dos fatores. Esta situagio proporcionaria mobilidade dos bens e igualacao inter-regional de seus pregos. Samuelson (1948, apud Richardson, 1975, p. 282), por seu turno, demonstrou que a mobil dade dos bens poderia igualar os pregos dos fatores mesmo na presenga de imobilidade dos mesmos (livre comércio). A igualdade dos pregos dos bens resulta na igualdade dos pregos dos fatores. A mobilidade dos fatores e o livre comércio no silo mutuamente exclusivos, pois é dificil a transfe- réncia de capital que nao implique na mobilidade de bens. No nivel inter-regional seria irrealista supor perfeita mobilidade de bens ¢ imobilidade dos fatores ou vice-versa. Otimo de Pareto: é a situagdo em que nio é possivel aumentar o valor da produgao de uma regio, sem reduzir 0 valor da produgao de outra regido. As condigdes para 0 equilibrio paretiano sdo: a) pregos iguais para os fatores em todas as regides; b) produtividade fisica marginal igual para cada fator na produgio de cada bem em todas as regides (custo de transporte igual a zero); essas condigées podem ser representadas assim: Py = PMgax = PMfiy = os = PMB sendo i= fatores (a, b, ¢, ... i) e n= regides (x, y, ..n). P, = PMgmx = PMgby PM Bin P= PMg,. = PMgy, PMgi, HG vérias raz6es para supor que 0 modelo seja mais adequado no nivel regional do que no nivel internacional: a) as fungdes regionais de produgo so mais homogéneas; b) as relagdes K/L sio mais estaveis: seus pregos relativos variam menos; ¢) as funcdes de demanda so mais seme- Thantes. Se as fungdes de demanda de duas regides, para um mesmo bem, so diferentes, a regidio que demanda mais do bem poder tornar os recursos utilizados na sua produgao escassos. Contudo, a igualdade dos pregos de fatores e de bens néio ocorre por uma série de razdes: a) ‘0 modelo é estatico € a mobilidade € dindmica; b) os custos de transporte ¢ as distncias restringem a mobilidade; c) economias de escala e economias de aglomeragio existentes em certas regides am- pliam as desigualdades nos pregos dos fatores e dos bens. As economias de escala e as economias externas em uma cidade podem permitir aos empresdrios © pagamento de saldrios mais clevados para compensar 0 custo de vida maior; d) pelos custos da mobilidade dos fatores e pela imobilidade dos recursos naturais. Verifica-se, entdo que a mobilidade inter-regional dos fatores nao é perfeita. O que pode haver, quando muito, é uma tendéncia ao equilibrio. Resta saber se 0 comércio inter- regional, relativamente livre, igualard os pregos dos fatores. Em um contexto extitico € possivel que isso acontega, mas ndo em um contexto dindmico. ‘A questo do equilfbrio nao impede, entretanto, as desigualdades regionais na renda per ca- pita. Hi varias raz6es: a) a renda da propriedade pode estar desigualmente distribufda entre as regi- es: mesmo que o preco da terra seja o mesmo, seu volume varia; b) por diferencas na taxa de parti- cipagdo da forga de trabalho: embora a remuneragao por trabalhador seja a mesma, a renda per ca- pita seré diferente; c) pelos diferenciais de qualificagio e composigao da mao-de-obra ativa de cada regio. 4.2 Migracio da mao-de-obra A teoria neocléssica da produgio diz que a mao-de-obra migraré das regides de baixos salé- rios para as regides de altos salérios até que a diferenga seja eliminada, Mas a migragio pode acele- rar 0 crescimento da regio de destino e reduzir o da regio de origem, aumentando a desigualdade. Se os emigrantes esto desempregados, isso tera resultado desprezivel sobre os niveis de sa- lérios e sobre a economia da regio de origem. Na regidio de chegada, os imigrantes ndo- qualificados poderio liberar trabalhadores de maior qualificago para fungGes em que sua produti- vidade ¢ salérios sejam maiores. A migrago poderd, assim, aumentar o nivel médio de saldrios da regidio, em vez de reduzi-lo. As despesas de viagem e o custo de instalagao do emigrante podem limitar seu deslocamen- to. A distancia e as oportunidades de emprego podem ser varidveis significativas na explicagdo da migragio. Ademais, se os emigrantes estiverem desempregados ou se forem expulsos do campo, migrardo mesmo sem o diferencial de salirios. ‘A falta de conhecimento das oportunidades de emprego, a incerteza, a inexisténcia de um esquema de recebimento e orientagao do emigrante so fatores que limitardo a mobilidade. A capa- cidade da regitio receptora em absorver os imigrantes pode limitar os fluxos subseqiientes. Ha ne~ cessidade de construir escolas, habitagGes, servicos de satide etc. A) Hipéteses teéricas ‘A teoria cléssica da migragao diz. que a migragZo depende da populagdo étima ¢ da produti- vidade marginal, A distribuig0 da populacdo dtima € aquela que maximiza a renda real per capita em cada regido. Em condigées de concorréncia perfeita, ela leva 4 maximizagdo da renda nacional per capita; entretanto, esta s6 seré conseguida se houver perfeita mobilidade dos fatores, até que PMg = w. em todas as regides. A localizagdo da populagao é étima visto que nenhum trabalhador pode ganhar com a migragao. Porém, como a concorréncia nao é perfeita e em dindmica a composigao da populacdo varia, outras varidveis tornam-se importantes: a) distancia dos trajetos da origem aos destinos; b) atragées das freas (salério, oportunidades de emprego); c) informages do emigrante. B) Modelos deterministas Min = f(t te gg Fi Fy (1) (Stewart Zipf) dim dom dim nm A migragio total de um centro m varia diretamente com a populagio dos centros que forne- ccem 0s migrantes e inversamente com a distancia de cada centro ao ponto m. Stoufer (apud Richardson, 1977, p. 292) afirma que as migragdes dependem das oportunida- des em m (Xm) ¢ das oportunidades entre n & m: M—>=a2"™ 2) am bg Onde: Xpq, SA oportunidades acumulativas de emprego intervenientes no trajeto é uma fungio da distancia entre ne m. Outro modelo € 0 que afirma que as populagées se deslocam das regibes de crescimento lento (g)) para as regides de crescimento rapido (33): My = figj- 2); G) Generalizando, tem-se que: Mij = f(gi - gi 82 - 815 +5 8)- 8) ‘A regidio com maior taxa de crescimento € a que mais recebe fluxo migratério da regio i. Mas esse modelo ignora o fator distncia e as migragdes por motivos no-econdmicos. C) Modelos probabilisticos E necessério distinguir entre a mobilidade do empregado e a do desempregado. A migragao, nos dois casos, envolve riscos e inseguranca. A decisio de mudar dependeré dos ganhos, dos custos diretos ¢ dos custos intangfveis (desutilidade). Ganhos Quanto maiores forem os custos diretos ¢ a ofer- teria, to desutilidade, maior deverd ser os ganhos. O solteiro tem uma desutilidade menor do que 0 casado, principalmente os que tém filhos que c estudam, uM C= custos diretos (transporte, mudanga, Figura 4 —A curvade oferta de imigrantes aluguel, alimentagao). Se o migrante for eminentemente racional, ele ir comparar os ganhos com os custos, a uma determinada taxa de desconto, que poder ser a taxa de juros do empréstimo tomado para emigrar. Entretanto, os individuos apresentam uma preferéncia muito forte para permanecer onde esto: G=C+(I/m).M dG/4M = I/m = propensao marginal a migrar. Se I/m=0,G=C: — — oindividuo ndo muda por maiores que sejam os ganhos; Sem=1,G=C+M: — o individuo se muda se G > C por menor que seja a diferenca. 4.3 Mobilidade do capital Num mercado perfeito, com seguranga e custo de transporte nulo, 0 capital fluiré das regides de baixo rendimento para as de maior rendimento, até que as diferengas se anulem. Neste caso, a poupanga (S) e a propensdo a poupar podem ser diferentes entre as regides. O mercado de capitais, desenvolvido captara poupangas em regides onde elas sdo abundantes em relagio aos investimentos, aplicando-as nas regides onde elas so escassas e onde haja maior rentabilidade para os capitais in- vestidos. uma grande tendéncia ao desequilibrio pela instabilidade das demandas regionais de ca pitais e pelo fato de que grande parte do capital encontra-se imobilizado (equipamentos, instalagies, construgies, infra-estruturas) em uma dada localizagao, dificultando sua mobilidade. Por outro lado, muitos projetos exigem grandes volumes de capital. A indivisibilidade do capital prejudica ajusta- mentos marginais, em resposta a pequenas modificagSes inter-regionais na taxa de retorno. Além disso, as imobilizagdes da regio rica constituem economias externas que atrairio 0 capital de fora, em vez de fazer com que ele emigre. A mobilidade do capital é restringida, ademais, pelo fator se- guranga; ela requer que todas as firmas tenham acesso ficil ao crédito, mas pequenas firmas tém acesso mais dificultado porque oferecem menos garantias reais. Os componentes de risco engendram custos diferentes para obter 0 mesmo capital, como se pode ver na Figura 5 (Richardson, 1975, p. 298). A Eficiéncia Marginal do Investimento (EMgl) decresce com o volume de investimento em cada regidio. A taxa média de retorno na regio B é me- nor do que na regitio A (a curva da EMg Ip menor do que a curva da EMg I, em toda sua exten- sii). Se houver um mercado de capitais que regule a poupanga, o capital migrard de uma regido para a outra, em busca de maior remuneracio. Figura § —Efieiénela marginal do Investimento Ea taxa nacional de juros i. que representa o custo do capital em cada regitio. As firmas vao investi até 0 ponto em que a taxa de retorno r iguale o custo i. O capital se desloca de uma regitio para outra até que o retomno marginal do investimento (ts) seja igual & taxa nacional de juros ig. Entretanto, como a regio B possui uma menor EMgy € possi- vel que 0s investidores ponham um prémio % xo emprestar seu dinheiro, de sorte que a taxa nacio- nal de juros sobe de ig para ip. O nivel de investimento na regio B seré menor, passando de Ip: para Ipp. As taxas de retorno nao serdo iguais entre as regides A e B (rp € Te). Na Figura 5, anterior, supe-se que os custos de obtengao de fundos i para os investimentos ndo variam com modificagées no nivel do investimento (que eles sejam horizontais) (cf. Richard- son, 1975, p. 300). Uma seco horizontal para a curva de obtengio de fundos significa que eles so obtidos in- temmamente (luctos retidos) e uma sego ascendente (fundo bancério), mostrando que somas cres- centes de capital s6 podem ser obtidas a custos erescentes. A curva de custos de obtengiio de fundos €PORS para a regidio B e PTU para a regido A; PQ < PT por que a menor rentabilidade do investi- mento em B se traduz em menores luctos e menos fundos retidos para investimento. A curva da regio B apresenta uma descontinuidade: os fundos s6 fluirdo para a regio A se tiverem rendimen- to maior. Taxa de retorno ceusto ao capital tex ta.w tata bx bb lay Ty Investimento Figura 6—EMg I com custos variivels de obtencao de fandos equilibrio em cada regido ser4 no cruzamento das curvas de CMg fundos ¢ da EMgl. A mobilidade do capital no consegue igualar as taxas de retornos regionais (r). A igualdade das 1's ocorre quando i sobe tanto que os investimentos somente serdo financiados com recursos préprios (ix tende para ry). ( investimento em cada regio dependerd, em resumo, da inclinagéo das curvas de CMg fundos e da EMg I (salvo se i for muito elevada) e € improvavel que os fluxos igualem as taxas de retomo r. ‘A curva EMgl pode deslocar-se por inovagées tecnolégicas, mudangas na demanda do pro- duto e do investimento, variago nos precos. Essas mudangas podem ser diferentes entre as regices, de sorte que o fluxo de capital nunca engendrars o equilfbrio com as taxas 1's exatamente iguais. 4.4 Difusio espacial da inovagiio e do progresso técnico Uma regitio pode crescer mais rapidamente do que as demais se empregar os insumos exis- tentes de modo mais produtivo ou importando tecnologia mais avangada. A transmissio espacial do progresso técnico é um elemento essencial na andlise de mobilidade de fatores. Se for correta a tese de que "aprende-se fazendo”, entdo 0 progresso técnico estara concentrado nas regides onde houver maior volume de investimento, Haveré aumento das economias extemas dessa regido, principal- mente se nao houver facilidade para a difusdo do progresso técnico para outras regides. Se o progresso técnico estiver "incorporado" no capital, entZo sua aplicagio depende da cle- vagio da taxa de investimento, o que serd dificultoso para a regitio mais pobre. Além disso, se cle ir mais intensamente em alguns ramos de especializagdo, concentrados em uma regio, sua di- fustio espacial seré dificultada. Mesmo que haja grande parcela de progresso técnico niio- incorporado, sua adogdo, na area, dependerd das atitudes de empresérios ¢ investidores. A difusio seri dificultada, ainda, pelos custos de comunicagao, pelos acordos de patentes e pelo segredo em- presarial (Richardson, 1975, p. 302 ¢ segs.). ‘As inovagGes ocorrem normalmente nas cidades maiores, seguido dos centros mais préxi- mos na hierarquia urbana, Numa segunda fase, a transmissdo segundo a hierarquia ¢ rompida. A difuso ocorre mais rapidamente na proximidade dos centros inovadores originais do que nos cen- tros de maior dimensio, mas distantes dos centros inovadores. Em razio do atrito espacial, predo- mina o efeito proximidade. Na terceira fase, a adogao da inovagio tende a chegar ao fim no centro inovador (saturag0) e difundir-se nos centros mais distantes. O hiato entte a criagao da inovagao e sua adogio em todos ‘os centros depende tanto de varidveis econdmicas, como de varidveis sociolégicas (contatos). A difusdo tende a se dar através dos eixos de comunicagdo; internacionalmente, ela ocorre através das metr6poles nacionais e os centros prineipais; ao passo que a difuso no interior do pais propaga-se tanto por meio do efeito de proximidade como através da hierarquia urbana, A difusio da inovag%o depende também dos agentes que recebem a informagiio e de sua ap- tid’ em retransmiti-la (nédulos de comunicagio). E importante, portanto, examinar sistemas de interago que se estendem por esferas urbanas mais amplas, além da érea urbana propriamente dita. (Os centros que tenham fungdes com orientagdo supra regional e nao local (urbana, regional) tendem a absorver mais rapidamente as inovagdes que emanam de um centro exterior, em comparago com as cidades que carecem dessa orientagio. ‘A transmissio espacial do progresso téenico que melhora 0 desempenho de uma ‘rea em termos de crescimento diz mais respeito &s inovagées industriais ¢ administrativas do que @ novos produtos. A capacidade de receber informagées depende do grau de integragio da economia local, Ga existéncia de técnicos treinados e de gerentes qualificados. Essas atividades altamente propensas a receber as técnicas esti concentradas em poucas areas; elas possuem institutos de pesquisa, grandes universidades e elevado registro de patentes. As firmas inovadoras atraem para 0 centro individuos e firmas com propensio a adotar inovacées, dificultando a difusio espacial da inovagao as reas periféricas. Em resumo, a existéncia de um sistema de comunicagdes desenvolvido entre o centro inova- dor e a periferia nfio basta para proporcionar a difusdo espacial do progresso técnico. Esse sistema de comunicagdes, assim como uma hierarquia urbana desenvolvida sio suficientes para proporcio- nat a difustio de novos produtos de consumo final, mas ndo das inovagdes que aumentam a taxa de crescimento das inchistrias. 4.5 Mobilidade do talento gerencial A cficiéncia dos gerentes é um elemento crucial na decisdo sobre a aplicagao de inovagdes na adogio de investimentos em condigdes de inseguranga; essa eficiéncia influi sobre as taxas de crescimento de uma regitio. A caréncia de gerentes & mais pronunciada nas regiées menos desen- volvidas. ‘A oferta de gerentes em uma regio no perfodo t é fungdo da estrutura econémica nos perio- dos (t-1), (t - 2), ... (t- n). As varidveis que afetam a oferta de gerentes so a educagio e treinamen- to gerencial, salérios, taxa de crescimento da economia etc. As varidveis que determinam a deman- da de gerentes so o ritmo de crescimento da economia e sua diversificagao estrutural. Uma vez que a estrutura s6cio-econémica e o ambiente cultural favordvel so determinantes da oferta de gerentes e empresdrios, hd uma limitagdo da mobilidade de talento gerencial para regi- es com pouco crescimento e ambiente cultural pouco favordvel ‘Além do mais, existe um elemento psiquico de renda relacionado com o ambiente familiar, que restringe a mobilidade dos gerentes ¢ dos empresarios, estes associados & mobilidade do capital. Existe uma forte tendéncia para que o talento gerencial se concentre nos centros de atividade inovadora e em grandes cidades nas quais existam economias de aglomeragdo. Ha demanda por gerentes ¢ oferta de lazer e atividades culturais. Por conseguinte, quanto menor for 0 centro urbano, tanto mais os gerentes se disp6em a mudar e tanto maior serdo os rendimentos oferecidos, As transferéncias de pessoal dentro de uma mesma empresa so um dos canais mais impor- tantes da mobilidade. Mas o aperfeigoamento das comunicagdes, a eletrénica e novas técnicas ge- renciais estdo permitindo a execugo de fungdes gerenciais & partir do escrit6rio metropolitano. Em conelusio, a propensio dos gerentes a mudar é influenciada por uma série de varidveis, além do saldrio, como os fatores culturais e a renda psfquica. REFERENCIAS AYDALOT, Philippe. Dynamique spatiale et développement inégal. Paris, Economica, 1976. BOUDEVILLE , Jacques R. Aménagement du territoire et polarisation. Paris, Ed. Genin, 1972. DUBEY, Vinod. Definicdo de Economia Regional, In.: SCHWARTZMAN (1977, p. 21-27). MEYER, J. R. Economia Regional: um levantamento, In.: AMERICAN ECONOMIC ASSOCIATION. Pa- norama da Moderna Teoria Econémica, Sio Paulo, Atlas, 1973, ¥. 2, cap. 8, p. 311-343. MYRDAL, Gunnar. Teoria econdmica e regides subdesenvolvidas. 2. ed. Rio de Janeiro : Saga, 1968. PERLOFF, Harvey et al. Regions, resources, and economic growth. Baltimore: The Johns Hopkins Press, 1960. RICHARDSON, Harry W. Economia Regional, Teoria da Localizagdo, Estrutura urbana e crescimento re~ gional. Rio de Janeiro: Atlas, 1975. . Teoria del crecimiento regional. Madrid, Ed. Piramide, 1977, SCHWARTZMAN, J. Economia Regional: textos escolhidos. Belo Horizonte, CEDEPLAR, 1977.

Você também pode gostar