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4 TALUDES 4.1 Introdugao Uma superficie de terreno que esteja exposta fazendo um Angulo com a horizontal toma a designacao de talude e a esse Angulo chama-se ‘inclinacéo do talude’. A ndo horizontalidade da superficie do terreno faz com que, por acodo da gravidade, para além de ‘outras causas, haja solo que tenda a deslocar-se para as zonas inferiores da encosta Os taludes podem agrupar-se em trés categorias relativamente a sua origem: @) Naturais - quando resultam de um processo de evolu¢do geomorfologica normal, 0u seja, sem intervengdo humana: b) De escavacao - so resultado da escavagao pelo homem de macigos naturais; ©) De aterro - taludes que s40 construidos utilizando materiais (solos, enrocamento) extraidos noutros locais. Destes trés tipos, os taludes de aterro so aqueles que, do ponto de vista tedrico, colocam menos questées de seguranca ja que sendo construidos pelo homem podem ser-ihes conferidas as caracteristicas que obstem a que possam vir a surgir quaisquer situagdes anomalas. J4 no que diz respeito aos taludes naturais, de um modo geral eles s6 sho objecto de analise quando estéo associados a acidentes ou nos casos em que a interven¢éo humana estabeleca situagdes que eventualmente possam vir a afectar o equilibrio. Por ditimo, os taludes de escavacao sao geralmente objecto de estudo que tem ‘como objectivo definir a respectiva geometria de maneira a garantir as desejaveis condigbes. de seguranca. Nestes dois tltimos casos a identificagdo das condigbes geologicas locais e a caracterizagao dos terrenos que constituem o talude podem dificultar a referida avaliagao da seguranca A evolugdo geomorfologica dos taludes deve-se essencialmente a fenémenos de erosdo, a movimentos de terrenos © & combinago destes dois mecanismos. A erosdo pode ser consequéncia da acco do vento ou da agua, que se ilustram na Figura 1, No primeiro caso so tipicos os fenémenos de erosao diferenciada, em que o desgaste dos terrenos mais friaveis se processa a taxa superior A de terrenos resistentes, podendo no limite dar origem @ consolas, Figura 1a). Quanto a ac¢éo erosiva da agua ela pode fazer-se de modo superficial, dando origem ao ravinamento do talude, Figura 1b), ou por eroséo interna (piping), Figura 1c). No que se refere ao movimento dos terrenos ele pode verificar-se a diferentes velocidades. O fenémeno toma designacao distinta em fungdo da velocidade a que se dé, Varnes (1950), como se mostra na Tabela 1 conciatura om Engenharia Ci, Departament de Engenharia Civile Arqutectue, nite Super Teen Fundasées Capitulo 4 - Taludes Figura 1 - Efeito da erosao sobre o talude. Tabela 1 — Classificagdo do movimento de taludes Tipo de Movimento Velocidade Designago Extremamente répido 23 mis Muito rapido cs eoani ee] Moersotonar or Fence | 18 82 pesizamento Moderado 4.5m/més Lento 4.5 m/ano Muito lento 0,3 mfustro_| Fluencia Extremamente lento <.0,3 mfustro Os desmoronamentos so tipicos de materiais rochosos, que caem sob a forma de blocos. Os deslizamentos séo tipicos dos solos ou ao longo de descontinuidades de macicos rochosos, podendo manifestar-se segundo superficie de geometria diversa, sendo comuns a forma circular (rotacionais), planar (translacionais) ou compésita. As superficies circulares 408 Ucenciatwa em Engerharis Ci, Departamento de Engenhara Civil eArqutectura, Insti Super Técnico Fundagses Capitulo 4 - Taludes ‘40 caracteristicas de deslizamentos em solos sem anisotropia bem marcada e de macigos Fochosos muito fracturados, de forma aleatéria. As superficies de escorregamento planar coincidem geralmente com descontinuidades ou camadas de menor resisténcia, como se ilustra na Figura 2 Figura 2 - Superficies de deslizamento. Os movimentos por fluéncia sao tipicos de solos, podendo também ocorrer em rochas brandas. Estes movimentos podem atingir profundidade varidvel, sendo muitas vezes identificados pela inclinagao que as arvores tém nas encostas. A instabilizagao de taludes é devida a causas externas e internas: ~ Causas externas: + Aumento da inclinagao do talude por escavaco ou erosao dos terrenos; + Aumento da altura do talude, por escavago na base ou por colocagao de aterro no seu topo; + Aumento do peso do talude, por aumento do teor em agua dos terrenos ou Por colocagao de cargas; + Erosao superficial; + Vibragdes causadas por sismos ou por desmonte de macigo rochoso com explosivos; + Meteorizagao dos terrenos superficiais; + Efeitos da vegetagao; Efeitos do congelamento da gua no terreno e consequente aumento de volume. ~ Causas internas: + Diminuiggo da resisténcia dos terrenos; + Aumento da pressdo intersticial; + Aumento das tensées de origem tecténica Resulta por isso que a avaliagéo da estabilidade de um talude, a interpretagéo de um acidente ou a definicéo de medidas com vista a repor ou reforgar as condicoes de Ucencitra em Engenteria Cir, Departamento de Engenharia CMe Aue, bsttuD Supetor Técnico 107 Fundagoes Capitulo 4 - Taludes estabilidade, passa pela correcta identificagéo do ambiente geotécnico em que se situa o talude segundo as seguintes vertentes, Patton (1974): @) Historia geolégica - a sequéncia de efeitos e processos que produzem solos e Tochas, e as estruturas geolégicas neles contidas (incluindo a historia de movimentos anteriores); ») Sistema de percolagdo - a natureza geral do escoamento da agua na vizinhanga do talude, as variagées locais de permeabilidade e das condig6es de escoamento; ©) Histéria de tensdes - a componente da histéria geoléyica que define os estados de tensdo passados e presentes actuantes no solo ou rocha, incluindo os valores e sinais das variagdes de tenses (erosées e libertacdo de tensdes, variagdes de niveis freaticos); 4d) Processos de alteragéo e meteoriza¢do e seus produtos - a profundidade e natureza do perfil de meteorizagao (redugao da permeabilidade nas camadas superficiais e aumento nas mais profundas, reducao da resisténcia); €) Sismicidade da érea; 4) Efeitos climaticos e hidrologia - incluindo precipitagdes e profundidade do gelo. E pois evidente que a andlise da estabilidade de um talude passa por uma correcta avaliagao das condigdes que o caracterizam, destacando-se dentre elas as caracteristicas resistentes dos terrenos. Referem-se de seguida os modelos de calcul mais utiizados na analise da estabilidade de taludes, cuja utilizagao requer também uma rigorosa identificagaio das condigdes do talude, como se vera. 4.2 Talude infinito Tipicamente, a superficie de deslizamento associada a este tipo de talude é planar, o que também faz supor que 0 terreno que constitui o talude € uniforme e isotrépico. A designacéo “infinito” deve-se @ grande dimenséo do talude, tanto na direcg4o horizontal como ascendente, segundo a face do talude. A analise de estabilidade deste tipo de talude é relativamente simples e acaba por servir como uma introdugo para os casos de talude finito e meios no uniformes ou anisotrépicos. 4.2.1 Solo puramente friccional Atente-se na equago (1) e na representagdo grafica na Figura 3. A relagéo entre a! e t apenas pode ser escrita desde que se conheca o valor de 6’ mobilizado, 0 que acontece apenas na situagdo de ruptura. Em qualquer outra situago antes da ruptura nao é possivel relacionar aquelas duas tensbes numa faceta ‘gd (1) 408 Ucenciatraem Engenharis Ci, Departamento de Engenara Civile Amul, Instuto Supenor Técnico Fundagées Capitulo 4-Taludes Figura 3 — Angulo de resisténcia ao corte mobilizado. Para as condigbes geométricas definidas na Figura 4, em solo puramente friccional, 0 valor de calculo da tenséo de corte resistente ao longo da superficie de deslizamento é quantificado pela equagéo =o'tgg, (2) cas Figura 4 - Forcas actuantes numa fatia de talude infinito em solo friccional Para talude infinito em terreno uniforme as forgas (E, &) e (X, X), que representam respectivamente as componentes horizontal e vertical, de interacgdo entre fatias de igual largura, so iguais em magnitude e orientagéo pelo que se anulam quando se procede @ analise do equilibrio das forgas relativamente a superficie de deslizamento. As restantes forgas so facilmente quantificadas: LUconeistura em Engenhaie Ci, Departament de Engennara Cv « Auteur Insti Superior Teen 109 (Ba) (3) 0) a [pecs + 228 - pcos? p (4a) pipe ries p+ 2D. sn cor (ab) No instante de inicio do deslizamento do talude (ou seja na condi¢o de equilibrio limite) todas as forcas actuantes na fatia esto em equilibrio. Na situagdo de ruptura o Angulo de resistencia ao corte mobilizado vale ¢,. A partir da equacéo (2) e tendo em conta a equagdo (4a) escreve-se: 1=1, = (200s? B)ed'g © De acordo com 0 EC 7 0 valor da resisténcia calculado através da equagdo (5) é afectado de um coeficiente de seguranca, 7/x., que tem caracter minorativo e representa a incerteza na quantificacao da resisténcia do terreno. ‘A tens&o de corte que funciona como acgdo na base da fatia elementar, ou seja o valor de célculo da tensdo tangencial actuante, corresponde ao valor de 1 obtido com a equagéo (4b), ou seja: eg =ty = yasenfeosp ©) Para que se verifique a seguranga relativamente ao estado limite ultimo por ruptura segundo a superficie de deslizamento deve ficar satisfeita a equagao egsry @ ‘Tendo em conta as equagées (6) e (5) respectivamente pode-se escrever 1BB S186, © © que leva a concluir que a estabilidade do talude, infinito e em solo friccional, em relacao a0 estado limite ultimo por ruptura segundo superficie de desiizamento planar, apenas depende da sua inclinagao, no sendo relevante a localizacdo em profundidade da eventual superficie de desiizamento. A avaliagao da seguranga pela utiliza¢ado do método dos coeficientes de seguranga parciais & aparentemente contraditéria com os resultados obtidos com recurso ao processo 110 Lcencistira em Engenharia Civ, Departarenta de Engenharia Cale Argue, Insti Super Técnico Fundagoes Capitulo 4 - Taludes tradicional de calculo. Neste método, classico, a avaliagdo da seguranga do talude é quantificada através de uma grandeza, o coeficiente de seguranca global (Fsg), que traduz a relacao entre a maxima tensao mobilizével na base da fatia (r, = c'/g¢’) € a tensio ai instalada (r, = zsenfcosP), traduzida, no caso em andlise, pela relago, 6" ‘eB 2 Pg Habitualmente exige-se que o valor de Fsg seja superior a 1,3. Apesar de os dois processos de calculo nao conduzirem exactamente ao mesmo resultado, 0 que 6 mais evidente quando se calcula, por ambas as vias, a inclinagéo maxima a atribuir a um talude compativel com a sua seguranga, convém ter presente que as duas metodologias de calculo assentam em principios distintos. Na verificagéo da seguranga de um talude em relacdo ao estado limite titimo (ELU), por tuptura do terreno segundo uma superficie de deslizamento, como o préprio nome indica, nao se pretende verificar a respectiva funcionalidade. Ja com 0 recurso ao coeficiente de seguranga global, normalmente, faz-se uma verificag&o simultanea da seguranga e da funcionalidade. A problemética da distincao dos dois tipos de metodologias na verificacao da seguranca de taludes tem sido objecto de avaliacao por varios investigadores, podendo encontrar-se em Maranha das Neves (1994) algumas reflexées pertinentes sobre este assunto. 4.2.2 Solo com atrito e coesdo [c’, 4] Quando 0 solo resiste mobilizando coesdo ¢ atrito, [c’, ¢'], 0 valor de célculo da tensdo de corte resistente na base da fatia é calculada pela equagéo rg ate = Cgt0' 188g (10) Entretanto o valor de calculo da tensdo de corte actuante continua a ser calculado através da equagdo (6). A seguranca do talude relativamente ao estado limite ultimo por ruptura do terreno é avaliada pela equacdo (7) que se pode escrever: eg; GzsenBeosp) < ry; |e’ +(z 00s? B)ed's| ay ou, numa forma simplificada ths Lev igg, (12) cos’ B Esta equaco toma evidente, quando comparada com a equago (8), a contribuicéo da coesdo para a seguranga. Mostra ainda que quanto maior a espessura da camada que potencialmente pode entrar em movimento menor é a contribuigao da componente coesiva Ucenciatura am Engenharia Gv, Departamento de Engermana Chile Acuitectr,Inetisto Superior Teeico 4 Fundagées Capitulo 4 - Taludes para a estabilidade do talude relativamente a ruptura do terreno segundo a superficie analisada. Na condigao correspondente ao limiar da estabilidade do talude o valor de calculo da tenséo tangencial actuante na base da fatia iguala ai o valor de célculo da tenséo tangencial resistente. Para esta situagao, a partir da equa¢ao (11) pode calcular-se a profundidade a que se situa a superficie onde se verifica a condicao de equilibrio limite, ou seja h, =—,24___ (13) ycos’ Altgp -1g¢'4) EXEMPLO 1 - TALUDE INFINITO Avalie a seguranca do talude na Figura E1 relativamente ao estado limite altimo por ruptura do terreno ‘Segundo a superficie ali indicada. O comportamento mecnico do material admite poder considerar-se que no macico as tensdes totais s&0 iguais as tensbes efectivas. Propriedacdes do sclo: Y= 16,1 KNIm? da interface: -e'= lo kh et ¢'= 20° interface. Figura E1 - Talude infinito em solo com coes&o. REsoLUgAO ABORDAGEM DE CALCULO Do TIPO 1- AC 1 © EC 7 sugere que a verificagao da seguranga seja feita utlizando duas combinagtes de coeficientes de seguranga parcials. Vai considerar-se apenas a Combinagao 2. COMBINACAO 2: A2 + M2+R1 a) a seguranca é verificada através da inequac3o sk, =r, 412 LUcencetura em Engeataria Civ, Departament de Engenharia Cle Arguiocus, Instuto Super Teena Fundasées Capitulo 4 - Taludes b) coeficientes de seguranga parciais + das acebes (tabela A.2.1, conjunto A2) permanentes destavoravels_y favoravels. 6 variaveis desfavoraveis yo = favoraveis = ya=0 + des propriedades dos materials (labela A.2.2, conjunto M2) Angulo de resistencia ao corte yy = 1,25 eso volimico Ye = 1,0 + da rresisténcia do terreno (tabela A.2.3.6, conjunto R1) resisténcia do terreno yre=1,0 ©) valores de caiculo: = peso volumico: y4 = 16,1 N/m? = parametros resistentes na interface Angulo de resistencia ao corte y_ -jy-1( 1220" 125 00st: a! sire 4) forgas instaladas em fatia de largura unitaria (b=1m), eq. (3a) a 3c)] W = 16,193" 1 = 484N /m N= 484 cos25*= 44kN/m S = 48% sen25*= 201Nm ) tensao normal instalada na base de fatia, eq, [4a) e 4b)] of = 44° cos 25 eg = £4 = 20° sen25? 4) valor de calculo da tensao tangencial resistente na base da fatia, eq, (5) (20* sen25°) 7 = 18KPa 9) veriicagao da seguranca relativamente ao estado limite ultimo e,(18 kPa )< r,(20 kPa ) 4.2.3 Percolacao paralela ao talude Satisfaz! Quando © terreno no talude esta sujeito a percolacdo ha necessidade de ter em Consideragao as press6es intersticiais, que se reflectem tanto do lado das acgdes como da resisténcia. Seja a Figura 5, onde se representa a mesma situagdo definida na Figura 4, ‘Ucenciatura em Engenharia Givi, Deparamerto de Engeneia Chile Artec, Insiuzo Superior Terico 113 Fundagoes Capitulo 4 - Taludes mas agora admitindo que o escoamento se da paralelamente a face do talude e com a agua a face deste. Figura 5 - Talude infinito em solo com coesao sujeito a percolacao. a) Forgas actuantes; b) Pressao intersticial na base da fatia. O peso de uma fatia, equagao (14a), e a sua projeccdo relativamente a respectiva base so traduzidos pelas equacdes (145), componente normal, e (14c), projeccao segundo a base da fatia, W = Yqqb* 2 (14a) N=/7,,bzcos B (14b) S=Y yy b2senB (140) ‘A impulsdo que actua na fatia ¢ calculada apela equagao u=y,zcos’ B*l=y,zcosB*b (14d) As tensées normal e de corte na base da fatia resultam das equagdes (14b) € (14c) respectivamente, divididas pela 4rea onde actuam as forgas que esto na sua origem: sax ~ Yy JE cos? B (18a) = a = YemesenB cos B (15) © valor de calculo da tensao tangencial resistente ¢ fornecido pela equaco a seguir, a qual deve ser afectada de um coeficiente de seguranga que traduza a resisténcia do terreno "4 LUcenciatura em Engenharia Ci, Departamento de Engenharia Civile Arqutectura, Insttao Superior Tenico Fundagoes Capitulo 4 - Taludes 74 =Cg+7 2008" fig dg (16) com o valor de cAlculo da acco a corresponder ao valor obtido a partir da equag&o (15b). A seguranga é verificada através da equagao (7), ou seja ai Wa 28enBeosB)< ry; ['y+y' 200s? B)ed's| cr) que permite escrever a equagao a ‘ (gh s—. +4 (18) nL ogee Ta Quando comparada com a equacéo (12), @ eq.(18) torna evidente que o regime de escoamento definido, paralelo a superficie do talude, conduz a uma diminuic&o significativa da seguranga do talude relativamente a ruptura. EXEMPLO 2 - TALUDE INFINITO COM PERCOLAGAO PARALELA A FACE DO TALUDE Para o talude na Figura E1, considerando que no terreno se dé escoamento paralelo ao talude e com ‘a gua a atingir a respectiva superficie e ainda que 0 peso volimico saturado de solo é 19 kNim*, avaliar a seguranga em relayao av estado limite oltime por ruptura do terreno Segundo a superficie indicada. REsoLugao ‘A menos do peso vollimico do solo, que passou a ser de 19 kN/m’, reproduz-se aqui o que esté contido nas alineas a), b) e c) no ExeMPLo Et ‘@) Valor de calculo da tens&o tangencial actuante, instalada na base da fatia. eq.(15b) €, = 19*3* sen25*cas25~ 22kPa b) Valor de calculo da tens&o tangencial resistente na base da fatia. eq.(16) rs = (6+ 09 -10)* 3* cos? 25*1g162)" (+ 6 4 = 14 kPa ©) Verificagso da eeguranga em relagéo ao estado limite ultimo. eq.(17) e,(22 kPa) r,(I4 kta) Néo satisfaz! E evidente que a presenga da agua, e neste caso com regime de percolagao instatado, ‘conduz a uma situagao que esta na origem do deslizamento do talude. ® Ucencitura en Engentara Civ, Deparamerto de Engenharia Civ eArqulectre Insite Super Trico 15 Fundagoes Capitulo 4 - Taludes 4.3 Talude finito ‘A observagao e 0 estudo de taludes em terrenos sensivelmente homogéneos e que instabilizaram por deslizamento permitiram verificar que 0 movimento da massa de terreno 6 descendente e que se destaca da superficie original da face do talude. Concluiu-se ainda que a superficie de deslizamento é curva, sendo circular na sua zona central e afastando-se daquela forma quer no topo quer na zona inferior mas que globalmente podia ser considerada como circular. Quando generalizada a toda a superficie, a forma circular de Parte da superficie de deslizamento traz vantagens do ponto de vista matematico na avaliagao da seguranca de taludes. Para esta figura tipica da superficie de ruptura as situagSes que podem ser encontradas estdo representadas na Figura 6. Para avaliagdo da seguranga de um talude basta usar as equagées da estatica, mas so possiveis duas vias para o fazer. Em qualquer delas a superficie de deslizamento em estudo € entendida como correspondendo a uma regiao plastificada do terreno. Numa dessas vias admite-se que estao em causa dois corpos rigidos com movimento relative ao longo da superficie de deslizamento. Na outra via, considera-se que 0 bloco rigido que desiiza ¢ dividido em fatias (rigidas) que podem deslizar ao longo das superficies de plastificagéo que constituem as suas faces laterais e da superficie de plastificagao que constitui a respectiva base. SS SS Figura 6 - Talude finito; figuras de ruptura tipicas. 16 cancers em Engenharia Gis, Departamento de Engenharia Cie Arqutectura, stun Superor Técnico Fundagoes Capitulo 4 - Taludes Esta ultima via abre a possibilidade de se atender & heterogeneidade do terreno e ao modo como se fazem sentir as forcas de interaceao entre fatias, a pressdo intersticial e as tensdes normal e tangencial na base de cada uma das fatias. Para a avaliago da seguranga de taludes em relagéo ao estado limite ultimo por ruptura segundo superficie de deslizamento circular hd necessidade de pesquisar varias superficies Possiveis. Apenas para situagées singulares & que é conhecida de anteméo a posi¢ao da superficie a que corresponde menor seguranca Na verificagao da seguranga de taludes existem duas possibilidades de abordar a questo, diferenciadas pela consideragdo ou ndo das pressées intersticiais na base das fatias. Ha assim lugar a métodos de andlise que so desenvolvidos em tensdes efectivas e outros em tens6es totais. Estes tltimos contemplam as situag6es e os terrenos em que a resposta mecanica dos solos se da em condigdes no drenadas. Na exposi¢ao dos diferentes metodo de andlise da seguranca de taludes faz-se referéncia ao modo como em cada um deles é considerada presenca da 4gua no terreno. 4.3.1 Talude homogéneo em solo puramente coesivo (c,) No caso de talude homogéneo em solo que responda em condigdes ndo drenadas (c) a anélise da respectiva seguranca passa pela simples quantificagao dos momentos actuante e resistente, em relagao ao centro geométrico da superficie de deslizamento em estudo, como ‘9¢ mostra na Figura 7. A influéncia da 4gua esta implicita no mode como foi caracterizada a resisténcia do terreno. bw Figura 7 - Talude em solo homogéneo (c,) © valor de calculo do momento actuante @ devido ao peso da massa de solo que sofre deslizamento, a qual é delimitada inferiormente pela superficie de desiizamento Mg =W* by, (19) LUcancatura em Engenharia Chi, Departamento de Engenharia Cie Arquitactua, Insta SupererTéenco 47 Fundagoes Capitulo 4 - Taludes Aresisténcia é conferida pela coesdo a vencer ao longo da superficie de deslizamento M,=(cy*Lage)*r (20) Como se conclui desta equagdo, nestes materiais a resisténcia é independente da tenséo na base da fatia, logo do peso do terreno sobrejacente. ‘A soguranga é verificada através da equayo Ma Ns = 0,11 =10,1m Ie 1192 Yar 73° e) verificagao da seguranga H (02m) > Hg 10.0) = Nao satisfaz! EXEMPLO 5 - TALUDE EM ATERRO. Que inclinagao deve ter um talude de aterro com 10m de altura para que seja dado como seguro em ‘elagdo & ruptura do terreno de funda¢o? As propriedades do solo so: c'=21,5 kPa; 4’=10° € y=16,5 KN/m®, REsoLucAo ABORDAGEM DE CALCULO Do TIPO 1—AC 4 © EC 7 sugere que a verificagao da seguranca seja feita utilzando duas combinagdes de coeficientes de seguranga parciais. Aqui, vai considerar-se apenas a Combinag&o 2. 124 ‘Ucencatura em Engennara Cis, Depararento de Engerhera Cv eArutectu, insti Super Téenco Fundagées Capitulo 4- Taludes COMBINAGAO 2: A2 + M2+R1 @) a seguranca ¢ verificada através da inequago batferhadaafs nether tia] Mae Yu ») coeficientes de seguranca parciais + das aogbes (tabela A.2.1, conjunto A2) permanentes desfavoraveis favoraveis variéveis destavoraveis yo favoraveis y= 0 + das propriedades dos materiais (tabela A.2.2, conjunto M2) Angulo de resistencia ao corte yy = 1,25 coesao efectiva ye2 1.25 peso volumico weno ‘+ da resistencia do terreno (tabela A 2.3.6, conjunto R1) resisténcia do terreno yre= 1,0 ©) valores de céiculo: Abe = peso volimica y= 17/5 kN? ~ _ parametros resistentes na interface Angulo de resistencia ao corte y 1. (2-0 Ef 1,25 coesto efectva: «23.54 4pe aaah d) niimero de estabilidade (eq,23) 134 “10 0,080 €) inclinagao do talude (Fig. 10b) EXEMPLO 6 - TALUDE EM SOLO PURAMENTE COESIVO (c,) Verificar a seguranca em relacdo 4 ruptura do terreno de um talude com 12m de altura e 45° de inclinagao em argila (cy=48 kpa; 7=17,3 kN/m’) com o estrato rochoso a 13m de profundidade, censure en Engenharia Civ, Departamento de Engenharia Che Arcutectura, Insite Super Teneo 425 Fundag6es Capitulo 4 Taludes RESOLUGAO ABORDAGEM DE CALCULO Do TIPO 1—AC 1 ComBINAacAo 2: A2+M2+R1 ») coeficientes de seguranga parciais + das acgbes (tabela A.2.1, conjunto A2) permanentes desfavoréveis 16 favoraveis 9 varidveis desfavordveis. yo = 1,3 favoraveis ya =0 + das propriedades dos materiais (tabela A.2.2, conjunto M2) resistencia nao drenada theo = 14 eso volumico Yo= 10 + da resistencia do terreno (tabela A.2.3.6, conjunto R1) Tesistencia do terreno yme= 1,0 1.0 10 ©) valores de calculo: = peso volumico: y= 17,3 kNim* = parametros resistentes na interface Coesso: «= AB 2343 kPa 4) relagdo (altura do talude / espessura da camada argilosa) p= DH i2*28) _ 125 HW e) altura maxima do talude (Fig. 10a), (eq. 23) D=225 wo 179 Haw 133 ihm Tac YON, 10173° 0179 1) verificago da estabilidade - H(12 m)> Hyg (11m) — Nao satisfaz! 126 Ucencatura em Engennaria Ci, Departamento de Engenharia Cle Arq, Insti Superior Técnico Fundagées Capitulo 4 - Taludes 4.3.4 Método das fatias A avaliagdo da seguranca para superficie de deslizamento circular torna-se facil quando a resistencia do terreno se manifesta na condig&o nao drenada, como se ilustrou com a Figura 7, Nesta condigdo, a resultante da reaccdo ao peso da massa em deslizamento Sobre a parte fixa do macigo € normal ao arco de circulo, no gerando por isso momento em Felagéo ao centro de rotagdo. Neste caso, o conhecimento da press4o intersticial na ‘superficie de deslizamento € supérfluo, mas 0 mesmo n&o acontece quando perante a presenga de agua no terreno se faz uma andlise em tens6es efectivas. Quando 0 solo resiste ao corte também com uma parcela friccional a simplicidade acima descrita deixa de existir o que, associado a necessidade de conhecer as pressbes intersticiais, variaveis ao longo da superficie de deslizamento, acaba por dificultar a verificagdo da seguranga. A resposta a este tipo de problemas € fornecida por aplicagéo do método das fatias. No método das fatias a massa acima da superficie de deslizamento em andlise é dividida em porgées verticais paralelas entre si, fatias, como se referiu anteriormente. A espessura das fatias pode ser variada e a base de cada uma delas é considerada como um segmento de recta, com inclinagéo média variavel, conforme a localizagao da fatia na superficie de deslizamento. As forgas a ter em conta em cada fatia so as representadas na “ Jen; Figura 11 - Método das fatias. Forgas actuantes numa fatia, A forga W, representa 0 peso da fatia i e as forgas (E; e X)) so as componentes, horizontal € vertical respectivamente, da ace4o exercida pela fatia imediatamente acima sobre a face / da fatia. O par (Ej, Xj) coresponde as componentes horizontal e vertical, respectivamente, da reacgdo da fatia imediatamente abaixo na face (i+1) da fatia em estudo. ‘Gcenciatura em Engen Civ, Departamento de Engenharia Cie Arquteciura, nso Superior Téerico 127 Fundasoes Capitulo 4 - Taludes Estes pares de forgas, séo forgas de interacgao entre fatias contiguas e sao de dificil quantificagdo. De facto esta-se em presenca de um problema de elevada hiperestaticidade, Os varios métodos de calculo visam, & custa de simplificagdes aceitaveis, em certos casos, do ponto de vista pratico, contornar aquelas dificuldades ( a da existéncia de mais incégnitas que equagées). Estando em causa o equilibrio de corpos, as equagses disponiveis sao as da estatica (forgas e momentos). Habitualmente sao definidas algumas hipdteses quanto a magnitude e orientagdo destas forcas. A avaliagdo da seguranca do talude passa por confrontar o valor de célculo do momento actuante, com o valor de calculo do momento resistente, ambos avaliados em relagdo ao ‘centro da superficie circular em estudo. Dois dos métodos de utilizagdo mais corrente e que utiizam o conceito inerente ao método das fatias so 0 de Fellenius (1936) e 0 de Bishop (1955). 4.3.4.1 Método de Fellenius: Neste método admite-se que em cada fatia as resultantes das forgas de interaccéo em ambas as faces s4o iguais em magnitude e orientago, sendo esta paralela a base da fatia. Assim, as forgas em cada fatia so as representadas na Figura 12, com as resultantes das forcas de interacgdo a actuarem paralelamente a base da fatia. fui Figura 12 - Método de Fellenius. Forgas numa fatia. © valor de célculo da acco correspondente a cada fatia é 0 momento gerado pelo peso dessa fatia, resultando para a totalidade das fatias e para a superficie de deslizamento em analise 128 ‘Uoenciatra em Engenharia Cv Departamento de Engenharia Give Aruteca nse Superior Técnico Fundagées Capitulo 4 - Taludes My = E(wjsena,)*r (25) fe Para a quantificagao da resisténcia ao longo da base da fatia procede-se projeccdo das for¢as actuantes relativamente a normal & sua base. As forgas de interaccao, desde que consideradas iguais, anulam-se pelo que néo intervém na andlise que segue. Por condigSes de equilibrio escreve-se N= w, cosa, ~ ub (26a) = w,cosar, —u,b,sena, (260) onde u, é a pressdo intersticial na base da fatia A forga resistente na base de cada fatia (forga tangencial) & T,=1,d,*L, =Catoi te6'4)* Ly ba sendo a tensdo efectiva ali instalada Ni _ Nicosi MoM 2 Snaeen ee) podendo a equacdo (27) escrever-se na forma ss ts) 4, (29) © valor de calculo do momento resistente correspondente a fora tangencial na base da totalidade das fatias é M, = Ener Eley by +(w, cosa ~u,)a6's]*r (30) ft A verificagao da seguranca relativamente ao estado limite ultimo é feita através da equacdo (21). Note-se que 0 Angulo a pode ser positivo ou negative. E positivo quando a inclinagdo da base da fatia se situa no mesmo quadrante que a (inclinagao) da superficie do talude. Este método envolve uma série de eros, logo porque nem todas as forcas de interaccdo s&o paralelas 4 base da respectiva fatia, de que se salienta o caso particular das fatias extremas, e também em consequéncia do valor do angulo ao centro da superficie de deslizamento. © erro cometido ¢ tanto maior quanto maior aquele Angulo, o que se deve a eens em Engenharia Cv, Departamento de Engerhara Cie Auteur nso Superior Técnico 129 Fundasoes Capitulo 4 - Taludes sub-avaliago das forcas normais & base das fatias situadas nas zonas mais inclinadas da superficie de deslizamento. Este método também conduz a grandes erros quando as pressées na agua séo elevadas. ‘Apesar das deficiéncias no método de Fellenius 0 seu uso tem sido corrente, porque 6 conservativo (conduz a valores por defeito de M.). Por este motivo deve ser questionada a sua aplicagao, j4 que uma maior seguranga pode ser desnecesséria e, para além disso, tem lum prego, EXEMPLO 7 - METODO DE FELLENIUS. Verificar a seguranga relativamente ao estado limite ultimo por ruptura do terreno do talude epresentado na Figura E6 segundo a superficie de deslizamento ali representada, Wa = 238 kW/m Whe 1.582 ka /m Wes 1.663 kW/m Wd: 625 ku/m Y 218,82 balm? fKr0 Oie234° ecstae Figura E7 - Método de Fellenius. RESOLUCAO ABORDAGEM DE CALCULO Do TIPO 1—AC 1 ComBinacAo 2: A2 + M2+ Rt '@) a seguranga ¢ veriicada através da inequag8o £y- fr thy Aaah sR uM alr "Fy *.a} b) coeficientes de seguranca parciais + das acgbes (tabela A.2.1, conjunto A2) permanentes destavoraveis 6 = 1,0 430 LLcenciaura em Engenhara Civ Departamento de Engennaria Chile Aqutecura, Insti Superior Técnico Fundacoes Capitulo 4 - Tatudes favoraveis variveis ye=1,0 + das propriedades dos materiais (tabela A2.2, conjunto M2) + da resiténcie do terreno (tabela A.2.9.6, conjunto R1) ‘Angulo de resistencia a0 corte yy coesio efectiva peso volimico Ye Yo 1,0 resisténcia do terreno yas = 1,0 ©) valores de céiculo dos parametros dos materiais: solo A = peso volimico: 17,3 kNim® = parametros resistentes na interface Angulo de resisténcia ao corte solo B = peso volimico: yg coesto efectiva: 2-2 169 pa = parametros resistentes na interface Angulo de atrito y_ ~e(: )__peso das fatias: vue (2Maia)ote atin w,(8*8.2"17,3)*14| ve -(Ebeaeira} sie 1,25 1,25 (218) 46° ‘en 146 Tas 18,8 KN/m? 8) ane Be aane (22324) isn 38572 ergs) = 166040/m wan( Bp arza)rs 'E28 serine) (S198) os €) calculo de forgas e momentos: Fatia] Base | wi | toys [ca] b | o | seca | cosa | sina | cob?! w | wi da | kum seca | *cosa* | “sina Fatia ‘ab’ a | a_| 208 | 0260 | 17] 43 | 62 | 2,13 | 0,469 | 0,883 | 155,7 | 364 | 2631 b | 8 | 1.582 | 0541] 0 [a2] 33 | 4,192 [0.839 | 0545 | 0 | 717.7 | 062.2 e | 8 | 1663 | 0541 | 0 [7.9] 12 | 1,022 [0978] 0208 | 0 | e794 | 345.9 @ | 8 | 675 [ose] o [79] -12] 1,022 [0078 |-0208| 0 | 285 | -140,4 156_| 1.662 | 1.331 Ucenciatira em Engeniasa Gv, Departamento de Engen Chile Auteur, Istut Super Técnico 131 Fundacoos Capitulo 4- Taludes ) valor de calculo do momento actuante Ma = 1,331 22 = 29.282 kNm/m 9) valor de cdlculo do momento resistente Mon (Xe, sor secat DW * cosa igh pe rl= 7 56+ 1.662)¢22= 39996 n/m hh) Verificago da seguranga em relagdo ao estado limite ultimo por ruptura segundo a superficie de desizamento desenhada, eq.(21) ‘Md29.282 KN mm) < Mrd(39.996 BN mm) Satistaz! ® 4.3.4.2 Método de Bishop simplificado © método de Bishop considera a presenca das forgas de interaccéio que se manifestam nas faces de cada fatia, O método toma a designagdo “simplificado” quando se considera que a influéncia. das forgas tangenciais nas faces laterais das fatias é suficientemente pequena para ser negligenciada sem que dai resulte grande erro, ou seja a influéncia de [5(X, - Xi] 6 pequena. As forcas a considerar em cada fatia so as representadas na Figura 13. ZX (Ki -Xial=o Fi Figura 13 - Método de Bishop simplificado. Forgas numa fatia © valor de célculo do momento actuante 6 quantificado através do momento gerado por cada fatia, em consequéncia do seu peso, em relagéo ao centro da superficie de deslizamento em estudo, donde resulta para a totalidade desta 132 Usenctur em Engenharia Civ, Departamento de Ergeshara Cv eArqutectura, nstuto Superior Tenia Fundasées Capitulo 4 - Taludes Mg=E(W;sena,)*r 31) Fo) Para a quantificacao do valor de célculo do momento resistente procede-se & projecao das forgas segundo a direcgdo vertical. O valor de cdlculo da forga tangencial resistente na base de cada fatia € quantificado também pela equacdo (27), © equilibrio de cada fatia na direcgao vertical, tendo em conta a hipétese [AX = (Xi -Xi)], escreve-se através da equagau W,=(N',+U, )cos a, +T,sena, (32) donde, e tendo em conta que T=elg*h, +N 1864 (33) obtém-se Uycosa, ~c'g lysene, Eee eee ere (34) cosa, + tg6'g senar, Substituindo na equacdo (27) o valor de N’ conferido pela eq. (34) e tornando extensiva a ‘equa a toda a superficie de ruptura, resulta o momento resistente a, feeb Wi-ubs deb 39) ist Cosa, +1g@'g sena, A seguranga relativamente ao estado limite titimo por ruptura do terreno é verificada pela equacdo (21)". Na verdade, a formulagao do problema sé é valida se os coeficientes de ' Na maioria das publicagdes onde este assunto é tratado, a exposi¢ao deste e doutros métodos de analise de estabilidade de taludes esté feita considerando uma metodologia de calculo em que se procura quantificar a relacéo entre o momento resistente e 0 momento actuante através de uma {grandeza designada por Coeficiente de seguranca global (F,,), traduzido pela equacao M, Fgeot (Fs aan (FsgA) Neste processo o momento resistente @ calculado para a condic&0 gy = Ye = 1,00, ainda que o cconceito de coeficiente de seguranca parcial néo se aplique aqui com propriedade. © valor do coeficiente global é desconhecido, mas deve verificar a condigo (Fay = Fs, oy = Fs). 0 tratamento matematico da equacdo anterior, idéntico ao desenvolvido para as equagdes 31.2 35, conduz 8 equaco que permite 0 célculo do coeficiente de seguranca através da equagdo Lcanciatra om Ergernar Gi, Departamento de Engennana Civile Aquteca, Insti Superior Teena 133 Fundacoes Capitulo 4 - Taludes seguranga parciais aplicados as caracteristicas mecénicas (c’ e ¢') do material levam a uma situagéo muito préxima ou correspondente a ruptura (doutro modo no é possivel equacionar 0 problema visto que nao se consegue relacionar + com «’). Enquanto no método de seguranga global o valor de F,, (que se desconhece e se vai calcular) quantifica a seguranga, no caso da verificagao de estado limite ultimo é-se conduzido a concluir se 0 efeito das acces é menor que os efeitos resistentes. Todavia aplicando o método de Bishop simplificado tal como se faz tradicionalmente, mas usando c's © 44, vai calcular-se Fsy (através da equagéo F,,,B). Se for maior ou igual & unidade esta verificada a seguranga ao ELU, caso contrario (F,,<1) nao ha seguranga em relag&o aquele estado limite. Comparagées entre os métodos simplificado e rigoroso de Bishop, com este a incluir as forgas [Xi € Xi], mostram que o método simplificado conduz a resultados ligeiramente conservatives, ou seja, penaliza o valor de céiculo da resisténcia. Tornando extensiva a comparagao ao método de Fellenius, torna-se claro que o método mais fiavel e de uso mais simples é 0 de Bishop simplificado. EXEMPLO 8 - METODO DE BISHOP SiMPLIFICADO Verificar a seguranga relativamente ao estado limite ultimo por ruptura do terreno do talude representado na Figura E7. RESOLUGAO ABORDAGEM DE CALCULO Do TIPO 1—AC 1 COMBINAGAO 2: A2+M2+R1 As alineas a) ad) do ExeMPLO 7 repetem-se aqui na Integra. A resolugo do problema recore a equacdo (Fsg.8). ©) valor arbitrado F., no membro direito da equago (Fsg.B): F f)cdilculo de forgas e momentos 80a m, =F Seder 08 a + +, ~ubj jad" ‘a6’ senay, fe@isenay, 8 (Fsg,B) EW senay, = Como (Fig) surge em ambos os termos da equagdo € necessério recorrer @ um proceso iterative ara encontrar @ solugao. Neste tipo de abordagem, a situacdo (F.,=1,00) corresponde & ruptura, dizendo-se que 0 talude é seguro quando Fr, toma valor que é aceite pela sociedade, usualmente ‘entre 1,30 @ 1,50, dependendo do problema em causa, 134 Ucsncistura em Engenharia Ci, Departamento Ge Engenharia CMe Arutecta, Insti Superior Técnico Fundagées Capitulo 4 - Taludes Produz-se a tabela a seguir ol@iot tw itoelol|a! o To] wo 2) Faia} Base] W | tasfe |B] a | sina |u| m. Ww, da | wm m sina. Fatia a_| a | 298 |0260| 17/43] 62 | 0863 | 0 | 0,58 | (73,1#77,5/0.58=2597 | 263,1 b | B | 1.582 | 0541! 0 |a2| 33 | 0545 | 0 | 0,99 | (855,9y0,09-864,5 | 862,2 c | 6 | 1063 |usa1| o |79| 12 | 0.208 | 0 | 4,03 | (e99,7y1,03=873.5 | 345.9 a | B | 675 |0541| 0 [79] -12 | -o,208 | 0 | 092 | (365,20,92307,0_| -140,4 = 2.3947 4.331 9) valor de célculo do momento actuante My = L381* 22 = 29.282 kNm/m fh) valor de caiculo do momento resistente M, = 2398* 22 = $2,690 Nm i) cdlculo de Fsg, eq.(Fsg,A) _ 52690 = 0: diferente do valor arbitrado. 20280 |) 2 teragto: eeja entdo Fxg = 1,80 da tabela anterior apenas a 11* coluna é diferente, resultando agora: fey'b+(w-uBjang,] nm (73,4+77,5)0,60=251,0 (855,9)/1,00=855,9 (899,7)/1,04=865,1 (985,2v0,92-397,0 2.369 )_ valor de calculo do momento resistente Mash Fe Ra 1 2369822- 52.118 n/m Yaa 1) calculo de Fsg, eq.(Fsg.A) ue, para efeitos préticos, se considera igual ao valor arbitrado (1,80) para esta iteragao. m) verificago da seguranca em relago ao estado limite ultimo por ruptura segundo a superficie de deslizamento desenhada Fag» 178 > 100 Satisfaz! ‘Ucencitre em Engenharia iil Departamento de Engertra Civile Arquectua, Instn Supere Téenica 135 Fundacoes Capitulo 4 - Taludes Nota: ‘no caso de se ter utilizada simplesmente a equacdo (21) ter-se-ia ‘Mg( 29.282 kN mm) 1,00). M, ot 3 Feng (35) EXEMPLO 9 - CALCULO AUTOMATICO ‘Avaliar a seguranga do talude representado na Figura E9.1 relativamente ao estado limite ultimo por Tuptura pesquisando a superficie potencial de deslizamento associada & menor seguranca. AS ropriedades dos solos que constituem o talude s8o as que se incluem na tabela E9. Tabela £9 — Propriedades dos solos, Solo Peso voldmico | Coesao efectiva | Angulo de resistencia ty kN/m?) (c'ei kPa) 20 corte (6's: *) Axgiia siltosa 1 18,0 0 30 Axgila siltosa 2 17.6 38.4 20 Argila sittosa mole 17,3 18 20 Argila arenosa 193 30 27 136 Ucencetra em Engennara Civ, Departamento oo Engenharia Chl eArqutectra. nstto Superior Ténico Fundagées Capitulo 4- Taludes RESOLUGAO, Conhecida a geometria e as condiges geoldgicas e geotéenicas do problema a estudar, reproduz-se essa informaggo na forma de desenho. Como nao esta identificada a partida a superficie de deslizamento, e como naio ha razbes de ordem geotécnica, ou geométrica, para afirmar que ha superficies de desizamento com muito maior probabilidade de se instalarem, 0 objective seré necessario encontrar a potencial superficie de deslizamento com menor seguranga. Para este efeito, define-se uma grelha de possiveis centros dessas superficies a estudar e definem-se os limites da regiéo do macigo onde as superficies de desizamento passarao obrigatoriamente, como se ilustra na figura E91. Figura £9.1. Talude heterogéneo Do conjunto de superficies estudadas 0 programa selecciona aquela a que corresponde menor F., (Coeficiente de segurana global), que no caso é 1,48, como se mostra na figura E92. Como neste caso o programa esta desenvolvido para calcular 0 coeficiente de seguranga global, entéo 0 valor minimo que ainda traduz seguranga do talude por deslizamento ao longo de uma superficie & (Fs; = 1,00), desde que no cékulo tenham sido utiizados os valores de calculo dos parémetros resistentes. Devido & metodologia de célculo utiizada no programa, deve considerar-se devidamente a preseniya de acgdes extemas ou dos seus efeitos sempre que se 0 calculo e a interpretagéo dos seus resultados sejam efectuados dentro do esphito do E07. LUoenciatrs em Engenharia Ci, Depatanerto le Engenharia Cle Arqutecr, rstto Superior Téziy “437 Fundacoes Capitulo 4- Taludes Distancia (metoe) Figura E9.2. Superficie de desiizamento de menor seguranca, A figura E9.3 ilustra, para a fatia 7, a contar da crista do talude, as forgas que Ihe estdo sssociadas e 0 respectivo poligono de forgas. Note-se que este néo fecha, o que significa que existe um erro, que, como se referiu anteriormente resulta das hipéteses inerentes ao proprio método de caiculo, no caso o de Bishop. ‘Sle - Bshop Method Figura E9.3 Fatia 7 - polfgono de forgas Na tabela E9.1 listam-se as grandezas necessérias para a avaliagao da seguenga de um talude por ruptura segundo uma superficie de deslizamento. No Gaso concreto mostram-se os valores que essas grandezas tomam na analise do equllbrio da fatia 7. 138 Llceniatura er Engenharia Civil, Depararenoce Engenharia Cul e Arqtectura, Insti Speror Trico Fundagses Capitulo 4 Taludes Tabela E91 ~ Fatia 7 —calculo Fatia n° 7 — Método de Bishop Grandeza valor_| unidade Coeficiente de seguranca 4,46 Angulo de resistencia ao corte 20] ° Coesso 20) kPa Resistencia coesiva 38,666 KNim Pressdv instersticial 25,642| kPa Forca hidrostatica 49,573) kNim Pressao no ar nos vazios 0] kPa Forgas nos vazios com ar 0) kNim. Largura da fatia 16667| m ‘Altura média da fatia 7.0863] m Comprimento da base da fatia 1.9333] om Inolinagao da base da fatia 30,448) ° Erro no fecho do poligono de forgas 5,1287| kNim Factor de anisotropia 1 Peso da fatia 205,15] _kN/m Forga de corte na base da fatia 64,071) kNim Forga normal a base da fatia 200,31] kNim Forga horizontal de interacgso a esquerda | 190,91] kN/m Forga horizontal de interacco a direita 232.6] _kNim 4.4 Estabilizagao de taludes Por motivos que se prendem com a ocupacdo e utilizagdo da superficie de terreno e mesmo do subsolo na zona onde se encontra um talude pode ser necessério aumentar a seguranca desse talude. Por vezes estas intervencdes ocorrem apés deslizamento mas noutros casos 6 possivel antecipd-las a estes acidentes. E vasto 0 tipo de procedimentos que contribuem para o aumento da seguranga de um talude. Na maior parte das vezes a aplicagdo desses procedimentos resultou bem. Mas houve também ragisto de alguns insucessos, Para a definicaa das medidas a adoptar com 0 objective de melhorar a seguranga de um talude & necessério identificar o fenémeno que contribui mais significativamente para a instabilidade, avaliar o tipo de terreno e suas caracteristicas mecanicas € hidrdulicas, a eventual posi¢éo de superficies de menor resisténcia no macigo, a localizagao do nivel da égua no terreno, a extensdo da érea a beneficiar, 0 espaco disponivel para a interveng&o, as condigSes topogréficas, a facilidade de acesso a superficie do talude, a eventual existéncia de accdes variéveis eo prego da solugao. Ucenciatra em Engenharia Gist, Departamento de Engenharia Givi e Arata, Instuo Super Técnico 139 Fundacées Capitulo 4 - Taludes De um modo geral, uma medida interessante, desde que haja disponibilidade de area, consiste em alterar a geometria do talude, retirando solo na regio superior ou colocando-o na inferior do talude, Figura 14. Enxoeamento Aterra com ‘solo dxenante Figura 14 - Alteragao da geometria. Como a existéncia de pressées intersticiais elevadas no interior do terreno diminui a respectiva capacidade resistente é evidente que é aconselhavel provocar o abaixamento da posig&o do nivel da Agua no terreno (logo diminuindo a pressdo intersticial), quer drenando @ agua que se encontra no seu interior quer limitando a sua penetracdo no terreno. Na Figura 15 exemplificam-se alguns destes dispositivos. A instalaco de elementos estruturais na rea do talude é também uma solugdo pertinente. Estes, denominados inclusées, podem ser de pequena rigidez (pregagens, estacas prancha) ou de rigidez elevada (estacas, estruturas de suporte), Figura 16. A cobertura vegetal contribui também para seguranga de um talude fazendo diminuir a velocidade de escoamento superficial, 0 que faz diminuir a eroséo. As plantas de maiores proporeSes podem, com as suas ralzes, contribuir para a seguranca. Mas também podem. funcionar como acréscimo de massa instabilzante, pelo que hd que fazer uma criteriosa ponderacdo. 140 Ucanciaura em Engeraria Civ, Departamento de Engenharia Civ eArqutecur, sto Superior Térico Fundagses Capitulo 4 - Taludes =~ a) duenes b) trinehetwas subherivontais dxenantes Figura 15 - Dispositivos de drenagem. b) estoeas re -d) cortinas aneoradas Figura 16 - Inclusdes na estabilizagao de taludes. Sob ponto de vista econémico as intervengbes preferenciais so a alteragdo da geometria do talude e a instalac&o de dispositivos de drenagem. SolugSes em que se recorra a estacas ou estruturas de suporte devem ficar limitadas, devido ao seu elevado prego, a situagdes em que a drea a estabilizar nao tenha dimensées significativas. Ucenciatura em Engenharia Ci, Departamento de Engenharia Cie Arqulectura nstuto Super Trico 141

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