EVA (Fox) 97 min. Mudo P&B,
Diregao: F. W. Murnau
Producio: William Fox
Roteiro: Hermann Sudetmann,
Carl Mayer
Fotografia: Charles Rosher,
Karlstruss
Misica: Timothy Brock, Hugo
Riesenfeld
Henco: George O'Brien, Janet Gaynor,
Margaret Livingston, Bodil Rosing,
J, Farrell MacDonald, Ralph Sipperly,
Jane Winton, Arthur Housman,
Idle Boland, Barry Norton
sear: William Fox (producao
aitistica e notave), Janet Gaynor
{atri2), Charles Rosher e Karl Struss
(fotografia)
Indicagio ao Oscar: Rochus Gilese
(diregao de arte)
AURORA (1927)
(SUNRISE)
Os fanaticos por curiosidades talvez notem que, embora muitos livros geralmente ci-
tem Asas como o primeiro ganhador do Oscar de Melhor Filme, a honra, na verdade, fol
para dois filmes: Asas, de William Wellman, recebeu 0 prémio de “Producio” e Aurora,
de F. W. Murnau, 0 de “Producao Artistica e Notavel”. Sea segunda cate
oria impressio-
‘na mais do que a primeira, isso explica em parte por que Aurora, e nao Asas, continua
sendo um dos filmes mais reverenciados de todos os tempos. Inicialmente, William Fox
trouxe Murnau para os Estados Unidos com a proposta de um grande orcamenta e total
liberdade ria
a, € 0 fato de Murnau ter se aproveitado ao maximo disso nesta
formidavel obra-prima ratifica sua incompardvel reputacao de génio do cinema.
A simplicidade do filme 6 enganosa. Com o subtitulo um tanto enigmatico de Uma
cangdo de dois humanos, Aurora se concentra em um casal do interior cujas vidas s40
destruidas por uma sedutora mulher da cidade. Contudo, Murnau retira ondas de
emogio do que poderia ser melodrama corriqueiro, enriquecendo-o com uma série de
inovadoras técnicas cinematograficas. A mais notavel delas € 0 uso de efeitos sonoros,
deixando cinema um passo mais proximo da era falada ~ uma conquista injus~
tamente ofuscada por O cantor de jazz, langado posteriormente também em 1927.
Murnau também m
nipula com criatividade o uso e 0 efeito dos intertitulos (trés anos
antes, dirigira A ditima gargalhada sem intertitulo algum).
O mais fascinante aspecto de Aurora é o trabalho de camera. Trabalhando com dois
fotdgrafos, Charles Rosher e Karl Struss, Murnau baseou-se na sua propria experiéncia
com 0 expressionismo alemao, assim como nas pinturas bucélicas dos mestres ho-
landeses, especialmente jan Vermeer. Ligadas por graciosos e inventivas movimentos
de cimera e realcadas por truques de fotografia (como miiltiplas exposicdes), as cenas
de Aurora parece um primoroso stil
Por mais magicas que sejam as imagens, a propria simplicidade da hist6ria confere
a Aurora um peso dramatico formidavel. George O'Brien, ponderando o assassinato de
sua inocente esposa (Janet Gaynor), € consumido pela culpa ¢ a mulher reage com
terror quando suas intengdes ficam claras. A viagem de barco em diregao 3
sua planejada morte 6 carregada de suspense e de uma estranha tristeza, 4
medida que 0 bom O’Brien luta para levar suas monstruosas intengdes a
cabo. Margaret Livingston, no papel de sedutora urbana, parece, em muitos
aspectos, 0 equivalente feminino do vampiro de Murnau, conde Orlok (dp
filme Nosferatu, de 1922), atormentando sem piedade a alma do pobre
O’Brien. Em uma cena, ele chega a ser assombrado por imagens espectrals
dela, que 0 cercam, encurralam e provocam com desejos homicidas.
Infelizmente, o filme se mostrou um fracasso de bilheteria.e Murnau
morreu em um acidente de carro poucos anos depois. Entretanto, Aurora
continua sendo um marco que serve de medida para todo ¢ qualquer filme,
a, 6 um apogeu artistico cuja
sofisticacao contradiz as recursos da época. Sua sombra se projeta sobre
diversas grandes obras subseqiientes, de Cidadao Kane (1941), de Orson
Welles, a A bela e a fera (1946), de Jean Cocteau, porém, ao mesmo tempo,
seja ele mudo ou ndo. Numa era mais primi
seu proprio brilho @inimitével. JKI