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i Fergie se hi uma coisa que ‘pera nds encorre 0 surreolismo, & 0 joventede, a jurentude forcoda 0 seguir os conselhos des velhos, dos infomes velhos. que sco canlenles de nos legor a meméria de dvos guerras, um mundo corrompide ¢ perspective, dume ferceira motango, levam a impudéncia eo ponte de nos querer ensivar quem yive quem morre, Creio que nds eilanas melhor colocadas do) que eles pare sober quem vive, A iso. nde deixaremos pér 0 polevra fle (ao depressa, ‘ (Usie de Jean-Louis Bédouin) 2 maximo lisboa ; ICONOCLASIA Aticar.d juyentude, quer esta scla a que anayalha os quidros tas! exposigees, quer See Aquela due ull os dependura, permite, aiitto ce Hlosamente, uma idoncidade recontorlante, crlada, © croto, inteneineimente, por wha mulidag dé pseudo-moralistas precepostes, a um jogo que se apresei ta agradvel, (acti e eonverientas § cote propdsito € sintom#itico 0 uso facil de certos ‘ ‘vocébulos simplistas, dos quais poderemos enue , ferar, senao guisermos procirar oultas, abri= a buigdes atiradas 4 cara de quem esta ou de guem passa, 9 de Niconoclasia’ eo de “teddy-poy A preocupaca que se me apresenta perante = esten conceitas, ou falsos anealns, ¢ meramente aquela que diz respeito ds consequéncias ime- aes disias resultantes do anuso de atisriagses Ine noticia devidas, € ilegitiias. Nao obstante, apesar da HORE ieeiee. rene 28 Stee ‘Perron tee ee juventude, entenae ser dever de cigadania come: Neste numero, Pirtmide (apresenteco-| Vaya eras eet caver de Seatac ome: laboracao inédita de Edmundo de Betten- Sbes.ailis’ porate, penenon en ake wen court, Manuel de Castro, Henrique Lima assulito de opiniiy esse ce uma javertude ach Freire, Renato Ribeiro, Maximo Lisboa, #0!ada pela actual conjuntura iuleraacional: duas . luerras em menos de cinquenta anos, a iminéncia Carlos Loures e Alfredo Margarido, Iné” fe ama Sereoits (com a ammediae aoe ditos sio também os pocmas de Rodolfo _sveis citando engenhos nucteares para a dis Alonso, AngelCrespoeLloreng Vidal, bem Huet do tone) a falta de esperunca, a ci - mi como a traducio do texto de Lévesque — mento de iudibrio, entre um milhao de cousaa sobre A. Jarry. Fopetides desde Viadivostoque ate o planalto da i ai atagonin, _ Os traballios assinados sfio de exclu- Lisbha, preferinds, talvez, dizer “Nao” a0 siva responsabilidade dos autores. mundo culto epraveite o aparetimento de auto- No préximo nitmero (no prelo): Maria mévels danificades, ou ‘Cousa semeihonte, ¢ Helena VielradaSilva,Maria RosaColago, (ilu, slavin de tet og mele” casmunanias Natélia Correia, Antonio José Forte, José tiais"prostas @ imedidias remessoes poleuin, Manuel Simdes e Isidore Ducasse (Comte de Lautréamont PIRAMIDE N° 3 antotlogia DEZEMBRO + MIL960 ° ANO 11 CADERNOS DE PUBLICACHO NAO. PERIODICA, COORDENADOS POR CARLOS LOURES @ MAXIMO LISBOA CONPOSIGKO # IMPRESSAO: TIP. LUIZ MARQUES, LBA, —F, BO ERUGIFIXO, 77-=LISHOA— DEZENBRO 1950 Osjovens-é uma informaeho que acettamos de pedagogia= hsbilam ua mundo que 180 fol felt para a sua natural generosidade, Reagit como Wdesorientades, quase como peicopatas, perfeitamente justo fuma socledade desorentada tiie comzea por desconiiecer os mals primarlos Valores, Parece-me, por isso, erbitrario © anacré- nico querer resolver pela violencia uma eituagdo Stic telislosa, Parece-me, repito. ‘Seria, entretarto, muito cutioso revelar que aa da parle, (a malo?) das pessoas que formiilam fais exigeucias se recrutam entre os individuos que se imfituam a semesmos de “de- mocralse”," “progressistac”, vanguarcistas’. Ese nao fora pouco o espago, eu lembraria aos Ieitores do “Jornal de Noticias, do. Porto, as paleveas conicludentes ce um dos redactores deste, reputedo jornaliate. alize, dando por finda & polémien trapade 8 volta de dm pooma apace Gido jesia. mesma Antologia, nos, quais avulta, pela gemas{aaa desenvoliura, a tristeza daquelé elo Sesiado én gue eats a anssa juvenlude {balavras suas), Ea nao sei 0 estado em qué esiord aquele Sentior oo de qiaiquer Gas jessoas movidas pelo espirito de. humiher & fitima gerago de cidadaos portusueses, mas nao resistirel & tontagdo de sobre a materia, re: meter os leltores a Jean-Louis Bedouin que, pela legenda acima titeda, prov bem, ter as’suas ihaguinebis preparadas t 3 Contudo, solto.a informar que, neo estou, nile estamos de algim modo, implicados “nos SE Ce Man RoR ee Ge inéividuns, 86 por cofneidencia no tempa aqui poderemos. ser incorporados.. Tornam-se_ 90 gore © pera membre, imprapriaa, certss obec en, dae por comlusho © ignoraricia nos foram Indevidarsnte dirigidas, @ nos, (a mim, oll a quelauey dos viens eamiaradss) ‘gue 1atorantes lp lesislacao dos. novos, ao prestamos docu montos de identificagto. (Os pobtas tem a dade de todos os séeules do mundo! Para as especularSes que havetia a fazer ndo temos nés espace. Pondo em cheque uma gerucio obrigar-se-iaii os seus criticos a depor em favor das suas alegacdes, Nesta linha, te- fiamos de saber onde estao as investigacoes que permitem, tornar exemplar uma ética de compor- iento das geraches anteriores ou, para melior dizer, das pessoas gue ndo sao de koje. Fu nao ‘ei mesmo se em materia teligiosa haverd uma diferenga abiemal. E isto porque, om troea de Pequenas remuneracdes, se vulgarisou a tran- Sacco da alma... Pademos, basta-nos, relancaar 9 olhar pelo desajustamento do artista, a falta de respefto pelo trabalho intelectual, etc. Real- Menre, enquanto que a materializagdo das eric furas atingiu tuma tal intensidade dramaticn que ji ndo pouea a consciéneia e a. imaginaca quero dizer, enauanto que a sueioria das criat turas se recisa a viver pensando, as minorias gofrem o infiuxo dos que ee querém corvir om vez de servir, dos traidores @ Liberdude © a0 Amor. a De facto, nfo raro, o escritor portugués condenado a triste condicho de diletente, rubs~ titul 9 eapirito angiitico por um sentimento de pudor, alias, Justificadissimo, de quem se néo quer arriscar para sempre a Intranquilidade que esta atmosfera de mundo-marginal Ihe moveria implacayelmente, Sovreoivente, arrastaado as grilhetas do quotidiano, vergastada por todas a3 intempéries, 0 homem Culto, » Pessoa, votado 42 ao exilamento na Sociedade de sub-pessoas (6 agui que 03 intelectusis da “esquerda” abracam 08 intelectuais que passam A “direita”) assis- tente~apanhado de surpresa- aos grandes e Pequenos interesses, encontra-se, em verdade, entregue a um Destine cruel e hostil no mundd esclatagisia € esclavadizado, yaa fSsih Derante a massa das. érietuiras que mascem, sofrem, morrem” um nico pavilhao nos importa manter arvorado represeatando 0 Datrimdnio que o homem conquiston ao territério. da cupidez e da brutalidude. Sustentado por iim admiravel aoaso, intormam-nos alguns intelec- tuais ser problemitica a sia manutencao. Por Os, receatos on 180 deste periga, compare-nog, pore, afirmar a nossa divida dé grading © @ nossa alianga cos que exigem a cessacdo da iniquidade, os ee ating], sustentando ns valores humenos ESQUUCIDOS, DESPROTEGIDOS E HUMILHADS Qaime Cortesao) desatiam obs- tinada © corajosamente, como fraico-alitadores, oe crucificadores de Cristo cos caluniadores de i20me, ‘R-tomerei por onde havia comegado, Em nota introdutdria, publicada neste mesma lugar, havia cu aflorado a posicdo que, pata os meus: camarades © para mim, deveria ocuper no muido @ Poesia. Nao foi debalde, Realmente, a Critien Drovon que 2 materia no esteva assimiiada, apesar de Jarc? ¢ apesar de Canoes, __, Referi-me entio a “poetas sem compro: misso”, 0 que para Alfredo Margarido significa exactamente 6 saco em que estado metidos todos 05 o0etas portugueses. Tampem Paima- Ferreira, com grande surpresa miaha, quis fazer o favor ee as Passar o maguifico diploma de ‘“icono- chaste”. ~ , Muito curiosamente, revela-se que, dando ‘crédito a ais afirimacdes. nflo existe umd poesia ¥élida, porque 03 seus factores nao estzo com- ‘prometidos com a prépria obra e, melhor, cxigir im tal comportamanto, isto € résporsabilidade haguilp que se escrevé, 86 pode signifiear. duss collsas ; Ou que se esdlecen a conjuntura sdcio- olitica curopeia, ou entdo, se é, invaridvelmente, eonoclasta’ | NAO penso eu assim, anesar da minha “iconuclasia”. Continuo a’entender, por bem, que, para além da aquisigao de uma técnica po tica, em todo o mundo existem homens que lutam desésperadamente para cere Livres, escre- vendo, com 0 coragao © comportando-se como Individualidades. Destes, de quem fala a Tradigao da Poesia, destes, em quem creio devotadamente (como “iconolasta”) 08 anicos, me tive de servir como padrao, ‘ein concederem lugar dos pnetas na nossa sociedade, demasiadamente descrentes. squcles dois jévens criticos, (¢ posso dize-lo agora com autoridade, na uma nova luz, aquola que os homens sabedores nunca qulseram refuter) eis que os aparecem dando. provas, Inesperadar mente, da iconcelasia - a a que existe, Nao gostaria de cair no provineianismo de responder & Critica, mas nao posso ainda deivar de essinalar a homenagem que Jota Gaspar Simoes presta d "lucidez da visdo dos mogos da Piramede” & noutrs passo a referéacia de her- metismo e “confusdo” que tambem nos atribui, A “confusdo” seria $6 para esquecer on iganrat de que “certos povos auaado se orgulam do passado sé tém para se orguliar quatro séculos de sargue, de swore lagrimas.,," (Ret. G, MT. A.) 7 Sei até que gontos stlo graves an objecates de Joao Gaspar Simoes que, parecendo rondar mais uma vez, volta da “igreja nacional sire reslista”, cendeilo do “movimento surrealista’ na Portugal, (6m a qualidade de se dirigirem aos proprios fimlies da actividede intelectual, ‘Gv hermetismo, afinal ja denunciado como adem e Mlosofia burguesa pela sentativa de tar o “saber? a sigurs, repudiamo-lo, Mas nfo basta, Faco daqui novo'ponto de partida ¢ fomando « isengdo critica de J. Gaspar Simbes. ‘timero teferido desta antologia- entendo ne- cessério, no reconhecimento dj. tazoabilidade das suas alirmacoes, discutir a “nd consciencia da javentude, como ditin Jean-Paul Sartre, que, Proclamando-se poética antes de mais nada ¢ antes de mais nada extética reconhece, implici- famente, que essa proclamacao a ser clara € inequiv ca, desencadearia conira ela os retlexos ge uma sociedade ave neste momento tem coisas Smais sérias” em que pensar, els. que compete © quase constrange a “lallenar-se” da realicade, a esconder-se por deiris de um blombo de idelas que, quando Francamente ambiguo procura sero mais possigal csmico - fal como Se contém na referida critica, ond@ alids se ve- rifica o tal, “biombo de ldelzs” a cula ambigal- dade também 0 crifigo se nao furta, que, depois de dizer que na “'Presenca” “houve antes de mais nada orgaino coneciente e proclamado do festino da arte e da poesia”. afirma que a “Pirgmide” se eneontra mais Ssevura ao lado Ge “Orphea") contra o mundo hostil que a rodeia ¢ a que nao fom a coragem de dizer com @ frandueza, a clareza e Iucidez com que o fez ‘© segundo desses movimentas (a “Preseqca"): gue acuilo que @ compele, aauilo awe # apainona, aguilo para que vive ¢ porque ¢ mesmo capaz de morrer-6 a Arte, ¢ a Poceis, 6 a Beleza ‘Ora, tamberk no € agi onde se viskimbra ‘9 caminh do sapfemo nd-dordio onde creio ser impergtivo cavar uma abertura, encontrar-lhe uma chave, ‘Talvaz que “quatro séculos de lagrimas” sejam importantes, talve7... Reconsidere-se. OOrphew*quere a poesia, A “Presenca” inoiste na Poesia A “Piramide™ Prefere a Poesia, Se este € o flucro de uma Actua a cuja detesa afinal se propoem os Jovens de 191%, os de 1827 e os de 109, onde se exconfra pois 0 pomo da discérdia’ E que, realmente, aqiilo que existe de capital - para ride, atentos a uma revalorizacso - escon- de-se nas palayras. Poesia. Poesia-biomha, alinal para todos ads... Que quer dizer Poesia a0s anos de 1916? Ea sua meta nos anos de 16977 Que valor atribuimos, n6s, a essa paievra, ma fea? Ate que ponto um destino poctica é ele Destino Poético. isto €, integral ¢ actuante 7 Sao asstas implicagdes que falta definir, Quanto go reste, © muito comovidamente, poeias somos fod08. Enganarse J. Gaspar Sides ~e isso é evi denie~quando nos acusa de uma falta de coragem nequilo onde, de fucto, existe a nossa inica persibildade’ do vida,"a ‘porta, de evasso = 9 Sono. Fé por ser 1ss0 0 limite da nossa capaci- Gude, que ns, Incapazes de lular pelo conke- eido, estamos’ dispostos @ vencer, ultrapassando fodos os ilmites, derrubando as grades dos portoes do todo’ o mundo (6 E, ‘O'Neill que fala) para 14 do Universo que nos confina. ‘Até que ponio € possivel a definicao dum homem no mundo.¢ para com o mundo > Funda- fientalmente, enfrentamos um problema que nao, pode deizar de ser individual. “Dott venons-nous? Que sommes-nous? Oi allons-nous?.”-aparace-nos com A. Breton em 1982. aa Radiodifusto Francesa, nas inter- venedes de J. 1B. eP. Demarne.Bste soliciiaczo € de facto, imperativa ¢ inadidvel. Ou “allbons- “nous?” ~em 1952, agora.e antes de Cristo. Por nos, depois de tudo quanto toi dito, declarada a hoséa ellanes Squeles que se vem alinhacos pela Soberania da Razao e concomitantemente o res peilo pela dignidade da Pessoa, resta-nos, mais modestamente repetir: “Ah, Mas entdo'a Pi- ramide diz coisas?" E aqui temos como aossa A reeposta peremptéria do. posta: SIM, MEU AMOR A PIRAMIDE DIZ MUITISSIMAS COISAS. A Pirdmide € Fé, a Fé que trazemos, frouxemios, hoje, ontem, em todos as tempos, og colaboradores da PIR=MIDE — A Pika MIO# SUSMIGA, reduto iniranspantvel do Amor. E esta € Aquilo a que chamaremos 0 Farol do Mundo, a Religido do Conhecimento — Homero, Dante, Hélderlin — perante « qual somog reli- loss professos, os anicos Gremes, e@ fos, fradi¢jonalistas, porque a tradicao € 0 Espirito, Na morte, ‘uns morrem © outros vivem, Méximo Lisboe 22 AVISO AOS DISTRAIDOS |, PIRAMIDE ao publicar a tradugdo do texto de H. Lesésqie, recomenda a sna leitara ds seguinies personatidates: Natdlia Correia, Luis Pacheco, Manuel de Lima, Mario Cesariny de Vasconcelos, Virgilio Martiana 6 Pears OOn SEXO-TOTEM (po. —Penato Ribeiro ARCANO SOLAR ¢ outros poem: © ESPANTA-PARDAIS (Te GOLECGAO PIRAMIDE ¢ iniciar brevemente) SCORPIUS (Textos de Magia Branca) — Manuel de Castro = Carlos Loures suasiolos PARA A HISTORIA Da CIVILIZAGAO DO OCIDEINTE — Maximo Lisboa fo infentil) — Marla Rosa Colao EDMUND O Noite Vazia Crescimento de siléncio a devorar as [nuvens, Voo incansiyel e monctono das aves [brancas do cérebro. Florida ¢ ondulada suspensao de magoa, As ferocidades sao ternuras desmaianda [na estepe adivinhada, © amor abre goclas bocejantes nos con” [edvos da auséncia do espaco, a morte espreitando a lentidfo irradia bacamente a sua despedida, Noite Vazia As aves brancas do cérebro indtilmente abatem as suas asas! toas © Segredo o Mistério Mistérios a poco e pouco yéo morrendo € extenuados de yigilia os anjos sao afinal as sussurrantes sibilinas yozes qne desvendam adivinham segredos atrds de sentinelas cija ferocidade é uma ironia da ternura. Na palidez da Inz cercando uma velha cabeca & quem um sono de embrifo j4 tolda os [olhos sorriem enigmiticos os sonhos. tase Horas Gelava o tempo branco do rel6gio. Fundit-se um dia o mostrador aberto para dentro num foco por onde as horas negras fugi- [ram enlouquecidas! L& para longé na faixa rosea da distancia Tecuaram ante o incessante alarido dos {sinos ¢ logo regressaram desesperadamente procurando em vio 9 maquinismo do relégio. Via-se 0 dia fechado de siléncio num quadrado de luz amarelada e de novo preso o pé do jovem quando ia para sai... Lisboa, 1934 Sepultura aérea Ali os repteis cobriam sem deixar espaco ais frvores os caminhos e.os montes. = 44 Doe Beth ay Foi ent&o que a ave negra inquieta e en- Toada abandonon a aldeia dos repteis para sem- [pres Ei-la chegada a um ponto extremo, Porém néo tem onde pousar, Em frente € # baia magica dos vulcdes nj [em actividade. Em cima o céu com a sta auséncia, Em baixo 0 mar como seu fundo, Passagem de todos os limites a escuridao sem nome e vida ignota, em todas as direcedes mais que atrafila A ave negra fica no ar parada e alt jaz. tose Nocturno Ao meio do canal submarino aluz cegante € um anjo. A. suspengao do voo ampara Que Unido pelos circulos luminosos para- [dos, correra? © sorriso escancarado da esfinge mer- fgulhadora vai mostrando, distante, a galeria ossea que deita Para as ameias dum castclo com am de- [serto sem fim na rectaguarda, Sentinelas de sangue esperam sempre a sombra e a morte cobertas de ervas secas. Na atracedo do fundo, aos pés da escadaria do escuro, daz a princesa, de verde, adormecida... ros4 Dia +..com um peso de cegueira a esm: ~me 0 cérebro, faca queimada pelo vento contra, € tropego dos passos que venci em yo, atinjo a hora conyencional da noite em que nao hé descanso j4 pois o sono € vazio de si mesmo € mais que nunca durmo s6 por fora. Desperto? + Passou um dia? Um ano? & cinzenta de chumbo a claridade TE cinzenta de chumbo a escuridao. No tempo que nao para este minuto de Hoje Aqui quanto espago nos rouba no futuro? 1950 Edmundo de Bettencourt NC O.U RT fo FE NOTA =) SOBRE 0S Sah) “poemas SuRDOS” Coloeadoo Isitor petante es: meia dizia de poemas, talvez Ssteja perante a Tevelacio de um. mundo poético estranho, j4 que 9 nome do seu Butor sparece sempre referido @ algo de prete- rito, que ésempre 2 sha actividade ta “presenca” @ sobretud, a. cle sa0 auc com Branquinho da Fonseca ¢ miguel Desenko le KARO DE OLIttigA Fonseca e Miguel corpo, daquela revista, “O Momento ea Le- genda’) € © sey tinico livro publicada, nos anos fa longinguos de 1960. Nao faloremos dele aqui, Porquanto se fornou uma raridude bibllouratica endo Serf facil constlta-lo, embora na verdade, cxista entte ele © estes pocmas de agora um conjunto de nexos de primordial importancia, Por outro lado, e como sera convenients dizer deve esclarever-se que o siléncie de Edmando de Betiencourt nao ¢ uma desisténcia, mas sim uma peculiar forma de revolta, que o pocta de- fende carinhosamente. Afinal ‘a. existencia, do eta Yem batercontra as paredes desta sangiitia 10 pelieuler, Dara dar um sentido nao s0- menle & sua posicde literdria, mas de um modo mais lato, & sua presenga no mando, Esse mesmo sentido pode ser rasteado em gyase, todos, estes poemas, como ixemos Yer. fectivamente, nas "Horas", Betiencourt dese nha-nos um e&paco fisico muito tipico da sua Poesia, descrevendo o8 objectos como pecnlia- ridades cromaticas de pinior, (tempo branco, horas negras, faixa tdsea de distancia, Ina amarelada, ave negra, aves brancas, cireulos Iuminos0s, a0 mesmo tempo ue 0 tempo o Preocupa ‘com uma insistencia quase agonica, Q que. Bettencourt tenta altgncar nestes poemas € insistentemente, a aniquilacdo do tempo, a ‘griagdo de um espaco vrdéprio Onde 9 poeta ¢ 6 Poesia possam caminhar alneios a qualquer cans- triedo;. “gelava,o tempo branco do. retdgia, unditse 0 mostrador | aberto para dentro /.nam foco onde as horas negras fugiram erlouquecidas! Continuando este poema encontranios, em “'se- Dullaraaérea”, a ave negra que chega” a um panto extremo”, no gual, tambem, a auséncia do tempo confifmara a extineao de qualquer nocao de expago: “A paseagem de todos os limites | escuridao Sem nome e2 vida ignota’” Poderemos dizer que isso se deve a uma fundamental he- sitagle, como no-lo parecem deixar entender » 45 Renato Ribeiro Harts de un sonlig— vtrzens prometidas 1 Descam comizo aos tnfernos rubros Enire rituais de fogo e lucidas ioucuras, E bailemos a danea do ventre Ate ao devache roxo ‘Onde os sons se nlasmamem formas Inminosas EB vivemos sem obfectioo Demoniacamente Como deuses percersos clazctados em carte... TROUPE-EXOTICA Pagdse nnas as quatro virgens negras Baitam a tenda da notte. @ santo-coreografo bate as patmas B segue comolhar 0 movimento dos corpos Que'sdo de ébana # tembram estatuas-votantes. Nervosamente Una voz distante Rapete sem cossar: A101 ato at0) (Bo empresdrio do grande munic:hall A contratar-nos para o festival do sexo). +Fooke! grita 0 demonio bailador E prea sem querer uma cornada no teto. + Estamos saicos} mormura 9 santo E queda-se sem (olezo Medindo a grandesa do pecado =Hurralalulam em coroas quatro virgens-braxas E vamos beber cerveja co ber da esauina & regrassamos depots todos bebedos Como fantockes obscenos. estes seus versos: ‘em todas dfrecedes mais gue,atruida / a ave negra fica no ar parada ¢ alt jaz"? Mas j4 no poema seguinte esta atraccao € vencida, © 0 que nos surge ¢ 0 crescimento do silencio a! devorar as nuvens’, Assim 6 criada lima noite total, exemplar ¢ definitiva onde as aves brunces. do cérebro | inutilmente abatem suas esas!” E esta nooo interior de ixisténcia do homen, a suptemagia da consciéneja, que nos Volta a slirgir nos yersos de 1000: "",.7 com um peso de cegiteiras a esmagar-me o cétebro™. Aligs esse mesmo seatido se nos volta a impor, insistente ¢ trégico, naguelas perguntas: “Des? perto# | Passor uin ‘dia? Um ano” Que dizer deste mundo peculiar sendo que reflete ele um estado de corisciéncia que procura nO dJheamento voluntdrio, o exame de uma clr cunstincia Vineadamente portugtesar Dentro de um sentido messianico que atinal, tem sidoo do nossotempo, a poesia deEdmundo de Bettencourt recusa-ee @ qualquer eucontro pré-determinado, procurando antes, no enquistamento fotal do a ‘tempd, 0 involuero que condiciona todo o desen- voleinlento da larva, jupedindo-a de alcaness 0 estado de inacoto perteito. Aparentemente ampu- fade de wna porte do conhechmento real, procutg esta poesia dominar a imperfeicno do ‘qué & ) agora € do.que viré 2 ser no futuro, coprindo cont 9 amplo manto do soni) enibota isso TAK evite a8 perguntas angustiadas, que senipre assim foram as perguntas dos que se perdem (eencontram) nas grandes eetradas “nocturne do sonho. Alfreda Margarida FRED Alfred Jarry. nasceuem & de Setembro de 1873, 30b 0 Signo de Virgent @ mosred & Yde Novembro de 1007. a O dolorose percarso dos seus 34 anos, me- dildos entre.o terco de Laval e.o.cemiterio de lagkene, fat una constante afronta a todas G3 convenr des burztesas, Lesou-nos uma magnifica obra, em que avattam os Horos «Les minutes de sable me moriam, =César—Antechrisis, Ubu Roi, L'Amour ep visitess, sf’ Aou! absolim, «Mes saline: e «Le Surinater, Jacques Il, Levesate no sen tioro sobre Jarry, eattado por Pierre Segliersapresenta-nos com értroordindria lacides, @ leadarta figura Wo poeta para quem. a Poesia ea vida estavan indestrutinelmente entacadas. Cedemos-the a patayra. “Metdre” — ¢ por esta palavra de seis letras que comega Ubu-toi, e parece que nenhuma Gtifra poderia _methor’ convit para comecar um livro sobre o seu autor: Alfred Jarry, Esta pplavre, que ele empregou frequente- ments, sintetiza, com efeito, meilior die qualquer outa, ‘0 sentido profundo da cua atitude ¢ du sua Obra, 2, se dela ee servi tantas vezes, depois de-a'ter recrenda, diga-se assim, pera Seu uso Dessonl, vela adjangdo, da letma r, © porque, emanada da sua consciéncia, ela. exprime, da maneira mais éficiente e mais imediata, arevolta Ge todo 0 sett ser perante a estupidez, a falta de cignidade € a hipocrisia. Eis poraue, no comeco de um fivro ond fremos falar sobretudo de poesia, us permi- timos pedirthe esta palavra emprestada para dizer, em seu nome, toda uma categoria de 46 Individuos dos quals 6 necessario primeira do gue ido liberiarmo-nos: # dos falsos poetas: queremos dizer, dos homens gue pretcuden fazet-se pasear por equilo que rho ste © ile se aproveitam da confusdo que criam para se aure- olarem duma false grandeza, Com # caneta na mao, todos se podem crer Poetas, © sei muita dificuldade, fave-lo acre- difar dos outros que, na maior parte das vexes, no pretendem outra coisa, Se ¢ tio facil com uum poten de gosty 2 graga e com aquele dom de imnitsc#o, 10 espalhedo, de eserever no. ge- hero € no estilo “que conven” © deapresentar dudluier coisa que Huda ~ 6 milto menos agra- dive) levar ima existencia de peels, por a poetia primeito que uido a4 vida, Como fizeram Nergat, Baudelsire, Lauireamdnt, “Rimbaud, jarry. E portspto, aos olltos daqueles para quem, “aatte” © “a literatura” perderam o seu pres- igi conveucional, estd primeira e antes de tutlo o grande eritério: aquele onde ndo€ quase possivel trapucent, Dapols, nada mais natural Que eXigir go poets que nos d@.a prava da sua Shicrridade, Se ele fala da vide, da morte, do derespero, da revolts, do amor, da aveniliza, neo Gerd lormel querer que ele coloque elguma Yealidade sob estas palavras? Sendo, estas grandes palavras naa sto mais que fapanha-toles” uma "moedafalsa”” pare comprar a estima € admiracto dos contemparaneos que se engena— “e talvez.para formar de si proprio uma idei Glogiosa. F isto que nds vemos todos os das. Mas 16s vemos também que na nossa época, ¢ para alguns de nds, 0 conceito de poesia pura nag tem grande signiticado, EB preciso mais do que palavras, mesmo qe sejam as mais como- vedoras, £8 nis “escolhidas’, as mals gran- diosas do mundo, Entio considerado sob este Angulo, o nimero de cendidatos a lista de grande posta diminui. Pote-se falar de viver, de morrer, de amar, de-conhecer, mastazer descas palagras a redlidade da sua vida, @ diferente, Queré-i0, além disso, sera initil Se n8o se esié marcado pelo signo, Eis:tos no limiar das coisas essénciais. © para lém mesmo, interditas, na orla do insé- lito, 10 limize do permitido. Porque viver, amar, conhecer, intensaments, totalmente, sem re- gresso, jss0 nao se perdoa, Fars isso € precino iim heroismo cue por mais espatitoso. que porsa parecer, nao @ se nao ouiro que o das. figuras ARRY Rodolfo Aliso oasies om easy hires em GH, Galan Hvegeias, figure: prepondecnie do grupo slit da revisda sFonte Sitna; Ares» (1952), ten publedds ox venas: alsd 0 nador, efeengs viertrs, el Aailosins de yous) cas sygiie, indo 0 Yeozwela (loi oes ce ede milo joven em mecses gubliortes, saeatings gnes Uns dy + 2 shan Beis vc, uaias, fl jerdin de adnate V+ na Basia HIROSHIMA MON AMOUR una mujer desciende enyuelta en desesperado orgullo del aire de su casa como hija de la léstima feroz de la furia pequelia provincial el mundo contento arde quieto a su alrededor canta en el interior de esa mujer el mundo como una boca de fuego. un hombre lejano la contempla con ojos de desesperado amor ese hombre cs otros hombres es el mismo amor cantando para sobrevivir el mundo contento arde veloz a su alrededor canta en el interior de ese hombre el mundo como una boca de fuego cuando la palabra amor no tenga necesidad de ser pronunciada amor en todos los enerpos desesperados ardiendo trancuilos el mundo conteuto como una boca de fuego una mujer y un hombre lentamente a su alrededor Buenos Aires, 1960 Rodotfo Alonso lendirias, Unicamente os seres em chemas podem alnivessar 0. fgo sem parecer imedisiaments, Estes priveligiados do desasire acabam por consumir de coracto dos incéndios que fizera hascer sob o: seus passos, to ardentes cram esies, mas 0 que eles vem de deseontierido © indizivel no claro destas eatastrotes gigantes visidas permanece para eles como unico real dade, € 0 retlexo que nos chega, pelo seu t Yemuitiho. ‘lumina por longos anos © universo de trevas em que nos debaterios. Gérard de Nerval morren aos quarenta otto anos, enforcado, ua rua Vieille — Lanterne, mas antes atravessou 0 labirinto dos ‘sonnos ¢ da louicura e fez-nos conhece-lo; Baudelaire, aos quaténja e cinco anos, mergulia Jentamente na mnprte, paralizado e afdsico, mas reencontroa e ¥iveu 0. sentido des "correspondéacias”? Lau- freamont desaparece aos vinte ¢ quatro anos, depois de uma existencia esfranhamente mist riosa, mas # torrente de imagers alticinantes gue lancou no mundo continuan senipre 0 sea lelirante curso; Rimbaud disse positivamente “merda”” & poesia, para morrer no redresso do Harrar, amputado de uma perna, aos trinta e sete an108, tas. sua Yor eo seu silencio “ilummam” © mundo novo, Nesta luz, 4 vida revoltada, es: pectular © parsdoval de’ Alfred Jarre —0 que se Ihe pode chamat ‘exteriormente” as suas excentricidades — testemumta do seu gosto “in. terfor” ¢ irredutivel do absotuta, e fica, para aqueles euc pecam 8 poesia mais do que palavras incontesiavelmente exemplar, aT oe 1875 — 1807. Uma vida de trinta e quatto anos to plena, e, a sua maneira, tao exemplar, que, Guauante houver omens, we fenhan © seniag da pocsia, o nome de Alfred Jarry Ihes sera querido, Muitos daqueles que estavam & boca de cena, diiranta a sia brave existencia, cntraram, eles & as stds obras, no esquecimento definitiva, enquanto que a sua’ obra e a sua vids, a ele, grande estravagante, nao pararam deo adigantat na admiragao dos séres que tem o gosta da lit herdade e que sabem o prec da revolia, Porque cle viveu intensamente a sta poesia, e durante toa a sua exisiéacia tevea coragert de resistr a todas 2s cobardias e a todos os compromissos, Pode avancar muito longe no coracdo da reali: dade: porque, com efeito, nao procurava outra coiss, ¢, se permianece coma grande peretirsor do espitito poético de hoje & porque em primelto lugar, foi um perteito modelo para todos os aie recusando aquiescer go reino da estupides, ti verni a forea de seguir o seu exemplo ¢ ce Jancar & face dos cobardes e dos tolos 0 maunt- fico grito de desafio que a sua consciéncia re- Voltada maravilhosamente revivificou, q sia fa: minsa palavra de seis letras retumbante © le- gitima "Merdre”, Jacques-Henry Lévesque Henrique lima freire POESIA JUGULADA Austera e indecisa vocacao da minha maneira impia e inadequada de cantar coisas vas e alheias... Jogo jogado no limiar das frustragdes sob a iniqua dignidade de tiranos que dominam gentes obedientes e covardes Tu, a poesia jugulada —eminha...? Inquieta e frouxa e jugulada poesia consentida e poeirenta —letargo sonolento, gesto libertado, gratuito ¢ meu. Antincio oscilado e pequenino. .. que libertagfio, se a ha, me prometes ? PAGAMENTO PONTUAL Porque stbitamente disseste (ou disseram) a ultima palavra do negécio eu fiquei realmente quite (ou quieto) na ultima suspensao do abismo, (A vida sorriu alarvemente compreendendo tudo defeituosamente) VIAGEM Nada é indo o mundo longo Em viagem busco 0 teu regago eo men brago Por absoluta falta'de espaco ndo publicamos neste nimero a noticia que haviamos pro- metido a muitos dos nossos teltores com a qual se documenta e se explica a «fézada> on s{esadas» * de Luis Pacheco. * O termo ¢ « atribuigdo ¢ de Anténio Marta Lisboa. manuel de castro NOTAS PARA POESIA No perfodo ¢ no episddio medfocres decorrentes temos de reyer 0 proceso da nossa heranca. Esta lingua necessita construiores. Depurar: afirmar em fora a impureza (a dignidade media dos seres sociais oti anti-sociais. No sentido deste esforco sao inolvidaveis OS MORTOS, A luta fantéstica, porém, estabcleceu-se ¢ continua, Consomem-se e extinguem-se alguns Homens. Estava no entanto previsto—ndo é impunemente que se escollie 4 vida. Fsta é uma humanidade em trinsito inconsequente com o seu pecado original: a inversao dos membros, Nao existem valores para aquém do espirito; os que se apresentam na época como valides sao os subyertidos, degradados. Particularmente no que se refere as realizacdes de cardcter artistico, as de maior nivel sao literdrias (no significado «tipico» de literatura), A reatirmagao destes quasclugares comans comeca a tomar importdncia quando Teconhecemos que grande contribui¢do para a dispersao e envilecimento dos valores do espirito tem sido a dos poetas contemporaneos; ndo apenas através das suas obras, cuja influénea da flutuacdo desses valores ¢ limitada, mas na imposicao de um modo de convivéncia que, esse, é, no pior sentido, «literario». Ora a literatura s6 comeca a nomear-se assim quando as suas qualidades vitais da articipagco imediata na existéncia se encontram atenuadas ou completamente anuladas. Aceite-se a amplificacto da palavra poesia, A qual habitualmente se atribui o significado relativo a um tipo de produgdo escrita ou de actividades artisticas, © a restricao da importancia dessa mesma produgao dentro da PORSIA, como sendo apenas uma das formas de accdo para adquirir POFSIA; nao permitindo quaisquer outros modos similares da cultura como fazendo parte dos inicos meios para fixar estado poético de atencao, Chamar poesia a existéncia no plano do espirito, individual e universal, Requere-se a revisdo total da linguagem (expressio-convivéncia), dos mitos que a enformam, e 0 regresso purificado A TRADICAO. Tradipio em que a qualidade mitica néla residente nao seja desvirtuada pelo conhecimento circunstancial on légico; mas tradicao «pela verificacao ritual no estilo de vida (poesia) dessa qualidade>, Introduzir no quotidiano a atengao do sagrado é 0 objectivo proposto' a contri- buigdo da poesia-produgao-artistiea sera um dos médulos dessa aciividade magica, nao o fim dela, E evidente que a vaidade pessoal ou grupal nada tem aqui a fazer—e € necessério desfazertho-nos dessa condi¢ao de mesquinhez; e proceder em relaco ao ambiente cireundante de literatos e eruditos de almanaque como se inexistente, Ao tentar realizar uma nova classificagdo de valores eorre-se o risco de incorrer nos métodos viciados da pseudo-l6gica cientifica, criacdo ocidental de menor valia, euja posse deve ser utilizada com extremo cuidado e apenas quando vai facilitar o conhecimento real. 36 podem negar-se as regras que se compreendem. Destrulf-las, pois, é conhece-las primeiro, Mas a atitude perante elas sera antecipadamente de suspeita e também perante qualquer manifestacdo civilizacional— por causa da putrefaccao evidente. No meio nao esta virtude alguma, E, onde tude € permitido, so € permitido tudo agueles que a tudo se podem permitir, 4d Aigal Crespo, o grande poeta coselhana, por ser sobejumente confecdo eae nd impossve! apreseta-l, forna-nos. Ulorens Vidl| fram posta-maiorqitn direcor'd.rellta W Fonenl, delPatmo de Muioen defensor das. trodigdes linguistics e cullurais dos. Baleares, tem publicadas os.liveas de poeas } Heditacions existonciolss e «fl cant de lo balalatkas, Moreag vidal AQUI Jo som una crew de terme plantada de fa molts anys: s€ que aqui comenca el poble, S€ que aqui comenca el camp. Som un arbre sense fruita, indifinit en Pafany, colrat, ja, per una angiinia de viure entre pols i fang. Ham yengut moltes anyades, sthan fet homes els infants, el poble creix i maduren els raims en els parrals, Tot flueix, arreu de vida sangloten plenes les mans.. +. Sols jo som la creu de terme, plantade i sense mudar, corsecat per una angoixa de no ser poble ni camp. AQUI (versdo portuguesa de Manuel de Seabra) Sou um marco Blantado ha multos ano Sei que aqui comega a vila Sei que aqui comega o campo. Sou uma 4ryore sem frutos indefinida no aff, cansada j4, por uma angustia de viver entre pé ¢ lama. Muitas Colheitas passaram, eriancas homens estao a vila cresce e nas vinhas amadurecem as uvas. ‘Tudo passa, por toda a vida solucam cheias as maos ; -S0 eu sou o marco, imével para sempre, seco por uma angistia de nao ser vila nem campo, Angel Crespo VOIME YENDO Voy por él campo, voy cortando, voy sembrando, voy con mi luz} corto una flor de jara, leo en ella Jos grandes miedos de la infancia y me impregno los dedos de flor de jara, en ellos leo toda la sangre que fluia por encima de mis poemas; piso una planta (con mi planta) de grama, me detengo para oir la yoz de sui ruina que habla del hombre que euidaba y podaba los encinetes ¥ yo ignoraba el que era pobre y siu embargo andaba mucho; tomo una almendra del almendro silvestre, y en mi boca, su amargor me cuenta del cuervo que asesiné por un capricho; troncho la blanea gamonita y huelo en ella mi pasado: tiene un aroma de hombre solo que se encontro de pronto al hombre tiene un olor de sorda espera que entiquecieron las palabras; corto una vara de un oliyo de junto al tronco, tiene terra donde es mas grueso, este verdugo -, con el azoto de mis piernas la parsimonia que antes tuve. Voy caminando siembro meses, aflos y siembras de esperanza. Voy por el campo, voime yiendo hacia un pafs que no abandono —campo de carne y de palabras que ya barrunto mientras tanto. carlos loures AOS LADROES DE FOGO POESIA, SURREALISMO, CONTROLE Done |e potie est vraiment voleur éo feu. A. Rimbaud De costas voltadas & magnifica estrada espiritual, indifereates aos apelos que a percorrem, imersos nas sombras dos jazigos intelectuals, viciados no opio da intriga literéria, vamos encontrar grande maioria dos poetas. Esquecidos que nfo & impunemente que se escreve Poesia, esquecidos do ina- diavel compromisso criado em relagdo as palavras, prosseguem a sua rota de arte- ~pela-arte. No escabroso percurso que inexordvelmente nos condi ao fim, em que a frus- tragio substitue todas as metas a que nos propomos, a morte, tragédia maxima da espécie, determina o desesperado desejoduma sobrevivéncia historica, que s6 por sie num plano puramente animal, pode justificar uma vida entregue & arte, Todavia, para j@ duma permanencia do passado e duma sequéncia além-tumular, cst4 uma neces- Sfria integracao no tempo, uma urgente cousciencializacdo dos seus mais graves problemas. Ao Homem-Poeta exige-se uma presenca activa, como pedra bésica da sua atitude espiritual, uma disponibilidade atenta como prova da verdade dos seus versos. A Poesia nfo € um pedestal, ¢ um doloroso estigma. Quem o esqueca s6 fraudu- lJentamente se pode intitular Poeta, e nao transcende sendo dentro dos limites restritos das concepgdes burgucsas, o camponés analfabeto, que irduamente, dia a dia, conquista a morte. No absurdo palco da nossa arte actual, o espectdculo passa-se ao nivel da mais reles opercta, com os actores movendo-se exuberante € ridiculamente, procurando, através de todas as transigencias da sua dignidade, ganhar, do modo mais facil e menos Honesto, os aplausos da plateia. A nota psendo-herdica é-nos dada por alguns rapazinhos, que com maleriada irreveréncia (aque chamam audécia), lutam desesperadamente pela conquista das tribunas, cujo poder os velhos charlatées das artes detém ciosamente, Diante do insolito, cumpre-nos pergantar quem estara depreciando mais o pat monio espiritual: se um piblico mediocre, fabricado pelas limitactes ambientais, coagido por elas 4 estupidez, 4 indignidade e & cobardia mental, se toda esta esta série de farsantes, que relegando para infimo plano os altos valores do pensamento, se debatem avidamente, numa absurda angariagao de gloria através da literatura. ee Vein estas consideragdes a propésito de alguns ataques que precisamente do campo destes

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