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eee en Sookie ig peter aos hee gee crew Tot ea Pout Coe ke mara iio eee : eas ‘ime Pea Gn Vrs ae eee viral ree es 2 en, ror baton =, _ PAPELARIA AMBAR a AMIDE yer: N | antologia 1 > FEVEREIRO * Mit S95 3- noticia sumario Os textos apresentados, sio em Mensagem e€ Ilusao jo A teci- Pp ee maioria rigorosamente inéditos, sendo mento; Surrenlietal-s dder ay igualmente inedita a tradugao de An- 74 aaa i tonin Artaud, que € pela primeira WPScOn Cele, Be ea Wak gone e Petrus Ivanovitch Zagoriansky Um Ontem Cio — Pady (heteronimo dé Maric de Sa Car- neiro'), tem um lugar definido ao e lado de Ravi Leal, outra figura glo- tiosa do Movimento Orphen, O manifesto de Antonio Maria Lisboa, imperioso, agreste, justo, natural, surge agora para um maior eonyivie coin 0 pocta, ‘Trata-se de ui documento da major gravidade, duma inacessivel figura de herdi, hoje colocade na primeira fila da poesia europeia. Antonio Maria Lisboa morreu em 1953, € comeca agora a viver. ‘A maior ou menor visto de con- junto, a tirar deste primeiro mimero, € uma exigéncia cumprida em, rela- a0 a0 publico, O mesmo criterio sera adoptado em nimeros stbsequentes, kos quais se _juntati a indispensa- vel eolaboragio dos mais jovens va- lores da nossa lirica, : PIRAMIDE (i) © fragmento qae pablicnmos foi pela pri: ncira vez apreseatato em 191s 1a Menus: Rarcenja w? 3 O Teatro e « Ciencia — Artaud (Tradupao de Erne paio) : ‘ e Psaume — Rati! Leal (Hig e Z Avisoa Tempo pos 9) le Tempo— dntinio Maria | — Luis Pa- Alem — Peirus Joanoviteh Zago- riansky. cadernos de publicacio nao periddica organizedos por carlos loures e maximo lisboa S pee direccéo gréfice de marcelo de souse uiério cesariny vasconcelos MENSAGEM E ILUSAO DO ACONTECIMENTO SURREALISTA Pode-se ser stirrealista sem se ter lido Breton. Pode-se ler Breton € nao se ser surtealista. Pode-se ser surrealista e nfo se ser, realmente, mais nada. Pode-se nao ser surrealista ¢ prestar-se com isso excelente servico a todos e a0 surrealismo em especial. Isto diz-se porém das tarefas do conkecimento, que nfo das do saber, ¢ eu no sei se anda clara, nas consciéncias actuantes, a diversidade que assiste a estas duas operagses do espirite. Para mim, pelo menos, permanece evidente que as tarefas do conhecimento — pottico, na ocorréncia — so finicas, pessoais ¢ in transmissiveis, enquanto que as do saber, deduzidas daquelas, podem j4 ascender a leis ¢ valoracées que sto filosofia, interpretacao critica, quer tramada de'dentro, da parte de quem est4, quér focada de fora — os que vem ver estar —e aqui € que é impossivel ser-se {ou criticar-se) deter- minada coisa sem se saber 0 que essa coisa é. Eston a pensar na critica que nao temos e na critica de consolacao que temos, Mas este curioso A-vontade na demissdo que frente a algumas obras surrealistas (potcas) a nossa critica apresenta, nao vira exclusivamente do carfeter literfrio que ainda é 0 seu melhor. Ela é produto maior de ceria dormencia de que nao sero formialmente responsaveis os manes da nossa filtima cultura nossa, mas na qual intervieram a grande, passando admira- vyelmente por baixo de uma poética que em toda a Europa detinha a van- guarda e fornecera um mébil de libertagio do espirito até entao desconhe- cido a Ocidente. De facto, nem « chamada «Presengan, na voz teorizante de Gaspar Simdes, agora e na hora entregne as exceléncias de um lirismo de obrigacae, nem a gente dos Cadernos de Poesia, filtimo frondoso galho do liberalismo presencista, nem a escola dita neo-realista puderam ver sais do que gauidio fetardado (ora no retardado é qite estava o gandio) quando alguns estraga-passaros, a bragos com a chatesa do neo-realismo 1946, Lisboa, (j4 haviam pagmado muito da choradeira Fernandina, 1926, Cascais), vieram a encontrar-se no acontecimento surrealista r949, Lisboa. Nao foi muita nem para muito tempo a ocasiZo € o encontro. Tenho na cabega uma carta de Anténio Maria Lisboa, que diz: «& as palavras- -actos, 140 ds palavras que supdem actos, que me dirijoy, Maxima tao 1 a eee ry ees er thais valofcitadino que o de prenda enviada pelo correio a falar de natal quando o més era j4 0 dos folguedos — quarta- -feira de cinzas na arte e na literatura, cada vez mais arte ¢ mais litera- tura, pois: Aqui — pelo atalho — se reericontra a Europa, onde a revo- lugao surrealista (mais exactamente: a praxis surrealista fixada por Breton a liberdade) om vai desaparecer ou tornar-se uma técnica, tho abusiva como qualquer outra, de aproveitamento, pelo saber, do conheci- Mento que outrém engendrou. Com o que, passa Novalis: «Os poetas sao ‘05 mais fortes condutores-isoladores da corrente postican Nao sera, porém, em nome de uma regressio, tendente a libertar 0 postico dos suleos que o surrealismo lhe imprimin — mas dizendo poético niinca estou a dizer poético-sentimental, estou a dizer pottico-cosmoldgica, a dois ot a dois milhoes de criaturas vivas — que essa descida A terra poderd fazer-se. Em torno do surrealismo enascentes, como, hoje, em torno do surrealismo «agonizanten fizeram crénica, 14 fora, os do cortejo e apito em direcgao a casa, de livro branco e pantufa na mao, Entre nés, tal cortejo tem fim obrigatério na cor dos olhos de Fernando Pessoa a cair morto de bébedo em casa de cada um. ‘Também porque o sutrealismo se insereve numa zona de conhecimento que mesmo nos pontos globais do seu percurso — ponhamos por exemplo Homero ¢ 0 «Zaratustray, de Nictache — serA sempre parcela e nunca soma, pois das «mmitas coisas com que tem a ver, tem a ver sobrettido com o amor do futtto, é prova de inguirigao que cahe a cada homem para continuagao de novo homem que vem. Neste acto-entre-actos, que a metedologia do homem de ciéncia a primeira, hoje, a conhecer, sc haverd de situar o melhor da paixdo surrealista, onde todas as coisas foram poctas ¢ onde quase que nunca os qtie fazem poemes sip ou serao o pocma primordial. Quanto ao valor (actual) da arte-¢ da literatura (surrealistas), j4 se disse ha tempo e nao deu resultado: hoje, como ha trinta anos, Mona Lisa ostenta o bigodinho que Déd4 lhe doou. Aprendeu, no entanto, trinta novas maneiras de apar4-lo; Mona Lisa Bigode Realista, Mona Lisa Bi- gode Surrealista, Mona Lisa Bigode Abstracto, Mona Lisa Bigode Socia- lista, Mona Lisa Bigode Fascista, Mona Lisa Bigode Existencialista, sao as tiltimas mais elegantes saidas do literato conveticido de que vai sait Arua com uma esirela na mao, Visto um pouco do pouco que hé para ver nestas etiquetas estolasticas, entende-se: anda tudo a querer entrada gratis no espectaculo mais caro do universo: a trausubstanciagio da ma- téria. Mario Cesariny Vasconcelos - pedro oom UM ONTEM CAO No alto das nftvens todo o édio inconcebivel toda a magua molhada todo 0 terror liquefeito sobreveio da espuma rebentou do nada cong uma pulga um elefante ou nia esfin ge No alto eram sobretido hotoes caluniados de voz doce nas gargantas secas € olhares de monstros sobre os abismos falsos Tudo tudo tudo veio da cristandade nas cangoes da manteiga no discursar dos queijos na ditadura das pomadas ambigses E com og ossos esmurrados © as costas dobradas © 03 gestos fechados a chave 3 chuva 03 sexos com ene 70. cont iege piritual lagartas alargando 0 cés das Ss \ beliseando 0 ef das mulas — ; la até se abrir no cércbro uma legifio deletéria e rasgar-se ua pele uma comichao necessaria e levantar-se s unhas. um medotsé-tsé 0 S50" X 4 valtares ‘erguidos to vento dos ventos ee. a chuva eé chuya etguida a0 Inar com mutros soprados nos cérebros luzidos da Escada que fala na Epica dos cemitérios “por tudo € por nada com Jilio a eee ‘com Ant6nio 4 ilharga "© meninos ao colo if FIZERAM Carabinas das chaves com olhos € um trono dos peitos abstratos que habitam os gelos das furnas malsas Ass garrafas entoam placidamente NINGUEM CONHECE, € desconhecido NAO PASSOU POR AQUI ERA UM QUE LEVAVA UMA TROUXA? Talvez 0 filtimo sortilégio das maos aguadas do primeiro canto das éguas recém-nascidas talvez o amoroso ornear das bestas talvez 0 sédico hemoptisar dos presuntos na febre do cio Eles levantam 0 zelo nas ntivens © cifime nas crateras € caminham passo a passo com a catitela dos missionSrios ea histéria gigante das freiras eo roncar habilidoso dos centauros com Prometeu nos intestinos € os ventres atafulhados de rosas, hotdes.¢ cravos pregos de estufa e bandeiras desfraldadas urros frescos com pézinhos grelhados unhas serrilhadas ‘Mitos A Gomes de SA. Pedto Oom antonin artaud © TEATRO E A CIENCIA (Trad. de Ernesto Sampaio) © teatro verdadeiro apareceu-me sempre como o exercicio dum acto périgoso e terrivel, onde se climinam tanto a ideia de teatro e de espectaculo como a de toda a ciéncia, de toda a religifio e de toda a arte. © acto de que falo visa & yerdadeira transformagao orgénita ¢ fisica doeorpo humano. Porque? Porque o teatro nao é essa-parada cénica onde se desenvolve vir- tualmente ¢ simbdlicamente um mito mas o cadinho de fogo e de carne verdadeira onde anatd micamente, por espezinhamento de ossos, de membros e de sflabas, se refazem os corpos, © se apresenta fisicamente e ao natural o acto mitico de fazer tim corpo. Se bem me compreendem, ai yerdo um acto de génese verdadeira que toda a gente extravagante e humoristica considerard no plano da vida real. Porque hoje ninguém pode crer que um corpo poséa’ mudar senaio na morte e pelo tempo. Ora eu repito que a.morte ¢ um estado inventado que vive apenas: para que todos os reles feiticeiros, os gurus do nada a quem aproveita, dele hé alguns séculos se alimentem e dele vivam em estado de Bardo. Fora disso o corpo humano é imortal. uma velha histéria que € preciso aclarar atascando-nos até Ao pescogo. O corpo humano ndo morte sendo porque se tém esquecido de 9 transformar e de o mudar. Fora disso mao morre, nao se desfaz em poeira, nfo passa pelo téimulo. ¥ pela ignbil facilidade do nada que a religiao, a soviedade ¢ a ciéncia t&m obtido da consciéncia humana o consentimento de abandonar © Seu corpo, ellie t2m feito crer que o corpo humano é perecivel e destinado a0 cabo de potico tempo a ir-se embora. 6 Nao, o corpo htimano é imperecivel ¢ imortal ¢ mutavel, mutavel fisicamente e materialmente, anatdmicamente e manifestamente, mutével visivelmente e aqui mesmo bastando que queiram dar-se a pena material de o fazer mudar. Ontrora existia uma operagao de ordem menos mAgica que cien tifica € que o teatro se tem limitado a imitar, pela qual o corpo humano, Jogo que reconhecido mau passava, transportado, fisicamente materialmente, objectivamente ¢ como que molécularmente de corpo para "corpo, y dum estado passado e perdido de corpo a ui estado reforcado e exaltado do corpo. * E para isso bastava-lhe dirigir-se a todas as forcas dramaticas, recalcadas ¢ perdidas no.icorpo humano, ‘Tratava-se duma reyolugio ¢ nto hé ninguém que nfo apele para uma revolucao necesséria, mag nao sei se muitos terdo pensado que uma tal revo- lugio nao sera verdadeira enquanto nao for fisicamente ¢ materialmente completa, enquasito nZo se yoltar para o homem, : para o préprio corpo do homem endo se decidir enfim a pedir-lhe que made, » Ora 0 corpo tornou-se sujo © man porqtte vivemos num mundo Stijo € mau que nfo ner que o corpo humano seja mudado, € que soube dispor em todas as partes, nos pontos necessérios, 9 Sct: ocullto e tenebroso bando de for- gados a impedir que o mudem E assim que este mundo nfo € mau sSmente de fachada, mas éo porque subtertaneamente ¢ ocultamente cultiva e mantém o mal que The den 0 sere nos fez a todos nascer do mau espirito e a meia do mau espfrito. 7 Nao Aaicamente pot que os costumes estejam putrefactos, mas porque a atmosfera em qtie vivemos esté materialmente ¢' fisicamente putrofacta, devido a vermes reais, a apaténcias obscenas, a espiritos de vermina, a organismos infectos que se podem ver a olho nu bastando que, como eu, se tenha longa, 4spera ewsistemAticamente sofrido. 7 a _ Nao é de alucinagao ou de delirio que'se trata, nfo, é desse acoto- yelamento falsificado e yerificado do mundo abomindyel dos espiritos ‘enjas partes miseraveis todo o imperecivel actor, todo o inctiado poeta do sepro sertiu s¢mpre 2 enipestar os setts mais puros élans. nao haver4 revolucao politica ou moral possivel enquanto o hemem continuar magnéticamente retido, nas stias mais simples e clementares reacgoes organicas @ netvosas, Fj pela sérdida influéneia de tedos os centros duvidosos de ini- ciados, que, no quentinho das botijas do seu psiquismo, se riem tanto das revolugdes como das guerras, seguros de que a ordem anatémica sobre a qual estao fundadas tanto a existéncia como a duragao acttal nao poder ser mudada. Ora, h4 no sopro humano saltos ¢ fracturas de tom, ¢ de grito a grito trocas bruseas, aberturas c élans do inteiro corpo das coisas pelas quais podem ser sibitamente evocadas, e podem escorar ou liquefazer tum membro assim como ‘ima 4rvore que pudéssemos cortar e enraizar na montanha da sua floresta. O corpo tem um sopro € um grito pelos quais, nos bas-fonds decompostos do organismo, se pode agarrar, transportando-se visivel- mente até aos altos planos radiosos onde o corpo superior o espera. uma operacao onde nas profundezas do grito organico ¢ do sopro langados 0 passam todos os estados do sangue e dos humores possiveis, todo o combate dos espinhos ¢ esquirolas do corpo visivel com os tronstros falsos do psiquismo, da espiritualidade, e da sensibilidade. Houve periodos incontestaveis da histéria do tempo nos quais essa operacdo fisiolégica teve lugar e onde a m4 vontade humana nunca consegitin juntat as suas forgas ¢ soltar como hoje os sctis monstros saidos da copulacao. Se qttanto a certos pontos e para certas ragas a sexualidade humana atingiu o ponto negro, e se dessa sexualidade emanam influén- cias infectas, i espantosos venénos corporais, = que presentemente paralizam todo 0 esforco de vontade € de sensibilidade, e tornain impossivel toda a tentativa de metamorfose e de revolugay definitiva € « integral, & BE que de h4 séonlos até agora foi abandonada uma certa opera- go de transmutacao fisioldgica e de yerdadeira metamorfose orginica do corpo humano, ‘a qual pela sua atrocidade, sua ferocidade material e sta amplidao Jana na sombra duma morna noite psiquica : todos 03 dramas psicolégicos, légicos'on dialéticos do coragao humano. Quero dizer que © corpo detém sopros € que 0 sopro detém corpos de cuja palpitante pressio, a espautosa compressdo atmosférica tornow vaos, quando aparecem, todos os estados passionais ou psiquicos que a consciéncia pade evocar. HA um grau de tenso, de esmagamento, de opaca espessura, dg revaleatento ultra-compritiido duin corpo, que ultrapassa de longe toda a filosofia, toda a dialética, toda a misica, todo o fisico, toda a poesia, toda a magia. Nao ser hoje que vos mostrarei o que, pata comégar a trans- parecer, pede muitas horas de exercicios progressives, seria preciso, ali4s, espaco ¢ ar, sobretudo seria necesséria uma apa- relhagem de que nao disponho. Mas ouvireis certamente nos textos que vdo ser ditos vindos daqueles que os dizem gritos e élans duma sinceridade que esta tia via dessa revolucio fisiolégica sem a qual nada pode ser mudado. Antonin Artaud raul feal x PSAUME Oh,-Diew de Puissance, Animateur essentiel De Mon étre profond, Substance Pure De PAme Rxaltée Pour Jui transmettre Eu Délire Ta Grandeur Sublimée Arade enfin De tonte Ma vie, Pérdue dans la Détresse, La marque infamante De la vilenie ‘ Afin que Je puisse vivre Seulement pour Toi En extases vibrantes De pur An-Dela.., Je suis foreé Par Pexistence que Je traine, Et pour ce qu'il y ade décha Dans Mon Ame perdite, A Menvelopper de ténébres, De anuages épais — Viinanation iétide D’un marais immense — Qui couvrent affreusement Ta Sublime Vision De la Splendeur Sinistre De Ja Mort-Dien, Enfoncée pour jamais 3 Dans les profondeurs extrémes De 1’Btre meurtri De I'Rtre lnminewx Je voulais vivre Seulement pour Toi, Oh, Esprit Divin, Moti Essence mystique, Inonder toute Ma vie De Ton briital fracas A travers le tumnlite sacré De Ma Vision Extatique, Par Moi eternisée Dans Vexistence que Je traine, Mandite et sublime, De Prophéte-Roi. Mais, hélas, Les nuayés de matire Ne Me Iaissent jamais, La vie M’oblige X une action infamante, Hloignés de lEsprit, Hloignée de Diet, 10 Raul Leat (Henoch) Pour meurtrir Mon dime presque Divine ‘Mais dont les impuretés Wartachent le pouvoir magique De vaincre les dificultés De la terrestre existence ‘Seilement Par la force indomptable De VEsprit Divin ide nots portons em ous fais alfaibli Par les vils eléments De aotre nature pourrie, Tout imprégnte ‘De boue, Crest & cause De ces impuretés infames Que Je ne petix pas vivre Seulement PAu-Dela FE que Je suis obligé A étre enfin De la vie entiére Ux vilain forcat. Et de la matérialité ignoble De Mon existence terrestre, Polluge pat le travail Pour la recherche de Vor, Par toute woe action alfrense Eloignée de Dien Stimprégue aussi Tout Mon esprit Qui de cette forme Oublie presane Le Royaume sacré De la Divine Mort... Des preéocetipations impures, : Mesquines, Viles, Engendrées dans une vie de Terre Que 1a chair ‘Me force a vivre, Cherchent obseursir enfin Toute la hauteur De Mon Esprit, Affaiblissant Mes extases Pour élojgner profondement Pour troubler la Vision Sublime De Dien ¥t de VIntini... @est Satan Qui, de Au-Dela, Marracke La Grandeur Supréme De Mon étre déchu, De Mon @tre vilain...! Octobre — 1928 Do livto «Mtartye-de VOceulten, terceiry da série ee Dernier Testaments 1" anténio maria lisboa AVISO A TEMPO POR CAUSA DO TEMPO Declara-se para que se saiba: 3.° gue nfo apoiamos qualquer partido, grupo, directriz politica ou ideclogia ¢ que na sua frente apenas nos resta tomar conhecimento; algumas vezes achar bom outras achar mau, Quanto a nossa propria doutrina, os outros hao-de falar. 2° que nao simpatizando com qualquer organizacao policial ou mi- litar achamo-las, no entanto, fruto e elemento exacto e necessario da sociedade — com quem no simpatizamos igualmente. 3° que sendo nés individuos livres de compromissos politicos perma- neceremos em qualquer local com 0 mesmo d-vontade, Seremos nbs os melhores cofres-fortes dos segredos do Estado: ignoramo-los, 48 que sendo individualidades © portanto abjeccionalmente desli- gados das normas convencionais, temos 0 méximo regosijo em ver essas mesmas normas nos componentes da sociedade. Assim delas daremos por yezes testemunlo ¢ mesmo ensino. §5.° que nao somos assim contra a ordem, o trabalho, o progresso, 3 familia, a patria, o conhecimento estabelecido (religioso, filos6fivo, cientifico) mas que na e pela Liberdade, Amor ¢ Conhecimento que Ihes preside preferimos estes. 6.° que a critica € a forma da nossa permanéncia. Acreditamos que nestes seis pontos fundamentais vao os elementos necessatios para que o Estado, os Governds,'a Policia e a Sociedade nos respeitem; nds hA muito que nos limitamos neles ¢ neles temos conhecido a maior liberdade, Nao se tém do mesmo modo limitado o Estado, a Poli- cia e a Sociedade e muito menos o sen diltimo redut familia. A cles permaneceremos fi€is, pois todo o nosso proprio destino e nao s6 parte dele a estes seis pontos andam ligados como homens, como artistas, como poelas e por paradoxe como membros desta sociedade. ulho de 1953. y i Anténio Maria Lishoa Iaiz pacheco SURREALISMO E SATIRA (DE ANDRE TOLENTINO A NICOLAU BRETON) Tuvocar o nome de Tolentino a propSiito da obra dum poeta surrea- lista, mesmo portugués, € ousadia que s6 0 método comparativo-literdrio do st. dr. Jodo Gaspar Simoes poderia propor. E nao apenas pelo facto de procurar avocngos gitocentistas para um miovimetito bem localizade e bem caracterfstico deste século o critica se arrisea a perder o pé na pocira dos tempos e, trambolhando de épota para época como O Vagabundo dos Sonhos, cair nalgum saboroso exemplar das cantigas de esearnho ou maldizer, também elas (e por que nao?!) surrealistas... Mas, principalmente, porque em muito pequena parte esse argumento de autoridade, chamemos-lhe assim, 0 favorece na sua missio de julgar a obra € de esclarecer 9 piblico. Proctirando demonsitar a sua compréensio (num esforgo que se reconliece notério) duma coisa nova, nao podem valer ao critico as com- paracces forjadas, as aptoximagoes marginais de acontecimentos tao remo- tamente afastadas, no tempo como no gigniticado, tais as s&tiras de Nicolau Tolentino ¢ eertos aspectos e personalidades da nossa poesia contempo- ‘ranea, que se diz surrealista, due parece surtealista on que o é, de facto, por um fen6meno de simpatia e de identidade de situagoes de revolta, que hoje sfo aqui tao naturals como o eram em Franca hé trinta anos. Se 6 eritice estremece perante a novidade, que presseiite valida, mas cuja total significagdo humanamente se Ihe escapa, (a ele, qué teve outre formagao), o que dever4 fazer, digamo-lo sem pretensacs doutorais, € abandonar-se ao seu instinto, ignorar os restduos do passado, apurar o faro e predispor-se 2 ouvir essa voz estranha que pela primeira vez se the depara, livre de prejuizos « de conclusoes apressadas, Levi-la diante do espelho acomodaticio do passado, é prova de bea vontade, que se agradlece, mas @ que sera de preferir a incompreensao cerrada, a repulsa violenta que marquem limites, definam posigoes e esclaregam os verdadciros valo- res com que cada tm joga e, no fundo, cstima como seus. ‘Tem Joie Gaspar Simdes tentado captar o mistério da poesia surrealista, Dizé-lo qal informado das fontes estrangeiras dessa corrente é uma afirmacaio gratuita, ainda que gostéssemos que ele dissertasse com mais vagar das figuras inéximas do movimento (um Breton, um Elnard, um. Desnos, um Césaire) e ndo perdesse tempo com epigonos nacionais duma meno- tidade evidente. Mas apesar de todas as suas lacunas, como nao louvar os dons de simpatia e de liberdade de espirito, que o impelem para zonas 13 {Ho ardentes € perigosas para umi presentista ferrenho, isto é, convicto, coerente € militante? Aqui o temos de saudar como caso notavel e até ao presente finico, E, falando jé outra linguagem, havemos de enquadrar esta sta atitude sui-generis num plano diferente e que esta certo como ‘veremios. Nio sfo para agora os motivos porque ndo fica mal a um surrealista ser apodado de satirico. André Breton agitaria a sua bela cabeleira a tal definigao (cle tem outtas), mas isso € o que menos importa. Estamos em Lisboa, senkores, esta Lisboa que Breton talvez localize mas Baleares, talvez no Brasil... Nao tem aqui o lugar o «distinguo», Com todas as reservas que se Ihe devam objectar (deixaremos isso a cert inyestigador polemicante, de mentali@ade seminarista), pode-se falar de satira em surrealismo, E de Tolentino, também, caso nao haja A mao melhor exemplo, E de Junqueiro, E de Gomes Leal. E de José Gomes Ferreira. E de muitos outros, gue nao cultivando a flauta trururu do bucolismo e do pirismo sentimental, elementos mistificadores com que nao queremos ser mais vezes enganados, reagem furiosamente (como poetas, claro est4), contra os compromissos do tempo, todos os compro- missos. Satfricos, os surrealistas? Talyez, mas depois. © leitor € que nio se interessa com isso; para cle, que tantas vezes tem sido enganado, uma palavra séria (isto €: verdadeira) mesmo dita a rir, é quanto basta. A contra-prova da autenticidade de tal poesia tira-a cle, facilmente na experiéncia da sua vida quotidiana, no pequeno senso- -comum das coisas reais que nao conhecem a literatura e excedem a ima- ginasao dos poetas, mesmo dos surrealistas... Como j4 o notou um critico de Mario Cesariny de Vascontelos, é afinal um surrealista que, passando por Alvaro de Campos, nos faz recordar Cesario Verde. Cesario, o das ligoes de realismo — do torpe negro € feio realismo que nao se compadece com as flores da retérica fiem com a heryandria colorida des poetas de arrabalde. Dirdo que o leitor portugiés teve (e tem ainda) em matéria de género romanesco bons pedagos de literatura social, a que nao falta o fom pedagdgico ¢ influencidvel da arte dirigida. Ainda mal. Pois nao causaré estranheza (em certos meios, pelo:menos) ver os leitores desses romances mgs, tristes € tao desiludidos, yoltaram-se para a linguagem aparentemente mais dificil da Poesia... da poesia do humor negro, da poesia deserta de bons sentimentos, da poesia catastrofe, daquela enfim, que por conter em si todas as perver- soes ¢ todas as dores do mundo de hoje as dentncia ¢ as incrimina ao severo jnizo do mundo de Amanha? Luiz Pacheco 14 petrus ivanovitch zagoriansky ALEM (fragmento) a Mille Marfa Ivanovna Zagoriansky, irma do poeta — esta interpretagao portuguesa é comovidamente dedicada. I Erravam pelo ar naquela tarde loira eflfivios roxos d’Alma c ansias de nio-ser. ‘Maos santas de tainha, loucas d’esmeraldas, davam aroma e récio & brisa do crepisculo. O ar naquela tatde era saudade © além.. Eas asas duma quitera, longinquamente batendo, a dngi-lo @irreal. Um ar que sabia a luz ¢ que rangia a cristal... E muito ao longe, muito ao longe, as casas brancas... 2 Na grande alcova da vitoria, toda nua e toda rniva, en tinka-a final- wuente estiragada sobre o leito fant&stico da Cor. Linda aspiral de carne agreste —a mais formosa enchia para mim 08 ols de mistério, sabendo que eu amava as ondas de estranheza... E 0s seus bracos, de nervosos, eram corgas... E os seus labios, de rubros, eram dor. No jardim, os gitasséis nao olhavam para o Sol Verguei-me todo sobre ela... A hora esmaecen... © ar tornou-se mais irreal... Houve um cortejo de estrelas. Em face daquela gloria, que tumultuava tao perto, que me ia sagrar enfim, os mets olhos eram esforgo e a minh’alma um disco de ouro!... 15 . on a Beary

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