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I Parte

E em enganando, a luz voltara a transcender minhas pálpebras e mais uma vez eu voltava
ao início de tudo. Permaneci ali, estático... Ouvia o chiar do riacho e sua voz embutida na
mais pura água, as aves que se banhavam ali perto neste mesmo riacho, resmungando de
como aquele dia havia sido ruim e o farfalhar das árvores sussurravam aos meus ouvidos
cânticos que outrora foram esquecidos da memória dos homens. Os pensamentos das
pedras se misturavam aos meus que se confundiam e deixavam levar pelas conversas
milenares e sem conteúdo, culpa de um tédio agonizante que com a passar dos dias
degradava suavemente suas mentes.
Ainda sem entender o que havia acontecido, comecei a perceber onde eu estava. A
folhagem formava desenhos estranhos e peculiares para cada tipo de planta, as pedras
eram dispostas em fileiras dos dois lados, como um caminho que fora traçado talvez por
camponeses que quiseram deixar seu caminho com um pouco mais de beleza.
Eu me sentia fraco, como alguém que se excedeu fisicamente e já não conseguia me
colocar de pé sem sentir a dor agonizante que me acometia. O sol já caminhava em
direção as montanhas e quase já não era possível sentir seus calorosos braços
envolvendo-me e do lado oposto eu via a noite chegando, calma, como um lençol de seda
negro envolvendo cada pedacinho de luz perdido. À noite, já não era possível ver nada, a
lua com sua clareza infindável havia escondido sua presença, nem mesmo as estrelas
apareceram e agora o desespero se apossava de mim como um suave veneno preenchendo
o meu coração. Nada me restava a não ser esperar um dia novo e este veio sem aviso.
Clareando com fervor todo aquele lugar. Árvores até onde a vista alcança, um tapete
verde emanando vida e hostilidade ao mesmo tempo. Cachoeiras por toda parte, sem
contar a infinidade de animais que eu havia visto, mas só agora havia percebido. Assim
como as coisas inanimadas, também era possível ouvi-los, mas se eles podiam me ouvir
eu ainda não sabia.

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