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HS cinquenta anos os militares tomavam 0 poder “de Jodo Goulart instalavam um governo diatorial fe Brasil Conquanto este cinquemtenirio ndo seja ‘ern data digna de comemoracio, também nao pode deixar de ser lembrado, porque raz consigo igdes “le precisam ser revistas por um pais que pretende ‘Gonsolldar-se como Estado Democratico de Ditto, © solpe, que teve intenso apoio de setores Teeeservadores da sociedade brasileira, ensejou a Spepreseio de liberdades individuas e de garantias insttuconalizou tortura, oassassnat, de civise diversas outras formas birbaras Tidar com 0 inimigo interno, tudo quase sempre Sbafado por um Estado que, de um lado, negava a Tindependéncia funcional a seus jizes e aparelhava {sistema poicial para agi de forma abominavel , “Ge outro, ia 0 apoio da grande midiae calava Jomnalismo que ousase denunciar suas mazes. Apés fmuitos anos de autortarismo institucionalizado, {9s movimentos socaise a lta popular levaram is thigies diets, no sem antes se frustrarer com uma “pista costurada para imped a responsabilizacio de do Estado e com anio aprovacio da Emenda de Olivera (PEC n 5/983). Em fins da década ‘de 1900, a Assembleia Constiuine foi instalada e 0 process de democratizagSo politico foi formalizad, Os vert libenis, poranto, pasar soprar ‘wp igre brasileiro, Surpreene, todavia, observar ee embore & aberura politica tena sido levada a “Gibo-¢ a Constinicio cidads tenho sido promulgads, autores ards si encotackn ro sisters Drasileiro em enorme medida. A reresio © Srecdesciment a angio exatal no apenas sto mas so desjacs pela populaio inlamad ‘midis sensaconaisa. que tencona legitimar 0 o. A orgonizacio de uma nova edigio da Fanaa ver conoborar esa impresio. Desde 1900, quando da promulgacio da Lei de Gries Hediondos (Lei 8072/90), riha-se o camino posto a0 que parecia sera endéncia no sila, uma vez que em 1984 Lei 7.208, peas restitvasdedieto com 0 escopo de 1 desencarceramento. Agora, observase a jdesmesurada do Dieito Penal com a cragdo Nipos sem atengio 2 subsidiariedade da resposia 3S exighcias de segiranga jurdica que eciar,¢tampouco 3 proporcionalidade Tsso sem ‘mencionar a supressio legal e de diretos e- garanias processials, po que tange 3 execusio penal aimerosexemplos emonstram que sistema pnal vento democriico. Em pimeiro ugar, (promovidas na Le de Crimes Hedlondos eres, desnecesinas € mera rego 30 sabre fats de repercussio medica 'de Novo Cédigo Penal também houve a “eiaclo de dels independentemente da de imerveng3o criminal, e se mantém Tiemenca 0 paradigms falido da prisio como eM O mT pena para todo © qualquer delit. Isso sem falar das Indmeras vezes em que se cogita reduzir a maiordade penal. Ainda,recentemente, foi apresentado Projeto de Let para defniro crime de trrorismo, © qual prope "um tipo indevidamente aberto cam o claro abjetivo de conter manifestagdes poiticas na Copa do Mundo que se aproxima e, se aprovado, prestarse-f toda some de repressio indevida &dissidncia politica e mesmo a ‘movimentos socials consitucionalmentelegtimes, ‘Ao lado da inflagdo de normas puntiva, observa- se 0 desenvolvimento do processo penal de emerpéncia, Sob a alegagio de protesio da sociedade contra a criminaldade complexaeorganizada, direitos garantas individuais sofrem limitagdes em investigagdes, processos execugies de penas em casos especiais. No Brasil, 0 maior icone desse process foi a criagio ddo Regime Disciplinar Diferencado, ao ano de 2003, mas diversos_ outros diplomas trouxeram inovagoes com visas a aumentar a efetvidade da persecugio penal em face dos inimigos estatais de ocaso,tendo- se como justfcativa a necessidade de reprimir grupos ciminosos que nasceram e se desenvolveram gyagas { omissio esatal dentro de suas propiasinstiuigdes, ‘como 0 Comando Vermelho e 0 Primeito Comando dda Capital. Exemplos recentes sio a possibildade de se insiuir um colegiado de juizes para julgamento de organizagées criminosas (Lei 12.6842012) e 0 ataque 4 Independéncia judicial no Estado de Sio Paulo promovido pela Lei Complementar 1.203/12, por meio da afronia 8 garania 8 inamovibilidade dos magistrados, Por ainda & pensar na frequéncia com que se ‘obtém confssdes e delagoes de cidadaos sob tortura ‘em dependéncias policiais em todo o pais, bem como nas execugdes extrajudiciais cotidianas que fazem das policias de $20 Paulo e Rio de Janeiro as mais -volentas de todo o planeta, A Historia é pendulare, apés o periodo ditatorial, foram esculpidos na Constiicio Federal direitos {aranias individuals para proteger 0s cidados do arbitrio estatal. A pritica ndo pode ser diferente no que ‘ange persecugio criminal: processo penal efcaz 6 aquele que produz resultado justo com a devida aplicagio das garantias na maior medida possivel, de ‘modo que o garantsmo integra a eficdcia do sistema penal e no pode ser deixado de lado, ideal dejustigaretrbutiva que vem endo defend pelos meias de comunicacio e por parcela da populagso tem servido de apoio a0 autoritarismo estatal no &mbito ena, alastrando-se para outros setores do. Estado e da sodedade. Passidos 50 anos do malfadado golpe militar quase 30 de regime formalmente democritico, € imprescndivel estamos atentos no $6 20s avangos ‘como, também, aos rectocessos ocorridos, de modo a continuarmos 2 caminhada por uma sociedade mais humana, jsta soliiria. Assim, antes que sea tarde, 6 funglo do TBCCRIM alerar sobre o inadequado uso os insirumentos puntos, em defesa da manutengio do Esado Democritico de Direito que vem sendo conquistado a duras penas. | aT IBCCRIM | Editorial Novo Manifesto dos Criminalistas Brasleiros contra’ 0 PLS. 236/12: ‘posigao democritica contra oabsurdo codificado, 2 Winfried Hassemer: um discrepante em favor das liberdades John Zuluage Punir ou no punir? Algumas pontes entre a justia de transgdo e as criticas a0 direito penal Renan Honério Quinalha 4 Quadra € afins: da parcimonia a0 cexagero Euro Bento Maciel Filho 7 ‘Além das vitrines: reflexdes sobre 0 rolezinbo Rafael Folador Strano __ 9 ‘Notas acerca do problema: advocacia © lavagem de dinbeiro José Danilo Tavares Lobato 10 Critica 20 to que calcula: a politica criminalatuarialea decadencia do pensamento criminolégico Bruno Tadeu Buonicore David Leal da Siva 2 Delinguéncia juvenil ¢ suas causes sociais a teoria da anomia no cendrio brasileiro Patricia Alcalde Vasco {In dubio, pobre do réu Israel Domingos Jorio “4 Rachel Sheherazade © 0 “Coitadismo Penal” Rafael Barros Bernardes da Silveira__15 Coma pataa.oEsudamte Hans Welzel e a modemizacio do Direito Penal Pedro Augusto Simoes da Conceisio _17 Iescasas Raimunda Alexandra Lebelson Seafir 19 I Caderno de Jurisprudéncia {10 DIREITO POR QUEM 0 FAZ ‘Tribunal Regional Federal da 3.* Regio iat Tribunal de Justiga do Estado do Rio Grande do Sul 145, [JURISPRUDENCIA Supremo Tribunal Federal __ 1746 Superior Tribunal de Justiga _ 1747 ‘Tribunal Regional Federal 1747 Tribunal de Justia 1748 odo Brasileiro de Ciéncias Criminais | Com isso em mente, nos Estados Unidos, os projetos denominatos ‘abordam a delinguéncia de um ponto de vista coetivo, pa falta de instituigdes reguladoras e de meios legitimos para co de fins culturais como os principals alvos a serem combatidos. Yexemplo de experimentos que visam reinserirojovem na sociedade, na familia ena escola para sua reabilitagdo, tem-se o Experimento yea Terapia Multisistémica (Multisystemic Therapy). Outrossim, as ges dos projetos comuniirios tim demonstrado que estes so tio quanto a institucionalizagdo no controle da reincidénca. ‘Se considerarmos as atuais condigdes das Fundagdes de Atendimento, , as quais, em sua maria, no possuem sistemas para promover a reabiltagdo do jovem e, muitas vezes, or inserr ainda mats o menor na delinguénci, aaltemativa por programas comunitirios mostra-se mals apiaa combater ‘eausas do ato infracional ‘Dessa feita,o investimento em programas que provenham melhor de vida aos jovens, reinserindo-os na sociedade com os ‘necessérios a alcancar as metas cultuais, deve ser priorizado em ento de medidas privativas de liberdade, focando-se sempre na ca eno adolescente como pessoas em fase de desenvolvimento | Demme, mile. The division of labor in society. New York: The Free Pres, ‘Seoswas, Donald J. Theories of delinquency: an examination of explanation of “delingsent behavior New York: Oxford University Press, 2010. “Menon, Robert K. Soca structure and anomie. American Sociological Review, 1m 3, 1998, p.672-602, In dubio, pobre do réu Domingos Jorio ‘Aproxima-se 0 momento em que académicos de Direito se referitdo co brocardo in dubio pro reo como um mero dito de cuturas arcaicas. A crescente desvaloizaglo das obras doutrndias desenvolvidas por pesquisadores e cientisas do Direito, o @ ascendéncia da preferéncia pelos manuais preparatérios ‘concurses piblicos, elimina gradualmente do campo do Direito reflerivas e transtisciplinares e suspende 0s necessérios ‘com a Filosofia, a Sociologia ¢ a Criminologia. Vivenciamos de adoecimento do senso crtco, que, se ndo for propriamente ealimentado, dfinharé até a mote, ‘sso, para criar um quadro ainda mais preocupant, uma -veneracSo pela jurisprudéncia. As opinides analises detidas do depostas em prol do pragmaticismo jurisprudencial ‘eonciso, no raras vezes despreocupado com embasamento ‘Se €bem verdade que ainda hi julgados, em todas as instincias, Yerdadelras aulas de Direito, nfo hi como negar que outros ‘como sintomas de um decsionismo arrogante, em que, na ‘das hipéteses, se encontra como respaldo da raz3o de decidir 9 ulgado de um tibunal superior. setudante de Direto que, hoje, deixar de consultar as obras mais abalizadas ¢ se dedicar a uma pesquisa processual ¢ cal, certamente teré em mas alta conta e prestgioo brocardo pro socetae. Seu opositor,0in dbo pro reo, jé nao figura folhas processuais quanto nas péginas de livos empoerados. ‘que a maioria dos paises - e entre eles se encontra 0 jeensagre, em nivel consttuconal, a presungio de inocéncia yao cpabildade,c2s0 se prefira). 0 fato & que, mesmo der Swnos, Mircia Ferera; SILVA, Maria Izabel da. Adolescente autor de ‘0 Infacional: una anise dos. relncidemteseterados em medidas Socioeducativas em Uberindia™MG. Revita da. Catéica, Uberinda, ¥. 3, m5, jan/jul. 2011. Disponivel em: . Acesso em: 25st. 2013, Notas: (1) A palavra tem onigem grega: a + nomos. “A significa fata de, ausénc; ‘noms temo sigaficado de le, norma. Porno, significa a ausénca od {alta de norma. (2) Durkheim se refee &anomla quando rela seu estodo sobre a visio do trabalho social, no realizado nenhuma relacdo deta com o crime ou etingubacta juvert {@) Merton clasifica os desvos delinquentes como decorrentes de quatro formas de adapiaio: inovacio,ritualismo, reraimento « rebellio. O titualismo ocome quando o indivi se conforma com a normaserenuncia ‘ascenso social, do buscando os fins socials extipulados, Jo retaimen ode er visto na mendicincis ou nos wbtios de droga, quando se encont lum escape di vida socetria,rejekando-se os mes e fins cultura. Na ‘novag20. como ld referido, die énlase aos fins soils sem, contado, Segui as regrasjuriicasimposts para alcangel, Por fm, na ebeli, 130 6 reeltam-se as norms e fins cutuas, mas também Se busca substiuir ‘novos pares socials Patricia Alcalde Varisco Graduanda pela Faculdade de Letras da PUC-RS. Pesquisadora na drea criminal e delinquéncia juvenil através de intercimbio nos Estados Unidos ~ University of Miami, ‘Advogada. dos ordenamentos em que vige esse notavel principio emancipatério ‘gaantista, a divida tend a se resolver em favor da sociedade. “Em favor da sociedade?” Que ganho tem a sociedade com a condenacio de um inocente? Digamos mais: que beneficio ela aufere com a condenacio duvidosa? Em um primeiro momento, quando a prestagio de contas é dada, homenagela-se a seguranga e louva-se eficigncia punitiva. Mas o fato é que tais condenagdes representam ‘um imenso vazio. No fim, nlo se sabe se foi punido o culpado, ou hhorrendamente injustigado 0 inacente, e aquele agora tem assegurada de vez sua impunidade. CondenagBes destituidas da mais limpida certeza $30 como um veneno que sorratelramente intoxica, pouco pouco, o corpo social. ‘A maicria dos nossos opositores rerucaria: “Ndo vige na fase da

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