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| : Parte 2 A organizacao do processo didatico [Nto posso ser professor sem me por dinte dos alunos, em revelar com faclidade ou relatincia ‘mina maneira de ser, ce pensar paliticamente. [Ni posso escapar a apreciagt dos alunos. Ea smaneira como eles me perceber tem importan- cla capital para omeu desempenbo. Dat, entdo, «que umna das minhas preocupagbes centraisdeva ‘serade procuraraaproximagio cada vez maior centre o quedligo eo que ago, entre o que pareso sereo que realmente estou send. C4 Precisamos aprener a compreender a sgn ficagdo de um silencio, ou de um sorrso.ou de ‘uma etirada da sla. © tom menos corés com ‘quefoi feta uma pergunta. final, oespaco pedagogico é um texto para er constantemente "ido" incerprecado, “escrito reesrito”. Neste do, quanto mals soidariedade exist entre oeducador eeducandos no"rato" deste espace, ‘tantomals posibilidades de aprendizagem se abremna escola (Ensinar exige comprometimento ~PAULO FFREIRE, 1999, p.108) 101 | Capitulo 4 O planejamento da pratica docente A pratica educativa, como intencional e sistematica, precisa ser organizada previamente, que se concretiza pormeiodo planejamento das agdes didaticas e pedagogi- cas da escola. Algumas indaga¢0es podem ser formuladas ‘como pretexto para o debate sobre 0 ato de planejar, foco deste capitulo, O que entendemos por planejamento? De que maneira essa pratica tem sido vivenciada em nossas escolas? Que experiéncias e impressoes temos dessa pri tica? Como costumamos planejar nossas disciphinas e au- Jas? Existe relagio entre o planejamento didatico ¢ 0 Pro- §eto Politico-Pedagégico (PPP) escolar? Qual o papel do PPP das instituigdes em que atuamos nos momentos de estudo, avaliagao e tomada de decisoes? E possivel trans- formarmos o planejamento formal e burocratico, de hoje, ‘em uma pratica coletiva e participativa? ‘Ao voltarmos @ atencZo para o planejamento da aco docente ndo desconsideramos, de modo algum, a necessidade do professor conhecer e articular seu traba- Iho ao planejamento escolar e educacional, outros dois nlveis de onganizacio da pritica educativa. O texto inicia interrogando sobre o significado do planejamento para os professores, no que se apdia em relatos colhidos pelas autoras em suas itinerancias pelo 103 Fats, |. M.S; Sales, J.0.C. 8: Braga, M, M.S. ; Franga, M.S. LM, espago da escola piblica e privada, Advogando em favor € etapas de elaboracio. Ao examinarmos os elementos constituintes dos planos de ensino (objetivos, contet- dos, metodologia, recursos e avaliagao) lembramos que os desafios da organizacio do trabalho docente devem (1994), Veiga (1993, 1998), Lopes (1903) e Damis (1996). 4.1. A hora de planejar ~ da necessidade de superar 0 muro de lamentagoes Via de regra, em todo inicio de um perfodo letivo ~ seja ano, semestre, bimestre ou qualquer outra fragio de tempo ~ as professores sto convocados para o pla- nejamento de suas atividades, As Semanas Pedagogicas, hhamados os perfodos de planejamento nas escolas, se multiplicam, assim como cresce o niime- ro de professores resistentes a esta tarefa. lustram esse ‘comportamento depoimentos como: ‘Tudo de novo? Eu jase o que tenho que dar. Falta- tempo o contesido que mi [Nao ite. Farel o meu em casa. Afin tregar e vé-o arquivado na gaveta (Relato 2). Conversando com os professores percebemos que fos mesmos, apesar da aversio manifesta em relacio a este momento na escola, nao negam a importancia do planejamento, Pelo contrario, reconhecem sua necessi- dade e atestam sua presenca no dia-a-dia de suas vidas 104 Didatica e docencia pessoal e profissional. “Tudo que fazemos exige uma certa preparacto. Pensar antes de fazer. Decidir como vamos fazer. ‘Vigjar, comprar, dar aula, também (Relato 3). Planejar € preciso ¢ eu o faro. O planejamento na escola, organizado por ela € que € chato,improdu- tivo (Relato 5), Uma explicagdo possivel para a resisténcia de parte dos professores brasileiros ao planejamento encontra-se nos resquicios de uma pritica pedagogica adotada, sobre- tudo,nos anos da ditadura, sob os auspicios dotecnicismo ceducacional. Nesse perfodo prevaleceu o planejamento ‘como mecanismo de padronizacao e controle do trabalho dos professores, privilegiando, sobremaneira, a forma, a ‘redagao técnica e os formularios, em detrimento do con- tetido e dos fins da pritica docente. Esta abordagem do planejamento favoreceu 0 desenvolvimento de priticas docentes individualistas, fragmentadas e promotoras da copia, da reproducio, do silencio e do ativismo, ‘Com o processo de reabertura politica nos anos sub- seqgentes, quando esta tendéncia se arrefeceu,voltamosa ‘exercitar as reunites, as experigncias coletivas na escola, nas ruas, nas entidades politicas e classistas. Prevaleceu ‘uma forte exitica ao planejamento burocrético, delinean- do-se um movimento de dentincia do carater alienado e alienador dos processos de onganizagao da escola edo en- sino, pondo em questio as agoes educativas, em particu- lar, pratica do planejamento (CANDAU, 1983). Esta retomada, entretanto, nao teve tempo sufi- ciente para consolidar uma renovagio no modo de orga- nizar a pratica do professor, pois a década de 1990 foi o cenftrio da reconfiguragio do tecnicismo, marcado, des- 105 Fevias |. M.S; Sales, JO. C.B; Braga, M.M.8.; Franga, M.S. LM ta vez, pela globalizacao e pelo neoliberalismo. Este or- denamento politico, social e econémico tem contribuido para a desmobilizagao dos grupos e categorias profissio- nis, precarizando as situagoes de trabalho. Tal fato tem repercutido de diferentes formas no planejamento de ensino, como revelam os depoimentos selecionados: (Como participar da semana pedagigica se tenho hhorro,eentregar, ainda hoje, o resultado das pro- vas de recuperacao? (Relato 6). ‘Nao fuiao planejamento de minha escola porque es- tavanomeu cursode pos graduacio ceste me custa muito caro (Relato7). Plancjar pra qué se nem sei se vou estar Id no pro- ‘ximo ano? Voc8 vem acompanhando a novela dos contratos temporirios? (Relato 8). [Grifos nossos) Osrelatos,além deembleméticos de fatores contex- tuais restritivos a0 desenvolvimento efetivo do planeja- ‘mento escolar, sinalizam que s4o variados os elementos que afastam os docentes da tarefa de projetar sua pratica pedagogica. As resisténcias existentes nao so, na sua maioria, fortuitas. Sua reversio demanda clareza de pro- pOsitos, tempo e, sobretudo, organizacao politica para 0 enfrentamento das condicdes desfavoraveis de trabalho presentes no magistério, ‘Compreender o planejamento como instrumento de organizagao da lida docente apresenta-se como passo neces- sitio para ressignificar esse fazer junto 20 coletivo dos pro- fessores. Enessa dinero que caminhamos ao tratar do atode planejar numa perspectiva pedagogica transformadora. 42. A pritica do planejamento ~ dos sentidos aos seus principios (O planejamento € ato; € uma atividade que projeta, organiza ¢ sistematiza o fazer docente no que diz res- 406 Didiética e docéncia peito aos seus fins, meios, forma e contetido. Pensando sobre 0 nosso trabalho ajustamos no s6 os contetidos [programiticos ao calendario escolar (conforme registra © Relato 1), mas definimos também outras questdes de fundamental importancia. Vejamos algumas: O que que- remos que nossos alunos venham a fazer, a conhecer? Por que este contetido e nfo aquele? Quais atividades? ‘Com qual tempo e recursos contamos? fazemose precisamos realizar para atingir nossos objeti- vos. E um ato decisorio, portanto, politico, pois nos exi- geescolhas, oppbes metodolbgicas e tesricas. Também & tico, uma vez que poe em quest2o idéias, valores, cren- a € projetos que alimentam nossas priticas. ‘Com oplanejamento, esperamospreveragbes econ

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