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Capitulo I 29 processo psicodiagndstico Caracterizagio. Qbjetives. Mone Engi to. Maria L. 8. de Ocampo e 2 E, Garvia Arzend io do processo psicodiagniéstico, tal como o Tradicionalmente era con: i situago em que o psicélogo era nestes (ermos que se fazia o encamii casos especificavase, inclusive, q ria aplicat. 4 indicago exa formul tradicionatmente sentia sua tareta como o uma solicitagao com as caracterist satisfeita seguindo os passos ¢ utilizando os insirum cados por outros (psiquiatra, psic: gista, etc.). © abjetivo paciente, por se nm cuja presen imprescindivel; alguém de quem se espera que colabore ¢l mente, mas que s6 interessa como objeto parc “aquele que deve fazer o Rorschach ou.o Teste das Duas Pes- soas”. Tudo que se desviasse deste propésito ou interferisse I _..0 proceso psicedingndsico e as técnicas proje em seu sucesso eta cor afta e complica 0 ‘Terminada a aplicagio do Gitimo teste, em geral, despe- dia-se o paciente ¢ enviava-se ao remetente um informe elabo- rado com enfoque atomizado, isto é, teste por teste, € com uma ampla gama de detalhes, a ponto de incluir, em alguns casos, o protosolo de registro dos testes aplicados, sem Jevar en conta que 0 profissional remetente néo tinha conhecimentos especi- ficos suficientes para extrair alguma informagao itil de todo este material, Este tipo de informe psicolégico funciona como uma prestacio de contas do psicdlogo ao outro profissional que € sentido como um superego exigente ¢ inquisidor. Atvas desse desejo de mostrar detalhadamente 0 que aconteceu entre seu paciente ¢ ele, esconde-se uma grande inseguranga, fruto de sua frdgil identidade profissional. Surge, entio, uma neces- sidade imperiosa de justificar-se ¢ provar (¢ provar pare si) que procedeu corretamente, detalhando excessivamente o que acon- teceu, por medo de nao mostrar nada que seja essencial ¢ cli- nicamente til. Esses informes psicolégices sao, a luz de nos- sos conhecimentos atuais, una fiia cnumeragéio de dados, tragos, formulas, etc., freqiientemente nfo integrados numa Gestalt que apreenda o essencial da personalidade do paciente ¢ per- mita evidencii-lo, psicélogo trabalhou durante muito tempo com um mo- ico que, para proceder com efi- iderado como uma perturbacdo que dade necessétias Em nossa opinido, o psicélogo freqiientemente agia assim © ainda age — por canecer de uma identidade sélida que the petmita saber quem € e qual é seu verdadeiro traballio dentro das ocupagées ligadas & satide mental. Por isso tomou empre: tado, passivamente, o modelo de trabalho do médica clinico (pe- diatra, neurologista, etc.) que the dava um pseudo-alivio sob dois agio de nido 6 que se referia a0 sist cionsl dingimico paciente e dimi relagdo pode despertar, Assim m si mesmos 0 objetivo do psi eniie 0 psicdlogo & 0 para evilar pensamentos ¢ sentimentos que afetos (pena, rejei¢do, compaixio, medo, etc.) ‘Mas nem todos os psicSlogos sgirain de a desctigdio. Muitos experimentaram 0 desejo de Go auténtica com o paciente. Para pé-lo em pr de abandonar o modelo médico enfientando por desprotegao e, por outro, a sobrecanga afetiva pelos d de que eram objeto, sem estarem preparades para isso. Poclia acontecer entio que atuassem de acorda co: é zidos pelo paciente: que se deixassem invadi superprotegessem, 0 al contti-idenlificagao projetiva com 0 paciente, inconveniente porque interferia em seutrabalho, Devemos levar em conta que é escassa a confianga que podemos ter em um dieynés co em que tena operado este mecanismo, sem po! de corregao posterior. Devido a difusio crescente da psican no Ambito ul rio € sua adogzio como masco de refe- réneia, os psicdloges optaram por aceit trabalho, diante da necessidade de achar wmi tificagio que thes permitisse crescer c se fortalecer. Esta aqui- come modelo de sentido a0 proceso psicodiagn ico € as tdenleas proje sigio significou um progresso de valor inestimavel, mas pro- vocou, ao mesmo tempo, uma nova crise de identidade no psi- célogo. Tentou transferir a dindmica do proceso psicanalitico para 0 proceso psicodiagnéstico, sem levar em conta as racteristicas especificas deste. Isto trouxe, paralelamente, uma distorgao ¢ um empobrecimento de carter diferente dos da ha anterior: Entiqueceu-se a compreensao dinimica do caso mas foram desvalorizados os instrumentos que no eram utili zados pelo psicaualista A técnica de entrevista livre foi supes- valorizada enquanto era relegado a um segundo plano o vator los testes, embora fosse para isso que ele estivesse mais pre- parado, Sua atitude em relagio ao paciente estava condiciona- da por sua verso do modelo analitico e seu enquadramento especifico: permitir a seu paciente desenvalver o tipo de con- duta que surge espontaneamente em cada sessio, interpretar ‘com base neste material contando com um tempo prolongado para conseguir seu objetivo, podendo e devendo ser continen- (e de certas condutas do paciente, fais como recusa de falar ou brincar (caso trabalhasse com criangas), siléncios prolonga- dos, faltas repetidas, atrasos, ete. Se o psicélogo deve fazer um psicodiagndstico, o enqua- dramento no pode ser esse: ele dispSe de um tempo limitados 1a duragiio excessiva do processo torna-se prejudicial; se ndo se colocam limites as rejeigdes, bloqueios e atrasos, o trabalho fracassa, © este deve ser protegido por todos os meios, Em re- ago a téonica de entrevista livre ou totalmente aberta, se ado- tamos 0 modelo do psicanalista (que nem todos adotam), de- vernos deixar que o paciente fale o que quiser ¢ quando qu {sto &, respeitaremos seu timing. Mas com isto cairemos numa confuusdio: no dispomos de tempo ilimitado, Em nosso contra: to com o paciente falamos de “algumas entrevistas” e as vezes até se especifica mais ainda, esclarecendo que se trata de trés ou quatro. Portanto, aceitar siléncios muito protongados, lacu- nas totais em temas fundamentais, insisténcia em um mesmo tema, orque & 0 que o paciente deu”, é funcionar com uma exemplo: se o paciente chega muito urasado @ sua sessio, 0 terapeuta interpretaré em fungae do material com que co aso pode o4 fico mas sem g: e que post ser concluide preciso. Pode otorrer ento que protongue a en pendo seu enquadramento, ou interrompa o Leste; tudo turba o paciente e anula sev traballto, jd que 1 porque ataca ditetamente o enquadramenio previemen- c estabelecio. Nio resta aliticas de ‘um momento (e di em que teve de defi nosso ponto de vista canaliticas, a tarefa psicodiagndstica referéncia que Ihe desse consisténcia ¢ u cialmente quando 0 diagndstico 0 dos em fungao de uma possivel tc psi- marco de ica, espe- realiza- a nisticu © a te sas projetinas ‘ tarefa psicodiagnéstica e a teoria ea técnica psicanaliticas rea lizou-se por wm esforgo mituo. Se o psicélogo trabalha com sou ptéprio marco de referéneia, o psicanal confianga e esperangas na cortegdo e na ulilidade da is ‘so que recebe dele. O psicanalista se abriu mais a ini proporcionada pelo psicélogo, ¢ este, por seu lado, a0 sentit-se mais bem recebido, redobrou seus esforgos para dar algo cacla ‘vez melhor. Ate ha pouco tempo, o fato de o informe psicolégi- luir a enumeragio dos mecanismos defensivos wllizados pelo paciente constituia uma informagio importante, No estado atual das coisas, consideramos que dizer que o paciente wiiliza a dissociagdo, a identificagdo projetiva e a idealizagéo é dar uma informago até certo ponto iil mas insuficiente. Possivelmente, todo ser humano apela para todas as defesas conhecidas de acor do coma situagio interna que deve enffentar. Por isso, pensamos que 0 mais itil € desorever as situagdes que poem em jogo'essas ua intensidade e 8 probabilidades de que sejam efi- isideramos que o ferapeuta extraira uma de um informe dessa natureza. Sogo teve de percorrer as mesmas etapas que um individuo percorre em seu crescimento. Buscou figuras boas se identificar, aderiu inyénua e dogmaticamente a certa ideo- logia ¢ identificou-se introjetivamente com outros profissio- nais que funcionaram como imagens parentais, até que pode questionar-se, as vezes com crueldade excessiva (como ado- lescentes em crise), sobre a possibilidade de ndo ser como eles Pensames que o psicéloge entrou num periodo de maturidade a0 perceber que utilizava uma “pseudo” identidade que, fosse qual fosse, distorcia sta identidade real, Para perceber esta uilti- ma, teve de tomar uma certa distancia, pensar criticamente 10 que era dado como inquestiondvel, avaliar 0 que era positivo ¢ digno de ser incorporado € 0 que era negative ou completamen- te alheio a sua atividade, ao que teve de renunciar. Conseguiu assim uma maior autonomia de pensamento e pritica, com a qual niio 56 se distinguird e fortalecera sua identidade prop L coldgica inerente a seu campo de aco. Caracterizugdo do precesso psicodiagnéstico ‘20 qual una pessoa (0 paciente) pede q) psicdlogo) accita @ pedido ¢ se compromete cologo-paciente ou psicdlogo-grupo fa lada, cujo objetivo é conseguir uma descr ‘o mais profunda ¢ co: paciente ou do grupo fam de algum aspecto caract de devolugio). Objetivos 2 Em nossa caracterizagio do processo p adiantamos algo a respeito de seu ol enigéncias. Alem ca do caso tal como aparece no a 12 oO. processo psivodiagnastce © es téenicus proj 05 adaptativos, trataremos de formular recomendagdes ter péuticas adequadas (terapia breve ¢ prolongada, individual, de , de grupo ou de grupo familiar; com que freqiiencia; se € recomend:ivel um terapeuta homem ow mulher; se a terapia pode ser analitica ou de orientagao analitica ov outro tipo de se 0 caso necessita dé um tratamento medicamentoso paralelo, etc.) Momentos do proceso psicodiagndstico Segundo nosso enfogue, reconhecemos no proceso psi- codingndstico os seguintes passos: 1°) Primeito contato ¢ entrevista initial com o paciente 22) Aplicagdo de testes e técnicas projeti 3) Encerramento do processo: devolugio oral ao pacien- te (e/ou a seus pais). 4°) Informe escrito para o remetente. No momento de abertura estabelecemos 0 primeiro cone tato com o paciente, que pode ser direto (pessoalmente ou por telefone) ou por intermédio de outta pessoa. Também mos aqui a primeira entrevista ou entrevista inicial, & qual nos seferitemos detalhadamente no capitulo 11. O segundo momen- to consiste na aplicagao da bateria previamente selecionada & ada de acordo com 0 caso. vimos aqui o tem= Po que 0 psicdlogo deve dedicar ao estudo do material recothi- do, O Lerceiro 0 quarto momentos sao integrados respectiva- mente pela entrevista de devolucio de informagio ao paciente s) € pela redagdo do informe pertinente para 0 pro- © encaminhou, Estes pasos possibilitam infor- ‘ar 0 paciente acerca do que pensamos que se passa com ele a recomen tomada em seu caso. Faz-se 0 mesmo em relag3o a quem enviou 0 caso para psicodiagnéstico. A forma ¢ o contertdo do informe depenciem ce quem o solicitou e do que pedi que fosse Enquadramento Ji nos referimos 4 necessidede de u mento ao longo do processo psivo ve enteridemos por enquadramento & es pontos a respeito distoy ul — Honordtrios (caso se trate de de uma instituigao paga), Nilo se pode definir o enquadramento com maior precisiio cas do paciente e dos Por isso vecomendamos esclarecer desde o comego os ele- tos idramento adequado pgra a caso e po ‘© & um elemento tio importante quanto dil na tarefa psicodiagnéstica, O que nos parece m vel é uma alitude permedvel ¢ aberta (tanto para con as neces- sidades clo paciente come para com as pi belecer condigdes que'logo se tornem insustentiveis (1 limites ou limites niuito rigidos, prolongamento do delineamento confuso de sua tarefa, etc.) € qu especialmente @ paciente. A pl condigao valiosa para o psicdlogo acertadamente diante do caso € 0 scomentii- af O proceso, 1 apropriado. Também 0 & quando sabe discriminar entre uma necessidade real de modifiear o enquadramento prefixado € uma ruptura de enquadramento por atuagao do psicélogo indu- ida pelo paciente ou por seus pais. A contra-ide di jetiva com algum deles (paciente ou pai) pode induzir a tais erros.

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