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| “ Haaeioer dos | Santos Homem e M | NO CENTRO DA RELAGAO HOMEM-MAQUINA ESTAO 08 LACOS QUE UNEM DOIS DINAMISMOS: 0 DINAMISMO DO ESP{RITO VIVO DO HOMEM FE 0 DINAMISMO DO ESPiRITO CONCRETIZADO NO MAQUINISMO No centro de Paris hé uma praca ~um cfreulo de edificios classicos em torno de um obelisco, coluna-simbolo do po- der temporal, esculpida no chumbo fundido dos 1200 cauhdestomados do inimigo por Napoledo na batalha de Aus- terlitz. Mas quem passeia 03 olhos pela place Vendime é convidedo a admiré-la nio apenas sob o prisma histérico ¢ estético ~ algo mais ocorre ali que faz dessa praca, alémde um lugar no espaco, uma imagem do tempo. E que, num certo seg- mento do cireulo, concentram-se 09 grandes joalhiciros do mundo - Bulgari, Van Cleef & Arpels, Cartier... — ostentando em suas vitrines a riqueza cor- porificada em pedras, solidificada nos diamantes. E, no extremo oposto, a IBM, cujas vitrines exibem “joias” de ( outra netureza, afirma que a riqueza, hoje, éfluente, invi- sivel, abstrata. Pois em vez. de obictos, mostra processos; ¢ em vez de um valor condensado na coisa rara, descobre-se um valor que se revela no modo como os dispositives tecno- cientificos so capazes de transformar as propriedades da yelocidade, do calor, da vibragio, da meméria, da luz em informagio. E, de repente, tudo se passa como se pudéssemos per- ceber, reunidos numa tinica imagem, na imagem da praga, © tempo do pasado eo tempo do presente. O tempo... 4 transformagao do valor em informagao. A terceira revolucdo tecnolégica, a revolugao eletrd- niea, consagrou o valor da informacao como riqueza. E em- bora tal consagracdo merecesse atenco, pelas implicacées que acarreta em nossas vidas, nfo é dela que Vamos tratar (aqui. Nosso tema é a relagio homem-mquina; por isto, importa destacar nao o valor caleulivel, quantitative, da informacio, mas sim o seu valor qualitative, propriamente incomensuravel, que se encontra no amago da relagio entre © homem e a maquina. E, para apreendé-lo, nada melhor do que comecarmos pelo ponto de encontro entre a arte ea | tecnologia. \ Ao langar seu filme F la nave va — essa magnifica home- nagem a épera, i quintesséncia das belas artes ~ Fellini afirmou, numa entrevista, que atravessivamos um perfodo de crise tremenda na criagao e que precisavamos de um renascimento, No entanto, seu préprio filme, realizando- se entre 0 ocaso da épera e 0 nascimento do cinema, Parecet-me sugerir que um renascimento s6 se torneria pos sivel através de uma nova alianca entre a.artee.a técnica. Todos nés sabemos como sio perturbadas e pertur- badoras as relacies entre a arte e a téénica no mundo mo- derno. ‘Thdos sabomos também o quanto a cultura ocidental habituou-se a colocar a questo dessas relagdes em termos de dualidade, de alternativa, até mesmo de polarizacao. de oposigiio e de conflito. Todos sabemos, enfim, que a arte e Zenica podem manter relagdes de exploragao mitua. Mas no nos interessam as rivalidades, ou a pretensa superio- ridade de uma sobre a outra: o que devemos, e podemos, é querer ir ao encontro da nova alianga, do renascimento. Para que tal acontecimento se dé, é preciso que se produza um trabalho que seja ao mesmo tempo, e neces- sariamente, artisti¢o ¢ técnico. Tomemos um exemplo, pa- ra tornar as coisas um pouco mais palpaveis. A RELACAO HOMEM- INSTRUMENTO MARCA UMA ALTERIDADE PARA COM O CAMPO DA PERCEPCAO PURAMENTE HUMANA ~>Na segunda metade do séeulo XIX, 0 fotégrafo americano Edward Muybridge faz uma descoberta técnica: monta um dispositive cronofotografico para captar uma série de ins- tantineos, os da corrida de um cavalo e, depois, inventa 0 zocpraxiscspio, para projetar as imagens em ripida sucessio. Mas no momento da revelacio, rifica-se uma revelagio que poderia ser mais artistica: diante de si Muybridge vé que o movimento tem uma realidade que ficara escondida do olho humano e que o engate olho hu-_ mano - olhomecanico desvelou; Maybridgeyé surgir'a imagem inédita, a que mostra o esbogo de voo de um cavalo em pleno galope, com as quatro patas no ar. E, sea realidade se osten- tana superficie da imagem, é porque ohomem eo aparelho { souberam se expor, juntos, & sua presenga, souberam servir \de correia de transmissao para que ela se manifestasse. Hi, portanto, invengio téenioa e eriagso artistica. Mas > pispsrtante.taven senate on o importante é que aqui uma e outra existem juntas, e consa- pauaunacenarelacto} clasts Ronee gaia guia el elasao que éde nag, que €de pro: > Tomemos ainda um segundo exemplo de trabalho que seja 10 mesmo tempo e necessariamente artistico e técnica. Trata-se da invengio dos irmios Luniére e da primeira criagdo cinematogréfica. A esse respeito, convém nos repor- tarmos as observagbes interessantissimas de Andrei Tarkovski. O que diz o cineasta soviético? “Ainda nao consigo esquecer essa obra de génio, exihida no séeulo pasado, o filme com o qual tudo comegou —L’arrivée d'un trainen garede la ciotat.” O filme feito por Auguste Luni- are era simplesmente o resultado da invengio da cdmera, do filme e do projetor. O espetsculo, que dura epenas meio minuto, mostra um trecho da plataforma da estacao banhada de sol, com damas e cavalheiros perambulando, ¢ um trem vindo das profundezas do quadro e dirigindo-se para a camera. Assim que o trem se aproximon, houve um Pinico no teatro: as pessoas deram um salto e safram cor- vendo. O cinema nasceu nesse momento; nio era apenas uma { questao de técnica, ou simplesmente um novo modo de reproduzir o mundo. 0 que veio & luz foi um novo principio estético. 2 “Pela primeira vez na histéria das artes, na histéria da altura, ohomem encentrou o modo decaptar uma impros- sao do tempo. E simultaneamente a possibilidade de repro- duziresse tempo na tela todas as vezes que quisesse, de repe- tilo,devoltara cle. Qhomem adquiriu uma matriz para © tempo atuall...] possibilidade de imprimir ei celuldide 4 atualidade do tempo [...]- 0 tempo impresso em suas formas factuais ¢em suas manifestacdes: essa éa suprema idéia do cinema como arte [...]". Seria impossivel ex- iher do que o fez Tarkovski a nova alianga entre x Wenley, pow acl ura noes site lA ue a de, ¢ com, uma intervencio técnica, exemplos basiam para nos sugerir onde devemos | os sinais d % pLevarem conta esta relagio é, antes de tudo, tornar-se sensivel is mudangas acarretadas pela técnica em nossa pereepeao. Aparentemente, isso é simplissimo ~ e dizé-lo parece Sbvio — entretanto, devemos reconhecer que com nuita freqiiéncis as metamorfoses da percepgio, para empregarmos a expresséo de Walter Benjami caleadas em proveito de uma concepsio “natural”, de uma concepgio pré-tecnolégica. Como se pudéssemos ter a mesma percepcao que o homem pré-industrial. E. no entanto, talvez seja a isto que Stockhatisen se refere quando observa que do ponto de vista musieal a matoria das pessoas ainda se encontra presa ao final do século XVIIL... A razio desse recalque das metamorfoses da percepsaio poderia ser atribuida 4 enorme dificuldade que 0 homem moderno tem em superar a relagdo senhor-escravo que mantém com a miquina. Com efeito, parece que o homem de braco-de-ferro que n fogado com ot *E, no entanto, as condigses estio reunidas para que ele aprenda a levar em conta as‘metamorfoses da percepsad e, Cena de A chegada do trem na estacao de Ciotat, Lumik we 6 Ronni ves Wdrargo tic em conseqiiéncia, a estabelecer uma nova relagio homen- maquina. Poderiamos desencadear esse process modesta- e, quase como um exercicio. Bastaria comegar a consi- derar 0 objeto técnico nao como objeto titil pronto para ser usado, nfo como uma arma ou ferramenta, que é que faze- mos habitualmente. Bastaria comegar a considerar o objeto \filosofida técnica nos ensina a fazer a distingao, indo afirma que a ferramenta é 0 objeto téenico que ‘olongar ¢ armar 0 corpo para efetuar um ge 0 instrumento €0 0 ‘que permite lapiar 0 corpo para ober uma percepgao entido, otistrumento é a ferramenta de per- wento? O filésofo responde: ther uma informagio sem efetuar no mund ago prévia. is &s descobertas de Muybridge e de Asia ‘Lumizre, Dir-se-ia que, em ambos os casos, nos deparamos com uma relacZo homem-instrumento em que o que io & agir sobre o mundo, mas sim acolhé-Io ¢ toraar visive éspetio. Eo que jo-nos envia, 0 que nos toca — realidade escondida do ‘movimento, — no caso de Muybridge, impressdes do tempo, no Lumiere. ‘Tudo se passa entao como se nao tratasse de exercer um poder sobre 0 mundo on contra ele, mas de ampliar a poténcia de perceps: para ir ao > Para uni fewele: We clare ques fomom se apaga, se ha despe sonalizagao, esta nio é uma deficiéncia, um defeito, nio é uma evolugao negativa: muito pelo contrério, 0 que ohomem perde em termos de “dominio” e de “controle”, ganha em “‘delicades de percepcdo”, para empregar os termos de Lewis ‘Mumford, numa palavra: 0 que perde em preconceito, em arbitrariedade, ganha em precisio e em abertura de espirito. relagio homem-instrumento colhe uma informacig. z versa da informagiio co percepcdo puramente humana, pois sem a relago homem- | instrumento ela teria pasado despercebida, seria até mes- Amo, talver, inexistente. Mas, apesar de tudo, ocorre que essas duas informacdes sao, cada uma a seu modo, um sinal do tempo e do movimento do mundo, isto é, um sinal de transformacao, da eterna criagio e desaparecimento di formas ~e, como tal, um sinal dnico porque assume a ‘manifestayZo do presente, do acontecimento. A informagio Seria, portanto, esse algo mais que faz tods a diferenca nos permite saber onde estamos e para onde tendemos. A informagio seria aquilo através do qual © mundo nos fala Aeleve de nbs, se sabenios ertar prowios, ¢ llenciovos, para ouvir. ‘odemos dizer entio que ha dois tipos de percepgad — (Pama percepeio Gireta, a que seria do Komem, © uma jereepsao indireta, a que se faria através da maquina? Pirecere que tie e doveisslaro homem o lastremeato © considerar este iltimo como um filtro que, para o bem e para o mal, desnaturaria a percepgao da realidade; & preciso experimentar ter uma pereep¢do direta com cu sem instrumento. E o que poderia significar uma percepcao direta, sendo essa capacidade de se expor resolutamente & qualidade da informagio, ao seu valor incomensuravel como sinal do tempo e do movimento? mos uma percepsio.direta da relacio poh 0, descobrimos que os mecanismos nos fornecem uma informagio que vem do exterior, mas, no 1o-em_que oinstrumento a f& pr de Gamcuig, eocquo lnsieitk 1a técnico. Assim, a informagio que nos toca trabalhada por uma outra informacao. Mas essas duas ordens de informugdo 46 adquirem valor para née nao aa maquina. maior ou menor qualidade que resulta disso dépendera, portanto, tanto do trabalho do instrumento quanto de nosso “trabalho”, isto 6, de néssa abertura de espirito e nossa atengao para com as duas ordens de informagio. Em outras palavras: quanto mais harmeniosa ecomplementar a relagio homem-instrumento, mais 0 homem leva em conta a tecnicidade e, quanto mais a considera, mais compreende o que odistingue da miquina, mais deseavolve a especificidade do ser vivo perante 0 mecinico. O MAQUINISMO E UM GESTO HUMANO DEPOSITADO E FIXADO 8 ‘Ter uma percepgio direta da relagio homew-tastrumento compreender profundamente~a técnica, 6 antes de aperceber dos lagos qu entre dois est le espirito: 0 do momento em que ay ate inventor de méguina que um dia dex forma a todos os seus mecanismos. € que esti ali, congelado, 1 niall rente. O que estoa dizendo parece brincadeira, mas & 0 que ocorre efetivamente. Alias, 0 personagem de um romance de Robert Pirsig-0 diz expressamente: “A motocicleta é um sistema. Um sistema real [...]. A motocicleta é isso, um jema de idéias moldado em ago. Nela nfo hé pegax nem formas que nao sejam fruto do pensmento de alguém! Percebi que aqueles que nunca trabalharam com aco tém dificuldade de enxergar como a motocicleta é, antes de mais nada, um fendmeno meatal. Eles associam o metal a diver= sas formas ~ canos, bielas, travas, ferramentas, pecas — to- das fixas ¢ invioléveis, encaradas como essencialmente fisi- cas. Mas para quem trabalha com mecanica, calderaria, forja ou soldagem, 0 “ago” nao tem forma alguma. 0 aco pode tomar qualquer forma, se se tem alguma habilidade, e qualquer forma, menos a que se deseja, se nao se tiver habilidade. As formas, como a deste tucho, sao oresultado do trabalho com o ago. O ago tem tanta forma propria quanto essa velha camada de sujeira que hd sobre o motor. Essas formas surgem todas da eabega de alguém. E muito importante perceber isso. O ago? Diabo,o ago também salu da cabeca de alguém! Ele nao existe na natureza. Qualquer homem da Idade do Bronze poderia confirmar isso. A natureza tem um potencial para criar 0 aco. Mais nada. Mas 0 que potencial? Isso também saiu da cabega de alguém!... Fantasmas!” A motocicleta é, portanto, antes de tudo, um fendmeno mental. A frase é facil de dizer e de ouvir; e parece completamente banal. Mas nio nos enganemos. Estamos t20 habituados a ver 0 objeto técnico como coisa itil que é preciso muito descondicionamento para chegar lé. Se 0 objeto técnico é um fendmeno mental que toma corpo, é porque alguémo inventou, o pés no mundo. O que_ é entao inventar? Em outras palavras: 0 que é que toma corpo, ¢ como? A pergunta é importante, pois nos faz penetrar no amago da relagdo homem-maquina, mes também no Amago do funcionamento do espirito. ‘Hi um livro que responde a esta pergunta. E odo grande filésofo das maquinas, Gilbert Simondon, intitulado Du mode d'exiscence des objets techniques. Simondon escreve: “O homem, intérprete das méquinas, é também aquele que, a partir de seus esquemas, fundou as formas rigidas que permitem @ méquina funcionar. A méquina é um gesto humano depositado, firado, que se tornou estereatipia e poder de repeticao. A balanga de dois estados estaveis foi pensada e construfda uma vez; 0 homem representou para si mesmo 0 seu funcionamento um niimero limitado de vezes, © agora a balanga realiza indefinidamente a sua operacao de reversdo de equilibrio. Ele perpetua numa atividade determinade a operagio humana que a constituiu} através c 0 proceso ocesso fisico de funcionamento dessa balanga ‘onstruida. Entre o bomen que es miquine que funciona existe uma relagio de 4sodinamismp [...]. A relagio anal6gica entre a maquina e 0 homem nao se encontra no nivel dos funcionamentos corporais: a miquina nio se alimenta nem percebe, nem descanca — a literatura cibernétiea explora falsamente uma aparéncia de analogia. Na verdade, a Verdadeira relayaa anslogicn © (gare funciouamento mental do mem_e o funcionamento fisico de maquing. Esses dois fEudionsiontes eke peeeialoe: eto aa vida cotidiens, mat invencio. Inventar é fazer funcionar seu pe: ‘uma m&quina, [...] segundo 0 dina- -nio vivido, eaptado porque produzido, acompanhado em sua genese. A maquina é um ser que funciona. Seus mecanismos coneretizam um di- us ue existiu uma vez no pensamento, que 0. 0 dinamismo do pensamento, durante a converteu-se em formas que funcionam. Inversamente, a miquina, 20 funcionar, sofre ou produz um certo niimero de variagdes em torno dos ritmos fundamentais de sew funcionamento, tais como resultam de suas formas definidas, Séo estas variagdes que sio significativas, ¢ clas so signifieativas em relagio ao arquétipo do funcionamento que é do pensamento no processo de invengao. £ preciso ter inventado ou Teinventado a maquina para que as variagdes de fun- cionamento da maquina se tornem informacio. O barulho ‘de um motor nao tem, em si mesmo, valor de informagao, ele adquire esse valor através de sua variagao de ritmo, sua mudanga de freqincia ou de timbre, sua alteragie das transitoriedades que traduzem uma modificacéo do funcionamento em relagao 0 funcionamento que resulta da invengio.” Queiram desculpar-me de vos impingir uma citagio tao longa. Mas ela me pareceu essenctal para o exclarecimento do que estou tentando dizer. Pois este trecho de Simondon contém alguns pontos que devem ser destacados. Esses pontos sio os seguintes. A maquina é um gesto humano depositado, fixado, tornado estereotipia e poder a deter- derepetigio. Através 20U-Se un minada passagem de um funcioni tal para um fun- Stee fice BC cue eciogte cintasons De wa cionamenio relagio de isodinamismo entre 0 rmeato mental do hhomem e ofuncionamento fisico da miquina. Ha dois funcio- namentos paralelos. No primeird atua o dinamismo do Pp MG iefeaaecucmaaneti slartean tor mas meeatismos concretos. No ségundo)atua o dinamismo de rituio que traduzem sgifo wo fanclonamento jal que toma corpo a fisico da mai homem, ina repeaduzodgfuncfonamento mental da ‘as também dele ta — seu barulho ¢ sua zs aTaiteatbater que significa que uma homem ea maquina s6 pode de funcionamento ¢ | En MUYBRIDGE E LUMIERE PODEMOS DISTINGUIR UMA NOVA ALIANGA ENTRE ARTE E TECNICA 49 Hé pouco foi feita uma afirmagio: ter uma pereepgio direta’ da relagio. homem- instrumento é se aperceber dos lacos que se atam entre dois lestados de espirito. Mas agora fica claro que seria melhor dizer dois dinamismos em vez de dois ‘estados ~o dinamismo do expirito vive do homem eo dinamismo do Espirito coneretizado nos mecanismos da maquina. Também fica claro que a informagio é a centelha que, no ¢Spirito vivo, religa o dinamismo. do presente ao dinamismo do passado para tendé-lo em diregio do porvir. Pois a maquina funciona, mas no cabe que é dinamismo fisico e que foi dinamismo mental. Porque a maquina funciona no tempo presente mas esté fora do tempo, no tem o sentido do tempo, nao pode, como 0 homemi, modificar-se em fungio do que foi e com vistas a0 que sera Uma pereepgio dire descohre que acontece com Muybridge, com Lumiere e com todos aqueles que buscam uma nova alianga entre a arte ea t6e- nica, que buscam o renascimento. E entao me permito fazer uma observagao: freqiien- temente temos o habito de conceber 0 Renascimento como uma volta as fontes de eivilizacdo oriental, mas esquecemios que ele também foi a descoherta de um nove mundo. 0 vcimento quecsté ai, que-ja se torna possivel, deve efe- tuar esse duplo movimento: deve voltar as origens da téeni €a moderna, deve voltar ao tempo de Leon: Vinci, mas também deve descobrir um nove mundo, mundo da natureza e da segund: ~~Por toda parte, espalhados, ha sinais invecando um novo renascimento. No coracdo de Paris. por exemplo, Buren construin uma obra de arte dentro do reeinto do Palais, Royal. Quando entramos, vemos que do chao comegam a se erguer colunas de pedra negra e de pedra branca, vemos que o espago esta se transformando e que essa transformacio é tanto mais arrebatadora porque revela, com outra luz, as colunas renascentistas do palacio. Como se Buren tivesie almejado fazer surgir um novo palicio, nao para substituir o antigo, mas para continui-lo, como se as antigas colunas, revisitadas, pudessem somar as forgas do passado as forgas do presente, para fazer das novas colunas 0s pilares de um nove mundo. Paris construiu um palicio. E nada parece mais de acordo com o espirito do Renascimento do que a construgio de um palécio. Mas talvez no seja essa a tinica via. Pois um paléeio ainda é uma obra de arte & antiga, ainda é uma ‘opera. A énfase recai no pasado. Enquantoa nova slianca a enfatiza o presente, e.apresenca do_ Laymert Garcia dos Santos & professor do Instituto de Filosofie & Cincias Hurnanas da Unieamp e autor de Tempo de enscio,

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