Girl with a Pearl Earring - Dutch Mona Lisa (1665) / Johannes Vermeer
Rubem Alves escreveu um magnfico livro de provocaes, observaes e
pensamentos cujo titulo encerra uma verdade incompleta. Ostra feliz no faz prola um claro exemplo de que podemos concordar pela metade, e tudo bem. Isso timo. O pensamento do professor Alves lcido e a analogia preciosa. Concordo que o ser humano (tambm) precisa de estmulos externos (dolorosos) para provocar manifestaes de beleza. Essa uma verificao que podemos constatar na nossa vida diria. J ouviu alguma vez a expresso: por amor ou pela dor? pois . Muitas vezes diante do sofrimento (ou somente por causa dele) somos obrigados mudana e a ao transformadora e criativa. Sem ao no h transformao. Sem estimulo pode no existir ao. Mas, digo eu, ser que a ostra gosta da prola com a qual convive? Para ela aquele pedao de material esfrico e duro no tem nenhum valor a no ser o da prpria tranquilidade diante do agente agressor. Seria como valorar em demasia as nossas calosidades, cicatrizaes ou mesmo as queloides que a nossa pele produz como proteo ou reao. Na verdade, so as ostras quem menos lucram com tudo isso, mas o ponto que quero abordar diferente: precisamos mesmo da aflio, da dor, do sofrimento para produzir beleza? com a intransigncia de um dogma ou com a violncia de um cdigo reto e inflexvel de conduta que os nossos filhos podero se transformar em pessoas de bem? Precisamos acaso (e at quando) sermos provocados pelo sofrimento e pelo desgosto para manifestar despretensioso
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amor? possvel trocar o gro de areia, agressivo e estranho, por elementos
melhores capazes de provocar felicidade? Pode que uma ostra feliz no faa prolas, mas uma pessoa feliz deveria. A outra metade da verdade do professor Alves est na possibilidade (em tese) de que "as ostras apreciem as suas prolas", que "sejam capazes de entender o que elas representam" e que ningum mais do que elas "desfrutem do mrito desse trabalho". Em termos humanos significaria apelar pelo respeito diversidade, pela justia do caminho individual, e pelo reconhecimento que de nada serve o sofrimento sem aprendizado, mas que o aprendizado pode ser provocado no necessariamente pelo sofrimento. Que assim seja.