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ANO VI Nº 26

Fev. 010
também possibilitou a
formação de uma colônia
de imigrantes alemães,
contratados por Mariano
Capa do guia Procópio para trabalhar na
de Klumb.
Acervo o bra e que seriam
B. Nacional responsáveis pelos
primeiros núcleos

V isionário, Mariano industriais da vila. Estes


Mariano Procópio
Procópio decidiu contribuiram para a
construir uma estrada criação de manufaturas
com a melhor tecnologia da responsáveis pelo
época e usou sua influência desenvolvimento
política para obter apoio do industrial futuro que
governo imperial. Em 7 de marcará a cidade no em
agosto de 1852, D. Pedro II fins do século XIX e início do XX.
emitiu o decreto imperial n.º O Projeto da Estrada União e Indústria
1.301, aprovado pela Para o projeto das estradas, Mariano Procópio
Assembléia Geral Legislativa contratou o Capitão José Maria de Oliveira Bulhões, que foi
em 11 de setembro do mesmo assistido pelo Pedágio do Vale do Retiro Petrópolis
ano, que autorizava Mariano alemão José Foto Revert klumb col. Gilberto Ferrez IMS

Procópio a construir e explorar, Koeller e seu


por 50 anos, duas linhas de filho, além de
estradas rodoviárias. A d o i s
primeira estrada saía de Porto Novo da Cunha (atual Além engenheiros
Paraíba, MG), passando por Barbacena e indo até São João franceses:
Del Rei. O outro trecho iniciava numa bifurcação da Flageollot e
primeira estrada, passava por Mar de Espanha e terminava Vigouroux. A
em Ouro Preto . E s t r a d a
O decreto proibia a utilização de mão-de-obra União e
escrava e previa a cobrança de pedágio cujo valor variava Indústria foi
de acordo com o tipo e peso do veículo que trafegasse pela construída
estrada. Para arrecadar fundos e permitir posterior cobrança sobre o traçado do Caminho Novo por onde só passavam
do pedágio, Mariano Procópio fundou a Companhia União pedestres e muares. Portanto, haviam muitos trechos
e Indústria cujo nome é uma homenagem à união entre as sinuosos e íngremes que foram retificados para permitir a
províncias de Minas Gerais e Rio de Janeiro e à indústria do passagem de carruagens a 20 km/h. O projeto tinha que
café e outras que fossem estimuladas pelas estradas. levar em conta as dificuldades da época, quando as
A Estrada permitiu o desenvolvimento dessas duas operações de corte,
regiões, proporcionando infra-estrutura adequada para o compactação e transporte
escoamento de produtos e mercadorias. Sua construção de terra tinham que ser
executadas à mão, pois
Quinta de Mariano Procópio em Juiz de Fora - 1861
Foto Revert Klumb acervo Bilbioteca Nacional
não havia máquinas
disponíveis para executar
estes serviços. Nos quatro
anos decorridos entre a
emissão do decreto e o
início das obras, o traçado
original foi muito
modificado. Quando as
obras começaram, os dois
trechos de estrada haviam
se tornado um só, com o
marco zero em Petrópolis
e o destino final em Juiz de
Fora. uma leve
O Início da Construção da Estrada União e Indústria inclinação do
Em 12 de abril de 1856, com a presença de D. Pedro centro para as
II, em Petrópolis, iniciou-se a construção da Estrada União bordas da
Trecho da estrada na altura da Pedra do Paraibuna e Indústria estrada. Se a
Foto Revert Klumb Acervo Biblioteca Nacional no local inclinação for
onde, ainda p e q u e n a
hoje, existe demais, a água
uma placa das chuvas não
comemora- irão escoar, o Estação de Diligências em Pedro do Rio
tiva, na que acarreta a Foto Revert Klumb Acervo Biblioteca Nacional
Av e n i d a formação de atoleiros. Por outro lado, se a inclinação for
Rio Branco. acima de um certo valor, a força das águas irá abrir crateras
O brasileiro no chão. Sobre o subleito tratado, aplica-se uma nova
Antônio camada conhecida tecnicamente como "base". A base é
M a r i a formada por brita (pedra quebrada em pedaços) disposta em
Bulhões ficou responsável pelo trecho entre Petrópolis e várias camadas que são compactadas até ficar com pelo
Três Braças, atual Três Rios. O alemão José Koeller
assumiu a responsabilidade do trecho Três Braças a Santo Estação de diligências de Entre Rios atual Três Rios
Antônio do Paraibuna, atual Juiz de Fora. Foto Revert Klumb Acervo Biblioteca Nacional
O primeiro trecho pronto ligava Vila Teresa a Pedro
do Rio, numa extensão de 30,865 metros era inaugurado em
18 de abril de 1858. Dois anos depois, de Pedro do Rio a
Posse, numa extensão de 13 km. Finalmente, em 23 de
junho de 1861, D. Pedro II, sua família e vários
representantes ilustres da Corte e da Cia. União e Indústria,
inaugurava Ponte do Zamba S/ o Piabanha Petrópolis
m a primeira foto Revert Klumb Col. Gilberto Ferrez IMS
rodovia
brasileira
macadami-
z a d a , menos 20cm de espessura. A primeira camada é formada
u n i n d o por pedras de maior diâmetro. As camadas seguintes têm
Petrópolis a seu diâmetro diminuído de modo a ocupar os vãos da
Juiz de camada de baixo. Na época, as pedras tinham que ser
Fora, com extraídas e britadas "à mão" e depois transportadas em
velocidade lombo de burro da pedreira até a estrada. O processo de
média de compactação era feito com um enormes cilindros de pedra,
impressionantes 17 km/h. A festa de inauguração da com pelo menos duas toneladas, puxados por cavalos. Há
Estrada União e Indústria foi um evento tão marcante, que um grau de umidade considerado ótimo para a
praticamente todos os jornais do Brasil deram a notícia em compactação. Assim, a obra tem que ser interrompida no
detalhes. período das chuvas e o leito da estrada tem que ser molhado
O Macadame Hidráulico se estiver muito seco. Sobre a base, aplica-se uma camada
Para permitir o trânsito mesmo na época das impermeabilizante conhecida como "revestimento". No
chuvas, a Estrada União e Indústria foi pavimentada usando macadame original, em Estação de Diligências Foto Revert Klumb
a mais moderna técnica disponível na época: o macadame. uso na Europa e nos Col. Gilberto Ferrez IMS
O nome deste processo é uma justa homenagem ao seu Estados Unidos desde
inventor, o engenheiro inglês John London Mac Adam. O 1815, o revestimento é
macadame se inicia com o tratamento do solo da estrada, formado por uma
tecnicamente conhecido como "subleito". Árvores, capim e mistura de brita fina
Estação de Juiz de Fora ao fundo a chácara todo tipo de (conhecida como "pó-
de Mariano Procópio Foto Revert Klumb matéria orgânica de-pedra") e alcatrão.
Acervo Biblioteca Nacional
( in clu s iv e o s No caso da Estrada
solos de terra União e Indústria,
negra) são utilizou-se uma
removidos. A variação deste processo
terra amarela ou conhecida como
vermelha que " M a c a d a m e
resta é então Hidráulico". Na falta de
compactada de alcatrão, utilizou-se
modo que fique água como ligante.
Deste modo, o custo de Estação de Diligências de Paraibuna Foto Revert Kumb revezamento que se repetia a cada
Acervo Biblioteca Nacional
construção foi diminuído hora, 12 vezes durante a viagem.
comprometendo a durabilidade do A Estrada União e Indústria
pavimento. No entanto, o aspecto De Petrópolis a Juiz de Fora
final da rodovia ficou bastante são 90 milhas (146,8km). Todo o
semelhate ao das rodovias percurso pode ser dividido em três
modernas e o macadame trechos: 40 milhas de descida, 21
hidráulico foi utilizado como milhas no plano e mais 30 milhas
forma de pavimentação até de subida. O trajeto é feito em 12
meados do Séc. XX. horas, das 6 da manhã às 6 da tarde.
Características Técnicas Se descontarmos as 4 horas em que
da Estrada União e Indústria há paradas para almoço e troca das
A Estrada União e mulas, o tempo total em trânsito é
Indústria possuía extensão de de 8 horas, o que resulta numa
144km (24 léguas), sendo 96km no Rio de Janeiro e 48km velocidade média de 16,3 km/h.
em Minas Gerais. Embora atravessasse diversos cursos As Diligências
d'água e as escarpas graníticas da Serra do Taquaril, a O veículo de transporte pode ser um "char-à-banc",
declividade nunca era maior do que 5% o que permitia que uma espécie de carroção, sem cobertura, com 4 bancos,
os cavalos a percossem em velocidade máxima por longos todos voltados para a frente. Cada banco comporta duas
períodos. A largura média era de 8m, o suficiente para que pessoas e o banco mais à frente leva o condutor e o ajudante,
uma diligência passasse pela outra, em sentido contrário, atrás, há espaço para mais dois corajosos passageiros, que
sem precisar reduzir a velocidade. A cada légua (6 km) mal acomodados, ficam à mercê do sol e da poeira. Outro
Ponte das Garças sobre o Paraíba do Sul foto Revert Klumb A Mazzepa primeira diligência da União e Indústria
Acervo Biblioteca Nacional Acervo do Museu Rodoviário de Monte Serrat Distrito
de Comendador Levy Gasparian RJ

Foto Revista ABRATI


Março de 2004

havia um marco de pedra, visível das diligências, que veículo é a Sege, muito parecida com o "char-à-banc" a
permitia ter uma noção exata das distâncias percorrida e a diferença é que, na Sege, os passageiros sentam-se em dois
percorrer. Haviam belas pontes, entre as quais se destacam bancos colocados de frente um para o outro. Há também as
a das Garças, sobre o rio Paraíba, em Três Rios e a Ponte de diligências e os carroções que comportam até 17
Santana, em Alberto Torres, que foi restaurada em 2002. passageiros e que, com carga máxima, chegam a pesar 3
Além de escoar a produção agrária da Zona da Mata toneladas. Em todos estes veículos o espaço disponível para
mineira, principalmente o café, a Estrada União e Indústria cada passageiro é mínimo, havendo sérias restrições sobre o
também levava os primeiros transportes coletivos. Eram as que pode ser levado. Há um espaço comum onde são
diligências que, com suas quase 3 toneladas, levavam até 14 levadas a bagagem dos passageiros e as malas postais.
passageiros, além do cocheiro, do condutor e de um A Sege e o "char-à-banc" são puxados por 4 mulas
ajudante, que tocava um trompete "como aviso aos que dispostas em 2 parelhas. As diligências e os carroções,
viajavam em sentido contrário". As diligências eram A estrada em 1922 Foto de Daniel Ribeiro
puxadas por quatro mulas, que eram trocadas nas chamadas Álbum do Estado do Rio deJaneiro de Clodomiro Vasconcelos
"Estações de Muda", ao longo do caminho, em um
Diligência da União e Indústria Foto Revert Klumb
Acervo Biblioteca Nacional
dependendo do peso, podem ser puxadas por até 6 mulas. As Estrada União e Indústria Foto Revert Klumb
Acervo Biblioteca Nacional
mulas são selecionadas dentre as mais ágeis e atuavam na
estrada por apenas 2 anos, enquanto estavam no auge da
forma física.
A importância da estrada gerou o primeiro guia de
viagens do Brasil, escrito pelo fotógrafo do Imperador, o
francês Revert Henrique Klumb, intitulado: "Doze Horas
em Diligência - Guia do Viajante de Petrópolis a Juiz de
Fora", editado em 1872, descrevendo com palavras e
fotografias a fantástica viagem.
Para perpetuar na memória coletiva tão auspicioso
acontecimento, foi colocada uma lápide de mármore
branco, logo à entrada da rua Westfalia, atual Barão do Rio
Branco, com os seguintes dizeres: "Sob a muita alta
proteção de S.M o Imperador o Senhor D. Pedro II, na
augusta presença do mesmo senhor e de S.M. a Imperatriz, a
Companhia União e Indústria começou a construir esta
estrada no dia 12 de abril de 1856".
Da antiga União-Indústria ainda restam várias Estrada União e Indústria Foto Revert Klumb
Acervo Biblioteca Nacional
construções e pontes, destacando-se a Ponte de Santana em
Alberto Torres, restaurada pelo governo. Ainda existem
também a Ponte das Garças em Três Rios e a antiga Estação
de Paraibuna em Monte Serrat, município de Comendador
Levy Gasparian, construída em 1856 para a troca das mulas
das diligências (procedimento realizado várias vezes na
viagem entre Petrópolis e Juiz de Fora). Situada em um
bonito chalé em estilo francês, a estação abriga atualmente
o Museu Rodoviário, onde é possível vislumbrar em
detalhes a história da União e Indústria e do rodoviarismo
brasileiro. O Museu foi inaugurado em 23 de junho de 1972.
A rodovia União-Indústria foi absorvida pela BR-3,
que ligava o Rio de Janeiro a Belo Horizonte, tornada a
partir de 1964 parte da BR-135 pelo Plano Nacional de
Viação, e finalmente, desde a revisão do Plano em 1973, é
parte da BR-040 que liga Brasília ao Rio de Janeiro.
Pesquisa e adaptação de texto Luiz Francisco Moniz Figueira
Fontes de Pesquisas
Asminasgerais.com.br Estação de Juiz de Fora Revert Klumb 1870
Instituto Histórico de Petrópolis - www.ihp.com.br - Francisco de Vasconcellos
www.estradas.com.br
http://espeschit.com.br/historia
Álbum do Estado do Rio de Janeiro Comemorativo do Centenário da Independência
do Brasil 1922 - Clodomiro de Vasconcelos
Biblioteca Nacional
Intituto Moreira Sales
Prefeitura Municipal de Levy Gasparian
Revista ABRATI março 2004

EXPEDIENTE
Turismo & Etc., boletim de informação e divulgação sobre turismo,
arte e cultura.
Editor: Luiz Francisco Moniz Figueira - Guia de Turismo e
Pesquisador da História do Vale do Paraíba
Emails: luizfranciscoguia@ig.com.br/ luizfranciscoguia@bol.com.br
franciscoguia66@yahoo.com.br
Fotoblogs:
Museu Rodoviário Instalado na antiga estação de diligências de www.flogao.com.br/conhecendovalenca
Paraibuna, hoje Monte Serrat distrito de Levy Gasparian. É a única www.flogao.com.br/valencaantiga
estação de Diligências que restou, possuindo um rico acervo sobre a www.flogao.com.br/valedoparaiba
história da União e Indústria e do desenvolvimento rodovíario do país, http://fotolog.terra.com.br/valedocafe
sendo considerado o mais importante do Brasil. http://fotolog.terra.com.br/valenca
Foto Luiz Francisco 26/02/09

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