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Tragédia na RSC-287 revela fragilidade nas pontes do centro do Estado Em 26 anos, ruiram pelo menos quatro travessias em trecho de 200 quilémetros da estrada de Agudo. Fato alarmou especialistas Htamar Melo ¢ Marcelo Gonzatto | itamar.melo@zerohora.com.br & marcelo.gonzatto@zeronora.com.br A queda de uma ponte em uma rodovia € um evento raro. A queda de quatro, uma improbabilidade estatistica — ‘com a qual o Rio Grande do Sul se defronta desde a terca-feira. |" OTROS! .. IEeFEEtey © tragico desabamento da Sea ere i eee a passagem sobre o Rio Jacui, em Agudo, foi o quarto durante 2s enchentes de 1984, no trache federal desde os anos 80 em um trecho de apenas 180 Crm CE RG VET EST quilémetros da RSC-287 e de seu prolongamento federal, Tot! Montegemscbre force de Ganco.de Dados a BR-287. — Estatisticamente, 6 raro uma ponte cair. Ter acontecido varias vezes no mesmo lugar é estranho. O que temos na mao 6 uma improbabilidade. E urgente investigar se ha uma causa comum. E preciso ter cuidado para nao apavorar a populacao, mas essa situacao merece uma investigacdo especial — sustenta Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, doutor em Manutengao de Pontes, professor do Laboratério de Ensaios e Modelos Estruturais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) € presidente da Associacao Brasileira de Patologia das Construgées. 0 professor defende que se faca uma anilise dos projetos das pontes da regio para descobrir se eles compartilham alguma vulnerabilidade, e que se investigue se ha particularidades no solo. Mas divide com outros especialistas a opiniao de que a explicacdo mais provavel esta relacionada a erosao dos terrenos onde estao assentadas as fundagées das estruturas da 287. ‘O engenheiro Eduardo Michelucci, integrante do Instituto de Pericias e Engenharia de Avaliacées do Rio Grande do Sul, reforga: — 0 que derruba uma ponte é solapamento das fundagies. As fundacdes sao estaveis enquanto 0 rio nao remove o material que esta la, Se a areia e 0 sola sao eradidos, a ponte fica instavel, e uma cheia pode leva-la embora. (© que poderia estar favorecendo essa possivel erasio, no ‘entendimento dos engenheiros, ¢ a elevacdo do volume ¢ da velocidade da 4gua nos rios da regio, em um processo cumulativo. As caracteristicas geograficas do entomo da rodovia dao pistas sobre por que isso pode estar acontecendo. A estrada esta situada na Depressao Central do Estado, uma area baixa junto a encostas e ao inicio da Serra. Para lé fluem rapidamente, pela ‘inclinacao do terreno, as aguas das regides mais altas. Nas ultimas décadas, fatores extras acentuaram essa caracteristica. A vegetagao e as matas que ajudavam a reter e a atrasar a gua rarearam. Ao mesma tempo, a urbanizacSo e a adocSo de certas técnicas de plantio ‘impermeabilizaram o solo, 0 resultado, segundo o engenheiro agrénoma Dalvan Reinert, vice-reitor e professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 6 que as Aguas chegam mais rapido e em maior volume aos rios. Na véspera da queda da ponte, o Jacui chegou a jorrar trés piscinas olimpicas por segundo, conforme medig3o feita na Hidrelétrica de Dona Francisca. © volume de 8,2 mil metros ciibicos fot o maior jd registrado no local. 0 recorde anterior, de 5,2 mil metros cibicos, datava de 1997. Nos anos 70, os Estados Unidos enfrentaram quedas de pontes provocadas pela erosao de fundacies. A resposta foi a obrigatoriedade de inspecdes periddicas por mergulhadores. £ um procedimento caro, mas necessario, na avaliacdo de Silva Filho. A partir dele, seria possivel saber as condicdes das fundagies na 287 ¢ promover eventuais reforcos. Outro fator que pade estar envolvido 0 assoreamento dos rios, que eleva seu nivele, por consequéncia, as enchentes. — Quando se faz 0 projeto de uma ponte, levam-se em consideragao as estatisticas sobre as maiores cheias. Se o nivel de enchente na regio esta muito mais alto, como parece, todas as pontes padem estar em risco — avisa Geraldo Wolff, engenheiro estrutural e professor titular aposentado da UFRGS. "Desde 1982 que a ponte podia ter caido a todo o momento. Isto é uma certeza inabalavel", afirmau Soramenho Rocha, investigador- coordenador do Departamento de Hidraulica e Ambiente do LNEC, perante o tribunal de Castelo de Paiva. A ponte ruiu a 4 de Marco de 2001 devido a cedéncia do pilar P4, apés cinco grandes cheias no Douro, num acidente que matou 59 ocupantes de um autocarro e de trés automdveis. "Sabendo-se que havia apenas oito metros de areia em volta do pilar era preciso verificar se isso era seguro ou ndo", disse ainda o especialista do LNEC. Respondendo a juiza-presidente, Teresa Silva, Soromenho Rocha assegurou que a engenharia poderia ter recorrida a, "pelo menos”, dez férmulas para calcular se 0 pilar P4 corria 0 risco de suir. Admitiu, contudo, que nem todos os engenheiros de pontes teriam conhecimentos nessa drea espectfica. Soromenhe Rocha integrou 0 grupo responsdvel pele segundo relatério pericial sobre as causas do colapso da ponte, juntamente com os professores da Universidade de Coimbra Luis Leal Lemos, Vitor Dias da Silva, Carlos Rebelo € José Antunes do Carmo. No seu relatério pericial, concluido em 2004, estes cinco especialistas revelaram divergéncias face 4s conclusdes evidenciadas em idéntico documento, preparada trés anos antes, logo apés a queda da ponte, por especialistas da Faculdade de Engenharia do Porto. Na avaliacéo do investigador-caordenador do LNEC e dos quatro catedrdticos de Coimbra, o colapse da ponte esté associado 4 extraccdo de areias na zona, que provocaram uma erosao lacalizada. Jé os peritos do Porto - Raimundo Delgado (especialista em estruturas), Veloso Gomes (Hidréulica e Morfologia) e Silva Cardoso (Geotecnica) - defenderam que o colapso do pilar P4 ficou a dever-se 3 eroso generalizada no leito do rio, agravada pelas anormais cheies desse eno. A divergéncia foi mantida hoje perante o colectivo de juizes de Castelo de Paiva reunido no SalSo Nobre dos Bombeiros Voluntsrios de Castelo de Paiva. “Tenho as maiores duvidas sobre se foi a erosdo localizada que provocou a queda da ponte", disse o perito do Porto Raimundo Delgado. "Se a causa fosse S6 eros3o generalizada, 0 pilar teria caido para o lado contrdrio", cantrapés Seromenho Rocha. ‘Num julgamento iniciado a 19 de Abril, o Tribunal de Castelo de Paiva avalia a alegada responsabilidade criminal de seis técnicos na queda da ponte de Entre-os Rios. Os arguidos neste processo s30 quatro engenheiros do Servico de Pontes da ex- Junta Auténoma de Estradas (JAE) e dois da empresa projectista Etecida, que o Ministério Publico (MP) acusa de terem violado, em diferentes graus, as regras técnicas a observar no planeamento de modificacéo de construcaa. Segundo a acusac¢ao, os seis técnicos negligenciaram as suas funcées, “ndo adoptando as condutas necessarias para impedirem a criagdo de perigo para a seguran¢a é a vida de qualquer pessoa que circulasse na ponte”. Neste julgamento, cinco dos seis arguidos quiseram prestaram depoimento, recusando a acusagdo do MP. Devido a problemas na gravagao, um deles teve de repetir o seu depoimento. © tribunal ardenau ja a anexacao ao processo da sindicancia feita ¢ ex-JAE, em 1998, por ordem do entdo ministro Jodo Cravinho, que detectou um funcionamento anédmalo daquela entidade." Fonte: http://www.publico. pt/Sociedade/perito-afirma-que-ponte-de-entreosrios- estava-em-risco-desde-1982_1258266 Aveiro aponta solugoes erosao da costa portuguesa Cristina Bernardes dé a conhecer riscos naturais 2005-05-09. Ainda estd na meméria de todos o recente “Tsunami” que atingiu a Asia e + que abalouo 4 mundo. A tragédia trouxe a discussao diversos assuntos directamente relacionados com estes fendmenos ¢retomou outros que, embora tenham resultados menos catastréficos, colocam em risco as populacdes que todas as manhias do os bons dias ds éguas azuis do mar. Uma especialista da Universidade de Aveiro na drea da erosdo, a Prof. Doutora Cristina Bernardes, dé a conhecer 05 riscos naturais que afectam a costa portuguesa e, mais concretamente, a costa entre Aveiro e Mira, eapanta algumas solucées para minimizar as suas consequéncias. “a tendéncia da erosdo na nossa costa ¢ para um aumento crescente. ‘Um dos estudos por nds realizado recorreu a analise temporal de fotografias aéreas numa estacdo fotogrameétrica, desde 1958 até 2002. Neste perfodo, entre o Furadouro e a Praia de Mira, registamos nalguns pontos recuos de 230 metros correspondente a uma perda efectiva do sistema praia-duna e um recuo médio da linha de costa de ‘6 mano, Ha dois anos, por exemplo, registou-se em algumnas zonas, durante um tnico temporal com duracao de 72 horas, recuos da linha de costa de 15 metros”. Oalerta é da Prof, Doutora Cristina Bernardes, investigadora do grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociéncias da UA, unidade de investigacdo que estudo 0 fenémeno da erosio desde Janeiro de 1996. Quase dez anos de investigacdes que permitem apresentar ja conclusdes importantes da evoluco da zona costeira entre a Praia do Furadouro e a Praia de Mira, com especial énfase na zona a sul da Barra/Costa Nova, onde o fendmeno erosio ameaca futuro da costa da erosio tem sido bastante sério com tendéncia para piorar, e apontar medidas para travar este fendmeno, A principal conclusio néo é animadora: cada vez ha menos sedimento disponivel para ser transportado palas correntes da deriva litoral, factor decisivo para o aumento da erosio na Costa de Aveiro. “A tendéncia na zona de Aveiro para uma eroséo muito séria e continuacdo do recuo da linha da costa. Os rios trazem cada vez menos sedimentas até a foz. Para esta zona, 0 Rio Douro ¢ o principal contribuinte de sedimentos, mas devido as barragens uma grande quantidade fica airetido, factor ao qual se associa as extraccées de areias. As correntes estio artificialmente desnutridas de sedimento e se nao tém o que depositar, dissipam a sua energia na erosio das praias e das dunas. Por outro lado, os molhes do Porto de Aveiro, os espordes e enrocamentos presentes em todo o sector acabam por ser armadilhas para 0 pouco sedimento disponivel”.

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