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ISIN — 078:85-225-0658-3 Copyrlght© Luca Lipp! Oliveira Direitos desta edigao reservados a EDITORA FGV Rua Jornalista Orlando Dantas, 37 22231-010 — Rio de Janeiro, RJ — Brasil 0800-21-7777 — 21-2559-4427 Fax: 21-2559-4430 e-mail: editora@fgv.br — pedidoseditora@fgv.br web site: wwweditora.fgvibr Impresso no Brasil / Printed in Brazil Todos os direitos reservados, A reprodugio néo autorizada desta publicacdo, no todo ou em parte, constitui violacdo do copyright (Lei n? 9.610/98). Os conceitos emitidos neste livro sao de inteira responsabilidade da autora. 1? edicao — 2008 PREPARAGAO DE ORIGINAIS: Maria Lucia Ledo Velloso de Magalhies EpIroraGAO ELETRONICA: Maristela Almeida REViSAO: Fatima Caroni e Sandra Frank Capa: Isabel Lippi Fotos pe Cara: José Inacio Parente Ficha catalogréfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen / FGV Oliveira, Laicia Lippi, 1945- Cultura é patriménio: um guia / Lucia Lippi Oliveira. — Rio de Janeiro ; Editora FGV, 2008. 192p. Inclui bibliografia. 1. Cultura. 2. Patriménio cultural — Protecio — Brasil, 3, Brasil ~ Politica cultural. 4. Caracteristicas nacionais brasileiras. I. Fundagho Getulio Vargas, IL. Titulo. CD - 301.2 ao tantas e téo miltiplas as transformacgées havidas no mundo e no Brasil no campo da cultura que nfo se pode ter a pretensiio fazer Frei Vicente do Salvador, considerado o primeiro historiador da colénia portuguesa no Novo Mundo, avaliava a ago politica da metrépole e a aco eco- némica dos colonizadores indicando como ambas tornavam invidveis o progresso ¢ a estabilidade da col6nia. Os tragos apontados e deplotados por frei Vicente do Salvador nao parecem estranhos. Tém longa duragio e podem ser condensados ha visio de ser aquela uma terra “sem Fé, sem Lei, sem Rei”. Menciono isso para dizer que nada mudou ao longo dos tltimos 500 anos? Nao, nio é essa a inten- gio. Ao contrario, uma das matcas presentes a0 longo do século XX na historia brasileira foi a idéia de que é possivel criar tudo de novo. Nao por acaso o Estado criado por Vargas em 1937 chamava-se Estado Novo, o ptimeito governo apés © fim da ditadura militar foi nomeado de Nova Republica ¢ o governo Lula gosta dle repetir o mote: “nunca na hist6ria deste pafs...”. Ou seja, prezamos 0 novo, a fundagio ou a refundagio do novo, ja que somos, ou éramos, o pais do futuro, © passado nos condena e, portanto, pode e deve ser abandonado ou superado. mo le 1922, por exemplo, procutou romper com o passado e com a tradigiio, ainda que tenha revalotizado o passado colonial como raiz da naciona- lidade, Somente agora, com o fim da obsessio pelo novo, se esta revendo esse “cinone”’ e se tornou possivel voltar ao estoque cultural do passado guardado na historia e fazer dele o que se queira. ode-se mencionar a reforma urbana de 8808, século, no Rio de Janeiro, e também o movimento no campo da arquitetura, nos anos 1930 ¢ 1940, que se apresentava como: projeto. de transformagiio, de instauragio de um mundo moderno, de racionalizagio do presente © de com so dem a forma revolucionaria da art DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE 183 Modetno, novo, futuro faziam parte dos sonhos, das utopias no Brasil. A idéia de “Brasil, pais do futuro”, presente de tempos ee aes livro de Stefan Zweig publicado em 1941. anos we, sa época foi construido um discurso no qual ‘© mundo rural era identificado como atrasado, velho, pasado, enquanto o mundo urbano passou a set visto como adiantado, novo, moderno. Na segunda metade dos anos 1950 o futuro parecia ter de fato chegado! E era dourado! O novo ser valorizado positivamente em oposigao ao velho, identificado como ultrapassado, era um trago da modernidade que se opunha a outro, anterior, icava atributos superiores nos tempos ant im caso notavel tem a ver com a chamada “querela dos antigos e dos modernos” na Franga do final ~~ do século XVII. Essa querela dizia respeito a avaliagiio das obras produzidas pela Antigitidade gtega e romana em comparacao com as obras artisticas, filos6ficas e 15? cientificas do século de Lufs XIV. Kenneth (1980) argumenta que os “modernos” consideravam 0 século de Luis XIV superior ao de Péricles e de Augusto, ¢ a perfei¢io moderna superior & dos antigos, ou seja, no s6 as produgdes mais figura anterior do “bom selvagem”, representante da infancia da huma- nidade, somou-se a do povo também identificado com a infancia. Assi 39 Uso as nogées de modernidade, modernizaciio ¢ modernism quase como intercambidveis. Pode-se dizer ‘quo a modernizagio (processo de transformagio econdmica, soci, institucional) ¢ o moderniamo (viages ‘valores por melo dos quais a cultura busca compreender e concuir estes procestos) compdem dia hha 20 verdade e do belo haveriam de prevalecer, produzindo repre entacde homogéneas coerentes, Como fruto do projeto iluminista, acreditou-se na emancipagio do homem pelo conhecimento e pelo progresso. A ciéncia, guiada pela raziio e pela objetividade, produzia a domesticagio do individuo, da natureza ¢ da historia, O Iluminismo, em seu desejo de produzir o “esclarecimento”, pretendeu difundir a cultura e cuidar da formagio do bom gosto. Houve também a construcao da utopia da igualdade perfeita, produzida pela razio, governada pela técnica ¢ desfrutada pela arte. |, Foiao longo do século XTX, mas principalmente do XX, que a sociedade se tornou cada vez mais complexa, o Estado aumentou de dimensfo e a democtacia de massas emergiu. O individuo indivisivel e singular, 0 cidadao, por outro lado, ficou cada vez mais enredado nas buroctacias do Estado moderno. A sociedade moderna passou a set considerada 0 espaco e o tempo do sujeito moderno, ou seja, do individuo livre das amarras e dos apoios estaveis da ordem teligiosa e da ordem estamental. Foi no fim do século XTX que surgiram novas concepgdes do sujeito ancoradas no social, mas foi também quando © sujeito humano foi biologizado e explicagSes raciais passaram a justificar 0 comportamento humano. O surgimento da sociologia marca esse tempo. Se a economia tem como figura central o individuo soberano ¢ a psicologia se dedica aos estudos dos ptocessos mentais do individuo, a sociologia localiza 0 individuo no grupo, estuda as normas coletivas, indaga como o social se interioriza através da socializaco, O campo da sociologia reconhece um nticleo interior do sujeito, mas esse nao é autonomo nem auto-suficiente. A identidade do sujeito sociolégico é resultado da interagao do eu (intetior/mundo pessoal) e da sociedade (exterior/ mundo publico), A sociedade moderna é marcada pelo Estado-nagio, pela mercantilizagio de produtos, pelo trabalho assalariado; pensada como um todo unificado e centrada no sujeito. A sociedade moderna avanga em especializacio, complexificacio ¢ racionalizagao, conceitos que pretendem dar conta desse processo. Em seus trés séculos de caminhada, a modernidade atingiu a ciéncia, a arte a moral e criou divetsos campos autonomos, como a politica € a arte. Pode-se considerar que 0 que marcou a modernidade foi mesmo a sepatagao entre Estado ¢ teligido, arte e religiao, ciéncia e religifo, ética e religiao. Diversos viajantes produziram relatos sobre culturas vigentes nos quatro cantos do mundo que serviram pata comprovar os diferentes estdgios da huma- nidade. As viagens proporcionaram, entre outros resultados, a descoberta € © Sstudo das antigiiidades ¢ a configuragio da arte como atividace auténoma, des ligada da religiio. A pesquisa das antigitidades ensinou aos humanistas ¢, depois, — -aos-antiquatios (eruditos, especialistas em objetos de arte antiga) a descobrir sua alteridade, o que contribuiu para fundar a propria identidade da cultura ocidental, Os bens, as antigitidades trazidas nas viagens, passaram a compor as’ colegdes, que, classificadas segundo ctitérios “cientificos”, deram origem aos muses, » O interesse pelo estudo de vestigios da Antigiiidade e a reutilizacao d o$8C8 éculos vestigios para embelezat o novo levaram eruditos europeus a fazer, desde o' XVII e XVIII, levantamentos das rufnas romanas também de antigiiidades nacionais, Os antiquatios colecionavam, acumulavam fragmentos do passado, trocavam informacdes ¢ achados, faziam viagens, descobriam monumentos ¢ tumbas. As viagens, como jé disse, permitiram que o homem se defrontasse com outras civilizagdes e, como nos diz Francoise Choay, exercesse 0 “diteito” de pilhar. Foi assim que Napoleio pilhou Roma, o restante da Europa ¢ 0 Egito, levando para a Franca bens que se enconttavam abandonados por séculos. Foi durante 0 século XIX que, do ponto de vista da historia da arte, se construiu uma interpretagio que passou a valorizar a otiginalidade. Antes, muitos pintores eram considerados grandes quando conseguiam copiar perfeitamente am mestre. E a maestria tinha a ver com o padrio de perfeigao artistica — 0 classico —, que considerava 0 século V do mundo grego como cinone maximo da arte, pyr Ren ‘A modernidade na arte significou a valorizacio da subjetividade e a inven- cio do “genio”. Os elementos da criagao estética, antes derivados de estimulos simbélicos ¢ materiais da Igteja ou do Estado, passaram a se afirmar como te- sultado da autonomia do aisles. nos diz Teixeira Coelho (2005:41), “o singular predomina sobre 0 coletivo € aspira tornar-se universal”. A autonomia da arte se replicou na autonomia de cada pratica artistica, que se desdobrou na autonomia do artista. O artista, isolado ¢ até em oposi¢ao A sociedade, se con verteu em heréi, A idealizagio da figuta do artista e de sua misso permitiu a realizacio do ideal romAntico de unio entre arte e vida. Sob o signo desse novo ideal desdobraram-se os conceitos de génio— aquele individuo que se destaca dos demais — ¢ de vanguarda, Isso era importante, j4 que era preciso explicar a intup ga do novo, registrar a diferenca e a ruptura que interrompia o fluxo comum @ linear dos acontecimentos, Cabe notar que o heréi moderno também mudou de perfil ao longo do século XX, passando a significar o homem comum, seja aquele que perambula pelas ruas da cidade, seja 0 que passou, pelas razGes mais varias, 106 Loca Li Ouvein do anonimato a fama, O culto da celebtidade, com seus “15 minutos de fama”, Acompanha o ritmo do mundo moderno. ita tanto, retoma os conceitos fragmentado ou descentrado in(s) identidade(s). Para ele, as mudangas ocorridas na segunda metade do século XX foram tio profundas ¢ abrangentes que cabe perguntat: nao setia a propria moderndade que etaca send eas ora ISTE de identidade e de sujeito e aponta pata o cardter Pode-se fazer diversas aproximagdes sucessivas Para procurar entender 0 que € 0 pés-moderno, No dominio da arquitetura, o pés-moderno surgiu com maior clareza e transbordou para as demais artes. A Ptoposta pds-moderna Na Arquitetura se configura pela recusa do funcional ¢ pelo recurso ao estoque cultural existente na histéria. Com ela ha mesmo o fim da obsessio pelo novo. A ldéia de combinar partes preexistentes faz. 0 estilo pés-moderno ser uma espécie de neo-ecletismo, pelo uso de todos os cédigos anteriores na mesma edificagio, sem qualquer preocupagao com o contexto histérico que os originou. Como diz Teixeira Coelho (2005:65), 0 pés-moderno contém: “ecletismo, citagio, faga dos padres habituais do bom gosto, mistura de elementos expressivos”, © arquiteto Sérgio Magalhies” nos fala dos conceitos que a doutrina urbanistica e arquitetOnica assumiu por mais de 100 anos. Todos acreditavam na flecha do progresso, num futuro necessatiamente 16seo, © 0 urbanismo achava que era sua responsabilidade construir esse futuro... Os Urbanistas tinham confianga na disciplina, porque estavam projetando o que seria perfeito la na frente — tanto a cidade como a sociedade, Podiamos desconsiderar 4 hist6tia, os precedentes, as preexisténcias, as relagdes sociais, isso tudo nio nos servia ~ tudo seria superado, 0 Kim entrevista concedida a Américo Fal de abril de 2004, 10 carloea, em DESAFIOS DA CONTEPORANEIDADE 187 E menciona como se demorou a tet consciéncia da grande mudanga dou- trindria por que passara a arquitetura. Para Sérgio Magalhiies, os arquitetos bra- sileitos ainda estavam nos anos 1970, na era do “Brasil grande”, Enquanto isso, no mundo: Jiinha sido demotido aquele famoso conjunto de St, Louis nos Estados Unidos. i bom lembrar que, em 1972, os Estados Unidos implodiram um conjunto tesi- dencial de milhares de apartamentos (0 Pruitt Igoe); fo implodido porque che- garam 4 conelusio de que aquele Conjunto nfo tinha mais solucio, Ble tinha sido tum proto muito premiado, mas foi uma débaee completa sob o ponto de vista social, porque passou a ser o lugar do banditismo, guetos ¢ mais guetos, gueto dentro de gueto, ¢ chegou-se i conclusio de que nio havia mais como resolver agulo ¢ entdo 0 conjunto foi implodido, B esse conjunto tinha sido concebido nas melhores regras do modernism, A forografia da implosio do conjunto é escolhida pelo tedrico Charles Jencks, que popularizou a expresso arquitetara pés-moderna nos Estados Unidos, como a imagem-signo do fim da arquitetura moderna. Transbordando da arquitetuta para as demais artes, vejamos o quadro A toatl i i i nceitos: comparativo a seguir, que pode nos ajudar a compreender os dois co} Modernidade Pés-modernidade Simplificagao Complexidade Unicidade Exclusividade (“ou... ou”) Inclusividade (“e... e") Purismo Hibridismo Unidade obvia Vitalidade emaranhada 188 Lica Lr Ouveira Os tragos da modernidade — forte subjetividade, tempo lineat/continuo, tacionalidade, planejamento, narrativas onipresentes e oniscientes — entraram em declinio. As matrizes da sociabilidade também declinaram — como classe social, sexo, grupo étnico, grupo religioso, educagio, familia, partido politico. Na pés- modernidade cresce a busca natcisica da auto-satisfagao, tem-se 0 novo descen- tramento do sujeito ¢ a reinvengio de novas comunidades e ttibos, guiadas por filiagSes estéticas, pelo consumo, pelo lazer e pelo corpo. Esse novo mundo passa a ser caracterizado pela heterogeneidade, vulnetabilidade, teattalizagio e estetiza- cao do cotidiano. © impacto disso tudo nos tltimos 30 anos produziu uma literatura que condena ¢ lamenta o fim do moderno € outra que afirma estarmos apenas dei- xando uma forma histética de ver 0 mundo que se definia como padrao, que se iludia ao definir a si propria como o bom, o bem ¢ o belo. Ficou-se entre a nostalgia do moderno, a defesa de valores de resisténcia ¢ a afitmagao positiva da pos-modetnidade. Se isso é assim no espago global e no tempo de agora, o que se pode dizer do caso particular chamado Brasil? Um Angulo particular desse processo global é destacado por Caetano Veloso, ao dizer que aqui “tudo construcio ¢ jé é ca das normas e da moral da Igreja Catélica, a abrangéncia do Estado portugués, transplantado para.a colénia, a imobilidade e rigidez das leis, a“ordem” limitando 0 “progresso”, entre outras tradigdes, podem ser citados como valores contra os quais a modernidade procurou lutar. A idéia de que é possfvel ctiar tudo de novo, como ja mencionei, procura enfrentar o peso dessa heranga, diz que o passado é um peso,e devemos nos livrar dele o mais rapido possivel. A contrapelo disso, vale lembrar de momentos da histéria em que 0 pas- sado ¢ a tradigio fizeram seu retorno ao presente como nos casos do modernis- DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE 189 mo, retomando a questo da identidade nacional, muito similar ao romantismo} do Estado Novo criando o Iphan para preservar os bens do passado artistico ¢ historic; da ditadura militar criando a Embrafilme para preservat o imaginirio nacional. Ao longo dos capitulos deste livro, procurei apresentar, discutir, questionar a heranga cultural que recebemos das geragdes anteriores ¢ a que deixaremos pari as ‘es vindouras. : a Ts da cultura em primeiro lugar como uma dimensio da vida social, Sabe-se que todas as atividades tem uma dimensao cultural, ou seja, expressain valores. A cultura também expressa, por outro lado, uma esfera da sociedade que envolve atividades ligadas a setores como miisica, artes plasticas, livros, cinema ¢ audiovisual, entre outras, com seus produtores, consumidores, instituigdes @ politicas. Os bens (matetiais ou imateriais) culturais, ou seja, aqueles que foram ou sio valorados positivamente continuam exigindo uma anilise que contiibuit para o nosso conhecimento do campo. Os bens culturais devem receber wm tratamento que dé conta de sua historicidade, da atuacio de pessoas ¢ grupos responsiveis pela ctiagdo de instituigdes € politicas publicas direcionadas a0 seu desenvolvimento. ‘Tratei também das politicas culturais adotadas pelo Estado brasileito ao longo do século XX, principalmente aquelas que deram origem a instituig6es como o Iphan, os museus, a Funarte, a Pré-Memoria, entre outras. Destaquei dois momentos: o Estado Novo ¢ os governos militares, ja que foram momentos de implementagiio de importantes politicas culturais, Além das politicas ¢ di inatitulgdes, procure’ destacar © papel dos intelectuais que formularam tal Procurei oferecer um guia ou mapa capaz de ajudar a percorrer diversos caminhos e a enfrentat os desafios derivados das atividades que compreendem fera da cultura. Os conceitos de cultura erudita, cultura popular, cultura de massa, cultura nacional-popular nao sio mais suficientes para dar conta dos pro- cessos em curso, Eles perderam a capacidade de contribuir para o entendimento do que se passa nesse mundo que nfo reconhece mais a validade de padrées auto- rizados de gosto. A cultura da identidade nacional perdeu sua forga em beneficio do processo de identificago de grupos e subgrupos locais ¢/ou transnacionais. ‘Talvez 0 conceito de “glocal”, exatamente por juntar os dois desafios simulta- “ neos—o global ¢ o local —, possa oferecer melhores indicagdes para agu¢at nossa percepgio diante do que estamos vivendo. O socidlogo Renato Ortiz (2006:119) insiste, em seus trabalhos sobre a globalizacao, em assinalar a diferenga entre o processo de globalizagio econd- mica e tecnolégica e o movimento de mundializacao da cultura: “Trata-se de um proceso social que atravessa os lugares de maneira diferenciada ¢ desigual. Sua logica niio se explicita através do Estado-nagio, daf falarmos em sociedade global, world system, modernidade-mundo”. Segundo ele, a economia e a cultura estéo mais globalizadas do que a politica, j4 que esta requer mecanismos ¢ instituigées para a sua acio. A globalizagio modifica a universalidade dos valores politicos, que, por sua vez, tinham preterido a universalidade das religides. A mundializagio redefine a nogio de espaco, alterando o que se entende por local ¢ nacional. A complexidade da situagaio no mundo faz. com que os canones, os conceitos utilizados para interpretar as mudangas, sejam enganadores, equivocados. Para avangar na interptetacao do novo sua sugestéo é perguntar: “De que lugar pensamos a globalizacio?”. Bibliografia Moacir dos. Lacal/ global: a arte em transite, Rio de Janeito: Jorge Zahar, 2005. jo Arte.) BERMAN, Marshall, Tudo que ¢sélido desmancha no ar; a aventura da modernidade, Trad. Catlos Felipe Moisés ¢ Ana Maria L, Ioriatti, 13, reimp. Sio Paulo: Companhia das Letras, 1999, BHABHA, Homi. O Jocal da cultura, Belo Horizonte: UFMG, 1998, CHOAY, Frangoise. A alegoria do patriméinio. Sio Paulo: Unesp, 2001. COELHO, Teixeira. Diciondrio critico de politica cultural; cultura ¢ imagindrio. 3. ed, Sio Paulo: Tluminuras, Fapesp, 2004. . Moderno ¢ pés-maderno; modos ¢ versées. 5. ed. So Paulo: Huminuras, 2005. CUNHA, Eneida Leal. Estampas do imagindrio, Belo Horizonte: UFMG, 2006. GARCIA CANCLINI, Néstor. A glbalizaedo imaginada, Sio Paulo: Huminuras, 2003, HALL, Stuart. A identidade cultural na pos-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 20 104, HARVEY, David. A condigao pés-moderna. Si Paulo: Loyola, 1992. HUYSSEN, Andréas. Sedicgidos pela meméria; arguitetura, monumentos, midia, Rio de Jancito: Acroplano, 2000. KENNETH, Bock. Teoria de progresso, desenvolvimento e evolugio. In: BOTTOMORE, Tom; NISBETT, Robert (Orgs). Histtria da anéiise sociligica. Rio de Janeiro; Zahar, 1980. p. 65-117, MORICONE, {talo. Sublime estética, corpo da cultura, In: ANTELO, Raul (Org). Declinio da arte, ascnsia da cultura, Flotianépolis: Letras Contemporiineas, Abralic, 1998, p. 63-70, ORTIZ, Renato. 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