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veo: ‘Stuare Hal = 10° cago DPA estore 1 ‘A IDENTIDADE EM QUESTA questo da identidade esté sendo extensamente dscuida na teovia soca. Em essénca,oargumento€0seuinte: 2s velhas identidades, que. por tanto tempo ‘stabiizeram o mundo coca, esto em declinio, {szendo surgi novasidenidadesefraginentande ‘9 indivduo moderna, até equi visto como um ‘wjito unificado, A assim chamada “crise de ‘entidade” ¢visie como parte de um processo tmaisamplo de mudanea, que estédeslocando a8 festutures © process centais das sociedades moderas ¢ abalando os quadros de referencia, {que davam acs individuos uma ancoragem estvel so mundo social 0 propésito deste livro & explorarslgumas das questies sobre a identidede cultural na todernidade tarda e avaliar ap existouma “else ‘de identidade", em que consnte esn crise e em ‘gue dregdo ela eat indo. O io eo vo para {GuetSes como: Que pretendemos dizer com “rise ‘Seidentidade”? Que scontecimentosecentes ns ‘socldades moderns precipitaram esa criss? Que formas ela toma? Quis fo suas conseqiéncias potencisis? A primeira parte do lv (aps. 1-2) 7 lida com mudancas nos conecitos de idenidade © de sajlo. A segunda parte (np 3-6) denenlve fase argumento com relagio a identidades culturais~ aqucesaspectos de nossa idenidodes ‘que surgem de nosso “pertencimento” a cultras nieas raciis, Linguistica, religosas ey aca etd, nana, ate liza exert a pat de ums pasigla Desicamente simpatica & afirmagéo de que as fdemidades madernss esto senda descents” isto é, desloeadas ou fragmentadas Seu propsito 0 de explorar esta alrmagdo, ver ¢ que cla implica, qualita e disatr quai podem ser ‘sts provivels conseqiéncins, ho desoavolver 0 frgumento,introduxo certs complexidades © ‘examine alguns aspectos contaditrios que a nogéo de “descentrapio”, em sua forma mais ‘Spliced, devemlers Consequestemente, a formulagdes deste Treo ado provisvins © aberas di contetagSo, A opinito dentro da comunidede sociolégea eat tinda profundamente dividida quanto. esses fesuntos, As tendéncias sio demasiadamente ‘eentes ¢ambiguas. 0 préprig eonesito com o qual ‘ctamce dando, “teoidade”, & demasidamerte ‘complene ie poucodesenvevido e muito pouco ‘compreenddo na cncia soil contemporaine para ‘ser definitivamente posto prove. Como ocerre am muitos outros Fendmenos seis, 6 impossivel ‘lever armies conduit ier jolgamenon seguro sobre a alogagdes ¢proposigtesttriens ‘que eatfo aendo apresentacas. Devos ter iso fm mente ao se ler 9 retante do ro, Para squolesasteéricslas que screditam que as idenidades modernas esto entrando em Colapso, 0 argumento se desenvolve da seguinte forma. Um tipo diferente de mudanga estutural sd uansformando ai sociedales modernas no final do steulo XX. Iso ext fragmentando as paisgonsculturas de case, géner,sexualiade, emia, aga e nacionalidade, que, na passsdo, nos tinham formecido aélidas loealiapdes como individuos sociais. Estas transformacdes esto também mudando nossa idenidades pessonis, abalande adéia que tems de ns préprios come ‘jets intgrados. Esta perda de um “sentido de si” estvel 6 chamada, algumas vezes, de Aeslocamento on descentraglo do suete. Ese ‘dup dedloesmento = descentraco dos ndvdos tanto de seu lugar no mundo tocal e cultaral ‘quanto desi mesmos ~ consti uma “erie de idontdade” para o indivduo. Como observa 0 ‘rtco cultural Kobena Mercer, “a idenidade Somente se torna uma questio quando esté em ‘rise, quando algo que se supe como fixo, ‘coerente¢ estivel & dedlocado pela experimen ta diva eda incereza” (Mercer, 1990, p. 43). Esces procestos de mudangs, tmmados em conjunto, representam wm processo. de teansformagio to fandamentl e abrangente que ° somes compelidee a perguntar se nto & a ripe ‘moderna questi send wansformada. Fate lo ‘erecenta una nove dimensto ease argumenta: ‘firmazgo de que naquilo que & desta, alas ‘ze, come nosso mud pls maderno, nb somos também "pe" relaivamente a qualquer concepeae ‘rencialstaou fade dentdade alge que, deade 6 Thaminom, se supe dfnieo proprio mile ou ‘ustcia denen se efandamentar nossa existe ‘como sujetoe humanos. A fim de explora ess ffimagto, devo examiner primeiramente a= defngde de idence eo carter da mudanga ma ‘moderidade tri. Tras concepcses de identidade Para os propésitos desta exposicto, istnguiel tts concepytes muito diferentes de Sdentidade, a saber, as concopgées de idenidade a 4} sujet do Tuminismo, D) auto sociabgic © 6) sujet pis moderno. 0 sujcito do Tuminismo estava baseado uma eoncepgio da pessoa humana como um individ totalmente centrado, uniieade, dotado as capacidodes de rio, de conseneiae dear, ‘je “centro consis num nile interior, que ‘emergi pela prizcza vex quando 0 sujeito marcia ‘ccom ee se desemvlva, nda que permanceondo ‘esencialmenteo mesmo ~ continuo ou “ientca”™ ‘tele—aolongo da estncadoindivduo.O centr ‘essencial do-eu era dentade de uma pestoa ‘ize mais sabre into em aoguida, mss pede-e ver ‘que esa era ums conceps8o muito “individualist” alo sucto © de sua idenidade (na verdade, a iemtdade dle: que osxjeito do Muminismo er vsuslmente desert como easel), ‘A nogio de sujitosacoligion refleta a csescente compleriade do minde modermo © 2 anseidnca de que este neo interior do sjeto ‘io era autdnome eauto-sicente, ras ers farmado ra relago com “outas pessoas importantes para ‘de, que mean para sujet os valres, eats feos ~ a ealra = dos mondon que eel Ibias, CL Mead, CH. Coley eositeracons simbiicos so as figura-chave na soilogia que tlaboraram esta concepgio “interativa” da ‘dental edo ex De aca com exe visto, que Se tonou aconesp socal Lica a quo, Aidentidade ¢frmada na “inerago™ ere o eu © 4 sociedade. O sujito sinda tem um nécleo ou fesséncia interior que € 0 "eu rea”, mas este & Trmado e moicade nam dog conuo com os updos culturais“eeriare” ea denial qe ‘xees mundosofecem, A identidade, nessa concepeto scislgic, preenche oespag entre o “inter” eo “extrae™= ‘entre 0 mundo pessoal eo mundo plc. 0 fato de que projetamos a “née préprios” neseas identidades eulturais, 20 mesmo tempo que intemalizamos seus sigrifcadne valores mano fs “pare de nés", contribu para alinhar noo entimentossubjetivos com s lignes bjties que ‘eupamos no mundo social eeultiral A identidde, nto, cota (os, parr una metfora mie aut”) oaujeita estate, Esablia tatoo sjeltos quanto os mundos culture que eles habitam, torando ambos reciprocamente mais uniicados e prodiiveis. Arguments, entctanto, queso atamente esses cats que apr esto mando", O ajo, previamente Vivido coro tendo urna ietidade ‘nifiada eesti, et se tamando figment, composto no de uma Gniea, mas de vérias dentades, alpimas ves contains om no: resalidas. Corespondentement os identidades, ‘que compunham as paisagens scisi "A for que ascoguravam nose conformidadesubjtiva ‘comas “necessidodes”objtivas daculura, ese entrande em colapso, como resultado de ‘mudangas esrtorase institucional. © pep procesto de identcagio, através do qual projetumos em nossas identidades cultursis, fornou-re mais provisdrio, variével ¢ prebleméticn, me proceso pour sito pincer, ‘eonceptalizado come nfo tnd ua identidade fixa, essencial ou permanente. A identdade 2 torna-se uma “eelebeagio mével": formada € trasfornada eominuameste em relagio i formas pels qusi somos representa interpeads og sisemas culturais que nos rode (Hall, 1987). ‘defini histoscamente, no biologioamente. O sujet assume identidades diferentes em diferentes ‘momento, identidades que no so uificadas ao redor de umn “ea” coeronte. Dentro de née hi ‘Meniddes conradiiasexpurandn en dierent, Ares, detal modo que none eninge exo Sexo contimnamentedesoraias, Se seta que ‘eros uma identdade nifieada desde onascimen ‘uéamorte apenas parqueenestruins uma eden tstéra sobre nés mesmas ou uma confortadora “namatva do ew” (veje Hal, 1900), A idertidade lenamenteuifcada completa segura cocente tua fantasia. Ao invés dia, 8 medida em que os sistemas de sigiicaioe represeniagaoealtiral ‘multiplicam, somes confrontados por una ‘muliplicidade deseoneertante e cambiante de ‘Mentidades passives, com cada uma das quis Poderiamos' nes identifiear — a0 menos temporatiamente Deve-se ter om mente que as irée concepgies de sujeito acima sto, em alguma ‘medida, simplifeagées, No desenvalvimeato do argumento, elas se tornario mais complenas € ‘qualifcadas: Nao obstante, elas ne prestm como Pontos de apoio para desenvalvero argumento ‘ental dest iv, 3 a © coréter de mudanga na ‘modemidade tarda Um outro aspecto desta quostao da ‘entidade eat relaconad carter da muda ‘na modernidad tarda; em particular, a0 proceso ‘de mudangaconhecide como "plobaliagto” eee impacto sabre idestidade clara, En exadnia, o argumento que a mudanga nna modemidade jardia tom um eariter mito ‘speci, Como Mare dase sobre a moleridade: 4» permanente sevaconar da prod, © ‘har ier dodo cond sin, ‘acess 9 movin tn Toda 9 ‘apes fat «songs co ti coe de erasasropresenagsee'e concep, #86 Sas, on vlSe ect fomade veloc aie de perm eocrae Tudo ‘ea votid se denen Marc Engel 1913,9.70, As tocedades modernas ato, portant, por definigao, sociedades de mudanga constante, "ipidae permanent, Eta &aprinipl distngso fentre as sociedades "wradicionais” ¢ as “modernas". Anthony Giddens argumenta que: sascedade tadcionsi, psad vnc ‘echoes vlan org cnn © farsuen acnpcnen de geogtes A wags if oats dy hdr cm « topo s 9 epee, fnveri gualguerstiviade ov experi [sone st etna de penn ree “ far, genio ves, areas I price soci ecorenes (sen, 1990, 378), A modernidade, em contraste, no & \defnida apenas como a experiacia de comvivenca com a mudanga répida, abrangente e continua, ‘mas 6 uma forma atamenterellexiva de vida, na qua: Ae peer ee eee Sooecae a aoe rere =e Se le 6 ene ca a reaeseneet ‘excalesindefinidas de espagotempo” (bid. p. 21). Veromos todos esses tomas mis adiante ‘uotnto,o pono geral que gostaria de enatizar 60 das decontinuidades Oe moder de vida clocados em seo pola ‘eerie ar ara, de in rma ass infin, de todos cr tps trios deren isl Tas om etm, gan emineniale ‘Stamnes senna ede 8 ‘Sipe de ques mai dat wang Greta dn pron ater No la ‘Teena, pa ote Se reac sel ue ¢ gobo: em term de ieee, dan ser) algnt ‘Ercrancietie misma epemoe not ‘ttc esas (iene, 1990.2, David Harvey fla da modernidade como implicando ndo apenas “um rompimento impiedoso com toda e qualquer condiczo precedente", mas como “earacterizada por um Drooesso eam-fim de rupturas ¢ fragmemagbos Internas no seu pepsio interior” (1989, p. 12). Ernest Laelau (1990) usa 0 conceito de “deslocamento”. Uma estrutura deslocads & aguela eujo eentro € deslocado, nio sendo Subattuid por outro, mas por “uma pluralidade de contro de poder*. Ax soredades moderns, frgumenta Laclas, nfo tém nenbum contro, nenhim principio ariculader ou organizador fnica'e nn se desenvolvem de acordo com 0 ‘ledobramento de uma inica "causa" ou "ei. ‘A sociedad mio 6, come os seiflogos pensaram muita vezes, um todo nical e bem delimit, uma tolalidade, produsindacse alravés de rmudanges evoluciondrias « partir de i mesma, ‘come o desenvalvimento deta lors pate de seu bulbo, Ela esté constantemente sendo “descentrada” ou deslocada por foreas fora de si ‘As sociedades da modernidade tarda, argumenta ele, sho earacterizadas pela "diferenea; elas 50 atrsvesadas por diferentes diviseseentagonismossociais que prodazer um variedade do siferontes “posigses de sujeto™ — isto 6 ientidades ~ para os individuos. Se ais Sociedades no se desinigram totalmente nfo & porque elas 0 urficadas, mas porque seus ‘Bferetes elementos ¢ identiadea podem, sob vertas cireunsténcias, eer conjuntamente artclaos. Mas esa artculacdo@ sempre parcial: ‘sestratur da dentidade permancee aberts, Sem isso, argumenta Laclay, no haveria nenkuma ist, ata uma cancepede de dentidade muito Glifereatee muito mais pertrbadorae proviséria {do que as duar anteriores. Enretant, argument aclu, isso no deveria nos desencorajar: 0 eslocamento tem caractristicas postvas. Ele Cesarticla as identdades estveis do pasado, ‘mas também abre possbilidade de novas ” aniculages: a eriagio de novasidentidades, a [ocho de novos sujelts eo que ele chara de ‘reeomposigso ds eatrtura em torn de ponte rwaais particnlares de artiulagéo” (Lacan, 1990, 0. Giddens, Harvey ¢ Laci ferecem leituras tunlo diferentes da natureaa da mudanga do ‘mundo pés-moderno, mas suas énfases na ‘lescontinidade, nafragmentagio, na ruptura © hho desleeamenta contém uma linha comm. Devemos lero em mente quande sentra o impacto da mudanga contemporines coohecida na questo fdades? ‘x6 aqui os argumentos parecer bastante alguna iia de como eles se iuaglo coneeta odo que eat contestadas definighes de (que ilustra as conseqiténeias pollticas da Iingmentagio oa “pluralizagia” de identades. im 1991, o entio presidente americano, Bush, ansioto por restaurar uma maioria ‘comservadora na Suprema Corte americana, feneaminhou a indieaguo de Clarence Thomas, lu uit negro de visées politics conservadoras. Nojulgamentode Bush, os lites branews (que podiam ter preconcsitos em relagio a um juix negro) provavelmenteapoiaram Thomas porque ‘le era conservador em termns da legisla de igualdade de direitos, e 6 eleitores negro (que apéiem polteas Hberais om quetacs de mga) ‘poiariam Thomas porque ele era negro. Ei inter, o presidente estava“jogando 0 ogo d fdentidades™ Durante ss “audincine” em torno da indieago, no Senado,o jis Thomas foi acusado de assédio sexual por uina mulher negra, Anita Hill uma exealega de Thomas. As sudincias ‘aucaram um esedndalo piblic e plarzaram Sociedade americana, Alguns negro apoiaram ‘Thomas, bmeados na questo da raga; oon se ‘puseram a ele toma como base quent sexual, As mulheres negra eatavam divides, Aependendo de qual identidade prevaleia: ua ‘lenidade como negra ou sia identdade como mulher. Os homens negros também estavam

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