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gramdtica Repensar o ensino da ep tomy oy BS VRE EES * 7% ae Gp tau SRY BSNON : abbonag ~epmpahy 7 ENSINO DE LINGUA: ALTERNATIVAS OU SOLUCAO? Esse texto nasceu do siléncio. Um siléncio con. crotizado nos relatos dos professores, pela auséncia de depoimentos sobre uma questo ‘tio discutida: os problemas que o ensino da gramitica envolve. Um silénelo que revela chividas, medo de errar, falta de tempo e espago para reflexées mais demoradas sobre o ensino da lingua. Um silénclo cheio de questées: Por que a expresso esponténea do aluno é def- xada em segundo plano e a sua escrita é sempre con- siderada a partir da escrita adulta? Por que os alunos fazem os exercicios gramati- cais corretos e escrevem tao mal? Como fazer para que os alunos saibam usar em seus textos a lingua-padréo? Os exercicios gramaticais ajudam ou nfio a me- lhorar a expresséo verbal? Por que fica difiell falar em ensino de graméitica? A equipe de professoresmotivadores, em meio a esses questionamentos, ecos de sua pritfca-e de discussées com professores, aceitou o desafio, Resol- vemos escrever este texto, abrindo espago para a discusséo © o debate da terrivel questao: como rea. lizar andlise lingitistica * na escola? De imediato, sur. giu um problema: como escrever um texto coletivo Sobre assunto tio polémico? Como criar wm texto que no escondesse as diferengas individuais na abordagem desse problema? Na histérla deste Projeto, 0 Estigio de Forma. gio do Educador em Servigo, temos trabalhado se. gundo alguns principios comuns de educacao, lin. uagem, ensino de lingua, Vivemos, igualmente, na nossa formag3o, um ensino de lingua tradicional, centrado nas ligées de vocabulrio, gramética ¢ orto. gratia como forma de aquisicio de uma linguagem pessoal mais elaborada. Mais que isso, temos convi. ‘vido com esse ensino tradicional nas escolas publicas de hoje e com a ineficiéncia dessa pedagogia. No en. tanto, temos histérias diferentes com relagao & nossa pritica. Hé quem 56 tenha trabalhado com as pri meiras séries, outros com adultos; hé quem tenha fieado na Universidade. © que tinhamos a fazer, entiio, era aprofundar essa questio entre nés, Para aquecer a discusséo, imaginamos uma reu- niio de professores. Com gravador em punho, textos de nossos alunos, cara e coragem; colocariamos as ossas reflexGes 6 perseguirfamos a questio. Depois, transcreveriamos os primeiros resultados, revendo 0 nosso didlogo e reescrevendo as nossas diividas, acer. tos e diferencas para problematizar, revelar alterna. tivas, conchusées, E 0 fato aconteceu. Numa-quinta‘felra de final do vero paulistano, juntamos nossas experiéncias, soltamos nossas falas e personagens. Na grande maioria, nés mesmos. Gravando REGINA: Estamos aqui pars discutir nossas questées de saia de sula. Hojo, resolveinos trazer algumas redag6es de nossos alunos ¢ conversar sobre ‘A exprestio aqul 6 usada no sentide que Ihe confer © linglliste Jofo Wanderley Gerald. 168 as propostas feftes © os problemas que surgiram nese trabalho de produgéo de textos. GIL: Quem eomega? Regina, por que voce néo fala dos textos que voc’ trowxe? REGINA: Tudo bem. Vou entiar na pele e con tar a historia de uma professora que conhego (Ba personagem entra na roda da conversa.) REGINA: Eu queria que meus alunos escreves. sem bastante, entdo, disse a eles para colocarem no papel tudo 0 que havia acontecido durante o dia. les fazem tanta coisa, nao 6? SONIA: Voc8 pensou em partir da experiéncia. a erianga? REGINA: Pois é, mas no gostei dos resultados. ‘Vejam por exemplo, esse aluno, Lufs, Vooss acham que eu poderia dar nots numa coisa dessas? i Yee | Nore: toug Avil R. Soto » 26/2/p% | Mun dha eK | p | Ex, atnclic £° fai renvenor dnl fA pmentipe Gs a Pa (ae ee eee | FAM ILUSTRAGAO ee ee 426 Mew aia Bu acordel © ful escovar os dentes ¢ depois fal toma cesfé. Ai'en ful aerumar a minha eama E depois ful Jopar Dolinha e depois ful foga bola. depois eu ful anda dé biel cleta e depots eu fui au moca ai e ful asidi televisio, Ede. pois en fomel banho e ful faze a tarefa © depois vim pra escola FIM GIL: Vocé conversou com eles antes? REGINA: Um pouguinho. Pedi que pensassem no que tinham feito durante 0 dia e colocassem no Papel. GIL: Bom, esse aluno contou 0 dla dele. Contou tudo 0 que ele fez. Nao era isso que yoo’ pediu? REGINA: Sim, mas o problema é que o texto sé apresenta uma seqiiéncia de fatos ligedos por “e a!” ou “depois”, semelhante em tudo aos textos feltos pela maioria da classe. ESMERALDA: Entio, se a classe toda escreveu dessa maneira, vocé ja tem um problema para discu- tir com eles. Acho que o préprio tema favoreceu es se resultado, SONIA: Talvez voc devesse ter pedido para que eles recortassem um acontecimento imporiante do dia, salfentendo alguma coisa e, entio, narrassem esse fato, GIL: Bu vejo o seguinte: se a maforia da classe fea desse modo, eu pegaria um desses textos, bem representativo, chelo de “depois” e de fatos dbvios do dia e 0 colocaria na lousa, propondo uma alivi dade coletiva — reescrever o texto. Farfamos, entio, dofs trabalhos, Um, para eliminar a redundincia do “depois”, tentando fazer 0 aluno perceber que o uso do expressbes como “entio”, “af”, “depois” sfio re cursos caracteristicos da fala, enquanto, para escte- ver, existem outras formas de fazer ligagdes entre a8 frases. Um outro trabalho seria levantar idéias com 0 aluno ajudado pela classe, Por exemplo, numa p10 166 Poss Como casa, com quem o autor jogou bolinka, | © que cle sentiu, quem ganhou 0 jogo... Tentaria trabalhar, ampliando a idéia que éle tem, mas que | ‘Go représentou, nfo colocou no texto, SANDRA: Essa sua proposta me lembra uma vez em que trouxe para a classe alguns livros e o que despertou mais atengo foi 0 menino maluquinho, do Ziraldo. Esse livro, de modo geral, fala dos aconte- cimentos do diaa-dia de um ménino e ultrapassa 0 simples alinhavar de fatos. Eles gostaram tanto que quiseram fazer uma histéria do menino maluquinho que havia dentro deles, Para mim, foi uma surpresa, ESMERALDA: Um problema freqiiente nas re- dagdes dos meus alunos é que eles nao contextuali- zam 05 fatos narrados. Nao se preocupam em repre-_ Sentar para o Ieitor 0 clima, as opiniGes, os sent mentos que permeiam os acontecimentos, Os alunos sabem usar bem a lingua falada onde essas coisas j4 esto presentes nas pessoas e nas circunstincias do ato da fala, mas na escrita, .. Como fazemos isso? GIL: Quando voc’ propds essa redacio, vocé tinha ume expectativa de texto, nfo tinha, Regina? REGINA: Sim, mas no era nada parecido com © que cles fizeram. Parece até que nfo aconteceu nada com essas criangas, que eles no sentem nadal GIL: Seré que vooé nfo podria, antes de jogar 4 proposta, explorar um poueo mais o tema, 0 dita: dia, ‘tentando conversar mais sobre o cotidiano, deles? Seria importante fazer com que trocassem. ex: eriéncias, pois, de certo modo, isso irla mexer com as emogdes deles, ¥ dificil escrever quando A pro: Posta 6 colocada sem aquecimento. Ile nem sabe 0 Que pode escrever, mas tem de escrever. Hle quer far uma nota boa, até agradar voc®. O que ele nfo Sabe € que pode “desobedecer” essa expectativa da escola, de avaliacio e explorar um monte de coisas Ga vida dele. Se ele fizesse isso, certamente, 0 texto flearia mais rico e isso agradaria mais. SONIA: Seria importante os alunos perceberem ue 0 diaadia pode ser narrado, € passivel de es- critura, . 167 GIL: Na verdade, nessa proposta, ndo houve tempo e oportunidade para que o aluno buscasse dentro dele o que foi o seu dia. ESMERALDA: Mesmo porque, se eu chegasse para voc8, Regina, e Ihe perguntasse como foi seu dia, o que voeé contaria? REGINA: Bem, hoje. mel café... vim trabalbar nessa reuniio, ESMERALDA: Entdo, 2 sua fala estaria muito prdxima ao que escreverain seus alunos, n5o 6? REGINA: ¥, realmente. mancada. GIL: ¥ dificil fazer essa distingao entre fala © es rita, sobretudo nessa faixa de idade, pois as crian- ‘gas éstHio muito ligadas 20 conereto, ao mais proxi. mo, e acho que 0 mais préximo para elas é a fala. Ao escrever um texto, o aluno se apdla na fala e comete muitos “erros” do ponto de vista da escrita, (A conversa estava esquentando e era diftcit ficar na pele das personagens e, no calor das falas, no desenrolar do jogo foi cada wm na sua propria pele que acabou valendo,) «6 acho que diria,.. to. almocet e estou aqui, Acho que dei uma ISABEL: A diivida que tenho é se no estamos dirigindo demais, Principalmente nessa faixa de ida- de, até a 4 série, quando os alunos estiio fazendo suas primeiras redacdes e estéo se jogando no papel, ‘Tenho medo que fiquem bloqueados o nfo esorevam mais... © que vocés acham? REGINA: Acho que nao, Tudo dopentl vooé entendeu por “

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