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SUMARIO Artes GRAFICAS E CERAMICA .....+ 20 Fama INTERNACIONAL InTRODUGAO ..... Um Comeco Dirici. ORGULHO CATALAO O SAsoR DE Paris... EscuLTura .. ACLAMADO EM SEU Pais .. TEATRO E TAPECARIA CRONOLOGIA, HisTORIA DA ARTE .30 Museus, GLOssARIO 31 Ei SURREALISMO..... INSPIRANDO-SE EM OUTROS... A GUERRA NA ARTE E NA VIDA ... Invice ReMissivo (CONSTELACOES .. i Para fazer Tela Queimada 1, primeiro Miré pintou a tela com tinta acrilica, depois queimou- —| a e assinou-a, obtendo um efeito aleatério tinico. INTRODUCAO | Joan Miré (1893-1983) é considerado um dos mais versateis artistas do sécu- lo XX. E comum o vermos descrito como um surrealista espanol, mas basta uma rapida olhada nas paginas deste livro para percebermos que Miré era muitos artistas diferentes em um s6. Miré usou pinturas, esculturas, tapecari- as, ceramica, teatro e muitos monumentos publicos para expressar suas idéi- 2s, que tiveram uma influéncia duradoura e o tornaram um artista internacio- | nal. Tinha enorme orgulho de sua terra, a Catalunha, no nordeste da Espanha, e de sua cidade natal, Barcelona, 4 qual também pertenciam outros artistas, como Pablo Picasso, Salvador Dali e Antoni Gaudi. Miré era um artista agitado em uma época agitada. A variedade de sua visao abstrata é explicada neste livro e, a partir dos quadros de atividade, vocé poderd explo- rar sozinho as idéias de Miré. Veja abaixo como este livro esta organizado. As dimensdes Detalhe da pintura ‘Um pouco da pintura sio aumentado. do trabalho indicadas por do artista naquela época. Tlustracdo da casa do artista ou seus arredores. Um aspecto da técnica do artista, com atividades praticas para vocé experimentar. UM AmBIENTE TRADICIONAL Quando adolescente, Miré tinha aulas na Escuela de Bellas Artes, a academia oficial de belas-artes de Barcelona. Desenhos precisos eram muito aprecia- dos pela Escuela, enquanto a abstragao era conside- rada um estilo inferior. A personalidade tinica do talentoso Pablo Picasso havia chocado a Escuela doze anos antes. Mesmo dentro da atmosfera tradi- cional da academia, 0 uso expressivo que Miré fa- zia das cores era bastante reconhecido e, como ele mesmo no do desajeitamento”. ia, ganhou reputacdo como um “fenome- Havia artesaos dos dois lados da familia de Miré: 0 pai de sua mae era marceneito, e seu proprio pai era ourives. Sua familia morava na cidade de Barcelona, Desde menino Miré queria ser um artista, mas seus pais tinham outros planos para o seu futuro. A Montana VERMELHA Os desenhos de Miré provavelmente pareceram grosseiros e simples em comparacao ao trabalho delicado de seu pai. Talvez isso tenha levado seus pais a arrumar um emprego de ajudante de contabi- lidade para Mir6 quando tinha 17 anos. Ele nao se adaptou ao trabalho e, um ano depois, ficou muito doente. Para se recuperar, foi para a propricdade de sua familia no interior da Catalunha, perto da cida- de de Montroig, ou “Montanha Vermelha” (acima). La ele se apaixonou pelas amplas paisagens e pelas cores vivas da Catalunha, ¢ sentiu-se em casa, Cemitério, 1907, um dos primeiros desenhos de Miré, foi feito com muita atengao aos detalhes, T] A Reforma, 1915-16, f ‘ dos estudos de Miré com Gali INFLUENCIADO POR GALI Quando voltou de Montroig, Mir6 pde freqiientar uma escola de artes dirigida por Francisco Gali, um pintor cuja forte imaginagao adequou-se muito mais a Miré do que a academia. Sinta £ DEsENHE Gali orientou seus alunos a fazerem este exercicio para mostrar que a técnica de desenho precisa nao era a tinica forma de retratar o que viam. Pegue um objeto de forma incomum, como uma pi- nha ou uma garrafa de plastico amassada. Coloque- 6 dentro de uma caixa de papelao, sinta-o e dese- he-o sem olhar. Tente nao desenhar o que vocé sabe sobre 0 objeto, mas sim o que vocé sente, in- cluindo texturas e formas. Esta pintura mostra como 0 trabalho de Miré tornou-se livre sob a influéncia de Gali, Com cerca de sete pinceladas, apenas, Miré pintou a impressio de um homem correndo atras de seu cachorro. Este é um estilo muito diferente daquele da pagina 6. Uma “Coroa DE OLHOs” Gali, assim como Miré, aprec paisagens catalis e provocava seus alunos a verem muito a beleza das mais do que simplesmente colocava-se diante deles. Ele Jevava scus alunos a grandes passeios pelas mon- tanhas da Catalunha, onde os encorajava a vestir uma “coroa de olhos em torno da cabega”. Com isso que- ria dizer que eles deveriam estar sempre atentos a0 cenério e 20s acontecimentos que estivessem ao seu redor. Gali tinha uma visio muito ampla da arte, € incluiu poesia e musica em seus trabalhos. O jovem Mir6 deve ter sentido seus olhos © pensamentos se abrirem mais € mais Um NacionatisMo CRESCENTE Em 1915, Miré se tornou membro do Circulo Ar- tistico de Sant Lluc, fundado em 1893. Com seus amigos da vida toda, Joan Prats, Josep Llorens Artigas, J. F. Rafols e E. C. Récart, Miré pintou em Vilanova (acima), a 50 km de Barcelona, e conhe- ceu artistas como Antoni Gaudi. De todos os artis- tas e arquitetos daquele periodo, Gaudi o que me- Ihor simbolizou o orgulho catalao: ele nunca dei- xou Barcelona. Suas construgées eram modernas ¢ tinicas, sem nenhuma referéncia ao passado, Tal nacionalismo coincidiu com a fundagao do Partido Nacionalista Conservador, em 1901, e com um de- creto do governo, em 1913, que dizia que a Catalunha deveria ter mais independéncia em rela- cao 4 Espanha. ] O Retrato de V. Nubiola, pintado em IR |1917, mostra tracos do Cubismo. ORGULHO CATALAO Apesar de tornar-se internacionalmente reconheci- do, Miré sempre se considerou catalao e tinha orgu- Iho de sua provincia no nordeste da Espanha. Apés sair da escola de Gali, em 1915, Miré e alguns ou- tros artistas se juntaram para desenvolver um estilo moderno de pintura, reconhecidamente catalao. Em 1915, a Primeira Guerra Mundial estava a toda, impossibilitando o acesso a Paris, que era o centro do pensamento de vanguarda. Mas a cultura de Pa- ris alcangou a Espanha gragas ao marchand Josep Dalmau. Ele organizou exposicdes de artistas como Matisse, Rédon e Cézanne, que introduziram Mir sous amigos as idéias do Cubismo e do Fovismo, Siurana, a Vila, 1917, composto de blocos de cor, em um estilo fovista, (0 eucalipto é comum na Catalunha. Aqui, sua forma esta simplificada, 4 representando mais 0 lu- gar do que uma arvore. 0 céu tem muitas forma- ‘Goes diferentes de nu- Yens, para mostrar os diferentes tipos de eéu a0 longo do ano. (O CarATER CaTALAO © Miré c scus amigos buscavam a“ do temperamento catalao”. Isso significa que eles ‘queria pintar de forma a capturar a “experiéncia mensao mistica ‘ivida” de um lugar: a hist6ria e a meméria do ar- fista de uma cena. Caracteristicas comuns da pai gem catald apareciam regularmente nessas pinturas. Alfarrobeiras e cucaliptos, caracéis e serpentes ceram usados mais como simbolos para sugerir a at- da paisagem local do que para representa algum objeto em particular. Mir6 acreditava que ha- via dois lados da natureza catala: a paixdo ea praticidade ao encarar a vida. mos ~~ PNTE APENAS COM CORES * i | 0s fovistas, eujo estilo influen- ~oee : 1 782) | ciow Mir6, usavam cores para oe e/) 2 | tazer formas em vez de “preen- Le cherem” os contornos Pinte construgdes préximas a sua casa ou escola sem ha para delimitar a forma. Pinte io melhores para primeiro plano e cores claras dio idéia de profundi- dade. O vermelho tende a “saltar” para vocé enquan- too azul “afunda” na pintura. Seja ousado e criativo em sua escolha de cores. Por exemplo, sabemos que Ito preto, mas sob alguns tipos de luz pode parecer roxa ou azul. usar nenhuma. com cores fortes. Cores escuras uma estrada é feita de A Horta com o Burro, 1918, mostra 0 uso que Miré fazi Em suas pinturas deste periodo, a paixio era repre~ sentada por cores fortes ¢ chapadas e 0 aspecto realis- ta por linhas finas e detalhadas. Apesar de parecer e: tranha para muita gente, essa mistura de estilos sim- jo de Miré, bolizava os dois lados no cardter e: A tps gma O Sasor DE Paris gee pe ».. Em 1918, omarchand Dalmau organizou a pri- eae I meira mostra individual de Miro, em Barcelona. Miré viu isso como 0 término de uma fase de sua vida ¢ 0 inicio de uma outra. Saindo do Circulo Artistico de Sant Lluc, Miré deixa Barcelona em um esforco para tornar-se mais moderno em relagao & sua arte, Uma ImpressAo DRAMATICA Em 1919, a guerra na Europa tinha terminado. En- tHio, em marco, Miré fez sua primeira viagem a Pa- ris (acima). Nao ficou muito tempo. Em Paris, as muitas idgias vanguardistas ¢ a enorme quantidade de grandes artistas no Museu do Louvre parecem {6-10 oprimido. Voltou para casa sem pintar nenhu- ma tela. Miré voltou a Montroig e comegou a pro- curar por uma nova realidade em sua pintura. Pin- indo aspectos que poderiam nao ser vistos, mas cuja existéncia era sabida naquele lugar. Por exemplo, em sua pin tura de Montroig ele incluiu detalhes do sistema de drenagem. Do mesmo jeito, Miré pintou um sol bri- thante para representar o clima, mas nem sempre pintou as sombras que ele projetava porque poderi- am esconder outros objetos. rE tou cada detalhe de seus temas, incli tq A Fazenda, 1922, é um inventirio de cada detalhe de uma pequena fazenda. Vila ea Igreja de Montroig, 1919, al inclui muitos aspeetos do tema de Mir, como os esgotos da cidade. Este estilo de pintura era completamente novo e foi contra muitas idéias populares da época, como 0 Impressionismo. Enquanto outros artistas tentavam focalizar apenas um aspecto de seu ambiente, Mir6 tentava incluir tudo o que sabia ser real. Nao havia nenhuma alusio aos estilos ou técnicas do pasado no novo trabalho de Mir6, A Mulher do Fazendeiro foi pintado na Espanha e em Paris, em 1922-23. | Dr Vouta A FRANCA No final de 1920, Miré voltou a Pa trou um estéidio no n° 45 da Rue Blomet. Ele passa~ ‘ya os invernos em Paris ¢ os verdes na sua querida Catalunha. Durante todo esse tempo, viveu num es- tado de quase pobreza, comendo apenas uma refei- cdo completa por semana. Em 1921, 0 fiel marchand Dalmau organizou uma exposicio indivi- dual na qual Miré nao conseguiu vender nenhum_ quadro. Mesmo assim, nao perdeu a esperanga & continuou a pintar. Em 1922, pintou A Fazenda (& esquerda na pagina ao lado), em que mostrava suas idéias e técnicas recentes muito claramente. Esta era uma pintura cuidadosa da fazenda da familia de Mird, em Montroig. Continha muitos dos elemen- tos de seu estilo catalio, como 0 eucalipto. Miré era tao apaixonado por esta pintura, ¢ tio determi- is onde encon- nado a concluf-la, que a levava consigo quando via~ java, Em 1925, A Fazenda foi vendida ao famoso escritor norte-americano Ernest Hemingway. Esta pintura mostra a influéncia de Picasso € do Cubismo em al- guns dos primeiros trabalhos de Miré. A mulher é mostrada sob muitos Angulo a0 mesmo tempo. Alguns dos detalhes, como suas mios e pés abrutalhados pelo tra- batho, sao enfatizados. | REaLpaDE COMPLETA f | ee : Miré usou a técnica da “realidade coe os | ee) _.[ pinturas durante este periodo. Ele escolheu mostrar os aspectos menos agradaveis de uma em uma pitoresca paisagem catali, assim como os aspectos agradaveis, para dar a suas pinturas maior profundidade. completa” em muilas de suas |, como os esgotos Se voeé desenhar seu quarto, provavelmente desenhard apenas o que pode ver quando olha'ao seu redor: os méveis, janelas, porta e tapete, por excmplo, Mas isso representa realmente tudo 0 que voeé sabe sobre seu quarto? E os sapatos debaixo da sua cama, 0 enchimento de seu travesseiro ou suas roupas no armério? Eles também sao parte de seu quarto. Existem muitos outros clementos que vocé sabe que estio l4: 0s tijolos sob a tinta, a fiagio elétrica na parede, os canos no forro ou os tacos sob o tapete. Todas essas coisas fazem a realidade de seu quarto. Tente desenhar ou pintar seu quarto incluindo todos esses aspectos invisiveis assim como os visiveis. Imagine que todos os. objetos visiveis sao transparentes de maneira que voce pode ver tudo 0 que hi dentro deles. Seu trabalho final pode nao parecer tao realista quanto um trabalho comum, mas mostrard tudo 0 que realmente esta Id. ei Miro conheceu o poeta Tristan Tzara, uma celebridade do movimento Dada, em 1920, mas foi apenas em 1923 que sua arte comecou a se aproximar do Dadaismo e do ‘Surrealismo, Nesta época, Miré conheceu poetas contempo. raneos. Ele comegou a formar um grupo de amigos artistas que se encontravam perto de seu esttidio na Rue Blomet. Um Novo Ponto bE VisTA O VERDADEIRO SURREALISTA O movimento Dada lutava contra a razao, a légica Em 1924, o poeta André Breton publicou um © 0S métodos tradicionais de expressio artistica, Manifesto Surreatista, em que escreveu: “Acredito na Ele incluia teatro, poesia, teoria politica ¢ arte, & solugao futura destes dois estados... que so sonhos emergiu da destruigao social e fisica causada pela ealidade, um tipo de realidade absoluta, ou surreali- Primeira Guerra Mundial. Nao respeitava as for- dade.” O Surrealismo, assim como o movimento mas de pensar do passado. Os artistas do movi: Dada, foi feito também por poetas ¢ escritores que nicas e imagina-_queriam romper com as formas artisticas tradicion: mento Dada buscavam maneiras tivas para se expressarem, Su estilo nao tinha Muitos surreatistas comegaram a escrever de um jeito uma estrutura ou signiticados tradicionais, portan-_parecido com o estilo de pintar de Mir6, Breton, de- to era independente pois, deckarou: “Mir6 é 0 mais surreal de todos nds CRESCE O RECONHECIMENTO Em 1925, uma exposigao chamada La Revolution Surréaliste (A Revolu- cdo Surrealista) foi instalada na Galerie Pierre, em Paris, na qual o trabalho de poetas e pintores foi mos- trado. O Carnaval de Arlequim (veja na pig, 13) foi mostrado junto com duas outras pinturas de Miré e, aos 32 anos de idade, ele foi universal- mente aclamado, Uma Galerie Surréaliste (Galeria Surrealista) foi aberta no ano seguinte, para mostrar © trabalho de surrealistas famosos, Composigao, 1927, mostra o Surrealismo em como Miré, Man Ray, Max Ernst, Miré, ao unir imagens ao acaso. André Masson ¢ Marcel Duchamp. a3 2 A forma dos olhos é um importante simbolo do trabalho de Miré deste periodo. Eles nunca ex- pressam emogao alguma, mas estao geralmente in- cluidos entre os simbolos. Este olho mostra que 0 cilindro representa uma pessoa. Um tom de azul liga muitas das imagens. | , = ‘0 Carnaval de Arlequim, pintado em 1924-25, foi a primeira pintura de Miré a ser aclamada pelo pil O CarNAVAL DE ARLEQUIM 4 0 Carnaval de Arlequim foi a Gltima e mais surrea- Nao ha nenhum significado especifico neste trabalho ‘sta pintura deste periodo da carreira de Miré. O e nenhuma regra tradicional de pintura é observada. “Arlequim observa, com seu rosto metade vermelho, ‘metade azul, fumando um cachimbo e com o tradi- ‘sional desenho de baldes em seu peito. Perto dele «esti um violonista e dois gatos brincando no chao. E uma escolha aleatéria de imagens em uma disposi- lo il6gica, Mir6 nao fez nenhuma tentativa de ex- plorar os trabalhos da mente. Ele apenas tentou pin- tar a natureza bizarra e criativa de nossos sonhos. PINTANDO COM SiMBOLOS Miré usou mais simbolos do que desenhos precisos em O Carnaval de Arlequim. Alguns simbolos podem ser mais fortes do que pinturas realistas, pois mostram os elementos de uma cena que sio mais importantes ou emocionantes para o artista. ‘Tente usar simbolos para representar um aspecto de sua vida cotidiana. — Escolha um tema ou uma situaco familiar, como sua sala de aula. Imagine diferentes personagens, entre alu- ‘905 ¢ professores. Tente representi-los usando simbolos ou caricaturas no lugar de desenhos realistas, para que ‘ama outra pessoa (até mesmo uma desconhecida) possa entender alguns aspectos de sua vida na escola. Pesso- ‘ss importantes, como seus melhores amigos ou seus professores, podem ser maiores. Cores podem indicar 0

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