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Quarta-fsira 23 de Fevereiro de 1944 \urasnoteclonhesnatrn Go Dirio go Goctran, ‘eve er | Pau oermngi coli ree opt do cio 1 Série — Nimer 37 DIARIO 00 GOVERNO PREGO DESTE NOMERO—17610 SUPLEMENTO SUMARIO tabi Wevoge logislapdo aaterior adbre assuntos vo que (ata Ete di, pom 88:548—Regula o direito & sssistdocia judi- toda a legislagio sabre mavéria de que trata gos BIL° a 855" do de- MINISTERIO DA JUSTICA Decrete-tol nv 33:547 «A elaboragio do Estatuto Judicisrio nto wm ‘considerdvel beneficio para,a onganizagio judioié- ria portuguesa. Pela primeira vez nos tempos modernos se reiiniu em um diploma a regulamentagio total dos servigos que The respeitam. E mais do que iseo: deu-se um grande passo no cami- nho do seu progresso, Desde hé muito, porém, que uma nova publicagio do Estatuto Judicidrio se impunha. O Estatuto de 1928 encontrava-se profundamente transformado em virtude dag sucessivas ¢ freqitentes alteragdes que Ihe foram in- troduzidas, E certo que muitas destas alteragdes foram levadas a efeito por via do sistema de novos textos dados aos artigos do Estatuto; mas certo é também que mui- tas outras resultavam do estabelecimento de normas que renovavam, modificavam ou acrescentavam 08 pi eeitos estatutérios sem conterém qualquer referéncia a estes. Daqui resultou o caos na regulamentago dos diversos servigos que compdem a organizago judicidria portu- guesa, dispersa por variados diplomas, orientados, no "poucas vezes, por principios doutrinaxios divergentes. Na verdade, nem sempre os diplomas que alteraram ‘as disposigdes do Estatuto eo conservaram fiéis aos prin- cipios informadores da regulamentagio fixada no di- ploma fundamental, pois, miuitas vezes, as solugées adoptadas eram a aplicagio de novos principios, dife- rentes, quando nfo mesmo contrérios, daqueles que tinham orientado a articulagio do Estatuto jario de 1928. Isto provocou 0 aparecimento, ao lado de dis- posigles do Eatatuto revogadas, de dificuldades de har- ‘mor de muitas outras com aquelas que n08 novos diplomas se continham. Desapareceram assim em grande parte as vantageris resultantes da existéncia de um Estatuto Judiciério. Nestas condigtes, © tendo chegado 0 momento de se fazer uma revisio total do Estatuto, nio so afigurou aconselhével proceder a essa revisio pela introdugio de novas alteragées a0 de 1928, pois isso seria aumen- tar ainda mais a j4 enorme confusio existente. Preferiu-se o sistema de“se condensar o trabalho de revisio numa nova publicagio unitéria. Mas a presente edigto do Estatuto, além do propé- sito que ja se referiu, tem também 0 de, no sentido de um constante melhoramento das instituigdes judi- cidrias, contribuir para que a justiga se aproxime da- quilo que dela exige a conscitncia publica. Tiraram-se da experiéncia dos anos decorridos os ex- sinamentos que ela péde dar e tiveram-so também om conta os progressos realizados na doutrina e na legisla- perfeiggo jo seu funcionamento nao depende apenas da organica legal, mas da altura ética intelectual dos homens com que posso contar-se de um modo gers do grau de desenvolvimento cultural do povo. Como observou um grande jurista, a f6rga moral de que goza a idea de direito na consciéneia do povo —ee para éste a justiga 6 cousa elevada e santa ou nada mais do que wm bem como outro qualquer— contribue, em larga medida, pelo ambiente, severo ou frouxo, que cria para 8 qualidade da justiga. ‘No enianto, muito pode fazer também a organizagito dos. servigo Espera-se que para isso contribuam as innov: troduzides © que as instituigdes judiciérias satisfagam cada vex mais o ideal de rectidaa, que € 0 de todos os homens de boa vontade. 2, Um dos problemas mais delicados que a organi- zagio judiciéria pde & considerago do legislador é, sem ditvida, 0 do recrutamento dos serventudrios dos lugares de justica. ee . exercidos por homens integros, insensiveis as tentagées ‘capazes de comprometer a sua honestidade ou a sua ri- goross fidelidade ao dever. ‘Mas a integridade nao basta; 6 neces que a ela se alie uma comprovada competén pois 56 assim se conseguiré um regular fun dos servigos, condigdo indispensével para so conseguir ‘uma boa justiga, 152 stay oousideragdes, vélidas de uma maneira geral para todos os lugares de magistrados e de simples fun~ ciondrios do. justiga, evidenciam bem toda a acuidade e complexidade do problema. evidente que, por melhores © mais perfeitas quo sejam as leis, a justiga seré sempre, mais do que da oxcoléncia daa leis, 0 roflexo dus quolidades dos ho- mens encarragados da sua aplicagio, 3. Aw ultas fungdex do Lae ‘Tribunal de Justiga requerem um particular euidado na forma de reorata- hnento dos respoctives jutzes. ‘R jd hoje tonsiderado inadmissivel o principio do recrutamento dos juizea do tribunal supremo por meio tle simples promogiio dos juises da Relagio sob 0 re- rime de andgguidade, Fsse sistema, apesar do bé muito condenado, man- teve-se entre nds até & publicagdo do primeiro Estatuto Tuliciétio (decreto n° 13:809, de 22 de Junho do 1927). ‘Neste inaugurou-se um novo sistema, destinado a aproveitar melhor o mérito dos magistrados, mas 0 re- erutamento coutinuou a fazerse apenas entre os juizes das Relagbos, ‘0 campo de revrutamento dos juizes para 0 Supremo ‘Tribunal de Sustiga foi suoessivamente amplindo por diferentes diplomas, que admitiram o provimento em protesores. das Faculdades de Direto, da seoglo de Ciguoins jurfdieas, com vinte anos de servigo, © em advogados que tivessem sido ou, f6ssem prasidentes do onsalho gotel da respestiva Ordem membros do coa- Selha goral com mais de vinte anos de exercicio de ailvorotia,9 que tivessom publicado trabalhos nothveis sébre a ciénela do direito. ‘No presente Estatuto, reservando-se, como antes, me- tude dn vagas exstntes a jute do 2 instnci ter serdo nomendos por ordem de antiguidade, mas com ox- lusto dos que nfo possuirem os requisites do mérito indispensdveis, © alargou-se 0 eampo de recrutamento para provimonio da outm metade, admitindosae quo te fe possa Jaxer om professores, juizes e advogados com mais de quinze anos de exereivio da profissio ¢ inde- poudentemente de os iltimos, terem exereido ou no {ualquer lugar na. respectiva Ordem. ‘Quanto & primoira metade, o Conselho Superior Ju- dlicidrio deveré aprecinr a idoneidade dos juizes de 2 instagela, por orden. do antiguidade, o os que alo forum escolhidos consideram-se excluidos definitiva- tuente da nomeagio pare 0 Supremo Tribunal, por so Julger inconveniente quo recalam sucesivas aprecia- {Gee dBste género em relagio a magistrados que aspi- tam ao acesso ao mais alto tribunal do Pais. Relativamente & outra metade, redusiuse a quinze © prazo do vinte anos anteriormento estabelecido, o que esta na linha geral do presente Estatuto no sentido de facilitar a absorpgto pelos organismos judioiérios dos Komene de maier mérito, e da qual exietom nile 2 erosas manifestagdes. Acrescentaram-se os juizes a professores ¢ advogados, por nfo haver motivo para os par de parte, sendo cerio que, se nfo é normal que um jus excepeional com quinze anos de servigo nfo elas outras regras, o mais elevado pOsto da magistra- Tura, pode dare 0 caso de ter sido antes advogado ou professor (ou vice versa), hipdtese em que deverd aten- Airwovan lompo de exercicio das dues profssd ‘Também se nfio impde aos advogados a necessidade ‘de terom ooupado determinados cargos na Ordem, pois rode haver advogados de grade mereoimento que nunca Keakam pertonoido tos seus organismos superiores. 4, Sonsivelnente divergento do sistema anterior 6 precoituado neste Estatuto rélativamente ao reoruta- iuento dos juises de 2. insténcia. I SERIE — NOMERO 37 Entre nés, © no tocante & escolha dos juizes das Re- lngdes, tem-se oscilado entre o sistema puro da promo- odo por antiguidade e o da antiguidade © mérito, Sempre, através de totlas as oscilagdes, 0 campo de recrutamento 8 manteve 0 mesmo: o quadro dos juizes de 1 instaneia e dBstes os da 1.* classe,-a partir do ‘momento em que se classificaram as comaroas em trés classes. No presente Kstatuto mantém-se 0 mesmo quadzo de yooruttmento: 0 juizs do 1.* instincia e do 1 clase Porém, reservando-se metade das vagas para screm preenchidas segundo o sistema da promogio por anti- guidade e mérito, admite-se a possibilidede de a outra metade ser preenchida segundo o eritério puro da no- meagdo por mnérito, em termos andlogos aos descritos a propésito do Supremo Tribunal de Justiga, feitas as necessérias aduptagves. : ‘A finalidade déste ‘meétodo 6 por demais evidente. Pretendo-se tornar mais répido o acesso as Relagdes dos que se fenham revelado melhores, com as cautelas adinnte referidas (n.* 7). Por outro lado, e seguindo © que sé estabeleceu no de- ereto-lei n.° 31:667, de 22 de Novembro de 1941, exige- se a classificagio de muito bom para o provimento nos lugares de juiz du Relagio. ‘ambém, no que se refere as Relagles, seria, om principio, junieady abr « posbilidade de nomeagio le professores, juizes ou advogados, em termos anélo; dos fixados para o Supromo Tribunal. Tom, contudo, mostrado a experiénoia quo nio abundam as pessoas em que se verifiquom as condig6es requeridas para tais nomeagéex e que a8 desejem. Por isso no se alarga as RelagGes 0 eritério adoptado para o Supremo. 5. Pensou-ee, quanto & composigio dos tribunais 6u- periores, em criar néles secgdes criminais ¢ civeis, 0 fim de se conseguirem os beneficios resultantes da ‘es- pecializagio dos magistrados. Bste sistema é vulgar mente adoptado nos demais paises 0 tem evidentes van- tagens, quer so mantenham indefinidamente em cada seegio 08 juizes para ela escolhidos, quer se Tenovem em determinados perfodos. ‘Verificou-se, porém, pelo exame das estatisticas, que iio tém tido os tribunais superiores movimento que 98- segure a vida auténoma das soogées criminais, ‘Em todo 0 caso, e porque da especializagio das sco- gies poderiam eperar-e verultadon eis, prevd-e note statuto ecsa medida, a pér em prética logo que 0 vo- Tame dos processos o autorize. ° 6. A adopylo do eritério do mérito en substituigao do exitério da antiguidade no recrutamento dos juizes para as RelagGos for surgir 0 problema do destino dos Juizes julgados em condigies de nto serem promovides no momento em que 0 devessem ser pelo lugar ocupaido na lista de antiguidades. Depois do certa evolugio, deserita no seu relatério, procurando harmonizar a’ necessidade duma rigorosa, selecgio dos juizes com a de nio sobrecarregar 0 Tesouro Piiblico, adoptou o deoreto-lei n.° 31:607, de 22 de No- vembro de 1941, a solugio de fazer aposentar apenas queles juizes em elagio aos quais se verificasse nilo ser conveniente a gua manutengio em fungdes de julgamento, continuando 0s outros em servigo, embora excluides da promogGo. Com tal solugio em nada ee fe- riam of interésses da justiga, visto ae compreender per- feitamente que um juiz, se for bom como jui de 1.* ins- tincia, possa contiauar a desempenhar as suas fungies, ainda que néo tenha sido escolhido para a 2° Foi ste iltimo o critério coguido no presente Este- tuto. 23° DE FEVEREIRO DE 1944 158 7, Incidentalmente, ao referir-se a forma de reoru- tamento dos juizes das Relagdes, abordou-ee o sistema das ‘Amosma necessidade do estimuler os mais eptos © mais competentes levou a adoptar um critério seme- Thante ao que, a respeito da escolha de juizes para a Relagéo, 80 descreveu. Quanto as duas hipsteses, hé que regulamentar ¢ aplicar convenientomente o sistema, que exige especial cuidado, a fim de se no ofenderem os legitimos interés- sey de ninguém. Os mais aptos devem passar a frenie dos outros, mas apenas quando verdadeiramente o sejam, Por isso se estabelece que se atenderd, para éave efeita, as classificagies e, em daso de igualdade de clas- sificagdo, ao maior mérito, devidamente apurado. Na verdade, pode suceder que, embora igualmente classi- ficados, existam diferengas ontre os magistrados, por as, classificagdes, cujos grupos sio poucos, abrangerem pes- soas de valor diferente, comprovado aliis, em termos segures, através dos seus trabalhos. Para que tal sistema possa funcionar regularmente, 4 indispensivel um corpo mais numeroso do inspectores, que por éste motivo é aumentado, pasando éles a sersete, ‘Na sua escolha haverd que por sempre o maior eser! pulo, tam difioeis ¢ carregadas de responsabilidades io as fuingdes que Thes campetem. Um inspector judicial nfo hé-de ser spenas um ho- tem honestissimo, mas possuir aquele grau superior de inteligéneia, de saber e de senso que Ihe permita dis- tinguir os bons dos maus e, entre aqueles, 03 que o so mais do quo os outros. E,'se pensarmos que tal juizo teré de incidir sobre magistrados, logo se avaliard a que ponto sobe o melindre da gua actividade © a ponderagio Teclamada para a sua escolha. E freqtiente ver-so afirmado que nas inspecges se tem atendido por vezes de preferéncia a aspectos merament: formais, com desprézo ou deminuigio daqueles por gue hor pode aferir-so s capacidade intelectual dos jui- ze. E possivel que haja alguma verdade nesta observa. 90. Seja como for, dispde-so agora, como orientacio ge- val, que nas inspecgdes deveri procurar deseobrir-se mais 6 valor moral ¢ mental do juiz do que, propria. mente, a maneira como executa prescrigdes de naturez burocrética, Estas tém a sua importincia e nZo podem, por isto, deixar-se passar sem reparo; mas 6 inaceitével que um juiz seja apreciado apenas por elas e se nio dé 4 mais alta atengio ao modo como julga, & isengio, a0 saber, a0 discernimento, a0 espirito juridico que man festa nas suas decisis. 8. No que respeita & magistratura judicial, resta fa- lax do problema das condigies de ingiesso. ©. problema divide-se em dois: um, respeitante is condigdes de ingresso na magistratura judicial; 0 outro, relativo ao campo de recrutamento dos magistrados. Analisemos os dois aspectos do problema, comepando pelo segundo. 9%. E antiga a questio-da determinagio de quem pote ser candidato & magistratura judicial. Tedrieamente tém sido sustentadas entre nés duas solugbes radicais — recrutamento entre 03 delegados v Florulamento onto o advogados — e uma solugioexléc tica — recrutamento entre delegados, advogados ¢ ou- tros funcionérios concretamente especificados. As solugdes que priticamente tém provalecido aio a do recrutamento exclusivo entre os delegados © a 60- lugio ecléctica, Polo sistema vigente & data do presente Estatuto, 0 reorutamento faziase entre os delegados © os doutores ¢ diplomados em direito com informagio final univer- sitéria de bom com distinpdo, pelo taenos, desde que Team, rexpectiramente, cinco e dos anos de bom efectivo servigo da profissdo de advogado ou das fungdes de delegado, juis municipal, chefe de sooretaria judi- cial, contador ou chefe de secgio das Relagdes e de dis- tribuidor geral. Em prinefpio, & entre 0s delegedos do Procurador da Republica que se recrutam os juizes de direito ou de comarca. Nao se altera, nas suas linhas gerais, o eritério vi- gente. Admite-se, porém, a nomeagio de doutores em di- reito, com 28 anos de idade, pelo menos, e trés de exer cicio de determinadus profiasdes, sem ‘necessidade do exame a que adiante se faré referéncia, pois jé tim o de doutoramento, que nfo dé inferiores garantias; re- duzse 0 prazo de exeroicio de algumas das profiesdes que habilitam os licenciados em, direito com informa- gio final de 16 valores, pelo menos, a requerer o exame para juiz, visto a experiéncia dos siltimos anos ter mos- trado ser excessivo 0 prazo actual, além da necessidade de atrair para a magistratura os estudantes mais clas- sificados das Faculdades de Direito. 10, Apurado onde deve ser feito o recrutamento dos magistrados judiciais, vejamos agora como devo fa- zer-to a investidura, isto 6, qual o processo de recruta- mento. . 0 adoptado uo Estatuto anterior foi o da nomeagio governativa, precedida de prévia aprovagio em exame de habilitagio. ‘Mantém-se em principio éate sistema no presente Es- tatuto. Mas, por um lado, permite-se a nomeagio de doutores, em direito, independent i ‘na magistratire Por outro lado, modifica-se em varios pontos a regu: Jamentagio do exame, de harmonia com os ensinamen- tos da pratica. Assinalam-se aqui apenas dois aspectos: aceite-se que os delegados reprovados continuem temporaria ente como delagados quando ao proves prostadan nko jam de molde a excluir esta solugio, condo certo que & possivel que win individuo no tenha eapacidade para ser juiz, mas a tenha para ser agente do Ministério Pu- Dlico, que ¢ cousa muito diferente; estabelece-se uma prova pritica, a fazer antes do exame e @ apresentar a0 juiri, cousistindo num trabalho judicial de certa di- ficuldade. Seria desejavel que se exigisse também, como se faz em numerosos paises, um tirocinio a quem quisesse ser juiz, no qual o candidato pudesse mostrar a aptidao necesséria para a judicatura. ‘Nio 6 num simples exame, por maior que soja 0 ca- ricter pritico que se Ihe dé, que as qualidades neces- sérias a um bom julgador se podem plenamente ma nifestar. Deveriam, portanto, sujeitarse os candidatos um tiroefnio junto dos tribunais, o qual, ao mesmo tempo que lhes daria a pratioa que thes falta, revelaria 4 guustenla ou inexsi@ncla no candidato do senso ju ridico indispensével na interpretagio e aplicagio das leis e dos demais requisitos a° que deve satisfascr, 0 tiroeinio poderia organizar-se junto dos tribunais. de maneira que o estagidrio trabalhasse sob a orienta- glo de outros juizes; e poderia até pensar-se num tiro- cinio como juiz municipal, com o que, do mesmo passo, se contribuiria para a resolugio do problema do melho- ramento dos tribunais munioipais. ‘Mas qualquer destas solugGes ¢ impossivel neste mo- mento, além de outras dificuldades, por importar um considerével aumento do nimero das pessoas que traba Tham nos tribunais om fungiea da magistratura © que «3 cirounstinoins presentes mostram no poder obter-se' & 154 I SERIE — NOMERO at 11. No artigo 240.° estabelecem-se algumas normé sobre o exerefcio da fungao judicial. No houve 0 propésito dé tomar posigio actrea de todos 03 problemas que a actividade do juiz, como exe- cutor ou criador do direito, pode suscitar, nem seme- Ibante atitude seria razoivel. E nio o seria porque ainda se no obteve unani- midade, nem sequer um decidido predominio a respeito déstes importantissimos problemas, alids pedra angular de toda a actividade do jurista prético. Embora se trate dos problemas capitais da ciéncia do direito, é né que se notam as maiores chividas, oscilando’ os rilos entre as solugGes ‘mais opostas. Sendo assim, e porque é wtil ndo impedir, com uma diaposigzo legal, a livre discussio déstes problemas, 0 que poderia comprometer o progresso juridico, deixa-se sua solugio & doutrina e & jurispradéncia, na espe- vanga de que conseguirfo encontrar a que melhor tisfizer og interdsses da comunidade, acompanhando a evolugio do pensamento juridico e as necessidades da vida, Pésto isto, far-se-é uma breve justificagio das di- ferentes regras que se contém neste artigo e que tradu- zem apenas aquilo que neste dominio pode considerar-se mais seguro. ‘A primeira —aos juizes compete julgar de harmonia com as fontes a que, segundo a lei, devam recorrer— traduz a doutrina de que a acgio do juiz deve desen- volver-se em obediéncia & lei. ‘Esta disposigio seria estranha num pais onde nada se dissesse acérea das possiveis fontes do direito a obser- var pelos tribunais. E isso sucede, na verdade, em al- s, nos quais se jeixar A doutrina e & juriepru- @ trabalho do doterminar ae fontes que hio-de inepizar as decisdes judiciais. Mas no nosso Pais a3 cousas passam-se de outra maneira, comio se vé do ar- tigo 16." do Cédigo Civil, onde se indicam, pela sua hierarquia, as fontes do direito civil. Este mesmo preceito tem sido considerado aplicével no dominio de outros ramos de direito, de modo que a primeira parte déste artigo do Estatuto significa ape- has que 0 juiz deve conformar-se com as fontes de di- reito a que a lei manda atender ¢ pela ordem nela es- tabelecida. Deelare-se, também, que, juir no pode absterse de julger com o fundamento de que a lei é obscura; nem com o de que nio hé lei que regulo 0 caso a de- cidir, quando éste deva ter regulamentagio jurfdica. “A declaragio do que o juis no pode absterie de jal gar com o fundamento de que a lei 6 obscura encon- fravacte ja no artigo 97.° do Cédigo de Processo Civil do 1876, 0 6 Sbvia; a de que 0 juiz nfo pode deixar de julgar com o fundamento de que néo hé lei que regule 0 caso a decidir, quando éste deva ter regula- mentagio juridica, carece de breve explicagio. E notério que nas legislagGes ¢ nos escritores ex eérias disputas quanto a eaber como hé-de determinar- sae 0 chamado aespago livre de direitor ou, o que é final o mesmo, o dominio que hé-de considerar-se de- yer ser disciplinado pelo direito. E claro que o direito no pode ter a pretensio de regular toda a vida, da qual uma parte se encontra ‘apenas sob a algada de outras normas. Nem toda a vida, com efeito, exige aquela mais enérgica sango que é caracteristica das normas jurfdicas. ‘Mas também se admite geralmente que, além dos casos que a lei prevé e regula, outros deverio julgar-se eitos a uma discipline juridica. useitam-se, entdo, dois problemas: em primeiro lu- gar, o de saber qui precisamente ésses casos que a lei no prevé © nfo regula, mas que, apesar disso, devem sujeitar-se a0 direito; ‘em segundo lugar, o de aparar qual a fonte ou quais as fontes onde o juiz deve ir procurar a norma juridica reguladora de tais matérias, B assim que, no que respeita ao primeiro déstes pro- blemas, emquanto uns sustentam que sé devem consi- derar-se objecto possivel de regulamentagdo juridice aqueles casos em relagio aos quais a lei mostra querer que nfo escapem a essa regulamentagio, outros en- tendem que esta limitagio no 6 de fazer, deixando a0 juiz uma liberdade, mais ou menos extense, de cir- gunscrever 0 campo de aplicagio do direito; ¢ quanto a0 segundo, quando o juis ndo possa recorrer & analogia da lei, grandes divergéncias se notam igualmente, desde ‘que apenas consentem ao juiz o recurso aos prin- gerais do direito*positivo (era o sistema do an- tigo Cédigo Civil italiano), ou, mais largamente, aos Piincipios geraia da ordenayio uridica do Estado (como no artigo 12." do novo Cédigé Civil italiano), até aos que imptem ao juiz que atenda & chamada conviegio ou conseiéncia juridica do povo ow de certa classe do ovo, ou mesmo & sua prépria conviegio. Dirse ainda que o Juiz nfo pode deixar de aplicar a Tei como pretesto de que cle the-parece imoral ou injusta. Quere dizer, o juis nfo pode substituir a lei resultado da vontade dos érgios legislativos— por normas criadas por éle: 0 seu primeiro dever & cum- Pri Tato nao significa, como 6 manifesto, que o juis der interpretar literalmente as leis ¢ executd-las sem mais nada, As leis devem ser entendidas de harmonia com “as regras de interpretagio conhecidas; mas, uma ver averiguado quo a sua signifeagio 6 uma certa, nfo é le- gitimo pé-la de parte e fazer prevalecer outra solugio, produto do arbitrio judicial. ‘Qutras regras se inolufram neste artigo do Esta- tule, cojos prineipis informadores foram expostes no Roletim do Ministério da Justica, t, pp. 5 ¢ seguintes. 12, Problema particularmente delicado da organi- zagio judiciéria portuguesa 6 0 da determinagao das condigies de ingresso dos juizes coloniais na magistra- tura da metrépole. 0 problema nio chegaria sequer a surgir uma ver que se considerassém a5 duns magistraturas coléniae e da metropole— inteiramente distintas ¢ independ ‘es, nao se autorizando a passagem de uma para a ou- tra. Mas esta solugio no pode ser seguida, pelo menos no estado actual, Em primeiro lugar nio seria nem hu- mano nem justo sujeitar um magistrado a fazer toda a sua carreira, obrigatiriamente, nas colénias, ou nic tender ao tempo e qualidade de servigo prestado nestas quando, por a sua constituigio fisica se nfo compadecer com o elima colonial, se visse obrigado a regressar & me- trépole; em segundo Iugar, adoptar ume medida tam ratkeal seria afastar do ingresso: na magistratura colo- ‘ial muitos dos que para ela se sentem tentados, pela certeza antecipada de que de nada thes serviria o tempo ‘que estivessem nas colénias quando mais tarde preten- dessem entrar na magistratura da meirépole: ¢ 6 ne- cessirio providenciar também no sentido de as colénia: serem servidas por bons juises. A questio, portanto, nio 6, neste momento, de admis- ‘20 ou nfo admissio do ingresso; é sim de determins- glo das condigdes déste. A delicadeza do problema esté na necessidade de bem se coneiliarem os interésses da duas partes em presenga — juizes das coldnias e juises da metrépole —, nfo se adoptando solugdes que redun- dem em beneficio de uma ¢ conseqiiente detrimento de outra. : Depois de muitas vicissitudes chegou-se ao sistema vigente & data do presente Estatuto. tema nfo 6 ainda inteiramente sa ‘nio estando os juizes das colénias sujeitos a 23 DE FEVEREIRO DE 1944 inspecgdes idénticas &s da metrépole, slo possiveis di- ferengas de apreciagio, que impedem a igualdade de tratamento a que devem sujeiter-se todos os candidatos A mesma magistratura, problema s6 encontraré uma solucio tanto quanto ossivel perfeita se os servigos judioiais das colénias Torem integrados no Ministatie da Tustiga © se subor- dinarem as mesmas regras e organismos que no conti- nente vigoram 0 superintendem. Nesta orientagdo, prevé-se no presente Estatuto uma organizagio désse género, para o que se fario, de acdrdo com o Ministério das Colénias, os necessérios ostudes. Entretanto, ha que conservar o sistema do precedents Estatuto. Mas, uo intuito de contribuir para a conciliagdo dos interésses das duas magistraturas, de acérdo com a jus- tiga, dispoe-se: 4) O tempo de servigo prestado na metrépole exee- dente a quatro anos s6 é contado, e apenas por mais um ano, aos juizes que ocupem o lugar de vogal do Conselho do Império Colonial, cuja comissio foi cle. vada a cinco anos (decreto-Lei n° 23:069, de 29 de Sec tembro de 1943) ; 4) Os dois consethos superiores judiciais devem funcionar com igual nimero de vogais (decreto-lei n° 83:017, de 31 de Agosto de 1943); ec) Acaba a categoria dos agregados as Relagdes me- wropolitanas, pois os juizes, como quaisquer outros fun- cionétios, s6 devem ser provides quando houver vagas; 4) Exigem-se as classificagies de bom e de muito bom para a entrada, respectivamente, na 1." ena 2." ins Saneias da metrépole (decreto-le! n.° 91:667, de 22 de Novembro de 1941); ¢) Como nio existem nas colénias inspecgdes -and- Jogas &s da metrépole, prescreve-se que na apreciagio relativa ao mérito do jie se louhan om oonte dees minados trabalhos ¢ informagdes, a fim de evitar, na medida do possivel, que os juizes das coldnias obte- nham tratamento mais benévolo do que os da metrépole. 13. &, tradicionalmente, dificil o problema da insti- wuigio de tribunais inferiores destinados & prética de actos de pequeno valor ou importancia, ‘Terminar com ésses tribunais nio se afigura solugio vidvel: por um lado, nfo pode pensorse na criagao de tantos tribunais de comarea, servidos por outros tantos trados de carreira, quantos 0s nevessdrios para sa- fazerem a8 necessidades da populagio; por outro lado, a comodidade dos povos exige a existénoia de mais or ganismos julgadores do que os tribunais de comarca, existentes. Daqui o procurar-so a conciliagio destas rea- Vidades opostas na manuteng&o de magistraturas infe- Contuds, a sua organizagio ¢ problema de certa gra- vidade, porque nfo podem colocar-se a frente déstes tribunais magistrados com a preparagéo dos juizes de comarei ‘A redurida importancia dos actos judiciais para que ‘fo competentes explica que as exigéncias sejam agai amenores, mas ndo devem descer tanto que se lancem no descrédito publico estes tribunais, problema pae-se sobretudo a propésito dos julgados ou tribunais munioipais, 0 decreto n.* 13:917, de 9 de Julho de 1927, extinguiu trinta e sete comareas, Com o fundamento de-obtemperar & comodidade dos povos, 0 decrato n.* 19:578, de 11 de Abril de 1931, criou os julgados municipais em todas as sedes de oo. mareas suprimidas por aquele decreto n° 13:917, Mais tarde o decreto n.° 19:00, de 18 de Junko de 1981, que substituiu o referido decreto n.* 19:578, con. servou a mesma doutrina, . 155 Os julgados municipais no tém correspondido intei- ramente ao que se esperava déles. No relatério do projecto de lei sébre a supressio dos julgados municipais, apresontado na sessio da Assem. lea Nacional de 19 de Fevereiro de 1935 pelo Depu- tado Ulisses Cortés, apontavam-se faltas 6 irregulari- dades apuradas nas inspecgdes. Para remediar os inconvenientes propunha-se a. abo igo dos julgados ou a sun modificagio no sentido de Ihes tirar'por completo as fungdes de julgamento, Aamitia-se no projecto que alguns julgados féssem restabelecidos, mas com diferente organizagio compe- téncia, limitando-se ao minimo o seu niimero e garaa- findo-se aos funciondrios uma remuneragio condigna A competéncia dos julgados passava a ser essencial- mento a pritica de actos por delegagio dos juizes de direito, tendo também competéneia privativa, mas so- meate para a organizagio de corpos de delito, com as restrigdes indispenséveis relativamente aos processos de querela, © para preparar inventérios orfanoldgicos oté a0 valor de 20.0008. Em regra, porém, a sua competéncia seria cumula- tiva com as dos juizes de direito para preparar ¢ julgar todas as causas até ao valor de 5.0008. Assim, as partes podiam optar entre o julgado municipal e a justiga or- dindria, recorrendo aguele quando o seu funcionamenio thes desse garantias de uma boa decisio. Sobre éste projecto foi ouvida a Camara Corporativa, que emitiu o parecer transerito no Diério das Sessées de 25 de Margo de 1935, ¢ a discussio déle foi feita na sessio do 6 de Abril daquele ano, onde deu Ingar & apro- vagio de uma mogio na qual se exprimiu o voto de que © Govérno reorganizasse os julgados e revisse a érea das comareas, Nada mais houve até a ‘Témse, porém, mantido sempre mais ou menos os Tumores contra os julgados, nao tanto por se terem agra- vado 03 males, mas porque subsistem ainda alguns. So expostas nesse sentido varias razies de ordem ge- ral. Elas transparecem das respostas a um questionério enviado aos juizes das respectivas comarcas © podem resumir-so assi a) Falta de preparagio técnica dos magistrados que néles superintendem ou sua inaptidio para a fungio de julgar. A justign municipal, néo divergindo, em prin. efpio, da justiga ordindria, 6, todavia, exercida por ma- gistrados ‘cuja designaggo néo esta subordinada as re- ras do aelecgo estabelecidas na lei como garantin de jdoneidade para o exereicio da fungio jurisdicional. Obrigados por lei a0 exercicio de uma fungdo da qual, em muitos casos, voluntiriamente se havii io ‘verte ou pela instabilidade a que esté sujeita, nao The dedicam a atencio e o zélo necessérios para 0 seu bom desempenho; 6) Insuficiéneia de remuneragito déstes magistrades © dos funcionérios que com éles servem (chefes de seogio ¢ oficiais de,diligéncias). Impbem-se-Ihes responsabil dades sem compensagio condigna e afastam-so 08. pri- meiros do exercicio dos préprios lugares, aos quais de- vem dedicar-se exclusivamente, porque délos vivem, ©, além disso, cerceia-se-lhes 0 direito de advogar, colo- cando-os om situagio desigual & dos seus colegas que ni exeroem fungdes nas sedes dos julgados. As razes, como se vé, nfo variam e sio as mosmas id apresentadas no relatério do projecto de lei atris teferido: Os servigos dos julgados estdo a cargo de um juix municipal, de uni subdelegado do Procurador da Repttblica, de um escrivio, que serve de chefe de seoretaria, e de um oficial de diligéncias. Reco- 156 1 SERIE — NOMERO 37 mhecida a necessidade de colocar & frente dos jul- gados municipais funciondrios em quem fosse de Presumir a necesséria cultura juridica © capacidade moral © sdbre quem pudesse exercer-se uma acgio diseiplinar efectiva, foi, pelo decreto-lei n.° 22:779, estabelecido que as fungdes de juis municipal ¢ de subdelegado seriam desempenhadas,, respectiva- mente, pelos conservadores do regisle civil e pelos notérios das sedes dos julgados. Certo 6, poréin, que 0 desempenho de tais cargos acarretou aos seus serventuarios acréscimo de ser- ‘Tigo e incompatibilidade com 0 exereicio da advo- eacia, nio Thes trazendo em compensagdo qualquer remuneragio material aprecidvel. Déste facto re- fultou que ésses funciondrios server 08 seus cargos constrangidamente e por imposigao legal, nio Ihes dedicando, por éase motivo, © porque muitas vezes no podem distrair a eua atengio de outros cargos que desempenham, wélo, devogio e solicitude, que ‘sio indispensiveis em todos os servigos publicos e, designadamente, nos servigos de justiga. ‘Por outro lado, nfo se cuidou também com a devida atengdo da’situagdo econdmica do escrivido & oficial de diligéncias, que, ndé tendo proventos re- sultantes de outros cargos eno hes sendo ga- rantido o beneffeio dos minimos de que gozam os oficiais de justiga ordinérios, auferem apenas os ma- gos emolumenios do proceso em que, intervén futando assim com uma situagio material verdadei- ramente angustiosa. Nilo existem elementos oficiais completos sSbre a ‘remuneragdo désses funciondrios, mas aqueles de {que é possivel dispor mostram que 08 seus proventns Bo, correspondem suquer ao minimo indipensivel a vida. 14, 0 facto de se afirmar’e provar que alguns fun- ciontrige doe julgados nio cimprom os Ceararaees ‘qué nfo tm incentivo e zélo na funedo, por falta de re- muneragdo condigna, e que por éles,'a justiga nfo é aplicada com a imparcialidade, celeridade ¢ eficiénoia necessirias nfo é rasio para condenar a existéncia da instituigio, que alids a prépria Constituigio admite "A principal finalidade dos julgados é atender & con- venitneia dos povos, evitando deslocagdes drduas, de- moradas e dispendiosas Aqueles que necessitam de re- correr aos tribunais, e, portanto, a sua extingBo nfo deixaria de causar avultados prejuizos © perturbacée. ‘Fé no relatério do projecto de reforma sébre a orga nizagio judiciéria de 8 de Julho de 1836 se focava sucintamente éste aspecto, frisando que dificil sempre infrutuosamente se ataca de frente o hébito em que os povos se acham de terem a justiga ao pé da porta: A comissfo, vendo que se tinha instalado » admi- nistragio da justiga conforme a lei de 30 de Abril do 1835, tratou de colhér esclarecimentos das dife- rentes provineias sdbre o acolhimento que 08 povos The tinham feito; & achou, por informagBes escri- tas que recebeu, ¢ a que muito deve, que 08 poves, acolhendo mui bem a publicidade do process0, nfo Podiam acomodar-se com a longitude em que se Achavam colocados os juizes de direito, aos quais todos tinham de concorrer, para despacho dos mais simples requerimento ‘Este mal, em verdade real, pelo ineémodo dos x querentes, dos jurados e das testemunhas, torna-se mais agravante pelo habito contrério em que os povos se achavam de terem, de eéculos, a justign bo péda porta; hébito que, como a comissto jé teve ‘a honra de observar a Wossa Majestede, dificil sempre infrutuosamente se ataca de frente ‘Da mesma forma se opinava no parecer sobre ganizagio judicidria, da comissio de legislagio civil, apresentedo as. Cértes em sessio de 12 de Margo de 1888: Nio 6 a magistratura dos juizes municipais uma instituigao uniforme pare todo o Pais; uma excep- do necessiria para os que, afastados dos centros ‘populosos, tém contudo 0 mesmo direito que todos fs siibditos portugueses a recorrerem & justiga a0 6 das suas casas. ‘Pagam, como 0s outros, 05 impostos gerais ao Estado porque 0 fisco ndo faz excepgdes; © désses jmpostos sai a sua cota parte para os ordenados cla magistrature Tusto é, pois, que no sejam privados dos bene- ficios que uma cirounserigao judicial regular con- code aos sibditos portugueses moradores inais perto da cabega da comarca. ‘Se fido depende no rigor da teoria a parcelagéo, embora excepoional, das fungdes de juiz de 1.* ins- Yancia, sustenta-se bem, como excepgdo prética, ara as regides em que a distancia, as dificuldades le viagdo, 0 estérvo de correntes caudalosas, os hi Bites do povo e as suas relagdes comerciais tend: rem a constituir um agrapamento social diverso do de eabega da comarca. Parece, pois, que, no sendo possivel outra solugio, os julgados devem subsistir naqueles concelhos em qu? ‘a4 vias de acesso as sedes da respectiva comarca sejam dispendiosas, morosas ou dificeis, isto 6, manterem-se os Julgados dentro da orientagdo de evitar eacrificios & vieussliudes aos que precisam de dirigir-se & justica, extinguindo, porém, aqueles em que a réde das vias de ‘comunieagio e os meios de transporte oferegam rapido, seondmico e facil acesso ao tribunal da sede da comarca. Cada caso deve ser estudado rigorosamente depois de colhides as informagies necessirias das entidades com- potentes. Nesta ordem de ideas, dispde-se no presente Bstatuto que poderdo suprimir-se os julgados munici- pais cuja extingio se mostre aconselhdvel 15, As faltas que tém sido apontadas aos julgados io, afinal de cantas, ¢ principalmente, males inerentes ‘20s respectivos juizes. ‘Dests. opinido ¢ também o presidente de uma das Re- JagGes, que, num dos seus relatérios dos servigos judi- ccinis, esereveu: fo do que se tem passado nos julgados fesde que exergo 0 cargo de presidente mostrado que onde hé wa juiz com algum ‘um escrivéo regularmente ‘ompetente os julgados funcionam bem o, por mas do uma ver, tenho visto transformareri-se de maus fem bons pela presenga de um bom escrivao ou pela entrada de juiz de boa vontade. Da acgdo de um juiz competente ¢ criterioso, integro: disciplinader, depende, prineipalmente, 0 prestigio da comarca; da mesma forma aconteceré com o julgado. ‘Ha comareas onde, por vezes, aparecem os defeitos quoce tém atribuido aes julgados; mas o servigo reguls- Hizese 06 males desaparecem por efeito da ao aturada, de sangSes disciplinares imediatas ¢ ‘Fidéncias dos organismos que nelas superintendem. 0 mesmo, « até mais failmente, poders aconiecar pas julgados, visto os jul comareas, segundo a Tai, orem ali de cemestralmente a uma correigio on seus servis, "Se, apesar disto, 08 julgados no deempenham regu- Jarmente a sua miseio, é certamente, em parte, porque 28 DE FEVEREIRO DE 1944 157 ‘ssa correigies no ttm eficiéncia pritica, ou por de- feito da sua regulamentagio, ou por deficiéncia daque- Jes que a clas procedem, por no trem compreendido ‘quam vitil 6a sua finalidade. ‘A influéncia de orientagio do juis da comarca sébre 2 jus do julgado deve sor ofectiva priticamente exer cida por meio de inspeogées ou inquéritos mais freqien- tes do que aquelas correigies semestrais, limitadas actualmente a um prazo de dois dias e que, por aquele thotivo, agora se tornam mais demoradaa e aumerosas. Nas visitas feitas 03 juizes das comarcas aconselha- Hio 0 hesitantes, ensinardo os menos competentes ¢ promoverio 0 castigo dos menos honestos, reprimindo ‘abusos, esclarecendo diivides © ministrando conheci- mentos, por forma a contribuir para o prestfgio da jus- tiga ¢ utilidade da fungi. ‘Fambém, por outro lado, nada hé que obste, e tudo aoonselha, a que os magistrados dos julgados, em casos para éles‘dificeia ou duvidosos, se, desloquem & sede da comarca para ouvir os mentos dos mais experiente Diapie lei que os jufaes municipais estto eubordi- nados hierirquicamente aos juizes de direito da comarca, 4 que pertencer & sede. do julgado os subdelogadoe aot delegados do Procurador da Repiblica. O'problema, que neste apecto tem sido apresentato com insuperdvel dificuldade de solugdo, talvez se resol- ‘veaso, afinal, ¢ om grande parte, com um pouco de boa ‘Yontade dos superiores hierarquicos dos juizes munici- pais. A lei de 1867 © os decretos de 1874 ¢ 1896 exigiram formatura em leis aos juizes concelhios e considera- yam a carta de formatura como habilitagto bastante para admivistrar justiga, nos termos que aqueles jul- ‘gados reclamam, A mesma orientagio seguiu o deoreto-lei n.° 22:79, no artigo 82.*, fazendo recair obrigatiriamente o lugar de juis do julgado municipal no conservador do registo ‘civil do respectivo concelho. Poderia duvidar-se se nio deveria antes cometer-se ‘@ fungio ao conservador do registo predial, onde o how- ver. Os conservadores do registo civil so nomeados 26 ‘entre 08 bacharéis ou licenciados em direito, mediante eoncurso apenas documental (artigo 22.° do decreto n° 22:018, de 22 de Dezembro de 1932), e levam para ‘cargo sdmente os conhecimentos quo Ihes deu a forma- ‘tura, a0 contrério dos notérios © conservadores do re- gisto predial, que nocessitam de estégio prévio o de habilitagio (Codigo do Registo Predial, ay- ue" 8.%; Codigo do Notariado, arti gos 8.°,'n.° 5.%, © 802), _ ” Pareceria assim que estes, em relagio aqueles, esto numa situagio mais vantajosa de adaptagdo a0 dificil oficio de julgar, e isto porque aquele astégio ¢ extudo das provas de exame os desenvolvem na prética de in- retagio e resolugto de questdes ou problemas jurf- dicos de alguma importancia. So o juiz hé-de também possuiz, além do conheoi- mento metédico da lei, aquela cultura geral que lhe ita modir o alcance do intuito leghlative « ome uher-se no estudo dos casos novos que Ihe form ‘sujeitos, como diz o citado parecer da Camara Corp tiva, poderia supor-se que os conservadores do regi civil se encontram, sob éste aspecto, em posigdo de in- ferioridade em face dos conservadores do registo pre- A verdade 6, todavia, que, por um lado, o exame pare conservador do registo predial néo dé gerantias, seguras de maior competéncia para julgar, porque néle © que. procura apurareo 6 a habilitagdo pare © exer. efcio das fungdes de conservador daquele e nflo para o das fungdes de juizs sclarecimentos ou ensina- 4s note do rendimento dos lugares que « grande maio- i eonservador do regi sedes dos tribunais municipais dé um rendimento superior, @ por yenes muito, 20 dos lugates de conservadar do fgisto predial, sendo, por isso, violento impor, como regra Boral, os contervadores do registo predial, que aute- Fem inenor remuneraglo pelos seus cargos, as fungbes de juis municipal, incompatfveis com s advocacia. for estes motives continua a ser regra que seré juiz, munieipal o conservador do registo civil, mas admite-ce que, quando os intertsses da administragto da justiy © aconselhem, seré 0 cargo confiado ao conservador do registo predial. . ‘D que 6 forgoeo 5 eatabelocer normas que evitem a nomeagio como conservador do registo civil nes sedes de julgados municipais de individuos que 90 ndo mos- trein, elas provas dadas, em condigies de deveren presumir-se competentes para o desempenbo desta judi- catura. Neste sentido, dispde-se: @) Que no poderio os lugares de convorvador nos concelhos sedes dos tribunals municipais ser provi- os em individuos do sexo fominino, devendo os actuais conservadares que forem désse sexo ser transferidos, ogo que seja possivel, para lugares da mesma classe: "E) Que nos concursos para preenchimento daqueles lugares deveré atender-se 4 melhor informagio final ‘unlversitéria, salvo se, tratando-se de conservadores no quadro, 0 Conselho Superior Judieiério puder infor- mar quo sfo competentes para as fungiea do juiz, apeiar de menos classificados, caso om que so observa- Tio as regras gerais acérea do provimentos 0), Que,,n0 praca de noventa diasdtro & publicagio do Estatuto, deveré o mesmo Conselho, baseado nus informagdes que tiver, determinar a transferéncia de todos os conservadores do registo civil que nfo convenha manter nas sedes dos tribunais municipais, Nio oo foi mais longe, reservando o# Ingares do juiz, municipal a jufzes de carreira ou a tirooinantes para % anagistratura, pelo motivo jé exposto (n.* 10, in fine}. 16, A insuficiéncia de semuneragio dos magisteados dos julgedos municipais e dos funciondrios que con les servem 6 também uma das razBes que se apontam pare explicar 0 mau funsionamento de alguns julgs- 08, Polos elementos obtidos chega-se & conclustio de qua, 60 existem julgados onde os emolumentos dos respecti- os magisirades, somados com os clemontos. do enzg0 principal, no gerantem um minimo de existéneia, o- tros bd onde a remuneragio total dos dois cargos pods ser reputada como suficiente ou quisi, o dizemos quiési porque as conservatérias do maior rendimento corres }énde um maior movimento, que nifo dispensa um aju- lante ou mais pessoal dircotamento retribuido pelos eonservadores, facto qua faz decrescer 0 rendimento li- quido dos lugares, : ‘Tambéza nos cargos de escrivais ¢ oficiais de diligén- cigs dos mesmos julgados so oncontram disparidades, orque, emquantd nuns se aufere remuneragio con Eagan, ‘noutzos a situagto & sngustiants, 's Ofciais de justiga dos julgados tém o» meamos de- ‘vores que os dos comarcas, exigindo-ee-lhes igual competéncia, zélo ¢ assiduldade, ‘0 eserivéo do julgado 4 cumulativamente ohefe de seoretaria, chefe de secgio © tesoursiro, e em alguns casoe ganha menos do que um exoriturério. A maior parte dos offciais dos julgados ilo esté suf cientemente remunerads. poe erelo de 29 de Fulho de 1980 adoptoo-e a so- obrigar ag ofimaras municipais a pogar ao juiz, bo nabiclenado anenadoe bastanten 158 [A eriagdo de qualquer julgado municipal devia ser precedida de comprovagio, por parte da respectiva o&- mara municipal, de se ‘habiliteda legalmente 9 satisfazer aa seguintes condigdes: a) Ter edificio préprio para o servigo das audiénoins «o pata cadeia de simples detengao policial o txénsito de ') Pagar ao juiz municipal ¢ ao subdelegado orde- nados condignos; 2) Satisfaer a verba do expediente do tribunal. Dentro das acti eias, pareceu mais vis~ vel o estabelecimento do minimos, quer para 0 conser- yador do registo civil, quando for éle o juiz, quer were gE faut. ‘Noste sentido, delermins-ee dea J que o estes iltimos funcfonérios sio assegurados m{- Quanto aos conservadores, 6 necessério tornar os lu- gares mais atraentes, a fim de a éles concorrerem pes- oas entre as quais possa fazer-se um recrutamento mais perfeito. Por isso dispde-se que, feita a revisiio a que atrés go aludiu (n.* 15, in fine), deverdo estabelecer-se ara éles minimos como conservadores © ainda minimos ‘como juises municipais. Passardo, assim, a ter um eati- mulo para a fungio. municipais, ve- 17. Quanto & competéncia dos ju e-fo as duas prin- rificam-se certas anomalias. Referi cipal a) Desde que a algada dos juts para 6.0008, 0 competéncia em Sxar-se em igual quantia para os ju! '}) Nao faz sentido que ésses magistrados tenbam ‘competéneia para preparar e julgar em 1.* instincia, todas as acgdes © seus incidentes de valor inferior a 5.000% e nfo a tenham para todas as execugies até & mesma quantis. Preceitua-se, pois, a competéncia para todas as exe- cugées até a0 valor fixado para o proc: jeclaragio. de direito passou 18. Um outro ponto revisto pelo Estatuto 6 o da or- ganizagio dos tribunais colectivos em 1.* insténci ‘Nao se desconhoce a discussto faser um juizo seguro acérea do bem cas. E, de toda a maneira, nio 6 éste proprio para curar delas: trata-se de um grave itaria aqui deslocado. o do tribunal. o ly problema de processo que Apenas so eatudow agora a composi ‘A sua organizagio fol um tanto modificada, com-o fim de oe climinarem, na medida do possivel, algumas im- perfeigdes que actualmente se notam no seu funciona- inento, entre as quais avultam as freqientes safdas das ‘comarcas dos respectivos juizes, com perturbagio dos res- tantes servicos judiciais. 1? A nomengio de um corpo de juizes adjuntos para zada distrito judicial, que, em grupos de dois, percor- reriam as varias comarcas e, com o juiz do tribunal onde te realizasse o julgamento, formariam o tribunal colec- tivo; 2? A compodigho déste com o juiz efectivo da comarca condo corresse a causa a julgar, o seu substituto eo juiz efectivo de uma comarca lim{trofe. ‘Para so poder estudar, em bases sdlidas, a primeira solugio, organizou-se, em face dos elementos fornecidos pelos varios tribunais do Pais, um mapa geral do mi- nero do dias em que funcionaram os tribunais colectivos nos trés distritos judiciais nos anos de 1939, 1940 © 1941. Apuraram-se as médias désses mimeros de dias em cada um dos trés distritos, sem se tomarem, porém, I SERIE — NOMERO 37 ‘por no interessare deragio os respeitantes &s comarcas insulares, te, dadas as dificeis 1:525 dias de reinitio dos tribunais colectivos no istrito da Relagdo do Porto. 887 dias de retinifio dos tribunais colectivos no distrito da Relagio de Lisboa. Averiguado também que o nimero de dias tteis em cada ano 6 de 236 (tinicos em que se podem realizar julgamentos), ¢ divididas, em seguida, por éste nuimero las médias acima obtidas ¢ multiplicando por dois (ni~ mero de vogais assessores de cada tribunal) o resultado obtido, verificou-se, feitos os arredondamentos, que ee- iam necessérios os seguintes juizes assessores: Para o distrito da Relagio do Porto...» . . 14 Para o distrito da Relagdo de Coimbra... Para o distrito da Relagio de Lisbos Total. vx es 0 avultado niimero de juizes que seriam precisos le- vou a pir de parte esta solugio. Nao pode neste mo- mento dispor-se de tantos juizes e nio pode também precipitar-se a ascensio & magistratura judicial de pes- soas cem a devide preparagio. ‘A segunda solugéo parece recomendével, uma ver que nos tribunais ‘colectivos os juizes efectivos esto sempre em maioria; nas comarcas de grande movimento ‘08 respectivos juizes poderio ser dispensados de intervir nos julgamentos dos colectivos das comarcas estranhas, a fim do se poderem dedicar inteiramente aos servigos do seu tribunal, e serdo escolhidos para assessores tni- camente 03 juizes das comarcas limitrofes de reduzido movimento, podendo até ser dois os que alternadamente interviessem nos julgamentos da mesma comarca de grande movimento, para que as comareas dos assessores nao sofressem demasiadamente com longas auséncias dos respectivos juizes; reduzindo-se o numero de colec- tivos de que cada juiz faz parte, reduz-se igualmente o miimero das suas deslocagdes ¢ ‘austncias da comarca, fo que nio pode deixar.de contribuir para um melhor funcionamento dos servigos desta; ainda por virtude da- quela redugio, seré menor o némero de julgamentos a que cada juiz 6 chamado e, por iss0, estes poderdo fazer- “se com major tranqiilidade; finalmente 0 processo tornar-se-4 menos dispendioso. Foi esta, pois, » solugSo que se adoptou. Uma dificuldade que houve de zesolver-se em virtude de sistema agora adoptado foi » da ecalha do teenie ‘vogal. jometeu-se 0 referide cargo ao substituto legal do juis da comarca: a prépria qualidade de substituto legal 6 garantia de retinir os requisitos exigidos pela fungio de vogal do tribunal colectivo. No entanto, e sempre em obediéncia & finalidade de se conseguir uma justiga tanto quanto possivel perfeita, admite-se que, excepcionalmente, o tereeiro vogal possa ser, nifo 0 substituto legal do juiz da comarca, mas qual- quer funcionério publico idéueo e diplomado em direito. BE certo que, fazendo intervir 0 substituto do juiz, pode prejudicar-se 0 servigo nas conservatérias, mas em muito menor grau do que o da perturb: vusada nas comarcas pelas constantes deslocagies dos juizes. "Acresce que jé hoje o substituto do juiz pode ter de fazer parte do tribunal colectivo e hé alguns ofroulos judiciais em cuja' composigio normal éle entra. 23 DE FEVEREIRO DE 1944 19. No que toca & Procuradoria Geral da Repiblica, ag innovagées mais importantes sio as @) Os Procuradores da Republica passam, tando-se de professores das Faculdades de Direito, a sor ados em comiasdo por um perfodo destinado a dar- de revelar ou confirmar as qualidades de jurisconsuito que as suas fungdes supdem, podendo de- pois ser providos definitivamentes 2) Desaparece a distingio entre ajudantes do Pro- curador Geral da Reptblica ¢ Procuradores da Repti- blica; ¢) Atribue-se & Procuradoria, em secgio especial, a fungio de dar parecer acérea da redacgio de diplomas legislativos sobre os quais 0 Govérno entenda. dever eonsulté-la, podendo a esta ser agregados os técnicos reputados indispensiveis. Bata atribuigto ¢ do maior importincia o, oe for bem exereida, pode contribuir largamente para’a perfeigio técnica dos diplomas, , ‘Em Cutros paises existem organismos idénticos, ¢ do sou trabalho muito tem beneficiado a redacgio das leis, tanto sob 0 ponto de vista literério, como sob 0 ponto do vista da técnica. Neste tiltimo aspecto, teriio de pro- curar-se 08 meios mais adequados a exprim vontade legislativa, © bem se compreende como seme- thante tarefa, complexa e laboriosa, requere um corpo de homens versados, em grau apreciével, nas diseipli- nas, que podem ser numerosas, relacionadas com a ma- téria examinads, 20. 0 recrutamento dos magistrados do Ministémo Piiblico continug a fazer-se pelo presente Estatuto nos mesmos termos em que o era anteriormente; aio hé ra- Bea que aconselhem a sua modificagio. Onde se introduziram algumas alteracdes foi no sis- tema da promopio de classe para classe, Bssas alteragies o as uae razds jutisentivas foram j6 apontadas a pro- ésito da promopio de classe para clasco doo magistra- 8 judiciais da 1.* instancia. Desnecessério co torna, portant, repetir aqui o que entifo se disse. 21 Regulouse largamente » competéncia do Minis- Puiblico, assunto que tem dado lugar a grandes diividas, tanto na doutrina ¢ na jurisprudéncia pitrias, gous as, eatranhas. (Vide, por exemplo, Siracus, Pubblico Ministero, no Nuovo Digesto Italiano, vol. x), Distinguem-so os casos em que o Ministério Publico intervém como parte principal daqueles em que inter- ‘vém como parte acessoria e diz-se em que consistem es suas atribuigdes nesta Wltima hipdtese. Tratando-se de incapazes, entendeu-te que a inter- vengio do Ministério Publico poderé ir tam longe que 4 eobreponha & do representante Jegal do incapas, Voi a necessidade de defender os incapazes de certos maus representantes que levou a admitir uma doutrina sc- gando a qual o Ministério Publico: pode comportar-se ‘como parte acesséria, mas pode também vir a assumir © papel preponderante na lide pelo lado dos incapazes. Quando 0 processo envolver um interéase publico, julgou-se dever assegurar a intervengio do Ministério Piblico em juizo, para o que deverd o juiz, sempre que verifique estar implicado no processo algum interésse dessa naturesa, mandar observar o que na lei se dispoe acérea da acgiio do Ministério Publico como parte aces- séria, Esta disposigdo esti de harmonia com a tendéi moderna de nao deixar desenvolver-se, pelo simples j dos interésses privados néles envolvidos, os litigios de queum interésse publico este ao mesmo tempo depen lento. Houve uma época na qual a acgio do Ministério Pa- blico quiési se restringia ao campo do direito piblico, 159 Entendia-se que nas matérias consideradas de direito privado, que nitidamente so separavam das do direito puiblico, apenas 4s titulares de interésses privados ti- sham alguma couss a dizer, por a6 a élex importer « lecisio. Esta era a regra, mas jé entio so Ihe admitiam ex- cepgdes, por exemplo nas questdes matrimoniais. A. medida, porém, quo se foram esbatendo as linhas de divisio entre o direito publico e o privado, e que, portanto, se foi tornando mais dificil emitir a aste res. Beit um iudicivm fnium regundorum seguro e precio, foi-se vendo que pode haver processos selativos a direi- tos compreendidos tradicionalmente no direita privado, mas em que igualiente esté em causa um interésso pi- Dlico carecido de defesa. Dai terem leis sucessivas or- denado a intervengio do Ministério Publico em proces- sos cada vez mais numerosos, ¢ 0 preceito do presente Estatuto onde, de modo geral, se declara competir a0 Ministério Publico intervir nos processos que envolvam um interésse paiblico. Ficando-se aqui, pared nfo se terem excedido os prudentes limites da sua intervengio, que, alids, al- umes leis modernas tm Jevado mais longe. (Gont. lkmar, Das Gesetz tiber die Mitwirkung des Staats- anwalts in biirgerlichen Rechtssachen, na Zeitschrift der Akademie fur deutsches Recht, 1941, pp. 238 6 ‘Varios critérios so podem seguir para classificar comarcas, como sejam o do mimero de processes movi mentados, o do rendimento das custas e 0 do valor ecv- némico ¢ social do meio. 0 do mimero de processos movimentados 6 o que mai interessa_ ao regular funcionamento dos servigos judi ciais, pois a uma’ massa maior de processos deve cor- responder uma maior compelgneia da parte dos magie trados © funcionérios de justiga, quo é licito presumir nas classes mais elevadas em relagio is inferiores, © critério do rendimento das oustas nio merece a mesma consideragio por ndo ser {ndice de maior niimero e complexidade de processos. Também nfo interessa, em principio, para o efvito o valor econémico o social da circunsorigo, porque, além de ser de diffcil determinagio, revelasse, em grande parte, através do movimento processual. ‘Em regra, pois, deveré atender-s0 ao ntimero de pro- cessos, mas entre estes deverio fazor-se distingoes, pois nilo sio todos de igual dificuldade. Adoptou-se na revisio a que se proceden o critério de @ extrema dificuldade do avaliar a soma de igida por cada processo, sé deveria alterar-se a classificagio daquelas comarcas que, pelo elevadissimo niimero de processos tanto civeis como criminais, 60 ve- sificou mio poderem continuar nas classes que actual mente ocupam. E, em compensagia, baixou'se » classi- ficagdo de outras. 23. Devido a reclamagies feitas, procedeu-se igual- mente ao estudo da divisio comared do Pais, de ma- neira 3 sperfeicofla nalguas pontos , tanto quanto possivel, do acdrdo com a comodidade das populagdes que carecem de recorrer a juizo © estudo foi feito pela Secretaria do Conselho Su- erior Tudicidrio, em face das informagbes dos juizes e dircito e mais elementos que obteve. Como resultado dos trabalhos realizados, organisa ram-te 0s mapas anexos a éste Estatuto, de onde cons- tam, com a indicagio dos concelhos a que pertencem, 160 as freguesias que compfom cada comarca ¢, bem assim, fivas sede e class déste trabalho: 1* Evitar que freguesias de concelho ondé sede de comarca pertengam & érea de outra comarc 2 Tornar o acesso dos povos aos tribunais o m répido, eémodo © econdmico possivel. ‘As vantagens resuliantes da aplicagio do critério ex. posto em primeiro lugar sio manifestes, porque, fa- endo coincidir, dentro da medida do possivel, a divisto judicial com o administrativa, as partes que recorrem ‘aos tribunais, desde que estes estejam nas sedes dos concelhos a que pertencem as freguesias onde residem, encontram junto déles as repartigves do registo civil do finangas, onde tim de adquirir documentagio ou juidar impostos indispensdveis ao seguimento da lide Ki comared, se encontrou tal anomalia, fez-se o: Para atingir o fim a que visa a tltima directriz aten- dew-se, nio 86 aos meios de viagio acele ‘bém, ¢ especialmente, as estradas © caminhos vieinais, estes os mais utilizados pela maior parte das populagdes rarais, que usa transportar-se a cavalo ou a pé. Respeitou-se a divisio administrativa constante dos saapas anexos ao Cédigo Administrative com as alte- rages que até a data Ihe foram introduzidas, de modo quo a designagio dos concelhos e freguesias que com- poem as varias comarcas do Pais ficou actualizada. Deve frisar-se, ainda, que, na remodelagio da di- ‘visio comared, teve-se em vista torné-la independonte da manutengio ou extingio dos actuais julgados mu- nicipais pela distribuigio das freguesias dos respectivos soncalbos pels comarcas cujas sedes Ihes fcam mais préximas. 24, Um outro ponto da nossa organizagio judicid- Tngar difenidades ¢ 0 do quadro ibalternos do tribunal, hoje funcio- nérios das secretarias judiciais. Diversas causas para isso tém contribufdo, entre os quais se podem destacar, como de maior influéncia, as ‘seguintes: a inexisténcia de dados estatisticos seguros quo permitissem fixar o uximero de lugares de oficiai Ae peste do harmonie com an nocessidedes do sereige a'consideragio de nio deixar repentinamente sem em- vprégo todos os funciondrios que excedessem aquelas necessidades: Esta iltime cause hé que aceité-la. Mas nfo 6 obsticulo a que se fixem os quadros iais, o Estatuto pro- ‘anteriores e fixar um que- dro de funcionérios que se aproximasse, tanto quanto posafvel, das necessidades dos servigos. Mas, como entiio ‘te recouhecia, 0 ajustemento ndo era perfeito. 0 decreto-lei n.* 31:667, de 22 de Novembro do 1941, procurou fazer corresponder 0 pessoal servindo nos tri- ‘bunais as exigéncias dos servigos, fixando novos quadros, @ adaptando aos mesmos 0 pessoal exiatente. Os quadros entio fixados parece serem 08 que melhor correspondem & conveniéneia dos servigos e por isso se adoptam no presente Estatato, ‘Como, porém, as necossidades podem variar, permite -se que o quadro seja aumentado ou reduzido pelo Mi- nto da Justia, onvidoso jus © presidente da Re ago. Foi a fixagio de quadros realizada naquele decreto que permitia, numa época de crise, ¢ juntamente com I SERIE — NUMERO 37 rar o funcionamento dos servigos jesafdgo do que careciam para os fins a que se destinam.as suas reoeitas, entre 08 quais ‘© das aposentagies. ‘Vérias outras medidas se tomaram acérea das secre- tarias judiciais, a que nfo vale a pena aludir aqui, porque facilmente se apreenderio pela leitura das re peotivas disposigdes. . 25, Até 1924 nio existia entre més _a aposentagio para os funcionérios das secretarias judiciais. Existia sim o regime da substituigio, imoral na eua origem deficiente no seu funcionamento, como se frien no e- Tatério do decreto-lei n.° 22:779. A lei n2 1:631, de 16 de Julho de 1924, autorizou © Govérno a criar’a Caixa de-Aposentagies dos Oficiais de Tustiga; e, uo uso desta autorizagao, foi publicado, em 29 de Dezembro de 1924, o decreto n.* 10:417, qui ofectivamente, criou a Caixa de Aposentagdes dos Of- iga, depois regulamentada por numerosa alteragdes foram sendo sucessivamente intro- Caixa, até que, pelo Novembro de 1936, as Caixas de Aposentages dos Conservadores do Registo Predial, Registo Civil, Notérios ¢ Oficiais de TJustiga passaram a coustituir, a partir de 1 de Janeiro de 1937, ‘uma tinea Caixa, denominada Caixa de Aposentagdes dos Conservadores, Notérios ¢ Oficiais de Justiga. Finalmente, veio a Caixa de Aposentagies dos Con- sorvadores, Notérios e Funcionérios de Justiga sor integrada, a partir de 1 de Janeiro de 1942, com todos os seus servigos, bens e direitos, na Caixa Geral de “Aposentagées, pelo decreto-lei n.°'31:669, de 22 de No- ‘vembro de 1941. Bate mesmo decreto, regulando o servigo de aposen- tagdes dos eonservadores, notérios ¢ funcionérios de jus- tiga, subordina-o ao regime estabelecido na Caixa Ge- yal de Aposentagdes para a generalidade dos funcio- naios do Estado, com as excepgdes déle constantes. Ba orlentagdo que aqui se mantém. Varies dusidas na regulamentagio da 27:243, de 24 26. Na organizagio da discipline judiciéria as inno- vagdes introdusidas destinamee a obter um melhor rendimento dos seus principios informadores. ‘Esta palavra disciplina, numa scepgdo ample, abrange todo 0 complexo do actividades tendentes 9 conseguir da parte dos seus servidores um maior ¢ melhor rendimento do mecanismo judiciério. Por isso, se apresenta sob um duplo aapecto: sob um aspecto preventivo, que vai desde as medidas destinadas a asse- gurar que cada lugar seja exercido por quem dé ss melhores “garantias do seu bom desempenho até & fis- calizagio exercida sdbre os funciondrios; e sob um as- peoto repressive, em quanto visa a determinar, para a fornar elective, = responsabilidade. diseiplinar dstes. ®, pois, vasto o campo de actuegto da discipline j Aicidria, Vasto © importante, pois bem.ce pode dizer gus 2 funcionamento ¢ o rendimenta i icidria depondem, em grande parte, do modo como a disciplina estiver organizade. 27. Nesta matéria de organizago da discipline ju- aiciéria a actual tendénoia do nosso direito, que o presente diploma respeita, no sentido de entregar o fxrcfio da aopio disiplinar » Grgtoe aidan do prt iagio, em 1921, que a competéncie do Conselho Superior Judiciério se tem vindo firmando ¢ alargando, por virtudo de sucessivos diplomas, em ter~ mos de o Conselho abranger hoje, por uma duple acco 28. DE FEVEREIRO DE 1944 disciplinar ¢ orientadora, a tot Justion © dos servigos com estes mais relacionados. ‘A pritica nfo tem revelado inconvenientes neste alar- amento de fungdes; e, por isso, se seguiu no presente Eploma a mesma orientapao idade dos servigos de 28. Ao Conselho Superior Judiciério se entregou, pertanto, a acgio disciplinar sobre magistrados, fun- ciondrios que trabalham nos tribunais © funcionérios de servigos no judiciais mas intimamente relacionados com os da justiga. ‘Nao hé necessidade de justificar ests doutrina, que 4 hoje vigora o cujas rasben afo exposta no relatéio Jo decreto-lei n.° 22:779 (n.° 26). Pelo decreto-lei n.* 82:419, de 23 de Novembro de 1942, foram extintas as secgbes especiais do Conselho Superior Judicidrio, por se ter reconhecido que @ sua ‘existéncia demorava o julgamento des processos. O jul- gamento por juizes do Supremo Tribunal de Justiga, sdbre relatério dos inspectores dos servigos respectivos, pareceu garantir suficientemente a justiga das decisdes. Quando 0 Conselho, por a questo apresentar aspee- tos téenicos mais delicados, entender que deveré ouvir 8 opinito de pessoas compeients, previn-e que as che- masse a formular o seu parecer. 'No presente Estatuto estabelece-se, porém, que no e280 de o proceso dizer respeito a agentes do Minis. Yério Publico, a conservadores ou a notérios, interviré, ‘com voto, no julgamento, o Procurador Geral da Re- pica, como superior blerérquico daqueles funcions- Figs, ow quem suas veres fizer. ‘Nao 6 prociso fazer referéncia a todas as modificagde: introduzidas pelo presente Estatuto na parte discipli- nar. A sua Snalidade é satistazer,necessidades reveladas pela experiéneia ou por o direito disciplinar aplicével aos funciondrios sujeitos & autoridade do Conselho de harmonia, na medida do possivel, com o direito que regula a'disciplina da generalidade dos funcionérios, do Estado, Stine orientagio se fia, mm eapecialy o dow ndo a qual apenas 6 admiseivel recurso das deoiates do Conselho eta matéria disciplinar com os ‘mesmos fundamentos por que éle & possivel, segundo a lei comum, das decisdes ministeriais naquela ma- teria. Emquanto hoje um funcionério do Estado, embora aliamente categorizado, ¢ julgado stmente pelo Mi- nistro, de cujas decisdes b4 recurso para o Supremo Tribunal Administrative, que nfo goza de plena ju- Fisdigdo, uma ves que The nao é permitido, em regra, apreciar a gravidade da pena ou a existéncia material dos factos, 0s funciondrios eubmetides & diseiplina do Conselho sio julgados por quatro juizes do Supremo Tribunal de Tustiga ¢ podem recorrer para um conselho constituido por sete juizes do mesmo Tribunal, compe- tente para conhecer de toda a caus, ‘Nio hé coerdncia nesta situagio; Aifies no sentidorindicado. » POF isso, ge mo- 29. Crinda em 1926 a Ordem dos Advogados, diver- 05 diplomas tém remodelado a sua organizagio © fun- eionamento, no intuito de a colocarem em condigdes do bem poder realizar os fins para quo foi instituida. E ainda a mesma finalidade que explica © justifioa 0 ‘que de novo se contém no presente diploma, ‘As ideas que hio-de presidir a uma boa organizagio a Ordem dos Advogados so correntes ¢ foram sinteti- zadas por Appleton (Traité de la profession d’avocat, 2.1104, pp. 106 ¢ 107) nos termos seguintes: A justiga ¢ um servigo piiblico; embora no fun- ciondério, © advogado concorre de uma maneira 161 ‘muito importante para » odministragto déste oor. ‘Vigo. A lei exige déle, portanto, conhecimentos e garantias de natureza @ assegurar a boa marcha do Servigo publico, no qual é chamado a-coraborar. Por outro lado, as partes ¢ 0 piblico em geral, ne- cessitando em muitas cireunstdncias de conselhos juridicos, para a condugio e conclusio dos seus ne- gécios e defesa dos sous interésses, tém o direito de ser protegidos contra a ignoréncia, a cupides ¢ a deshonestidade dos intermedidrios. Hstas razdes ex- plicam que 0 acesso e 0 exercicio da profissio de advogado sejam regulamentados. A. Ordem devé, pois, ser organizada em termos de a profissio ficar defendida, quer sob o ponto de vista téc- nico, quer sob o ponto de vista moral. Sob 0 ponto de vista téonico: o advogado deve possair uma cultura juridica susceptivel de Ihe permitir pene- trar nos segredos dos mais intricados @ variados proble- mas que a0 seu patrocinio judicidrio e ao eeu conselho possam vir a ser submetidos. Sob 0 ponto de vista moral: o avogado deve poder exercer a sua profissio com inteira pureza de cardcter, livre de quaisquer sugestBes ou prossGes, e deve ser ca- paz de a exercer apenas pelo amor ¢ apégo que Jhe tenho. ‘A estes dois pontos de vista se prendem directamente as principals snnovagiee que no presente diploma we encontram: ao primeiro liga-se a exigéncia de um exame para se ingressar na profissio de advogado ¢ 0 estabelecimento de duas categorias de advogados — a dos que podem ea dos que nio podem advogar no Su- premo Tribunal de Justia; no segundo filia-se a nova ogulamentagio das incompatibilidades ¢ « exigh de averiguagio de boa conduta moral para se po inserito como advogado. ¥ 30, Para se poder ser inscrito como advogado pres- cereve 0 presente diploma a necessidade de aprovagio tum exame eopecial, destinado a aquilatar da compe- téncia profissional do candidato. Tem éste exame lugar findo 0 estégio, e por éle se avaliaré do aproveitamento que o candidate obteve com o seu tirocinio. ‘A lei actual exige apenas que o licenciado em direito faga um estigio de dessito meses junto de um advo- gado, convindo, diz a mesma lei, que, sob a direogio déste, o candidato transite por todos 0s servigos foron- todos adquira a técnica profie- Certamente por se tratar de uma innovagio, que vinha baler profuntamente os hibitos estabeleciéce, no se foi mais longe. . £, todavia, preciso avangar agora algums couss © tirar da iden em que o extdgio se bnacin os eens corole- ios, a fim de éle adquirir eficidneia. : ‘Em Portugal o estégio esté, de facto, rodusido a mera condiggo de protelamento da inscrigio como advogedo,, com vantagem pequenissima para o candidato, que du- zante éle se limita, a maior parte das vezes, a fazer, quando faz, pouco mais do que umas escassas defesas oficiosas e @ aguardar o decurso do tempo necessério para ee poder inscrever como advogado, ‘A lei fiou da diligéncia do patrono a seriedade do es- tégio, e, se aquela tivesse existido © o patrono fésce bem eacolhido, 0 tirocinio poderia ter dado, sem mais nada, os frutos que déle se esperavam. Mas néo eucedeu assim, Ora o estégio ou tirocinio profissionsl bem organirade 6-uma da prizeirs, sendo primeira necomidado, dx advocacia. B ébvia a importante contribuigto que pode 162 fornecer para a formagio profissional dos novos advo- gados. Por isso se impde nfo acabar com éle, mas orga- nizé-lo de modo que no possa ser frustrado na sua fina- Vidade. ‘Ao estigio se dove o alto nivel de cultura e de mora- Uidade que a classe dos advogados atingin em alguns paises. Para ser plenamento eficas deveria o estigio obedecer 08 seguintos requisitos: a) Ter uma duragao suficiente para que pudesse cons. tituir uma escola de téenica e de moral profissional: a sua duragio normal nos outros paises 6 de trés anos, alguns vai bastante mais longe; ') © candidato deveria durante 0 estégio, pela assi- aus freqtientagio dos tribunais e dos outros. servigos conexos com estes, bem como das conferéncias perié- dicas, destinadas a discussio de temas juridicos, exer- citar-se nas actividades proprias do advogado, sob Inspecgio e vigiincia de entidades competentes, que poderiam ser os advogados mais doutos © experimen- tados; . ¢) So a fiscaligagdo referida na alinea b) nfo puder estabelecer-se satisfatiriamente, deveria instituir-se um exame no final do estagio, por meio do qual se apurasse © proveito que o candidato tirou del Quanto a0 primeiro ponto — duragio do estégio — verifica-se que 6 entre nés bastante menor do que na generalidade dos paises. Neste ponto nfo modifica o presente Estatuto a dou- tring legal em vigor, por ter parecido inconveniente au- mentar a duragio do estagio e, 20 mesmo tempo, intro- duzir as restantes medidas a que vai aludir-s6, Ser proferivel seguir devagar. No quo respeita ao procedimento do candidato no periodo de estigio, 6 muito dificil no nosso Pais orga- nizé-lo de maneira que, sem um exame, se oferegam garantias de que o tirocinante esté apto para o exer- cicio da profssio. Seria preciso contar com a dili- géneia © 0 rigor dos advogados incumbidos de ensinar, guiar ou apreciar o estagidrio (como sucede, por exem- plo, em Franga), ¢, se 6 certo que de alguns ou até de smuitos poderia esperar-se ésse cuidado © ésse sentido de defesa da profissdo, nao se poderia esperar de todos, nem sequer de uma grande parte ‘Também nio parece vidvel aqui o sistema sdoptado na Inglaterra, de obrigar o estagidrio a pagar ao patrono, ‘ow 0 contrério, de éste pagar aquele, cuja finalidade & compelir, pele via de interésse econdmico, a existéncia de relagies mais apartadas entre o patrono eo candi- lato. 10 © tinico meio aceitével do garantir a ré a instituigio de um exame qual 86 possa avaliar se 0 candi- {j6 na posse dos. conhecimentos e obre- ‘tudo do espitito juridico de que se fax mester na advo- Exame anélogo existe em muitos paises, como na Alemanha, na Bulgéria, nos Estados Unidos, na Hun- gria, na Inglaterra, na Ttélia, na Roménia, e até Franca, onde, aliés, o estégio goza de grande prestigio, autorizados escritores e congressos de advogados tém reclamado a sua introdugio. O exame deverd ser um examo de Estado, embora com participagio da Ordem, e deveré constar de provas se- melhantes is exigidas no oxame para juiz de direito, com aa alterages impostas pela indole propria da ad- " vocacin, Por isto se diz no presente Hatatuto que ser regulado, na parte aplicdvel, pelo estabelecide acérea dos exames pora juizes da direito, havendo um interro- gatério sbbre direitos v deveres dos advogados. ‘Nas provas, tanto escritas como orais, deverd inves- Yigar-se #0 0 candidato possue as qualidades necessirias I SERIE — NOMERO 37 para eprofsioy dai deverem els tender mais a apu- Tar o seu senso juridico, a sua capacidade para resolver hipéteses de direito © defender com seguranga e nitide: as solugées, do que a sua bagagem de conhecimentos, © simples ertdigi0, mais ou menos livresca, sem verde- deira compreenso do que ae diz. Contra a idea do exame poderé pensar-se em alegar: 2) Que as Faculdades do, Dircito j¢ devem dar aoe seus alunos a preparagio indispensivel para o exerefeio da profssdo do advogedo; 2) Que, sendo esta uma profisifo liboral, nfo hé ne- ‘cessidade do exame, pois os interessados recorrero, na- turalmente, aos advogados mais competentes. So destitufdas de valor estas objecgdes. As Faculdades de Dircito dio smente aos seus alunos sume preparagio juridica geral, visio que a licenciatura serve para o desempenho de fungées variadissimas. Para cada uma destas compreende-se, portato, que, alean- gada a liceneiatura, se sujeitom os candidatos @ novos estudos a novas provas; assim sucede se quiserem ser sgados ou juizes, ou até conservadores do registo pre- dial ou notérios, @, salvo a de juiz, nénhuma destas porfissies é tam complexa como ade advogado. Acresre que, quando admissivel, esta objecgdo condenaria 0 pri- prio estigio. Menos convincente é ainda a segunda objecgio. Levada as suas conseqiiénciss légicas extremas, con- ausiria, se fosse aceitavel, a dispenser, nao s6 0 exame, como tirocinio © mesmo 'a licenciatura om direito: 0 exercicio da profissio forense seria aberto a todas as pessoas, sem quaisquer condigdes legais de competéncia, € a vida se encarregaria de as seleccionar. Ora a verdade é que a vide nio se encarrega sempre de seleccionar os competentes e que é indeclinivel de- ver do Estado mpedir que pessoas crédulas, despreveni- das ou ignorantes venham a socorrer-se do patrocinio de advogados que nao ofe rias garan- tins profissionais. E mais ainda: colaboradores como sio da administragio da justign, no pode confiar-se a qual- quer pessoa tal colaboragii ‘Muito acima dos interésses de alguns que procuram na advocacia, sem a precisa idoneidade, um modo de vida, estio os da justiga ¢ os da grande massa dos ho- mens que, para defesa dos seus direitos ameagados ou feridos, se véem constrangidos a solieitar o apoio de wm advogado, 31, Ainda no intuito de evitar que a profissio de advogado venha a ser exercida por quem nao tenha su- ficients competéacia profissional, ¢ a fim de se conse- guir do tirocinio maior proveito para os estagiérios, exige-se que, para ser admitido a exame, devora 0 can didato apresentar, alm de um trabalho juridico origi nal, e6pia de cinco trabalhos forenses que tenha escrito durante o seu tiroofnio ¢ ainda de dois trabalhos que te- nha realizado na conferéneia preparatéria. . B assim o estagiério obrigado a fazer um estégio ‘rio, pois sabe que se 0 ndo fizer nfo poders ser admi- tido a exam . Dispie-2e ainda que o candidato deverd assistir trabalhos da conferéncia preparatéria e participar né- les, nos termos regdlamentares, sendo-lhe recusada a admissiio a exame se ndo tiver satisfeito as condigées do assiduidade af previstas. 32, Uma outra innovagio do presente diploma é quo co refer heringao de duns eatngorias de advogados: 8 dos que podem ¢ a dos que no poem advogar junto do Supremo Tribunal de Justiga. . O sistema nao 6 original do direito portugués; existe jé, © em favordveis condigdes de funcionamento, em. 23. DE FEVEREIRO DE 1944 muitos paises, como, por exemplo, na Alemanka, na Di- aamarea, no Franga, na Jtélin o na Noruoga, onde advogados chegam por vezes a ser agrupados em trés tategorias: advogados junto dos tribuaais de 1 insti cia, advogados junto dos tribunais de apelagio e advo- gados junto do tribunal supremo. A distingZo nfo foi evade tam longe neste diploma, ficando mas duas categorias jé referidas, porque nio se julgou oportuno ir mais longe. A advocacia junto do Supremo Tribunal de Justiga ‘uma importineia especial, jé porque neste ‘unal apenas se discutem questdee de direito, jé pc que so trata do tribunal supremo orientador da jur prudéncia. A falta de preparagio mental dos advogad pode comprometer aqui, em condigdes de maior gravi- dade, a boa administragdo da justiga. Siio, portanto, admissiveis todas as medidas destina- das a slevar, com o nivel dos advogados que néle plei- teiam, a jurispradéneia do mais alto tribunal do Pais, Com a innovagio agora introdusida pretende-se atin- gic esta Gnalidade: que junto do Supremo Txibunal de Fustiga venham a advogar apenas aqueles que, pela eua pratica nas lides do for, pela experiéncia adquirida, pelo saber e competéncia revelados, déem garantias fir- ‘mes'de contribuir para o acérto e valor intelectual das decisdes daquele tribunal: uma boa jurisprudéncia depende, em vasta medida, como é evidente, de bons advogados. Com isto todos Iucrario: 0 Estado, as partes e a pré- pria classe dos advogados. A justiga sera adminiatrada em condigies de maior seguranga; as partes terio mais confianga nos seu patronos ©, por isso, mais ficilmente Thes entregartio a defesa dos seus interésses; a classe veté aumentado 0 seu prestigio. Poderé dizer-se, contra esta innovagio, que ela con- tribuirg para tornar mais caro recurso 20s tribunais, pois o litigante que na 1." e na 2.* instancias estiver assistido por advogado nfo autorizado a exeroer @ cua profissio junto do Supremo Tribunal de Justiga teri de escolher outro advogado quando 0 processo subir a fase tribunal. A objecgio nto decisiva, jd porque 0 ailvogado junto do Supremo nio fica necesstriamente mais dis- endioso do que o anterior, se aste continuasse com 0 patrocfnio da eausa, j4 porque é usual solieftar nos re- ‘cursos perante aquele tribunal a intervengio de advo- gados de maior competéncia, quando néo o parecer de algum on alguns jurisconsulios. 33, 0 problema das incompatibilidades tem sido por varias veres revisto entre nds. A sua vltima grande revisio — a do decreto-lei n.* 22:79, de 29 de Junho de 1933 — foi devida, como ee diz no seu relatério, nevessidade de se evitar a formagio de um verdadeiro proletariado forense, em consogiiéncia do mimero ex- ceasivo dos que nos tribunais advogavam. ‘As incompatibilidades com a advocacia podem tor a sua causa em consideragdes de duas ordens: uma no interésse da advocacia, outra no interésse dos servigos Piblicos, Com efeite, a necessidade deo advogado se devotar a0 estudo e defesa das causas e de viver com decéro po- dem levar a proibir-Ihe o exercicio de outras profissdes, ‘ou porque estas o privam do tempo de que careoe para & Advooacia ox porque compromeiem ou podem compro- mater 0 seu prestigio ou # cua perfeita honorabilidade. Por outro lado, o interésse dos servigos pode igual- mente justificar que se nfo permite aos funcionérios em geral, ou a algumas categorias déles, o desempenho de uma profissio que, ‘por tomar muito tempo ou por criar dependéncias e ligagdes, 6 susceptivel de causar 168 prejuizos graves na marcha ou na correcgio dos servi- 905. piblicos. ideal seria, pois, que a advocacia fésse vedada a todos 08 funcionarios cujas fungdes no pudessem bene- ficiar com ela e que 203 advogados se retirasse a pos- sibilidade de se dedicarem a profissies capazes de mo- cular a sua dignidade como tais, : Quanto a éste siltimo ponto, ¢ atendendo a rasdes de ‘ordem econémica ¢ ainda & grande diversidade das fissbes, nada de taxativo se prescreve neste Estatuto, mas diz-se que poder a Ordem determina incompati- Dilidade do exercicio da advocacia com certas profissdex @ actividades havidas como susceptiveis do atingir a ignidade ou o decbro do advogado. ‘No que toca aos funciondrios puiblicos. nfo se proibe «@ todos a advocacia. As reformas nesta matéria tem sucossivamente alar- gado o mimero das incompatibilidades, abrangendo 0s €asos que vilo sendo tides como os que mais reclamam esta providéncia. A idea de nfo afectar a situagdo econémica dos fun- cionérioe que da. advocacia tram proventos, haizende © seu nivel de vida, tem originado contemporizagdes a que o presente diploma também nio é estranho. Por isso, 0 principio continua a ser éste: onde se jul- gou mecessério estabelecer a incompatibilidade ressal- ‘vam-so 05 que jé exereem @ advocacia. ‘Formularam-se, porém, exeopgdes ‘a éste principio em relagio a funciondrios cujas fungGes so de tal na- tureza que se entenden nfo poder permitir-ee-Thes a advocacia, mesmo que jé a exergam. 0 que sucede com 03 funcionérios dos eervigos gen- trais de todos os Ministérios, com os funcionérion ‘das polsias, com os do Arquivo do Registo Criminal ¢ Po- icial, com os inspectores do notariado, do registo pre- dial ¢ do registo civil ¢ com os militares no servigo activo. Quanto aos primeiros, a tendenciosa atitude de um funcionétio pode orientar o destino de importantes ne- gécios do Estado; os funcionarios das policiaa destinam-

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