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Copyright © Assia Flosia Scientia Studia 2008 acini cen, ai Elona Hanne Ag. 200 Pej itor: Asoctngio Fitosrica Suri Seeona Dire editorial: Pao Ronéx Manicosnae Srsta Grau Caner. Projet grifio ecap: Cau Mesgurra itorago: Gnexsame Rooms New evinos Mis Basees somes Dono ma FPUCH-USP Stim. Tey eran data etic Try Si, al age: ‘ralugo de Pablo fun Maric, Sylva Cemignant Caras Si Palos Avocae Flies Sie Sia 1 tone da Teno. doo Trade: Conners rr cence ar logic tren de nett set ISBN 8-5 ho-o3-6 ncn Stent Ss) ISBN o70-g-a6- gut tora) Sill d inci, Png lenin apeton (iio, Democacia irs dato. Rgouet Po ‘STL Marcon Pa ab I Cra, Spi Gems F.0D 04 Assoiaga Flosificn Sent Studia Ta Santa Ross nor. 8/108 editoralll34 Toa Hugin 592 ‘1435-000 + St Pal SP Tel Fax: (1) 6-677 editonas.com. be 5579-010 Sto Paulo «SP Tel Fax 01) Spa 4435 wv sent Sumario Introdugso +7 + Una cinciafunciomalist estatificada Aperspeetiva sciolgics dferenciacionisa = +3 1 Asquestio do mascimento da lana na socilogia + 14 1.1 Aimportineiadaseonunidades centifiea «15 5 Oethasdaciéneia +19 13 Citncinedemoeraca «22 2 Arcondigiesde desenvolvimento dor conhecimenta sientfiens + 23 2 Hibridaga dos papel ‘emergtnca da especaidades » 25 4. Insticlonaliagtoe desenvolvimento Aascigneae «a7 1 Extrafeago nas ciénciaeecientometria « 36 31 Notoriedade cientifiee produtiidade rosistema mertoniano « 38 2 Entaificagio eientometrias a cantebuigbes de Derek Della Price ede Eugen Carield « 3:3 Amedidadaciénene ofuncionalisma » 44 44 Doempiisine hgio a Thomas Kulnemdiregoa uma freilizagio do fundamento diferenciaioniata + 4¢ 441 Asobes de “paradigina”ede“cigneia normal” = 49 a Uimirabathoeritiado «51 {423 Kun como autor de ener» 54 + Oevanescimentoda iénca, Rumo auma nova ortodoxia” na soriologiada inca? » 59 1 Axor” sbordagens soiotgias da ciénca » 65 1 OPrgrama forte: principio ea aplcages +65 1-2 Acahordagensetnogrifen do tralbo empeen: ‘ama variant atoist do Programa forte? +72 1.3 Vimexempla de vers raalmente construvista steoriadoator-rede « 80 2 Ano sciologiadaciénca © 84 2 Una conoepeie renovidadacléncla? + 5 2 Vina nov ortdorswociliglen + 99, 3 Unnaderivnantiferenciaconita? + 10. 3 Ainovag conte acignea? 4 Aguerradascitnclas +119 Por uma saciologiatranaversliata Aixcienciae da inowaga tenica + 128 1 Oscampos eientificosea ciénia: as eontribuigdes de Bourdiewe Whit «3 oe ecampo cent scantebuigh de Bourdieu » 134 1g Acinla plural oaportede Whiley 129 13 Orensinamentos de uma confronts: cemdiregod abondagem ranveralists © 134 2 Asdinimicasintadiciplinares a prolemitiea das"mieroeuturas” de pesquisa + 136 de difsiod as inden dieiphinares © 140 51 Oregimediciplinar* 40 3.2 O regime wtiitrio «142 3.3 Oregimetransitirio» 4 24 regime transversal © 146 4 Transversal euniverslidade © 152 5 Altura transverslista da dnsmiens da inovacto: ‘omodelo da Triple «155 Triplahéice © Nova produgdo de conbeeimente: pensamentos prontos sobre ciénca evenologia, por Terry Shinn + 165 Referencias bibliogriicas +198 Indice determos + 208 Indice de autores + 204 Iwrropugio Adefinigdo daciencia, sua organizacao cosliamesqueatunem \ sociedade global sio atualmente objeto de debates socio~ logicos intensos e de ésperos eonfrontos. Por tris das posi des presentes, apresentam-se mais que representacdes conflitantes da ciéncia: pode-se obter nelas, em filigrana, visies diferentes do mundo social e do que ele deveria ser A tarefa é, com efeito, facilitada quando os debates cienti- fivos sao levados & esfera piblica, como foi o caso, a propa~ 10 dos estudos sociais da cigncia, no momento do “caso Sokal”. Ultimo avatar do que se denomina frequentemente 1 guerra das ciéneias”,o episodio produria mobilizagao de um certo nimero de sociélogos. e maisamplamente de inte~ lectusis. em torno de duas representagdes diametralmente ‘opostas da eigneia Apartirdos anos 1970, aciéneia €alvo dos ataques de parte ‘los universitrios, de pesquisadores e de intelectuais, mais ‘ou menos ligados a0 pensamento pos-moderno ¢ a0 cons~ trutivismo. Lacalizado inicialmente nos Estados Unidos, esse ‘movimento eritico ganhou a Europa. Ele acusa a ciencia de contribuir para a dominagio de eertas minorias sociais. de sfirmar a superioridade epistemol6giea da ciéncia ociden: tal, de sero sustentaculo dos complexos industriais milita res ede tornar-se responsivel pela degradacio evolégiea do planeta, Desenvolver sascitando o desenvolvimento de um relativismo intelectual se, assim, uma ideologia anticiéneia, para o qual a verdade nao existe ~a nao ser como produto de condigdes locais —e as posigdes inteleetuais nto podem ser mais que incomensuraveis. Mas isso nao & tudo. Essa posi Gio recolacou igualmente em questio a necessidade de pre servar uma certa autonomia da ciéneia para que ela continue 1 funcionar eficazmente, Toda uma série de diseursos visa desde entao, a organizagio disciplinar da ciéneiae osistema de controle do trabalho cientifie pelos pares, os quais mui~ tos desejariam substituir pelas estruturas do trabalho inter~ disciplinar e pela organizagto de foruns hibridos que per~ rmitam coloear a pesquisa sob o controle dos “eidadios” AAté entdo, prevalecia a tese segundo a qual a eiéncia no po~ dia desenvolver-se senao sob os auspicios da democracia; agora, € a idéia de uma domesticagio necessaria da cieneia pela demoeracia que ¢ levada adiante e tende visivelmente a sujeitar a ciéneta as leis do mercado, Tudo isso traduziu-se pprogressivamente na promogo de uma iso muito particular do mundo, na qual as demareagbes clissieas entre ciéneia € sociedlade, naturezae cultura si negadas ¢ fandidas em um conglomerado indiferenciado, Em 1996, um fisieo da Universidade de Nova York, Alan’ Sokal, decidiu langar uma ofensiva contra os movimentos relativista, insistindo no cardter ideol6gieoe cientifieamen~ teinfundado dasanslises sobre as quais eles ee apéiam, Sokal «seus partidos vio afirmar, em alto e bom tom, 0 cariter racional ¢ universal do conhecimento cientifico, a neces- sidade de preservar a autonomia da comunidade cientifiea a importancia crucial de manter, ao mesmo tempo, a distin- ‘clo entre cieneia fundamental e eiéneia aplicada e as possi- bilidades de intercimbio entre essas duas vertentes da pes~ quisa 0 espago para a tomada de posigdo estava consideravel- nte bipolarizado a0 final dos anos 1990, nio somente no seio daespecialidade dos estudossociais da ciéncia, mas, mais amplamente, no espago piblico, Estimulados pelas posi¢hes de Sokal, muitos cientistas e intelectuais nao hesitaram em levar o debate ao espago piblico, eserevendo em jomnais ge neralistas ~ como Le Monde ou Libération na Franga—ou em _revistas de divulgagao como La Recherche. Quando examinatlos, os argumentos trocados entre 08 lois campos revelam-se, Finalmente, bastante fracos e isso explicatodaaesterilidadedo debatedo pontode vistado pro- rresso do eonhecimento. Entretanto, a intensidade da con- {rovérsia revela todo o interesse queas questdes concernentes Aaciéneia, sua organizagio e sua prépria essencia suscitam no ‘seio do corpo social. O propésito deste livroé exportrés pon tos ie vista sociolégicos sobre aciéncia e a inovagio técnica, Os dois primeiros aparecem mais ou menos como as versbes académicas das duas posighes que se enfrentaram e conti~ hnuam a enfrentar-se no contexto da guerra das ciéneias de ‘jue acabamos de falar. Aterceira perspectiva provém de uma ‘ontativa de superagio ou, melhor, de dialetizagao das duas perspectivas precedents Na primeira perspectiva, o cariter integrado da ciéneia foi, no iniefo, pensado sociologicamente em um plano estri- tamente institucional. E a Robert Merton, sociélogo ameri- ano, que coube ter juntado desde os anos 1940 toda uma li~ ‘nhagem de trabalhos sobre o sistema social da ciéncia. Ele se ‘ledicou, de uma parte, &andlise de sua estrutura normativa, Irazendo a luz. imperativos institueionais que constituem, segundo ele, oethos da ciéneta e, de outra parte, ao estudo do sistema de recompensa préprio ainstituiglocientifica, Muito rapidamente, entretanto, os sociélogos que seguiamseu rumo ‘comegaram a eriticara visto excessivamente homogeneizante ‘leMerton, insstindonaexisténcia de processos de diferen- ciagio horizontal ewertial, que afetam aestrtura social da ciéncia.E assim que se desenvolvem as anélises qu tatam daemergéneia edo desenvolvimento das disciplinas~ pode~ se citar Joseph Ben-David, Diana Crane ou ainda Nicholas, Mullins ~e outras andlises com eixo na questio da estratifi~ cagio no sefo das comunidades cientificas, as quais farao con tribuigbes substanciais o proprio Mertone outros~tais como Harriett Zuckerman, Jonathan ¢ Stephen Cole, Nessa pers- pectiva,seja.a diferenciagao institucional interna da ciéneia Tevada ou nao em conta, persiste uma invariante: a afirma- «aode que a ciéncia é um modo de conhecimento epistemo- logicamente diferente ds outros modos de apreensio da realidade, Porconsequenecia, a eiéneia nao somenteéinstitu- cionalmentedistinta das outrasregibes do espago social, mas clase demarea como superior aos outros modos de cognicio, E por isso quese pode earacterizar essa perspectivacomo di- ferenciacionista, Entretanto, mesmo se os sociélogos diferenciacionistas pretendem desenvolver andlises sociolégicas da institucio~ nalizagio daseiéneias, eles consideram que nada tema dizer, cenquanto socidlogos, acerea dos eontesidos cognitivos da cigneia, Trata-se de um objeto que pertence ao dominio da epistemologia, O que quer dizer, consequentemente, que a abordagem diferenciacionista € marcada também por uma concepeio particular da divisio do trabalho entre a sociolo- giacacpistemologia da cigneia, Essa posicio seri combatida pelos promotores de uma segunda perspectiva, que chama- remos de antidiferenciacionista. Nesta segunda posiglo, a integragao da ciéncia & dupla~ mente negada. Em primeiro lugar, a eiéncia nao existe en- ‘quanto campo social dotado de certo grau de integragao: as nociesde disciplina ede especialidadesio assimamplamente criticadas e apagam-se em proveito da nogio de rede, que se considera que desereve melhor a realidade da produgto ci- entifica e a extrema plasticidade de seu contexto. Além dis ‘0, ciéncia nfo existe enquanto campo social dotadode uma, certa autonomia; a nogao de rede permite ultrapassar essa especie de fisica espontinea dossélidos, quecolocon até ago- ra, de modo muito simplista ciéneia ea sociedade em uma relagio face a face. Nega-se, de modo anslogo, a particulari~ ‘lade epistemolégica do saber cientfico, até entao postulada pelos socidlogos diferenciacionistas. As estruturas eogniti~ ‘vasa citneia, objeto desde entao justifieavel de uma anise ica que se seguiu principalmente aos trabalhos de Hurry Barnes e David Bloor, subsumnidos sob o nome de “Pro- rina forte”, ndo sio mais pensadas como referindo a uma {otaliladle homogenes, espeeifiea, que se demarca das es: {ruturas eds formas de racioeinio mobilizadas no conheci Iento comum, Se tivéssemos que fazer 0 balango do que se aha e do que se perde ao passar do primeiro cenario a0 undo, poder-se-ia dizer queaunidade ea autonomia re~ litivas da eigneia, a8 formas de divisao do trabalho que a aracterizam desapareceriam e, além disso, que suas parti- ides epistemolégicas s20 negadas, Por outro lado, :prenule-se muito sobre a ciéneia in pvo, tal como ela se faz hos laboratorios, sabre os instrumentos e o know how mobi- Iino no trabalho empfrico. disjungao entre as duas perspectivas deixa toda uma {rie de problemas em suspenso. A perspectiva diferencia~ cionista postula a unidade epistemolégica da ciéneia que a .$0b 0 pretexto de pperspectiva antidiferenciacionista recus {que aatividade do conhecimento cientifico ¢ produto de coi dlighes sociais e téenicas heterogéneas, ancoradas no local e hnacontingente, Mas ni seri possivel propor um sistema de compreensio que permita dar conta dos fendmenos de con- vergéneia intelectual, levando em conta a diversidade, a Iweierogeneidade, a contextualidade das praticas cognitivas conctetas? Nao seria desejével construir um quadro de ané lise que permitisse aprender a autonomia relativa do cam po cientifieo como o resultado de forgas transversais que 0 itravessam €. ligam aos outros campos sociais? Esse € eixo problemsatico que nos conduzira a defender a possibilidade ‘Ue um tereeiro cenario, dito transversalista “Toy Shin Pel apne Entre 08 deeénios de 1980 © 1990, nova sociologia da cigneia, em particular em suas verses radicalmente rel ‘vistas, susitow uma reagdo anticonstrutvita, anti-relat vista, que zomba da refleividade e nfo opde ao alvo de seus ataques sento sua imageminvertda. Nesse momento, 25 fe (es nem sempre conseguem se comunicar. Ainda quea nova sociologia da ciéneiatenha, incontestavelmente, aberto nu- _merosas enovas vias, muitos soos que avaliam hoje que ela ceagotou sua energiaeratva, e mesmo que ela, no quadro da guerra das ciéneias, tornou-se um pouco repetiiva. Capitulo Por uma sociologia transversalista da ciéncia e da inovagao téenica ‘A perspectva “transversalista” leva em conta, no fundo,trés realidades empiricas: ()aautonomiarelativado campo clentifico,oquesigni- fica que ce est dotado, a0 metmo tempo, de mecanismos de regula que Ihe sto pripris e que ele estabelece com ‘os outros mierocosmos soeais— eampos econdmico, pli- tien ete.—rlagdes de interdependéneia; (@)aexinténciadeflaxon mgt pscos discplnares que eoncernem tanto aoa pratcantes quanioaosconceitoreinstrumentos-tbreoa quis sant dliferenciaionista e debrgaram, mas para ver eles so- ‘menteo estemuho dea deaparigio das fronteiras. no tadamente dseplinares (@) a persatencn de movimento de convergéncia inte Jectual ede apitalizgsocogaiva que transeendem as de rmareaiesdisciphinares, bem como aesabilizago de wb ‘ampoede pesquisa Este capitulo pretende apresentar uma série de trabalhos que se inscrevem nessa veia¢ tem a ambigio de ultrapassar as abordagens estrtamente diferenciacionstas sem, entre~ tanto, chegar metafora do “tecido sem costura” Cf. Hughes. 1983) ecairno antdiferenciacionismo. Dois autores que re- Setiram, segundo perspectivas diferentes, sobre a nogio de “campo eientifico” reterdo nossa atengio: Pierre Bourdiew ¢ Richard Whitley. Uma leitura diaertieae ertica desses, a autores permitiri, com efeito, mostrar que a visio trans versalista deve a cada um deles. Num segundo momento, © foco sera posto sobre o modo pelo qual a perspectiva, ‘ransversalista oferece uma anilise de dinimicas opera as is disciplinase transversas elas. Tratar~ se-4ideporemevidenciade que modo cla pode mostrar como ‘esas dindmicastranscendem as diseiplinas sem diminuir~ hes a consisténcia, em que medida elas trabalham para uma tendéncia de unificagio da eiénca, ‘em meeanismos de controle coordenago de trocas entre ‘0 campo cientificoe as outros campos socias. A soctologia da eigneia, quando se libera dos quadros diferenc ta ¢ antdiferenciacionista, pode sugeriranilises mais afi- nadas das inter-relagbes entre a ciéneia ea sociedade, pres tanudo atengio & plasticidade das fronteiras ea seus imbri- camentos possiveis. Lembraremos mais precisamente 0 “modelo da Tripla hélice", proposto por Loet Leydesdortt Henry Etzhowite ‘como elas const 10 exatros cesiicos ¥ a tiers As contmimurg6xs nx Bounpieu x Warne Bourdiew © Whitley trouxeram ambos wma contribuigio ‘importante a sociologia da cigncia e usam 0 mesmo concei- to central de “campo cientifico” Bourdieu, 1975, 2001: Whitley. 1984), 1.1Guvrosxeauro citric: a conrarngso BouuDisy Em numerosas oportunidades, Bourdieu i necessidade de pensar relacionalmente em sociologiae, para cle, um dos operadores eficazes do pensamento relacional é iusobrea ‘ conto de “eampo”. Este conceit remete a um sistema de relagdes abjtivas entre posigdes, o qual ¢ independente das populagGes definidas por casas relagbes irredutivel as intengies dos individuos ou mesmo is relagdes de interagao _quecles mantém, Na sociologia de Bourdieu. que se aparen= ta auma espécie de topologia socal, todo campo ¢ igualmen. teumespago de eoncorréncia estraturado em torno de esa fos ede interesses especificos, no seiodoqual osatores, que Bourdiew prefere nomear de "agentes" distribuem-se em fungto do volume e da estrutura de capital social, cultural, ‘econdmico esimbélico detido. Entretanto, se todos os cam- os sociais apresentam por definigdo essas carateriticas, ‘aa um dentre eles dispoe de sua propria Logica de fun cionamento e segue uma evolugio especifica. Todos esses mmicrocosmos diferem, por sa vex, quanto 208 desafios em ‘ono dos quais se estrutara a competigao entre os agentes © quanto as espécies de capita que nelaestio envolvidos. [No seo dos campos cientifieos, os agentes esto em con- corréncia pelo monopélio da eompeténcia cientifca, pela mposigdo de uma definigto legitima da eiénciaconforme a seus proprios interesses. A verdade é, por eonsequéncia, ela ‘nesta, im campo de lta. Entretanto, a insergio dos agen es em um eampo cientifieo dado implica de fato que eles se eonformam 38 normas ¢ as regras do jogo imanentes 20 ‘campo: a verdade deve ser reconhesida como sendo um "va lor” central e respeito dos “einones metodoligicos que definem a racionalidade”, reconhecido como necessirio. Aaceitagio dessa espécie de axiomitica ou de nomos 6 uma condigao sine qua non da participagdo dos agentes nos jogos ide concarréneia internos ao campo cientifieo em que eles testo implicados, Averdade oferece assim uma dupla face: la 6, a0 mesmo tempo, aquilo aque todo cientistapretende aveder, coloeando em operagio 08 instrumentos da racio nalidade, eaquiloem quese deve eer para partcipar dacom- petigdo (cf Bourdieu, 1975), [As lutasinternas aos diferentes campos cientificos por eonseguinte, “Iutas regradas” (ef. Bourdieu, 2001), que ‘opie agentes dotados de um capital“eientfico” de nature~ za simbélica, Ao tornar isso preciso, Bourdieu pretende in~ sistirnofato de que esse capital existe na epela percep de agentes datados de categorias de percept adequadas, que se adquirem por uma espécie de socializagao secundaria: ‘mplicado em um campo centifico, um agente interioriza as regras de seu funcionamento e aprende, progressivamente,, no apenas a jogar o jogo da concorréneia no respeito as re- gras do jogo, mas igualmente a apreender o sistema de des vis que separam os agentes implicados no campo. O cap cientifico é, asim, produto do reeonhecimento, ele remete ‘mais 04 menos & nogto de visibility stile) w pelos socislogos americanos. No artigo de 1975 cansagrado ao campo centifico, Bour dieu se limita unieamente & evocagio do capital cientifico como espécietnics. Nao é sento mais tarde que ele distin- in dts formas de eaptais. Uma, dita “cientifia”,estli- da ao reconhecimento pelos pares; ela € pouco institucio- halizada © encontra-se aberta & contestagto. A outra, dita "temporal", remete a uma espéeie de poder institucional sobre 08 meios de producio (os créditosfinanceiros, por cexemplo) ede reprodugao (uma posicio em comissies como © Conselho Nacional de Universidades na Prana). Para Bourdieu, essas dias formas de capitis conhecem leis de acumulagio diferentes: umaseadquire pelaproductode eon Lribuigies reconhecidas para progresso da ciéneia (publi cagBes em peridicos prestigiosos) ea outa pela estratégia politica ¢ institucional, Alem disso, e a primeira é dificil- mente transmissive, a segunda 0 ¢ mais facilmente. Enfim, ts poasibilidades de conversio de um capital em outro si0 assimétricas:o capital cientifio pode, com o tempo, permi- tiraobtengio de eréditos econdmicose politicos, mas émais frequente ver agentes dotados de um capital temporal eleva- doobtcrem capital eientfico sem investirfortementena pro ‘dugio elemifica "A existéncia dessas duas formas de eapitalatesta 0 grau relativ da autonomia do campo cientifico:o capital tempo- ral é4 marea da empresa burocratica de poderes tempor cobreos campos cientificos, ados ministériosedas institui- oes de administragio da pesquisa ou, ands, aquela dos gra- pos financeros e industrais, mas também da “Agora” for- mada pelas midias, De imediato, a autonomia relativa de wm campo sera fungao do grau de diferenciagio da hierarquia, segundo a distribuigto do capital cienifcae da ierarq ‘segundo a dstribigio do capital temporal. Quanto mals es sas hierarquias se confundem, mais aavaliagio cientifiea das contrbuigbes ¢ contaminada por eritérios propriamente li {dos ao conhecimento da posicio social dos individuos, Segundo Bourdieu, ¢importante ter emmente a exstén cia dessasduas formas de capital paraapreenderasestratégas ‘losagentes que contribuem paradar.atodocampo entific, tua estrutura apropriada. E precisamente restituindo a e8- ‘rutura objetiva do campo que é possivel aprender, com: preender, ow ainda “prever" as tomadas de posto de cada lagente: espagode posigbes definidas peladotagdo.em capi- {ais eapecificos (temporal e/oucientifio) comand oespago thomélogo de tomadas de posiqdo isto €, muito coneretamen~ te,otipode ciéncia feta, De fto. a sociologia da citncia de- fendida por Bourdieu é prineipalmente uma sociologia dos campos cientifieos, que tem como objetivo Tey Shinn Pcl Rac ender sua multiplarizagho, quer diver, os eos Ae oposigs objets coagentes, (2) aprecise sua autonomia elativa em rela ans pode restemporas,¢ @)construiroexpagodetonadas de posihodos agentes ligudosaoespago de posigdes por uma relaiode homologia ‘qe, eslarece Bourdieu, ada tem a ver com a telagdo de fem torn dos qua se dstribuern reflexomecinieo to Feqientemente evcada pelo socié- logos marxstasdoconhecimento, 0 argumento da homologia & mais sutil Se o espago de posigoes age sobre a tomada de posigto e se ¢ possivel mar- ‘arrelagdes de correspondéneiaentre os dos espagos, 6 por ‘que ele se apresenta a agentes dotads de esquemas de per- «epgio adequados—0 que Bourdieu chama o habitus ~ como ‘espago de maneiras possives de fazer eitncia, Convém no- ‘ar aqui que a anise deum eampocientifieo no necessita, «de modo algum, de toda uma digressso pela andlise do traba Iho cientifio concreto; quando Bourdiew fala de tomada de posigio,eleevora exclusivamenteaciéneiafeita tl comocla ‘¢ mostra prineipalmente nas publicagdes, Faltalembrar um dltimo ponto concernente a contibui- ‘ode Bourdieu. A ciénciaestéconstituida, segundo ele, por ‘campos cientiticos diferenciados: entretanto, isso nio sig nifiea que esses campos sejam totalmente independentes entresi, Existem, segundo Bourdies, prineipiosunificadores da ciéncia, externos até mesmo a0 fato de que o conjunto de ‘campos cientificos compartilhara interesses comuns (pela "acionalidade critica contra irracionalismo do anythinggoes (ale tudo), porexemple). Connido, Bourdieu relativamente ‘vasivoacerca desta questo. Ele se contenta em citarlonga- ‘mente trabalhos que tratam da pesquisa teenie {al ef Shinn, 2000b, apud Bourdie, 2001). Pode-se, por fim. notar que a nogio de “eampo cientifi 0" parece, para Bourdieu, sindnima de “diseiplina”. Aassi- ‘milagio tem, para ele, um earster de evidéncia;€ assim que za nota 9 de seu primero artigo sobre o campo cientifico, cle esereve: “existe a cada momento uma hierarquia social Ade eampos cientifieos ~ as dieiplinas — que orienta frte- mente as prtieas e muito pa ‘vocagio'[..1” Bourdieu, 1975, p. 96). Entretanto, em uma de suas dlkimas obras, Bourdieu nuana sua posigio sobre asligagdes entre campo edisciplinaeclarifca suas relagbes. Ocampo cientfico 6, deagoraem diante, deserito “como um ‘onjunto de campos locas (diseiplinas) que possuemem eo ‘mum interesses[..]eprineipios minimos” (Bourdieu, 200, .130) Aide, segundo a qual existem relagies entre as proprie «dudes organizacionas da ciénca, sua difereneiagao interna e ‘aexistencia de mecanismos parafazeraspontesentrea ién- ciaea sociedae, preserva, o mesmo tempo, aautonomia da cignciae sua rlativa permeabilidade as constrigdes so instrumen~ jularmente as “escalhas' de 1.2 Actincta room aronve nn Waray Em uma obra intitulada The intellectual and socal orgoni- ation ofthe sciences Aorganizezao intelectual esocial daseién- as), B.D. Whitley analisa o modo pelo qual aciéncia se dis- tingue de outras formas de stividades, prineipalmente no plano organizavional,e desenvolve uma grade de desericio \que permite caracterizar as especalidades de pesquisa, pre~ cisando as especificidades estruturaiseintelectuais de algu- mas dente elas. | | “ey Shinn Plage ‘As fontes de inspiragio de Whitley sto deduas ordens: de ‘uma parte, a sociologia “figuracional” de Norbert Fliase, de coutra parte, as realizagées da sociologia das organizagées, muito partcularmente, a8 da teoria da contingéneiaestrutu- ral. De Eias,eleretémo conceitodeinterdependénciae, mais amplamente, o projeto que este tltimo atribuia a sociologia ds cigneia: comproender por que as cléncias desenvolvem rau variveis de autonomia rlativa edelimitar as relagdes {que clas mantém com a8 instituigaes sociais (ef. Whitley. 1977). Além disso, essa ¢ ainda uma especificidade de seu ‘trabalho, cle empresta muito da soviologia das organizacoes, De Henry Mintaberg (1979) ¢ Charles Perrow (1967). ele retém a contribuigio & andlise da influéncia da tecnologia sobre as organizagdes, Empresta,além disso, a James D. ‘Thompson (1957) sua texonomiadas formas onganizacionais Ele ndo é 0 inieo a mobilizr esse tipo de tabalhos. Outros socidlogos precederam-no nessa via (cf. Shinn, 1980). ara Whitley, a ciéneia se distingue de outras profissdes ‘na medida em que cla consitui uma onganisagio de controle reputacional do trabalho: na eiénela, a coordenagdo do tra bualho e sus organizagio fazem-seatravésdo controle doaces: 0 8 eputagao que permanece como 0 mado de retribuigto central reencontra-se aqui de certo modo, aidéia decapi- tal cientifico de Bourdieu, As retribuigies financeiras mio _geram reputagio. Ao contrari,o fato deser dotado de certa notoriedade permite aceder aos créditos, aumentando assim ‘ua influgneia no ambito de eiroulos cada vex mais amplos. Areputagdo depend dos resultados da pesquisa, do interes sequeos parestém porelaeda pertinéncia quelheatribuem, ‘em Fangio de seus prépris trabalho, ee ee ‘Whitley earacteriza cada campo cientfieoa partirdo gran de interdependencia que liga os pesquisadores que nele se inaerevem e daquilo que ele chama a incerteza da tare, Asrelagdes de interdependéncia operam nos planos funcio- naleestratégico.O grande interdependéncia funcional pode ser definido como a medida na qual os pesquisadores utili- am os resultados, procedimentos e ii de poderconstruirenuncizdos que sejamconsiderados como pertinentese tes. Dito de outro modo, a interdependénci funcional aumenta quando se aumenta, por exemplo, pecializagio das tarefus, Quanto ao graude interdependénc! cstratégica, ele designa a medida na qual os pesquisadores so constrangidos a convencer seus colegas da pertinéncia e importancia dos problemas de quetratam. Asegundadimen- io remeted incertera da tarefaciemtfiea que Whitley define em termos tecnicos e estratégicns. © grau da incertezatée- nica da tarefa remete explicitamente a certasearacteristicas do trabalho cientifico: ambivaléncia dos resultados obtidos, leque de posibilidades metodologicas,platicidade eesta- bilidade dos fenmenos analisados ete. O grau de incertera cestratgiea da tarefadesigna aexisténcia de uma hierarquia ‘mais ou menos oficial de prioridades em matéria de escolha de objeto. de colegas a fim “Tory Shinn Pl Rae ‘rae de neice nial) ‘feu deineiensorngen et cereal ee ts Tpeetagen eke | eetioes comme vi Beek wieewlh 5 | eet hee fovcimgee Perea ecg, “Omoiko de opiate” de Mane ence saan gnosis por het nite Tend a ci Ie de nasi a profs por ene impel find ‘onrorecilser reno atcanbanes Axa Iretentment rena de ragrpmenta depen, tad tim proj ora temp termina. Hina men ‘eeprednore por mang dit pes corensgi gl wifi eric npedientn ean iis psc oe ‘ellen dt dr ber barcode kel ‘chet Misery, pc dene. emviae dr abjetnede Inmate deep de pending, 9), Gea ante Spat uaapelias aegis Poet — | carat | Cpatoptan ntwetne | yotinienbnimnte | pantie evn me haga penne nie ipa, este a in ete Cr Sedan pineal Can Po ‘Ao comparar essas duas dimensbes, eada uma delassub- dividida em duas subdimensdes, Whitley obtém uma tipolo siaaprior de dezesseistipos de estrutur. Hlereterdsete.que The parecem caractevizar disciplinas is quas ele faz corres ponder tipos de produgio especificas. Os nove restates ato dlescartados seja por sua marginalidade no plano histrico, ‘ja por sua improbabilidade no plano organizacional. sa abordagem fornece instrumentos que permitem dis~ tinguir diferentes campos cientifics, levando em conta 0 ardmetrohistérico eas diferengas entre os sistemas nacio- nais de ciéneia. Se virios estudos empiricos nao consegui- ram corraborar completamente as proposigbes de Whitley. iio é menos venlade que aeu modelo, que tem avantagem de ‘er simples, esti dotado de um valor heurisico certo. Seria ‘em divida mais pertinente reter apenas trés pardmetros: Incertera material e procedimental da tarefa, robuster € precisio da teoria, dimensio esratégica da pesquisa, Além disso, pode-se reeriminar o trabalho de Whitley por seu mutismo sobre a questio da aplicagio de seu modelo a ea- 808 particulars, 1.3 Osenstneunaos oe cma conrnownago: sc rnepio A anoanucen raesvensaasta 0 confronto das duas construgdes apresentadas acima permite extrair ensinamentos suscetiveis de constituir a axiomética de um programa de pesquisa. O primeiro desses ensinamentos é que o campo cientifi- 0 ganha ao ser coneehido como distinto de outros campos sociais. Com efeto, ele permanece um espago social no qual © controle do trabalho toma a forma de wm eontrole rep ‘acional. im segundo lugar, a eiéneia toma a forma de wma pletora de estruturas, de processos organizacionaise inte~ Tectuais. Contudo, enquanto Whitley afirmaa necessidadede tornara tarefa cientficaumadimenstoestrutuante dos.cam- ‘os, Bourdieu no poe a urgéncia deum desvo pela observa ‘odo trabalho cientifico, tomada em toda sia espessura Quando Whitley especifca seus tiposestruturais (vero qua Aro acima). ele coloca na frente nogées tis como aquelas de preditiilidade, de estabilidade ede visibilidade dos resl- tados ou ainda, as de limites do controle técnica, de pos Dilidade de coordenagio e de comparacio dos resultados. Encontramo-nos aqui bem no coragio da tarefa cientifiea, dd sua materiaidadee de sua instrumentalidade. Bourdieu, \desua parte nd retém sentoa ralizago final datarefs, que cle chama "tomada de posigio”. Contudo, os dois nto admi tema divisio cissica de tarefas entre a epistemologia € 8 4 sociologa, precisamente defendida pelos diferenciaciox tus. Sea recusa desta oposigio entre as abordagens intern lista (earacteristica da epistemologia) eenternalista (earac- explicitadaem Bourdieu do que fem Whitley, ela, defato, subjaeente ao modo pelo qua exte ‘ilkimo autor concetusliza 0s eamposcientificos,afirmando ‘8 nevessidade de levar em conta as caracterstieas préprias ‘to trabalho cienifico, A andise de um eampo cientifico nto pode, portanto, ser puramente externas, Em terceiro lugar, Bourdieu bem como Whitley ligam-se ‘A idéia de diseiplina, mas sto perfeitamente conseientes da plastiidade dos campos dsciplinares. Para Bourdieu, mes~ mo se as diseiplinas so dotadas de alguma estabilidade em rato desencarite institucionalizado ede suahistoricidade, ‘suas fromteiras permanecem como mativos de lua e esas Iutasafetam "o" eampo cientifico emseu conjunto. Ao.eseo- Ihertipfiear as estruturas sociointelectuais da atividade clentificaeaplicaressa grade deleitaraasdieiplina, Whitley ‘mostra bem que sua ralidade no ¢fitieiae que a disci nas sofrem profundssransformagoes, tantodo pontodevista social quanto intelectual, Enfim, tanto Bourdieu como Whitley esti, ao mesmo ‘tempo, conscientesdocariterfragmentado daciéneiae preo- ‘cupados em explicar sua unidade minimal. Bourdieu, como vimos,afiema a existéncia de prineipiosunificadores sobre ‘osplanosinstrumentale procedimental, mesmo que nso de senvolva em lugar algum ese intuigdo. Whitley est, também le, convencido da unidade de fundo da cigneia, que se deve, de um lado, a0 cariterreputacional do controle do trabalho ede outa lado, a fat de que a pesquisa ciemifica 6 inse paravel de uma “tensio essen explicita em Whitley entre novidadee tradicao,cooperagao competigto. Para serem reconhecidos, os pesquisadores teristic da sociologia)€ ‘referencia a Kuhn & \devem demarcar-se numa perspectiva concorrencial rian ‘doa novidale com todos 0s riseos que isso pode comporta, ‘mas devem, a0 mesmo tempo, cooperar com os coneoreen- tes eaceitarasregras do jogo. Bourdieu assim como Whitley exprimem, dessa forma, a recusa de uma concepes “iréni- ca” da cigneia como universo puro de intelectuis desinte- restados, Eases quatro pontos de vista constituem a coluna vertebral da abordagem transversalista, que tem como abje- tivo fundar uma vist realistae dindmica dos campos disei- plinares,tentando apreender, ao mesmo tempo, (suas namics internat © (@)aemergéncia de dindmiea transverse, mas que vi saigualnente (@)restiturasrelagdetdeimerpenctragioentreocampo cfentficoe o outros mlerocoumon social Existem atualmente pistas de trabalho concernente a cada um desses trés eixos, Convém agora dedicar-se a sua apresentaio 2.As piwiatcas trRADISCIPLENARES: A mmontzwit10d Ds "MICROCUETURAS” DE PPSQUISA Em 1997, ohistoriador da cléncia Peter Galison publica um volume de 900 piginas sobre a microfisiea do pés-guerra, inttulado Image and logic: material culture of microphysics, imagem eligica:eultra material da mieraisica) (Calison,, 1997) Esse ivroé importante por dois aspects. Ele mostra, ‘em primeiro lgar, que a8 disciplinas cientfieas conhecem uma forte diferenciagao interna. Em segundo gar. enquanto te sobre a heterogeneidade e a autonomia dessas enti~ 6 ‘dudes subdiseiplinares Calison constataos metos pelos quais ‘os peaquisadores ultrspassam as fronteras de sua eomuni~ dade de trabalho, Temos entdo sob os olhos um sistema que produz dominios cientfiens diferenciados de modo durével ‘cestavel, ao mesmo tempo em que produx também meca- nismas de comunicagae transversas. Trata-se,entio, deum primeiro exemplo de abordagem transversal Esse livro documenta de modo exaustivoaevolugio da - sia de particulas de 1945 a 1995, deserevendo primeiro as pesqquisas empreendidas por um conjunto de ganhadores do Premio Nobel, debrugando-se em seguida sobre ertas con. trovérsias e analisando, por fim, as relages entre conheci nento, recursos materiis ¢ dindmicas socials que se est bbelecem no curso do trabalho cientfico.Calison cama mais particularmente atengio sobre dois pontos. De um lado, a ‘pesquisa em fisicacaracteriza-se pela coexisténcia de duas “orientagdes prticas: primeira passa pela produgio de ima ‘gens destinadas a identifier equalificar os objets ou pro ‘estos fisicos segunda pass pelo racioeinioLgico apliea~ doa dados numéricos. A cémara de nuvens, onde € possivel visualizar a tajetorias de particulas da radiag2o ebsmica,& ‘um exemplo de abservagio haseada em imagem. O contador de cintilagdes que produ um flash a eada evento fisico ~ Jashes que sio precisamente contados ~ é um exemplo de bservagio baseada na Iigica. Essas duas abordagens cons- tituiram, durante decénios,abordagens separadase frequen: temente concorrentes, mas Calison mostra que teenalogias ‘woentes operumsua sintese. O detector mutifioaperfeigo do pelo Prémio Nobel de fisica de 1992. Georges Charpak, 6 wm belo exemplo deste tipo de teenologia (ef. Charpak. & Saudinos, 1994). Em um paano mais esseneial ainda, Galison mostra que cigncia Fisica nfo é simplesmente formada por dois locos * ry Sham Psa age socivintelectuais, um ligado & experimentagio e o outro & teoria, mas de trés; 2s dois procedentes, é conveniente aerescentar aquele da instrumentagio. Assim, 2fisieade par~ ‘iculasgiraem torno detrés microculturas relativamenteau~ ‘tonomas no plano cognitive e replicadas sobre si mesma, ‘A homogeneidade de cada uma dessas culturas liga-se a0 aprendizado.acerta unidade de experiénciase abjetivos, mas ‘tambémaofato de que ada uma elas e desenvolve no inte ‘or de instituigdes especificas que elas s20 também arti- culadas com um instrumental eoncetual e matemtieo par ticular Assim. durante uma parte da pesquisa experimental sobre a corrente neutra, conduzida na Universidade de Stanford no final dos anos 1960, no momento em que eles se pperguntaram o que poderia constituir uma medida precisae ‘corretado fendmeno, os praticantes da cultura experimental nao sabiam que os terios localizados a alguns quildmetros, ‘em Berkeley, tinham produzido por eles mesmos uma teoria| ‘queacabaria corroborando suas proprias conelusdes, Galison considers, de modo similar, que os portadores da eultara ins {rumental freqnentemente desenvolvem equipamentos de ‘modo quase autOnomo e, de modo algum, em resposta ama \demanda de experimentadores ou de tedricos, Ele acab sim, questionando a tese frequentemente defendida pelos ntidiferenciacionistas, segundo a qual 0 trabalho de expe- rimentadores ede tedricos insereve-se em wm cielo de au- to-aprovagio mitua,eujo objetivo menos fornecer uma, descrigio minuciosa do mundo fisco, que adquirir visibilt- dade influéncia (ef. Glison. 1997; Pickering, 1984). Em vista dessa diferenciagto interna da daciplina fisia, ‘como os praticantesdotados de culturas diferentes secomu- iicam entre sie para além das linhas de demareagto que os separam? Como fazem para convergir em diregto ao estabe- lecimento de resultados que transcenclem essa fronteiras? ey el ete ee et ara Galison, a respostaliga-se& exsténcia de uma Lingua ‘gem comum minima inteligivel pelos pratieantes que dese jam trocar informagies para lém de sua propria comunida- de, Galison assimila esse meio de comunicagio a um diaeto ceujo vorabulirio sintaxe rudimentares slo, entretanto, ‘compreensiveis, Ease dialeto € mobilizado no que Galison ‘hama de zonas de troca (trading zone). situadas fora dase: Feras eulturais da experimentagio, da teoria eda instrumen~ taglo, A comunicagio que se estabelece no ambito daszonas ‘de troca permite a troca de resultados experimentais ou de ‘conceitos, a realizagio do consenso ou, a0 contriro, 2 ex- preseio de um desaeordo em uma linguagem comum 2 t0- ‘dos. Sto essaszonas de troca que permitem que os pesquisa Adoresinformem-se sabre os trabalhos efetuados nos outros setores, por meia de um quadro conceal adaptado a suas propria atividades. Entretanto, Calison nao respond verdadeiramente & questo de saber o que acontece com os dialetos desenvolv dos nas zonas de toca, Parece que eles sio efémeros e que ‘io existem, em certos casos, mais que o tempo de levantar| um problema, para desaparecer em seguida. Em certasoea sides, quando o problemaa tratarésuficientemente amplo e ecundo, acontece que uma parte do dialeto produrido & importada pelos praticantes de uma microculturaetorna-se parte integrante dela. Em outros casos mais raros,odialeto torna-se alinguagem deuma nova microcultura e €objetode ‘um processo de insttucionalizaglo. Repentinamente,opro- ‘caso de diferenciagio se intensifiea ea nova mierocultura ‘em emergéncia pode entio dedicar-se temporariamente a0 desenvolvimento deum novo dialeto, nointerior deumazona ‘de troea (ef. Shinn & Joerges, 2003). 0 trabalho de Galison, 6, ainda assim, portador de elementos slides que permi- tem compreender como, a despeito de uma heterogencidade oy de cultura pr Ae estabildade Outros pensadores debrugaram-se mais paticularmen~ te mto sabre as processos de mudancas interna is diseipli~ 5,8 frontiras diseiplinares sto dotadas re as dinamieas diseiplinares que peneteam 0 ‘campo cientifio em seu conjunto (et. Shinn, 20008). 530s mrciwes nx movugio For DrFUsKo ms criNcIA: WOR UMA ‘visio REALISIA EHUSTORICA DAS DHNAAECAS HIECEFANARES A.ciéncia ea tecnologia assumiram, depois do século svat, € institueionais: o8 regimes je “diseiphnar”, “ulti”, “ransitrio™ ‘quatro formas intelectual cientfiooseté "transversal 3.10 mroneniscirinan Ahsiatéra ea sociologia da ciéneia€ da tecnologia foram amplamenteeseritas no contextodo regime dseiplinar, Inu rmeriveis monografias exploram as fases de naseimento, de desenvolvimento e,porvezes, de deelinio de diseiplinas, ais comoaastronomia, a quimiea.a ecologa, ageologia, acién- is isieas ou, ainda, a microbiologia ea biologia molecular (cf. Abir-Am, 1993: Edge & Mulkay, 1976: Gingras, 19915 Lemaine etal. 1976: Mullins, 1972; Nye, 1998: Rheinberger, 1997). O volume impressionante desse tipo de estudos & tal ‘pre ee snr dep ied ea {Sours set ret Shan Sh erp) queum observadordaciéncia desatento poderiaconeluir, de ‘modo errdneo, que a historia da ciéncia moderna ¢ essen cialmente aquela da diseiplinas cientificas, enquanto, na ‘ealidade,o8 quatro regimes operam e coexistem jh mais deum séeulo, Ha s6lidas raades que explicam essa inssténcia no regi- ime diseipinar. As diseiplinas so estruturadas em torno de Insttuigdes relativamente fois de identifica edotadas de estabilidade, As dieiplinas assim como a maior parte das ‘tras instituigoes, produzem e dexam importantes tragos cseritos que faeiitam sua anilise, As disciplinas cientificas estioenraizadas em laboratrios, departamentos universi rios,revistas,instancias nacionaise internacionals,congres~ 808 ¢conferéneias, procedimentos de certficag das com- peteneias, sistemas de retribuicao, reds formals eofciis, ‘Tambéin o mercado de difusiodiseiplnar revela-se fell ddeser notado, Emgrande medida, esse regime consomesas propria produgdes,essencialmente na forma deartigos sub ‘metidos& aprovagio dos pares. As bases de dados do Inst tute of Scientific Informosion (ISI), e mais parteularmente 0 Science Giation Inder (SCD), permitem medir quantitati- ‘vamente a produtividade de individuos. de laborat6rios, de departamentos wniversitarios ¢ das propria disiplin (Os indicadores dese tipo tornam facil a deteceao ea anslise de modelos de careira precisos ede eategoras diferencia- das de produgio cientifiea, O regime diseiplinar constituiu- seapartirda metade do séculoxvireatingiusua maturidade durante a primeira metade do séeulo xrx “ey Sh Plagne 3.20 acne ontrrine Os eixos de pesquisa e os mereados de difusto do regi- meutili eno xe Enquanto regime diseiplinarearacteriza-sepelaexisten- ia de sociedades cientifieas (endemic des Sciences, Said Frangaisede Physique, British Royal Soityete.),oregimeutii- ‘trio caracteriza-s pelaconstituigiodeassociagdesprofssio- nals que, em ertos paises eparacertas especialdades,comtro- Jam as entradas no seio das comunidades por meio dace tifeagio, Esse tipo deassoviag funciona como uma estrutura que estimula e regula as trocas os encontrus, Na Alemanha, por exemplo, o regime utilitirio era pereebido como de tal mado fraco em comparagio ao regime diseiplinar que, nos anos 1920, fi realizado um esforgo nacional de envergadura, fim de reforg-loeelevar-Ihe ostaus (ef Hoffmann, 1987). Esse regime é feito por uma populagio heterogenea, que inclut téenicos, engenheiros, especialistas, consultores € cientistasespecializados na aplicac2o do conhecimentoa umn problema téenico particular (ef. Auger. 2004). 08 modos de aprendizado em curso no regime utlitiro so diferentes da- ‘queles que caracterizam o regime diseiplinar. A formasto de pesquisadores do regime utilitivio pode ter ugar nas uni- versidades, mas ela se insereve, neste caso, antes nos depar- tamentos de engenharia. Com muita frequénca, ém esco- las de engenheiros que o aprendizado tem lugar (como nas arandes escola téenias na Franca), escolas que so institu- cionalmente separadas da universidade. Ao longo da forma~ ‘lo, faz-se menos apelo a teorias avancadas ou a matemsti- «as complexas que. estudos de caso, artculados. pritica de uma epistemologia da aproximagdo, apoiando-se sohte pre- ceidentes historieos ea apreciagio do rss iotomaram forma somentea partirdomeio do s¢- 0s praticantes do regime uilitirio et implicados em mampl lequede tvidadesodesenvolvimentoeaman tengo dinvengesdestinadasprodugio industrial ancon- ttolede qualidade, acalbragem de instrumentos de medids, 2 aplcago de padres ede normas metolgics de formas diferentes trabalho de engenharia, «desenvolvimento de havo produos ea colocagio em operago de pesquisa tc- nea fnalizadas. O objetivo dos pesquitadores do regime ltr € certamente publica, mas também produ pa tente. De imedito, sua descober nio prado, como no dominio pilic. Ox peaguisadores pen, com efeito, ser empregadosdirctamente na indis- {rion em empresas de consltoria de engenhara,Conta- riamente a una iia tena, muitos so igualmentefuncio- nios que tabalham em diviaGes téonica nos hospti, em tecrtéios que promovem desenvolvimento deinvengdes tu sinda,em ongnismospiblco de controle de qualidade Tigadonaoe dominio dawiagio, do tranapore daalimenta- clo ou da indntrafrmacetia Cf Auger 2004) ‘aem tanto no domi- $3.30 avcnermansroato _Apesar de sen sucesso, os estudos que tratam do regime Aisciplinar edo regime uilitrio silenciam sobre outros re- times de pesquisa, que sto também importantes. Hoje, uma parte imensa da ciéneia desenvolve-se fora das matrizes dis ciplinarewtiitiria, uma eiéneia que se desenvolve na peri feria das insituigdes estabelecdas. Muitas carreras, conhecimentos ouconstrucdes orem mum regime de produgio cognitivae tenia que nao ésis- tematicamente compativel om regime diseiplinarou ore- ime utlitirio, Basa forma de eigneia nto est liberada dos 6 cleitos da diferenciagio dos eixos de pesquisa edo mercado ide difusio institucional, mas estas dltimas sto geradas se~ sgundo modalidades complexa frequentementenegligeneia- das ou mal compreendidas ‘As oportunidades intelectuis,téenicas ¢ profssionai aparecem por vezesna periferiade campos diseiplinares clis- sicosculltaios. Nesse e380, por em operae3o uma pesqul ‘a ou farer uma carreiraexige dos praticantes que cles ara vessem provisoriamente as fronteiras de suas diseiplinas de pertencimento, para ir buscar téenicas, dados, eonceitos © cooperagao de colega situados no seio de dseiplinasviei~ ‘has ouem outras regides da pesquisa. Amaior partedo tem 1, a pesquisa de fontes cognitivas. materiais ou humanas suplementares envolve duasou, no mésximo, ts dieiplinas ‘0 movimento dos pratcantesinsereve-seemum modelo os cilatério deirevir. A tajetéra fea circunserita na duragio e ‘naamplitude do movimento. abe notarque. no regimetran~ sitério, o centro principal da identidade eda agi dos prati- cantes encontra-se, também aqui, nas diseiplinas, embora 0s individuos atravessem os campos disciplinaes. O regime transitério subsume dois tipos de trajetérias diferentes, mas ligadas. A vida e o trabalho de Lord Kelvin (6824-1927) sto emblematieasdo primeiro tipo. Norton Wise «Crosbie Smith aportaram informagies sobre o modo pela val Kelvin passou das iéncias fsieas (regime diseiplinas) & cengenaria (regime utilitario) e das engenharias i ciéncias Asics (et. Smith & Wise, 1989). Quando se abriam perspec tivas,o homem de eiéneia mudava de terrtiro. Entretanto, © itineririo de Kelvin era eircunserto. Além disso, seja do ponto de vista do historiador ou do profissional de cigneia,a ldentidade de Kelvin, assim como sua voeagio.ficaram liga das dseiplins, sto é,solidrias da fisicaclissiea, De outro lado, o regime transitério pode conduzir aparigao de uma nova subdiseiplin, ta como no eato da quimico-fisica, da bioquimica, da biofisca, da astrofisica e da geofisca. lista dss tipo de naseimento é longa e as subdisciplinas ficam profundamente enraizadas nas prticas cientifiea tansito- ras. Nos easoslembrados acimae em outros casos andlogos.. astajet6rias osilantes de praticantes resultam na fundacho de um novo eixo de pesquisa e de novos mercados de difu- io, a partir de uma conjungio de dois ou varios eampos es tabelecidos, As novas subdiseiplinas so produtos do regime transitério, Alm disso, ¢ comefeito possvel pensar fend meno dos pesquisadores empresérios ~ que nlo ¢ inédito, mas conhece uma renovagio de interesse atualmente, sob a influéneia conjugada de politieas de incentivo e de deman~ ‘das que se originam na indistria ~ como uma encarnagio particular do regime tranit6ro, pots se trata, também aqui de casos de mobilidade oscilante entre as oryanizagoes de vineulagdo assentada no campo académico easemprests (cf Lamy, 005: Lamy & Shinn, 2006). Afimde compreender esse regime de pesquisa esa rea lizagio intelectual e teniea, énevessério concentrar-se so bre os procedimentos de abertura ao didlogo esobre 0 movi~ rent. Aqui também, nesse regime, os movimentos © 08 proceilimentos de abertura no didlogo to estrtamente defi nid e regulados pelos referentesdiseiplinares. As demar~ cages institucionsiseasformasde divisiodo trabalho cien- tifieo permanecem de grande importancia, mesmo se 610 transcendidas de maneira especfica. Deve-se, portanto, f caratento mobilidade das earreira e&fluider do conheci mento; entretanto,o todo funciona em um eonjunto limita do erestrito de evordenadasinstituciona 3.4 Onsonartaanevennt regime transversal pode ser earacterizado por virios ‘rags: (6 Os pratcanes se concentram sobre ee da inst 1mentagie, mais do que sobre aquelas que regem 0 mundo natural. edesenvalvem uma instrumentagto generic, jos principiostéenicos~objetivados no instrumento-ronco— podem ser mobilizads por ocasito ds elaboragio de in trumentdestinadosuniversidade, Minds, oe gran desorganiemosde mensuraso ou, ainda, ao setor militar (@) 0s pesquisdores engajados no regime transversal operam em arenas “intersticiie’, Iso sigfica que sus Mlentidade nso et ligedaauma dieciplna ou aum empre= ‘ior particular. Els mudam constantement de inatitai- ‘esetodotador de um capital de relagaes com cients, alministradores ow engenbeiros, que trabalham em espe- clulldadese organizagiesmaito diferentes, (8) Alem dso, o praticantes do regime traneversal nto s-detem nas fronteirasnstitucionas cognitive Sua per- ranénela no interior de grupos esperialnados dir tem ‘po requerido pela importagso deine ede datos neces ‘ios elaboragao de novos utenllios: dura também 3 pesqusudoresde- ‘ejosos de utlliaa as tenologaegenérieas como sapro: rar dos prineiios fundament \deadapt-as to adequadamente quanto possivelasuss pro priasnecesidades tempo que for preciso par indie desta tecnologia im Povle-se citar, comoexemplodeteenologias genérica, 08 sistemas de conteoleautomatico, a ultracentrifuge, a espec troscopia por transformadas de Fourie, o laser ow ainda 0 6 microprocessador (cf. Joerges & Shinn, 2001). 0 detector ‘multfio,desenvolvido porG. Charpak,¢gualmenteumbelo ‘exemple de instrumento genérico, Todos esses s80 instr ‘mentos genéricos, no sentido de que constituem os eoncei- ‘to5-tronco a partir dos quais instrumentos diferentes, cor- respondentesa necessidades diferentes, vio se elaborados. Esses instrumentos podem ser apresentados como instan iagdes particulares de um mesmo conceito-tronco, objeti- ‘ado no instrumento genérico. eae Beams, penqutstdor téentco-nstrumental (Os prdutosde pesquisa de Jesse Beams (1898-1977) esa ‘arreira podem ser considerados como emblemstions da pesquisa no regimetranwersal. Nosanosig30,19401950, se desenvolvena ulacentrfuga moderna, 0 instrument ‘cohomemndo entra facilmente em qualquer moldeins- ‘tucionl, profisionsl ou intelectal Par mito tempo di- retor do departamento de eienlas fsieas da Universidade deVirgina,Beamsparticiponigualmentedaceiagso de due firmas,gervia de consultorem quatro ourascompanhins purtilpoudo Projeto Mantattan.tabslhou pars ox milita- fesduranteosanos 9401950 contribu pars numero «08 programas cienifico da National Science Foundation. Beams nao era nem universtirio, nem engenbiro, nem ‘empresrio, nem um eonsaloreistico, Sus liga mais forte coma Universidade de Virginia era ofein, impor ‘ante msitobem equipad,queeletnka ai instalado “Aacarreias da ultracentrifuge de sewcriador sto part [elas O instrumento erauma emanagio da texede dostors- Aoquecledefendenemigag.equecstavacentrad nosme- ‘anisms de rtaga rpida, Obrigado, sob as njungoes de seworientadoradetenvolver peequitassobrevelocidade Ae eventos de absorso quntica, Beams desenvolvea uma ‘Wenig ult rpida desinaaa eronometragem preci adapada a caso dentervaloe muito pequenos. Ea sete ent ocnud dew lend co qu one tila poy central sutone. Eman amplarent, inte esse de Beams elon pals tenes plane, t- ceuveis de encontrar demands em mips merida, ¢ ‘lo ointereme plo fendmenos do mundofiaio, que ets sbetenid no conjuno de sus peogunas Ente, ‘ss interest no fede Beam un engeneio ou um peciaistad nea, noseatid habitual do terme. Osprineinisnsteumentosdesemolidos por Beamssti- Iiavam trbinasaeionaas por ar eomprimido. Contd, seus desempenhoseram redusidos por fitores mesinicos ‘como atito doar Incialmente elemento avelocida- de, raga inteodugio deuma avorede rantmisstofex- ‘ve que permite oe ajustes do contro de gravidadee multi- pu ‘4 eapacidade de rotago. Depot, eoloeox 0 ‘corpo rotatrio no vaso, eliminand asim o atrito doar Mas on mecaniamnos da rvorecontiusvam alinitaro de por sempenho do instramento, Afi de resolver ete proble- sma, Beams emiprogoueletoims para fer graraeépela. at era eolocads em suspensto no vatio por meio de um servomeraniamo ligido ao cletrotmia,Oconjuntaconati- ‘uma vrsto completa da lracentrifiga, apaz de rota- ‘gheraveloidades inimaginaves i instrument tornoy-seum tenaiosmportantedapes- ‘quits biomiéiea sobre as bacteria 08 virus, etornou-se rapldament indigpensivel nos diagnintions etratamentos rmédicos. Beams imayinod, no final dos anos 1980, naira ‘menos que perma a separagio de astopos radiotivos les fora efetivamente tertados no Projeto Mantatan © tomnaram-xecomercia mente dveienosanoei950 ¢1960. Aultracentrifug de Beams serviuna pesquisa sobre pro- pila porestatoreatore fo iqualmenteuiiadaparapes- ‘isa em fisica¢engenhaia sobre a solider das eamadas finas, Una verso da ultacentrifugade Beams, xj veoci- dade de rotagi er superior tees milhdes de rotagdes por ‘send, fl utliads pels fsios pars mera press da 1. Um instrumento um pouo diferente permituaume ‘tara peecisiona medida daconstantegraitacinal Beans publicos shundantemente, por vezesem periédi- ‘os diciplinares, mas mais ainda em peribdcos sobre lnstrumentagt, tis como a Review o Seen ramen Uma enorme quantidade de seu exerts tomou forma de relatris siento no publieado. Fol co-autorde meia Aiziadepatentes Suns produgdeseserias dividiram-se,em ‘gal proporgio, entre a esferaspubleae privada, entre rigs e patentes de um lad (fer pblica), relatrios confidencaise consaltrias, de outro lado (esferaprivaa) Parslelamente essa publiagoes continuow a eonstruir instumentosdealeane onsiderivel, Beams atravessou inumerives fronteras, circulando dentro fora das intiaigbese ind de um empregedora ‘outro, Pertenceuaviriasonganzages, movimentose grupos detnterese. leno eranema- institucional, nemanti-ins- ‘itaconal mas muli-institaional, Ndo tinha wm abrigo ‘leo, nas sent e em cast em todos os gare. He ex- loro explravs asics da nsturecsobjeivadaseminstra- ‘mentos, Como opriprio Beams, asulkracentrifiaratraver- saram miltiplas roneiras. Elaseram instruments exvets Adensogerl quechegavama preenchertumsa multiplicidade de Fung _nto-universitiios. Um voeabuléro expeciico e uma ma- ‘deram lugar a artigos em varios periddicos neira de perocber os fendmenos desenvolversm-se em ‘conjungio como instramento de Beams, Foto iniciodaee- ferénciaamirabiogeavirus. 8 prsssodaluzed graviialo, “Te Shim 8 Pl apt 4 sparc de istopon «x camads atom ermon da | ‘elie de ato eds presto centrifg, A roan emerga enusnio nga font no seo de un equ de ammponcde fue que vio da niveriddee da eoguia 4 prado inane terpia mis, Ovoeabuliro eo ‘magni igndonaonsrament de Beams, propaarain-e om oda an diegses.Aabordagem de eams seu istramentor ontebuiram, aim, pr po ela ov mands tics, profisonaisenwiuco- epee Ainda que, sob varios aspectos, o regime transitério seja parecido a0 regime transversal, este dltimo representa um. modo distinto de producto cientifia. No regime transver- sal, o grau de lberdade e o campo de agto dos praticantes ‘sio malores que no regime transitéro, Sua eriagto remonta 4, pelo menos, um séeulo e meio, de inicio na Alemanha (ef, Shinn, 20012), depois, muito rapidamente, na Gra-Bretana, na Franga (ef. Shinn, 1993) e nos Estados Unidos (ef. Shinn, zooth). Em cada um desses paises, funcionow em paralelo ‘com os regimes disciplinar, utilitrioe transitério, Os qu tro regimes paderiam, de Tato, ser considerados como in \erdependentes e em relagao de enriquecimento reciproco, Se o regime transversal existe desde muito tempo ¢ se frequentemente se revelou importante para 0 desenvolvi- ‘mento do conheeimento cientifieo e da teenologia, por que entdo esté manifestamente ausente da paleta histriografi- «a? Por que os historiadores c/o socislogos negligenciaram. tanto sua existéncia? Uma parte da resposta a esta questio liga-se ao fato de que aqueles que contribuem parao regime ‘transversal sioalvos méveis Arelagio entre eases pratican- teseos empregadores, as dsciplinas eas prfissdes 6 fugu 0s teagos esritosnecessirios & documentagao de sua tr {eta so minguadose fragmentados, o que tornaa investi ‘eto socioldgicae historiea um pouco problemitica. Ess \ifiealdade éexacerbada pela multiplieagaoe extrema diver- sidade de meios de que dispoem os praticantes para divulgar ‘ua produgdo: publicagdescientificas eonvencionais, paten- tes, relatérios confidencias, exposig&es, comercializagio.ou até mesmo definiglo de padraes metrologicos, Para os s0- cidlogos,cujas investigagoes estdo ancoradas na deteegio & anilise de instituigies estiveise de divisses claras do tra- ‘alo intelectual e material as tansagdes de praticantes do regime transversal revelam-se dificeis de detectare anal sar. Da mesina maneira, para os analistas que consideram a ciéncia ea teenologia como uma “tecnoviéneia”e que igno- amas gradagdesnadiferenciagao enas formas dedivisio do trabalho cientifieo, essa especificidades sutise as etrutu sasregulares da pesquisa tenieo- instrumental dos pratican- tes do regime transversal permanecem também amplamen: tenio determinadas. ‘A substincia eas operagdes cientifiea do regime trans- versal aio particularmente interessantes para a sociologia da cidneia na medida em que revelam certs lacunas ¢ contra

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