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PREFACIO. Giceli Portola Um dia, em fevereiro de 2006, fuia Fundagio Vilanova Artigasem Sio Paulo; aparentemente nao havia ninguém. Na porta, apenas um nome ‘ normografado: “Vilanova Artigas”. Enquanto o lia, escutei: “Entre aqui, 0 Julinko ja vem”, Para minha surpzesa, era mesmo o Paulo, Pat- Jo Mendes da Rocha, icone da arquitetura brasileira, vizinho de porta de Julio Artigas! Quando da inauguragio da Casa Vilanova Artigas, ele esteve em Curitiba meu convite, efalamossobrea possibilidade de ele fazeruma exposicdo de seus trabalhos la “Exposisao? Nao sei se gosto da idéia, com 0 que voces trabalham aqui?” “Bem, fazemos exposigdes, cursos ¢ muitas outras coisas. Agora, or exemplo, estamos dando umn curso de maquetes para estudantes,” “Ah, entio podemos fazer um curso?” “Seria 6timo, mas que curso?” “De maquetes, ¢ claro! Eles no gostam disso?” “E voce faz suas proprias maquetes?!” “Claro que sim!” Esaimos andando pelo escritorio, ele me mostrando maquetes em ‘madeira balsa, a gaveta com as amostras de materiais, muitas represen- tages em escala de suas obras. “Voce iria a Curitiba ministrar um curso de maquetes?” “Bem, 656 ageridar. “Que tal primeito de abril” Exeminou um calendirio, consultou dona Dulcingiaee fechou: “Sem problema, estarei li.” EPaulo chegou mesmo, pontualmente, ’s nove horas do ssbado marcado. Fomos tomar um café e, no caminho, ele ia comentando: “Aquele edificio ali é muito feio! Feio mesmo, nao precisaria existir, unio acredito em beleza tola!” Nesse momento, nio podia deixar de me considerar uma aluna pri- vilegiada; pensava em suas obras e concordava plenamente. Quando enfim chegamos 2 Casa Vilanova Artigas, Paulo se emo- cionou 20 ver o grande cartaz que fizemos com seu nome, apenas um justo tributo, Ele entrou e conversou com os alunos que o aguardavam arquitetos, professores, professores dos meus professores...-damesma maneira como havia conversado comigo minutos atris, Falou de seus projetos durante horas, e de como pensava as maquetes. Construiu al- guns modelos junto com os alunos, com inacreditivel habilidade. ‘A aula foi magistral, densa, com historias e historinhas de proje- tos, cidades, pessoas, navegacdes pelos mares da meméria... Mais do que com um mito, foi um dia de convivio com um mestre em arqui- tetura, A maquete feita por ele transformou-se em testemunho, um documento de como pensar arquitetura, essa boa arquitetura tio rara atualmente... Na semana seguinte, leio nos jomnais que Paulo Mendes da Rocha havia sido agraciado com o Prémio Pritzker. Pego imediatamente o telefone para cumprimenté-lo “Nem sei como tive coragem de te convidar para vir aqui lidar com madeirinhas e papéist” Ele respondeu coma simplicidade dos verdadeiramente grandes: “Bu ja sabia do prémio... mas jé estava comprometido, né? Vin ‘como este maquetista nao ¢ pouca coisa?!” Sem palavras... Muito obrigada, em nome de todos nés, Mestre Paulo! [0 curso/oficina de maquetes fi realizado na Casa Vilanova Artigas/Insttuto G Arqui- ‘tetura em? de abril de 2008 ¢ coorderado por CiceliPortlae pelos professores Luiz Fernanda Costa e Leon Coste) APRESENTAGAO Catherine Otond eMorina Grinover Existe um momento magico no processo de elaboragio de um projeto de arquitetura:aquele em que os arquitetos tém que transformar os primeiros rabiscos em algo palpavel, que possa ser olhado a distincia, sob outro angu- Jo,afim deaferira validade dos principiosadotadosmum primeiro impulso Tra- zerpara dentrodo ambito da universidade esse programa tao importante muito interessante, Construir esses museus, e pensar que poderiamos com isso atrair a populagio da cidade, para pouco a pouco ver aquilo se transformar na propria cidade; agora, tem até metré chegando perto. Entdo, pensamos em fazer o seguinte: existe um recinto muito bo- nito Id na universidade, que 6 um parque, uma praca central com tre- zentos metros de frente. E, no caso, éuma frente inexorsvel, porque da para uma avenida, logo depois vem a marginal do rio Pinheiros, depois © préprio rio Pinheiros, a linha Sorocabana de trem (na qual pouco a pouco estio fazendo paradas, com passagens para entrada na universi- dade) ea marginal no outro sentido. Além disso, apés a avenida,a praga tem na frente um canal attificial de quatro quilémetros de comprimen- to, a raia olimpica. S6 que como ela esta na varzea do rio, no rés-do- chao, nao se vé essa paisagem. amos concentrar os trés museus Pensei na hip6tese seguinte: zum iinico recinto, que pode ter um grande auditério comum, cafe- terias e coisas assim, A principio a universidade nao tinha pensado desse modo; agrupar os museus foi uma decisio de projeto. Por enquanto, nio existe maquete, nio hi nada ainda, é pura men- te, como se eu fosse escritor, poeta! No tem nada que ficar rabiscando, porque ew ainda nio sei o que fazer. Estou levantando 0 que me patecem ser as justas questdes que pre- cisariam ser resolvidas. £ nessa medida que voc8 as levanta para transfor é-las em problemas. Nés resolvemos problemas, entio esti feito. 13 Paulo Varzolin (9924). formad em madicina fio primeiro diretor do Museu de Zool Bia da use em 1963 € responsivel pela formacio das grandes colegbes da insitugSo, Pa ralelamence, 6 cansiderado um dos maiores composiores de cangdes de musica popular, a9 ade de Adoni Barbosa, Que problemas? Esses museus tém uma particularidade muito atraente: sio museus de pesquisa, portanto freqiientados por profes- sores ¢ cientistas. A convivéncia do piblico com esses cientistas, voce pode imaginar 0 que é: nio pode ser feita assim estabanadamente~tem (que se arranjar urna limpidez para o trabalho cotidiano; nenhum cien- tista iria aceitar que de repente entrasse um grupo para olhar sua sala. ‘Tem que se arranjar uma espacialidade, uma museologia adequada para que ele possa exibir 0s resultados de sua pesquisa, ¢ permitir que ou- tas pessoas desfrutem desse trabalho. Ah, que problema interessante! Baraia olimpica, éa praca, 60 convivio harméi cientistas! Eu pensei o seguinte: poderia fazer um espaco elevado, Essa é a atte empfrica do saber: 0 vieduto do Ché (1892), em Sio Paulo, é um espaco elevado, ee liga 0s dois lados do vale do Anhangabati, tem o pré- dio da Light (1930) deum lado, o Edificio Matarazzo (1940) no outro, 0 Edificio Conde Prates (1909), que sio assim: ha uma entrada no nivel do viaduto e uma safda do mesmo prédio em outro nivel, 1a embaixo, no vale. Como no Edificio Martinelli (1929): vocé toma o elevador pela ua Sio Bento e, quando sai do prédio, pode descer na rua Libero Ba- dard. Ou seja, 0 edificio jé se acomoda a certa geomorfologia que 6 topografia da prépria cidade. Jé se configura dessa maneira, estava lie ninguém percebia essa virtude tio grande! entre o paiblico e os, No nosso caso, imaginei que um espaco elevado poderia ser 0 s2~ guo comum dos trés museus. Cada museu tinha um programa bem ‘especifico, uma parte comum, de visitagdo piblica, que variava entre 3 mil e 4 mil metros quadrados, enquanto o programa todo do museu variava entre 15 mil e 20 mil mettos quadrados. Dessa maneira, achei que poderia verticalizar 0s museus, fazendo um grande vestibuloaéreo comuma todos os edificios, que ficariam encostados de tal modo que o pablico sempre entrasse por esse mesmo andar nos trés prédios. ee Epercebi logo de cara que isso podia ser feito muito bem, pelo tama~ rho da coisa, essas trés torres de 45 por 45 metros, porque éuma estrutu- ra quejé posso dominar. Tudo isso voce tem que ver, senso nio sabe que papelzinho cortar. Depois vai fazer o primeiro ensaio volumétrico, mas, antes de chegar nossa maquetinha, ter que prever tudo isso. Percebi o seguinte: em geral a carga de museu é de quinhentos qui- Jos por metros quadrados, laje armada nos dois sentidos (voc® apren- de tudo isso por experiéncia). Posso fazer uma laje de até quinze por quinze metros, chamar um calculista, conversar: se eu tenho 45 por 45, se puser quatro pilares ¢ usar 0 perimetro de forma estrutural, pode dar certo porque nio vou fazer um muse de cristal, para depois ficar pondo cortina. & um museu fechado, pode-se iluminar depois e fazer 10 jogo cénico que quiser. Nos laboratérios é bom climatizar e s6 num Tugar ou noutro colocar uma janelinha, para no ficar muito tristonho. Mas sio musens cegos. Posso fazer uma estrutura assim ortogonal, em que a parede seja tao abundante em estruturas que posso colocar 0 apoio que eu quiser. Os apoios sio esses quatro pilates com essas qua~ tro vigas. E 0s vios serio de quinze por quinze metros, dando uma laje em torno de 45 por 45 metros, podendo chegar até cingiienta por cin- aqiienta metros. ‘Agora jé tenho uma volumetria para fazer o museu. Pata ligar 05. ‘més volumes, 0 saguo comum seria entio aéreo, como uma rua ele- vada, que nio é museu. Vou fazer uma nua cristalina, para ver enfin a saia olimpica e a linha férrea do outro lado; com isso ela sai do cho e associo os trés museus! Finalmente, posso comegar a falar do meu primeiro ensaio para ‘ver o que isso representa em termos de volume, o quanto pode ficar bonito no sentido legitimo da expressio. Pode ficar belissimo! Ficar atraente por dentro e por fora! Comecei pensando por dentro; no € 56 uma questio do dentro/fora, mas nio pode ficar um trambolho por [eroquietoeduratea ala fora, Entio, a rua estaria elevada, no sentido da virtude do elevado, nao disse quao alto ainda, mas basta que eu comece a ver o rio. E seria inte- ressante que, de qualquer maneira, houvesse mais museu embaixo do que em cima. Esses museus ficam de um lado ¢ de outro da rua elevada; entro no museu e naturalmente, como a rua esté solta dos volumes principais, entro por uma pequena passagem que parece um pescocinho, para des- colar do edificio. E fica bonito com a parede pintada, que sera vista por quem passarna rua Com dois andares de 1.600 metros quadrados mais ou menos, faso todaa parte do museu para o piiblico. E.o que liga tudo isso é um siste- ma de elevadores, alguns privativos e outros de uso piblico. O eleva- dor é muito eficiente porque permite que voc® atravesse uma érea sem ofendera outra. E avirtude da maquina! Seeu sou publico e entro nese andar, que é duplo, pode ficar muito elegante nao fazer aje inteira de forma que se veja um pé-direito duplo. ‘Vamos dimensionar essa rua: a praca tem entio a raia na frente e duas ruas laterais, Portanto, basta nio fazer a rua na largura toda da ‘praca, para ter um alargamento das ruas laterais de chegada, e eu subo rho museu como quiser: pode ser por um clevador lento para oitenta passageiros, como o Elevador Laverda, na Bahia; ou uma escada rolan- te, que eu nfo acho uma maquina muito simpstica, ela liga e desliga, porece coisa de transportar laranja, prefiro um ascensor grande, com ascensorista, como se fosse um bonde e s6 com duas paradas: no chao eléemcima Entio, a entrada dos museus se faz. por essa rua, muito elegante. Isso quer dizer quea rua ndo tem nada de monétono, porque essadrea € 0 saguio de cada um dos volumes. Depois, na diregio dos outros museus, eu prolongo a rua para fazer o grande audit6rio. Nenhum desses volumes pode tocar 0 outro. Eles devem ser autonomos, liga- dos por estruturas delicadas, evidentemente cobertas, como peque- nas pontes E qual o comprimento ideal dessa rua? Nao sei ainda. Agora vocé faz uso de novo da meméria: o tamanho das coisas. O tamanho do viaduto do Chi, 0 tamanho de um quarteirso (cem metros)... racio- Ginio do arquiteto nao é tio extraordinario como se pensa & primei- 1a vista, Nés somos assim, no é uma coisa excepcional. Bom, voce Jembra do MASP (1957), ele tem um quarteirdo (cem metros), mais © parque Trianon (dois quarteirées), parece proporcional, é bom. A rua So Bento tem uns oito metros de largura, vamos fazer essa com doze metros porqut ela nao pode ser uma rua monétona, havers bal- «Ges com computadores para informacées, venda de coisas, tudo isso é muito alegre. Mesmo assim ainda é mon6tono voc® visitar s6 esses museus. Hi dois momentos muito interessantes pata o piblico. O primeiro & su- Dida pela torre cega com o elevador, que passa nos andares-tipo, no de- pésito dos acervos (como na Zoologia, onde estio as gavetinhas com os insetos, besouros da babilonia etc), e chega 20 topo do edificio. Ah, vou contar o que um professor meu amigo, muito gentil, me mostrou; é uma coisa incrivel, um museu desses, de Zoologia, por exemplo, Fomos Ié na area dos insetos ¢ ele abriu uma gavetinha, € tinha milhares de mosquinhas verdes com etiqueta, todas mortas, ai cle disse: Esta bandeja esta emprestada para nds, da Colémbia, para a gente ver. Assim, vocé vai juntando essas imagens e fazendo percursos na sua cabeca: a rua, oelevador, a entrada no volume do museu, onde tem ‘pé-direito duplo, onde é climatizado, e vai se convencendo de que nto podia ser de outro jeito, Nesse momento aparecem as virtudes da solu- lo que voc’ esté adotando. O elevador, nesse caso, possibilita momen- tos extraordindrios, com a parada na cobertura. Veja que coisa linda: vvoc® quiser, vai até o topo, onde pode haver espeticulos ou exposigdes a céw aberto, e nesse momento vé o outro que subiu na cobertura do Museu de Etnologia e se surpreende, como quem pergunta: Como € que vocé foi parar ai? Uma nova paisagem! Sio tr8s pracas autdnomas no alto. Em Sio Paulo, isso éraro, é um lugar onde se v8 o pico do Jara~ ‘gud deuma maneira muito bonita, inclusive, Isso é uma maravilha para a Universidade de Sao Paulo. ‘O segundo momento é 0 espaco de uma grande praca muito bem arborizada, porque falta o local de tomar um café, de conversar, uma cantina, um jardim. Entio aparece o seguinte inconveniente (inclusi- ve, de certo ponto, até aborninavel, como se diz): agora eu vou cercar ‘omuseu para néo ficar devassado. Nao, em vez disso, eu posso fazer © seguinte no chéo que era um jardim (a praca hoje é enorme, tem ‘mais de quinhentos metros de comprimento): nao quero descer até o chao, porque vai me levara esses problemas de configurarcom clareza ‘caprisionar (até certo ponto) esse espago que pertence agora aos trés museus de modo diferente. Isso ndo seria bom. Entio eu levanto 0 chdo a uma altura de aproximadamente um metro e oitenta e consigo com isso fazer embaixo desse museu uma laje, aonde o elevador che- ga, uma dea que nio preciso fechar. Essa parte de baixo sai para fora a projesdo do edificio, com jeito de jardim, e entra na érea do outro -museu, de tal sorte que eu posso fazer um jardim, verdadeiramente dito, que esti la embaixo, o territério. Um jardim que funcione com ‘uma escala conveniente para as pessoas. Assim, o arvoredo vem li de baixo, o que pode ser muito agradwel, para as mesinhas de café, para tudo, Numa outra situag9o, os guaiambés,"* essa verdura fantistica, invadem esses espagos embaixo dos museus, convivendo com esses 14. Gusiambé,arbusto da familia das ardceas, seu nome betinico & Philodendron bipinnat= Fidum, famosa planta orramental de flhas majestosas com diversas fendas euros [eroquisetos duranea aula] on locais de sociabilidade, cuja safda para a rua se dé somente pelo ele- vador, por dentro dos museus. De repente, isso aqui esta embaixo de ‘uma grande construgdo, que 6 tem pilarzinho IS longe, voce entra e sai por entre essas estruturas que eu fiz em forma de arabesco. O pré- prio piso nio chega 20 chio. & tudo um grande jardim. Burle Marx,"* se voces quiserem. Depois se chama um calculista para definir 0 ramanho dos pilares e das vigas conforme a norma brasileira. N3o sou eu que quero, Vocé tem que respeitar a norma, respeitar a historia, respeitara cultura, res- peitar o comportamento da tua gente. Com o pré-dimensionamento, para ver s¢ fica bem, vocé pode fazer uma maquete, No projeto da praca do Patriarca (1992) foi assim. Queria fazeruma coisa transparente, no encher de pilar o meio da praca, eal comecama aparecer as virtudes daquilo que voc® esté pensando. Eu jé desconfiava antes quais seriam os problemas de se construir na praca do Patriarca. Sabia que nao teria iberdade nenhuma. Sabe por qué? Se fizer qualquer fandagio ou furo naquele piso, vai sair gis para todos os lados, o tele~ fone vai parar na cidade inteira isso porque Séo Paulo nio tem nem registro das galerias de rede de agua pluvial, gis, telefone. Teria que encontrar um jeito que evitasse toda sorte de problemas com o sub- solo, Neste caso chamei de cara um calculista, o Fernando (filho do Ju- lio Stucehi, engenheiro do Clube Paulistano), que ficou entusiasmado com idéia. Antes de calcular, fizemos uma aproximagéo do peso que aestrutura metilica teria. Daria oitenta toneladas, nio itia passar disso. Portanto séo quarenta toneladas em cada “pata”, o que nio é muito, e 15 Roberto Burle Marx (1908-994), paisagist e artista de rnitiplas ares, imprimiu em sus projetososideais modernists vinculados As descobertas formals das vanguardas da primeira metade do séc. xx Incentivoua pesquisa sobre a fauna nacional ¢eiou uma das rmalorescolegbes de expéciesnativs, assim nao precisa fundagio; é um radier,"6 como uma raquete, aquela que vocé poe no pé para andar na neve, Voc® faz de dois por dois me- ‘ros com 25 centimetros de profundidade, ¢ esté feito. Nao tem estaca, €posso colocar onde eu quiser: Entio, eu jé comecei a raciocinar como quem fiz a maquetinha, © comecei a passear com aquela estrutura pela praca. Um pouco mais para lé, um pouco mais para cd, Se bem que, como a cobertura tem que proteger quem sai da escada rolante, eu no poderia passear muito, Eum modelinho facil de fazer: duas folhinhas de papel, para ver como se trabalha com aquela forma de asa, faz 0 arco e pronto. ‘Vocé faz em cinco minutos uma maquete ~ para vocé, no mostra para ninguém~evéaquilo jé comas dimensdes que calculistadeu, Para vvoc® dormir em paz, para voc® dizer: ah, isso vai dar certo, vai ficarbom! Pie na proporgio, faz um bonequinho de papel, poe uma porquinha em- baixo para ficar em pé, do tamanho da escétua do Patriarca. Ai voc@ abaixa —ninguém esti te vendo ~, sozinho, e otha... Como um poeta, toma mais tum trago, fama mais um cigarro, vai najanela, arranca os cabelos. Nio é para ninguém ver, Depois vocé olha de novo e diz: éisso mesmo! E isso a tal maquetinha. Nao tem que aprender a fazer, vocé faz com o que esti dispontvel, com duas madeirinhas, um papelzinho, Por qué? Porque vocé faz amadeirinha do tamanho dacoisa, pée os pilates... Exses pilares da primeira maquete que eu fi, foi assim: coreei a altura do pilar no papel com gilete, depois cortei varios pedagos de qualquer tamanho, enrolei na mao, passei uma cola prit, fiz. um tubinho de pa- pel, um, dois, tds, vinte metros de balango, para ver como ficaa coisa, quer dizer, eu ja sabia que ficava bem. Mas serviu para ver 0 quo boni- to aquilo fica, entende? E dessa maquete que estamos falando. Aquela para ninguém ver, feta em solidio. 16 Ral tpo de funda rasa que funciona como ume le continua de caneretaamado, ee ‘Com isso jf posso apresentar o projeto paraa USP. Vocé pode foto- srafar, © que também gera um resultado muito bom e nio fica parecen- do bobagem de arquiteto. Nao € 0 resultado de um delirio de alguém que se pés a cortar papel, isso j& é um anteprojeto: lajes de quinze por quinze metros armadas nos dois sentidos, quinhentos quilos por me- tro quadrado, parede estrutural, fechamentos e acessos. ‘Uma coisa que eu no disse, por ser um pouco formalista, mas vou dizer mesmo assim: ld pelas tantas, vi que era indispensivel (como autor da ideia, empregaria qualquer artificio para que desse certo) que essas trés pracas da cobertura estivessem na mesma cota. Isso ¢ ficil Porque posso aumentar 0 pé-direito de alguns ambientes; talvez no Museu de Ciencias possa fazer um salio de dez metros para pendu- rat coisas enormes. Para garantir que nenhuma fique mais baixa que a outra, as trés arrasadas sob o mesmo horizonte. Todas vero 0 mesmo p6r-do-sol, nenhuma fica com a sombra da outra e as pessoas podem. se ver de longe. O audit6rio é muito bonito e muito simples, porque ele term uma arquibancada montada no cho ea entrada se faz pela rua elevada, mas a arquibancada nio se apéia nela. A cobertura 6 uma placa de concreto curva ea estrucura do auditério propriamente é metilica, com poucos pilates e vidro. O foyer esté no nivel da rua, e lé no fim esté ocafezinho, onde se entra lateralmente, ¢ ele se amplia em diregdo ao jardim. 0 jar- dim embaixo cruza as vezes sob a rua elevada, de modo que vocé nao tenha uma rua sobre a outra; ela esti sobre o capim. Fiz esses dois prédios quadrados, e no edificio do Museu de Cién-

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