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Sumario déste nimero EDITORIAL: Seccio Brasileira do Instituto Pan-Amerieano de Geografia e Historia — Eng. CHRISTOVAM LEITE DE CASTRO (pég. 869) COMENTARIO: Localizagio da Nova Capital: Clima e Capital — Prof, EVERARDO BACKHEUSER (pég. 871). TRANSCRICOES: Geologia ¢ Recursos Minerais do Meio-Norte (I) — GLYCON DE PAIVA © JOS# MIRANDA (pag. 873) — © Tamanho das Propriedades Rurais mo Brasil (I) — T. LYNN SMITH (pag. 885). RESENHA E OPINIOES: Hiléia Amazénica (pég. 894) — 0 Sistema de Plantagées Tropicais (pég. 896) — Areas Alimentares no Brasil (pag. 900) — Povoamento (pég. 905) Limites Inter-Estaduais © © Conselho Nacional de Geogratia (pig. 909). CONTRIBUICAO AO ENSINO: Sugestées didéticas em t6rno de um liv: logia Brasileira — 2.9 vol. — Profs, séres (IN) pég. 915). : Introducio & Antropo- L#A QUINTIERE (pig. 911) — Cadastro de Profes- NOTICIARIO: CAPITAL FEDERAL — Cimara dos, Deputados (pig. 918). — Presidéncia, da epiblica (pg. $20). — Conselho Nacional do Petréleo (pix. 920). — Instituto Bra- ileiro de Geogratin © Estatistien — Consetho Nacional de Geografia (pég. $20). — minis- tério da Acronduticn (pig. 921). — Ministério da Agricultura (pég. 922). — Ministérlo da Guerra (pig. 922). — Ministérlo da Sustica © Negécios Interiores (pix. 922). térlo das Relacdes Exteriores (pég. 923). — Ministério da Viacio © Obras Pal 923), — Profeitura do Distrito Federal (pag. 924). — Secedo Brasileira do Instituto Pan- Americano de Geografia © Historia (pég. 924), — INSTITUIGOES PARTICULARES — Academin Brasileira de Ciéncias (péz, 929). — Associacio dos Gedgratos Brasileiros (pég. $29). — Sociedade Brasileira de Geografin (pég. 929). —CERTAMES — I Reuniio Bra- sileira de Ciéncia do Solo (pég. $30). — I Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, ¢ Arquitetura (pég. 991). — IV Congresso de Hist6ria Nacional (pég. $31), — UNIDADES FEDERADAS — Bahia (pig. 924). — Parana (pig. 924). — Sio Paulo (pég. 935). — MUNICIPIOS — Floriandpolis ‘Santa Catarina) (pag. ‘936). — EXTERIOR — Argentina (pég, 996), — Estados Unidos (pég. 996). — RELATORIOS DE INSTITUICORS GEOGRA- FICAS E CI@NCIAS AFINS — Instituto Histérico e Geogritico Brasileiro (pag. 937). BIBLIOGRAFIA: REGISTOS E COMENTARIOS BIBLIOGRAFICOS — Livros (pig. 941). — CONTRIBUICAO BIBLIOGRAFICA ESPECIALIZADA: — The Geographical Review — Indice, por autor, dos trabalhos publicados nos volumes I a V (pig. 944). — RETROSPECTO GEOGRAFICO EH CARTOGRAFICO — Revista do Instituto Hist6rico e Geogritico Brasi- leiro — Indice, por autor, dos trabalhos publicados nos volumes 90 a 185 (pig. 946). LEIS E RESOLUCOES: LEGISLACAO FEDERAL — Ementirlo de leis e decretos publicados no periodo de 11 de julho » 10 de agosto de 197 (pig. 948). — fntegra da legislacio de interésse geogratico — Leis: — (pag. 956). — Decrotos (pag.~958). — LEGISLAGAO ESTADUAL — Integra dos decretos e demais atos de interésse geogrifico — Bahia (pig. 961). — Santa Catarina (pég. 961). — RESOLUCOES DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA — Conselho Nacional de Geogratia — Diretério Central — Imtegra das Resolucdes ns. 282 a 290 (pag. 962) Boletim Geogratico Ano V | NOVEMBRO DE 1947 | N° 56 Editorial Seccao Brasileira do Instituto Pan-Americano de Geografia e Historia No dia 17 de outubro de 1947, realizou-se nesta capital a instalacéo solene da Seccéo Brasileira do Instituto Pan-Americano de Geografia e Histéria, instituida, por determinagéo do Govérno brasileiro pelo Conselho Nacional de Geografia, com a Resolucéo n° 3 de setembro de 1947, de acérdo com os Estatutos da instituicéo par-americana. A solenidade foi efetivada no salao de conferéncias do Palécio Itargrati, estando presentes representantes diplométicos dos paises americanos que foram convidados pelo embaixador José Carlos de Macedo Soares, presidente do Instituto Pan-Americano de Geogratia e Historia. De acérdo com as disposigées regulamentares, sio membros natos da Seccao Brasileira os técnicos nomeados pelo Presidente da Reptiblica, em decretos de 18 de agésto de 1947, para representantes do Brasil nas Comissées Cientificas do Instituto Pan-Americano, a saber: professor Alirio Hugueney de Matos, para a Comisséo de Cartografia; engenheiro Christovam Leite de Castro, para a Comisséo de Geofratia; e Dr. Virgilio Correia Filho, pata a Comisséo de Histéria. Est previsto na citada Resolugao que outros técnicos, especializados em assuntos relacionados com as atividades cientificas do Instituto Pan-Americano, fagam parte da Seccao Brasileira com a evidente preocupacdo de dar-Ihe a indispensdvel plenitude de acao. A misséo da Seccao Brasileira é, em tltima anélise, servir de éréao de ligagéo entre o Instituto Pan-Americano e 0 pais, encarregando-se junto a direcéo do Instituto dos assuntos de interésse dos servicos especializados brasileiros e dos seus técnicos e promovendo no pais a realizacao dos estudos e trabalhos que constituam a participacéo brasileira nos empreendimentos e campanhas do Instituto. A ceriménia do Itamarati significa os excepcionais auspicios com que se instalou a Seccéo Brasileira do Instituto Pan-Americano de Geogratia e Historia. 870 BOLETIM GEOGRAFICO Basta citar duas presencas que so dois simbolos: a do embaixador Raul Fernandes, chanceler do Brasil, e a do embaixador José Carlos de Macedo Soares, presidente do Instituto Pan-Americano de Geogratia e Histéria. A presidéncia brasileira do Instituto reflete bem o prestigio de que desfruta 0 Brasil no meio americano da cultura geogrética e histérica, e a escotha do embaixador Macedo Soares veio, indubitavelmente, dar excepcional relévo ao importante instituto cientitico pan-americario junto aos Governos dos paises americanos. A presenca do chanceler Raul Fernandes, a presidir uma ceriménia na tradicional Casa de Rio Branco, com a solidariedade do Corpo Diplomatico americano, espelhou o transcendente significado do elevado apréco em que o Govérno brasileiro tem as iniciativas do ativo e fecundo Instituto Pan-Americano de Geografia e Histéria, cuja obra cultural se inscraye legitimamente no melhor esférco para o verdadeiro pan-americanismo. Rio, outubro de 1947. CHRISTOVAM LEITE DE CasTRO Secretério-Geral do Conselho Nacional de Geogratia Comentario Localizagio da Nova Capital: Clima e Capital Prof, EverarDo BACKHEUSER Consultor-Téenico do C.N.G. A um exame menos meditado do assunto nfo se vé porque as condicdes climaticas hao de influir na escolha da localizacao da capital dos paises do tipo do Brasil. Parece, de fato, que o requisito primordial para essa localizagéo deva ser a situacio de equidistancia dos pontos extremos do Pais, de sorte a tornar de facil acesso para todos os habitantes, mesmo das zonas mais afastadas, o centro de gravidade da Nagio. Esta ultima condicéo é realmente importantissima, aeaso a mais valiosa e decisiva mas nao é a unica. Outras ha.a serem pesadas devidamente no momento da decisdo de transferir para outro local a capital até entdo instalada em ponto que entre a parecer menos conveniente aos inte- résses gerais. A transferéncia acarreta enormes gastos e convém, portanto, proceder meticulosamente, sem pressa (que é inimiga da perfeicao), de sorte a chegar a uma solugéo que se possa dar por definitiva e na qual nao se tenha ninguém, depois, de arrepender. Considerado assim o problema, ter-se-4, sem diivida, de levar em conta condicées climaticas. Em paises que néo gozam de salubridade generalizada, a questao assume entao importancia de relevo. Cumpre ter em vista que uma capital é ponto de forcada visita e muitas vézes mesmo de prolongada residéncia, nao s6 de nacionais como de estrangeiros, pelo menos os diplomatas que por forea de suas funcdes se devem alojar junto ao Govérno da Nacao. Sé excepcio- nalmente Ihes sera licito residir fora da capital. Se a capital estiver localizada em clima insalubre ou excessivamente quente, sofrerio muito todos quantos @ procurem por necessidade funcional ou por’ motivo de terem de tratar de questdes junto aos poderes federais. A grita no fim de certo tempo se tornaria volumosa e o mal-estar, sendo geral, acabaria refletindo-se ria necessidade de uma nova mudanca. Ora, mudar de’ capital nfo é trocar de roupa e nao sera coisa que se possa andar a fazer em cada século. Muda-se uma capital com enormes sacrificios. Cumpre, pois, leva-la para local definitivo. Insistimos neste ponto porque ha quem ‘julgue dever ser a proxima mudanca apenas “em carater provisorio”. Além da consideragdo acima, ha outra que leva a exigir bom clima — ou pelo menos clima razoavel — para uma capital. E’ que a boa ou ma fama de salubridade de um pais vem daquela que possua a sua capital. O Rio de Janeiro, mau grado 0s seus encantos naturais, foi, como todos sabem, assolado durante muitos anos por epidemias de febre amarela e de variola. Ficou com horrivel renome no estrangeiro. Todos os navios temiam se aproximar'dos dois portos mais importantes do Brasil — Rio e Santos. Com isso perdeu muito 9 Brasil, pois nao era apenas désses dois portos que se guardava na Europa e Argentina (ao tempo tinhamos poucas relagées diretas com os Estados Unidos) a lembranca da insalubridade. Ha muita gente que julga a Franca por Paris ¢ Portugal por Lisboa. Se Paris e Lisboa sio de boa aparéncia e limpeza, também se entende que o resto do pais goze das mesmas carketeristicas. Ainda mais. A capital de um pais é ponto de natural atencdo, senfio para as atividades econémicas, seguramente para as lides intelectuais de todos os provincianos. A emigracio para a capital, seja ou nao o Rio de Janeiro, sera sempre vultosa, na mesma ordem de grandeza em que é para todas as demais 2 BOLETIM GHOGRAFICO capitais do mundo. O exemplo de Belo Horizonte é elucidativo. O “Curral del Rei” em poucos lustros se transformou em cidade de populacao avantajada. Mais uma condi¢ao, pois, para precisar a capital de clima favordvel. Bem andou, portanto, a Comisséo de Localizacao da Nova Capital em inscrever entre as condigoes de preferéncia essencial para o novo grande centro urbano brasileiro regiao de clima ameno. Delimitou para isso na area total do possivel Planalto Central umas tantas partes, em cota superior a 700 metros, para sO dentro dessas fazer estudos particulares. Com essa delimitacdo prévia poupou trabalhos inuteis em uma porcdo de zonas que ficariam seguramente afastadas de cogitacées ulteriores por n&o se mostrarem dignas climaticamente. Perguntar-se-4 porque fol escolhidg a cota de 700 metros para tracar a Unha diviséria entre o que é conveniente e aquilo que o nao 6. Isso se explica porque a diferencial altimétrica é das mais faceis de fixar em uma carta e corresponde com razoavel aproximacao a uma curva de temperatura aceitavel em qualquer latitude dentre aquelas em que estado os planaltos do centro do Pais. Téda essa nossa regiao interior goza, por outro lado, de secura do ar, pois que afastada das proximidades do mar e das massas de 4gua da Amazonia. © critério de 700 metros de altitude evidencia-se, assim, suficiente para uma primeira aproximacao. E foi, creio eu, nesse carater de “primeira aproximacdo”, que estao os estudos dos ilustres componentes daquele selecionado grupo de téenicos. Quando a decisdio final houver de ser tomada, apareceriio a lume condigées mais rigorosas. BHI Envic os itvros de sua autoria, ou os que se encontrem em duplicata em seu poder, a Biblioteca Central do Conselho Nacional de Geogratia, para malor beneficio da eultara geogrifica do Brasil, Transcrigées Geologia e Recursos Minerais do Meio Norte * I Boletim do Ministério da Agricultura gletins do Minieterio, oo esas Guycon pe Parva e Jost Mrnanpa Diretorla de Hstatistica da Produgio 1 — INTRODUGAO Em 1932, os Drs. Eusébio de Oliveira e Gérson Alvim, do Servico Geol6gico do Brasil, fizeram uma excursdo ao Piaui, e tiveram ocasiio de averiguar do acérto da’ analise de Small sébre a possibilidade de agua subterranea no Estado, @ qual juntaram observag6es anotadas de passagem: — “Com esta base de observacces ficou resolvido fazer-se algumas sondagens para verificacdo de 4gua subterrinea de cardter artesiano em varios pontos do Estado. B atendendo & posigéio de Teresina, quer no ponto de vista geoldgico, quer das facilidades de transporte da sonda, consérto e aquisic¢éo de material, foi essa cidade escolhida para a primeira sondagem, que foi localizada em terreno da municipalidade. Esta sondagem nos forneceria também dados valiosissimos sébre a estratigrafia regional e ocorréncia de outros recursos minerais. O fim precipuo da perfuragio era, porém, provar a existéncia ou nao de 4gua artesiana”. (Anais da Academia t. VIn© 3.30 — 1934 — E, Oliveira). Em abril de 1933, 0 engenheiro Abel Paulo de Oliveira montava a sonda junto a “Usina” (Estagao de bombas de elevacio da agua do Parnaiba para uso doméstico na cidade), entregando-a em bom funcionamento, 4 profundidade de 18 metros, a um dos autores déste boletim (Miranda), porque, em virtude da criacdo do Servico do Fomento da Produgdo Mineral (S.F.P.M.) por esta alcada transitavam os estudos de pesquisa e prospeccéo. Nao Ihe competindo a pesquisa de agua subterranea, antes pertinente ao Servico de Aguas (D.N.P.M.) e a Inspetoria Federal de Obras contra as Sécas, o S.F.P.M. prosseguiu, entretanto, com a sondagem, em obediéncia a uma politica de nfo estorvar as perfuragGes entéo em marcha, antes do seu término natural, salvo razdo de forca maior. Varios lengdis d’4gua foram encontrados com _artesianismo apenas aprecidvel, ratificando ai, plenamente, as previsoes de Small no seu trabalho de 1914: “apesar da estrutura das camadas desta série (Parnaiba-Piaui), constituida aon uma série de dobras muito leves, ha pouca esperanga de encontrar lengol artesiano”, “Mas embora no seja provavel a existéncia de lengol artesjano nesta regiao, & possivel construir ai (Série Parnaiba-Piaui) bons pocos em quase todos os lugares, sendo apenas necessario 0 emprégo da bomba para obter-se 4gua”. (Small — pags, 114-115 — Publicagdo 32). A partir da profundidade de 219,46 metros, entretanto, o encarregado da son- dagem reparou na presenca de abundantes restos vegetais fosseis, em geral carbonizados, abandonados detriticamente em massa de arenito_arcosiano, com abundantes sinais de estratificacéo diagonal, isto é, em situacdo francamente aléctone. Duas amostras foram enviadas ao Servigo Geolégico para diagnose e examinadas pelo Dr. Eusébio de Oliveira. + Em essénela, a regido que se estende do Piaui a Mato Grosso. N. da R. — As ilustragdes que acompanham o presente estudo serdo reunidas na terceira € ‘iltima parte a ser publicada no numero §8 déste Boletim, referente ao més de janeiro de 1948. a4 BOLETIM GEOGRAFICO Trata-se de exemplares da familia Sphenoteridae que atinge a maxima importancia na época vestfaliana. Foram admitidas afinidades com os tipos seguintes: — Palmopteris furcata, Brgt, do vestfaliano da Franga e Alemanha, sindénimo de Sph. affinis L e H., do carbonifero da Escécia. Referiu-se ainda ao seu encontro em Ilinois (U.S.A.); na flora de Paracas no Peru, e Titicaca na Bolivia, sendo como segue, rematada a comunicagao a Academia de Ciéncias: “De tudo isto é licito concluir que existem no Estado do Piaui camadas representativas do Culm ou do vestfaliano do continente Norte, onde se acham os grandes e valiosos depdsitos de carvao de pedra do mundo, e que novos horizontes se acham abertos as pesquisas de carvao de pedra'no Norte do rasil”. © fortuito achado proporcionado pela sonda, mudou de pronto o fim pre- eipuo da perfuragao. Continuou-se a sordar; @, da flora fdssil carbonizada, foi reparado derradetro vestigio & profundidade de 333,62 metros: — isto é, ad longo de 114 metros encontravam-se ininterrupta e irregularmente restos aléc- tones, carbonizados, de uma flora fdssil. A sonda, inferiormente, interessou folhelhos sapropeléides, até que 4 profundidade de 602,68 metros perfurou uma camada de arenito arcosiano claro, de 0,47 metros de poténcia, com despojos vegetais fdsseis diferentes dos sobrepostos. — Sem mais ocorréncia similar, transpuseram-se folhelhos fétidos e arenitos claros até esgotar a capacidade da maquina a 565,80 metros. Assim, pois, em presenca de abundantes detritos carbonizados de uma flora féssil de Sphenoterideos vestfalianos, da mesma paleoflora que em outras partes do mundo, largamente contribuiu ‘para _construir os principais depositos de carvao mineral atualmente em lavra, o S.F.P.M. encontra-se frente a frente ao imperativo de estudar e avaliar o ‘péso desta descoberta; de discutir e expe- rimentar a possibilidade da existéncia de maiores acumulacoes de detritos vege- tais prevalecendo sObre os de origem mineral; ou melhor que isso, a subsisténcia in situ dos solos que suportaram as florestas carboniferas; uns e outros capazes de serem hoje traduzidos em jazidas de carvao mineral de menor ou maior valor. De'mais, uma cuidadosa pesquisa de fésseis efetuada pelos autores, conduziu & descoberta de uma escassa fauna com Spirifer opimus, Hall; Edmondia sp. e Orbiculoidea sp. nos red-beds que.cobrem 0 horizonte com a flora vestfaliana, isto ¢, nos estratos inferiores da série Piaui de Small ou Parnaiba de Arrojado isboa. Com a terminacdo da sondagem 125 e sob o imperative de pesquisar carvio, que inesperadamente foi denunciado, esta se tentando uma_reconstituicho paleogeografica capaz de apoiar a locacao de novas perfuracées cujos fins precipuos passarao a ser agora a pesquisa do combustivel mineral. e nao mais provar o comportamento artesiano de len¢éis profundos. Os elementos desta reconstituicéo séo de um lado os decorrentes das con- clusées a que até agora chegaram os gedlogos que reconheceram 0 Meio-Nort € de outro, os inferidos dos novos estudos sobre o material faunistico, floristico e litoldgico, conseguido no poco 125, ainda em maos de especialistas. Os resul- tados até agora colhidos com éstes wltimos estudos sio de tal ordem que, na longa historia das investigacées geologicas do Meio Norte, impde-se divisio marcante: — o periodo de estudos que antecede a sondagem 125 e o que se Ihe segue. Dai a necessidade do presente balanco nos conhecimentos relativos ao pri- meiro periodo para encerré-lo, selecionando as conclusdes que possam vir em socorro da reconstituicdo referida. Este boletim nao é outra cousa que um resumo do realizado até agora por observacées de geologia da: superficie, em cérca de 100 anos de estudos muito esparsos e descontinuos. Nao foi_possivel tazé-lo completo porque téda literatura existente nao é accessivel. Foi antes o que péde ser feito com as obras encontradas em nossas bibliotecas piiblicas..O objetivo do trabalho é um s6: pér ao alcance dos pros- pectores de carvao o que se sabe da geologia da regido que investigam. O mérito do trabalho, se éle tem algum, é evitar-Ihes fadigas e perdas de tempo em buscas bibliograficas. TRANSCRICOES 875 A guisa de sum4rio de conclusdes, é opinido nossa que, dos trabalhos estu- dados, pareceram-nos essenciais os de Arrojado Lisboa e Small, publicados ambos em 1934, Outra nao 6, alias, a opiniao de Branner. Lisboa tentou uma estratigrafia dos terrenos do Meio Norte pelo lado do Maranhiio, ao passo que Small féz a mesma cousa pelo Estado do Piaui. — Em grande parte versaram og mesmos terrenos, chamando-os respectivamente Série Parnaiba e Série Piaui. A correlagado dos esforgos de ambos, indispensdvel para evitar confusGes futuras, foi feita em paginas seguintes. Qualquer destas duas tentativas de estratigrafia precisa de revisio, porque no caso de Lisboa, trata-se de uma seceao geoldgica tnica de Pastos Bons a Grota de Mendes, no rio Parnaiba; e no caso de Small, embora referindo-se a todo o Estado do Piaui, a correlagdo estratigrafica foi antes felta na base de um critério fisiografico, que mesmo no Ambito dos critérios classicos da litologia e da paleontologia. E indispensavel revé-las cartografando préviamente alguns key beds ma- rinhos (caledreos e folhelhos), de preferéncia os mais delgados e extensos. ‘Um dos méritos do trabalho de Anténio Dias é justamente indicar varios déstes key beds. — Concisamente, a cartografia déstes horizontes marinhos deve ser a primeira tarefa a ser realizada pelos gedlogos no Meio Norte. No seu trabalho “Entre a Amazonia e o Sertéo” (Boletim do Museu Nacional, setembro de 1931) o professor Raimundo Lopes* procurando caracterizar a provincia floristica em que domina o babacu (Orbignya Martiana), isto ¢, a cognominada “Zona dos Cocais” reconheceu uma fitofisionomia propria aos terrenos que se estendem do Piaui a Rondénia (Mato Grosso) : “Entre a Amazonia e o Nordeste propriamente dito, estende-se vasto chapa- dao tabular de camadas horizontais. Aplicamos a essa’ regido o nome de “Meio Norte”, ja usado pela gente do Extremo Norte, para designar em geral as regides setenttionais aquém da Amazénia. O Nordeste é a mesma zona embora degra- dada, onde o antigo chapadao foi corroido até & ossatura cristalina. Dai a caatinga e o clima desértico em plena zona sub-equatorial. Enquanto isto o chapadao centro-setentrional apresenta o clima do tipo sudanés de De Martonne e a vegetacio com savanas e -florestas-galerias normais nessas latitudes. Anexar 0 Maranhio e 0 Piaui ao Nordeste é anti-cientifico; os territérios déstes dois Estados tém mais afinidades com Goids e Mato Grosso, tornando impres- cindivel considerar os grandes cocais quase homogénios, desde o Piaui até a Rondénia como zona botanica diversa da Amaz6nia, das caatingas e dos campos cerrados que a envolvem”. : “E’ uma zona especial, por motivo da enorme abundancia de babacu (400 milhdes de pés s6 no Piaui) em matas quase puras ou sub-homoéclitas”. ._Suspeitamos que a raziio essencial da permanéncia especial de uma provincia botanica téo bem definida, prende-se ao fato do fundamento geologico desta feieao vegetal ser um mesmo territério sedimentério, nado metamérfico, hori- zontal, de fraco run-off, rico de rochas, reservatérios, guardando em seu seio tremenda massa d’agua doce, periddicamente refeita por seis meses de chuvas. © subsolo passa a ser uma espécie de lago de compensacao, garantindo, automa- ticamente, a perenidade dos cursos d’agua regionais e ininterrupta vitalidade as plantas. Nesta ordem de idéias é curioso notar que um autor tenha imaginado construiy artificialmente no Nordeste as condigses naturais reinantes no Meio forte .* ‘ Em suma, & provincia botanica “Zona dos Cocais” corresponde quase orto- gonalmente uma provincia geolégica: “Bacia sedimentaria do Meio Norte”. ste motivo essencial e o amor & brevidade fizeram-nos adotar a feliz expresso lancada por Raimundo Lopes. 2 In A. J. Sampalo, Fitogeografia do Brasil. — Reproduziu-se em esséncia 0 pensamento dos autores citades, tanto quanto possivel com as palavras por éles empregadas. 3 Busébio de Oliveira — “Barragens submersfvels no Nordeste”. — Conferéncia realizada na Escola Politéenica do Rio de Janciro, em maio, 1935. 876 BOLETIM GHOGRAFICO © presente trabalho foi dividido em trés partes: I — Introdugio e Bibliografia. II — Resumo ¢ Comentario das Obras Consultadas. II — Drenagem — Recursos Minerais — Bacia Sedimentaria do Meio Norte. Na segunda parte estudou-se, em primeiro lugar, a sérié Parnaiba-Piaul, assunto tratado pela maioria dos autores, e, em segundo, da chamada série Serra Grande, apenas reconhecida por Small e Williams. Bibliografia geolégica do Meio Norte As fontes para o estudo da fisiografia, geologia geral e paleontologia do Estado do Piaui e Maranhao constam da lista’a seguir. Algumas obras mencio- nadas, j4 0 dissemos, nao nos foram accessiveis por um motivo ou outro. Estudamos todavia, com interésse, os trabalhos que Branner julga importantes: — 0s de Lisboa e Small, ambos de 1914. Tentamos, de alguns, em geral para os periodos anteriores ao cretéceo, um ensaio sindtico abrangendo o pensamento de seus autores sobre as formacdes Por éles estudadas, procurando salientar, de preferéncia, os tracos caracteristicos e diferenciais realmente capazes de identifica-las ao campo. Conjecturamos, desta maneira, mais uma vez insistimos, ter poupado fadigas aqueles investi- gadores futuros da geologia local, principalmente os téenicos do S.F.P.M. em Prospeccao na regio, aos quais seja util a condensacao, em um sé volume, dos conhecimentos fundamentais até agora evidenciados sdbre o subsolo do Meio Norte. Dispondo os apanhados conforme a cronologia do seu aparecimento, pode-se acompanhar a maior ou menor vitalidade dos conceitos, nascidos das Observacées feitas por pesquisadores diversos em époeas varias. Com éste processo de exposigao qualificam-se as observacoes de cada um, certifica-se de sua permanéncia nos tempos subseqientes, averiguando sua influéncia sobre os autores ulteriores. Bibliografia I — 1827 — Brongniart, Adolphe: — “Notice sur le psaronius brasiliensis”. Bult. de la Société Botanique de France, XIX, 3 — 10 em 8° Paris 1827. Nota. II — 1828 — Spix und Martius: — Reise in Brasilien, volume II pags. 770-809 — Munic. 40 — ¢ Geographischer Anhang. TIT — 1835 — Marcos Macedo: — Terreno Carbonifero do Crato. Iv — 1840 — George Gardner: — On the Geology and Fossil Fishes of North Brazil. Report of the British Association for Advancement of Science for 1840. V — 1846 — George Gardner: — Travels in the Interior of Brazil, princi- pally through the northern and the gold and diamond districts, during the years 1836-1841-XVI — 562 pages London. 1846 (Piaui, pages 169-243). VI — 1850 — Franciscus Unger: — Historia Naturalis Palmarum. Autor C.P. Ph. de Martius, Lipsiae (1850) I — caput secundum. De palmis fossilibus, page LXX tab. geol. I, figura 4, uma palm. fossil Psaronius Brasiliensis Brongn, da Provincia of Piaui- VII — 1872 — Guilherme Dodt: — Relatério acérca da exploracéo do rio Parnaiba. Por ordem do Presidente da Provincia do Piaui pelo engenheiro Dr. Gustavo Luis Guilherme Dotd — 1871. VIL — 1876 — J. W. Wells: — Notes of a journey from the River St. Fran- cisco to the River Tocantins and to the City of Maranhaéo — Journal of the Royal Geographical Society, volume XLVI, pages 308-328, map., London 1876. IX — 1886 — J. W. Wells: — Exploring and traveling three thousand milles through Brazil from Rio de Janeiro to Maranhdo. Two volumes London 1886. X — 1891 — Solms Laubach, H. Grafen Zu: — Fossil botany, being an introduction to paleophytology. Translation by Henry E. F. Garnsey. Revised by I. B. Balfour. Oxford, 1891. Psaronius from Brazil, pages 170-171. XI — 1901 — Temple: — Report on the State of Maranhdo n.° 457. Miscella- neous Séries. Diplomatic and Consular Reports (British) Foreing Office, February, 1901. London. Printed for His Magesty’s Stationery office — 1901. Note on geology of Maranhio, 3; minerals, 8. TRANSCRICOES am ‘XII — 1904 — Solms-Laubach, H. Grafen Zu: — “Ueber die schicksale der als Psaronius Brasiliensis Beschriebenen fossilreste unserer museen”. (Fertschrift zur Feier des siebzigsten Geburtstages des Herrn Professor Ascherson) . Pgs. 18-26, em 8.° — Leipzig, 1904. ‘XIII — 1912 — Pelourde, F.: — “Observations sur le Psaronius brasiliensis”; Ann. Soc, Bot., 1912. ‘XIV — 1914 — Derby, O. A.: — “Crow structure of Psaronius brasiliensis”; Am. Journal of Science, 1914. XV — 1914 — Miguel Arrojado Lisboa: — “The Permian Geology of Northern Brazil” — 1914 — American Journal of Science. Volume 187 — Estudos de campo em 1909. XVI — 1914 — Horatio L. Small: — Geologia e suprimento de dgua subter- ranea no Cearé e parte do Piaui — Publicacéo 25 — Série I — D. Geologia — Inspetoria Federal de Obras contra as Sécas — 28 edicéo. Imprensa Inglésa 1923 — Rio. 19 edigéo junho de 1914. XVII — 1914 — Horatio L. Small: — Geologia e suprimento de dgua subter- ranea no Piaui e parte do Ceard. Publicagdo 32 — Série I — D. Geologia — Inspetoria Federal de Obras contra as Sécas — 28 edic&o. Imprensa Inglésa 1923. Rio. XVIII — Gerald A. Waring: — “Some features of the Geology of northeastern Brazil” — Annals of the Carnegie Museum — Vol. XIII, numbers 1 and 2, pags. 183-223. XIX — 1920 — John Casper Branner: — Resumo da geologia do Brasil para acompanhar 0 mapa geolégico do Brasil — Press of Judd & Detweiler, inc. Washington, D.C. 2 XX — 1922 — Antonio Dias: — O Sertéo Maranhense — Esbéco geol6gico, fislografico e social — Maranhao — Imprensa Oficial — 1922. ‘XXI — 1925 — Luis Filipe Gonzaga de Campos: — “Notas sdbre algumas localidades em que se encontram os fosseis tercidrios e cretéceos” — Anexo & Monografia n° IV do 8.G.M.B. XXII — 1925 — Luis Flores de Morais Régo: — Notas sdbre a geologia do Estado do Piaui — Tipografia do O Piaut — 1925, XXIII — 1925 — E. W. Shaw, W. H. Wright and Jas. L. Darnell Jr.: — “The mineral resources of Maranhao, Brazil” — Publicado em dezembro de 1925 no Economic Geology n.° 8, pags. 723-728. XXIV — 1926 — Horace E. Williams: — “Geologia e recursos minerais do norte do Ceara” — Boletim n.° 16 do 8.G.M.B. XXV — 1930 — Luis Flores de Morais Régo: — “Notas sobre a geologia do Estado de Maranhao” — Separata do Boletim do Museu Nacional — 1930. XXVI — 1930 — Luis Flores de Morais Régo — Comparagéo entre o sistema de Santa Catarina e formagées do Maranhdo e Piaui — Nota apresentada em Julho de 1930 Academia de Ciéncias pelo Dr. Carneiro Filipe. XXVII — 1931 — Silvio Frois Abreu — Na Terra das Palmeiras — Editéres T. Leite & Cia, —- Rua Tobias Barreto, 12 — Rio de Janeiro — 1931. XXVIII — 1933 — Luis Flores de Morais Régo: — “As possibilidades da exis- téncia de carvao nos vales do Parnaiba e do Tocantins”, Publicado na Revista de Engenharia do Rio de Janeiro. XXIX — 1933 —‘Luis Flores de Morais Régo: — Notas geograficas e geold- gieas sdbre 0 tlo Tocantins ~ Boletim do Museu Goeldt — pag. 211 — Belém — Para. XXX — 1934 — Eusébio de Oliveira: — Ocorréncia de plantas carboniferas da flora cosmopolita no Estado do Piaui — Anais da Academia Brasileira de Ciéncias. T. VI, n° 3 — 30 de setembro de 1934. XXXI — 1934 — José Miranda: — “De Teresina a Nova Iorque (Maranhao) pelo vale do Parnaiba” — Relatério apresentado ao S.F.P.M. pelo assistente José Miranda. Inédito. 878 BOLETIM GEOGRAFICO 2. RESUMO E COMENTARIO DAS OBRAS CONSULTADAS Série Parnaiba — Piaut V. — George Gardner. — Travels in the Interior of Brazil, etc. Gardner, nesse seu trabalho trata, na parte relativa ao Piaui e Estados limi- trofes, especialmente de observag6es botanicas. Cita o encontro de um peixe f6ssil na serra do Araripe, no local Brejo Grande, dedicando um escrito especial @ essa ocorréncia. Essa obra 6 encontrada na Biblioteca Nacional, com a indicagéo do arquivo: III — 243, 3, 17. VII. — Guilherme Dodt. — 1871 — Generalidades sébre a geologia do Piaui. Transcrevemos na integra a opinido de Dodt sdbre a geologia da regiio que percorreu: “O cardter geol6gico de parte do vale do Parnaiba, que tive ocasiéo de ercorrer, corresponde, como nos parece, em toda parte, 4 formacéo da “pedra de areia vermelha superior( bunter sandstein; upper new red sandstone and red marie; nouveau gres rouge), que é a parte inferior da formacao tridssica. € naturalmente muito dificil fazer estudos geologicos em terrenos onde nao ha obras artificiais de qualidade alguma, que permitam ao dlho penetrar nas profundidades da terra, e onde tudo ha de limitar-se ao estudo dos rochedos que se acham a vista. Ainda maior torna-se a dificuldade, se se tem de consi- derar tais estudos como um fim muito subordinado, com que nao se deve gastar tempo, que j4 é assaz absorvido pelo fim principal, nao se podendo desta forma fazer mais do que coligir o que se apresenta espontaneamente. Por isso devia limitar-se a observar os caracteres principais que as diferentes serras apresentam, e felizmente sdo clas quase tédas talhadas a pique, de sorte que a vegetacao nao esconde suas camadas. Assim, vé-se logo que todas as serras isoladas, que demoram entre a serra principal e a margem do rio, repetem em ponto pequeno © cardter da serra principal. Tédas elas formam, em cima planicies mais ou menos extensas e nos lados despenhadeiros a pique, cuja estratificagio corres- ponde perfeitamente 4 da serra principal. Reconhece-se desta forma com téda a evidéncia que elas sio parte da chapada alta, denominada serra da Tabatinga, separadas dela pela acao das aguas antediluviarfas. Por entre elas estendem-se chapadas muito mais baixas, cujo terreno é formado dos materiais produzidos pela decomposigéo mecanica dos rochedos daquelas serras, e niveladas pela aio das Aguas, devendo-se também atribuir a esta, que o cimento argiloso que unia nos rochedos os graos de quartzo para formar a “pedra de areia", que era mais solivel, desapareceu ficando s6 uma areia muito fina de quartzo. Ainda atualmente se observa em ponto pequeno esta acgado da agua no leito do Parnaiba, cujas ribanceiras sao formadas de um barro vermelho muito arenoso, evidentemente o resultado da decomposic&o daqueles rochedos, enquanto as coroas que obstruem em muitos lugares o rio, e que se acham continuamente em movimento, sendo desman- chadas no lado de cima, e formando-se de novo no lado de baixo, até que sao Jevadas para o mar, enquanto estas coroas consistem de areia de quartzo pura: e muito fina, que se achava no barro, quando éste caiu no rio na ocasiao de serem atacadas as ribanceiras pelas enchentes. Todavia, nao quero negar que nao tenha também havido lugar a acdo de outras fércas que parecem ser indi- cadas pelas camadas de seixos, quase s6 de quartzo, que se encontram em alguns lugares, mas nao me parece necessario recorrer aos fendmenos do drift para explicd-las, porque se encontram no vale mesmo do Paryaiba, principalmente nas proximidades da vila de Paranagua, conglomerados de quartzo, cujo cimento é argiloso e portanto pouco resistente 4 acéo da atmosfera e da agua. As serras mesmas consistem em geral de uma “pedra de areia vermelha” com cimento argiloso e de pouca resisténcia que em muitas outras partes pode ser considerada como “argila xistosa” (Schiefer thon) e em outros adquire bastante dureza. Camadas subordinadas de argila de diferentes céres (tabatinga) apa- Tecem aqui e acola, e sendo a cér vermelha que predomina proveniente de peréxido de ferro, aparece éste As vézes puro (taud). Também se encontram em alguns lugares camadas de pedra calcdrea porém, eu mesmo nao tive ocasiao de examind-las, porque ficavam muito longe dé meu caminho; em certo lugar denominado “Sertio dos Caracéis”, nao muito TRANSCRICOES 819 distante das cabeceiras do Urucui ao Sao Félix, encontrei alguns fragmentos de porfiro, sem poder encontrar rochedos désse’ material, que sem divida se deve achar por ali, visto que as pedras nfo mostravam sinais de serem trans- portadas de longe, nao tendo os cantos arredondados. Tédas aquelas serras sio impregnadas de sal (cloreto de sédio), que em muitos lugares efloresce e é aproveitado de uma maneira muito ristica pelos habitantes. Sem divida, poder-se-iam tirar maiores vantagens de uma explo- racdo mais racional em terras para onde o transporte de sal é dificilimo. De petrefactos néo pude achar sendo um fragmento de calamites, planta propria, ainda que nao caracteristica da formacao indicada”. Conforme se vé a contribuicéo de Guilherme Dodt a geologia do Piaui é pequena. Sua sugestéio de aproximar os terrenos do vale do Parnaiba do triassico inferior (bunter sandstein), nao é totalmente destituida de méritos. O achado que diz ter realizado de uma artrofita comum no Pensilvaniano perde 0 atrativo pela falta de procedéncia e legitimidade da diagnose. VIII. — J. W. Wells — Notes of a journey from the river St. Francisco to the river Tocantins, etc. Wells nfo trata de observagées geoldgicas de grande interésse — faz refe- réncias, a ocorréncia de ouro perto de Carolina e rio Manuel Alves: “Perto da foz do rio Manuel Alves, poucas milhas ao sul da cidade de Caro- lina, uma cadeia de morros de fantasticos perfis, isolados ou agrupados, atravessa © vale do rio Tocantins: Sao um esporéo da grande cadeia diviséria dos rios Tocantins e Sao Francisco, que, depois da travessia daquele, prossegue na cadela de montanhas que constitui divisor de aguas do Tocantins e do Araguaia. Rela- tam que estas montanhas sao ricas em ouro. Varias amostras foram encontradas; nunca foram elas convenientemente trabalhadas ou lavradas, tratando-se de distritos em territério de indios”. : Mais adiante, cita as elevagdes que separam as vertentes do Grajai e Pindaré da do Tocantins, como terrenos ricos em ouro, cobre, tendo éste sido encontrado em grande quantidade, ainda nao explorado. Menciona que, nas proximidades da vila da Chapada, Maranhao, margem oriental do Grajat, o solo € formado de sedimentos argilosos, cobrindo estratos de rocha rica em cobre, que se estende por muitas milhas, de que viu o autor amostras de inte- résse. A distancia da Chapada a Carolina é avaliada em 188 milhas. A viagem de Wells foi feita de janeiro a junho de 1875. Encontra-se a obra na Biblioteca Nacional, com as seguintes indicacées do arquivo: ‘III — 97 — 1,11 a 99,1,13. X. — J. W. Wells — Exploring and traveling three thousand miles, etc. © autor descreve uma viagem que féz do Rio de Janeiro ao Maranhio, pas- sando por Minas, Bahia e norte de Golds, segundo o itinerario: Rio de Janeiro e Minas Gerais até o Carinhanha; dai pelo Sao Francisco até Barra Grande e pelo rio Grande (afluente do Sao Francisco) até Boqueirio (Bahia) ; prosseguiu por terra até Pérto Franco, sobe o rio do Soninho,. navegando por éste até o Tocantins, que desceu caminho de Carolina. Deste lugar viajou por terra até Sao Luis do Maranhio, escalando em Chapada e Grajau. So acidentalmente faz observagdes quanto 4 ocorréncia de determinadas rochas, sem grande interésse para a geologia sedimentaria do Meio Norte. Vem anexo ao seu relatério um mapa, com a ‘seguinte legenda: — South America — Physical Map of Brazil — A scetch indicating the surface configuration of the Country — by James W. Wells. M. Int. C. F.; com trés cores relativas a “grass & serub, arid sandy, savannas or moorlands”. Encontra-se um exemplar da obra na Biblioteca do Museu Nacional. XV. —M. Arrojado Lisboa — 1914 — The Permian Geology of Northern Brazil. ~" "Em 1909, 0 Dr. Lisboa foi encarregado, pelo Servico Geolégico, de um reco- nhecimento'no Meio Norte. Esta exploracao, disse o seu autor em conferéncia, tmha por fim “verificar a nao existéneia de Psaronius no Piaui e no Maranhao”. Enquanto viajava por parte déstes Estados, o seu assistente, Hans Baumann, per- corria o sul do Maranhao, e o norte de Goids, até Porto Nacional. O quadro, a seguir, é um sumario das conclusdes de Lisboa e evidencia as divisdes que esta- beleceu, pela primeira vez, na série que chamou Parnaiba, descrevendo-a sob a legenda. — “Upper Permian Parnaiba Series”, 980 BOLETIM GEOGRAFICO O reconhecimento permitiu-Ihe esbocar os limites da nova formagao: “Pelos dados do meu assistente, o Sr. Baumann, vimos que, com seguranca, € possivel estender os limites do Permiano do sul do Maranhao até Pérto Nacional, em Goids. No alto Parnaiba éstes sedimentos ocorrem nas cabeceiras do Balsas”. “Gragas aos estudos geolégicos do Dr. Roderic Crandall‘ (1908), ora podemos correlacionar com os terrenos do Parnaiba, a maior parte dos sedimentos do Piaui, entre Floriano e Picos”. “Os Drs. C. A. Waring e Manuel Arrojado Lisboa na sua excursio no noroeste, através da serra Grande, pelo vale do Poti abaixo, observaram perturbacdes nos sedimentos e a ocorréncia de rochas diabasicas. Supuseram por isto muito antes de terem conhecimento desta obra, que o leito do rio Poti era pré-cretaceo”. “Resulta que grande parte dos depésitos do Estado do Piaui pertence, com certeza, @ Série do Parnaiba, enquanto a area cretacea, considerada outrora como abrangendo quase todo o Estado, acha-se assim grandemente reduzida. “Muito provavelmente os sedimentos desta série, que se sabe se prolongam nas varzeas do Tocantins, estendem-se até a foz do Araguaia, e possivelmente abrangem os flancos das chapadas onde nascem os rios Gurupi e Guama”, SERIE PARNA{BA DO PERMIANO SUPERIOR (Apud Arrojado Lisboa) | Coracteres corer Ns | DENOMINAGKO Foesels Observagsee 5 | CAMADAS DE | Folbclhoscealeéreoscom | Cabeseimsdosaftueutes | Paaronius da Bstrada de | At Caiciras PASTOS BONS | " opals alternadamente | do Paruaita nascendo | Ferro de Catiae-Cajs- | Aurio Rew) t Ties. verde © chovoate av | ua cidade de Past | sees (7), tone imarks genuine : Sprang tm Paseo | Bos non. conformity. and ‘renito branco, Inust represent the t aledreo verde saperior| of Permian. ” fem dm. de especie (Caledno ts Gabgorrs, CCaicr),representando © tépo do permiano. 4| ARENITO, DE | Arenito cinzento ora | Fatrada de Riachio «| Pusronica do rio Bar- SAO. BARTO- |“ flivel, “ora lustro, | Pastos Bons, tolomen (0. LOMEU freqdentemente com ‘atificario crureda. Preseaga de silex cho: ‘ase colate Espessura visivel 50 : ‘metros, 3 | ARENITO VER. | Arenito vermetho oom | Grande detenvolvi- | Belosespéimes de Ps | Freqicatemente se ine MELHO DO |” manchas pirpurs. In- | mento ao nerte e sul | ronive da chupada do | Lercalam na, toposes JABUTL ‘teealagao de leitos'i- | da chapada doJabati, | Jabu'i; da aldela dos | do arenito Teton eabor, soltices mais eqmuns | a leste osste de Te: | rads entce os rios | dinadosde olhenoe are tna passagem superior. | resins. Manuel Alves em | noror chocolate £ 0 arenito das e Golds; da Fazenda Bu-| Num pogo em Floriano, carpes. “Bspessura vic liza, 12 Néguas do | ” 6 moveas déste folhelho Sivel em Amarante 150 Porto’ Nacional Ca- | repousam diretamente metros. ‘olin; rio das Balsa; | sGbre stenito Mendes. tldade do Livrameato, | -~"Interessado em Amma virzois do Tocantins, | rante por wm leagol de eo, diabisio, 2 | ARENITO DA | Branco e feidvel no topo | Da Grote do Mendes | Psuconivs e coniferas da GROTA DO | cinzento na bese, fntre Nove Torgue ¢ | Grota do Mendes. MENDES Floriano. pelo Pare sida abaito, talves loriano ou alm, 1 | FOLHELHOS | Folhelhos marnosos oét | 84 mezeionades na DAGROTA DO | "de cinza leit cal- | " Grote do Mendes for MENDES: eiteos eapeados por } mando o leito do fina camala de eon- | Parnaiba, slomerate, 4 ‘Trabalhos inéaitos. TRANSCRICOES 881 Além dos fésseis mencionados no quadro anexo, considera o Dr. Lisboa, acidentais & Série Parnaiba os troncos de Dicotiledéneos de: a) — Surubim — margem do Parnaiba, entre Grota do Mendes e Floriano; b) — Pedras — 34 quilémetros ao sul de Floriano; ¢) — Alagoas — 30 quilémetros ao sul de Amarante; a) — Amarante — arredores da cidade; e) — Lagoa — perto de Floriano. Ainda mais, Arrojado Lisboa manifesta a intengdo de incluir na Série Par- naiba a formacao betuminosa exposta em Cod6, Codézinho, Grajai, Mearim, Rio Sereno, Pogos e Chapada do Corda. E conclui: — O estudo dos’ folhelhos betuminosos do Inferno (Cod6) e um rapido reconhecimento entre Cod6, Caxias e Teresina, solucionarao facilmente éste importante problema da geologia do Maranhfo”, — (O da correlacdo das formacoes expostas nestes lugares e 0 da posigao estratigrafica dos horizontes bstuminosos). XVI, — H. L. Small — Rochas sedimentdrias do norte do Piaui — 1914. No segundo semestre de 1912 0 gedlogo Small estudou, pela primeira vez, superficialmente, uma parte do Piaui. O seu relatério foi escrito em 1913, ¢ Publicado no ano seguinte. O trabalho anterior do Dr. Lisboa, embora de 1909, “ainda nfo estava editado. Todavia, Small déle tinha conhecimento. O seu trajeto foi: — “Deixando o sul do Ceard, viajei de Campos Sales em direcdo norte a Cratetis, entrando no Piaui pelo caminho que passa pelo Bogueiréo do Poti. Fiz duas secedes através do Estado do Piaui, uma de Boqueirao do Poti, para leste, até Teresina, e outra de Teresina para nordeste, até Ipu (Ceard)”. Eis como Small narra o seu encontro com a Série Parnaiba: “A cérca de 30 quilémetros de Marvéo (Castelo) no ponto onde a estrada atravessa o rio Potl, encontra-se novamente mais uma formacdo que déste ponto, vai até ‘Teresina. Esta formagao, em diversos lugares do Piaui e Maranhéo, foi descrita pelo Dr. Miguel Arrojado Lisboa “(relatério nao publicado) e devido 4 sua existéncia caracteristica na chapada do Jabuti, no Maranhio, éle deu o nome de arenito do Jabuti, nome éste que sera adotado neste relatorio”. “Na regio, porém, onde encontrei esta Série (Parnaiba), somente vi a parte bem de cima, ‘isto é, no arenito do Jabuti. A divisio do Dr. Lisboa baseia-se na secedo entre Floriano (Piauf) e Nova Iorque (Maranhao) que fica muito mais para o sul, possivel que éle tenha incluido no seu arenito do Jabuti uma parte das camadas que procurei diferengar pelo nome de arenito de Campo Maior”. Como se vé, na sua rapida excursio ao Piaui (apenas o més de novembro de 1912), Small nao apresentou fatos novos para um esclarecimento mais perfeito da Série Parnaiba. Reconheceu, na formacao do Castelo a Teresina, que a maioria dos afloramentos pertencia ao'grupo Jabuti — de Lisboa, o que, essencialmente est certo. Entretanto, aos terrenos em térno da cidade Campo Maior, chamou-os “Arenito de Campo Maior”, colocando-os sobre 0 arenito do Jabuti. Ainda sobre a formacio Campo Maior dispée os sedimentos “Serra Grande” que considera duvidosamente cretéceos. Ver-se-, no seu ulterior trabalho, Publicagdo 32, como Small modifica radi- calmente estas primeiras concepeées, frutos de uma Viagem apressada, polarizado como estava a0 problema, primordial no momento, das estruturas favordveis ao armazenamento de agua subterrinea. Pode-se resumir a viagem de 1912, dizendo que Small nao trouxe contribuicdo nova & geologia do Piaui e que, ao contrario, sugeriu relagées nao verificadas posteriormente, e por éle mesmo abandonadas (Posig&o estratigrafica das formacées Campo Maior e Serra Grande). XVII. — Small — 1914 — Série do Piaut de arenitos e folhethos. De junho de 1913 a janeiro de 1914 Smali viaja_novamente pelo Norte, empregando a melhor parte do seu tempo em observacées no Piaui. Em junho de 1914, apresenta 0 seu trabalho constituindo a Publicagdo 32 da LF.O.CS. visando’ mais o ponto de vista econémico que o cientifico, — confessa o seu autor no prefacio. Desta feita Small percorre, s6 em terrenos sedimentarios, cérca de 2.000 quil6- metros a cavalo, e consegue, desta maneira, uma nocéo melhor firmada da litologia e dos aspectos fisiogrdficos sob os quais estao expostos os grupos que 882 BOLETIM GHOGRAFICO penosamente tenta individualizar na massa clastica da bacia do Parnaiba. E’ curloso notar, entretanto, que a publicacdo atual nao reflete influéncia alguma da obra anterior de Lisboa, sabido que em 1912 Small reconhecera no campo 0 grupo Jabuti (Lisboa). Chegou mesmo a criar o nome “Série Piaui de arenitos e folhelhos” para a maior poredo dos terrenos por éle examinados, esquecendo que invadia assim parte da coluna estratigrafica do seu antecessor. Discutiremos éste tema em capitulo posterior. “Esta série (Piaui) consiste de arenito caledreo intercalado e de folhelhos arenosos tendo algumas camadas muito finas de folhelhos caleéreos’. Nao vi esta série em téda a sua espessura em parte alguma do Estado, podendo-se apenas ver alguns pontos de espessura consideravel. Um déstes, e dos melhores, fica na serra Pedro II, de 800 metros sébre o nivel do mar até 0 nivel do vale do Parnaiba a 60 metros de altitude”, GRUPOS DA SERIE PIAUI (SMALL) Ne| DENOMINAGKO aracteres Ocoreéncia Fossais 3 | ARENITO VER- | Arenito, mole, vermelho, ocasio- | Ocupa menor drea que os membros | “Sigiaria det rnalmente com camadas de | infeiores, Forma a parte st | base da Chapada Batio fethethos fis e calelferoe. petior das zrandes servas: | do um pedago de aren 250 METROS | Estraificspio fal freqUente mas | Potro. If, Chapada Grande, | soda parte superior. ineonspious. Serra dos Caetanos, Serra do | de idude. carbonifera ou per~ Decompieae em solo espésso de | Bris, ele, Forma ‘penhasoas, | miana’ (Derby). area vermelha, ‘vearpas abruptas e boqueirdes Semelhanealitoldgicanotével com ‘0 erotéceo do. Araripe. A arte basal é um horizante silleoso.pislitico “¢ limoafieo (Teresina, Livramento, ete). 2] ARENITO £ | Arenito folbeado, mole, amarolo¢ | fisteandaré 0 que mais freqdente- FOLHELHOS |" cinzento. ‘mente esta exposte: — Quase CENTRALS | Afloramentos om gure rovestidos | _ todas as chapadae baines, 200° METROS | “de canga De Paruaba a Piracurioa,flane Parte ‘superior de estratfieagio | de Serra “Grande, Teresin alsa, Valenga, Orirss, et Parte inferior fiamente catrati- | dos pontos mt fieada, balsas 1 | ARENITO | Polhelho areonto e arsnito cals | Exposto « ceste du seers do En- POLHELHOS | cirso do camadas finas 20] gano 0. perto do. Pimeateira INRERIORES | _ meteos. Alora na barra do Capivar? (Rio 10 METROS ” | Falhelho Pimeatera 20 metoos —| Poti), nos aredores te Picos ¢ ‘Purpurino e as vézes ealeireo | — no rio Paraiba, ao al de Ama endo ent braneo, ante, Arent ealeéreo 80 metros, Froghotte nas zonss baixas, como [Numerosis mareas de ondulagio | — ocursolaferior do Lough alguns (eoerespado Sin). ontos do Poti, ete,e toda a ESPESSURA TOTAL — 70| -chapads do baixo Pirnaiba na metros, Tatitade da barra do Longe “Afora estas grandes serras, a série nfo tem geralmente espessura muito superior a 30) metros, sendo de muito menos nos vales dos rios”. A observagio do conjunto da série nas diversas localidades e a sua reconstituigio dao as se- guintes divis6es geolégicas”* (Vide quadro precedente). © estudo das notas minuciosas tomadas durante a exploracéo, permitiu distribuir os diferentes afloramentos visitados e mencionados por Small, pelos trés grupos em que dividiu a sua Série Piaui. A enumeracio original de Small foi alterada na forma de expor e completada com-os seus proprios dados. TRANSCRICOES 883 AFLORAMENTOS DO HORIZONTE 3 DE SMALL (SUP. _ LOCALIDADES Altitudes | Classificagdo de Small Observagies Alto Serra Pedro IT... : 70 | Arenito vermetho, mole, com cangs. Alto Chapada Batista : 550 - Chapada Grande 300 = Serra Branca. — 500 | Arenito vermelho, mole. Serra dos Caetanos..... ‘| = Sto Pedro. see] = | Arenito vermelho. (Alas =, | Arenito vermetho. Chapada de Floriano a Ociras... 300 | Arenito vermelho. No leito dos rios flora 0 ho- rizonte 2. Chapada Sambito ~~ Sao Vivente 300 | Arenito vermelho com folhelhos interealados. Rio Fidalgo (Sao Joao Pi). 230 | Folhelho purpurino. FS. Domingos (resin, 106 | Folhelho areento amarelo, Cabeccira. 365 = Carnaubal... : 330 - Est, Poripei-Castelo, Boca de Catinga.. . 320 | Horizonte silieoso Est. Periperi-Castelo. ‘Teresina : 80 | Horizonte pisolitieo, 86 nas partes altas da cidade, Divisor ‘Sambito-Guaribas.... 400 | Horizonte pisoltico, Rio Paruatba de Flotiano a Ama- ante 140 | Contacto com o horizonte 2. © limite superior da poténcia do grupo 3 seria, pois, admitindo camadas horizontais, a diferenca de nivel de Pedro II para Teresina, isto é, 630 metros, quando a espessura medida por Small é inferior 4 metade déste numero (250 e 300 metros). Resulta um evidente mergulho para o rio Parnaiba, cujo limite maximo é também a mesma diferenga de nivel, dividida pela distancia em linha reta, (170 quilémetros) isto é, entre 3 e 4 metros por quilémetro. Na estrada de Castelo a Teresina, na fazenda Botino-Rio Poti, Small verifi- cou para o térmo central da sua Série Piaui, um mergulho de 35 metros na distancia de 5 quilémetros 0 que condiciona um mergulho de 7 metros para NO. AFLORAMENTOS DO HORIZONTE 2 DE SMALL (MEDIO) LOCALIDADES Aititudes | Classficagdo de Small Observagies Campo Maior. . boas 125 ee Cidade Barras....... 70 | Arenito cinzento. Cidade Unido. : — | Fothelnas areentos. Cidade ‘Salobgo. . US out Leito do Poti. Pé da Ladeira. . 250 | Folhelhos caledreos. Leito Longa. . . 130 | Folhelhos caleéreos. Campo Maior. Ploriano..0..0.. 0005 140 | Folhelho caleéreo branco e piir- pura, Amarante. e e 130 | Arenito mole, cinzento, Periperi ie 100 | Arenito cinzento castanho. | Cidade Bie 80 = - Retiro, 60 | Arenito caledreo. m.e. Longé. Médio Rio Longa. . 50 | Folhelhas areentos de camadas finas. aoe Chapada Periperi-Batatha, 150 | Arenito caledreo - Fazenda Carcta 5 220 - Rio Berlenga, Bt BOLETIM GEOGRAFICO AFLORAMENTOS DO HORIZONTE 2 DE SMALL (MEDIO) LOGALIDADES ‘Altitudes | Classificagio de Small Observagies Prata. : 140 | Arenito de eamadas finas Rio Poti Diviror Piranji-Jacarel 140 — Bacia do Longé Rio Tpueira. 125 | Arenito cinzento caledreo, Base Pedro I Mela Altura Pedro I — | Arenito ealedreo S Alto Parafuso 300 | Arenito ealedreo. Rio Poti Garganta Sorra Branca — | Atenito ealedreo de camadas = finas, Garganta Serra Engano....... — | Arenito caleéreo do camadas - finas, Curral Velho... sees 215 | Fothelhos de camadasfinas. | Rio Poti Chapada Rio Corrente : 310 | Folhelhos areentos. — Brojo da Parto 270 | Fothothos aroontos, Ext, Peripori-Castelo, Castelo. : 250 | Arenito caledreo eastanho, Cidade Valenga. : 300 | Arenito einzento. Cidade Alto Rio Sambito : 200 | Folhelhos de camadas finas. | Rio Poti Baixo Sambito. : 160 | Arenito meio encrespado. Rio Poti Buritizal 235 | Arenito, Valenga Picos. : * 220 - Cidade ‘Alto Rio Cuariba 250 = - Osiras : 175 | Folhelhos purpurinos. = Simplicio Mendes 200 | Arenito de camadas finas, = Fazenda Sio Domingos 450 | Arenito quartaitico - Fazenda Bonita 160 — Castelo-Teresina, Eneosta Noroeste do Poti. 145 | Arenito quartzltico. - Rio Poti... 130 | Folhelko Pimenteiras, Portsiras...... : 200 | Folhelho pirpura Pimenteitas. | Rio Capivari Riacho Engaro 190 | Folhelho Pimenteiras. - Tapera, 165 | Fothelho Pimenteiras. - Pimenteiras 250 | Fothelhos. - iacho da Batalha 80 | Folhelhos areentos. = Bebadouro.. 190 | Arenito encrespado. - «Lagoa da Prats, : 15 | Arenito conglomerstico direta- | 8 kms, sul Paratha. tamente sbbro 0 arqueano, Piranji-Barra do Longs 30 ~ ~ Leito Pogdo Jacaref até Piracuruea 85 | Arenito ealofreo cinzento ama- = reladb. Ipueiras-Cipoal 160 | Arenito caleéreo mole ¢ ama- | Pst, Piracuruca-Vigos. relado. Longé-Barra Piracuruca. 50 | 30-50m. de arenito acinzen- - tado caledreo. Baixo Piracuruca. — - Conceigo.... 160 | Arenito conglomerstico gros - sito (Continua no précimo nimero) BRB O Sersico Central de Documentncts Geogratien do Consetho Nacional: Jeo Geogratia, ¢ compl:io, compreendendo Biblioteca, Mapoteca, Fototeea e Arquivo Corografico, destinando- se este & guards de docimantos camo sejam inéditos ¢ artigos de jornais, Envie ao Conselho aualjner documenta que posswir sobre o territério brasileiro. O Tamanho das Propriedades Rurais no Brasil* I Capitulo XVI (The size of holdings) de Brasil, People and Institutions T. LYNN SMITH Louisiana’ State, University Press — Prof. da Univ, de Luisiana Baton Rouge — 1946 Um periodo relativamente longo consagrado ao estudo de populacdés e sociedades rurais levou o autor ao conyencimento de que o tamanho das fazen- das, a concentracao da propriedade agricola, ou a distribuicéo da mesma proprie- dade e monopélio, é o fator insulado mais importante do bem-estar dos ocupantes dessas terras. Corre a par da distribuicéo generalizada da propriedade e domi- nio: 1) — 0 incentivo maximo ao trabalho constante e habito de parciménia; 2) — padrées médios de vida relativamente altos; 3) —'distincdes de classe minimas, relativa auséneia de casta (posicio social herdada) e, em resultado, luta de classes relativamente atenuada; 4) — um grau consideravelmente alto de mobilidade social em sentido vertical; 5) — inteligéncia média comparativa- mente alta e uma escala minima de inteligéncia; 6) — as personalidades mais bem dotadas da populagdo rural. Em suma, éste tipo de sistema rural produz cidadaos de um nivel médio extraordinariamente alto. O oposto disto, a con- centragdo da terra nas mos de poucos e a reducdo das massas populares & condicao de trabalhadores agricolas sem terra, acompanha-se de: 1) — um nivel de vida médio comparativamente baixo, embora a classe aristocratica dos senhores possa viver num: luxo fastdstico; 2) — grandes abismos de distincdes sociais entre os pouquissimos privilegiados da classe superior e as massas privadas de direitos sobre o solo; 3) — Auséncia relativa de mobilidade social em sentido vertical de feitio que éste abismo é perpetuado por barreiras de casta, embora as proles das classes inferiores possam, em alguns casos, ser dotadas de raras combinagées de qualidades bioldgicas; 4)- — populacdo de baixo nivel médio de inteligéncia, porque os altos méritos e talentos do reduzido cla da classe superior sto grandemente descompensados pela ignorancia das massas; 5) — uma populagdo afeita apenas & execucao, sob estrita fiscalizacao, de um numero restrito de tarefas manuais e alheia a pratica e experiéncia dé funcoes de administraeao e iniciativa propria. Por conseguinte prende-se gran- de significacdo existéncia quase universal no tempo e no espaco da grande Propriedade rural no Brasil. Valeria a pena tentar uma explicacdo para o fato de o Brasil, colénia de Portugal, que foi francamente um pais de pequenos agricultores, jamais ter conhecido a quinta familial nos primeiros trés ou quatro cem anos da sua historia, acabando por recebé-la das mios de outros europeus que n&o os portuguéses. Introducéo e difusdo da grande,propriedade — O sistema de propriedade e dominio estabelecido pelos colonizadores portuguéses no Brasil representou uma flagrante quebra da tradicional formula portuguésa de pequenas propriedades agricolas. Este é apenas um dos muitos aspectos da organizacdo rural social que sofreu mudaneas radicais na colonizacao do Brasil. Antes do estabeleci- mento das suas colonias na América, Portugal desenvolvera a scsmaria como instituicao destinada a reter concentracées de patriménio rural para distribui-lo entre pessoas que quisessem lavrar a terra, Désse modo preservara, pela maior parte, um sistema de pequenas. fazendas. O sistema rural estabelecido no Brasil representou uma decidida rutura desta tradicio. Refere Oliveira Viana a propésito da introdugao e do papel representado pela grande propriedade no Brasil: * NR. — A tradugio para o vernéculo fol feita pelo Sr, Jodo Milanez da Cunha Lima, redator da Seegio de Publicagaes do C.N-G. 886 BOLETIM GEOGRAFICO “No nosso pais... a agricultura principiou com a grande propriedade. Os romanos evolveram da pequena a grande propriedade... Outros povos desenvol- veram-se de uma maneira idéntica. Contrariamente a isto somos desde o coméco uma nacéo de latifUndios; entre nés a histéria da pequena fazenda pode dizer-se que remonta a apenas um século atras. Todo o longo periodo colonial reflete o esplendor e a gloria da imensa propriedade territorial. Neste periodo fol a ‘nica que apareceu e brilhou: a tmica que criou e dominou; é o tema central que envolve todo o drama da nossa histéria no decurso de trezentos anos fecundos e gloriosos”.* : © mesmo eseritor apés indicar que a regiéo do norte de Portugal donde provieram os colonos era entao, como ainda o é, téda de pequenas fazendas, analisa as razdes do rompimento do sistema cultural tradicional. Encarece a importancia de dois fatéres: 1) — os colonos nao eram homens do povo, mas aventureiros dos setores inferiores e até superiores da nobreza que emigravam a fim de restaurar fortunas arruinadas. Em sua maior parte a gente do povo 86 veio posteriormente, apés 0 descobrimento do ouro e diamantes e quando o desenvolvimento econémico deu margem 4 pequena manufatura e negécios de comércio; 2) — as terras eram concedidas apenas a pessoas que logravam convencer ag autoridades de que pertenciam a “boas” familias e que dispunham de escravos, capitais e outros requisitos proprios para a fundacéo de engenhos e plantacdes.? Os proprios membros das classes inferiores que chegavam ao Brasil e procuravam obter terras representavam as autoridades na qualidade de membros de velhas familias jA fixados e possuidores de amplos melos para desenvolver a concessio.* Mas 0 estabelecimento de uma plantac&o de cana de agiicar com 0 respec- tivo engenho, requeria uma soma consideravel de capital e nem sempre era possivel ao nobre empobrecido ou ao plebeu ambicioso pedir esta quantia empres- tada ao usurario judeu da cidade litoranea.‘ O estabelecimento, todavia, de um curral de gado cireundado por vastos campos de pastagens custava muito menos. Por isso muitos dos que no podiam obter a cobicada posi¢éo econdmica e social de plantador de cana de acucar, contentavam-se com ir para o sertao levando para o interior as fundacées pastoris — o curral precedeu a fazenda @ a plantacdo de cana.” Mas, 2 despeito de exigir menos capital, o desenvolvi- mento de um curral de gado, posteriormente fazenda, também serviu para di- fundir a grande propriedade ‘através do Brasil. Enquanto se considera neces- sdria uma concesséo de, pelo menos, duas léguas quadradas, tida por extensao de terra suficiente para uma plantacdo de agucar, uma extensao de dez léguas de cada lado era o tamanho comum da sesmaria que era concedida para a eriacdo do gado. E até os que se viam impossibilitados de assegurar concessio de terras e arrendavam as areas em que mantinham seu gado, tomavam por aforamento pelo menos uma légua quadrada.* A difusio da grande propriedade através do Brasil se processou muito rapidamente. Ao longo de téda a area litorinea a sesmaria foi o instrumento da propagacdo da grande propriedade vinculada 4 producao do agticar. Poucos individuos da classe dos pequenos agricultores ganharam um quinhao ai. Nem sucedeu se desenvolverem pequenas fazendas a ponto de formar um “shelter belt” (linha de defesa), a proteger as plantacées contra os nativos, como ocorreu na parte meridional dos Estados Unidos. Gracas, em parte consideravel, & intrepidez dos paulistas do século dezessete, a ameaca dos ataques de silvicolas pelo interior foi fortemente. eliminada e as préprias terras foram apropriadas em poredes demasiado amplas aos objetivos da criacao de gado. Acompanhados de numerosos escravos e agregados, ésses bandeirantes paulistas partiam para alon- gadas expedigdes de exploracdo e caga aos indios, mas éles também levavam diante de si as suas manadas de gado, praticando uma espécie de “combined © © Povo Brasileiro e sua Evoluglo — Recenseamento do Brasil, 1920 — Vol. I, pég. 282. # Tbid., pigs. 284-285. + Ibid., pag. 284. « Para uma exposigéo do papel dos judeus como usurdrios nas colénias, vide G. Freire, Sobrados ¢ Mocambos, pags. 39-43, passim: ag? 2giiveis Viens, 0 Povo Bruilelzo ¢ sux Bvolucto, Reconscamento do Brasit, 1920, Vol. , pig. 288. © Tbid., pég. 284, TRANSCRICOES 887 operations” (operacdes combinadas) e sdbre esta base econémica estabeleceram nédulos de colonizagio em tédas as direcées através do Brasil. Nunca se po- deria. exagerar a contribuicéo désse punhado de aventureiros de Sao Paulo. Avancaram para o sul através do que é agora Parana e Santa Catarina até as grandes planuras do Rio Grande do Sul; espalharam-se para ceste, Mato Grosso a dentro e para o noroeste penetrando em Goids; introduziram sua variedade particular de civilizacao européia, ou melhor, a nova variedade ame- ricana, baseada em atividades pastoris, em Minas Gerais, desceram 0 Sao Fran- cisco através da Bahia e, entao, espalharam-se nas areas do grande sertao de Pernambuco, Ceara, Piaui e Maranhao. Ademais, eram precisamente tao ousados em suas solicitacées de terras em sesmarias como em penetrar novas 4reas e escravizar indigenas. Via de regra requeriam concessdes de tamanhos maximos, néo somente em seus proprios nomes como também no de todos os membros de suas numerosas familias. Sentiam-se, sem divida alguma, com direitos a posse de vastas extensdes de territérios que Ihes conferiam o serem os exploradores, os primeiros a submeter os nativos, os fundadores dos micleos de colonizacaéo e os proprietdrios dos rebanhos que Ihes formavam a base econémica. Oliveira Viana cita o caso de Brito Peixoto que se nao contentara com uma sesmaria para si sé, mas rogava @ sua Majestade Real concedesse uma para cada membro da sua familia.” Nas regides das minas as cartas reais que confirmavam a posse dos proprietarios, ordenavam que as terras féssem distribuidas aos descobridores e seus compa- nheiros. Um governador do sul relatava haver familias que tinham sob sua posse de 15 a 16 léguas de terra, “os pais detinham trés léguas e os filhos, vivendo ainda com os pais, dispunham do resto.” © vale do rio Séo Francisco formava um centro de dispersio désses cria- dores de gado da faixa pioneira. Ai estabeleciam seus redutos, desenvolviam criagées e continuavam entao suas migracoes, de maneira que éste grande vale servit. como um segundo ponto de irradiacao na conquista do Brasil. Dai, em 1590, Cristévio de Barros varou Sergipe para os portuguéses; partindo dai outros sertanistas, com seu gado a dianteira e secundados por seus homens armados, abriramcaminho ao longo do Sao Francisco até perto do lugar onde hoje se levanta Cabrobé, em Pernambuco, e depois se espalharam pelas partes interiores de Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte, Ceara, Piaui e Mara- nhao, “Os vilarejos existentes nos altos sertées do nordeste da Bahia ao Mara- nhio, em sua maior parte, mergulham suas origens, pelas razdes apontadas, em antigas fazendas de gado”, diz Oliveira Viana.” Ainda, hoje, como se men- cionou alhures, baiano é sindnimo de “countryman” (homem’ do campo) nas zonas de pastagens de gado do Maranhio e Piaui. © modo como as largas concentracées de terras de pasto cafram sob posse privada, as vicissitudes por que as grandes propriedades passaram eo fato central de nao revelarem tendéneia em se esfacelarem de uma geracao a outra, 8&0 evidenciados no seguinte trecho: “Domingos Jorge, paulista e Domingos Afonso, de Mafra, Portugal, foram as primeiras pessoas que iniciaram a conquista desta provincia (Piaui). Pelo ano 1674, éste tltimo possuia uma fazenda de criagao de gado na margem norte do rio Sao Francisco. Os grandes danos que éle 14 sofria dos indios do centro e 0 desejo de aumentar seus bens com posses semelhantes levaram-no a empreen- der a conquista das paragens do norte, para cujo intento reuniu todo o pessoal que péde juntar e tendo passado a serra dos Dois Irmaos na direcao norte teve a sorte de encontrar o paulista, primeiro mencionado, ocupado em subjugar indi- genas ao cativeiro e mituamente se deram ajuda.’ Tendo no final de contas capturado um ntimero consideravel e feito o restante retirar-se o paulista regressou & sua terra com a maior parte dos indios preados e o europeu ficou senhor do terreno. Outros grupos fizeram entradas semelhantes ‘nesta zona, mes o dito Afonso manteve sempre o comando geral e as vastas possesses assim adquiridas pela entrada de varios grupos, receberam a denominacao de sertdo. Consta que estabeleceu para mais de cingiienta fazendas de criagéo * Olivetra Viana, Populagdes Meridionais do Brasil, pag. 18. * Ibid, pag. 119. ° © Povo Brasileiro e sua Evolugdo, Recenseamento do Brasit, 1920, Vol. I, pig. 298. 888 BOLETIM GEOGRAFICO de gado maior e que alienou e vendeu muitas durante a sua vida. , contudo, certo qué deixou trinta ao morrer e instituin os jesuitas administradores das mesmas, dispondo as rendas de onze delas para dotes de mocas, roupas para as vitivas ¢ atendimento de outras necessidades dos pobres. Com o restante deviam Prover ao aumento do ntimero das fazendas mas consia que apenas trés mais se estabeleceram. Com a extincdo desta ordem, todo o patriménio passou & administracdo da Coroa, sendo mantido no mesmo estado pela inspecdo de trés administradores cada qual com jurisdicdo sobre onze fazendas e trezentos mil réis de ordenado. Ocupam elas o territério através do qual correm os rios Piaui e Canindé, desde a fronteira da provincia ao norte da capital, na vizi- nhanca da qual estéo algumas das principais. O privilégio de constituir esta- belecimentos dentro de suas terras nao é concedido a ninguém onde s6 os escravos das fazendas trabalham para prover A sua subsisténcia e vestuario. © gado, logo que atinja certa idade, é conduzido pelos compradores principal- mente para a Bahia e seu recéncavo. Os dos distritos do norte descem para © Maranhao e os demais sao transportados para Pernambuco”. ” A literatura abunda em outras descrigées e referéncias sobre as enormis- simas propriedades territoriais do Brasil. No coméco do século dezenove uma dessas na provincia da Paraiba e pertencente @ familia Albuquerque Maranhao presumia-se medir 14 léguas a0 longo da estrada que liga Natal a Recife. “além desta prodigiosa propriedade o dono possuia outras no sertéio que se supunha ter uma extensio de trinta a quarenta léguas, léguas tais que, medidas pelo tempo, representam cada uma trés ou quatro horas de viagem”.® Na concentracio de propriedade predominante no Brasil, falta, contudo, um elemento que estéve sempre presente em tais monopélios alhures — 0 papel representado pela Igreja, muito modesto no caso. Jamais a Igreja se tornou famosa no Brasil pelas largas areas de terrenos sob sua égide. Quando muito, alega-se que alguns sacerdotes transferiram a descendentes bastardos um bom nimero dos melhores engenhos em provincias como a Bahia. De fato, a capela no Brasil parece ter sido de ordindrio um accessorio do engenho ou da fazenda e o padre tolerado por seus aristocraticos donos. Somente as irmandades leigas distinguiam-se por suas extensas posses. A razio desta situacio, tao diferente da dos paises hispano-americanos, repousa. num Edito Real de’23 de fevereiro de 1711, 0 qual estipulou que “nas concess6es de terra no estado do Brasil serA levada’ sempre em conta a condico de nao passarem sob qualquer titulo ao dominio religioso”.* A situagdo no século dezenove — Por volta de 1800 o Brasil j4 se achava plasmado pela grande propriedade. A despeito de serem poucos os possuidores de terra nao havia muitas dreas disponiveis. E’ necessdrio insistir nesse ponto, dada a tendéncia de se julgar o Brasil um pais jovem. Nao é tal. Suas formas culturais estéo profundamente enraizadas na tradi¢éo e numa tradicao que promana das relagées sociais da grande propriedade territorial. Na faixa Utoranea do Brasil disseminayam-se as plantacdes de cana de acucar e a maior parte do seu interior se cobria de vislumbres de cultura pastoril muito antes de as nossas treze colénias conquistarem sua independéncia. Esta cultura, todavia, apenas ocupava o interior; sua colonizacao restava ainda por vir. E o Brasil esté ainda empenhado no desenvolvimento da colonizacao do seu vasto territério. Depois do primeiro século o processo de colonizacéo prosseguiu e a densi- dade de populacéo aumentou pelo desenvolvimento de novas fazendas em reas 14 colonizadas, em vez de fazer-se pela ocupacdo de novos territdrios. Nos comegos do século dezenove, John Marve descreveu como segue o processo da fundacdo de uma nova fazenda no Estado de Sao Paulo. “Quando éle (o fazendeiro) escolhe um sitio, recorre ao governador do lugar que delega o funcionario competente para demarcar a extensao preten- % Henderson, A History of the Brasil, pags. 425-426. Uns cingiienta anos mais tarde const estas fazendas estarem sendo utilizadas numa tentativa destinada a criar uma colonia pat escravos libertos. Em 1873, a coldnia contava cérca de 800, 300 dos quais menores © 100 Invalldos, Foi ostabelecida ‘a fim de prevenir a privagdo e a miséria que poderiam ocasionar a formacio dé bandos criminosos. Cardoso de Meneses ¢ Sousa, Teses adbro Oolonisapdo no Brasil, pags. 127-181, 4 Southey, History of Brasit, Vol. TI, pag. 768. Citado in Histéria da Colonisagdo no Brasit, Vol. I, pag. 158. TRANSCRICOES 389 dida, geralmente de uma légua, ou légua e meia quadrada, e as vézes mais.” © agricultor compra, entao, tantos negros quanto o permite sua’ capacidade financeira e comeca suas atividades por edificar habitacdes para éle proprio e os outros, que sao geralmente miser4veis telheiros apoiados em quatro estacas € comumente chamados ranchos, Seus negros séo depois aproveitados para a derrubada de Arvores e vegetacdo arbustiva que crescem na terra, na extensio em que os julga capazes de lavrar. Feito isto, deitam fogo aos destrogos por terra jacentes. Grande parte do éxito de suas colheitas depende desta quei- mada. Se ficar tudo reduzido a cinzas espera uma grande colheita; se por efeito de chuyas o arvoredo abatido queimar sé pela metade, entdo prognostica-a ma. Alimpado 0 solo, og negros entram a abrir as covas com suas enxadas e semeiam. seu milho, feijao e outros legumes. Durante a operacdo éles abatem tudo que encontram no caminho, mas nunca cogitam de lavrar o solo. Apés © plantio de tantas sementes quantas se julgar necessdrias, preparam_outro terreno para o cultivo da mandioca, cuja raiz ¢ comida na forma de pao por tédas as camadas da populacéo. Quando se houver plantado bastante para © consumo de t6da a fazenda, o proprietario, se é bastante rico para isso, prepara os melos para a cultura e manufatura da cana de acicar. Emprega, primeira- mente, um carpinteiro para cortar madeira e construir um engenho com moendas formadas de cilindros de madeira para esmagar a cana e utilizando agua quando ha um rio ao alcance ou entéo a férca de mulas. Ao mesmo tempo que alguns negros assistem 0 carpinteiro, outros séo empregados em Preparar o terreno do mesmo modo como fizeram para a mandioca. Pedacos de cana contando trés ou quatro nés e medindo umas seis polegadas de com- primento, cortados da parte desenvolvida da haste, séo assentados na terra quase horizontalmente, e cobertos com terra até uma profundidade de quatro polegadas. Repontam rapidamente _e, dentro de. trés meses, j4 apresentam um aspecto cerrado, dando a impressio de pendées e com mais doze ou quinze meses, estaréo boas para o corte. Em terreno virgem e rico ndo é invulgar verem-se canas com 4 metros e surpreendentemente grossas”. “Ramé algum da industria agricola é mais descurado pelo fazendeiro do que 0 trato do gado. Nao se cultivam gramineas artificiais; nao se levantam cércas; nem qualquer forragem é acumulada para fazer frente A estacao de escassez. ‘As vacas nunca sao ordenhadas com regularidade. Parece serem consideradas mais como um estérvo para a fazenda do que como uma parte util do gado. Requerem constantemente sal que Ihes é dado uma vez em quinze ou vinte dias em pequenas proporgdes. As queijeiras, se merecem éste nome, sao diri- gidas de modo tao negligente que a pouca manteiga que se faz, se torna rangosa em poucos dias e o queijo néo presta para nada”. * A concentragio da propriedade, resultante das concessées de sesmarias, tinha j4 alcancado um alto grau em’ 1822, quando o Brasil aleancou a indepen- déneia. Rui Cirne Lima enuncia que os resultados ninguém jamais os resumiu melhor do que Gonealves Chaves, que escreveu anénimamente no tempo da independéncia: : “1 — Nossa. populacéo monta a quase nada em comparacdo a imensidade do territério que j4 ocupamos por trés séculos. 2 — As terras esto quase tédas divididas e ha poucas para serem distribui- das, exceto as qujeitas a invasdo dos indigenas, 3 — Os monopolizadores possuem para mais de 20 léguas de terra e raras sio as vézes em que consentem qualquer familia estabelecer-se algures nas suas terras e ainda quando consentem, sempre o fazem em carater tempordrio € nunca mediante um contrato que permita a familia permanecer por varios anos. 4 — H4 muitas familias pobres que erram de lugar em lugar, mercé do favor e do capricho dos proprietdrios de terra e sempre carecendo de meios de obter alguma terra em que possam estabelecer-se de modo permanente. 4A despelto de um edito real, de 15 de junho de 1711, proibindo a concessio de mais de uma légua quadrada a uma pessoa 86. Idid., Vol., pag. 158. uM Mawe, Travels in the Interior of Brazil, pigs. 78-80. 890 BOLETIM GEOGRAFICO 5 — Nossa agricultura é tao atrasada e sem progresso quanto é possivel num. Povo agricola, mesmo no de civilizac¢éo menos avancada.* Generalizacdes semelhantes acérca da alta concentracio de propriedade rural, terras devolutas e 0 conseqiiente prejuizo para a Nacéo sio abundantes em outros eseritos. Perlustrando-se esta literatura logo se vem a apreciar o sabor especial que os brasileiros ligam ao térmo latifundio, entendendo como principal elemento conceitual a subtracdo ao uso produtivo de extensos tratos de terreno. Um relatério oficial ao ministro da Agricultura feito em 1873 descrevia a maneira que outrora prevalecia na doacdo de terras em sesmaria, acrescentando em seguida: “Desta amplitude de lberdade resultou que tédas as terras nos arredores de cidades e vilas importantes situadas perto da costa foram entregues a propriedade privada, com a conseqiiéncia de que hoje nao é possivel achar nas cidades populosas préximas aos mercados e ao longo das grandes linhas de comunicacao um tinico palmo de terra pertencente ao Estado e que possa ser convertido num niicleo de colonizacéo ou distribuido a imigrantes. Pésto os proprietarios néo possuam os melos necessérios para cultivar extensoes de terra de tal maneira vastas, grande parte destas permanece sem cultivo e vazias de povoagdes ou casas. Desta concentracio de propriedade nas méos de alguns provém o abandono da agricultura nas zonas rurais, a estagnacdo ou auséncia de desenvolvimento nas construgdes urbanas, a pobreza e estado de dependéncia de grande parte dos elementos da populacéo que nao encontram campo de atividade nem meio de se tornarem proprietarios e, finalmente, as dificuldades que hoje cercam a administragéo publica em oferecer aos imigrantes uma situacio cOmoda e apropriada”. * Gilberto Freire muito féz por delinear os contornos do desenvolvimento social entre as familias aristocraticas do Nordeste. Apresenta sua obra um manancial de elementos atinentes ao latifindio em’ Pernambuco. Nao sio de menos valia alguns extratos dos jornais e periddicos de Recife, reproduzidos por éle. Sao particularmente importantes para os interessados no sistema de diviso territorial artigos como um que vem assinado por A. P. Figueiredo, publicado em 1846 em O Progresso de Recife. “A maior parte das terras da nossa provincia esta dividida em grandes propriedades, restos das antigas sesmarias, das quais poucas foram subdivididas. © proprietario ou o rendeiro ocupa uma parte delas, e abandona, mediante um Pequeno pagamento, o direito de morar nas outras poredes e cultiva-las, em beneficio de um, dois e as vézes quatro centenares de familias de mesticos ou ne- gros livres, de quem se torna protetor mas de quem exige também obediéncia absoluta e sobre quem exerce o mais completo despotismo. Resulta disto que as garantias da lei ndo se estendem a ésses infortunados, que compdem a maior parte da populagao do Estado, mas imicamente aos proprietarios, trés ou quatro dos quais, unidos por lacos de sangue, amizade ot de ambic&0, sio bastante para anular, em vVasta extensio do territgrio, as forcas e a influéncia do govérno. E’ essencial que pessoas de meios parcos possam obter terras e cultivé-las com a certeza de usufrulr-Ihes os produtos, condigdes essas que nao existem hoje pelo fato dos senhores de engenhos ou fazendas se recusarem obstinada- mente a vender quaisquer porgdes de. suas terras, fonte e garanfla do seu poder feudal e em virtude do infortunado morador, que area com o risco da planta- 40, ficar & mereé do proprietario que pode expulsd-lo da terra dentro de vinte e quatro horas”. Ainda mais pormenorizado e eausticante é outro artigo mais longo publi- cado por Abdalah-el-Kratif, no Didrio de Pernambuco, numero 24 de marco de 1856. “Que destino tem o aumento continuado da populacdo no interior? vir ela a ser empregada na agricultura? Nao sio os melhores elementos que se enca- 38 Terras Devolutas, pigs. 43-44. 3 Teses sobre a Colonizagdo no Brasil, pags. 908-309. ™ Reproduzido em Nordeste, Gilberto Freire, pags. 153-154. TRANSCRICOBS sa minham a Recife para tentar a sorte, solicitar um ridiculo emprégo; os restantes acolhem-se as vilas e outros centros de populacaéo, onde passarao uma vida de misérias, pois nado temos industria alguma que ofereca ao trabalhador livre trabalho constante e soldos regulares. Tal a fonte dessas massas humanas sem meios seguros de subsisténcia que em certos setores alimentam os politicos dos partidos e nas partes inferiores da sociedade praticam tédas as variedades de roubos. Qual a razdo dessas familias altamente dissociadas nfo se fixarem na agri- cultura preferindo penetrar em precdrias carreiras no servico publico. Por que, em lugar de se deslocarem para ser alfaiates, pedreiros, marceneiros, etc., os filhos de familias pouco favorecidas pela fortuna nao retornam ao interior; por que, também, éles ndo se tornam agricultores? Por que os habitantes das matas nao cultivam 0 solo se nao sdéo a isso forcados? Por que seus filhos saem para as cidades? Para tudo isto néo vemos mais do que uma unica resposta e, desgracadamente, é ela cabal. No estado social em que vivemos, os meios de subsisténcia de um pat de familia ndo aumentam proporcionalmente ao numero de filhos, resultando dai serem, em geral, éstes mais pobres do que seus pais ¢ possuirem menos capital. A agricultura -acha-se, presentemente, circundada por uma barreira que a torna inacessivel ao homem de escassos meios; para todos os que néo possuam um certo nitmero de contos de réis. Coritudo ela ¢ a funcao produtiva por ex- celéncia, o espirito tutelar das nacdes e é nela que repousam os interésses vitais do nosso pais; mas, como se lhe ergue em t6rno uma barreira, é preciso que caia esta barreira, custe o custar. E qual é esta barreira? A grande propriedade territorial. Esta coisa terrivel que arruincu e despovoou o Brasil e muitos outros paises. Esta regido que inclui todo o litoral da’ nossa provincia e estende-se a uma profundidade de dez, doze e as vézes quinze ou dezoito léguas para o interior, acha-se dividida em’engenhos ou propriedades cujas dimensces variam de um quarto de légua quadrada a duas, trés e até quatro e cinco léguas quadradas. Aqui, em virtude da cultura da cana exigir certo solo que se nfo encontra em téda parte, segue-se que, além das terras de cana, as matas que devem possuir e as terras que requerem para seus bois e plantio de mandioca, indis- pensavel para a alimentagdo dos eseravos, a maior parte dos engenhos possui vastas extensdes de terras fechadas, terras essas que seriam sobremodo apro- priadas para a pequena lavoura, e que, sendo cultivadas, forneceriam em abun- Gancia farinha, feijao, cereais, etc. a toda a populagao da provincia e provincias vizinhas e, ainda daria para a exportacao. : Os proprietarios recusam-se a vender essas terras e, também, a arrenda-las. Quem possuir trinta ou quarenta contos de réis, poder comprar um engenho; mas 0 pobre que quiser comprar ou alugar alguns alqueires de terras, ndo as achara. E’ isto que gera a populacio improdutiva das cidades, a classe dos preten- dentes a empregos publicos, que cresce dia a dia, que faz os crimes contra a propriedade se tornarem cada vez mais freqiientes e empobrece o campo de mais a mais em virtude de ascender o nuimero de consumidores enquanto o numero de produtores permanece estacionario, ou, ao menos, aumenta em progressio mais lenta. Diz, todavia, o grande proprietario: estamos longe de recusar & gente pobre a terra de que necessita para cultivar; deixemos que venha ‘e, mediante tum modesto encargo, algumas vézes em troca de coisa alguma, damos-lhe ndo sémente terras para plantar, como também madeira necessdria para cons- truir suas casas. Muito bem; mas éste g6zo apenas dura quanto apraz ao grande proprietario. Quando, todavia, cai no desagrado do proprietario, por causa de alguns pequenos caprichos,’ora porque se recusa a votar em seus candidatos, ora por deixar de cumprir uma ordem, é despejada sem recurso. Como podem ésses infelizes animar-se a plantar se ndo tem certeza de colhér. Que incentivo experimentaréo que possa induzi-los a beneficiar a terra de que podem ser desapossados a qualquer momento? 892 BOLETIM GEOGRAFICO Nas terras dos grandes proprietarios, néio gozam de quaisquer direitos, pois n&o tém opinido livre; o grande proprietario é para éles a policia, o tribunal, & administracéo, numa palavra, tudo; e, afora o direito e a possibilidade de deixd-los, a condicao désses séres infelizes nfo difere em nada da dos servos medievais”. * As propriedades acucareiras, quer em Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia ou Sao Paulo, eram tédas muito semelhantes. Nao é’ necessario mutiplicar os exemplos para mostrar a concentracdo de terras nas areas produtoras de cana. Mas alhures a concentragao de propriedade evidencia-se de modo andlogo. As fundagdes de gado, fazendas ou estAncias, ocupavam areas ainda maiores do que os erigenhos de acucar e, em virtude do cardter extensivo dessas explo- tagoes, as zonas de gado eram ainda mais esparsamente povoadas. Visitantes do Rio Grande do Sul, no século dezenove, hesitavam em referir o tamanho das estancias que se Ihes depararam, por receio de ser posta em dtivida a sua veracidade. John Luccoek, que percorreu a cavalo a provincia, escreveu: “... e, com efeito, a extensdo atribuida as fazendas nesta parte do continente ameri- cano mal pode ser mencionada temerariamente por quem tem, pessoalmente, Pouca divida da veracidade das informacoes. As menores sio fixadas em quatro léguas quadradas; as maiores séo reputadas atingir cem léguas quadra- das. A cada trés léguas quadradas atribuem-se quatro ou cinco mil cabecas de gado, seis homens e um cento de cavalos”...” Uma fonte oficial, datada de 1904, diz: “Rstas planicies estdo divididas em esténcias ou fazendas, sendo a area superficial de uma estancia de uma légua Quadrada (4356 hectares), embora muitas delas tenham trés ou quatro vézes essa dimensio. Sempre que fol possivel, escolheram-se limites naturais para a divisdo, tals como rios e riachos, que, ‘além de obviar a tédas as’ questoes e Giividas quanto @ linha de limites, servem como barreiras naturais destinadas @ conter o gado. Onde isto nao se péde dar, fortes cércas de arame servem agora quase em téda parte a mesma finalidade. Internamente as estancias estdo divididas em varios cercados que se chamam invernadas, que separam 0 gado da criacdo do que 6 engordado para venda, A casa do dono, mais ou menos modesta e simples, conforme seus meios, geralmente se situa em alguma elevagdo, préxima ao centro, dominando a paisagem circundante e em redor dela se agrupam os ranchos dos peées. A agricultura nessas estancias é via de regra, promovida sémente na medida em que venha satisfazer as necessidades do proprietario e seus vassalos”.* Um sistema similar de concentracio da propriedade prevaleceu pela maior parte do interior brasileiro ineluindo as poredes ocidentais de Santa Catarina, Parané e Sao Paulo; em parte consideravel de Minas Gerais; em Mato Grosso € Golds; nos Estados da Bahia ao Maranhao com excecdo da faixa litoranea: e até nas poredes habitadas do vale amazénico (naturalmente em todos esses, as atividades extrativas e mineiras disputavam entre si o trabalho valido mas pouco ou nada fizeram que afetasse a concentracéo da propriedade). Um dos casos mais extremos encontrados € referido pelo engenheiro inglés Bigg-Wither, e se refere ao Parant “Algumas fazendas mais como a Fortaleza... converteriam a provincia do Parana num deserto... Téda a fazenda ocupa nada menos de 340 milhas quadradas da zona de onde, como ja mostrei, se derivou originariamente téda a prosperidade de que se pode gabar a provincia. Seu dono, contudo, nem éle proprio a utilizaré exceto numa pequena extensdo, nem alienara a outros quaisquer porcoes da mesma. Por ambos os lados flanqueiam-na os principais nucleos agricolas da provincia, mantendo entre éles numerosa populacdo, enquanto aquela sustenta precisamente uma duzia de pessoas, oito das quais escravas”.* 3 "Didrio de Pernambuco, 24 de margo, 1858. Reproduzido em Nordeste, Gilberto Freire, pags. 246-249. % "Notas s6bre 0 Rio de Janeiro e as Partes Meridionais do Brasil, pig. 216. » Descriptive Memorial of the State of Rio Grande do Sul, pag. 24. Hsta ‘publicacao fol erganizada por ordem do governo. Julgou-se désnecessario conservar notorios erros tiposraticns do original. ‘Também deve ser esclarecido que naa partes s"coloniais do estade, Uma classe Dréspera ‘de pequenos agricultores vinha-se constituindo rapidamonte, 3 Thomas P, Bigg-Wither, Pioneering in South Brazil, London: John Murray, 1878, Vol, 11, pigs. 249-244 TRANSCRICOES 893 Bigg-Wither, sempre preocupado com as probabilidades de uma colonizacéo inglésa bem sucedida nesta parte do sul do Brasil, julgou esta propriedade idealmente situada para uma colonia de compatriotas seus. Cria que o problemia do latifiindio no Brasil podia ser solucionado mediante “a imposi¢ao de um impésto territorial da Coroa a incidir em tédas as propriedades cujas éxtensdes atingissem um certo minimo. Tal impésto ocasionaria a fragmentacio das grandes propriedades improdutivas, aumentaria o poder produtivo e, conse~ Giientemente, a prosperidade da provincia e, enfim, acrescentaria uma soma ponderavel @ receita anual do império”. Até em Minas Gerais, um dos Estados em que a subdivisio da terra fizera primitivamente alguns progressos, permaneceram algumas fazendas de enorme tamanho. Burton, em 1867, descreveu a fazenda Jaguara e forneceu alguns apontamentos breves acérea de como veio a constituir-se: “Ha meio século, um certo coronel Anténio de Abreu Guimaraes, acumulou larga fortuna com 750 escravos e ainda mais por escusar-se a pagar os direitos do govérno em diamantes exportados de Diamantina e de outros lugares. Possuia uma enorme propriedade de 36 léguas quadradas, que, posteriormente, foi dividida em sete grandes fazendas”. Uma destas, a’ Melo, por ocasiéo da sua visita estava sendo medida para transferéncia aos emigrantes que tinham deixado o sul dos Estados Unidos, em seguida & Guerra Civil. Continha 63 sesmarias, cada uma das quais nessa circunscri¢éo perfazia meia légua quadrada.* Cingiienta anos antes, Luccock, baseado em inquéritos e observagdes sobre © sistema territorial da propriedade, escreveu: “Essas pessoas forneceram-me particularidades diversas a respeito do estado e condigdo de Minas Gerais. Nas partes mais populosas, dizem elas, as fazendas medem geralmente uma légua de largura e outro tanto de fundo ou contém dezesseis milhas inglésas quadradas. Em téo amplo espago no residem, comumente, mais de doze pessoas, de quem tnicamente assegura a subsisténcia. Admitem que as fazendas de meia Yégua quadrada, ou um quarto do tamanho da anterior, sio mais produtivas em proporgio & sua extensio, porquanto o capital falta’ aos agricultores para cultivar mais terra e afirmam que em tais fazendas o gado ¢ mais numeroso; acrescentam, todavia: com terra tao escassa que podemos fazer com nossos filltos quando crescerem? Nao temos terra suficiente para poupar-lhes”. * Exceto no sul, onde o programa de colonizacéo estava fazendo reais progres- sos, 0 Brasil entrou no século vinte como uma nago em que a grande propriedade teihava de modo supremo. (Continua no prdximo nimero déste Boletim). = Ibid, pag. 244, = The Highlands of the Brasil, Vol. TI, pags. 23-24. 4 Luccock, Notes on Rio de Janeiro, and the Southern Parts of Brazil, pag. 425. e preeisar de alguma informacio sobre a geografia do Brasil, dirija-se 20 Conselho clonal de Geografia, que o atenderd prontamente — se a consulta nao for de cardter Resenha_e Opinides Hiléia Amazénica Como é sabido, a UNESCO resol- yew criar no Brasil'o primeiro de seus Institutos, 0 qual se destinaré ao estu- do e solucéo dos problemas de toda ordem relacionados com a regiao ama- zonica . A primeira reuniéo se realizou, ha poucos meses, na cidade de Belém, com a presenca de delegados do nosso pais, da Bolivia, Colombia, Equador, Estados Unidos, Gra-Bretanha, Peru’e Vene- zuela, assim como representantes da UNESCO, da WUHO, da FAO e da PASB, Trata-se de uma das mais impor- tantes iniciativas daquele futuroso ra- mo das Nagées Unidas. Deliberaram os delegados que o novo Instituto se denominaria Insti- tuto Internacional da Hiléia Amazo- nica. E’ uma revivescéncia da désigna- cio dada por Humboldt a regiao do grande rio. O ilustre delegado do Equa- dor, Dr, Rafael Alvarado, nado esté de acérdo com o nome adotado e, em carta que teve a bondade de enviar- me, solicita o meu parecer a respeito. Transcrevo a seguir a minha respos- ta e a sugest&io de se dar ao Instituto © nome de Instituto Pan-Amazénico. Dando publicidade & resposta, nado tenho outro intuito senio provocar a opiniao dos mais competentes. Eis a carta: “Tive muita honra de receber a exposico de Vossa Exceléncia a res- peito da “Conferéncia para a organi- zacao do Instituto Internacional da Hiléia Amaz6nica”, realizada recente- mente em Belém, por iniciativa da UNESCO e com o apoio do govérno brasileiro, e com a participacao das delegacées do Brasil, Bolivia, Colémbia, Equador, Estados Unidos da América, Franca, Gra-Bretanha, Peru e Vene- zuela (a Holanda nao compareceu), bem como de delegados da UNESCO, da WUHO, da FAO e da PASB. Pelos jornais, pude acompanhar o andamen- to da importante reuniao e, por infor- macées pessoais de alguns delegados, J& era do meu conhecimento o com- pleto éxito da mesma, o que, agora, com satisfagéo vejo confirmado na carta de Vossa Exceléncia, que foi um dos seus brilhantes componentes. Apraz-me, alias, recordar que nao € de hoje o meu interésse pelo.assunto, ao qual dediquei empenhada atengdo, quando exercia o alto cargo de minis- tro das Relacées Exteriores do meu pais. Nesse periodo, que coincidiu com a fase dos preparativos, em Londres, para a instalagdo da UNESCO, poste- riormente efetivada em Paris, pude le- vantar o ponto de vista da importan- cia e urgéncia de criar-se um Instituto Internacional destinado a estudar a Amazonia — a regio em que, na des~ lumbrada profecia de Humboldt, rea- + firmada por Euclides da.Cunha, mais cedo ou mais tarde se ha de concentrar @ civilizacdo do globo." Na viagem que féz, em junho de 1946, a0 Rio de Janeifo, o professor Julian Huxley, tive a honra de entre- ter-me com tao Slustre personalidade do mundo da Ciéneia e da Cultura, havendo sugerido posteriormente, por instrueSes por mim enviadas a0 nosso delegado, Dr. Paulo Carneiro, que a0 Brasil coubesse a sede de um’ dos ins- titutos a serem fundados pela UNESCO, Pensava eu, entao, que os que mais nos convinham’ eram 'o Instituto de Ali- mentacio ou o Instituto Amazénico, agora denominado Instituto Internacio- nal da Hiléia Amazénica”. Por éste tiltimo se decidiu afinal a UNESCO, em conseaiiéneia do que se reuniu a Conferéncia. Assim, tomou corpo, igualmente, a idéia lancada pelo presidente Getilio Vargas, por ocasiio da sua visita aos Estados do Norte do pais, quando, em discurso proferido em Manaus, a i0 de outubro de 1940, falou em convocar-se uma conferéncia internacional, destinada a tratar dos problemas de interésse comum da Ama- z6nia, e declarou: “As 4guas do Ama- zonas sio continentais”. Certos aspec- tos das relacées entre os paises sul- americanos desaconselharam, nos anos seguintes, a convocacdo dessa reunido, da qual seguramente teria resultado uma organizacio internacional perma- nente, imagem reduzida e modesta da que agora surge, imponente nas suas proporeées e finalidades, — o Instituto, do qual, muito acertadamente, diz RUSENHA E OPINIONS 898 Vossa Exceléncia que “figurard entre as maiores instituicdes do mundo”, pois que “os bens que pode oferecer & hu- manidade ultrapassam qualquer cél- culo; sua importincia nao tem me- dida”. Féz-me' Vossa Exceléncia a distin- go de pedir-me um parecer acérca da designacdo do novo Instituto, cuja denominagao atual — Instituto Inter- nacional da Hiléia, Amazonica — Vossa Exceléncia impugna. Estou_ de inteiro acordo com suas consideracées contra rias ao referido titulo. A palavra hiléia ndo figura, real- mente, sendo em pouquissimos diciond~ rlos, mesmo dos mais modernos. Pro- vindo do grego hylé com significagéo de floresta, de matéria ou de matéria informe, foi aplicada por Humboldt e Bonpland & regio das florestas ama- zonicas. A ela assim se refere Wappaus, no Handbuch der Geographie und Sta~ tistik des Kaiserraichs Brasilien: A zona equatorial do Brasil é coberta por uma espéssa floresta tropical. E’ a Hyloea do Amazonas, de Humboldt, que enche a planicie amazénica numa extensio média de 9 graus (de 2° de latitude N a 7° de latitude 8), avan- gando, porém, pelos afluentes do Ama- zonas até a altura dos Campos.do Bra- sil, assim como, pelo rio Negro, & re- gido do Orinoco. Nessa zona o’ clima, de um calor e umidade constantes, provoca uma tal férga e exuberancia da vegetacéo, como alhures nao se encontra igual, em ‘lugar algum dos dois continentes, e onde nao ha con- traste de inverno e verao, observando- se em todos os meses do’ ano o fen6- meno da florescéncia”. Hoje em dia alguns fitogedgrafos tendem a genera- lizar_o seu emprégo, falando de uma “niléia africana”, de uma “hiléia hin- dustanica”, ete., ‘para delimitarem re- gides florestais com idénticas caracte- Tisticas. Dessa maneira, a expressiio “Hiléia amazénica” aderiu ao territério do Grande Rio, aquele mundo que 0 nosso Euclides da Cunha considerava, com Tazo, ainda na fase aluvial: “uma pagina inédita e contemporanea do Génese”, “a mesma hiloe amazonense”, “a, hiloe prodigiosa”; onde “depois de uma tnica enchente, se desmancham os trabalhos de um hidrografo”, de Humboldt, reafirmada por Euclides da Cunha a ‘flora ostentando “a mesma imperfeita grandeza”, o homem, ali, sendo “ainda um intruso impertinente”, chegando “sem ser esperado nem que- rido — quando a natureza ainda estava arrumando 0 seu mais vasto e luxuoso salio”, e encontrando “uma opulenta desordem”... O mesmo dendrorama cadtico, que, ainda hoje, em artigo pu- blicado no Le Figaro de’ 27-28 de outu- bro do ano passado, assim descreve André Siegfried: “L’impression est celle dune pléthore de vie végétale, dont on sent bien que Vétre humain n’est pas maitre; et, sous la vie végétale, on devine le grouillement poissoneus. L’impression est inconfortable, trou- blante”. Na verdade o étimo grego hylé comportava uma maior variedade de acepcées: “Hylé — floresta, bosque, ma- deira, troncos de Arvores, madeiras de construcdo, lenha, folhagem, ramada, sarcal, espinhal, | gravetos;’ matéria, material; lastro,’ rico aprovisionamen- to”, da 0 Griechisch — Deutsch Woer- terbuch de Hermann Menge. Ignoro se Humboldt as teve presentes na me- méria_a tédas elas quando criou e aplicou a sua denominacao; todavia, e mesmo sem recorrer & imaginacdo fantastica de um artista, podemos des- cobrir a interessante convergéncia, de modo a adequar perfeitamente & Ama- zonia 0 nome de Hiléla: a selva imen- sa, 0 reinado selvagem da Arvore, dos troncos e frondes; 0 predominio da madeira, quase como Unico material ali oferecido & mao do homem; a hos- tilidade, a quase impenetrabilidade, simbolico sentido de sarcal ou espinhal, que féz pesar, por muito tempo, sdbre uma plaga capaz de ser um paraiso, a dolorosa alcunha de inferno verde; a profusio de matérias primas, ali preservadas, do latex cauchifero as preciosas seivas medicinais; e, por fim, 0 “rico aprovisionamento”: 0 previsto celeiro, capaz de abastecer e abrigar “a_eivilizacéo do globo”. O proprio sentido filoséfico, com o qual era em- pregado o térmo (Matter, or whatever receives form or determination from outside itself”, segundo 0 Webster's) se acorda com o’confluir, centripeto, exd- geno, dos esforcos dos dez paises, que agora se coligam, para ali agirem con- juntamente. Mas, seguramente, a palavra nio é compreensiva de todos os problemas, que se propée resolver a nova entidade criada pela UNESCO, naquela terra vasta e rica. Que pretende o novel Instituto? Enfeixar as pesquisas sobre tédas as condi¢des da area amazonica — territoriais, climaticas, meteorologi- cas, geolégicas, boténicas, zoolégicas, 896 BOLETIM GEOGRAFICO mineraldgicas, etnolégicas, etnografi- cas e outras, — integrando, sistemati- zando_e centralizando, locaiménte, o aprofundado estydo das mesmas com o amplo objetivo de enriquecer a. civili- zagéo humana, nao somente com a cépia de elementos a serem colhidos na regiio, mas também com a mise en valeur dessa mesma, e na consegiiente anexacao efetiva 20 mundo civilizado. E, sendo assim, a intitulagao atual nao me parece @ mais apropriada. Vossa Exceléncia sugere que o Ins- tituto passe a denominar-se Instituto Internacional Amazénico. Pessoalmen- te, reputo essa designacio melhor do que a do “Instituto Internacional da Hiléia Amaz6nica”. O que se perderia em colorido e pitoresco, sacrificando-se a erudita palavra Hiléia, ganhar-se-ia em concisao, exatiddo e’clareza. Contudo, se bem reconhecendo na que Vossa Exceléncia propoe, i& sensivel progress, permito-me lem- brar outra denominacdo, a meu juizo mais compreensiva, de melhor sonori- dade e que poderé resumir-se em trili- tero de iniciais mais facil de ser retido: é Instituto Pan-Amazénico (IPA). Nao julgo pequena a vantagem em récor- rermos a ésse expressivo prefixo Pan, que, se no Velho Mundo evoca desa- fiadores conluios de .racas ou nacoes, perigosos e desastrosds, aqui, déste nos- so lado feliz do Atlantico,’ s6 poderé associar-se, em tédas as mentes, & ra- diosa concepedo do Pan — Americanis- mo. Com éle, lucrar-se-ia também, ouso dizer, em’ dindmica, em dinamis- mo. Porque, se Hiléia sugere a placida e repousada intemporalidade da cién- cia pura, e Internacional, por muito usado e gasto, ja espelha uma certa tibleza burocratica, Instituto Pan-Ama- zonico, por si s6, com a férca quase de um slogan conclama esforcos ati- vistas, para o realismo arduo de um desbravamento. Esta idéia, nfo a improviso agora. Quando, no exercicio da Pasta das Relacées Exteriores, pensei em convo- car a conferéncia internacional sobre a_regiio amazonica, era minha inten- 40 denominé-la ‘Conferéncia Pan- Amazénica. Por ai poderé Vossa Exceléncia avaliar a satisfa¢do com que Tespondo 4 sua consulta sobre nomes, assunto que, como Vossa Exceléncia, nao consi~ dero desprovido de importancia”. : Jodo Neves da Fontoura x © sistema das plantacées tropicais* © sistema de plantacées tropicais é uma forma de agricultura de grande interésse econémico, social e politico nos tropicos. A fim de caracterizar esta forma de economia, precisamos res- ponder a trés questées: Que sio plan- tases? Qual, a sua distribuicio geo- grafica? Quais as origens do sistema de plantag6es? ‘Uma plantagiio néo 6 sémente um empreendimento agricola; é também um cometimento industrial; nao se limita a engendrar produtos agricolas; prepara-os também para serem trans- portados. Cumpre fazé-lo, pois nao produz para atender as suas proprias necessidades, como o nativo e sim para 0 mercado e, especialmente, para © mercado das zonas temperadas. Esses mercados séo, contudo, distantes dos tropicos e, ademais, a fim de alcane: Jos os navios tém de atravessar as la- titudes tropicais quentes e imidas. Quanto a distribuicio do sistema de plantacées, notamos que se encon- tra apenas nos tropicos e subtrépicos, que possuem periodos longos e, em algumas partes, ininterruptos de’ flo- rescimento para a vegetacdo, durante os quais se produzem certos géneros agricolas valiosos que faltam nas zo- nas temperadas. Uma grande solicita- cio désses produtos nao leva, contudo, necessariamente, ao sistema de planta- goes. Nos trépicos asidticos, por exem- plo, as especiarias produzidas desde séculos por camponeses nativos, foram Ievadas por mercadores estrangeiros (chineses e arabes) aos mercados do Extremo Oriente e do Ocidente. E, atualmente, outros produtos como. al- godao, kapok e copra, sio produzidos exclusiva -senio preponderantemente pelos nativos das indias Orientais Ho- landesas para mercados estrangeiros, Bsses produtos que nao requerem pre- paro dificil e que. podem ser facil- mente transportados, nao exigem o * Traduzido para o portugues pelo Sr. Joio Milanez da Cunha “Lima, redator “da Secgio de Publicagdes do C.N.G. Constitui_o ptesente trabalho magnifica sintese em que o problema das plantagdes tro- picais é encarado do ponto de vista’ da sua evolugio histérica © deslocamento no espaco. © ‘sell aparecimento & tanto’ mais auspieloso quanto representa a primeira ‘divulgagao que fazemos de trabalhos’ do. eminente gedgrato, Prof. Lé6o Waibol, de renome mundial, atwal: mente no Brasil,” que, com real_proficiéneia vem-se dedicanyio ao estudo de problemas Li- Rados. a) geografia do nosso pels (Nota. do tractor; RESENHA EB OPINIONS 897 sistema de plantacdes para sua produ- ao ser bem sucedida. Por outro lado, os nativos das fn- dias Orientais Holandesas produzem apenas magro um por cento do aci- car exportado, embora cultivem a cana de aclcar para suas proprias ne- cessidades. Usam, contudo, ou o caldo de cana fresco ou fazem um mel escu- ro que nao pode ser transportado e deve ser consumido no local, Os nativos nao sio capazes de produzir acucar mascavo ou branco, pois para fazé-lo necessitariam ter, ‘além da cana de agicar, o capital para construir en- genhos de aciicar especiais e custosos a par dos conhecimentos altamente cientificos e téenicos para operd-los. © sistema de plantagées, portanto, apenas é encontrado nos trépicos por- quanto é ai que certas culturas reque- rem nao sé muito trabalho desqual ficado, mas também conhecimentos al- tamente técnicos e os maiores investi- mentos para custear fabricas e equipa- mento a fim de preparar os produtos para _o embarque aos mercados distan tes. O resultado é que os nativos devem acomodar-se a uma estranha ordem in- dustrial. Esta industrializacgéo é especial- mente necessaria ao cultivo da cana do acticar (e da beterraba nas zonas temperadas), porquanto o suco facil~ mente deteriordvel deve ser transfor- mado num produto consistente, 0 sal doce, como os nativos o chamam. Ou- tras’ plantas tropicais — como café, cacau, ché, chinchona, algodao, sisal e borracha, requerem processos indus- triais similares, especialmente quando se tem a produzir um produto de alto valor. Uma industrializacdo, tao ina- dequada & agricultura das zonas tem- peradas, é, portanto, a caracteristica mais importante do ‘sistema de plan- tagdes. Divisio de trabalho e monocultura andam a par da industrializagdo agri- cola. E’ bem conhecido que a maior parte das planta¢ées limitam-se a uma, cultura tnica, como seja cana de acu- car, ou café, ou sisal, em virtude de cada um désses produtos exigirem ma- quinarias préprias. A rotacao de cul- turas é, portanto, impossivel, até mes- mo no cultivo de plantas anuais. Em conseqiiéncia, os solos se esgotam rapi damente e cumpre prepararem-se con- tinuamente novas areas para o cultivo. Bste sistema econémico monocultor da lugar a uma grande instabilidade e@ suscetibilidade a crises. Variagdes climaticas, epifitias, comogées politicas, novas invengées técnicas e, acima de tudo, os pregos de mercado interferem gravemente na vida da plantacdo. Tor- Na-se assim compreensivel que algu- mas reas de plantagio tenham trans- formado seus produtos e instalagdes mecanicas dentro de intervalos fre- qiientes. No século dezenove o Ceilo, Por exemplo, produziu sucessivamente cinamomo, café, chinchona, cha e bor- racha. Mudangas similares ocorreram no fim do século dezoito e principio do século dezenove nas indias Ocidentais. A mesma inquietacZo e instabili- dade manifestam-se na migracdo dos produtos da plantacao. E’ suficiente fazer lembrar a propagacdo da cultura do café da Abissinia para a Arabia e sudeste da Asia, passando entéo para © Novo Mundo, onde se verificou con- sideravel mobilidade do cultlvo do café dentro dos trépicos americanos para, finalmente, completar-se o ciclo com um recente retérno Africa. Pésto a instalagéo de maquinarias dispendiosas 86 seja compensadora com a produgdo em grande escala, segue-se que as plantagdes pressupdem, quase sempre, Vastas propriedades de varias centenas a varios milhares de acres, Essas dilatadas areas requerem, como as fébricas associadas, grande némero de trabalhadores. O problema de bra- gos é, assim, de suma importancia para as plantagdes e esta procura de trabalhadores para a plantacéo fot fundamentalmente responsavel pelo trdfico negro primitivo, bem como ain- da o é pela grande migracdo de traba- Inadores dentro dos trdpicos asiaticos, Finalmente, a direcio dos campos e fabricas, como também a venda dos produtos devem ficar a cargo de habeis especialistas. Como os nativos via de Tegra carecem de adestramento e ex- periéncia, é certo, em geral, que s0- mente os europeus (no sentido cultural da palavra) tém aptidées para ser ad- ministradores de emprésas de plan- tagao. Uma plantacdo 6, portanto, uma grande emprésa agricola e industrial, dirigida, via de regra, por europeus, que, com grande dispéndio de traba. tho’e capital, entregam produtos agri colas altamente valiosos ao mereado mundial, Transportando-nos & questo da origem déste tipo especialfssimo de econcemia, nao deve surpreender-nos 0 convencimento de que a mesma tem 398, BOLETIM GEOGRAFICO conexdo com a fabricagio do agicar branco cristalizado. O grande gedgrafo alemao Karl Ritter, chegou a esta con- clusio ha um ‘século, mas seus resultados foram olvidados pelos pré- prios gedgrafos alemaes. Segundo éste ilustre estudioso a refinacdo do acucar fol inventada no século sétimo ou oita- vo A.D. na localidade persa de Chu- sistan (no curso inferior dos rios Ti- gre e Enfrates), onde a ciéncia da Europa Oriental’ entrou em contacto direto com a producao da cana de aci- car tropical. Desde 0 coméco a refina- go do acticar estéve associada ao siste- ma de plantagao e ambos fizeram uma migracdo espetacular em térno da ter- ra dentro das zonas tropical e sub- tropical. Os “arabes lancaram plantagées agucareiras na area mediterranea; dé- les os venezianos e genoveses apren- deram a ciéncia e arte de fabricar o agticar que, por sua vez, ensinaram-nas a0s portuguéses e espanhdis. As duas wl- timas nagoes transferiram 0 tipo orien- tal de agricultura e a planta asiatica ‘as ilhas africanas ocidentais de Ma- deira e Candrias e dai levaram-na aos trépicos, tendo a mesma encontrado seu primeiro e classico desenvolvimen- to tropical na pequena ilha portugué- sa de Sio Tomé no interior do golfo de Guiné, ai pelos wltimos anos do século quinze. Em 1492, quando Colombo encetou suas grandes descobertas, o sistema de plantacao acucareira estava bem esta- belecido nessa ilha. Essas pequenas ilhas do oeste da Africa, todavia, logo perderam sua im- porténcia como centros produtores do agucar quando o cultivo da cana, jun- tamente com o sistema de plantacoes, foram estendidos ao Novo Mundo: a Séo Domingos em 1519 e ao Brasil em 1531. Aqui se dispunha de Areas muito maiores, apropriadas ao cultivo da cana de acicar e, ainda acresce que a cana nao tinha que ser irrigada, como na Madeira, Canarias e nas areas mediterraneas. A despeito, portanto, da maior distancia da América do mer- cado europeu, seu acticar podia ser vendido muito mais barato, como se evidencia da queda rapida’ dos pre gos désse produto no século dezesseis. O capital necessario as plantagoes acucareiras americanas era fornecido por comerciantes lisboetas (muitos dos quais aparentemente judeus) ou por nobres que haviam adquirido riquezas no comércio de especiarias da fndia Oriental. Os trabalhadores é que eram escassos ou, até, faltavam inteiramente, mas ésse problema foi resolvido de uma maneira engenhosa, embora cruel, pela importagéo de negros africanos escravos. Assim, cada continente tinha uma parte no estabelecimento do sis- tema de plantacdes no Novo Mund a Europa fornecia o capital, a Asia a cana de agticar, a Africa os traba- lhadores e os americanos o clima e 0 solo. © sistema de: plantagées como o conhecemos hoje teve seu desenvolvi- mento inicial nos trépicos americanos. Aqui também, pela primeira vez, cul- turas diferentes da cana de aciicar emergiram sob éste tipo de economia: fumo indigena, algoddo, cacau e, o que é mais surpreendente, o café afri- cano, na metade do século dezoito. Nos primeiros dias propriedades pequenas e de tamanho médio chegaram quase a desenvolver muitas vézes grandes plantacées dessas novas culturas, mas @ noticia que temos acérca désses tipos de economia agricola é muito limitada. Até o comé¢o do século dezenove todos ésses tipos ‘de emprésas eram encon- trados apenas ao longo da costa bra- sileira e ilhas francesas e inglésas das Indias Ocidentais. A revolta dos negros no Haiti fran- cés em 1789 e a abolicao da escravatura nas colénias inglésas em 1833 abalaram © sistema de plantagdes, que fora até aquela data muito estavel, até os seus proprios alicerces e causou nova mi- gracdo. Pela primeira vez, entao, o sis- tema de plantacées aleancou proporcées bem marcantes nas ilhas espanholas de Cuba e Pérto Rico, espalhou-se pelo continente e desenvolveu-se em Vene- zuela, Colombia e América Central, onde’o anil e 0 café, ainda mais im- portante, foram os principais produ- tos. As plantagées de café agora tam- bém comecaram a migrar dentro do Brasil. Muito mais extensa em 4rea, con- tudo, e mais importante econdmica- mente foi uma espécie de transposicao retrospectiva do sistema de plantagdes da América, Asia, passando pela Africa, donde principiara sua migragéo ha um milheiro de anos. O surgimento do transporte a vapor e a abertura Posterior do canal de Suez favorece- ram o desenvolvimento dessas novas areas de plantagao, do mesmo modo que a continuacdo da escravidéo na Africa tropical até 1880 e a disponibi- lidade de crescido numero de traba- Ihadores mal pagos na Asia tropical. RESENHA E OPINIONS 899 Na Africa tropical, cujo acesso é demasiado dificil e que’ é habitada por negros livres que resistem as tentati- vas que se fazem no sentido de obri- g-los a trabalhar por salarios, o siste- ma de plantagées ainda é de somenos importancia. Sdmente nas ilhas de Sao Tomé, Mauricias e Reuniao, o sis- tema de plantacées atingiu, desde 1830, grande significacdo. Nas ilhas de peninsulas da Asia tropical, contudo, o sistema de planta- g6es tornou-se 0 tipo predominante de economia. Ai, até mesmo aquelas plan- tas que em’ outras regides tropicais eram obtidas por simples economia extrativa sao cultivadas em plan- tacdes; entre essas figuram chinchona, borracha e, recentemente, a palmeira oleaginosa africana. A transposicéo de plantas cultivadas de um continente a outro exigia grandes dispéndios mo- netarios para observacdes cientificas, especialmente para‘ éulturas de ensaio e selecao de sementes. A iniciativa privada nao era compativel com ésses requisitos e, portanto, nos trépicos asia tices o sistema de plantacces teve de ser fomentado por sociedades andni- mes. Da mesma maneira e com idén- tico éxito o ramo mais novo das plan- tagdes tropicais americanas — a cul- tura da banana — foi erigido para o mercado dos Estados Unidos numa ba- se capitalista em larga’ eseala. O ca- pital, aqui, é necessario nao para o cultivo ou'preparo do produto e sim para o seu transporte em cargueiros especiais. A vida social e econdmica dos tr6- picos tem sido largamente influencia- da pelo sistema de plantacdes. Os euro- peus entraram com o capital e com os conhecimentos e aquelas regioes con- tribuiram com os solos e 0 trabalho nativo. Neste processo os nativos for ram freqiientes vézes privados de sua terra, desarraigados do seu meio social e transformados num proletariado pri- vado de tezras a despeito da abundan- cia destas nos trépicos. Por isso, muitos condenam o sistema de plantagdes em sie propéem que se entregue toda a producao-de géneros tropicais aos na- tivos. Além désses aspectos econdmi- cos. € sociais consideragées éticas sao ‘mais e mais opostas pelos oponentes do ‘sistema de plantacdes. O bem estar_e progresso dos nativos em sua opinido deveriam’ constituir os tnicos objetivos ou, ao menos, os predomi- nantes da politica colonial. Sob con- di¢éo alguma, salientam, os nativos devem ser privados de suas terras, pois ‘nicamente em seu préprio solo terao oportunidade de preservar sua vida nacional Em oposiedo a esta concepgdo ét- nica os adeptos do sistema de planta- goes oferecem argumentos econémicos. Os nativos, observam, em virtude dos seus métodos econémicos primitivos, nao sao aptos a produzir todos os géne- ros tropicais tao necess4rios aos habi- tantes das latitudes superiores. Os pro- dutos, tais como agucar, sisal, quinino, etc., que requerem preparo industrial, 6 podem ser explorados por europeus (a palavra tomada apenas em sentido cultural) @ nao pelos nativos. Até no cultivo de produtos de facil’ preparo industrial, tais como o fumo, 0 café, © cacau, © cha, etc., os nativos ficam muito aquém das plantagdes européias na qualidade de seus produtos. So- mente no cultivo de plantas anuais, tais como cereais, amendoins, algodao, etc., que requerem pouco ou nenhum. Preparo, superam os nativos aos euro- peus. Nao é, simplesmente, uma ques- tao de sistema de plantagdes ou de economia campesina: ambos ésses tipos so, na opinido désses wltimos argu- mentadores, necessarios 20 desenvolvi- mento dos ‘trépicos, Tendo em mente ésses dois pontos de vista, outros. propéem uma colabo- Tagao entre europeus e nativos numa base de iguais direitos ‘e deveres. A produedo comum concorreriam os na- tivos com sua terra e trabalho e os europeus com seu capital e técnica, Os beneficios seriam repartidos entre os dois sécios de acérdo com certos prin- cipios. Infelizmente a aplicacao desta proposta simples e clara se mostra quase impossivel se se considera que as duas partes diferem em caracteristicas raciais, culturais e sociais, que a maio- ria dos nativos carece de base mo- ral para tal colaboracio e a maioria dos europeus da intengao social para a mesma. Até aqui, apenas sob pressio econémica tal colaboracio veio a ser bem sucedida, notadamente no cultivo da cana de agticar, de plantio relativa- mente simples e preparo bastante di- ficil. Hoje, nas ilhas Fidji, Mauricias, as Indias Ocidentais e Brasil os nati- vos plantam a cana e vendem-na aos brancos que a beneficiam em suas gran- des usinas. Este processo tem o incon- veniente de os nativos nao serem, pela maior parte, os donos da terra, mas simples foreiros que podem ser despo- jados a qualquer momento se nao cum- -prem as suas obrigacoes. 900 BOLETIM GEOGRAFICO Para remediar os defeitos da poli- tlea presente, os estadistas coloniais ingléses batem-se por outro sistema que fara justi¢a conjuntamente aos na- tivos e aas interésses econémicos euro- peus, Sob o regime que propoem o Estado seria 0 mediador entre o cam- ponés branco, regulando por legislacao os di- reltos dos europeus e os deveres dos nativos. Bste principio denominado de “triplice parcaria” pelo Cel. Leake en- controu sua’ primeira aplica¢io pra- tiea no cultivo de algodao de Gerizah (Suddo Egipcio). Ali o patrao europeu é representado pelo Sindicato de Plan- tacdes Sudanés que é uma espécie de “Chartered Company” (Sociedade of cialmente regulamentada ou concessio- naria, mas sem direitos sbre a terra. Esta pertence aos nativos, a quem com- pete lavra-la de uma maneira rigoro- samente prescrita. O sindicato benefi- cia o algoddo e promove a irrigacio e tédas as atividades comerciais previs- tas no seu regulamento, tendo as barra- gens e os principais canais sido cons- truidos pelo Estado. Os lucros si divididos em partes iguais entre os trés, sécios. Este principio parece acertado es- pecialmente para as regides sécas indus, Nigeria), onde sio necessirias dispendiosas obras para a irrigacdo. Mas até naquelas regioes tmidas dos trépicos onde grandes areas permane- cem por devassar e precisam de ser desenvolvidas por meios de comunica- eo, éste principio seria vantajoso, pois combina as vantagens do sistema de plantagdes com os da economia cam- pesina e evita tanto quanto possivel 0s inconvenientes de ambos. Isto im- porta, naturalmente, que europeus e nativos estejam psicalogicamente pre- parados para tal colaboracao e que haja um estado empreendedor que Ihe ga- ranta bases legais. Prof. Léo Waibel * 7 Areas alimentares no Brasil * Os relatérios dos inspetores de En- sino, examinados pela Comissao de Ali- mentagao dos Colégios do Departamen- to Nacional de Educaco, demonstram a existéncia de tipos diversos de dieta no Brasil, de acdrdo com as regides. * Capitulo da obra Valor Social da Ali- mentagao da lavra do Sr. Rui Coutinho. independente e o empresdrio . Difereneas acentuadas de economia re- gional eram as responsdveis por tal situacio.* Essas diferencas locais impéem & dieta um cardter acentuadamente re- gional, que se reflete na alimentacao dos colégios. Por outro lado, é verdade que, sob essas diversidades se observa uniformidade de certos alimentos por todo o Brasil, quaisquer que sejam as reas que se considerem: o arroz, a fa rinha, 0 feijao e a carne. O feijao — prato de resisténcia do brasileiro — é, 4 vista dos depoimentos dos inspetores, nio s6 de Minas Gerais, como de Santa Catarina, um fator de unificacdo, jun- tamente com outros elementos de cul- tura, que constituem bases comuns da nossa gente. Atendendo a fregiiéncia e regula- ridade com que se distribuiam deter- minados alimentos pelas varias regides brasileiras, conseguimos, com a colabo- racao de José Bonifacio Rodrigues,* caracterizar. certas areas, mais ou me- nos definidas, da alimentacao brasi- leira, No norte, do Espirito Santo ao Amazonas, o nosso estudo se limitou, na sua maior parte, ao litoral. No centro e no sul compreende também o inte- rior. A primeira drea, que chamaremos Amazénica, estende-se pela parte se- tentrional ‘do pais até a baixada do Maranhao. Caracteriza-se pelo gran- de consumo de farinha de mandioca, pouco feijao, bastante peixe ou cama- To, éste ultimo principalmente no Ma- ranhao, “onde constitui um prato de larga aceitacao”...° Nota-se a freqiiéncia de pratos de origem indigena. Ao lado disso, apa- recem as frutas nativas, o acai, o bi- riba, o bacuri, a cupuacu, — que bem caracterizam essa Area. Denuncla, assim, a Area Amaz6- nica, a influéncia indigena, revelada pelo grande consumo de peixe e de fa- Tinha de mandioca, como pelos nomes 1 conceito de drea, tomamo-lo dos an- tropélogos norte-americands da Escola de Franz Boas: principalmente Clark Wissler: The Ame- rican Indian, New York, Oaford University Press, 1922, dnd ed., Kroeber, A. L.: Antro~ pologia General, México, Fondo de Cultura’ Beondmica, 1985, Version Espaiola de Ho~ 4 Professor de Antropologia da Faculdade de Filosofia do Instituto Lafalete, e do Instituto de Educacéo do Estado do Rio. 3 Gomes, 'T. T.: Relat6rio @ Comissdo de Alimentacdo ‘do “Ministério da Educagdo, 1940, setembro ee: RESENHA E OPINIOES das frutas e de certos pratos regionais. © grande numero de rigs explica_o consumo de peixe. Ha mfarcada defi- ciéncla de ‘carne, leite, manteiga e queijo, ovos, legumes e verduras, e acentuada monotonia na dieta. Nas préprias capitais 0 leite é es- casso e caro. Em Manaus, por exem- plo, o ginasio local, com 135 alunos internos, nao podia atender as deter- minagées do Ministério da Educacao, q diario daquele aliménto a cada aluno. Os relatérios dos inspetores de Ensino de Belém do Par e principalmente de Sao Luis do Maranhao salientavam sempre a dificuldade em se obter leite em quantidade suficiente para o con- sumo dos colégios. E’ 0 mesmo quanto & manteiga. A deficiéncia da carne de vaca é tanto mais notavel quanto é sabido que a Amazonia possui Areas pastoris nos campos gerais do Rio Branco e na ilha de Marajo. Essa regido é domi- nada pela monoexploragao da .borra- cha no Amazonas, pela pecuaria nas duas sub-areas citadas e pelo cultivo do arroz no litoral maranhense. E’ uma drea nutricionalmente pobre, de- pendendo do nordeste (quanto ao acu- car) e do sul do pais para o seu abas- tecimento, o que tornou dramatica a sua situacio durante a guerra. © depoimento do grande conhe- cedor das coisas do Amazonas que foi Araiijo Lima confirma a nossa obser- ‘vacao. Diz éle que o caboclo do Amazo- nas se alimenta de peixe e farinha de mandioca. As vézes de aipim e de uma fruta nativa: “Um chibé que tem por base a farinha d’égua — produto de mandioca muito pobre de vitaminas — constitui muitas vézes o alimento dum homem nas vinte e quatro horas” © médico Jilio Paternostro infor- ma: “Os homens que trabalham no baixo Amazonas comem, anos a fio, cérca de 600 gramas de farinha puba e 250 gramas de filhote”, E 0 autor escla- rece que “filhote é a carne fresca ou séca de peixe piraiba”, bem como que a farinha puba é obtida da mandioca’. No baixo Amazonas, observa Araitjo Lima, “trabalhadores de_certa plantag&o de algoda’o (Granja Ceres) limitavam-se durante dias seguidos a «Lima, A.: 4 Terrase o Homem, Sio Paulo, Comp. Eaitora Nacional, 1997, 2% ed., pag. i168 ® Paternostro, J.: Conversando de Bra sileiros, O Jornal, 1940, dez., 22. exigiu o fornecimento de ¥% litro, 01 ingestio de um singelo mingau de arroz, que ao amanhecer mandava distribuir, apés a chamada do pessoal, © gerente da propriedade”, No vale do Gurupi, no Maranhao, nfo € outra a dieta.”’A do vaqueiro da ilha de Ma- rajé no Para tem como base a carne de sol e a farinha. Come-se peixe, as vézes, em algumas areas onde éle existe. Pela manha, em geral, o vaqueiro bebe leite, 0 que explica os bons dentes que tem. Hanson observa que os vaqueiros brancos de Marajé séo corpulentos, altos, ativos, belos exemplos de boa satide fisica e mental.* A outra dra, que denominaremos Nordeste, estende-se do Piaui 4 Bahia. A sua dieta se aproxima da Amaz6- nica, pelo consumo pobre de feijio deficiéncia de leite, manteiga e queijo, ovos, legumes, verduras e frutas. Ha, contudo, menor consumo de farinha de mandioca. E’ uma area dominada pela monocultura do algodao, da cana de agticar em grande parte edo cacau em outra, além de uma sub-drea de pecuaria do interior do Piaui. © pescador dessa regiao, o janga- deiro, alimenta-se de peixe 'e farinha de mandioca. Diz o professor A. J. Sampaio que o pescador permanece em alto mar numa jangada muitas vézes, mais de 24 horas, e a sua dieta “li- mita-se a farinha’ de mandioca e mel de cana”.* Parece-nos que éles conso- mem rapadura — de facil transporte e conservagéo — de preferéncia ao mel de engenho. No nordeste, 0 homem da sub-area da cana de agucar, isto é, da zona da mata, hoje devastada por quatro séculos de ocupacdo humana, é muito mal ali- mentado, apesar de afirmativas em contrario dos que vém procurando en- cobrir as falhas graves da dieta do tra- balhador das usinas. Vive éste ultimo de charque, farinha de mandioca, ra- padura e, as vézes, feijao. O charque desapareceu da mesa do pobre durante 0 longo periodo da guerra. S40 comuns certas frutas nativas como o araga, mangaba, goiaba, manga, caju, algumas * Lima, A.: op. cit:, pag, 116 * Lima, A... Planicie Costeira Maranken- se sob 0 Ponto de Vista Sanitdrio-Social, Bra sil Med., 1937, n.° 22, pag. 612, s Hanson, E.: apud: Price, A. G.: White Settlers in the Tropics. Nova Voric. American Geographic Society, Special Publ, 1930, n,* 28, pag. 226. ® Sampaio, A. J.: A Alimentacdo Serta neja ¢ do Interior da Amazdnia, Slo Paulo & Rio de. Janeiro, Companhia Waltora Nacional. 194, pag. 7. 902 BOLETIM GEOGRAFICO dessas — as trés ‘iltimas — boas fontes de vitaminas, o que levou José Américo de Almeida a dizer, sensatamente, uma. vez, que o Brasil é um pais de vitaminas baratas.* Na Area do cacau, na Bahia, 0 pro- fessor Pierre Monbeig verificou também existir a m4 alimentacdo da zona das usinas: “... frutas e legumes, que tra- riam os elementos saudavels 4 alimen- taedo dos povos; sio inacessiveis aos trabalhadores. A carne séca e o feljao formam a base da alimentacao, mas séio vendidos aos empregados das fa- zendas pelos empreiteiros, que man- tém pequenos estabelecimentos comer- ciais muito lucrativos: impossivel ao trabalhador deixar de comprar déle, pois do contrario ha logo um pretexto para despedir o recaleitrante”. Essas duas reas sio terrivelmente monocultoras. Monbeig diz: “O cacau é um tirano, e recusa-se a perder uma polegada de’ solo arrancado a floresta para consagré-lo a outras culturas: alguns fazendeiros o proibem termi- nantemente”.* Também “tirana” é 2 cana de agiicar. Em geral nao se per- mite ao trabalhador plantar o sew le- gume. Hoje em Pernambuco jé se esboca uma reagao @ monocultura na, rea das usinas. Coméco de reagdo que vai fazendo sentir os seus efeitos. * © predominio da monocultura nao tem permitido o desenvolvimento, das culturas de géneros alimenticios, como, alids, observou o professor Monbeig. © exclusivismo das monoculturas nao cede lugar as culturas ancilares. © mesmo também se observa em outros paises que possuem idéntico tipo de economia: a cana de acicar em Cuba, Porto Rico e Queensland (na Austra- lia); 0 algodao em certas areas do sul dos Estados Unidos e 0 tabaco em ou- tras; a pecudria na area de criagio do Rio Grande do Sul e no Uruguai.* Uma evidéncia dessa nocividade sobre a dieta e, através dela, sobre a saiide das populacées ¢ a existéncia da pelagra endémica em Pernambuco, Estado rigidamente monocultor.* w Almeida, J. A.: Discurso pronunciado em $1 de julho’ de 1987, Brasil. pig. 22 H “Monbelg, P.: Ensaios de Geografia Hu- ‘mana Brasileira, Sio Paulo, Livraria Martins, 1940, pag. 177. ia "Sobre monocultura vejacse Price, A. G. White Settlers in the Tropics, cit., pags. 71, 80, 218, 219. 33.0 Dr. Reinaldo de Azevedo apresentou 114 casos observados no periodo de 21-8-930 a 0-6-1935, na sua tese apresentada & Faculdade de Medicina do Recife: Pelagra — Contribut- (40 ao seu Betudo, 1985, pags. 83-86. ‘Uma prova de que a monocultura é a principal responsavel pelo apareci- mento da pelagra — doenga resultante da falta de uma vitamina — é a sua existéncia, sob a forma endémica, no sul dos Estados Unidos, ainda tao’ do- minado pelo algodio em umas dreas e pelo tabaco em outras: Os especia~ listas reconhecem que a pelagra é um produto da monocultura. Um déles afirma que essa avitaminose resulta da’ monocultura.* O sul rural deve pro- duzir os alimentos para o seu proprio abastecimento. Reconhecida a nocividade da mo- nocultura nos Estados Unidos, a pri- meira sugestéo dos especialistas para combater a pelagra é diversificar aque- las zonas de culturas, tornando-as 0 mais possivel policultoras.* Aconse- Tham éles que. se restrinja o plantio do algodéo e do tabaco, em beneficio do cultivo dos legumes e das verduras; que se intensifique a criac&o de vacas ¥ Sebrell, W. HL: Public Health Impli- cations of Recent Research in Pellagra and Aqortavinesis, J. Home Beon., 3988, $1: 880- 2° Mr, Wickard, quando ministro da Agri- cultura daquele pals, sugeriu em discurso que se voltasse & antiga’ dignidade da galinha, do oreo, ‘da vaca, peritos no forneciments de ‘Winters diz que a existéncia da pelagra nos Estados Unidos € conseaiiéncia da politica agricola: Winters, J. C.: ‘The Relation of Human Nutrition to the Social and Economic Condition ‘of the South, J. Am. Dict Ass. 1940, 16:25. Uma pesquisa feita em Kentucky revelow aque das ‘duas areas vizinhas, cujos habitos Slimentares cram muito semelhantes, uma apresentava pelagra, a qual faltava a outra Stea. EY gue essa Ultima possuia eriagao de vaca'e de galinha, e horta: Kooser, J. H. and Blankenhorn, M. A.: Pellagra and the Public Health: A Dietary Survey of Kentucky Moun- tain Fotk in Petlagrous and non-Pellagrous Communities, J, Am. Bed. Ass., 1941, 116-912. (Resumido pelo” J. Am. Diet Ass., 1941, 11581), Sobre Pelagra ¢ Monocultura veja-se Gor- gon, B.S. and Sevringhaus, E.: Vitamin Therapy in General Practice, Chicago, Iilinots, Year Book Publishers, Inc, 1940, pag. 240; Sebreti, W. IL: Public’ Health Implications of Recent’ Research im Pellagra and Ariboflavino- sis, J. Home Econ., 1939, 31:590-536. Winters S.C. The Relation of ‘Human Nutrition to the Social and. Eoonomic Condition of | the South, J. Am. Diet, Ass., 1940, 16:215; Bdito- Mal: Let Farms Raise Food, America, 1941, 65-239, “Sherman, H.C. and ‘Lanford, ‘c. 8. Essentials of Nutrition, New York, ‘the Mac ‘Millan Company, 1940, pags. 226 e segs. Sherman, He Ge: Chemistry of Food and Nutrition, New York, ‘The MacMillan Compa- ny, 196, 7th, Wd.. ‘pégs, 394-398. Vela-se também: Coutinho, "R,: “Monocultura & Dieta no Brasil", A Manhd. Coutinho, R.: O que Revela wm’ Inquérito no Recife sobre as con digies. de Altmentacéo Popular, (Separata) Neurobiologia, 1989, 2, n.° 1. RESENHA EB OPINIOES 903 e galinhas, aumentando-se assim a pro- ducio do ‘leite e os seus derivados: a manteiga, 0 queijo e 0s ovos Quando ministro da Agricultura dos Estados Unidos, Mr. Wickard, no seu relatério de 1941, informou os bons re- sultados que vern produzindo a diver- sificagio_ das culturas. Diz éle que “9 algodao ainda é rei, mas o seu rei- nado esta mais restrito. A agricultura esta diversificada. A maior produgao e consumo de produtos de animais de fazenda e de culturas de géneros ali- menticios, ao lado da colocaeao sensata, da produ¢ao mais limitada do algodao, prometem uma vida mais sadia para os 40 milhdes de individuos que’ vivem nos 13 Estados do sul”. Essa variedade de cultura é 0 que também se faz necessério em nossas areas monocultoras. No nordeste, a monocultura iniciada no primeiro ‘sé- culo de colonizagao tem esterilizado tédas as fontes de producéo. A ma influéncia da monocultura sobre a die- ta das populacées brasileiras no perio- do colonial j4 foi demonstrada, de so- bejo, por Gilberto Freire, ha dez anos. A deficiéncia ou mesmo auséncia de produeao obriga os Estados nordes- tinos, do mesmo modo que os da Area Amazénica, a comprarem no sul do pais a quase totalidade do feljao, arroz, farinha de mandioca e charque neces- sarlos a0 abastecimento das suas popu- lacdes. A importacdo désses alimentos, considerados basicos 4 dieta popular, além de contribuir para desequilibrar a balanga comercial, eleva o custo dos mesmos, dificultando a sua aquisi¢ao pelas classes mais desfavorecidas. Também a monocultura néo per- mitiu que se desenvolvesse, naquela 4rea brasileira, a indtstria de latici- nios. A manteiga e o queijo vao prin- cipalmente do sul. Em quase tédas as capitais 0 leite é escasso, caro e de ma qualidade, como se observa na Area Amazénica. Até 0 consumo de carne sofreu a influéncia da monocultura, que, na 20- na do litoral, obrigou_a’ pecuaria a recuar para o sertéo. Dai vem o gado para o abastecimento das capitais. Até atingir estas, realiza o gado longas viagens a pée nao descansa no mata- douro 0 tempo necessario antes de ser % Wickard, C. Ri: Report of the Secre- tary of Agriculture, Washington, U.S. Gover- nment Printing Office, 1941, pag. 193. ™ Freire, G.: Casa Grande @ Senzala, Rio de Janeiro, Maia & Schmidt, 1933. abatido. Resulta entdo para 0 consu- mo uma carne nutricionalmente pobre e de custo elevado. A producdo de ovos é reduzida. As frutas nao existem hoje com a fartura que em geral se supoe. Bem signifi- cativo é 0 depoimento de uma inspetora da Bahia: “De longa data, portanto, antes do interésse profissional do mo- mento, que procuro modificar em nosso meio, 4 maneira prejudicial de alimen- tacdo quase exclusiva de carne, feijao e farinha. O que nao sabeis, ‘porém, € 0 que a Bahia nao tem nesse sen- tido. Os legumes aqui siio escassos e carissimos. Escandalosamente caros. Do mesmo modo as frutas, mesmo as frutas especiais aqui do Estado, como a Jaranja, a banana e outras. Hé fru- tas cujos precos sao mesmo inatingiveis para certas classes, como 0 mamao, a manga, 0 abacate e 0 sapoti. Se nao fosse improprio neste oficio, eu che- garia mesmo a citar precos, porque se- Tia curioso, irrisério e mesmo incruel, como se se tratasse de algum pais Jonginquo e ignorado”.”* ‘Um tanto diversa é a dieta do ser- tao nordestino. D charque é substitui- do pela carne de sol, de vaca e muitas ‘yézes de bode, juntamente com rapa- dura e farinha de mandioca. Geraldo Rocha informa que o sertanejo nordes- tino da sub-area do Sao Francisco, que vive fora das margens do rio, tem como “nutricdo basica” a farinha e a carne de sol.” Estudemos agora a outra diea, a Central ow de Influéncia Mineira. Compreende essa area o Estado de Mi- nas (excetuados o Sul e o Triangulo), o Estado do Rio e 0 Espirito Santo. Nota-se ai um abuso no consumo do feijao e do café, 0 consumo freqiien- te do angu e da carne de porco, ao lado da relativa deficiéncia de leite, ovos, legumes, verduras e frutas. O consumo de farinha de mandioca é bem menor do que nas duas areas ante- riores, sendo substituido, em parte, pelo da farinha de milho e pelo angu. Acen- tue-se que a farinha de milho é nutri- cionalmente superior @ primeira, ca- rente de vitaminas e de elementos mi- nerais. A nocividade da monocultura tam- bém se observa nessa area — na zona 8 Fortes, D. C.: Relatério & Comissto de Alimentacdo do Ministério da Educagdo, 1940, Julho, 28 w® Rocha, G.: 0 Rio Sdo Francisco, Sho Paulo & Rio de Janeiro, Comp. Editdra Na- cional, 1940, pag. 37. 908 BOLETIM GEOGRAFICO dominada pela cana de acucar, Em Campos, acentuadamente monocultor, © beribéri —- doencga resultante da falta da vitamina Bl — manifesta-se com freqiiéncia. Fatéres histéricos e culturais in- fluenciaram a dieta da d4rea mineira, contribuindo para as suas falhas mentares. O mesmo exclusivismo eco- némico — a pecudria — a fabricagaio intensiva da manteiga e do queijo em prejuizo do consumo de leite; a explo- racao de um s6 produto, o ouro na época colonial e ainda hoje em zonas mais limitadas, e o ferro esterilizam tédas as fontes de vida. Os colégios localizados em Ouro Préto, Itabira, Concei¢géo do Sérro, mesmo Belo Ho- rizonte, ressentem-se da deficiéncia de leite, verduras, legumes e frutas. Ouro Préto nao possui mercado, faltando-lhe leite, legumes e frutas. Na prdpria capital de Minas, é dificil a, obtencao désses alimentos em quantidades sufi- cientes para os internatos. A cana de acucar no Estado do Rio ¢ 0 café no Espirito Santo séo elemen- tos a que podemos atribuir a ma ali- mentacao da Area Central. Em uma cidade situada na sub-area, de perua- ria mineira, a industria de laticinios absorve a quase totalidade do leite, tor- nando dificil ao colégio local o forne- cimento de % litro diario de leite, a cada aluno. A Area Paulista corresponde ao Es- tado de Sao Paulo e regides de sua influéncia — o sul do Estado de Minas e o Triangulo Mineiro, 0 Norte do Pa- ranaé, e a faixa que acompanha a Es- trada de Ferro Noroeste do Brasil em territério matogrossense até Campo Grande. O que imediatamente surpreende © pesquisador é o acentuado contraste entre esta regiao e as duas anteceden- tes. A dieta torna-se bem variada com © aparecimento freaitente, e, portanto, maior consumo, de alimentos protetores — leite, manteiga, legumes, verduras e frutas. Surgem também alimentos que néo se encontram com a mesma freqiiéncia na dieta de outras regides: os alimentos fritos ~- os pastéis, as batatas fritas, as croquetes e os boli- nhos; as massas sob as mais diferentes formas; e o milho — néo mais como angu, tradicional na dieta mineira — mas constituindo de preferéncia_a po- Jenta. Continua o abuso do feijao, di- minuindo sensivelmente 0 consumo da farinha de mandioca em relacéo ao norte e mesmo 4 zona central, O con- sumo de carne, excessivo, A riqueza e a variedade da dieta paulista devem ser atribuidas 4 poli- cultura que nessa area neutraliza os maus efeitos da monocultura ainda existente em certas sub-dreas da regiao, mais dominadas pelo exclusivismo do café. A imigracdo européia trouxe tam- bém uma contribuicéo importante aos habitos alimentares paulistas com o uso das massas e os alimentos fritos, Tem, portanto, essa drea uma dieta equilibrada, mais rica que a das duas regides estudadas. Melhora resultante do maior consumo de leite, alimento protetor por exceléncia, rico em cal- cio e vitamina A e. riboflavina; da fartura de verduras e frutas — ali~ mentos ricos em calcio, ferro e vitami- na A os primeiros, e boas fontes de vitamina C os tltimos. Isso tornou mais facil o cumpri- mento das determinagées do Ministério da Educacao nos colégios da regiao Paulista. A Comissio de Alimentacio limitou-se, na maioria dos casos, a orlentar a distribuicdo dos alimentos, aconselhando, em outros, a reducdo do consumo ‘dos alimentos fritos, as vézes, excessivo. Besde os tempos coloniais, S40 Pau- lo tem sido a regiéo brasileira mais bem alimentada, atribuindo Gilberto Freire 0 equilibrio da dieta paulista a policultura iniciada no Planalto no pri- meiro séewlo de colonizacao. Esse equilibrio, contudo, diminui de modo sensivel com a proximidade da sub-area de pecuaria do Tridngulo Mineiro, que se tem ampliado conside- ravelmente nos tltimos anos. A nova riqueza representada pela criacio do zebu tornow escasso o leite, que é des- tinado quase todo as crias de raga, com evidente prejuizo para a nutri¢ao hu- mana. O leite, alimento protetor, bem poderia contrabalancar algumas falhas alimentares da populagao. Quanto & inclusio de uma zona matogrossense na Area Paulista, o au- tor, depois de realizado éste estudo, teve a satisfacdo de verificar que o professor Pierre Monbeig também con- sidera aquela sub-area de influéncia Paulista. Diz ésse mestre da geogratia humana que Campo Grande“ merece ser denominada zona de expansio pat- lista”. E’ que a “Noroeste” leva Sao - Paulo ao interior-de Mato Grosso.* As mesmas caracteristieas de va~ riedade e fartura notam-se na Area = Freire, G.: op. cit., pigs. 67 e 68. % Monbeig, P.: op. cit., pag. 95. RESENHA E OPINIGES 905, Colonial, que inclui o Estado de Santa Catarina e grande parte do Rio Gran- de do Sul, especialmente a zona geral- mente denominada “Colonial”, isto é, de colonizacao alema, italiana’ e polo- nesa, hungara, austriaca, ete. O leite, os ovos, os legumes e ver- duras sao ‘fregiientes. O consumo de feijao nao se altera, elevando-se o da farinha de mandioca na area. de Santa Catarina. A carne é consumida em maioryproporeaio. Aparecem elementos novos™ as conservas, o salame, a lin- gitica, a salsicha, e ‘o mel denuncian- do a’ influéncia ‘do imigrante, princi- palmente o alemio. O mel — alimento habitual do indigena — que nao passou a alimentagao do brasileiro, viria res- surgir por influéncia dos colonos euro- pews nos seus atuais descendentes e ainda em brasileiros, imigrados de ou- tras dreas do pais, que ali vivem. Finalmente, a Area de Pecuaria Gaiicha_compreende parte do Estado do Rio Grande do Sul, onde estiio cen- tros importantes como Bajé e Uragua- jana. Comparada & regiao chamada “Colonial”, vé-se que a Area de Pecua~ ria Gaticha apresenta dieta acentuada- mente diferente da encontrada na pri- meira. Especializada na criagio de gado para a producdo de carne desti- nada as charqueadas e aos frigorificos, apresenta consumo excessivo daquele alimento, nao atingido em qualquer outra regio do pais, inclusive a regio aqui denominada “colonial”. Ao mes- mo tempo, verifica-se deficiéncia dos alimentos ‘protetores: leite, manteiga, ovos, legumes, verduras e frutas. E caréneia de leite mais acentuada do que em outras areas brasileiras de pe- cuaria. Salienta-se que ésse consumo demasiado de carne também é observa- do no Uruguai, onde domina o mesmo exclusivismo econémico, como informa o Prof. Fournier.= Nessa rea gaticha, em municipios exclusivamente pastoris, como Bajé, sfio escassos e carissimos os alimentos protetores — leite, manteiga, ovos, le- gumes e verduras. Essas deficiéncias nao podem deixar de agir sdbre o fisico da populacdo, que ha de sofrer as conseqliéncias ‘do consumo insuficiente de elementos minerais e vitaminas. A mesma observacao, alias, foi fei- ta, em fins de 1939, por Gilberto Freire = Fournier, A. R.: Estudio Econémico de la Prodwccidn de “tas Carnes det Rio de ‘la Plata, Montevideo, Petia & Cia., 1938, page 72 e segs.; 116 © segs. ao percorrer a regifio: “Nio nos ilu- damos supondo o gaticho uma popu- Jago de gente sadia e bem nutrida. Em certos trechos do Estado, o exclu sivismo na pecudria criou ‘condic6es semelhantes as criadas pela monocul- tura acucareira no norte do pais. Vi zonas de pecuaria onde o leite, por mais espantoso que isso parega, 6 es- casso e caro, Vi zonas de gado gordo onde morre gente de tuberculose pelos ranchos, habitagées miseraveis que, da- do o rigor do inverno, sao piores que 0s mocambos no Nordeste”.* Em outra regiao 0 mesmo socidlogo observou que “a carne fresca, a carne de sangue, a carne verde , o churrasco é, para gran- de numero, haquelas areas (de pecua- ria), carne de dia de festa; e nao de dia comum. Ja se foi o tempo de des- perdicio de carne fresea, pelo menos pelos pedes”. * : Ja se pode afirmar, com 0 apoio dessa pesquisa e de pesquisas anterio- res, que o Brasil é um pais, na sua maior extensio, mal alimentado, em razio.da monocultura e do exclusivismo econémico, Somente onde a policultura tem conseguido certo desenvolvimento, a dieta apresenta algum equilibrio e variedade. Rui Coutinho * Povoamento Sabemos em elaboracéo no Con- gresso Nacional de uma lei, acérca da colonizacdo e da imigracéo. O inte- résse que tal assunto pode despertar é universal: ao médico, ao militar, ao comerciante, a todos interessa direta- mente ou em suas conseqiiéncias. Sem diivida é uma necessidade, uma grande necessidade mesmo, encara-lo séria- mente. Quer-nos parecer, porém, que tal problema nao tem partido de premissas basicas bem estudadas, nem aleancado as lltimas conseqiiéncias. Dizemos acérea_das premissas ba- sicas porque nao conhecemos inquéri- tos ou estudos similares que fixem nossa verdadeira situacéo no tocante a colonizacao, parte essencial, integrante, insepardvel' da imigracdo, a nao ser aspectos parciais ou muito gerais que ® Freire, G.: “Kntrevista aos Didrios As- sociados”, O Jornal, 1940, fevereiro, 28. = OF G.: “Hutenia e nfo eugenia”, Correio da Manhd, Rio, 1940. 906 esto longe de fornecer dados adequa~ dos para uma solucdo segura. Indis- pensavel é o planejamento, dentro de diretrizes, largas mas bem _assentes de uma politica de colonizagio, da qual, sem diivida, fara parte a imigracao, como um dos elementos, nunca porém como solugao tinica. © que dissemos, nao o temos na conta de novidade, nem sequer para nés mesmos, mas 0 que temos visto e continuamos a ver, nos induz a repetir, na esperanca de acabar sendo ouvido. Antes de mais nada é necessario situar © problema. De que se trata? O Brasil é um pais de densidade bruta de cérca de 5 habitantes por quilémetro quadrado. Para que possa- mos alcancar um lugar ao sol no mundo utilizar e desenvolver o imenso potencial espacial, hidrdulico, mineral, OBITOS DE MENOS DE UM BOLETIM GEOGRAFICO etc., necessitamos duma populagdo grande em quantidade e em qualidade. Dois elementos se impdem desde © inicio, portanto: quantidade e qua- lidade. Quantidade Vejamos inicial- mente o primeiro. Para aumentar o numero, dois processos gerais existe apélo ao meio interno e apélo ao meio externo. . Como temos usado o meio interno, sem duvida o melhor? Vejamo-|p. © crescimento vegetativo é sem duvida a melhor forma de aumentar uma populagéo sem criar novos pro- blemas, pois que o brasileiro nato é um. individuo afeito ao meio geografico e cultural, um brasileiro cento por cento. Temos sabido apelar conveniente- mente para ésse meio? Eis a estatistica que bem caracte- riza o problema, ANO, ENTRE 1942 E 1946 CAPITALS 1942 1943 Manaus. 3 066 3 103 Belém. 5 686 ‘5 644 Sao Luts. 2 613 2 661 ‘Teresina. 2 181 2197 Fortaleza. 6 033 6 194 Natal 1775 1812 Joao Pessoa. 3 000 3 063 Revife. 9 728 9 876 Maceid. ;, 2351 2371 Aracaju, 1 687 Lz Salvador. .. Tm 7731 Vitévia, 1 473 1 509 Nitersi - 3 931 4005 Distrito Federal, 42 209 42 912. Sao Paulo. 30 806 31 631 Curitiba. 3 693 3771 Floriandpolis. 1 484 1492 Pérto Alegre. 6 831 67 Belo Horizonte 5 996 6 303 Goitnia 2 333 2602 Cuiabs. 14d 140 TOTAL GERAL 1944 1945 1946 Totais 3146 3 189 322 | 15 736 5 602 5 559 5517 | 23 008 2700 2157 2805 | 13 545 2213 2 299 2245 | 11 065 6 356 6 518 6630 | 31 7st 1 850 1 887 1 85 99 31% |’ 3189 3252, 15 631 10025 | 1074 | 10 322 | 50 135 230 2412 2433 | 11-950 17 iw 1 806 8 734 7m 7750 7759 | 38 703 156 1 618 7738 4080 4 154 4223 | “20 398 was | 44318 | 45022 | 13 076 32456 | a328t | 34108 | 162 280 38 3 926 4003 | 1928 1 50 1 509 1518 7 504 7087 71m 7283 | 35 288 6 £20 6617 68m | 32 050 2871 340 3410 | 14356 1 408 1492 1518 7-330 758 187 RESENHA EH OPINIOES 07 Ou sob outro prisma: COEFICIENTES POR MIL NASCIDOS VIVOS CAPITAIS 1942 Manaus. 302,90 Belém 189,63 S80 Luis, 230,76 Teresina 501,05 Fortaleza 209,14 Natal 334,81 Todo Pessoa. 295,06 Reeife 292,05 Aracaju 243,48 Salvador, 29,77 Vitoria 211,04 Nitersi 186,11 Distrito Federal 182,22 SA0 Paulo 135,11 Curitiba... 125,28 Floriandpotis 303,06 Porto Alegre 233,48 Cuiabé 228,71 Goisnia 278,83 Belo Horizonte 145,17 Maceié 5 = 1988 1944 1945 1946 240,60 240,90 100,00 206,10 | 267,40 159,60 21200 | 252,90 240,90 62970 | 435,30 404,10 336,00 325,60 403,20 307,30 236,00 229,00 336,50 425,80 280,10 342,40 257,50 216,20 232,50 152,00 152,70 162,70 150,60 125,60 11540 101,50 128,80 154,80 235,70 141,50 7080 157,50 107,30 296,90 (“‘Antepro'eio alterando 0 Fundo Nacional de Pro‘egio & Crianga” julho de 1947) Que podemos resumir citando o relator do mencionado anteprojeto, de- putado Rui Santos: “Morreram nos titimos cinco anos, nas capitais brasileiras, nada menos de seiscentos e cinqiienta e sete mil setecentos e oitenta e sete (6571787) criangas em idade inferior a um ano”. Nem ao menos, para consélo, a situagéo melhora: — de 1927 a 1931: coeficiente de 166,6 por mil; — de 1932 a 1935: coeficiente de 177,5 por mil; — de 1937 a 1941: coeficiente de 180,3 por mil. Podemos, sendo modestos, dizer que em todo o territério brasileiro, perde- mos um milhéo de futuros cidadaos. ‘Nao ereio que nenhuma naeo do mun- do haja alcangado perdas tio severas em nenhum conflito, se levarmos em “Revista do Parlamento",” conta os lucros cessantes que a morte nessa idade representa. Pois. apesar dessa dizimacéio a populacio brasileira cresce. ‘A mensagem presidencial é desa- nimadora nesse sentido: “Entre as cau- sas da mortalidade infantil, algumas derivam, como € sabido, de condigses de vida’ cuja correcdo esté além das possibilidades imediatas da economia brasileira”. E mais além: “Considerado que, no consenso dos sanitaristas, mor- talidade infantil superior a cem por mil nascimentos é sintomatica de mas condicées de organizacao social.” Pomos acima de qualquer diivida © patriotismo da mais alta autoridade brasileira, em problema de tal vulto, de humanidade antes de tudo, mas também patridtico, cultural e écond- mico, porém, tudo justificaria a neces- saria concentragao de esforcos no sen- tido de ao menos encaminhar a solu- (0. Medidas parciais sao apenas ino- perantes. 908 BOLETIM GHOGRAFICO Individuos miserabilizados. Sao os habitantes das “favelas” ou que outro nome tenham, que estéo no ultimo degrau da escala social. Sem duvida, porém séo recuperaveis. Mas, nunca pelos processos sim- plistas que muitos imaginam: embar- ca-los 4 forca para o interior. Poder- se-ia quando muito, deslocar 0 pro- blema. Nao se suponha que sio poucos. Fala-se em centenas de milhares sO na capital da Republica. Somente inquéritos bem organiza- dos e executados nos poderiam dizer quantos sio e o que fazer para re- cupera-los. Aborigenes — Podem ser orgados ainda na casa dos milhdes, ésses homens marginais que alguns abnega- dos tém procurado chamar 4 “civiliza- cao” mas que esta nfo tem sabido e no sabe ainda como reeebé-los, adap- ta-los e utilizd-los. Apélo ao meio externo — Bis um outro meio seguro de aumentar a po- pulacao. Ha a considerar, porém, diver- sos aspectos, sem pér em diivida as vantagens que ofereceram para diver- 808 paises, 0 nosso inclusive, e a exce- lente qualidade de muitos dos imigran- tes, individual ou coletivamente. Falaremos sempre em tese. E’ preciso porém ponderar que “sio os incomodados que se mudam”. Ou em outras palavras, que a melhor parte de uma papulacao qualquer nao emigra. Somente o fazem alguns ambiciosos que desejam melhores possibilidades que os que o meio local oferece, porém a maioria sera de individuos ou fami- lias que perderam a “luta pela vida” em seus locais de origem, ou seja, numa frase mais forte, os’ “relativa~ mente incapazes”. Nao sera, é claro, a nata que iré tentar nova vida em plagas desconhe- cidas, que éles julgam sempre inéspitas. Além de nao ser isenta de despesas, ao contrario, a imigracao para o Brasil esté longe de alcangar os valores que muitos supdem. © mimero de imigrantes que entrou no Brasil entre 1900 e 1939 é de .... 2710377. Ou seja em 40 anos entrow © que perdemos em 15 anos de alta letalidade, apreciados os dados grosso modo e raciocinando sémente com os menores de um ano. Além désses fatéres hd a acrescen- tar o fator “concorréncia” no mercado imigratério. Exemplificaremos com a Italia. De 14 poderao ir para a Argentina, de maio a dezembro, 30000 trabalha- dores, parte agricultores, parte espe- cialistas da industria (mecanicos, téx- teis, ete.). Os especialistas com salario médio de 10 pesos didrios, 0 que per- mite uma economia mensal de 170 pesos. Os agricultores com o saldrio médio diario de 6 a 7 pesos, mas com possibilidades de alcancarem no futu- ro otima situagao. A Franga receberé 200 000 trabalha- dores dos quais 25000 mineiros com salario diario de 500 francos. A Bélgica absorvera 30 000 mineiros, oferecendo diversas vantagens, entre as quais 3 a 5 toneladas de carvao por trabalhador emigrado. A Checoslovaquia e a Inglaterra também oferecem sélidas vantagens. Quanto ao Brasil, diz a revista Italiani Al Estero, ntimero de marco de 1947; “Sono infine al Studio alcune limi tate possibilita imigratorie verso Vene- zuela, il Brasil e la Polonia”. Em outro artigo, sob o titulo “O Brasil atravessa uma crise”, ha os se- guintes conceitos: “O ano de 1947 se inicia sem que 0 povo brasileiro e numerosos estrangei- Tos aqui residentes possam ver o sinal precursor de proximo fim da crise que ha algum tempo atravessa o pais”, Mais além: “O Brasil tem uma economia agri- cola que nao esta mais em condigoes de satisfazer as exigéncias atuais”, “E’ necessario que a “fazenda” seja modernizada, abandonada a monocul- tura, sejam aplicadas as normas racio- nais’ introduzidas em todos os paises. Renovar-se ou morrer. Tal 6 0 dilema”. Qualidade — Vejamos 0 aspecto qualitative. © brasileiro é uma afirmativa qua- se segura do ponto de vista cultural. Podemos fazer déle um técnico? A opinido de um membro da Mis- sao Técnica Americana é interessante: “Perfurei pogos em todos os Esta- dos Unido$ e em diversos lugares da. Europa, e éste conjunto de 900 homens RESENHA E OPINIOES 908 que temos aqui na.nossa félha de pa- gamento eu o coloco acima de qual- quer outro que eu ja tenha tido”. Mais adiante: ‘Tenho um sondador que eu gos- taria de Ihe mostrar. E’ um perito tao bom como os que vieram. Ha 4 anos passei_na estrada, voltel e contratei seus servicos, tirando-o de uma chou- pana. Duvido que tivesse ganho mais do que 5 cruzeiros por dia. Agora tem 28 anos e se tornou um mestre. E’ aler- ta e apresenta-se tio bem que vocé o tomaria por um estudante. Vocé tem de respeitar tal gente. Poderia dar-lhe outros exemplos. Venha ao nosso al- moxarifado. Veja estas prateleiras. Agrupamos aqui, 14000 pecas de equi- pamentos, instrumentos e sobressalen- tes. Os homens encarregados déste es- toque, como todos os demais, nés os apanhamos nas ruas, h4 quatro anos. Hoje, quando procuro qualquer um dés- tes 14000 itens em inglés, nao na sua lingua, nao em portugués, mas em inglés, posso contar que receberei o material sem um érro. Isto confirma o que Ihe disse. Dou volta & cabeca e imagino que, para éles fazerem o que fazem, devem aprender e entender 20 000 ‘palavras inglésas”. Podemos alcangar, portanto, no meio interno, a qualidade desejada. Sem duvida, haverd necessidade de buscar individuos especializados em determinados setores. Essa _obten¢io s6 poderé porém ser “nominal”, digamos, nunca ao aca- so de sobras. Esses individuos deverdo ser con- tratados com nitida finalidade. Concluséo — Qual nossa situacdo? Oucamos a mensagem presidencial: “A alta concentracio da proprie- dade agricola explica, outrossim, o bai- xo salario do trabalhador rural, a m& utilizacio da terra no Brasil, o atraso da mecanizacéo agricola, o ‘espantoso desperdicio das energias humanas, a nao fixagdo do homem 4 terra, a mes- quinhez do nosso mercado interno, o deslocamento demiografico para as ‘ci dades, a diminuta densidade de trafe- go das nossas estradas de ferro, a im- pressionante degradagao de nossos so~ Jos agricolas”. Essa_situacéo é confirmada pelo fato de imigrantes nio demorarem 24 horas em fazendas de Séo Paulo, que- rendo regressar imediatamente, apa- vorados pelo estado de coisas encon- trado. Nao poderemos, portanto, conseguir 0 que de melhor houver em imigrantes se nao Ihes pudermos oferecer um ni- vel de vida razoavel. Se o pudermos fazer para o estran- geiro, porque nao fornecé-lo ao nacio- nal? Na realidade, sé 6 possivel elevar ésse nivel, para uns e outros, se con- seguirmos aleancar melhores condigées. Justifica-se, portanto, a maxima concentragio de meios para enfrentar problemas de tal monta. Téda disper- sao é prejudicial. Nao nos move nenhum jacobinis- mo mas perguntamos, quanto custa cada imigrante? Quanto custa cada vida brasileira? E no caso, ja acontecido, de imi- grantes, digamos téxteis, ficarem sem trabalho? Que fazer déles? De qualquer forma, o problema tem aspecto geral e raizes profundas sem apreciar um e atingir outras, nao é possivel uma solugio légica e vantajosa. Capitao Amauri B. de Lima * Limites interestaduais e 0 Conselho Nacional de Geografia Sob o titulo acima escreveu, recen- temente, para o Jornal do Comércio o comandante Thiers Fleming, consultor- téenico do Conselho Nacional de Geo- grafia, o seguinte comentario: “As questdes de limites entre os Estados, perturbando a unidade nacio- nal, tem trazido graves preocupacoes a administracdo para evitar seus males. Felizmente estao quase todas extintas, e, de trinta que eram, em 1947 restam, para ser resolvidas, apenas trés. A célebre questo do Contestado que quase trouxe a guerra civil entre Parana e Santa Catarina, foi resolvida por acérdo direto, pelo grande brasi- leiro Dr. Venceslau Bras, gracas ao patriotismo de Filipe Schmidt e Afonso Camargo, governadores dos dois Esta- dos, Nunca é demais relembrar-se 0 nobre proceder de Santa Catarina, com trés acérdaos do Supremo Tribunal Fe- deral, a seu favor, cedendo ao Parana, que 0 desbravara’e colonizara, grande parte do seu territério e respeitando as populagées paranaenses. m0 BOLETIM GEOGRAFICO Resolvido éste caso, o mais dificil, surgiv a idéia de resolver os demais e celebrar-se 0 centenario da Indepen- déncia em 1922, com a completa “regu- larizagao das fronteiras interestaduais”. © Congresso de Geografia, em Belo Horizonte, em 1919, celebrou 6 acordos diretos e a Conferéncia de Limites In- terestaduais no Rio de Janeiro, em 1920, convocada por Epitécio Pessoa, celebrou 6 acordos diretos e 7 por ar- bitramento. No Supremo Tribunal Fe- deral houve patridtico movimento para o julgamento das questées a éle sub- metidas. Mas, pela Constituicao de 1891, 0 processo de resolvé-las era lon- go, dependendo de duas aprovacées nas Assembléias Estaduais e aprova¢ao final do Congresso Nacional. A Cons- tituicdo de 1934 simplificou o processo, mas a Constituicdo de 1937, reconhe- cendo direito de posse e jurisdicao, permitiu a regularizacio das questées de fronteiras interestaduais, acabando com as questées de limites. A feliz e patridtica criagdo do Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Esta- tistica, do qual faz parte o Conselho Nacional de Geografia, entre os seus relevantes servigos, se destaca o de li- quidacéo destas questiimeulas de’ limi- tes, com a demarcacio das fronteiras dos Estados confinantes. Assim é que, com 0 auxilio do Con- selho Nacional de Geografia, foram ul- timadas as solueées dos casos: Minas com Rio de Janeiro, Sao Paulo, Goids e Bahia; Pernambuco com Alagoas; Maranhio com Piaui e Goids, e Bahia com Piaui e Golds. E também, estéio sendo demarcadas outras fronteiras interestaduais. Infelizmente ainda trés Anualmente o Conselho aspectos geograticos mani ‘geograficos, seus levantamentor io €asos pendem de solugao: 0 de Minas- Espirito Santo, que somente o Supremo Tribunal Federal podera resolver, como os fatos tem demonstrado e os de Pa- raiba-Rio Grande do Norte e Amazo- nas-Para. A questéo Paraiba-Rio Grande do Norte, perturbada pelo padre Luis San- tiago, incitando as camponesas ao pro- testo’ do acérdo com o Rio Grande do Norte, podera ser resolvida imediata- mente, pois a divergéncia é no fim da linha ‘fronteirica. Eo eminente pro- fessor Pereira Lira, que tao importante papel representou’no trato das ques- t6es de limites ao elaborar-se a Cons- tituigdo de 1934, poderd prestar seu auxilio neste caso’e no do Amazonas- Para. Em recente sesso no Instituto His- térico e Geografico Brasileiro, 0 con- frade Christovam Leite de Castro, se- cretario-geral do Conselho Nacional de Geografia, expés, em brilhante sintese, os servicos deste Conselho, no ano de 1946, referindo-se de modo geral, ao trabalho de regularizacio das frontei- ras interestaduais, que tenho o feliz ensejo de analisar. Urge, agora, que os Governos dos Estados, que ainda necegsitam de bem definir ‘as suas fronteiras, recorram no so ao Servico Geografico do Exér- cito como também ao Conselho Nacio- nal de Geografia. Mais uma vez repito, entre os servicos de Getiilio Vargas ao Brasil, néo poderemos deixar de incluir a criacdo dos Territérios Federais e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica”. Thiers Fleming 1 de Geografia realize um concurso de monografins de ais, com direito a prémlos, Concorra com os seus estudos 8 documentacho, Contribuigdo ao ensino Sugesties didéticas em térno de um livro: “Introducdo a Antropologia Brasileira’-II vol.* Prof, LéA QUINTIERE Da Secgio Cultural do C.N.G. © bom éxito de uma aula é funcdo de varios fatéres, entre os quais o da motivacdéo adequada de que lanca mao o professor. Entretanto, nem sempre 6 facil conseguir-se esta motivacdo, que depende do assunto a ser explanado e.do desenvolvimento mental dos alunos. ‘Tomemos um exemplo: © estudo dos grupos humanos, nos programas de Geografia nos cursos ginasial e colegial, é iniciado com as nog6es introdutérias de distingdo entre raga, etnia e mesticagem. Por envolver conceitos e definicdes, muitas vézes divergentes, torna-se dificil apresentd-las sob forma simples e agradavel que desperte a atencdo e o interésse dos alunos. A necessidade da motivacdo didé- tica variara de acérdo com as séries. No curso ginasialj no 1.° ano, onde as nogées sio simples, basicas, estruturadas e, até mesmo, no 3.° ano, quando se aplicam éstes conhecimentos ao estudo das populacées brasileiras, pode-se, com sucesso, utilizar-se os bustos representando os caracteres somaticos das trés principais racas. Ja no 3° ano colegial, éste material didatico torna-se incoerente e quase sem interésse para o espirito mais amadurecido do adoles- cente, capaz entdo'de encarar os assuntos raciais sob 0 aspecto de problemas da colonizagéo no Brasil (It unidade). Como motiva-los pois? ‘Seguindo o programa oficial, o professor, depois de estudar o histérico das correntes imigratorias e a influéncia sdbre elas exercidas pelos dispositivos legais do passado e do presente, passaré 4 segunda sub-unidade intitulada: Os elementos étnicos, os contingentes estrangeiros. De acérdo com os objetivos déste mesmo programa, as aulas devem ser @adas de modo a apresentar questdes, debater-se opinides de alunos e professor até chegar-se a uma ou mais conclusées finals. E’ comum, durante éstes debates, © professor encontrar em sua turma diferentes tipos de alunos: uns com preconceitos de superioridade e inferioridade raciais, outros com mé compreen- 840 do assunto, outros ainda, que nao percebem a importancia do problema que esto estudando. Cabe ao mestre a escolha de um livro cientifico que, como tal possua opinides imparciais, que sirva de base, oriente e instrua os alunos. Para a unidade referente & colonizagio no Brasil, pode-se sugerir o II volume da Introdugdo a Antropologia Brasileira do Prof. Artur Ramos, publicado pela Colecao Estudos Brasileiros da C.E.B., Rio de Janeiro, 1947. ~~ _N. da R, — Introducdo @ Antropologia Brasileira — Prof. Artur Ramos — Colegio Estudos Brasileiros da Casa do Hstudante do Brasil — Rio de Janeiro — 1946. (Trata ésse segundo volume das culturas européias e os contactos raciais e culturais). 1.¢ ano Ginasial — Os grupos humanos — Populagdes, racas 8.2 ano Ginasial — A populacio brasileira 3.0 ano Colagial — Problemas da colonizagio: 1) Histérico da imigragio — dispositivos atuals sobre colonizagio 2) Os elementos étnicos; os contingented estrangeiros. a2 BOLETIM GHOGRAFICO Ai, entre varios capitulos onde sio estudadas as caracteristicas antropolé- gicas dos diferentes grupos humanos que tiveram e tém influéncia na formagdo de nosso povo, os contactos destas racas através do processo de mesticagem, encontra-se o importante capitulo da Andlise Cientifica do Problema da Mesti- gagem no Brasil. Este livro pode ser _usado ainda, como elemento motivador. Com habilidade © professor poder4 pedir varios trabalhos interessantes, exercicios inteligentes que despertem a atencao e mantenham vivo 0 espirito de seus alunos. Sugere- se, entre éstes trabalhos, a leitura analitica déste capitulo e J seu respectivo esquema, salientando a idéia principal e frisando a conclusdo final do autor. © aluno’ apresentar4 o trabalho, mais ou menos, da seguinte forma: Titulo: Andlise Cientifica do Problema da Mesticagem no Brasil Introdugio: Variedade de critérios e métodos Imparcialidade da observacdo cientifica Desenvolvimento: I. Andlise dos dados: a) ordem histérica: dados individuais dados coletivos b) tratamento estatistico: — verificacio dos indices de variacéo — conclusées sébre a homogeneidade ou nao dos tipos examinados. II. Estudo dos elementos de mesticagem: a) classificagdo das ligacdes entre branco, indio e negro. b) estudo dos caracteres genealégicos do branco, indio e negro: fe- cundidade, longevidade, vigor hibrido. ¢) estudo dos caracteres somaticos. Os preconceitos raciais. II. Andlise dos tipos mesticos: a) idéntico valor histérico (bandeirantismo) e econémico (atividades econémicas do litoral e do sert&o) . b) estudo dos caracteres genealdgicos dos tipos mestigos. Dados estatisticos e conclusdes. ¢) estudo dos caracteres somaticos. Resisténcia fisiolégica 4s doencas. Morbilidade e mortalidade. d) consideracées a respeito dos caracteres morais e psiquicos. Conclusées: — Tendéncia para a homogeneidade fisica dos grupos: mestigos (braquicefalia) — Mestigagem fator de aclimatagao Idéia central do autor: Igualdade dos tipos formadores de mesticagem e dos tipos mestigos em idénticas condi¢des e oportunidades Pode-se, também, pedir em anexo a opiniao do aluno s6bre o livro, de modo a ir desenvolvendo o julgamento pessoal e a sua personalidade. E’ evidente que cada aluno apresentara uma esquematizacdo diferente, de acérdo com a assimilagéo prépria do assunto lido. Muitos acharao, dentro da divisio principal, sub-divisdes que para outros passaréo despercebidas. E’ possivel mesmo, que alguns nao distingam a conclusdo final, de modo que nao 8 assinalem. © professor, de posse déstes trabalhos, poder4 confronta-los, esclarecer diividas, criticd-los. Esta apreciac&o poderd ser feita, também pelos proprios colegas sendo, neste caso, complementada pela palavra do mestre. CONTRIBUICAO AO ENSINO 918 Outro trabalho interessante, que o professor pode pedir aos alunos é a transcrigéo das conclusées parciais encontradas no capitulo, agrupando-as em ordem. Por exemplo: De ordem histérica: a) Na bandeira, operou-se, portanto, um intenso processo de miscigenacio. Brancos, indios, mamelucos, negros, mulatos, cafusos:.. todos contribuiram Para a obra comum. A exaltacio do mameluco neste movimento histérico deve ser completada com o reconhecimento do papel dos grupos de cér: Negros e seus mestigos varios. De ordem econémica: a) A mao de obra do negro e seus mesticos possibilitou a riqueza de toda uma fase da historia econdémica do Brasil. O papel do mulato nas areas litora- neas corresponde assim ao papel do mameluco e do caboclo nos movimentos sertanejos. De ordem antropoldgica: a) Tendéncia para a homogeneidade dos grupos mestigos no Brasil, em vista da pequena variacao dos indices pesquisados. b) Ha uma tendéncia 4 braquicefalia no negro e nos seus varios grupos. ¢) Nao ha psicologia diferencial das ragas humanas e sim uma psicologia diferencial da personalidade cultural. d) Através de todas essas pesquisas incompletas e fragmentarias, podemos verificar que a mesticagem nao acarreta nenhuma “degenerescéncia” ou perda do vigor biolégico. Muito pelo contrario, ela é fator da formacao de fenotipos resistentes, de relativa homogeneidade que estao possibilitando a construcéo de uma civilizac&o nos trépicos. e) As grandezas e misérias do homem brasileiro, de qualquer matiz epi- dérmico, sio injungoes e resultados de miltiplas influéncias que nada tém a ver com a raca. 1) 0 estudo da mesticagem fisica tem que ser corrigido e completado com o da “mestigagem cultural”, neste vasto capitulo da antropologia que hoje chamamos aculturacdo. Sugere-se ainda como exercicio motivador o da leitura, em classe, de um trecho do capitulo. E’ evidente que éste trecho deve ser escolhido, preliminar- mente pelo professor, atendendo tanto a clareza do estilo como & profundeza da idéia do autor. E’ 0 caso do trecho da pagina 451: “A alegacao da inferioridade do mestigo do litoral esté por seu lado, sujeita a correcées. Em primeiro lugar, essas pretensas inferio- ridades, quando existem, esto ligadas a miiltiplos fatores deficit: rios de meio social, como temos destacado.'Em segundo lugar, foi ésse mestigo do negro que possibilitou a criacio da economia agraria, nas varzeas do nordeste e nas plantacées cafeeiras do sul. A mao de obra do negro e seus mesticos possibilitou a riqueza de téda uma fase da histéria econémica do Brasil. O papel do mulato nas areas litoraneas corresponde assim ao papel do mameluco e do caboclo nos movimentos sertanejos. Nao ha razdes histéricas para subestimar uns ¢ exaltar outros. A evidéncia histérica traz argumentos favora- veis a ambos os casos da mesticagem: do branco com o indio, como do branco com o mulato, permitindo a formacdo de fenotipos mesti- gos resistentes que deram a base étnica para os nossos feitos histéri- cos. Os grupos “incapazes”, “degenerados”, “neurasténicos”... quan- do existiram, deveram essas qualidades negativas aos fatéres milti- plos de alimentagao, meio social, condi¢des econdmicas, em suma, um complexo de fatores culturais, com que a “raga” nada tem a ver.” a4 BOLETIM GEOGRAFICO Terminada a leitura, feita ou pelo professor ou por um aluno, deve aquéle formular diversas perguntas, de modo a permitir o esclarecimento de duvidas e a verificacdo do grau de compreensio dos alunos. Caso seja necessdrio, o trecho escolhido deve ser relido apés estas explicacées. © professor pode, também, dividir a turma em dois grupos para a leitura de livros idénticos ou de opiniGes contrarias. Neste caso, haver& duas correntes de opinides que, chocando-se, provocaréo a troca de idéias. E’ o processo didatico da discussio socializada. Entretidos nesta luta mental € sob o contréle orientador do professor, os alunos estaéo prontos a colaborar com éle e a realizar os trabalhos e exercicios. © mestre tera resolvido assim dois importantes obstaculos: 0 da motivagio dos alunos e o da apresentacao da matéria, antes considerada desinteressante. Ele estard pois de parabéns porque seguiu a grande diretriz da didatica moderna: a colaboracao, a participacio real e concreta do aluno com o professor. de Documentacio Geograticn do Conselho Nacional de Geografia 6 completo, compreendendo Biblioteca, Mapoteca, Fototeca © Arquivo Corografico, destinande- te & guards de documentos como sejam inéditos e artigos de jornais. Envie so Conselho qualquer documento que possuir sobre 0 territério brasileiro. Cadastro de Proiesséres de Geograiia* E Ge Organizado pela Secgao Cultural do C. AMAZONAS Manaus — Colégio Masculino Dom Bésco — Prots.: Pe. Luis Venzon; Pe. Rafael Cordani; Augusto C. dos Santos. BAHIA Salvador — Gindsio N.S. da Soledade — Prof.*: Me. Maria Luisa da Cunha Freire. Gindsio Séo José — Prof: Ir. Maria Cecilia d’Assuncio. Senhor do Bonfim — Gindsio Sagrado Coracdo — Prots.: Marius Joseph Bontou; J. Evangelista C, Alencar. CEARA Fortaleza — Gindsio Americano — Profs.: José Cavalcante Nobrega; Boanerges de F. Sabdia. Gindsio de Fortaleza — Prots.: Gerardo Hugo de Lira; Pe. Arquimedes Bruno. Gindsio Farias Brito — Prots.: José da Silva Nogueira; Manuel Airton Silva. Gindsio Santa Cecilia — Profs.: Almerinda de Albuquerque; José Maria Cruz Andrade. Baturité — Gindsio Domingos Sdvio — Prof.: Pe. Aunino Caracciolo. Guaramiranga — Gindsio Sagrado Coragdo de Jesus — Prots.: &dison Gomes Silveira; Angélica Fiquene. Juaizeiro — Gindsio Salesiano S. Jodo Bésco — Profs.: Pe. Joao Damasceno. Sobral — Gindsio Santana — Prof.#: Ma. Alba Oliveira Moreira. DISTRITO FEDERAL Colégio Andrews — Profs.: Abel Pinto; Alcias Martins de Ataide; Luis Sebastido Furtado Mendes; Edgar de Azevedo Neto; Joao Carlos Fernando Cantuaria. Colégio Anglo-Americano — Prots.: Alba Saltiel; Celso Honério; Atila Barreto; Renato Azevedo. Colégio Bennett — Profs.: Azeneth de C. Goncalves; Isaida Bezerra. Colégio Companhia Santa Teresa de Jesus — Profs.: Anténio F. de Almeida; Maria Celeste Marcal; Maria de Lourdes Freitas. Colégio Interno Sacré Coeur — Profs.: Irene Ferreira; Marina Bandeira; Flavita Lyza da Silva Bona Amorim; Regina Azevedo; Maria da Gloria Rodrigues; Cecilia Lisboa. Colégio Melo e Sousa — Profs.: Carlos M. Canto; Luci Abreu R. Freire. Gindsio Central do Brasil — Profs.: Ligia Novais de Luca; Olga de Abreu e Lima; Liverman Martins; Peri Henriques; Carlos Afonso Contreiras Agras. Gindsio Companhia de Maria — Prof.: Leénidas Alves Lorentz. Gindsio Cruzeiro — Profs.: H. Segadas Viana; J. C. Soares de Oliveira. Gindsio Haddock Lébo — Profs.: Rute Matos Almeida Simées; Anténio Teéfilo da Cunha. + Respostas enviadas A Secco Cultural no perfodo de 6 de setembro a 5 de outubro do correate ano. 916 BOLETIM GEOGRAFICO Gindsio Melo e Sousa (Fem.) — Profs.: Artur Serra F.9; Isaida Bezerra Gindsio de Sao Cristévéo — Profs.: Taciel Cylleno; Ambrosina Rodrigues da Silva; Mério Albuquerque Leite; Jovelina Marques de Sousa; Eli Campos de Oliveira; Palmira dos Santos Maximo; Washington Pinto da Silva; Bento Pedreira da Costa; Maria Celina de Aratijo Cylleno. MARANHAO Sao Luis — Colégio Estadual do Maranhdo — Prots.: José do N. Morais; Maria de Jesus Carvalho; Maria José S. Freitas. PERNAMBUCO Recife — Colégio Marista — Profs.: Joio Ribeiro de Oliveira; Tadeu Rocha; Augusto Bauer. Colégio Nébrega — Profs.: Dacio de Lira Rabelo; Silvio do Régo Barros ‘Mesquita; Andrelino Lopes de Meneses. Colégio Sdo José — Prots.: Ma. Isabel de Sousa; Ma. Selva Landim; Ma. Dina Melo; Armia Escobar; Nise Vieira; Lucia Terro Costa Gindsio da Madalena — Prof.: Merval A. Jurema. Caruaru — Gindsio Sagrado Coragdo — Profs.: M, Fernandes Arattio; M. Indcia ‘aledo. Garanhuns’— Colégio 15 de Novembro — Profs.: Uzzae Canuto; Placido Moreira Santos. Gindsio Municipal Diocesano de Garanhuns — Profs.: Pe. Adelmar da Mota Valenca; Ma. Geraldina Miranda; Arlinda da Mota Valenca; Asnar da Mota ‘Valenca; Elzira Pernambuco; Manuel Lustosa dos Santos: Pe. Tarcisio Falcao. Nazaré — Gindsio Santa Cristina — Profs.: Me. Sofia Torre Galindo; Me, Per- pétua Carvalho Costa. Olinda — Colégio Santa Gertrudes — Profs.: Me. Conceigéo Dias; M. Imaculada ‘Aguiar; Ir. A. Odila Maroja. Pesqueira — Gindsio Cristo Rei — Profs.: Pe. Joao de Sousa Lima; Pe.. Olimpio ‘Torres; Pe. Augusto Carvalho. PIAUL Teresina — Colégio Estadual do Piaui — Profs.: Lisandro Tito de Oliveira; Joao Rodrigues Vieira; Delfina Borralho Boavista; Francisco da Cunha e Silva Floriano — Gindsio Santa Teresinha de Jesus — Prots.: Moema Frejat; R: munda Silva Carvalho; Josefina Demes; Fernando Lopes Sobrinho: Zélia Martins da Rocha. RIO GRANDE DO NORTE Natal — Gindsio Imaculada Conceigdo — Prof.“ Tarcila de Vasconcelos Moura. RIO GRANDE DO SUL Sao Borja — Gindsio Municipal de Séo Borja — Prots.: Angelo Boanerges Alves Ferreira; Davi Thiegel Neto. Uruguaiana — Gindsio N. S. do Hérto — Profs. Pietrina Cestra; Delfina de ©. Moura; M. do Horto A. de Oliveira; Ema Bela Casas. Vacaria — Gindsio Sdo Francisco — Profs.: José B. D. Gallas; Augusto Sehnem; Afonso Vitor Scolaro; Pe. Luis M. Lovatel. RIO DE JANEIRO Campos — Gindsio Batista Fluminense — Profs.: Benjamim Lenz de Araitjo César; Evangelista Guedes; Célia Drummond; Josélia Seabra. CONTRIBUICAO AO ENSINO 917 Petropolis — Colégio Notre Dame de Sion — Profs: Maria Pereira; Maria Amé- lia Veiga de Oliveira; Ariadna Azevedo; Marina Junqueira Schmidt; Maria Geoffroy; Maria Madalena de Aguiar. SAO PAULO Sao Paulo — Colégio So Luis — Profs.: Joaquim Alfredo da Fonseca; Orlando Alvarenga Goudio; Alfredo Gioso, Gindsio Eduardo Prado — Prots.: Alfredo Gioso; Levi Chequer. Gindsio Vera Cruz — Profs.: Alfredo L. dos Santos; Jévis Santos Carvalho; Oséias Martins; José Salim Abdalla. Santos — Colégio Estadual de Santos — Profs.: Maria da Fonseca; Maria de Lourdes Salette. SERGIPE Aracaju — Gindsio Sdo José — Prof.* Benedita da S. Pereira. ESCOLAS TECNICAS DE COMERCIO MATO GROSSO Campo Grande — Escola Técnica de Comércio Carlos de Carvalho — Prots.: Rafael Gioia Martins; Luis Alexandre Oliveira; Joao Calixto Bernardes. MINAS GERAIS Belo Horizonte — Escola Técnica de Coméreio Anchieta — Profs.: Hamilton Leite; Francisco L. G. Soares; Anténio Ribeiro Guimaraes; Geraldo Sardi- nha Pinto; Pedro Paulo Kréling; Amaro Xisto de Queirés. Guaxupé — Escola Técnica de Comércio Sao José — Profs Fernandes Leao; Espir Filipe da’ Silva; Vini Yunes. Juiz de Fora — Escola Técnica de Comércio do Instituto Granbery — Prots.. Jiilio Camargo; Walkyrio de Faria. Escola Técnica de Comércio de Juiz de Fora — Prof.: Raimundo de C. Matos. Nova Lima — Escola Técnica de Comércio do Liceu Imaculada Conceigéo — Prof.: Anisio Alves Vilela. Artur Augusto ius Eclissato; Jorge Davi RIO DE JANEIRO Niteréi — Escola Técnica de Comércio Brasil — Prots.: Adail Coelho dos Santos: Lealdino Soares Alcantara. Entre Rios — Escola Técnica de Comércio de Entre Rios — Prof.: Clodoaldo de Carvalho. (continua) (RGF Asualmente o Consclho Nacional de Geografia realiza um concurso de monoxrafias de aspectos geogrificos municipais, com direito a pre Concorra com os seus estudos geogriticos, seus levantamentos, sua documentacao.

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