Você está na página 1de 6
PROCESSO SAUDE-DOENCA E TRABALHO LELIA MARIA MADEIRA * MARILIA ALVES MADEIRA, LM ALVES, M. Proceso satide-coenca e trabalho. Semina: Gi, Biolégicas/Saude, v. 17,1. 2, p. 184-169, jun. 1996. RESUMO: Pertindo-se das idéias contidas no texto basico de Infante & Alvarez (1991), sobre 0 proceso satide- doengae trabalho, as autoras prop6iem analisaro proceso savide-doenga como fendimeno soci relacionar 0 proceso do trabalho com 0 procosso satide-doenga @ analisar as implicagées do trabalho sobre 0 proceso satido-doonca. Destacamas concepeies lebrico-filosolicas postivista 2 marxista que, a0 iongo da hist0ria,irao determina o tipo de Sociedade 0 a concopeao do procesco catide-doenga num detsrminado tompo e espace. Discorrem sobre 0 trabalho como atividade humana basica, com impicacdes diretas no proceso s: produpéo-reproducao, uide-doenga decorrentes das relapdes de PALAVRAS-CHAVE: Procosco catido-doonea; Trabalho; Proceso de produgao-reprodugéo. INTRODUGAO. A concapedio do procasso satide-desnga om. nossa sociedade sempre esteve € ainda eslé vollada para o¢ aspectos biclogicos, individuals. Hé mais ou menos 3 décadas iniciaram-se os questionamentoso porto de vista enistemoldgico sobre este paradigma na érea da setide. Observa-se apartir dai, a introdugao das Ciencias Socials numa area que tradicionalmente pertoncia A Epidorriologia, Questiona-se a incapacidade da medicina, apesar de seus avangos tecnologieos, para resolver tedrica e pratica ments 03 principais problemas de satide os paises capitalisias industrializados, dando inicio a procura do oxplicagdos para ss doongas fora da esfera. biologica, fazendo-se incursoes no psicaldgico e no social (Uni S20 Carlos da Guatemala, 1979) Através de leituras perceve-se que a aplicacao ‘cas Ciencias Socials satide traz consigo dilemas ainda no resolvidos da propria drea, sendo os mesmos transpostos paraa sade. Com isso corte-se 0 riscode 0 fazer uma mictura eclética de conceitos, somando- se coisas que, rmuilas vezes, do insomaveis, Por gua vez 0 trabalho, entendido come uma atividade humana bésica, tem implicagées diretas sobre © processo satide-doenga, através das relacoes de produgao-reprodugao, (O modo de produgao capitalista vai organizer o trabalho 0 a vida das possoas eogundo as detorminagées © Prot fm Enlowagam Pesiatres ~ Prolessor Assistenta da fem Asmnistagan or Adjunta da Escola de Enfermagom dsl UFMG, ovtoranda om Eréormagem && Eecola de do capital, defirindo assim, os modes de producso: reproducéo que condicionam tanto as contradigdes que geram os estados marbidos como a capacidade do Prevenir, suprimir ou controlar a ecloséo dessas contradigoes (Singer et al, 1881) Neste sentido, o presente estudo pretende: analisar 0 proceso satide-doenga como fenomeno social: relacionar 0 proceso de trabalho com © proceso satlde-doenga; analisarasimplicagées do trabalho sobre o proceso satide-doenca, SOCIEDADEE PROCESSO SAUDE-DOENCA Infante & Alvarez (1981) ao discorrerem sobre o proceso sallde-cicanga cama fanomeno sociaimente determinado, contextualizam o homem como um ser social, ou Soja, um ser no apenas bioldgico mas construide socialmento. Ao mesmo tompe aprosoniam © positivismo € 0 marxismo como 2s correntes tilosoticas explicativas de diferantes tipos de sociedade que, por sua vez, irio influenciar a concepeao sobre 0 provesso saude-doenga: Positivisma Concepeao organicista -cada individuo tem uma fungao e a sociedade 66 subsisto gracasa unidade Hfarmagom da USP. Me ola de Enfermagem da IFRIG, Doutoranda em Enformagem da Escola de Enfxrmagen da USP, Mestre 164 os pariicipantes. A sociedade é uma espécie de contexto inter-humano nao todos depencem de todos. Coneapedo mecanicisia - a seciedade 6 vista ‘como 0 conjunta das relagoes do homem com seus semelhantes, cuja conduta tem suas eausas em elementos exieriores, sem considerar as contradgces existentes na sociedade © as cposigties entre gupos sociais com seus conflitos @ tensdes. Masismo Detine a soviedacie como urna estrutura que tem. suas bases em dos tipos de relacdes que davem ser entendidas como © conjunto das contradigées que afotam a estrutura organizativa e a estrutura de poder da cocedade: 8 relagao do homem com as evisas ou seia, coma natureza, para os efoltos de produgae queé 9 conecito de forgas produtivas, 2s relagGes do homem com outro homem ou soja, as relagdes des homens entre sino processe produtivo que é 0 conceito de relagées sociais de producao, As relagdes des forges orodutivas com as relagdes sociais do produgao constituem as condigéies. de producao da estrutura sconémica 0 social, “Como 0 ato de produzir ¢ essencialmente social, ele dé lugar as relagdes entre os partifpantos do processo produtivo © enire estes © os que dele Usufuem. Dasrelacies saciais, as relacéasde producto constituem 0 cerne a partirdo qual as demais relacoe vao se constitunco e transformando” (Singer et al. 1961), © processo do produgao implica em reprodupaio no sentide da reposieo continua das bases sobre as qusis Aprodugao se dé, ‘Como se percebe na concapeaa positivista de sociedade o meio determin o individuo; este sa torna um mero recentéculo das influéncias sociais, enquanto que a concepeao marisa inclui o homem no interior das foreas produtivas; hd uma influéncia mutua entre ambos, 0 homem se moditica © 6 modificaco pela sociedade, AS relactes dos indivicues entre sie coma Sociedade leva-nios a ver 0 proceso salide-deenga dentro do contexto destas relacdes, com diferentes imorpretagoes da saude, dependendo da concepgao tedrica implicita nas relacdos sosiais e na sociedede, A salide, enquanto objeto do estudo, tem se rastringido & medicina tradicional, astande fertemente arraigada & concepcao positvista, Em seus primdrdios a medicina ockiental so Pautava em priticas de cura Iradicionais e populares, ‘Com a revolupao cartesiens ocorre uma mudanga mareante om suahistéria, A diviséio de Descartes (sec XVII) entre corpo © mento, lovou os médicos, segundo Capra (1982), a 8e concentrarem na maquina corporal ‘com seus 6ig0s funcionando em perfeita harmonia para constituirem, assim, 0 ser biolégico pertencentea ma espécie dentto da taxonomia zoologica. O avango do capitalismo no sae. XIX exta um nove quadro nosoligica ne qual predominavam as doeneas infecto-contaciosas. Esta ocorrencia, basica- monte, deveu-se a expansao das indiistrias cacia vex mais gigantescas ¢ a arregimentagao de quantidades ‘caca vez maloros de bracos para ¢trabalho ras fabricas (Greith, 1991; Singer otal, 1981), A concentragao de pessoas nas grandes cidades traz um novo quatro nosolégico cuje combate as doences se faz indispensavel, demandando a ‘ampliagao do seneamento basicoe atuacio efetiva da medicina uma vez que esta mao de obra deveria se mantor apta para aproveitar ao maximo o potencial das maquinas Breil, 1991; Pallors, 1982), Neste porfoda 2 medicina académica iaz grandes avancos nas descobertas bacteriolégicas, 0 que lhe confere uma superioridade decisiva em rolagao as varias formas de medicina popular. Pode-se destacar nesta Gpoca, as descobertas de: Pasteur © Koch - bacterologa - (1860 a 1880); Roentgen - RX - 1985: Carlos Cnagas - doenga do chagas - 1912; Menoel de Abreu- abreugratia - 1937, dentro outros (Brailn, 1991; Singer etal, 1981) A teoria microbiana, de acorde com Breilh (1991), passa a constituir a chave mesira da teducso total do. marco do conhecimente epidemiolégico as ‘causas © agdes unilaterais. A bacteria, o patasita e, mais tarde, 0 virus passam a ser, dentro desta concepcao, 0 objeto de invesigagao estabslecendo um 10 importante da linha de interpreiagao unicausal A pariir da Segunda metade do sec. XIX, uma vez estabelecida sua base monopdlica, ocapiialismo, piincipalmente onorte-americano, busca expandir suas fronteiras © assentar-se nas débeis economias da América Latina, Asia o Africa, dando inicio & fase. Imperialista do capitalismo. Na década de sossonta surge uma das crises mais profundas do sistema capialsta, com graves repercussdes nas econoinias subordinadas. & “populagao marginal” das grandes cidades, composta por desempreaados sub-empregades, soma-se ao campesinato paupérrimo © a uma classe operdtia mantica em minimas condigoes de sobrovivencia para integrarem uma massa extremamente ampobresica. Esta representa para os setores dominantes uma permanente ameaca e susciia respostas emergentas do stor estatal (Breilh, 1991) Face a estanova configuracdo econémico-social coma oxpansiio das doengas transmissiveis; aurnento das doeneas cronico-degenerativas, comportamentais © ocupacionals a teoria da unicauselidade co ve neapaz de responder & todas essas questees, mostrando a. fragiidade do paradigma pela sua incaparidade do "gorat Novos conhecimentes que possibilitassem a compreonsao dos princinais problemes de salide, como tambem pola crise da pratica médica frente a “Sarina Cia Sa Tn Bp 165 deteriorizacéio dos padrdes de vida da maioria e suas conseqiiéncias na dimensao individual de sauice-doenca” (Breil, 1991). Para enfrentar a crise 0 Estado assume uma, Posigao intervencionista @ corretiva coma finalidade de corrigir os desequiliorios socisis através de uma politica desenvolvimentista. A rolagao dialética ontre a intervengéo estatal ca criso 6 abaso paraa compreensio do surgimento, nosta década, de uma renovada Preocupacdo do Estado para planificar a sade, introduzir noves modalidades assistenciais e buscar a aplicacéo de concepedes sobre savde-doenga abertas a0 “social” (Greih, 1991), A abertura “social” possibiliiou ampliar o Conceito etiologico cas doengas, rompendo as amarras da unicausalidade, dando lugar a teoria da multieausalidade. Em 1985, Loavell o Clark oxpusoramo medelo de histéria natural das deengas, incorporando principios da ecologia: hone, agente, meio ambiente para oxplicar a3 causas das doengas (Singer et al, 1961). Esse modelo, para Breilh (1991), representa um avango paraa medicina. Apesar de suasraizes ledricas neopositivistas consegue aperfeigoar a sistematizacao dos elementos, integra a idéia d2 movimento do proceso hist6rico ca doenga mesmo que o condene ao nivel bio- ldgico-evolutivo ¢ possibilita 0 discernimente ante as diferentes etapas da prevencao, Nesta teoria, de acordo com Ide & Chaves (1990), o squilibrio da saiide dopendoria da interagao ‘ontroo meio ambiente, diferentes agentese o hospedeiro humano. E a intervengdo neste processo abrangeria medidas de prevengao nos niveis primdrio, secundérioe terciério, No entanto, esta concengao tedrica possuluma dimensao conservadora uma vez que mantém uma Vis20 limitada e disiorcida da realidade, minimizando a Interdependencia entre diferentes riscos de adoecer ou mantra salidee as expresses de modos de produgao especificas, ou seja, nao lova om considaragao 0 perfil epidemiologico de uma classe socialom um determinado poriedo histérico (Ide & Chaves, 1990: Brcilh, 1991). Gandra Jtinior (1986) questionando a abordagem, do paradigma bioldgico afirma que a mancira de se abordar 9 problema condiciona, necessariamente, 0 lipo de sclucéio © que o quadro de referéncias utilizado neste modelo para compreender, analisar e buscar solugaes. decorre apenas das relagbes das problemas de satide enquanto tenémenos organices. Isto quer dizer que, se 9 problema 6 definico apenas no nivel biolégice deixa- se de compreendé-lo om sua totalidade; limita-se Asua naturoza; doforma-se uma realidade total numarealidade parcial Singeretal (1981) afimam que cada cultura e cada época tem oritérios préprios para distinguiro normal do patolégico e assim constala-se que, na pratica social, © conceito de sexide-doenca vatia noespazo e no tempo. 166 Ao se constatar 0 fendmeno satide-deenca deve-se semore ter em mente: “porque se aprasenta esta problematica de satide, neste momento ¢ neste grupo?" (grifos do autor). Determina-se pois a historicidade do fenémeno satide-doenga, o que ndio é possivel coma abordagem biolégica (Univ. S40 Carlos da Guatemala, 1979). Cabe, neste momento, recuperar o coneeito de satide adotado pela Organizagao Mundial de Saude (OMS): “A sade ¢ um perfeito estado de bem-estar fisico, mentale social e nao se caractenza unicamente pela auséncla de doenca olde entarmidads.” Este conceito vem sendo enticado por varios estudioses, Principalmente, por seu carater idealista, indicando algo que deve ser procurado mas nunca aleangado. Pare Arouca (1986) esto concoito 6 muito genéricoe abstrato © ndo sorve de base para determinar quantas pessoas temou née satide num determinade pais. Do mesmo modo, Singer etal (1981) dizem que a critica a esse conceite se da por sua excessive ampliagao © pouca operacionalidade, O “hem-estar’ procurado nao é restrito apenas as perturbacoes da Sallde mas possuem conexdes com circunstancias economicas, sociais e politicas. Ao mesmo tempo, destacam a aspacto postive do conceite afirmando que, palo menos, possuiio mérito de reconhecer que é parado- xal alguém so considerarde boa salde quando é afetado: Por pobreza, ciscriminagao ou represséo. Para Singer et el (1981) oestado de satide de uma populacéo, expressadio nos individuos ou grupos sociais, n&o € constiiufdo pelo maior ou menor afastamento de uma norma ideal como pressupoe 0 conceito da OMS, F antes de tudo, constituide pela maior ou menor presenga de estades morbidos sociaimente recanhecicios MODELO DE CAUSALIDADE SOCIAL ‘© modelo biolégico, epesar de sua importaricia, para a medicina, néo é capaz de responder as determinacdes sociais doprocesso satide-doenga, Neste sentido, inicia-se nos anos 70 os questionamentos sobre sua utilidade ea quem este modelo serviu e continua servindo, trazendo @ tona a abordagem social do processo satice-coenga Para Breilh (1991) 0 podar hegemsnico tom obscurecide © reduzido a tarefa opidemioiégica © a intorpretacao da causalidade, lovando ao enfoque dos fendmonos colatives coro so lossem somatérias, meras agregagées de problemas individuals; como se 0 fonémeno epidemiolégico fosse a mera agregacdo de problemas clinicos. Neste sentido, Singer etal (1981) afimam que © estado de satide de uma populagao reflete 0 quadro geral das contradigbes que afetam o arganisma social, sendo este historicamente determinada, Continuam afirmando que 0 estado de satide de uma populace evolul em fungao do desenvolvimento das forcas produtivas e das mudareas nas relaches de producto ‘que, por sua vez, condicionam tanto as coniracicées que geram os estades mérticlas como a capacidade de prevenir, suprimir ou controlar a ecloséo dessas contradicées, Para Infante & Alvarez (1991) nao ha subordinagae do biologico om rclagao a social no proceso Salide-doenga, mas sim uma relagao de caraler dalético, onde © biolégico € 0 social estio interfigados numa interferéncia miitua, Avisa0 social do processe saiide-doenga nao nega a existéncia e relevancia do fenémeno biologico. Entrotanto, a doenga née pode ser considerada apenas. como fenémeno inavidual, mas como a manifostagao concreta dos processos sociais que determinam a sade coletiva e se apresenta, justamente, porque esses processos desencadeiam e transformam as relac6es entre 0 hospedeiro, agente @ ambiente (Univ. de S40 Carlos da Guatemala, 1979). Breilh (1991) ao defender a concepeao social do processo satide-doenga, propoe a aplicacao de leis, do materialismo histerico para o estudo da daterminagao @ distribuigo das doengas para que se possa avangar noconhecimento e, assim, superar a visao pragmatica existente, esquadrinhar a estrutura social onde surge a determinagao dos grandes processes, desmistificar 0 febchismo da igualdade frente ao riseo de adoccer e doscrevora genose da distrituigio das doengas segundo as classes sociais @ os perfis patolégicos que as caracterizam, Na concepeao social a satide ganha uma dimensao muito maior do que simplesmente aauséncia de doengas. Segundo Arouca (1986) ela se supera e quase significa o nivel ¢ qualidade de vida, qualidade esta ainda nao consoquida mas sempre descjada. Em ‘sua simplicidade osie concoite quar dizor que quanto piores as condig6es de vida de um povo (trabalho, moradia, assisténcia médica, eic.) mais este povo sera doente, estabelecendo-se um cicle vicioso, ou seja, aS condigSas de vida determinam a satide oua doenga de uma populacéo. Esto movimento em diregéio & compresnséio do processo saude-doenga enquanto fenomeno sacial ver Sendo discutide © detendido om todo o mundo, principalmente, nos paises que possuem a malorla da opulagao em condig6es clespiivilegiadas, ecandmica e socialmente. No Brasil este movimento culminou com a 8° Conteréncia Nacional de Satide em 1986 ¢ contou com @ participagao do representantes de uma parcela sighificativa da sociodaco brasiisira. Nesta Conforencia. decidiu-se sobre a Reforma Sanitaria partindo-so da definigso de que "sade é o resultado das condictes de alimentagao, habitagao, educagao, renda, melo am- biente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdace. acesso © posse da terra © acesso a servigs de satice. E assim, antes de tudo, © resultade des formas de: organizaeao social da produgao, as quals podem gerar grandes desigualdades nos nivels de vida" (Cont. Nae. de Saude, 1286) SAUDE-DOENCA ETRABALHO Nas interagdes 0 individuo ascumo papois paticulares que o Kentitica ¢ 0 Integra socialmente. Estes papdis, de acordo com Infante & Alvarez (1931), ‘820 dados pelo tipo de institulgdo social em que 0 individuonasce e amadurace como adulto. Aestuture social como conijunto de papéis, implica no reconhecmento da existéncia de grupos ou instituicbes ‘sobiais para dar sontide a estes papsic. Para Infante & Alvarez (1991) as forgas produtivas @ as relagbes sociais de praduglo $40 deierminantes do hemem como entidade biopsicossocial. Ao mesmo ternpo os estados morbidos: séo determinados pelos processos de desgeste © reprodugao, 0 que associa 0s processos patolégicos & ‘satido ocupacional. No entanto, esta posicao rastringo: © que acontece no biologie somente a saude ‘ocupacional 9 nos parece ser apenas um examplo de. que 0 biodégica satre com a interteréneta do social © fendmeno satide-doenga, de acordo com. Injante & Alvarez (1991), se manifesta com perfis peculiares as formagées socioecondmicas onde os grandes grupos estao vinculados a uma mesma “estrutura” (estera material] o “superestrutura” (formas, palitico-juridicas @ ideoldgicas), como ¢ 0 caso das Fegides © polos de desenvolvimento. As modificagoas nes perfis ocotrem quando modificam 2s condigoes estruturais e superestruturais que os caresterizam. No que se refere ao trabalho, os autores 0 analisam como um processo emostram que é preciso ‘comp-cendor 0 contoxto onde este ocorre; articulam o fenomeno satide-doanca ao processo de trabalno, mas 1ngo justificam © processo de trabalho como elemento mediadot enire o bioldgicoe o social PROCESSO DE TRABALHO COMO UNIDADE DE PRODUCAO-REPRODUCAO Qs processes de trabalho, de acorde com Infante & Alvarez (1981), podem ser entendides como: uma unidade de produeao - reprodugao, separando 0 momento produtive como aquele no qual 0 homem, produz bens desgastando-se ao consumir sua forga de. trabalho ¢ 0 momento reprodutivo no qual o homem consome.os bons roproduzindo-ce. Arolagae entre os tos dois momentos sao dsstintos om cada modo de produgao com implicagoes nos padroes desgasio- reprodugao e nos processas satide-doenca ‘A reproducao constanie nos planas biolégico, econémico € ideolégice toma possivel a existéncia do homem ¢ suas formas de organizagéo social. Este 187 movimento do reprodugae, no ontanto, 6 contraditerio: porque na dinamica dareprodugsiodes homens, emuma, dada organizacao econGmico-scctal, gera processos que conduzema sua transiormacao sendo ao mesme tempo ummovimonto de reprocucas ede mudangas (Infante & Alvarez, 1991) ‘A cada momento produtivo corresponde um: momento reprodutive ©, da combinagéo de ambos, desprendem os padres desgaste-reproducao que oFiginam os processes saiide-doengados grupos soviais, ( momento de reproducdo 6 mediicado de acorco com as necessidaces do capital ¢ um alemento importante, segundo Infante & Alvarez (1991), 6a ruptura com o temp natural substtuido pelo tempo do capital, que vai dar a mocida de vaior Ngo hd um acordo entre 9 capital e o trabalho: sobre como repartiro tempo entre jotnada de trabalho poriodos de descanse, Come exemple de descauilibrio {pico os autores apontam o trabalho por turnos que, lem de afetar as atividades socials, desrespeitam, também os ciclos biclégicos dos individuos gerando grandes transtornos & saude fisica 6 mental (‘onsao, insbria, fadiga e disttrbios gasirointastinals), Considerando a organizagéo do tempo ¢ do ‘espace coms fatoros doterminantes do prosesco de. salide-doenca, Infante & Alvarez (1991) apontamn © processo de urbanizagao como testermunho irrefutdvel da estrutura classista da sociedade, que separa cada classe social am nichos ecolagicas cistintos, com condigSas também distinias de reproduc, introduzinde fendmenos patolégicos. Na analise do trabalno como um processo de produgto-repredugao, Infante & Alvarez (1991) aflemarn que € um processo de produgao na medida em que © indviduo produz clomentos para suas condicdos do vida. E 6 um processo de reprodugiio porque produz as condigoes de vida alravés do salatiocom 0 qual compra de outros produtores, conseguindo desta forma o necessario para roproduzir suas condigocs como sor fisico, que na realidade s40 forinas ideol6gicas canall- zadas através do que ele é como stjeito psiauico, bio- logeoo © social (ehoque permte ao sujeito operardesta forma € n&o em outra, com uma idealogia conseatiente ao. processo de produgao, esté articulado aos processo= de sacializagao que cirecionam 0 desenvolvimento da, vida individual a partir do grupo familiar como, determinante na vida futura do homer. Para Laurel & Noriega (1987) 0 processo de abalho 60 espagocotidiane de confranio de classes & muito precariamente se tem estudado como a correlagae do forgas ontro capital o trabalho gira om torno do dosgaste operatrio. ‘Segurdic Palloix (1982). 0 provesso de trabaino pode ser definide como o proceso pelo qual matérias primas ou outros insumos 0 transtormacos em valor de uso @ possui Os seguintas elementos. 0 trabalho, prepramente to, ontencicle aqu caro atvidads humans: 0 cbjete ou materia a que se aplica o vatano; molds OU instrumentos através dos quais 0 trabalho atua De acordo com Laurel & Noriega (1967), 0 procosso do produgao tem das facotas, ou s9ja, © process de valorizarao (practcsio ce mais valia) 2 0 processo de trabalho (producao de bens) Na concepede positvista de trabalho hé uma relagaoentte osijetoe 0 cbjeto, considecando orrurdo a sercenheciclo comoalgo externa & pessoa. Para Marx (1988), no ontanto, ninguém pode conhecer nada se nap esta mediando sua prépra transiornacaoe o cujito que conhece & um ser ativo Para Infante & Alvarez (1991) 9 processo de produce reproduce co angina om um memanto da tole ontro © homem o a natureza, E uma lagna qual o homem se apropria ds natureza, tansiormando- &c transformando-3¢. si préprioe que coorre pormaio 0 proceso do rabaiho. O trabalho pare Infante & Alvarez (1991) 6 um proceaso que invade todo o ser do homem e constitu ‘um carater especifico. Enecessano conhocoro trabalho com todas as suas caracteristicas, formas © manifestagées. E fundamental descobrit ¢ intima necessaria conexao entre 9 que éo trabalho € oque é 0 homem, nies manoira de inieiar a eompreensao ca satide e do trabalho. Por outro lado. Offe (1989) afirma que ha um declinio da ética no trabalho, poraue ele pordou a centralidadena vita das peseoss, ervolvendo- ase ajustando-as.O autor coloca que trabalho coma um “dever ¢ 0 ponto central de uma vidahonesia © boa 2.0 trabalho como "necessidade” 6 mora concigao do sobrovivencia, Nas sociedades capitaistas, 0 trabalho néio roprosenta eatistagzo de umanececsidade, mes urn meio do satistazer necossidades com os recursos extrafdos dee. Eum radalho ce auto-sacificio e morificagées, onde ohomem se aliena. Aatomizagao 6o trabelho no sapitalismonega aoindividuoa possiblidace de ser um sujeitocoletivo e sorial a0 afirmar sua individualidads. ciiando seres isoladas em mundos eupasiamente autonomos. Com astas caracieristieas 08 acidentes © doencas brofissionais nao seriam os tnicos problemas aos avais 3¢ expe 0 ravalhador ‘Ro avangar no ostudo da relagdo do trabalho © processo saiide-doanca Dejcurs (1989) atime que, caS0 as consequircias do trabalho sejam nefastas para a auido montal dot trabahadores dir-eo-a quo cle 6 patoginica 8, caso sejam favoraveis, que ele om ma ‘ungaoestruttradora, Sogundo Dojours (1980), om fungao do cada tipo de organizagao do trabalho constroom-se proceclmerios defensivos especiticos, elaborados por individvos ou porgruposde trabalhadores. Estasdetesas 380 etaboradze contra aiforentos formas ce so'rimento 2 sobretudo contra o medo resutanie do trabalho, visando 168 minirvizar 9 sotfimente. Quando es detesas funcionam, em acabam dominando o sotrimento, se funcionam, cemais podem produzir insensibilidade ao sofrimanto ue passa a nao ser percebido conscientemente pelos ttabathadores. Defesas excessivas lovam aresistéencia 2 mudanea, abrindo-se entdo o dominio especifico da. lienagao no trabalho. cONcLUSAO Qestudo sobre 08 processos ce saiide-doena. € trabalho, partindo-se da idéia bésica apresentaca no texto de Infante & Alvaroz (1991), evidenciaa necessidado a contextualizagao do homem come um ser social para que, a partir daf, seja possivel compreender a tece de suas relagdes sociais. Desiacam-seas concepgies tebiicolosdficas positivista e marxista quo irao determinar os tines de Sociedade e, consequentemente, a concepeao de pro- ‘cesso Satide-doenga num determinado tempo e espaco. Parlindo-se da constatagaode que os modelos Ideatistas, biol6gicos, uni ou multicausais, nao foram, capazes de responder 86 questes da sauide das, populagdes em condicées de vida cada dia mais deterioracas pela modo de procugao capaltallsta. inicia- se a busca de outro modelo cuja sbordagem permite novas solugdes pata os problemes de save. ‘© homem, como ser social, tem sua histoticidacle compreendidia através da atividade criadora que € otrabalna. Os processos de trabalho, no entanto 980 determinados pelas formas osirutursis © superestruturais da sociedade que vao determinar os, processos de produgao-reproducsio ©, consecuen- temente, os processes de satide-deonga. (© modelo de causalidade social & proposto tondo como raterencial tadrico o matenialismo nistorico- dialético, na tentatva de suscrar 0 modelo biolégico, Incividual, considerando 2 satkle nao como “completo eciado do bom-estar", mas como a resultante cas condigies de vida, MADE! p.104-169, Jun. 1999, ‘A, LLM; ALVES, M. Health-cisease process and work Semina: Gi Biolageas/Saulde, v.17,n.2, ABSTRACT: Having the INFANTE & ALVAREZ’s basic ideas on the hoalth-cisoase process and work as.a starting pont, the authors try o analise the health-cisease process as a social phenomenon, relate tne work process with the health-disease process and analie the implications from the work in the heslih-disease process. They highlignt the Positivism and Marxism philosephical conceptions that, tiroughout history, will determine the kind of society and the conception about the hoalth-aisease procass, in a specific tine and space. At ihe same time, the work, understood as a basic human activity, has right implications on the health-disease process dus to the production-reproduetion rotations. KEY-WORDS: Healti-disease process; Work; Production-reproduction process. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS AROUCA, A.S.daS. Demcoracia @ Sais. IN CONFERENCA, NACIONAL DE SAUDE. €, Brasilia, 1988. Anais, Bastia, Gontrs ce Bocumentagao do tinsio0 da sauce. 1967 BREILH, J. Epidemiologia: economia, politice © saiide. Sio Paulo, UNESP “HUCITEG, 1991.27, CONFERENCIA NACIONAL OE SAUDE. 6, Bria, 1986, Anais, rasita! Centro oa Documantarae do Hinisione da Scud 1087 (Feiat6ro Final). DEJOURS, ©. Iniooucae a psicopatclogia do rabaho. Tempo Social, Nex, Social USP. S30 Paulo. wl, 0.2, 9. 97-108. 20, om. 1006. GANDAA JUNIOR, D,Linitagdes da aberager boldgicn dos pralarnae ce acu IN Ciencias do ‘comportamento aplicagas # sade. BoI0 Horizonte, FMS, 1975. GANDA, €., BREILH, J. Saude na sosiededer guia pedegégico sebrs um nove enfoque de méoco Spidemologico, Sic Paulo. netiul do Saude, 1985. 215 p. IDE, C.AG, CHAVES, E.C. A questae da datermnacas 09 iocess) salse-oonca Rev. Esc. Ent, USP. S20 Paulo, Wed, 14.463" 187 sab. 1980, INFANTE, NB. 60, ALVAREZ, L. El proceeso do solud ‘ertermecia: Un tenomend social. Int Secteaaa y salue, Cal. Formas Precis. 1981p, 100-110. Les processes oe trabajo y de salud-enfeaidad Una relcien siaecice. In: Sociedad y Selud. Cal, Form: Procioas, 1001. p. 111-428. LAURELL, A.C, NORIEGA, M, Prosesso de produrao € ‘sauide: trabalho e desgaste operdria. Sao Pale Helos. 1987, MANX, I. © capital: extice da economia politica, Livro Prinsico, volume 12a. 06; Pu, Berraus, 1988. 570 p. COFFE, C-Tintalt: a categoria socilagiea ehave? in: — Capitalismo desorganizado. Sao Paule: Bresiionse. 1888, p. 167-198. PALLOIK, ©, © proceso de taalhe 60 fortione ae wreoterdane, IM Praceese de trabalhe © tetratigic de classe. A, J. Zanae 1982.0 SINGER, P & a. Prevenir e curar: © controle social avravés dos Services de saude. F. J.. Forense Unverstatia, 1981 1669. UNIVERSIDADEDE SAC CARLOS OA GUATEMALA: Fasuldado de Necicina, Aguns problomac teoncos @ concatusic da ‘picemioing'a sce. 1979.8 p. (Mimeonr)

Você também pode gostar