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Valores e atividade cientifica 1 | | Hugh Lacey | S editoralll34 onal: Aceetpio Frosbers Scie Sse ‘Paaco Run Maateonaa eSrita Ges n8AN1 GA861A verse Ronarces Nevo oe Fiaaras Monin re iy tea Docuwayaagio a FELGH-USP. vew-pamyuectentec.esp.br panjuecienteod usp. br Para impacto que a Inés, responsdvel polo femam emt meu pensanento filosofic inka otividade docente € as m onversas ¢ amizades no Brasil 0 mda Ma inne! Capirai0 1 <, 1 Ciencia valores, Wp be Get oto Sid Belgie Lb Schill iene Gaokikcy kee Oterna da 4é# Reuniio Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para fad ‘ 0 Progresio da Giéncia), ocorrida em 996, foi Gieacia para ots Ay Progresso da Socicdade Brasileira”. Este é um tema Propicio mula, tuma profunda reflexio filos6fica, Atrai nossa atenao nao s6 pelo J0gode palavras entre o tema ea sigla (SRPC), mas também por-"¥tp. Que raz A tona uma idéia muito comum sobre a ciéncia: que of conhecimento cientifieo é neutro, conhecimento cientitico ens Si nfo serveanenhuen valor particular, mas podeseraplicado em? favor de quaisquer valores. Entio, conforme sugere o tema acima, pretende-se aplicara Ciéncia ao progresso da sociedade brasileira e procurar um oo, nhecimentocientifico que possa contribiir para resolver os seus atuais problemas. Isto parece ser obviamente facti certos detalhes susci 10 por- que nem sempre o progresso da cincia serve aos intcresses do Progresso da sociedade brasileira, p.ex., quando os prorhitos da pesquisa clentiticatornam-se protegidos sob os acordos de “di. reitos de propriedade intelectual” ‘Tenho consciéncia desse eleme €um tema impregnado de valor. 0 que seria “o Progressp” paraasociedade brasileira? Seriaa incorporagao gressiva do Brasil na ordem internacional neoliberal? Ou seriao brogresso dalibertaeao dos pobres dossofrimentosque possuem causas sistérmicas? O que mais seria? (2) Seria possivel & ciéneia servir 20 “progresso”, em principio, independentemente de Hugh Lacey interpretagio que se faca de “progresso”? Seria a ciéneia de fato 2 Ou seria a ciencia especialmente bem adaptada para servis aos interesses de algamas perspectivas de valor mais do queaoutras? E, crvir ao projeio neoliberal? (cf. Caps. 6 € 8). Discutirei, principalmente, 1 questio da neu- n panorama do conjunto do livzo, 08 argumentos aqui apresen- erdo desenvolvidos nos capitulos seguiutes. TAcibycra uivee pr varonrs Qaiiialiduie Suatocsditde dado 6 uma entre virias tescs que, ein seu conjun idéia de que a cié ‘isre dz valores. Diseutirei ne da mesma neutrolidade 6 uma idade. is das teorias cientificas. Numa pri- is interpreta scutirei as suas varias interpretagdes em outros capitu- falmente no Cap. 8), 2 1 ide afiroa qu ria ser aplicada, em princi ialqucr perspectiva de valor e nao serve de modo especial aos ieresses de nenhuma perspectiva de valor part ‘mpa: ‘ualidade éuma tese sobre as rzdes epistémieas oucagaitivas para com baseapenas no campr diante os quais fica estabelec Cuasca evasonss ‘tavel exibe certes relagdes com os dados empiricus disponiveise com as demais teorias, (Discutireiadiante quais devem seresseo relegdes.) De acordo com a imparcialidade, as relagdes que uma teoria mantém com qualquer perspectivade valorsio irvelevantes ‘para a sua legitims aceitacio. Nos titimos anos, a idéia de que as cigncias sao res tem sido fortemente criticada. Seus eriticos voriadas eorrentesintclectuais, queincluem desde religiosos fun- damentalisas. ecntusiastas da new age e esologitan perapic sociais do Terceiro Mundo ¢ socioconsteutivistas. Alguns deles af existe distingao entre ciéneia e ideologia: © perspectivas particulares esto sempre em Jogona escolha de teorias, especialmente os valores do: ouemergentes: equea ciénciamodernaé ocide! cal, dominada pelo homem branco, ca lista. Considere, uma desiacada ci ta € filésofa indians: CACC iedog WA ciéncia} esta associada a um co: dos no poder que emergi como su: Criticas desse tipo modemas (embora nem todos o Daperspectiva dos que advogam a ciénciacomo al vre de valores, a critica pés-moderna representa uma voliaa Hugh Lacey posiges nogio de ciéncia, que serve aos interesses dos valores dominantes. mnalidade ou ideologia: sio realmente estas as opydes? Tentarei descrever aestrutura dialétioa dese conflitoe propor is. Contudo, da perspectiva pos-moderna, « ncia livrede valoresconsiste emideologia, falsa cons em torno da natureza do entendimento cientifico e a questio de scoentendimento cientifico é0 nico entendimento racional do mundo ou se & apenas uma entre muitas formas de entendi- mento, Apresento, neste ponto, alguns contentarios gerais sobre ‘a nogao de “entendimento”. 2 Exrenpimento. Quais sto 09 objetos ¢ os fenémenos © entendimento deles? 0 entendimento & sempre contex mento varia de acordo com 6 ontexto. com 0 bsnl le intesesse © com 08 agentes do diseurso {.Cap. 3, seea0 6,¢ Cap.5, se¢io4) (Pore, sempre fazer par do entendimento de uma coisa o8 segu 0s € 28 suas relagses, e as suis va idades: quais si as-possibi- lades que Ihe esto abertas (até mesmo as possibilidades no Sealizadas até © momento, eonsiderando seus proprios poderes para desenvolver-se € suas interacdes com as outras coisas). a realjdade requer seypresfimagdes des soi npabtnaro-taue oust haleen ds es companies ae ‘sec airibuidas varias interpreta- to pode sere Cebecis evntonis uum objeto da experiéneia; um objeto de uma prét componente de uma esirutura (p. ex.,um sistema ec smo e6smico); um objeto que mantéra relagoes causais com outros abjetos ¢ objeto € considerado, as respostas “o que é possivel?” tom: em interesses diferentes. Para dore-90 uma des que Ihe € muitos motos, abertas? A semente pode ser considerada de 's quais focalizaret dots: primeiro, pode serum jeto que gera, apés 0 cultivo, colheitas quantificéveis em ren- Gimentos; segundo, pode ser um objeto que parti ‘mente de processos a0ciais. Consideradas do pri sementes podem vira ser: das colheitas aumentem significativamente. Consideradas do segundo modo, por tornarem-se geradorasdos referidos aumen- tosde rendimentos, as sement mereadoria~um objeto produido c cultivad também se transformam numa ensivamente por istas ¢ comercializado segundos regras domer cad, em lugar de um objeto que, na maioria das veze: ido em colheitas amuais como parte dos costumes 19912). Assim, 2 semente diferencia-se das prati passa a manter outras relagSes eom a ord O que veaha a serumaumento quan dera a semente um determinado tipo de objeto, identifica-se a ma mudanga fundamental, quando se a considera como outro tipo determinado de objeto. Oey n social, vo, quandose consi J Abwdaguan pebcnttytsin Mag ds 3 A PILosorta (MeTAFISICA) DO MaTERIALISMO CIENTIFICO ressa-se emteorias. A maior par- is rier todas (cf. Cap.5, rdeentendimento 2 icando para fins de apresentagao! ise comprovadas dentro de certas estratégias que dados empiriens relevantes paraa compro- teorias, Vou chama-las de “estratégias mi le io eselegao” (ef. adiante Figura). Elasrestringem ast ndmenos em termos di fureza, bem como em termos das estruturas. dos processos € is (que também podem ser ‘tam relagdes entre quantidades cam a6 possibilidades das coisas em termos do ler gerativo da ordem oubjacente. As teorias constituem ume coisis em termos de leis e quantidades. Nelas os fe- ideradas © se~ jo de valores ¢ irrelevante para asia representa- 10, pe. pars fins tedricos, uma flecha €abstrai- guerra € dos processos sociais associados & fa massa e as propriedades aerodinamicas. Do mesmo des na a semente € abstraida de varias de suas proprie Asteoriag, sajeitas atais rest de suas relagoes com os dados empiricos ~ dados observac ” Ciicts nvatonns -cionados sto submetidos a eritérios intersubjetivose de replicabilidade, Confere-seum destaquees- ‘0%, aos dados que deserevem os fe ‘nomenos abservados abstraindo-os de seus contextos de valore, © mais importante, aos dados obtidos por observacio dos fens menos produzidos pela experimentagio, Aceitaruma teoria (T)é julgar que T esta suficientemente bem comprovada ¢ que, para todos os fins praticos, a procura por outras comprovagdes nto é mais necesséria, Se as teorias so aceitas com imparcialidade, izo de queT manifesta os valores cog . que a teoria mantém relagies (B ecomasde- s seriam os valores mais teorias aceitas (ef. Figura 1). Agora, cognitivos ¢ atualmente um assunto que gera muita controvér- ssia, Para os meus obj iar algunade- menos controversos. Os valores cognitivos inc! qquagio empirica, isto €, T é consisten Ee ins de E no contexto de comprovaga fitas por 7; poder explicativo; auséncia de “hipoteses ad. hoc’; relagdes “adequadas” com as demais teorias, como, p.ex., con sisténcia com as demais teorias aceitas. (Para maiores detal cf. Cap. 3.) ivos, serdisuficiente ide: Matbutgs de oblon Leto 5 (Estratégias Materialistas) Restringit )-outrasteoriss T Valores Cognitivas > — *sdtauasioenpirca, Selecionar spoderenp E saustncia de hipoteses ad hoe = relogdes adequadae" comas outrasteonas Figura Hugh Lacoy iss teorias conduridas pelasestratégias materia tas? Estariam aquelas teorias disponiveis paraseremaplicadas \dependentemente de quaisquer consideragdes acerca da pers- Ou favoreceriam certas perspectivas de valor particulares, talvez aquelasqu valor digno de grande estima? le valores um indicio da disponibi- i¢d0 sob todas as perspectivas de valor? Ouseria uma mascara para eneobrir o favorecimento de certas perspecti- vas de valor particulares? For que devemos pensar que as teorias desenvolvidas eaceitas mediante asestratégias materialistas sio neutras? Uma reaposta € 4 da filosofia do materialismo cientifico (ef. Figura 2). Para ela, iva de valoradot iderassem os desenvol vimentos teenol6; tal como realmenteée, segundo, o modo como mundo eda percepgao, dos valores dos interesses humanos. 0 mundo, id mplesmente de ob rum conjunto de quan- idades interagindo com outros objetas, do mesmo tipo geral, de leis. A partir dessa interacio entze objetos. compo- nentes de estruturas.e processos subjacentes, os fendmenos si0 getados. Essa imagem materialista da mundo é bastante conhe- ostrado muito atraente. versdesdesca imagem, © sua versao atual esta adaptada as melhores teorias disponiveis. a rolatividade © a evolugdo; ¢ também ela ‘ents recentes da ‘a couso que faz do computador como modelo De perspectiva do terialismo cientifico, apenas as catego- rias empregadas dentrodas estratégias mate: ‘das para representar ¢ mundo tal como eleé. 1s. Desa perspectiva, a te das suas celagdes com os seres humnat a Cuinenaswatenas neutralidade deriva-se da afirmagao de queateoria representa 0 ‘onder ube, Independente das eat Fences vies. Mas tamhém defronta-se com sérias dificuldades. Co pelea gaa scuudayol cea Satbnaancieeal afirma que ele 6? Mesmo que o mundo fosse desse modo, c: podemos Hijau Mapp ee comparar diretar 48 nossas teorias com o mundo. (agd0"] significa uma relagio entre uma teoria e um d menos do mundo, Mas nko podemos observar: Jdem subjacente ao mundo ¢ 0 termo “representaca rer nas prOprias teorias cientificas. Somos nés que pro taro mundo os seres buma: para n6s, a representagio é a Lacey giistica ou simbdlica. As representagoes sio produtos humanos, construgdes histérieas de priticas cientificas que empregam mé todos também provenientes da nossa prépria construcio. Elas fazem uso de categorias tebricascriadas, estrunuradas, desenvol- vidas, refinadas, transformadas e aplicadas no curso das nossas, préticasde observacdo, medigio, experimentagioe tevrizagio, no cursodas nossas interagies como mando. Para representar, pre- cisamos estahelecer contato cont o mundo e nos engajar nele. Novea experiéncia nunca é simplesmente “do mundo”, mas do mundo em interacdo conosco. Assim, sabemos que as teorias re presentam o mundodo modo comocle aparece aa perspectivadas priticascientificas. Em virtude de que poder tar que as representagoes teoricas sio independent ‘cas quedo origemas teorias? Em viride de que poderiamios afir ‘mar que umn objeto, tomado do modo pelo qual é apreendido na Pratica cientifica, identifica-se ao mesmo objeto tal como ele é, independentemente das suas relagies com seres humanos? (@) Xeonforme é speeendide Xtaleomoele 6) na pritica cientifiea Afirmei que nao poderos comparar uma teoria diretamente como mundo, Na pratica cientifiea, os dailos empirieus forne- cemo nosso ponto de contato como mundo. Aceitamos ou rejei tamos as teortas com base em suas relagdes com os dados empi Ficoa ~ aquelas relagdes que constituem 03 valores cognitivos. Aceitamos as teorias que manifestam os valores cognitivos num grav elerado (de acordo com a imparcialidade). Entao, um obje- to, conforme é apreendido na prities cientifica mesmo objeto conforme se pode representé-lo numa teoria que, arespeito de u 5 nitivos num grau elevado, entifica-se ao dominio apropriado, manifesta os valores “ Crier evacones Xconforme éapreendido = X conformeé representado em T za praca centifica (P, com respeito ao dominio relevante, manifesta os valores cognitivos mum gran elevado) Mas, na falta de um argamento adicional para que um objeto representado desse modo por uma teoria seja id jetotal come ele 6, nio podemos inferir (I) a partirde (ID) 9's Com um novo quadro (ef. Figura 3): ‘oa umn ob- Frepieveaiao mind] -maperspectia dos rita sinfies ‘Deja || Obata oer epresrta | il tori que mani murda | | fester on valares come lee coginos + smparciadate Figura 3 /_ Nao podemas fundamentara newtalidade ma metafsiea ma- jlerialista e precisamos substimir o objetivo de representar 6 { mundo tal como ele ¢ pelo objetivo de obter teorias de acardo, | coma imparcialidade. Neste contexto, trés novas questdes se nos apresentarn: 1) E possivel derivara neutralidade da imparcialidade’ 2) Podemos defender a imparcialidade? Sin 3) Por que ailotar as estrategias materialistas? NS Hugh Lacey 4-Una Fons ExeaueLan De Ciel ode ea ent imparcialidade; e, na derancutralicade. A demos defender a impare -ncia dessa tims, nao se pode defen- ca cpistemologica sustenta que nao po- jidade I: a critica sociologica mostra que, em mi 0 geral, visto que no é a tese da invulnerabilidade da teoria aos dados empiricos: c) a tese da ineamensua i desenvolvidas em paradigmas diferentes. 4.1 SumprrenstinagioS¥s9a_ Hs babel tor Atese das jinagao segue-se do seguinte argumento desenvolvido a partir de trés 6 verses sho tas da aceitacio tém primazia epis- io de partida 108 (e6ricos; 2) a anilise hi fieas: Té uma estrutura de ralizagoes e de hipoteses organizadas dedutivamente, eE es re as conseqiiéneias dedutivas de T; 3) a sustentagso de Te fornecida por Eem virtude dessa relagio dedutiva entre Te comumente encontradas nas explicagses e ne racional deteorias: 1) oa dados empiricos os dads constituem a evidéncia feréacia de outros potético-dedutiva das teorias ge to Cuvee vatonts E,de tal modo que quanto maior o ntimero e avariedadedositens de E, tanto mais bem estabelecida estara T. Quando introduzi os ‘valores cogaitivos, falei das varias relagdesentre To. Esoas pre- ‘missas reduzem as relagbes a uma s6~—a relagao dedutiva entre T e£—,apontode aadequacao emptrica se tornarefetivamente 0 co valor cognitive E bem sabido que, de acordo com essas tres premissas, T po- deria ser falseada, O que signifiea que se Econtém : nado item (e) eT Desse modo, a fi mo grau de confianga que os dados. Ta0-somente isso. Nao po- demos inferir mais nada. Apesar do mimero e da variedade de dados que podemos dedwrir de T, permanece sen possibilidadede que oproximo dado previ tativas de falsed-la Ademais—e isto const portante apesar do niimero de comprovagies a teoria 7, & submetida com sucesso, persiste sempre a possi lidade de que haja uma ontra teoria 7, ~ inconsisten e. talver, ainda nao formulada ~, 03 mesmos dados que entreT,eT,, ‘Asubdeterminagio, de acordo com esse argumento, nao ofe- rece nenhuma esperanca de que possamos vir a saber que uma tcoria representa o mundo tal como ele senvolvi teoriaT, com adeqquagio 1 dados disponiveis, esta talver refletisse si do processode pesquisa. Ftalvertaisexiginc’ nifestassem, p.ex., em preconecitos, emcompromissoscom cer as, uum tal tos valores soriaisou morais.ou concepgdes onto que de fato valores funcionassem ~ inconscientemente ou w Hough Lacey no como eritérios para a escolha teérica.! Nesse passo da ar mentacao, a critica pos-moderna suplementa o argumento -molégico com uma investigagio sociolégica. Aqui, p. ex., losofia da ciéncia feminista recentemente documento plogia eda psicologia,em que os" pre- as desempenham papsis desse tipo nO, 1990; Nelson & Nelson, 1995). Essa suplementacio lores funcionarem, escolha nao é apenas uma poasibilida~ Endo serve para bstrata. Além disso, m9 subdeterminopdo apare! texto propicionsosomente paraumaci vias cientifieas, mas agdes que sejam exp tudo, ndo contestem a 10 Asubdeterminagao representa um lado da moeda. f uma tese da continuapossibilid dessa mesma moeda revela-se quando est flitotesrieo atvaleexp a pos de légica ~ baseada naquelas mesmas trés premissas ~ de que, seja resolvido com base nos dados em- "8, Poderiamos esperar que, quando desenvalvidasadequa- as teorias gerem algumas pr 0, pois, nessecaso, resultaria no falseamentode algu restando assim nenhum espage pa he Giéscu evacons Essa possibilidade logica sugere que o papelexercido pelos va- lores nas cevolhas de tcorias ~A luz da subdeterminagao, uma si- tuagao quase inelu metodologia qu: 1— possa ser atenuado por meio de uma sta na multiplicagao de teoriss, ativamente em confrontacio umas com as outras. Entio, 0 co! pelos investigadores com perspe: ce fornecer um meio para diagnosticar indesejado que os valores possam exer rentam a tese da subdeterminag&o, por idade para a intervengao de valores ‘mas, por outro lado, sugerem o mein 1990) vas de valordiferentes pa e atenuar qualquer papel 9 ye 4.2 Ivvuinenantispane Sa Sein, A forga da conch por uima segunda 1105 dados empiricos. O seu ponto de partida ¢ a recusa da anilise ‘nao contém 0s itens de F entre as i mas E poderia estar entreas suas sequéncias dedutivas, se fosse acrescentadlo a Tum conjunto de luisse uma variedade de hipéte- instramentos eaparelhios expe eas condigoes decontorno deespacosexperimen- tals € sobre os limites aceitiveis de precisao, além de hipdteses s,enire ena Hugh Lacey Sese considera que, é falsa, entto poder-se-ta substitul-la por outro conjunto de hipsteses ausiliares (4,). Em geral, qualquer teoria poderia ser protegida do falseamento por esse procedimen- to. Portanto, as teorias sao invulneraveis aos dados empiricos. Eotes nao podem ser decisivos na escolha de uma teoria. Agora temos estabelecidas ambasasteses, subdeterminagio e nvulncrabilidade. Entéo, apesardos dados disponiveis, poderia- ‘mos continuar a aceitar uma teoria em virtude de suas ligag? mm continuara. nsvalores. Sem aa: das decisivas para es com nossos valoces, enquanto outsos po! ci tar urna teoria conilitante com base ise HD, parece que nao temos me tcorias oupara prevenira interferdncia dos valores suposighes que integramas pre- Ihas—a menos que rejeitemos: missas 1) ou 3) acima. 4.3 Iscomensumartiiape cstne Lua Bicoal Ses, rejcita essas suposigées. Segundo ele, entendemes 0 em relagio a um pano de fundo fornecide pelos paradig: as estratégias ‘gio @ selegao dap poléeicodas catego rias que podlem ser empregadas nas representagoes tesricase nas Aeserigdes empiricas (Kuhn, 1970). Enido, nossas representa- oes do mando exibem essencialmente a marca da historia. Acei tamos e rejeitamos teorias que estao formuladas em termos dos sos eategoriais do paradigma, no contexto de dados empi ricos descritos, em parte, com as categorias exelusivas do seulé- xico (of. Cap. 3, segdo 2.2). Sendo histérico, um paradigma per- manece em vigorapenasporalgum periodode tempo. Naoapenas mbém (is venes) mudangas uuem Léxicosdife- sadangas tedrieas, ma: igma, Mas paradigmas diferentes de pai rentes. Sobrevem, entio, a tese de Kubn: teorias fv lads 3 dentro de paradigmas diferentes so incomensuraveis; nao podem ser inconsistentes. pois Ihes faltam eategorias comuns, mesmo no nivel dos dados empiricos, Mas as teorias formuladas dentro de paradigmas sucessivos so incompativeis porque as estratégias de restrigdo e selegio desses paradigmas s&o incom- pativeis — nio se podem perseguir simaltancamente estratégias incompativeis no mesmo contexto (Lacey, ig9¢b, cap. 7): te de diferentes estratégias sto incompativeis porque as suas r peetivas estratégias também sio incompativeis. A incomensa rabilidade decorre de préticas incompativeis (Lacey, 1999b). Nesse contexto, a questio da escolha de teorias torna-se ain~ da mais complicada, porque nfo podemos separé-la da daescolhade paradigmas e das estratégias de restrigao ¢ se aeles associsdas, Por que adotar determinadas esteatégias parti culares? Disse actma que quase todos os paradigmas modernos empregam alguma versio das eatratégiaa materialistas. Por que adotaras estratégias materialisias? (ef. Caps. 3 5). 0 proprio Kuhn enfatiza que as estratégias devem ser fecun- das: permitam constnuir um ntimero cadaver maiorde teorias (e procurar por um maior numero de dados empiricos). tais que manifestem os valores cognitivos num grau clevado. Podemos dizer que, para Kubn, as estratégias fecundas sao caracteristicas essenciais do “jogo da ciéncia”, Entao, desde que pretendemos participar do'*jogo da.ciéncia”. precisamos empregar na pesqui- saestratégias que nos permitam constrair um maior numero de teorias (eadaver mais profundas) que manifestem oavalores cog nitivos num grauelevado. Mas aslégicas da subdeterminagio ¢ da invulnerabilidade per- manecem inatacaveis, fornecendo mecanismos paraa defesa das tcorlas do velho paradig n gerarem contraligoes com os dados empiricos —, embora ao prego de ums manifestagio cada ¥ 6 Hugh Lavey ver menosintensade alguns valores cognitivas (p. ex., a redugao 20 minimo de hipoteses ad hoc) ~ um prego que somente vale a pena serpago em virtude, p. ex., daligagio entre as velhas estra tégias e valores particulares altamente estimados. Talvez seja (moralmente) mais importante manter a antiga concepgao, “o ago do “jogo da ciéncia", que ~ por vas # fecundidade ~ nao pode prosseguirse for conduzido pelas estratégias assoviadas ao vell 'sa8: nfo podemos pra paradigma” nas mes tempo. precedencta rentam um velho para- 5 € somente uma Gigma. Mas que suas estratégias sejam fect adogiode um para- ra que dois paradigmas mesmo tempo — mesmo em difere 's instituigdes. Mas nio adigmas incompa stir simmultaneame: sem duvide alguma, emt cionaie (considero qu pel importante. De fato, na ciencia natural mio € ‘no mesmo momento histérico. Uma razio siderando a necessidade de condiga is € sociais para a ie oferecessem esses assvciados 20s valores sociais inantes ou emascensio receberiam o suportenceessario para rer-se. Considero que 0 acontece, mas nao produtos dteis para di deser 6 Cason reacones sso apresentaraqu es arguientos e as evidéncias historicas relevantes (cf. Lacey, 1g99b, cap. 7). Particularmente, julgo que as estratégias materialistas ganham sustentagdo emvirtude deaua relagao dialética com um valor social particular: aumentar nossa capacidade de controlara nstureza (ef. Cap. 5) pesos 5.0 sudesso pa crtncta toes bilidade fornecema base epistemologica logica paraa moderna. Parece que elas permitem —e mesmo reque: igmas, ¢, portanto, demandam a recusa da imparcial dade, Assim, torna-se tarefa ca investigagao historiea e soci sicuidentificaros valores que de fato desempenharn esse papel 's socioligicas nio sc diferenciar da opiniao, da 10 de valor. “Parece”, pois a argu mentagio pos- moderna nio leva er consideragéo um fendmerio esso da ciéneis moderna (o produrido pela ciéne ide ‘ado exemplar por causa do seu sucesso. O que éesse sucesso a Ciencia moderna? Aagdo ¢ aprética fundamentadas nocanhee\- tas fico 6 que tem sido muito bem-sucedidas. Qconhe- cimento cientifico torna Hugh Lacey 0 conhecimente pelo qual foi produsida deve ser ssc. O que caracteriza esse conhecimento que nos permite enten- Je dhader as operagdes materiais da tecnologia? Uma resposta comum: ‘F..0 entendimento do mundo tal como ele é, ou seja, a representa- (40 dos componentes, estruturas, processos e leis do mundo. que explica o sucesso material da teenologia nio pode ser ideologias, dogmas ou juizos de valor: pode ser apenas Hiecimento do mando tal como ele ¢. 0 sucesso da tect da eiencia aplieada parece provar que naciéncia obtemos—pela menos emalguns dominios — conhecimento do mundo tal como ele ¢ (Taylor, 1982; Cap. 4). O materialismo eientifieo ainda nao pandonou a cena Nossa situage agora éesta: porum lado, o materialismo ciew. -capazde explicar osucessoda ciéncia, mas néo podeexpli ‘omoa metodologiacientifiea poderia produzirconiiccimento mundo tal como ele é; por outro lado, a critica pis-moderna reventa argumentos acerca da impossibilidade dea metodolo- ica, em principio, producir conbecimento do mundo {al vom ele é, mas nao explica osucesso da ciéncia. Nenhumdos is lados é satisfat6ric. Podemos teaneoender esse dil Anteciormente, levanteia perguntasobreas razbes pe poderiamos aficmar que: Xconformeéapreendido —< —_Xtaleorno elee(?) nape ea cientifica A B Citsca evaronrs Entio, indiquei que, de acordo com a imparcialidade, (D Xeonforme éapreeadido = Xconformeé representado em T za prtica cientifiea , com respeito ao dominio relevante, manifesta os valores sognitivos nun grau elevado) A ©, res teses, falta-nos ainda um argumento para afir marque B = C,e, assim, nossa pergunta persiste. Consideremos agora mais algimas identidades ou propostas de identidades fan DXeonforme éapreendito = Xtal comointeragimos com ele \raprtiacieniiea a ou Xtal como é eontrolado om sucesso KX enquanto objeto potenvial Hecontrale D Embora esta identidede (A = D) nao seja verdadeira no eas eral, pois na ciéncia obtemos conhecinento de alguns objetos quenio sdo objetos potenciais de controle, é verdadeiraem wni- tos casos (ef. Cap. 5, segi0 3.1). Ietoé, cm muitos easos, oenten- dimento que adquirimos na ciénciag ‘mento que poderia estruturar o contr seguir somente esses casos Hegh Lives 0 materialism cientifico propde que podemos controlar um noele é, como mente das per~ determinado objeto poxyue o apreendemos talc uum objeto do mundo que subsiste independ cepcbes ¢ préticas bumanas (inclusive as praticas de controle) Além disso, 6 certo que se B =D, entdo sepode explicaro sucesso de aplicagao tecnologicadas teorias cientificas. Mas por queacei- tar que B- D? A Ginioa raaio que, mediante essa suposicdo,ex- «ss0 tecnol6gico. Podemos explicar esse sucesso de igo que seja suficiente supor que,» D)serdo X conforme 6 reprosentado em T Celutiva a usn expago es m que T mani gran io das pesquisa conuaias pelas estrate gins materialistas Com respeitoaos fondmenos eireunseritoaa determinades es /pagos, as pesquisas conduzidas pela estratégias mat lista 1e- cs cognitivos num grat, amoderna—,e esses juei os espacos da aplicagao tecnologica. ar o sucesso teenoldgica, precisamoe apenas fazer umn em teorias que manifestam os yal eagio tecnolégica, obtemos teorias que manifesta os lores eognitivos num grat elevado. Entao. a aplicagdo teena- jcagao conereta das experiéncias que fornecem comprovagées para uma teoria - jura explicagao metafisica “profunda” do sucesso da tec- nologia € necessaria, apenas que o mundo tem se mostrade re- vo a8 formas de apreenszo conduzidas pela estratégia mat ta, uma apreensio que progressivament Gitscinevauons ‘embora suas realizagdes possivelmente impogain a realizagio de outras~nio se pode querer jogar simultaneamente futebol e rughy no mesmo campo; asemente nao pode ser una mercadoria e40 mesmotempo ocuparintegralmente umlugarnasustentacdo de uma comunidade rural tradicional ~,além de que tais realiza- 58e8 e os interesses que despertam dependem em larga medida de nos mesmos. Até que ponto tais possibilidades sio efeti- varnente realizada aos pelos seres hama- 1a questo cujo tratamento, devido asua amplitude, deve dos contextos. Saion do mundo tal coro ele e~ ; -aluzum tendimento de mundosnba perspectina daxalar saviaN qh ‘GE poAEALede MaMIrezay Ate este ponto, a critica pos-moderna dali. tem validade, Um valor social eet4 desempenhando um papel importante (fagéum papel que s de restrigioe aelegio. "Sob algumas estratégias especificas (como as estratégias ma terialistas), os dados empiricos ¢ os valores cognitivos sdo sufi- Ay sientes para escolher'&s teorias. Os valores cognitivos ¢ 08 valo 7res sociais nao interagem no mesmo nivel. As: : ) jseelais ndo determinamn as teorias que escolhemos, apenas res- > tringem 0 tipo de teoria que deveremos desenvelver, ou ainda) ha dodo mos indagare investigar (ef. Cap. 3, sega 7) sSe des wwestigar as possibilidades de controle, entio é las segundo as estratégias matcrialistas. Mas’ quais devemseras possi do emteorias que manifest vado. Nossos desejose valores nao desempenham nenhum papel 10 na aceitagio de teorias gh Laon "a pos moderna falha em dois aspectos: 1) reduz os va~ lores cognitivosa apenas um, a adequagio empirica, ¢ nado consi- “ders que o uso dos outros valores cognitivos resolva, rum graw -considerével, os problemas levantados pelas trés teses (subde~ ferminaedo, invulnerabilidade e incomensurabilidade); =) nao 12 reconhece a distingio de niveis: o nivel das estratégias eo nivel da escolha concreta de teorias. Visto que as estratégiaa de reste sao c scleyao refletem o tipo de possibilidades que despertamal- Heresse, é legitimo aqui atribuir um pa ) oentendimento de mais Iguns objetos sob a forma de uma projecavda pecspectiva de-con- umbomentend 29 movimento dos pi role—assimobtern rnin de coisas taiscomo, 10 Sao objetos de con- araimparcialidade ¢ que nao € bem-sucedito na d iveis que inteoduci é esse > que a imparcialidade deve. permanecer como wm ideal | factivel, mas também que els nav implica a neutralidade. 6 Que T1v0 pe psquisa save [AD PROORESSO DA SOCIEDADE BRA: Aconclusio acima torna possivel um questionamento da ciéncia ‘mais profundo do que 0 da critica pés-moderns, 4s10.¢ com- (— Womomento atual, as prdticas de contrale da | nas maos do neoliberalismo e, assim, servem adeterminados Ceancca vats pativel coma imparcialidade, mas nao com aneutralidade. apli- cago daciéneia moderna, emsua maior parte, serve especialinen- tes perspectivas de valor ¢ aos projetos morais que tém em alta\ eatimaovalor de ampliar-nossa capacidadede controlara naturer parao brasileira~ “eiencia parao progresso da ite ser suplementado (ou su~ & ‘Talver esse tipo de entendimento nao contribua progresso da socieda: IN rer est80) 9 lores e nio a outros. Server ao individilalismo em vezde & su Gariedade;a propriedade particular e 20 luer em verde aos bens a9 mercado em ver bem-estar te todas as pessoas; a” uti le a0 fortalecimentsda pluralidade de valores: liberdade individual a eficacia economica em ver de a lihetta 18 di e Gio humans; aos jnteresses'dos ricos em verde pobres; a democracia formal em vez.de A democracia participati va; a08 direitos civia © ‘com os direitos soc lista devalores neo! opuilar, Hojeem di capacidade decontrolar a naturera~serve aos interesses do nieo- liberalismo, Ela poderis servir também a valores econdmicos eculturais. A primeira éuma rerais; a segunda, de valores do movimento aciénois moderna~eo aumento da nossa Mais umavez, consideremos a semente (de trigo ou de arvoa) No conte: e,assim, 0 ecu uso ¢ouso das colbeitas tornam-se parte da logica do lucro e do investimento capi € nao da légica do bem-estar das pessoas nas regides podutoras e Hugh Lacey (Shiva, 19914). Sugico que os valores aliernativos despertam 0 imteresse pela pesquisa que investiga questdes tais como: quais sav as possibilidades de produzir colheitas paraque todas aspes- soas numa regio especifica obtenham acesso a um regime nu tritivo, numeontextosocial que reforeaa participacio local esus- tenta 0 meio ambiente? Essa questo nao abstrai das condigaes da experiéncis diéria © atividades préticas prevalecentes nem pressupde que questdes da ordem social estejam subordinadas a implantacio de controles inovadores com respeito a produgio e distribuigio. Nao considera a biologia, a ecologia ¢ a sociologia separadamente. Insere as questdes sobre os rendimentos das colheitas em meio. outras dos seguintes tipos: quais s40 28 con digSessocioccondmicas ¢ os efeitos soviais da produgto agricola? Quem controle a produgio? Como a utiliza? Como a distribui? Com as condigoes socioeconomicas da produgio sto adequadas Aquelas dadistribuigio? Quais ofo o8 seus efeitos sobre a saiide ¢ aecologia? Assim, osrendimentos das colheitas passam a ser in- vestigados nio apenas em fungio de quantidades, absiraindo-se de sua relagao com os seres humanos, como ocorre nas estraté- gias materialistas, nas tambern em fungao de variaveis sociais € humanas, No contexto dessas questbes, damos stengao ao local e 4s suas particularidades: as condigdes da terrada regio, as varie~ dades desementesda regia, os métodos que sustentama ecolo- gia local, a disponibilidade de controles “naturais" de pestes, as prati dla regiao, as relagoes socloeconomicas lo~ ais les, as aspiragdes ea histéria locais (cf. Cap. 6; Shiva, 19912). Sugiro que a pergunta “Quais sao as possibilidades para melhorsr 0 bem-estar de todos numa regiao?” talver nao recsbauma boa resposta da parte da pesquisa conduaida exelusi- ins materialistas. Para realizar as investi~ gagbes relevantes com vista a uma tal resposta, precisamos talvez, indagar sobreakgumas formas de entendimento diferentes doen tendimento materialista vamente pelas estr Canc evatonts De qualquer forma, para identificar qual o tipo de ciéneia ovo tipo deentendimento sistemético ¢ empiricamente fundamenta do que serve a0“ progresso da sociedade brasileira”, precisamos primeiro identificar o que ¢ o progress da sociedade brasileira. F esta é uma questio posta nio apenas aos eireulos cientificos, rs iambém aus debates demoeratices.

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