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GILISSEN, John. “Os Direitos dos povos sem escrita”. In . Introdugao historica ao Direito. Lisboa: Fundagao Calouste Gulbenkian, 1986. pp 31-50. CAPITULO 1 OS DIREITOS DOS POVOS SEM ESCRITA 1. O problema das origens a partic da época em relacéo & preciso portanto disti Elec icpee eeea neater ol ecm ‘em consequéncia, dos primeiros textos juridicos situa-se em épocas diferentes para as_ diversas civilizacdes; assim, para os Egipcios, a transicio data de cerca de 28 ou 27 séculos antes da nossa era; para os Romanos, cerca dos séculos VI ou V antes da nossa ‘maior parte das instituicées on vill 6, portanto, quase insolivel. No enranto nio se deve renunciar a estudar os .. permanecendo-se todavia muito prudente nas conclusées que se rar dos estudos feitos. : 1er0sos trabalhos foram consagrados aos aspectos mais arcaicos do sistema dos poves que vivem » € que no conhecem statar na Austrilia ou em Africa. arcaicos que nés podemos estudar hoje sofreram jé transformacdes pelo contacto com os direitos europeus. E portanto quase l encontrar ainda um direito «primitivo», no «estado puro» itos dos povos sem escrita consticui ita do que pode sero direito dos povos da s.pré-historica. Este estudo constitui um objecto dos trabalhos de S) ‘que analisam os aspectos juridicos das sociedades contemporineas oa antigas que no conheciam ainda a escrita ® Durante muito tempo deu-se 0 nome de «direitos primitivess ans sistemas ddarmos cont = juridicos des povos sem escrita. Esta expressio aio & de modo algum adequada, pois ‘numeroses povos conheceram uma longa evo sun vida social ¢ juridica sem admits awn |/ eee ee 2. Actualidade do estudo dos direitos dos povos sem escrita, Cok © descolonizacies = ou =primitivos=. As civilizcées mais - | | saborigenes da Austrilia ou da Nova Guiné, dos povos de Bornéu, de certs povos indios da Amazénia no Brasil. Noutros »_dot povos indigenas atingiu um certo grau de evolucio que varia, de 2 ‘Festo, de povo pars _povo. Na Indonésia, por exemplo, as populagdes autécrones, sobretudo as de Java ¢ de Bali, possuiam jé antes da épocs da colonizacio holandesa um sistema juridico relarivamente deseavolvido que os Holandeses chamaram de adatrcht Giteivo adat, dac-law) (Os direitos dos_povos sem escrita sio portanto mais ou menos -arcsicos ou, nl sere eae a a direitos dos povos da Aftica Negra ¢ de Madagiscar conheceram uma longs evolucio | lum Rei assistido por funcionérios ¢ governadores locas, 2 ede tipo feudal implancou-se © permaneceu durante muito ‘no Burundi; nouteas regides, por fim, como seja 0 Costa do Marfim), centam ii open a toda a populagio, conrestando tod: im do periodo colonial (1960-1975) Porcug: a ‘uas coléniasafrcanas provincas ¢ tinha tentado integrar os diversos sistemas juridicos. Mas, apesardests exforcos, 0 pluralism juridicoesté longe de rer desaparecido de facto 35 representante de Deus na terra, ou 0 papel do Direito Canénico no dominio do ‘casamento e do divércio. Restam para além disto algumas sobrevivéncias de elementos por exemplo 0 juramento que em certs paises € eves a importincia da influéncia religiosa Sequéncia dos escritos de Sumner Maine las provas de justia, recorre-se muitas le Deus» pela agua a ferver, 0 fogo, 0 podetes sobrenaturais quem tem razio. ppenas infligidas podem ser a morte, as penas la uma das sancées mais graves nis sociedades ‘do grupo, que para o expalsado leva a 1s de caricter eral e permanente fem Madagiscar, entre 1787 € 1810, aproximadamente, nuitas vezes finalmente, no «Cédigo dos 305 artigos» da rainha “antes da colonizagio francesa, 38 x provrbns e adigies sio um modo frequente de expressio do Fra dificlmence acessiveis 208 prfanos. Nao € todavia possvel ‘peord los oe stemas ors em que a meméria colectiva, sob est forma ou ours (poems, lndas, etc.) desempenha um papel primordial. 5. Critica da concepeio evolucionista e progressiva No decurso do século XIX, ncia das teorias de Auguste Comte, de € de outros, os ernblogos construiram d) Por fim, costume, ainda aparencemente Iégico para i wva passando necessariamente pelas unides de grupos, © matriarcado, o patriarcado, Ko de parida, 6 nada social, ou seja uma Gpoca em que os sociedade e em que nosOes tais como familia ¢ cli aio ido conhecidas. Procusava-te no modo de vida de certos animais, sobrerudo not teriam sido cemporirias. ‘em cercos povos da Australia, ‘eventualmente, 20s seus itmaos e iemas uterinos. estidio do pacriarcado quando apareceu um laco juridico entre 0 filhos, Este laco resultaria da tomada de consciéncia pelo pai do facto que 2 crianca que vai nascer da sua igualmente «0 seu» filho. Neste estado, a in sstidio seguinte setia 0 do cli, constituide por um grupo de familias que tum antepasado comum praticavam 0 culto dese . Enfim, a eibo wns Be eer oc ancepassado, Enfim, a =e eSquema € demasiadamente simples ¢ demasiadamente légico para set os pela etnologia juridica nao 6. Sociedades matrilineares e sociedades patrilineares Renunciando a formular hipéeeses sobre as formas mais arcaicas da vida em os diferentes tipos de social que se podem reconstituir, sobretudo os tipos matrilineares € \ fs mais arcics¢ mais permanenes. £ «uniSo almente no quadeo da (‘tml rutin pt bl oes Kegs ate, An pt ene, spn infer sre co os ase nao Ronde Gaby ea ae tomo tga pss lia a, Parcaesco matrilinear Parentesco pattilinear t=O a-0 490 ’=0 =O | A=0 B=0A=0 | cada a | | mulher hhomem, po Oo bod & es, em virtude do. papel homem e em virtude do seu nomadismo mi ta cerca de cinquenta a em edificios EXEMPLO DE PLURICASA DOS SERER (SENEGAL) 4 1c quase sempre & formacio de mais forte predomina nas mo cl trio tendéncia a reforcat 0s lagos que os 9, & em relagio a qualquer membro do iuo ado tem nenhum diteito; é enquanto age, que ele existe. O cla forma uma comunidade de pessoas € inuigoes de diteito 8. Actnia A ctnologia € s citacia das etnias ov povos. Na organizacio dos povos sem escrita, sctul a escrutura sociopolitica superior, agrupando um niimero indeterminado de clés. A etnia € uma comunidade que tem um nome comum, uma meméria comum, luma consciéncia de grupo, expressdo de uma certa comunidade culeural. A etnia tem também — muicas vezes, mas nio sempre — uma lit 43 zestio da comunidade quer ao lado, juente. Encontra-se um sal érpio de parcialmente as vingancas privadas que slo prejudiciais a cenfraquecimento ou mesmo a sua destruicao, ‘ow julgamentos de Deus (cf 2 Mote dedaaciadatens (9) ‘205 membros do seu cla, ele 8) Tal como 0 homem esta misticamente ligado c sce sente-se ligado do mesmo modo a certos objectos. De resto, a sua individualidad 4 sera rere Si sot ea rieaa SNe ee eee ease ucseceeoe 5 Se re gee win tam anaes poe e es snoa de que se serve para le pessoal apresentam-se como pertencas sob 0 cou mesmo ao cli de que faz parte, pois wa. Esta pes cr ob pena de sancées sobrenaturais; 0s bens sio em principio om um sinal exterior (por exemplo, uum traco, de se apropriar de uma coisa para a tornar . de uma certa acrentacio nase O/Pellach uma ver dessacrlizado, parece estat na cede de longe a propriedade imobiliria, mais 2x9 1966 na da fdia, da China e do Japo (no século XVI e, enfim, sna Europa do século X ao século XIT 11, Aparecimento de cidades e de direitos urbanos a i hoa a ie Rs eS Joe «Rabon Caiber, 1), 1956, em Sateen Pr 96cm ¥ JOUON ‘ 47 48 DOCUMENTOS 1. ZAIRE: Orpentaapée madiional ‘A. DORSINFANG-SMETS, -Les peuples dela République démocratique du Congo, ds Rwanda ec du Burundi», Esbolpie rigional, sob a dreceo de J. POIRIER, 1, Exylpédie dla Plinde, 1972, p. 611e58. “Tres grandes tipos de pareareco sfo urilizados plas populagSes do Congo. No siscema bilinear, os parentes, socialmente recoahecidos, pertencem tan i linha parerea como & links 50, 49 2. ZANDE (Zaite), Diretoconuetudindrio¢ jerspradéncia Tu, que distribuis comida ao rato da flores, ndo esquecas os rates qu te do matrinis Eee. " © 8: «Ohomem desbravari o campo para a mulher» A © homem G. vem queizar-se em tribunal que a v2 mulher el volar pars ele. N-€ A. nfo contseam o ito ma explicam-n0 Maraio Nyombe, porque ele nio tem familia, © rato dos campos, se quer vier muito tempo, néo come as bagas de out. evo so cu mad en adver de er pod vl 30 R. WANNUN, Proverbs, ae endo executar as suas obras Afrcanae, 2.25, 1936. ae 2. O terceio que tina a guarda efecrva do cio no momento dos faces nig & posto em ‘causa; 560 proprietiic do animal éresponsivel. J VANIERIINDEN, Conrumir, mana! t jrtprdne do drt zune, Bruxelles 1969, p. 38, 42, 126, 160 er 161.

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