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‘ACTA SCIENTIAE & TECHNICA LICENCIAMENTO AMBIENTAL: DISCUTINDO CONC ISSN: 2317-8957 Volume 2, Number 2, Dec. 2014 Francisco J. Gurgel (Cento Universitsio de Vota Redonda -UniFOA, gurgel,r@email.com RESUMO: © licesciamento ambiental & um dos inssumentos mais importantes da Politica Nacional de Meio Ambiente etabelecidos pe lei federal ‘6938/8 e tem por abjetive maior a adogto de medidas prévias compensadorase miigadors a stem exigidas pelo Siglo ambienal ‘0 roquerene visando a duo ef miigasdo dor impecos ambicnais ne iador vos advindos da aividade cfetiva cou potecialmentepoludora a ser licenciada. O entendimento pleno de sua aplcabildade pelos gestres pblicos, emproendedorese sociedad & impresindvel para a proteio dos recursos ambienasexistentes.O artigo em tel protende a discs dos conceita referents ao lcenciamento ambiental existent priontaiament as diferengase simltudes enconteads Palevas-shaver:Liveniamento Ambiental, instrmentos, defnigies ABSTRACT: Eavisonmentl licensing is one ofthe most important instruments of enfocande 12 National Fnvtonmental Policy established by Federal Law No, 693881 and its key objective isthe adoption of pre-compeasating and mitigating measures to be demanded from the applicant by the eavionmental licensing agency siming at a redoction and / or mitigation ofthe negative environmental impacts polling activity to be censed, The full understanding of its epplcsbily ising from the effective and/or potentially ty public managers, entrepreneurs and the society is essential forthe Protection of existing evionmental resources. This atile intends to discuss concepts related tothe existing environmental permit, primaily ‘ocusng on the diferences and similarities found Keyword Environmental Licensing, instruments, definitions 1 INTRODUCAO. A intervengdo antrépica. sobre a litosfera, quer seja em dreas urbanas ou rurais, demanda a ocupago ¢ a transformagio da superficie do terreno, Dependendo do tamanho dessa intervengio, das praticas conservacionistas utilizadas e dos _riscos geomorfologicos envolvidos, os _impactos ambientais associados poderdo causar grandes prejuizos ao meio fisico ¢ aos seres humanos (Guerra, 2003). Aproximadamente 80% da populagio brasileira habita os centros urbanos hoje, quando em 1970 apenas 30,5% localizavam-se nas cidades (IBGE, 2000). Foi a partir do final da década de 50 que se passou a buscar melhores condigdes de vida nas cidades. Com © desenvolvimento da indéstria e a falta de condigdes no meio rural, o pais assistiu a um éxodo sem precedentes. ‘A causa fundamental dessa revolugdo foi o aumento da oferta de empregos ¢ melhores condigdes de vida para dar suporte & industria, viabilizada pela energia hidrelétrica em algumas regides do pais, como o Sudeste, por exemplo, Esse adensamento, se de um lado ofereceu a uma parcela da populagio acesso a0 trabalho e melhores condigdes de vida, por outro lado causou um desequilibrio urbano, 20 social ¢ ambiental, que ndo se conseguiu ainda solucionar. No que se refere ao meio ambiente, lixdes a céu aberto, esgotos domésticos langados nos rios urbanos sem qualquer tipo de tratamento, poluiggoatmosférica pelo langamento de CO2, excesso de trifego e de ruidos, ocupacio ilegais em reas que deveriam estar _protegidas, _loteamentos clandestinos, falta de espagos verdes ¢ vias sem qualquer arborizagdo, _enchentes, destespeito aos pedestres € as. bicicletas, painéis de propaganda em grandes avenidas, areas construidas muito além das taxas de ‘ocupagiio autorizadas ainda sao elementos do cotidiano brasileiro, com os quais parte da populagao urbana convive (Granziera, 2007). Uma sociedade cada vez mais complexa, planetaria, como a dos nossos dias atuais, baseada em paradigmas fragmentirios, individualistas, simplificadores da realidade, antagdnicos a uma realidade complexa, caminha a passos largos para a degradagao da qualidade da vida humana e planetiria; para uma crise socioambiental de insolvéncia (Guimaraes, 2003). Notadamente, a auséncia de planejamento ambiental &, sem divida, uma das principais causas da perda de qualidade ambiental dos citadinos e do meio ambiente que os pois afeta diretamente a atmosfera, as Aguas interiores, superficiais ¢ subterrineas, os estuarios, 0 mar territorial, o solo, 0 subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora, definidos como recursos ambientais (Lei Federal n° 6938/81-Politica Nacional do Meio Ambiente) Para gerir este patriménio ambiental megabiodiverso de extrema importancia para a sustentabilidade da nagdo, o Brasil dispde de um arcabougo legal consideravel: Lei Federal n? 12,651/12 (Protegao da cobertura vegetal nativa), Lei Federal n° 6.76/79 (Parcelamento do Solo Urbano), Lei Federal n° 6.938/81 (Politica Nacional do Meio Ambiente), Lei Federal n° 9.795/99 (Politica Nacional de AS&T Volume 2, Number 2, Dec 2014 Residuos Sélidos), entre outras normas de nivel hierarquico menor e de relevante interesse para os operadores do direito e demais profissionais da rea de meio ambiente. Destaca-se entre as leis ordindrias citadas acima a lei n° 6.938/81 que dispde sobre a Politica Nacional de Meio Ambiente, seus fins € mecanismos e estabelece _principios, objetivos e instrumentos que até hoje sio basilares e norteadores da politica ambiental a ser desenvolvida pelos drgios federados nas suas respectivas jurisdigdes. A lei n° 6.938/81 teve origem num fato, nada auspicioso, que causou repercussio negativa na opinido publica internacional, quando foram transmitidas via _satélite, imagens de criangas raquiticas e adultos com baixa expectativa de vida por causa da incidéncia de cancer causado por contaminagio quimiea, oriunda de indéstrias altamente poluentes, situadas em Cubatio, So Paulo (Rios & Araujo, 2005). Em resposta ao clamor _piiblico provocado pelos efeitos nefastos da poluigao industrial, o Congreso Nacional aprovou a lei n’ 6.938/81, estabelecendo a Politica Nacional de Meio Ambiente e instituindo 0 Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e as competéncias do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA),; criando o Estudo de Impacto Ambiental ¢ 0 Relatério de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), 0 licenciamento ambiental e 0 estabelecimento das responsabilidades objetiva e solidéria. Segundo Rios & Aratjo (2005) 0 paradigma legal utilizado para sustentar 0 projeto de lei que viria a estabelecer a Politica Nacional de Meio Ambiente, foi o National Environmental Policy Act (NEPA), a lei da politica ambiental norte-americana de 1969, que previa entre outras novidades avaliagao de impacto ambiental (AIA), para projetos, planos e programas e para propostas legislativas de intervengZo no meio ambiente de forma interdisciplinar. CEPAM (2007) noticia que o termo poluic&o no existia no vocabulario corrente Gurgel 2014 da populagio brasileira até a década de 1960 ¢ que os primeiros organismos _piiblicos brasileiros a lidar com esse conceito foram criados no ABC paulista, bergo da indistria automobilistica no Brasil e que entre 1968 ¢ 1973, o governo do Estado de S4o Paulo cria 0 Fundo Estadual de Sancamento Basico ¢ seu Centro de Saneamento Basico (Cetesb), que hoje se chama Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Em 1976, a Lei Estadual 997, que institui o Sistema de Prevengdo ¢ Controle da Poluigio do Meio Ambiente, proibe langamento de poluentes no ar, ‘gua e no solo € estabelece o licenciamento ambiental como instrumento de controle de fontes potenciais de poluigdo (CEPAM, 2007). A partir de entio, para empreender qualquer das atividades, obras ou servigos definidos na legislagio, 0 particular ou o poder piblico deve atender as precaugdes requeridas pelo érgdo ambiental. No Brasil, estudos ambientais sao exigiveis para obter-se uma autorizagio governamental para realizar atividades que utilizem recursos ambientais ou tenham o potencial de causar degradagdo ambiental, Tal autorizagdo, conhecida_ como _licenga ambiental, € um dos instrumentos mais importantes da politica ambiental péblica, tem ariter preventivo ¢ visa evitar a ocorréncia de danos ambientais (Sinchez, 2008), 2- MATERIAL E METODOS, Neste artigo 0 objetivo central & a comparagio entre as definigdes existentes que tratam do licenciamento ambiental e sua importincia para a protegio dos recursos ambientais descritos pela Politica Nacional de Meio Ambiente em seu texto. Antunes (2007) defende que licenciamento ambiental é 0 instrumento mais importante para a aplicago do principio da prevencio de danos ambientais, pois & por seu intermédio que as autoridades _puiblicas 21 pela protegdo ambiental, podem, efetivamente, adotar medidas capazes de evitar danos ambientais ou mitigé-los. Sustenta ainda que o licenciamento ambiental, por diversos motivos, perdeu o seu cariter de anilise profunda das diferentes implicagées ecoldgicas, sociais e econémicas de um determinado projeto para se transformar em um procedimento quase sempre burocritico, lento e incapaz de atender as necessidades da sociedade que necessita de protecio ambiental e de atividades econémicas. © licenciamento ambiental no Brasil comegou em alguns Estados, em meados da -ada de 1970, e foi incorporado a legi federal como um dos instrumentos da Politica Nacional de Meio Ambiente. Granziera (2011) assevera que o licenciamento ambiental & um dos mais importantes instrumentos de gestio do meio ambiente ¢ que possui natureza técnica, na medida em que analisa os impactos que um empreendimento poder. causar_— em determinado territério, de acordo com seu porte caracteristicas, utilizando, para tanto, parametros definidos pelas varias ciéncias que So suporte téenico ao direito ambiental ¢ a0 mesmo tempo, constitui um tipo de processo administrativo, submetido ao regime juridico de direito piblico. Sanchez (2008) sustenta que a necessidade de autorizag3o governmental para exercer atividades que interfiram com 0 meio ambiente tem um longo histérico, antes que o licenciamento ambiental surgisse com as feigdes atuais e que o Cédigo Florestal de 1934 jd exigia a necessidade de obtengio de uma autorizago para a “derrubada de florestas em propriedades privadas”, 0 “aproveitamento de lenha para abastecimento de vapores e maquinas”, ¢ a “caga e pesca nas florestas protetoras ¢ remanescentes”. De Martini & Gusmao (2003) esclarecem que o licenciamento ambiental foi instituido pela primeira vez no pais no Estado do Rio de Janeiro, através do Decreto-Lei n° 22 1633, de 21 de dezembro de 1977, 0 Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras (SLAP), que se constitui num conjunto de leis, normas técnicas ¢ administrativas que consubstanciam as obrigagdes._— ee responsabilidades do Poder Piblico ¢ dos empresirios, com vistas 4 autorizagao para implantar, ampliar ou iniciar a operagdo de qualquer empreendimento potencial on cfetivamente capaz de causar alteragées no meio ambiente. © licenciamento ambiental ¢ 0 instrumento elencado ¢ previsto na lei federal n° 6.938/81 que determina a realizagdo de estudos ambientais prévios para os. empreendimentos com potencial para gerar prejuizos ambientais, Milaré (2009) define o licenciamento como agao tipica ¢ indelegavel do Poder Executive e que constitui importante instrumento de gestio do ambiente, na medida em que, por meio dele, a Administragio Publica busca exercer 0 necessario controle sobre as atividades humanas que interferem nas condigdes ambientais, de forma a compatibilizar 0 desenvolvimento econémico com a preservagio do equilibrio ecolégico. Talden (2006) sentencia que nao se deve confundir o licenciamento ambiental com a licenga ambiental, jé que aquele é o processo administrativo por meio do qual se verificam as condigdes de concessio desta ¢ esta & 0 ato administrativo que concede o direito de exercer toda e qualquer atividade utilizadora de recursos ambientais ou efetiva ou potencialmente poluidora Sustenta ainda que significa que nao existe licenga ambiental sem licenciamento ambiental, mas que este pode existir sem aquela, porque € ao longo do licenciamento ambiental que se apura se a licenga ambiental pode ou nao ser concedida. Trennepohl & Trennepohl (2010) asseveram que o processo de licenciamento ambiental € um dos mais importantes instrumentos para a garantia da qualidade de AS&T Volume 2, Number 2, Dec 2014 vida das presentes ¢ futuras geragdes ¢, também, um dos maiores pontos de discordancia e polémica, em fungdo de uma injustificavel omissio —_legislativa. A constituigio Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 225, que a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado incumbe ao Poder Pablico, indistintamente. E no seu artigo 23, ao definir as competéncias comuns dos entes federados, dentre as quais se destaca a protegio do meio ambiente, 0 combate a poluigdo, a preservagao das florestas, da fauna € da flora, dispSe que Lei Complementar deverd fixar as normas para a cooperagiio entre a Unido, Estados, o Distrito Federal e os Municipios. Infelizmente, até hoje, esta lei complementar nao foi editada, lacuna que j se tentou preencher com leis ordinérias, decretos, resolugGes ¢ até portarias. Antunes (2007) sustenta que as intervengdes sobre 0 meio ambiente esto submetidas ao controle do Poder Publico, mediante a aplicagdo do poder de policia e que © mais importante dentre todos os mecanismos que estdo & disposigdo da Administrago para a aplicagio do mesmo é 0 licenciamento ambiental. Assevera ainda que é através dele, que a Administragéo Publica estabelece condigdes ¢ limites para o exercicio das atividades utilizadoras de recursos ambientais. © licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. ~~ medida tipicamente administrativa e, essencialmente, sujeita as regras gerais do Direito Administrativo e, evidentemente, as normas especiais de Direito Ambiental. Frangetto & Pedro (2004) afirmam que a avaliagdo de impacto ambiental talvez seja 0 instrumento de maior importincia na gestio ambiental, pois 0 que se define a partir dela produz efeitos diretos sobre 0 meio ambiente, em exata correspondéncia ao Principio da Prevencio e da Precaugdo © que o licenciamento ambiental esta integrado na Avaliagio Ambiental pois trata-se de um Gurgel 2014 procedimento administrativo pelo qual 0 érgio competente licencia a localizagao, instalagio, ampliagdo e a operagio de empreendimentos ¢ atividades utilizadoras de recursos ambientais. ‘A Resolugdo CONAMA n° 237, de 19 de dezembro de 1997, define licenciamento ambiental como procedimento administrativo pelo qual 0 érgio ambiental competente licencia a localizagao, instalagio, ampliagdo e ‘a operagdo de empreendimentos ¢ atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou _potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradagdo ambiental, considerando as disposigdes _legais regulamentares ¢ as normas técnicas aplicdveis a0 caso. Esta mesma resolugdo também prescreve que a licenga ambiental é ato administrative pelo qual o érgio ambiental competente estabelece as condigées, restrigbes e medidas de controle ambiental que deverao ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa fisica ou juridica, para localizar, instalar, ampliar ¢ operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais, consideradas efetiva ou _potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradagao ambiental. FIRJAN (2004) define que licens: ambiental ¢ 0 documento, com prazo de validade definido, em que o érgdo ambiental estabelece regras, condigdes, restrigdes. & medidas de controle ambiental a seguidas por sua empresa, Entre as principais caracteristicas avaliadas no processo podemos ressaltar: 0 potencial de geragio de liquidos poluentes (despejos e efluentes), residuos s6lidos, emissdes atmosféricas, ruidos e o potencial de de explosdes ¢ de incéndios. Ao receber a licenga ambiental, o empreendedor assume os compromissos para a manutengio da qualidade ambiental do local em que se instala. Trennepohl serem riscos & Trennepohl (2010) 23 salientam que € necessirio diferenciar 0 licenciamento ambiental da _licenga administrativa lato sensu, pelas marcantes diferengas que existem entre permissio, licenga ¢ autorizagao com atos administrativos individuais ¢ licenciamento ambiental como ‘um proceso. Meirelles (1999 in Trennepohl & Trennepohl, 2010) define permissao como “ato administrative negocial, discricionérioe precirio, pelo qual 0 Poder Piblico faculta ao particular a execugio de servigos de interesse coletivo, ou 0 uso especial de bens publicos, a titulo gratuito ou remunerado, nas condigdes estabelecidas pela Administragao”. Define ainda licenga como “ato administrativo vinculado e definitivo pelo qual © Poder Publico, verificando que o interessado atendeu a todas as exigéncias legais, faculta- The 0 desempenho de atividades ou a realizagio de fatos materiais antes vedados ao particular, como, p. ex., 0 exercicio de uma profissio, a construgdo de um edificio em terreno préprio”. Meirelles (1999 in Trennepohl & Trennepohl, 2010) por iltimo definem a autorizagio como “o ato administrative discriciondrio e precério pelo qual 0 Poder Piiblico toma possivel ao pretendente a realizagio de certa atividade, servigo, ou utilizago de determinados bens particulares ‘ou piblicos, de seu exclusivo ou predominante interesse, que a lei condiciona 4 aquiescéncia prévia da Administragio, tais como 0 uso especial de bem piblico, 0 porte de arma, transito por determinados locais, etc.”. Antunes (2007) entende que o procedimento de licenciamento ambiental tem origem a requerimento do interessado, ou de oficio, © se encerra com a concessio ou a negativa do alvara respectivo, isto, é uma licenga ou autorizacio ambiental, conforme o caso ¢ a diferencia da licenga administrativa, pois esta, uma vez concedida, passa a integrar © patriménio juridico de seu titular como direito adquirido, enquanto aquelas esto condicionadas ao ~—scumprimento — de. 24 condicionantes previamente estabelecidas Milaré (2009) salienta que a licenga ambiental difere das demais, pois a licenga tradicional se subsume num ato administrativo vinculado, ou seja, no pode ser negada se 0 interessado comprovar ter atendido a todas as exigéncias legais para o exercicio de seu direito a0 empreender uma atividade e a licenga ambiental depended discricionariedade técnica deferida a autoridade, Neto (2004) pontua que a avaliagio de impacto ambiental ¢ o licenciamento ambiental sio, sem sombra de diivida, dois relevantes instrumentos de materializago desse controle, possibilitando a redugdo da permanente situagdo de tensdo entre as praticas predatérias € a sustentabilidade ambiental. Milaré (2009) sintetiza que a licenga ambiental, apesar de ter prazo de validade estipulado, goza do cariter de estabilidade no poderd ser suspensa ou revogada por simples discricionariedade, muito menos por arbitrariedade do administrador publico. Para a materializagio da licenga ambiental ¢ a produgdo de seus efeitos para o empreendedor com a regularizagio de suas atividades, exige-se uma séric de medidas preventivas que tem por objetivo maior a redugdo dos niveis de poluigio ¢ a adogao de medidas mitigadoras._e — compensatérias definidas pelo érgio ambiental responsavel pelo licenciamento. Sanchez (2008) prescreve que a definigdo dos estudos técnicos necessérios a0 licenciamento ambiental cabem ao drgio licenciador nos casos de empreendimentos que tenham o potencial de causar degradagio significativa. A Resolugo CONAMA em seu art 1°, Ine. III, define que estes estudos so todos ¢ quaisquer estudos relatives aos aspectos, ambientais relacionados _localizaco, instalagdo, operagio e ampliagdo de uma atividade ou empreendimento, apresentados AS&T Volume 2, Number 2, Dec 2014 como subsidio para a anélise da licenga requerida, tais como: relatorio ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatério ambiental preliminar, diagnéstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperagio de reas degradada e andlise preliminar de risco. Estes instrumentos e medidas acima citadas tém como finalidade assegurar ao processo de licenciamento ambiental a garantia de que funcionamento da atividade licenciada estara dentro dos parametros determinados pelas leis ambientais. Trennepohl & Trennepohl (2010) esclarecem que o EIA/Rima nfo se destina a tornar possivel 0 licenciamento ambiental, isto 6 sua finalidade no & justificar 0 empreendimento em face da legislago ou das exigéncias dos érgdos ambientais. Sustentam ainda que, infelizmente, muitos dos estudos ambientais apresentados sio mais parecidos com defesas prévias do empreendimento contra as normas ambientais, inclusive mediante a omissio de dados e informagdes relevantes com a finalidade de conseguir as licengas ambientais. Conforme a exigéncia da norma, os estudos ambientais devem ser apresentados ao Srgio licenciador acompanhados dos projetos ¢ demais documentos exigidos, que, por sua vez analisa 0s estudos e realiza as vistorias que julgar necessdrias, solicitando, se for 0 caso, esclarecimentos adicionais e complementagao nos t6picos que nio forem considerados satisfatorios. Milaré (2009) ressalta que a0 contrario do licenciamento tradicional, marcado_ pela simplicidade, 0 licenciamento ambiental ¢ ato uno, de carter complexo, em cujas etapas podem intervir varios agentes dos diversos Srgios do SISNAMA, © que deveri ser precedido de estudos téenicos que subsidiem sua anilise, inclusive de EIA/RIMA, sempre que constatada a significdneia do impacto ambiental, A Resolugao CONAMA n° 237/97, instrumento normativo para o licenciamento ambiental e seus requisitos cita oito fases que Gurgel 2014 devem nortear as definigdo pelo érgio licenciador, com a participagio do empreendedor, dos documentos, projetos ¢ cstudos ambientais necessérios a0 inicio do proceso de licenciamento; requerimento da licenga € seu anincio piblico; anélise pelo érgao licenciador dos documentos, projetos. ¢ —_estudos apresentados e a realizagao de vistoria técnica, se necessaria; solicitagao de esclarecimentos ¢ complementagdes pelo drgio _licenciador, realizagdo ou dispensa de audiéncia publica; solicita de esclarecimentos.e complementagdes decorrentes da audiéncia publica; emissdo de parecer técnico conclusivo , quando couber, parecer juridico deferimento ou indeferimento do pedido de do empreendedor: licenga, com a devida publicidade. Machado (2010) enfatiza que o procedimento de licenciamento ambiental inicial ou de sua renovagio é de extrema relevancia ¢ que a intervengdo do Poder Piblico na vida profissional ou na atividade de uma empresa s6 ¢ admissivel pela Constituigio Federal em razio do interesse geral e portanto, no pode converter-se em mera expedicao de alvaré, sem outras_considerages ou. avaliagées. 3- CONCLUSAO. O Licenciamento Ambiental segundo os autores pesquisados € uma ferramenta imprescindivel de gestio ambiental que, se aplicado corretamente pelos érgdos ambientais, municipais, estaduais e federais, corobora para a formulagio da convicgo do analista ambiental acerca dos impactos ambientais, positivos negatives advindos da atividade, subsidiando as possiveis exigéncias a serem feitas ao empreendedor para a redugdo dos impactos ambientais negativos produzidos pela atividade poluidora a ser licenciada. A’ grande maioria dos ambientais integrantes do SISNAMA, orgios nda 25 no tem aplicado corretamente este importante instrumento de politica ambiental, desprezando desconhecendo sua capacidade de identificag&io dos possiveis impactos surgidos ¢ de sua fungdo maior que & a protegao do meio ambiente ¢ seus recursos ambientais, Milaré (2009) ressalta que 0 licenciamento ambiental difere_— do licenciamento tradicional e é uno, podendo intervir em todos os 6rgéos do SISNAMA de acordo com a magnitude do impacto a ser considerado. Merece destaque igualmente a definigdio de Trennepohl & Trennepohl (2010) que estabelece de maneira clara a diferenga entre licenciamento ambiental ¢ licenga ambiental ¢ as caracterfsticas do primeiro como ato discricionério € precétio do Poder Pablico. de interesse relevante a definigao CONAMA n° 237/97 que sustenta. a necessidade de se empregar uma cquipe multidisciplinar no processo de licenciamento ambiental para se obter visGes miltiplas minimizar os impactos ambientais negativos advindos da atividade licenciada. ‘As definigdes aqui apresentadas sio uninimes em reconhecer 0 licenciamento ambiental como uma ferramenta de vital importéncia para a protego dos recursos ambientais existentes e citam 0 Poder Piblico como o grande responsivel pela efetividade desta empreitada, empregando seus maiores esforgos para compatibilizar o progresso com a protegio ambiental na busca do desenvolvimento sustentivel. aR ENCIAS BIBLIOGRAFICAS ERI ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 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