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Xenofonte, Ditos e feitos memorveis de Scrates, IV, 2)

Dize-me, Eutidemo, j estiveste em Delfos?

Duas vezes, por Zeus! Ento leste a inscrio gravada no templo:


Conhece-te a ti mesmo?

Li.

No deste importncia ao conselho, ou o aceitaste e procuraste saber


quem s?

Por Zeus! Ento no havia de conhecer-me a mim mesmo?! Difcil me


seria aprender outras coisas, se a mim prprio me ignorasse.

Ento pensas que conhecer a si mesmo seja saber como se chama? Assim
como no julgam os compradores de cavalos conhecer o animal que
desejam comprar antes de verificarem se dcil ou dado a empacar, forte
ou fraco, veloz ou lerdo, enfim, todas as boas ou ms qualidades de uma
cavalgadura, no deve pesar-se a prpria capacidade para se saber quanto
se vale?

De fato, parece-me que no conhecer o prprio valor ignorar a si


mesmo.

No evidente ser esse conhecimento de si mesmo fonte de infinidade de


bens, enquanto milhares de males causa a viso torta das prprias
possibilidades? Os que conhecem a si mesmos sabem o que lhes til e
discernem o que podem do que no podem fazer. Realizando o que est em

seu poder, conseguem o necessrio e vivem felizes. Abstendo-se do que vai


alm de suas foras no caem no erro e evitam o insucesso. Enfim,
encontrando-se em melhores condies de julgar os homens, podem,
empregando-os proveitosamente, obter grandes bens e evitar grandes
males. Ao contrrio, os que no conhecem a si mesmos e ignoram o prprio
valor no julgam melhor os homens que as coisas humanas. No sabem
nem o que lhes devido fazer nem como faz-lo. A respeito de tudo
iludidos, deixam escapar a felicidade e se precipitam na runa.

(Xenofonte, Ditos e feitos memorveis de Scrates, IV, 2)

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