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Eduicopdo, Sociedade & Cultusas, n° 17, 2002, 113134 A REPRODUCAO INTERPRETATIVA NO BRINCAR AO “FAZ-DE-CONTA” DAS CRIANCAS’ ~ William A; Corsato’t i226... As evolugdes tebricas recentes na soctologia, antropologia e psicolo- Sia levaram ao desenvolvimento de uma abordagem interpretativa da socializacao na infancia Nesta perspectiva, a socializacao 6 vista mais como um processo reprodutivo do que linear, O processo é reprodutivo na medida em que as crlancas ndo se limitam individualmente a inte- vorizar a cultura adulta que Ibe € externa Pelo contrarto, as criangas tornam-se numa parte da cultura adulia, ié contribuem para a sua reprodugdo através das negoctagées com os adultos e da produgao cria- iva de séries de culturas de pares com outras criancas, Neste artigo analiso uma actividade didria na cultura de pares das crtangas pequenas. a sua produgho de jogos de ‘faz-de-conta” dramdt- cos A micro-andlise comparativa do “faz de conta’ das criancas bran- cas da classe média e das negras de classes baixas mostra como a pro- ducdo e a partilba de elementos importantes da cultura de pares das cri- ancas contribuem para a reprodugdo de caracteristicas bdsicas da estrue tura de classe amertcana As evolugdes tedricas recentes na sociologia (Cicourel, 1974; Giddens, 1984 € Goffman,1974) anwwopologia (Geertz, 1973 © Gumperz, 1982) € psicologia “Este artigo. escothido pelo autor, foi primeiramente publicado na revista internacional Childboad, 1993, 1,85-95 A ttaducio é de Manuele Feereira ¢ Isabel Abreu “* William A. Corsaro € Robert H. Shatter Class of 1967 Endowed Professor of Sociology mia Univers- dade de Indiana, Bloomington, EUA erUCAcay sociepane & curruras (Corsaro, 1992; Corsaro & Rizzo 1988) Ver também Ochs, E (1988), Schieffe- lin, B B (1990)! levaram ao desenvolvimento de uma abordagem interpretativa a socializacao da infincia Nesta perspectiva, as ctiancas comegam a vida como setes sociais inseridos numa rede social ja definida e, através do desenvolvimento da comunicacio e linguagem em interaccio com outros, constrdem os seus mundos sociais Com efeito, é nestes microprocessos, envolvendo a interacgao das crianeas com os que cuidam delas e com os seus pares que uma concep¢io do desen- volvimento social como um complexo produtivo-reprodutivo (Cook-Gumperz e Corsaro, 1986) se torna mais visivel Extrapolando a perspectiva de Piaget acerca da nogio de estadios, a abordagem interpretativa considera a socializactio como um processo produtivo-reprodutivo de densidade crescente e de reorga- nizacio do conhecimento que muda com 0 desenvolvimento cognitivo e compe- téncias linguisticas das criancas e com as mudancas nos seus mundos sociais Uma mudanca importante nestes mundos é 0 movimento das criancas fora do seu meio familiar Através da interacgZo com os colegas no contexto pré-esco- lar, as criangas produzem a primeira de uma série de culturas de pares nas quais 0 conhecimento infantil e as praticas sao transformadas gradualmente em conhe- cimento e competéncias necessérias para participat no mundo adulto. No entanto, a producio da cultura de pares nao se fica nem por uma questo de simpies imitagao nem por uma apropriacao directa do mundo adulto. As ctiancas apropriam-se criativamente da informacio do mundo adulto para pro- duzir a sua propria cultura de pares ‘Tal apropriacio é criativa na medida em que tanto expande a cultura de pares (transforma a informacao do mundo aduito de acordo com as preocupagdes do mundo dos pares) como simuitaneamente contribui para a reproducio da cultura adulta Este processo de apropriacio ctiativa pode ser visto como uma reproducio interpretativa, de acordo com a nogio de dualidade da estrutura de Giddens (op cit) Na sua teoria da estrutu- racio Giddens (1984:25) argumenta que “as propriedades estruturats dos sistemas soclais sto tanto melo como resulta- do das préticas que recursivamente organizant” + Ver também Ochs, E (1988), Schieffelin, B B (1990) gDUCACE, socrepape & cuiruras Assim, a estrutura é vista quet como constrangendo quer como capacitando Lal perspectiva da estrutura social pode servir como base pata advogat que a socializagio é mais um processo reprodutivo do que um processo linear O pro- cesso € reprodutivo no sentido em que as criancas pio sé internalizam indivi- dualmente a cultura adulta que Ihes é externa mas também se totnam parte da cultura adulta, i é , contribuem para a sua reproducao através das negociacées com adultos ¢ da producio criativa de uma série de culturas de pares com as outras ctiangas A reproducao interpretativa no brincar ao “faz-de-conta” das criancas Neste artigo obsetvo 0 processo de reproducio interpretativa através da analise do brincar ao fazde-conta sociodramatico das criancas pré-escolares Quando falo em brincar sociodramatico, refiro-me ao brincat no qual as criangas produzem colaborativamente actividades de “faz-de-conta” que estio relacio- nadas com experiéncias das suas vidas teais (por exemplo, rotinas familiares ocupacionais), por oposicao aos jogos de fantasia bascado em nattativas de ficgdo (Corsaro, 1985), Grande parte do trabalho feito nesta area centrouse na contribuicio do brincar socio-dramatico para a aquisicio de competéncias comunicacionais ¢ conhecimento social das ctiangas (Corsaro, 1979; Gatvey; 1977; € Pellegrini, 1984) Outra investigacio ampliou esta énfase no deseavol- vimento, analisando o brincar sociodtamatico como a actividade ou rotina mais valorizada na producto, organizacio e manutengio da cultuta de pares? Apesar destes estucios seem uma importante contribuicio pata a nossa com- preensio do lugar do brincar ao faz-de-conta nos mundos das ctiancas € fo seu desenvolvimento social, pretendo alargar este trabalho analisando o brincat socio- dramético como parte do proceso de reproducio interpretativa na vida das criangas. O meu objectivo é demonstrat como € que criancas pequenas na pro- ducao do brincar sociodramatico usam simultancamente (assim como refinam € depois desenvolvem) um largo espectro de competéncias comunicacionais € ® Ver também Sachs, J, Goldman, J , Challe, C (1985), Smilanski, $ (1983) 2 Corsaro (1985), op cit , Goodwin, M H (1990), Schwartzman, H (1978) eDUCAcgy, socizpape & curruras discursivas, participa colectivamente em, e aumentam a cultura de pares, apro- priam-se de caracteristicas de, ¢ desenvolvem uma orientacao para, a vasta cul- tura adulta, Mas antes de proceder & microanilise de dois exemplos do brincar socio- dramético entre criancas americanas da classe média-alta € da classe baixa, € necessixio descrever sumariamente 0 contexto ¢ método etnografico sobte 0 qual se baseiam estas andlises Contexto e método etnografico Os locais etnograficos para este estudo foram um centro de dia privado e um Jardim de Infancia (JI) Head Start em cidades diferentes do mesmo estado no mid-western Iniciei a minha investigacio nestes locais no inicio do Outono de 1989 € continuei a visitar os JI, uma ou duas vezes por semana, durante esse ano escolar Ao longo deste tempo, observei ¢ patticipei nas actividades das ctiancas, mantive notas de campo detalhadas e fiz uma pequena quantidade de gravacdes audio Com a ajuda de assistentes de pesquisa gravei em video uma amostra das actividades das criancas no illtime més de estudo, nos finais da Primavera de 1990* e entrevistei ainda as professoras dos dois JI 0 infantitio ptivado, que designarei por Infantario da Universidade, tem a reputacao de ser um dos que melhores instalages e servigos possui para cuidar de criancas, nesta pequena cidade universitatia onde esta localizado £ conhecido por proporcionar servigos de alta qualidade com uma forte énfase nas actividades educativas De acordo com a sua reputacio, o custo das mensalidades de uma crianga é elevado ea grande maioria delas sto oriundas de familias da classe média € média-alta Apesat da maior parte das criancas serem brancas, ha um pequeno mimero de ctiancas negras ¢ asifticas. Este Infantirio aceita ctiangas das 6 semanas aos 13 anos. Estio divididas em 8 grupos, de acordo com a suas idades, aumentando a racio professoraluno com a idade das criancas Observei actividades e recolhi dados em duas salas; uma do grupo de 3-4 anos € outra do grupo de 4-5 anos, cada uma delas tinha uma professora e uma auxi- + Consaro, WA (1985), op eft, Corsaro, W A (1988) go¥CAcg, sociepane & curruras liar A maioria das criancas frequenta 0 Infantrio todo o dia, levando-as os pais, por vezes antes das 9 da manhi ¢ irido busca-las no final do dia de trabalho (0 Infantario esta aberto de segunda a sexta-feira, das 6:30h da manha as 6h da tarde). Em média, por dia, havia entre cerca de 12 a 20 criancas em permanén- cia em cada grupo. Cada uma das salas € dividida em centros de actividade (@ frea de reuniio, a casinha, biblioteca, érea de jogos de construcio, ¢ mesas para o desenho e trabalhos manuais mas também para refeicdes ¢ lanches) Ha também uma grande éea ao ar livre com equipamento de recteio moderno (escortegas, barras para escalar, baloigos O fi Head Start onde desenvolyi a pesquisa é um dos trés locais existentes numa grande cidade do mid-western, situado numa escola priméria antiga, recen- temente recuperada No andar de baixo encontra-se um ginasio, biblioteca, cozi- nha e nove salas espacosas, no andar de cima, gabinetes ¢ salas de reunides No exterior encontrase o velho recreio tradicional das escolas primarias, com baloi- os, escorrega € cavalinhos’ Tal como no Infantério da Universidade, as salas esto divididas numa série de centros de actividade (area de reunides, casinha, biblioteca, area de jogos de construcio e mesas para o desenho ¢ trabalhos manuais mas também para refeicdes e lanches). Cada uma das salas que estudei (a uma ia de manha, a outra ia 4 tarde) tinha uma professora e uma auxiliat que ali se encontravam cerca de trés horas e meia de segunda a quinta-feita As ctiangas comiam no centro de mani, ao almogo ¢ A tarde Apesar da frequéncia variar muito, havia normalmente entre 12 a 16 criancas em cada uma das salas, diaria- mente Todas as criancas, em ambos os grupos tinham 4 anos no inicio do ano escolar ¢ a maioria delas jf tina feito 5 anos, quando o estudo acabou O Jl Head Start enquadra-se num programa de educac’o pré-escolar “com- pensatério”, apoiado federalmente, que valoriza o desenvolvimento de compe- téncias cognitivas e sociais Para poderem matricular os filhos neste programa giatuito, os pais tem que apresentar rendimentos minimos ou serem portado- res de “necessidades especiais” (ie deficiéncias fisicas ou mentais) Muitas das familias das criangas que observimos foram ou eram beneficiarios da assistén- cia social, apesar das entrevistas realizadas com um niimero de mées das crian- as indicar que a maioria destas familias tinha, pelo menos, um membro a tra- > No original merry-go-round goUCACag socirpane & curruras balhar. As ctiangas que frequentam este J espelham a populacio que vive no centro desta cidade, pelo que a esmagadora maioria das criancas que o frequen- tavam eram negras De facto, nas duas sala estudadas, apenas uma ctianga no 0 era (esta excepgio era uma crianga hispinica) Alias, quase todos os funcio- ndrios deste jl (i é: professores, condutores dos autocattos, administradores) eram também negros. Dado 0 meu envolvimento nos dois exemplos do biincar sociodramitico apresentados na proxima seccio deste artigo, é necessitio descrever a natureza da minha participacio nas actividades das criancas com algum detalhe Depois de alguns meses de entrada cautelosa ¢ aceitacio nos mundos das criangas como um adulto atipico, integrei as actividades de pares como “pasticipante petiférico” A minha actividade foi perifética na medida em que me abstive de a) inciat ou ter: minar um epis6dio, b) intervie numa actividade disruptiva, c) resolver disputas, ou d) coordenar ou ditigit uma actividade O que eu fiz, foi tentar brincar, tor narme parte da actividade sem afectar dramaticamente a natureza ou 0 fluit das actividades de pares. Agindo por vezes, mais como um adulto do que como uma crianca, posso ter ocasionalmente afectado a actividade. Nos exemplos apresentados a seguir, algumas das minhas respostas podem ter conduzido as criancas numa diteccio oposta No entanto, estas respostas foram o resultado das minhas tentativas de compreender a interaccio ¢ de participar minimamente Quando trabalho com materiais deste tipo, normalmente apresento uma micro- andlise multifacetada e centrada em 1) estratégias discursivas que as criancas usam para getar rotinas de pares que demonstram a natureza negociada ¢ colec- liva da interacgo entre pares, 2) significincia da rotina na cultura de pares para captar 0 poder das actividades das criangas no grupo de pares para o desenvolvi- mento continuo das suas competéncias sociais ¢ conhecimento € 3) as rotinas das criancas como experiéncia de socializagio nas quais elas se apropriam de certos elementos da cultura adulta para lidar com problemas praticos da cultura de pares local Estarei aqui sobretudo preocupado com esta tiltima questo: como é que as criancas relacionam ou articulam as caracteristicas locais do desentolar do brincar ao “faz-de-conta” com as suas concepcées do mundo adulto Esta arti- culacdo permite As criangas apropriarem-se de aspectos da cultura dos adultos que depois usam, tefinam e expandem De acordo com a nocao de reprodugao _oUCAGay socizpanr & cuiruras interpretativa, argumento que através de tal apropriacao, as criangas alargam a cultura de pares e contribuem para reprodugao do mundo adulto A fazer gelados no Infantario da Universidade As criancas no Ji da Universidade pasticipam frequentemente em btincadei- tas sociodraméticas adoptando essencialmente papéis familiares € ocupacionais como bombeiros, policias, professores, médicos € operatios. No exemplo que aqui considetamos, varias criancas estabeleceram um entendimento partilhado para participarem numa rotina na qual “fazem coisas com o material para brincar existente no contexto (areia, baldes, pas, etc) A dada altura houve uma refe- réncia para fazer gelados e mais tarde, através das accbes competentes de trés ctiangas (Ann, Ruth e Linda) esta actividade é transformada num brincar ao “faz- -de-conta” na qual as criancas se tornam donas de uma gelatatia. Depois das criancas decidirem que vio fazer gelado, tapidamente relacionam esta actividade com valores partilhados na cultura de pares Isto é feito através da referéncia criativa a elaboracao de um tipo de gelado que é semelhante a um brinquedo (um unicétnio com as cores do arco-iris) que muitas criancas possuemt Gé um gelado do unicétnio atco-iris, linhas 77-79): Exenpto 1: A fazer gelado SEGMENTO 1* * Neste « mas transcricées que se seguem foram usadas as seguintes anotagSes:--assinala autointerrupcio ¢ {nterrupcéo por outros; () quando se apresentam palavras entre parenteses seferemse a notas de trans crighe proviveis. enquanto que parenteses vazios denotam discurso ininteligvel; / assinala sobreposicées da fala erUcacay socrepans & curiuras Depois, uma das criancas, Linda, propde nas linhas 80-82 do segmento 2, que as quatro ctiancas sejam as donas da loja e 0 adulto, o cliente Com certeza que as condi¢des socioeconémicas das criancas sto importantes na sua defi- nigio como donas em vez de empregadas (caso mais frquente nas ctiancas do JI Head Start) ou no alinhamento mais comum em tal brinear ao “faz-de-conta” ocupacional como patrdes ou donos ¢ empregados Aqui, as criancas inspiram-se nas suas ptOprias experiéncias e concepcdes do mundo adulto, alargando a rotina da cultura de pares SEGMENTO 2 eD¥CACES socizpape & curruras Esta articulagdo no é apenas uma questio de classificacZo ou simples imitacdo. Uma vez aceite, esta definicao afecta clatamente 0 desenrolat deste acontecimento interactivo Ao longo das proximas réplicas (na verdade, ao longo de todo o episé- dio) ha muita cooperacio e pouco conflito, pois as sucessivas sugesties sio bem coordenadas num esforgo colectivo. Vejase, por exemplo, as linhas 101, 103 ¢ 105-106 Mesmo quando a Ann discorda em 106, modera a sua oposicio com a construcao “deixa-me”, terminando “Depots, humm, logo vemos”, 0 que pode ser visto como um convite a una sugestio. O facto da participagio do Tom ser aqui quase nula, deixa em aberto a possibitidade das diferencas de género poderem ser relevantes As diferencas no estilo interactive por género, podem também ter influenciado a proposta inicial de Linda Seja com for, a questio principal aqui € que o papel das criangas como donas, influencia claramente a natureza da rotina de pares, para além de solidificar as concepgdes desenvolvidas pelas criancas acerca do mundo socioeconémico dos adultos € nele, o seu lugar antecipado. No entanto, come € frequentemente, no caso das rotinas do brincar das criancas, ha avancos ¢ recuos da cultura dos adultos para a cultura de pares. Ha um movimento a pactir das prospeccdes das criangas acerca do seu futuro para aS Suas retrospectivas em relacio as preocupagdes com as culturas de pares locais Por exemplo, depois de terem agido como co-patrdes e terem coordenado © scu trabalho para responder 4 minha encomenda (linhas 91-108), as criangas ultrapassaram 0 yerdadeiro problema do gelado derretido através de uma das principais maravilhas da cultura de pares das criancas, “fazer de conta” gelado deles € especial porque nao “derrete mesmo que fique ao sol durante muito tempo” (linhas 108, 110-111). Também é importante assinalar a natureza coope- tativa da invencao desta fantasia (todas as meninas conttibuem, Ruth e Linda aqui e mais tarde Ann, em 167 onde a palavra magia ocorre, prolongando inde- finidamente com os seus podetes a vida do gelado). Na tiltima fase do exemplo aqui considerado (segmentos 3 ¢ 4), as ctiancas ampliam o papel ocupacional da brincadeira de “faz-de-conta”, propondo ganhar dinheiro para o hospital ¢ pata as criangas doentes Uma vex mais o papel do adulto é importante, mas a ideia de doar dinheiro para o hospital é claramente uma ideia das criangas Enquanto espero pela minha encomenda pergunto quanto € que vai custar (linha 131) A discussio do dinheito conduz a réplica de Linda em (139) onde ela refere que o dinheiro “vai para o hospital!” epUCatag socigpape & curruras SEGMENTO 3 Apesar de Linda referir que esta decisio tinha sido tomada anteriormente Agora lembra-te disto”), nio houve nenhuma discussio ou seferéncia a este pro- pésito no inicio da brincadeita mas hé outtas coisas a salientar aqui Primeito, tal como quando se definiram a si prdprios como donos da loja, a decisio da doagio de dinheiro as criancas doentes também esta, certamente, relacionada com as experiéncias das criancas no mundo adulto @é: dado que provém de familias da classe média alta é bem provavel que tenham assistido ou sido expos- tas i ideia de eventos de caridade). Segundo, apesar de Linda introduzir a nogio e falar comigo acetca disso, tanto a Ruth como a Ann entenderam ¢ efectiva- mente expandiram a ideia, mais tarde, na interacc4o (segmento 4, linhas 253- -278). Finalmente, observamos claras diferencas no desenvolvimento de con- ceitos acerca do mundo pelas criangas ¢ na sua linguagem, quando comparada com a do adulto (i €: eu uso a palavta caridade, enquanto que as criancas falam acerca de “ajudar os meninos”), Deverd set referido aqui que nao estamos a falar de qualquer tipo de caridade, mas de uma caridade que assume algum valor na cultura de pares (“ajudar os meninos doentes”) go0CAcay sociepape & cursuras No tiltimo segmento (243-273), as criancas voltam & nocio de trabalho de voluntariado SEGMENIO 4 Eee ae miodamesb A sequéncia comeca com a declaracio de Linda que trabalha dia e noite Bu tespondo a isto com a pergunta “Voeés trabalbam 24b por dia?’, 2 qual c gPUCACE, socrepApe & cuLIuRAS linda responde “Néo, n6s trabalbamos 24h de dia e de noite” Uma vex mais observamos que detalhes particulares acerca do mundo adulto sio mais impor- tantes pata o adulto do que para as criancas. De qualquer modo, esta discussio acerca de longas horas ¢ trabalho arduo, serve @ Ruth para regressar a ideia do dinheiro para os meninos doentes. Mas desta vez, a idcia é mais desenvolvida, sendo a esséncia das trocas, a seguinte: trabalho arduo e investimento de tempo rende dinheiro (ou luctos) que sio necessarios para ajudar criancas que esto, tanto doentes, como, além disso, economicamente em desvantagem, devido as despesas do hospital (linhas 262-263). Todavia, mesmo desenvolvendo esta and- lise altamente sofisticada, a Ruth retém ainda elementos importantes da cultura de pares local: os meninos doentes nao receberio apenas dinheiro, mas (se se portarem bem) também receberao balées. Acima de tudo, esta sequéncia demonstra, lindamente, como é que as criangas articulam as suas concep¢ées em desenvolvimento acerca do mundo adulto para refinar e expandir rotinas basicas na cultura de pates Neste processo ha duas conquistas importantes Primeiro, a seguranca das rotinas da cultura de pares é ‘mantida € os seus aspectos criativos sio frequentemente enriquecidos Segundo, as rotinas da cultura de pares sio comparadas e contrastadas com as activida- des das futuras culturas de pares e, deste modo, servem de janelas através das quais 0 futuro € previsto. Como tal, as produges das prdprias rotinas contri- buem para a eventual reproducio de aspectos da cultura adulta mais vasta Conversa telefonica no JI Head Start A semethanga do JI da Universidade, as criancas no JI Head Start também produzem frequentemente brincadeitas sociodramaticas que representam os temas da familia ¢ das suas ocupaces Consideramos aqui uma situagéo na qual duas meninas (Zena e Debra) “fazem de conta” que sio mies a conversat 40 telefone na drea da casinha existente na sala Como veremos, a conversa telef6- nica abarca temas gerais acetca das dificuldades de ser pai/mie A conversa é Pparticularmente impressionante porque €, ma sua natureza, duplamente meta- comunicativa As criangas produzem as suas proprias interpretacdes acerca das conversas telefSnicas das suas mies, em relacdo as exigéncias e problemas (das eoUCACES sociepapE & curruras mies) com a educacao dos filhos Tornando as coisas ainda mais complexas, as meninas param para disciplinar os scus “filhos”, no meio da sua producio da situagdo sociodramatica, ‘As nattativas telefénicas do tipo das que as meninas se apropriacam das suas mies sio especialmente ticas para captar os processos de produgio e repro- ducio cultural Frequentemente, as narrativas envolvem nio s6 a reconstrugio de acontecimentos passados, mas também avaliagdes € interpretagdes dessas situagdes, quer pelos natradores quer pela audiéncia Neste sentido, ambos reflectem e (através da sua produgio colaborativa) constituem uma cultura pat- tilhada Miller & Moore argumentam que habitualmente, quando “os educado- res contam ¢ recontam histétias pessoais, esto constantemente a lembrat-se de experiéncias que sio significativas para si e relevantes para as suas crencas ¢ priticas do cuidar das criancas” Infelizmente, nao disponho de dados acerca das nartativas telefonicas adultas (das méies destas criancas) de que as criangas claramente se apropria- ram. Contudo, a apropriagao das criancas e a produgao de tais nartativas no brincar sociodramatico fornece elementos acerca das suas proprias percepgoes €-as das suas mies, bem como acerca dos sentimentos de parentalidade Podemos ver agora o Exemplo 2 As duas meninas tinham tido alguns pro- blemas em coordenar uma conversa “coerente” nos telefones de brincar Depois de alguns falsos comecos levaram a cabo um breve didlogo no qual “fazem de conta” set os motoristas da carrinha da escola (todas mulheres) que conyersayam acerca das criangas que ali viajavam O exemplo 2 comeca quando a Debra marca 0 niiméro de telefone € inicia uma nova conversa com a Zena no segmento 1° Neste primeiro segmento as meninas, através da sua competéncia para o usat 0 que Goodwin’ designa pot “esquema de ligacio”® estabeleceram um acordo partilhado referente a um t6pico geral para a sua conversa telefonica Apesar de Goodwin nao fornecer uma definicio precisa de “esquema de ligacio”, ele pode ses visto como 0 uso sistematico de elementos fonoligicos, © Quer a fala de Debra quer 2 de Zena contém amtitas das caracteristicas do inglés falado pelos negros, deserito em detalhe in Dillard, J 1 (1972) > Goodwin (op cit, 177.185) © No original “format tying’ Cf Goodwin (op cit 92, 177-185) epUChCgy sociepape & cutruras Exmwio 2: Conversa telefonica SEGMENIO 1 sintacticos ou semanticos da estrutura superficial do discurso para ordenat sequencialmente a conversa informal’ No segmento 1, vemos que em resposta 4 pergunta da Debra em 78, Zena refere que est a cozinhar mas necessita ir 4 met- ceatia Debra, liga a sua resposta 4 réplica anterior de Zena em 80, assinalando. que ela tinha de levar os seus filhos 4 party store (uma pequena loja para com- prar coisas como leite, pio € petiscos) Zena, pega entio, na introdugio da Debra, acerca dos mitidos (82), usando, precisamente a mesma frase - os meus mutidos - € salientando que estes queriam ser levados ao parque Zena amplia a sua descrigo na linha 84, introduzindo a informacio de que os mitidos tetiam que apanhar 0 autocarro porque eta muito longe para ir a pé ao parque Na linha 87, Debra continua a sequéncia ordenadamente, através da ligacio seman- tica da sua réplica a intervencao anterior de Zena acerca do autocatto, salientando # Ainda de xeordo com Goodwin (1990: 185) ‘o receptor de uma afiimacio inicial deve utilizar a ‘cena deserita pelo emissor para produzi uma segunda descricio que, mantendo a continuidade da egio € do tema, transforma, no entanto, o cardcter da esteutura, sendo que o receptor, agora na posicio de emissor, assume um posicionamento andlogo ao ocupado peto primeiro emissor" (NT) er¥CAcay socrepape & currtvras a necessidade de ter de esperar pelas ligacées Finalmente, nas linbas 89 € 90, Zena liga a sua réplica 4 réplica anterior de Debra ao referir que ela nfo tem tempo pata esperat pelo autocarro A construcéo competente de um discurso coerente pelas meninas, através ¢a tepetigio das caractetisticas sintacticas das réplicas anteriores € a articula- cdo seméntica para desenvolver ideias ou informagdes no discurso é importan- te porque isso permite a construcio colabotativa de um assunto partilhado: os problemas de educar os filhos na pobreza Aqui, alguns aspectos chave do con- tetido desta primeira sequéncia sio importantes Nao se trata apenas das mies (aqui animadas pelas criangas) terem de fazer todos os dias tarefas como ir 2s compras, mas dos seus filhos esperarem que elas Ihes facultem um mimero de setvicos adicionais (pot exemplo, linha 80 ¢ linha 84, as criancas pedem as suas mies para os levarem a lugares) Contudo, o discurso das criancas revela que nao € facil dat corpo a tais expectativas se nio se tiver um carro ¢ estiverem dependentes de um setvigo de autocarros limitado. Finalmente, assistimos, nestas escassas trocas, ao inicio de uma competicio subjacente entre as duas meninas, de cada vez que uma delas conta novas expe- rigncias que colocam exigéncias crescentes sobre si, no papel de mies. A réplica de Zena nas linhas 89-90 € bastante impressionante a este respeito porque cla nos cham a atencio para a nova informacio na sua réplica, introduzindo nela uma questio tetotica “Adivinba onde é que os meus mitidos me pediram para ir?” Tanto Zena como Debra recortem frequentemente a esta estrutura fiasica, em didlogos posteriores no “faz-de-conta” No segmento 2 as criangas alargam 0 assunto estabelecido acerca das exigén- cias de educat as criangas, discutindo a necessidade de disciplinar os seus filhos SEGMENTO 2 niaps) cu cat Bihreae, (Contac erUCMCgy socrepape & cuLruRAS Zena introduz o assunto “disciplinar as criancas” (linbas 136-138) com uma consttucio que tem a mesma estrutura de trés partes da sua téplica anterior na linha 90 (segmento 1) Zena comeca com uma pergunta de retérica: “Adivinba 0 que fizeram os meus middos?” Na segunda parte da construcao ela fornece uma resposta (queimaram de tal modo o lavadouca ¢ a frigideira que nio con- seguiu ficat com as mios limpas depois de ter lavado a frigideira), e na terceira atte, salienta a sua reaccdo ao mau comportamento deles (punicao fisica). De- pois da resposta de Debra, na linha 139 a qual néo podemos transcrever, Zena potmenoriza a sua hist6ria relatando exemplos adicionais do mau comportamento dos seus filhos (sairem da banheira, andarem a correr com as roupas vestidas, dizerem palavrdes), a sua resposta (batendothes com o sapato) ¢ a sua avaliacio final (Meu Deus, devias ouvi-los!). Zena, faz entio a descrigio dos aconteci- mentos ocortidos de um modo ainda mais real, criando uma cena na qual as criancas se estio a portat mal no momento. Debra, rapidamente repete o deta- Ihe de Zena, afastando o telefone ¢ disciplinando os seus “préprios filhos” (inhas 149-150) Apesar de nao podermos estar certos do leque de assuntos que as mies das meninas realmente discutem. em conversas telefénicas, nio é de admirat que gvUCacay socigpapE & curruras salientem a disciplina das etiangas nas suas aproprlacGes das narrativas das suas mies no brincar sociodtamatico Numerosos estudos acerca do “faz-de-conta” das criancas mosttam que tanto as criancas americanas da classe média como da classe baixa, recorrem amitide a um estilo de linguagem autoritério quando assumem papéis de chefia como mies, pais ou patrées®® Enquanto as criancas nestes estudos revelam claramente estilos de cuidar, quer alimentares quer de controlo, € evidente que ao enfatizarem a disciplina ao brincat ao “faz-de-conta”, partilham um sentido de controlo sobre as suas vidas". Yemos aqui a impor- tincia da cultura de pares na decisdo das meninas para afirmat (c provavelmente distorcer, cm grande medida) a discussio da disciplina, quando se apropriam das narrativas telefénicas das suas mics O segmento 3 do exemplo 2 comeca brevemente depois de Zena pedit pata falar comigo. Eu tinha estado sentado perto de Debra ¢ apés 0 pedido de Zena, Debra passou-me o telefone SEGMENTO 3 Nese feus fillio © Andersen, E $ (1986), Cost (1979), (1985), Goodin (19%), MeLoyd V C1984) 2 Yer Corsaro (1979, 1985) goUcAcay socizpape & curruras Depois de ouvir a discussdo inicial acerca do mau comportamento, perguntei se elas tinham filhos maus (189) Zena respondeu que os seus filhos eram era muito maus (190) ¢ depois prosseguiu, dando diversos exemplos de desobedién- cia (190-191, 193-194). Debra relatou entio uma situagio em que os seus filhos nao s6 foram maus, mas a colocaram numa posicio embaracosa por serem mal- ctiados frente da sua mae (linha 197) Em resposta As minhas questes acerca de quem ensinou aos seus filhos as asneitas (199), Debra exibiu um intrincado conhecimento da estrutura complexa da sua familia e de como isso influencia a interacgao familiar e a tarefa de educar o filhos © segmento 4, revela a natureza complexa das vidas familiares destas meni- nas e da sua aguda.consciéncia da dura realidade da tarefa de educar os filhos na pobreza eis saiss Zena comeca o segmento empregando, de novo, a construgio tripartida: 1) pergunta de ret6rica, 2) relato do mau comportamento dos filhos, 3) reaccho a0 mau comportamento (234-236) Nesta situacio, ela embeleza a descticio do mau comportamento dos seus filhos com a frase “A toda a hora e todo o dia” que capta a persisténcia das exigéncias dos seus filhos Debra sugere entio, acabar a conversa telef6nica € ir visitar Zena a casa (237) Ao principio, Zena declina esta sugestio (238), mas depois muda de opiniio (240) Debra, afirma entio eDVCACES socrepaoe & cursuras que “O meu homem anda-me a chatear” (nha 241) Apesar de ter sido dificil para nds, transcrever esta réplica, a résposta de Zena (242) ¢ o desenvolvimento de Debra (243), foram clara e facilmente transcritos Também a identificagio destes problemas com o seu homem por Debra, podem estar relacionados com a sugestao de que ela iria visitar Zena Em todo o caso, o desenvolvimento de Debra em 243, afirma claramente 0 problema ¢ a sua modificacio temporal, implica que ele & continuado Apesar de nao dispormos de dados acerca do abuso do marido ou do companheiro na familia de Debra, muitas criancas no JI, contaram-me a mim e aos professores, ao longo do ano € voluntarimente, esses abusos Tais relatos levam-me a crer que provavelmente eles ocorrem mesmo! A resposta de Zena (245) que Debra, pelo menos tem “um homem” enquanto os seus filhos estio constantemente a chamar pelo pai, demonstra claramente a compreensio da gravidade dos p1o- blemas da sua mie (€ outros pais sozinhos) em tais situagbes de necessidade O desafio de enfrentar essas circunstincias familiares sozinha, pode, a0 mesmo tempo, ser tio intoleravel que mesmo um companheiro que pode set fisicamente abusivo é melhor que no tet nenhum Conclusio Apesar da grande diferenga no contetido destes dois exemplos do brincar sociodtamatico, envolvendo criangas da classe média alta e ctiancas economi- camente em desvantagem, ser evidente, elas partilham um conjunto de carac- teristicas que sao ilustrativas da reprodugio interpretativa Primeiro, em ambos os exemplos, as criangas apropriaram-se activamente de informacées do mundo adulto para criar rotinas interactivas estiveis e coe- rentes na cultura de pares Devo referit que enquanto as crlancas se referiram 4 punicao fisica no brincar a0 ‘fazde-conta’, neahum des algume vez contou ter sido abusada on abusada sexualmente por ittos. Obsevaimos, alguns exemplos de punicio fisica nas casas de uma sub amostra de crianeas do Jf Head Start ¢ ‘muitos pais contaram recorrer & punicio fisica em resposta a problemas sérios de disciplina, em entrevistas que decorreram nas suas casas s08O4CHS sociepape & cuiruxas Segundo, estas rotinas incluem o embelezamento das criangas’ dos mode- Jos adultos, para realcar tanto as preocupacées colectivas como pessoais na cul- tura de pares Terceiro, nas palavras do socislogo Pierre Bourdieu, a “invencdo ndo intencio- nal da improvisagao regulada” (Bourdieu, 1997: 79)" das criangas nas suas brin- cadeitas sociodramaticas contribuem para o desenvolvimento de um conjunto de predisposicdes (ibid: 72-87), através das quais elas confrontam as estruturas objec- tivas ou as circunstincias da suas vidas quotidianas. Enquanto o desenvolvimento de predisposicdes (ou habitus) das criangas das classes médias altas no exemplo 1, parecem set catacterizados pela segutanga do controlo sobre as suas vidas, a orientacao emergente das criancas em desvantagem do exemplo 2, parece ser, em larga medida, um sdbtio reconkecimento das dificuldades das suas circuns- tincias Todavia, em ambos os casos, estas predisposigdes nao est4o determi- nadas a pattida, nem sio simplesmente inculcadas como Bourdieu sugete (ibid: 85.86) Elas sio produces inovadoras ¢ criativas que por seu lado contsibuem para a reprodugio da cultura dominante com todas as suas forgas e imperfeigdes ‘Mudar talvez o inevitével, as traject6rias sociais injustas das criangas nestes dois exemplos, requer nio sé uma mudanca das estruturas sociais através das quais ‘08 seus diferentes habitus sao construidos, mas também uma apreciagio da com- plexidade e poder das suas competéncias como actores sociais Agradecimentos Esta pesquisa foi apoiada com fundos da Spencer and William T Grat Foundations Quetia agradecer Katherine Brown Rosier pela sua ajuda na andlise dos dados € pelos seus titeis comentarios nos primeiros esbocos deste artigo. Correspondéncta: William Corsaro, Indiana University, Department of Sociology, 1020 E Kiskwood Ave -BH 744, Bloomington, Indiana 47405-7103 Corsaro@indiana edu © Corsaro (1992). ap eit Corsaro (1990) % Enfase no origina) gnUcacag socizpape & curruras Referéncias bibliograficas ANDERSEN, E $ (1986) “The acquisition of register variations by Anglo-American children’, in B B Schieffelin e E Ochs (Orgs) Language socialization across cultures, Nova lorque: Cambridge University Press, 153-161 BOURDIEU, P (1977) Outline a theory of practice, Cambridge: Cambridge Univeristy Press CICOUREL, A V (1974) Cognitive sociology, Nova Torque: Free Press ‘COOK-GUMPERZ, J ,€ CORSARO, W A (1986) “Introduction’, in] CookGumperz, W A Corsaro J Streeck (Orgs), Children's worlds and cbildren’s language, Berlim: Mouton, 1-11 ‘CORSARO, W A (1979) ‘Young children’s conception of status role", Soctology of Education, 52, 4659 CORSARO, W A (1985) Friendship and peer cultures in the early pears, Norwood, NJ: Ablex CORSARO, W A. 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