Você está na página 1de 8
138 HISTORIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUOOS Lourenco Filho (presidente), padre Antonio Benko, Carolina M. Bori, Pedro Paratita Bossa e Enzo Azzi. Essa comissfio ndo deu inicio 4s atividades, pois faltavam atos complementares a lei. Em 1963, nova portaria garantiu as necessidades legais, e os trabalhos foram ini- ciados, mantendo-se os nomes da primeira comissao, com exce¢ao de Enzo Azzi, que fora substituldo por Arrigo Angelini. Nesse ano, @ ‘comissdo recebeu 1.511 pedidos para registro profissional; no ano seguinte, cerca de quinhentos pedidos foram ainda recebidos, em 1969, {oi reaberto por mais sessenta dias o prazo para tal solicita- ‘0. Os profissionais que receberam o registro por meio dessa co- misséo constituem-se nos primeiros psicélogos legalmente reco- nhecidos, cuja formago superior fora obtida principalmente em Pedagogia e Filosofia. Nessa década, instaurou-se a ditadura militar, implantada a partir do golpe de 31 de marco de 1964, que trouxe, entre tantos desastres ¢ retrocessos, a Lei n. 5.540, mais conhecida como Re- forma Universitétia de 1968, no bojo dos acordos MEC-Usaid. Em nome da expansdo do némero de vagas para resolver 0 denominado “problema dos excedentes dos exames vestibulares”, essa lei, apro- vada revelia dos grupos diretamente interessados na questéo, na verdade garantiu a abertura do ensino superior para os setores pr vados e estabeleceu mecanismos para dificultar e reprimir 05 mo. mentos estudantis e docentes, movimentos estes que se consti- tuiam numa das mais poderosas frentes de oposi¢ao ao regime de excecdo entéo instalado. No contexto dessa reforma, comegaram a proliferar Instit gdes de Ensino Superior - IES privadas no cendrio da educacdo brasileira. Muitas dessas novas instituig6es foram criadas em con. digdes académicas precérias, oferecendo cursos que no necessita- vam de grandes investimentos, em geral aqueles que apenas preci savam de salas de aula e professores, além do fato de que néo havia quantidade suficiente de docentes qualificados para assumir ‘a empreitada de formar de modo adequado novos profissionais Nao ¢ possivel ocultar que, apesar da existéncia de instituip6es academicamente sérias, muitas das IES criadas nesse momento ti- nham voca¢ao mercantilista. Esses cursos comecavam a funcionar ‘com uma autorizacéo do MEC, devendo ser avaliados por ocasiéo da formatura da primeira turma, quando poderiam obter seu reco- nhecimento. Um dos critérios estabelecidos referia-se a existénci de um certo nimero de professores portadores de parecer emitido [A PSICOLOGIA NO BRASIL NO SECULO XX. 139 pelo préprio Ministério; como ilustragao, vale lembrar que, dentre 08 documentos necessérios para a obtencao do tal parecer, consta- va um Atestado de Idoneidade Moral, que deverie ser emitido por uma autoridade constituida; outra curiosidade ainda 6 que muitos professores descobriam que seus nomes estavam arrolados como parte do corpo docente de instituiges que sequer conheciam. As- sim, muitos cursos particulares foram criados nos anos 70, respon dendo a uma demanda cada vez maior pelo ensino superior e com um interesse crescente pela Psicologia.” ‘Os cursos de Psicologia nao eram propriamente investimentos de baixo custo, mas, dada a demanda de alunos, alguns attificios poderiam ser utilizados para garantir sua rentabilidade. Embora tais cursos necessitassem de laboratérios, estes no se constituiam em problema insolivel, pois poderiam ser utilizados aqueles dos cursos de Biologia (geralmente oferecidos por essas IES); e os laboratorios de psicologia experimental ndo eram particularmente caros (pois suas instalacdes eram precérias, néo passando de pequenos ~ e pouces ~ cubiculos com uma Caixa de Skinner simples). Havia a necessidade também de salas para aplicagao de testes, algo que ainda hoje algumas instituicdes néo possuem. © problema maior era 0 curso de Formacao de Psicélogos, que deveria oferecer estagios supervisionados, além de uma clinica escola, com supervisores experientes para um numero reduzido de alunos. Esse gasto, no entanto, era de certa maneira compensado por uma série de mecanismos, como a reducao da oferta de di nas ao que era estritamente estabelecido pelo curriculo mi baixos salérios pagos aos docentes e nimero elevado de alunos por sala de aula nas séries anteriores, sem contar, claro, com as altas taxas de mensalidade. Deve-se ressaltar que as IES particulares eram freqiientadas por um grande contingente de alunos oriundos das camadas economicamente menos privilegiadas, que necesita vam estudar no periodo noturno para, com seu trabalho, pagar os * Sobre a eriago de cursos de Psicologia nessa époce, ver dssertacdes trado de: Francinete Maria Rodrigues Carvalho, sobre Universidade Federal do Paré (Psicologia da Educago, PUC/SP, 1997) ¢ Rita de Cassia Maskell Rapold, sobre Universidade Federal da Bahia (Psicologia da Educacio, PUCISP, 1999); Jozéiia Regina Diaz Olmos, sobre Universidade de Mogi das Cruzes (Psicologia Escolar, USP, 1999); Jane Pe 1S. P. dos Santos (Peicologia da Educagio, PUCISP, 1 “Teixeira Arzabe (Psicologia da Educacéo, PUC/SP, 2000), sobre IES particulares da Grande Sto Pavio, 140 HISTORIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS custos de um curso superior muitas vezes de futuro incerto. Soma- ‘se a i550 0 fato de que 0 rapido crescimento dessas instituigdes no foi acompanhado de igual crescimento do niimero de docentes pre- parados para assumir competentemente a formacdo de novos pro- fissionais, fato que, acompanhado pelos baixos salérios ¢ pela pre- cariedade das condigées de trabalho, contribuiu para uma crescen- te perda de qualidade do ensino da Psicologia. Essa situa¢ao foi aos poucos se multiplicando, e os cursos comprometidos com uma formagao sélida do psicélogo passaram a se constituir quase excegdes, dado seu ntimero cada vez menor se comparado ao das IES privadas mercantilistas, fato retorcado pela diferenge no numero de vagas oferecidas. Nesse sentido, muito rapidamente as IES particulares come- caram a ser responsaveis pela maioria dos psicélogos formados, em Quantidade muito maior da que 0 mercado de trabalho poderia absorver. Acrescenta-se a isso que a precariedade académica des- ses cursos acabou produzindo um aligeiramento na formagao dos novos profissionais, acarretando prejuizos para a profisséo, para ‘seus usudrios e para muitos destes, que, com sacriticio, investiram hum curso superior sem conseguir ingressar de fato na carreira Nesse momento, 0 campo clinico tornou-se mais difundido, no apenas por ser privilegiado nos curriculos, mas também porque atraia um maior numero de alunos. E bom lembrar que muitos recém-formados tentaram essa via, principalmente sublocando con- sultérios no periodo noturno, enquanto continuavam em seus em- pregos anteriores; destes, poucos foram os que conseguiram subs- tituir suas ocupacées pregressas pela nova profissao de psicdlogo. Nao obstante, a atuaco clinica permaneceu como um dos campos mais difundidos da Psicologia no Brasil, absorvendo um significati- vo nimero de psicélogos e ampliando-se, mais tarde, para diferen- tes modalidades de atuacao Processo semelhante ocorreu com 0 campo do trabalho, que, antes da regulamenta¢o da profissdo, era fomentado e financiado por empresas puiblicas e privadas; mais tarde, ficou cada vez mais festrito para os psicdlogos, muitas vezes reduzidos 4 condigéo de meros aplicadores de testes em tarefas de selecdo de pessoal. Além disso, muitas criticas eram feitas 8 atuac8o do psicélogo nesse ‘campo, ndo apenas por seus limites, mas pelo cardter de sua fun- Gio, geralmente vista como a de adaptagao do trabalhador as Condigées e aos interesses das empresas, intervindo no processo AA PSICOLOGIA NO BRASIL NO SECULO xx 1a produtive e ndo nas condigdes de trabalho, servindo ao capital ¢ no ao trabalhador, este sim aquele que deveria ser 0 foco de aco da Psicologia. No que se refere & Psicologia na Educagao, a situacdo foi bastante complexa. De um lado, 0 conhecimento psicolégico esta- va incorporado aos diferentes aspectos da Pedagogia e a pritica profissional dos educadores; por outro lado, 2 atuacao do psicélogo na escola estava muito calcada numa perspectiva clinica, ocupan do-se do atendimento individual de criangas designadas como “por- tadoras de problemas de aprendizagem” fora da sala de aula No final da década de 1970, a hipertrofia da Psicologia na Educacéo comecou a ser duramente criticada, tanto por educado. tes como por psicélogos. O principal objeto das citicas era 0 uso abusivo dos testes e suas conseqiéncias para o educando, uma vez que seus resultados eram interpretados como atribuigdes pré- prias do sujeito, fazendo incidir sobre ele a determinacao dos ditos “problemas de aprendizagem” (a propria expressao j4 denota que 6a crianca a fonte de problemas; fala-se dificilmente de “proble mas escolares”). As condigées sociais eram negligenciadas, em bora, jd na década de 1930, Helena Antipoff alertasse para o fato de que elas afetavam os resultados dos testes de inteligéncia As decorréncias dessa prética foram nocivas para um grande con: tingente de criancas, pois isso poderia condend-las a uma classe especial que, em nome de um atendimento diferenciado, acabava por relegé-las a um ensino de segunda categoria, confirmando 0 diagnéstico realizado e produzindo em verdade a deficiéncia mental e seus estigmas. Essa critica era estendida para outras interpretacées e acdes baseadas na Psicologia, incorporadas tanto por educadores quanto por psicdlogos, que reduziam os supostos problemas escolares 8 dimensao meramente psicoldgica. As determinacdes de tais proble- mas eram buscadas em fatores como: desenvolvimento mental, atendo, comprometimentos motores ou emocionais (estes vistos em geral como produzidos especificamente pelas relagdes familia res; alids, as familias das classes populares eram sistematicamente consideradas como causadoras dos problemas apresentados pelas criangas, sob a alegacdo de que eram “desestruturadas” ou consti- tuidas por pais analfabetos). Essas interpretacées acarretavam, porém, um problema ainda mais grave, que era o de obscurecer 08 determinantes intra-escolares, fatores esses que estavam nas 142 HISTORIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDDS ralzes da maioria dos problemas. Assim, alguns educadores e psi- cblogos comegaram a tecer criticas a hipertrofia da Psicologia na Educagdo, apontando para uma série de conseqiéncias que sua incorporagao trouxera ao processo educacional brasileiro. ‘Concomitantemente, os psicdlogos também comegaram a cri- ticar a atuagao da Psicologia na Educagdo, sobretudo pela via da psicologia escolar, tendo como base os mesmos problemas ident tados pelos educadores, mas enfocando o modelo médico que fun- damentava a aco clinica de muitos profissionais, os quais enf vam as intervengdes terapéuticas negligenciando agdes mais pre Ventivas, que, por sua vez, exigiam a¢des mais propriamente peda~ gégicas e coletivas, como, por exemplo, a contribuigdo para 0 pro- cesso de formacao de professores. Nesse contexto, em que criticas vinham de todos os lados, muitos psic6logos chegaram a negar a possibilidade de a Psicologia contribuir com as questées educacionais; outros ndo tiveram opor tunidade de realizar formas alternativas de acdo na escola, pois a expectativa desta era a da atuacéo clinics, néo considerando a pos: sibifidade de intervencao do psicélogo em questées pedagégicas, que eram tidas como de algada exclusiva de pedagogos. Enfim, foram poucos os trabalhos que conseguiram de fato intervir no es- pago escolar de maneira mais ampla, sendo estes justamente os Que se firmaram, permitindo o desenvolvimento atual desse campo de atuagio. ‘Embora ndo sendo propriamente tema deste texto, vale a pena registrar que a emergéncia da psicopedagogia, numa perspective tlinica, relaciona-se com esse proceso, ocupando de certa forma o lugar deixado pela psicologia escolar, quando esta passou a ‘a atuago do psicdiogo desvinculada das condigSes intra-escolares, isto 6, quando passou a criticar a psicolagia clinica na escola. Pou- ‘cas mudangas ocorreram na escola desde entdo, de forma que est continua produzindo “criangas com problemas de aprendizagem”: assim sendo, nada melhor do que a existéncia de um /ocus para ‘onde 0 problema pode ser retirado e “resolvido” sem que suas ba- ses sejam questionadas ‘Apesar de todos esses problemas, ¢ justamente em funcdo deles, a Psicologia conseguiu, nesse perfodo, um desenvolvimento sem precedentes. Ainda que permeada por criticas de varias espé- cies, a Psicologia estabeleceu-se como profissao, ampliando grada- tivamente seu espectro de ago e firmando-se como possibilidade SOLOGIA NO BRASIL NO SECULO x de resposta a inimeros problemas, inicialmente em seus campos tradicionais - educago, trabalho e clinica -, enssiando @ implan. tando mais tarde novas modalidades de intervengo, como foram a psicologia comunitétia, a psicologia hospitalar e a psicologia juridi- ta, entre outras, que viriam a se consolidar e ampliar sua capacida- ide de responder as demandas antes ndo atendidas ¢ a outras acar- retadas por problemas sociais entéo emergentes. ‘Aisso articulada, e em fungao também de um desenvolvimen- to relativamente auténomo, a produgéo de conhecimento em Psico- logia expandiu-se muito, sobretudo com a implementacao dos cur- sos de pés-graduagdo, que, apesar da escassez de recursos, conse guiram se impor nao apenas quantitativa mas também qualitativa: mente, produzindo um acervo de conhecimento original criativo ‘Acaréncia de investimentos em pesquisa no Brasil, sobretudo nas Ciéncias Humanas, associada & complexidade de nossa realidade ¢ 2 seus miltiplos problemas, constituiu-se em condigdes fundamen tais para que a originalidade e a criatividade se tomnassem caracte isticas marcantes do modo de se produzir conhecimento em Psico- logia, ndo apenas relacionadas @ pluralidade de aspectos de seu objeto de estudo, mas também a adocao de diferentes perspectivas do olhar sobre eles Houve um incremento da qualidade de ensino com a expan sao da pés-graduagio, embora de forma heterogénea, pois 2 articu- lacio entre ensino e pesquisa ndo se constituia em regra para todas 2s IES, ficando limitada as instituigdes que garantiam as condices de trabalho necessérias para a efetivecao do principio de indisso- ‘ciabilidade entre difuséo e produgéo de conhecimento. O mesmo pode ser dito em relacdo a extens’o, que muitas dessas instituicdes feduziam & necessidade especifica e restrita do ensino, isto ¢, 20 estégio supervisionado, e nao a um projeto de coletivizacdo e ex tensdo para a comunidade do saber produzido pela universidade Entretanto, muitas IES produziram trabalhos significativos e rele vantes articulando ensino, pesquisa e extenséo, tendo sido estes um dos mais importantes terrenos para 0 desenvolvimento da Psi cologia em vérias de suas manifestacdes, seja como cién como profisséo. ‘A realizagao de congressos tornou-se uma pratica regular, ocorrendo encontros gerais da rea ou encontros por temas, abor- dagens ou campos de atuacio especificos. Dentre os encontros da rea, devem-se destacar, por antiguidade e regularidade, as reunides seja 3 HISTORIA OA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS. anuais realizadas na USP-Ribeiro Preto, hoje com organizagao da Sociedade Brasileira de Psicologia - SBP. A participagao da Psicolo gia em congressos cientificos mais amplos foi marcada sobretudo por sua presenga na Sociedade Brasileira para 0 Progresso da Cién cia - SBPC, na qual vale a pena destacar o papel desempenhado por Carolina Bori, que foi membro de sua diretoria, presidente da entidade e, hoje, presidente de honra. Foram criadas outras entida- des e associagdes de diversos campos espeoificos da Psicologia, as, quais se responsabilizaram pela organizagao de varios eventos cien- tificos. A criag8o da Associagao Nacional de Pés-Graduagéo e Pes- quisa em Psicologia ~ Anpepp tambémn deve ser destacada, consti- tuindo-se hoje num dos mais importantes féruns de discusséo so- bre a produgao de pesquisa na érea No que diz respeito literatura, esse periodo contou muitas vezes com uma dedicacao impar de professores, que, dada a preca- fiedade editorial no pais, muitas vezes traduziam livros, capitulos ros e artigos, ou ainda elaboravam apostilas (em mimedgra- fos!) para uso dos alunos. Avs poucos, ocorreu um incremento do mercado do publicacbes, ainda assim baseado em traducées de obras estrangeiras bésicas; uma produgao editorial mais significati- va, incluindo obras escritas por brasileiros, sé viria a se concretizar um pouco mais tarde. Como categoria profissional, a Psicologia sofreu grandes trans- formagées. Antes representada por um grupo pequeno de profissio- nais, a expansdo do ensino provocou um aumento quantitativo de psiedlogos que, como jé foi dito, no foi acompanhado pelo merce- do de trabalho; esse processo gerou algumas conseqiéncias, que foram do abandono puro e simples da carreira & defesa corporativa da profissao. Entretanto, outros movimentos surgiram dat, buscan- do-se uma organizacfo mais sblida e critica. Mas isso é assunto para o item seguinte. A Psicologia amplia-se como ciéncia e como profissfio Os fatos anteriormente mencionados trouxeram transforma- es substanciais para a Psicologia no Brasil, o que pode caracteri- zar um possivel novo momento em sua histéria. Os problemas enfrentados pela Psicologia podem ser ilustra- dos pelas situagdes abaixo: precariedade da formaco oferecida por [A PSICOLOGIA NO BRASIL. NO SECULO XX 145 muitos cursos de graduagao, disparidade entre o numero de forma- ‘dos € 0 de profissionais atuando de fato na drea, em contraposi¢ao ‘8 caréncia quantitativa ¢ qualitative de atendimento as demandas pelo trabalho profissional do psicélogo. Ademais, havia uma produ- ‘g80 de conhecimento e de modalidades de agao com padrées de exceléncia, caracterizada pelo desenvolvimento de muitas pesqui- sas € projetos especificos de intervenco, que, pioneiramente, apon- tavam para 0 potencial da Psicologia a fim de contribuir na solugao de varias das demandas {4 referidas. Enfim, muitas eram as contra- digdes que estavam no cerne dos problemas enirentados pela cate- goria, fazendo-se necessério 0 empreendimento de um movimento amplo que buscasse superar essa situagao. Esse movimento foi, e &, heterogéneo, pois hd segmentos que tomam a dianteira do processo, outros que respondem mais tardia- mente e, claro, outros que resistem. Essa ceracteristica nao é, po rém, exclusividade da Psicologia no Brasil, mas condi¢ao do prépr processo histérico, que nunca 6 homogéneo nem ocorre em bloco ‘Assim, por ocasigo da virada dos anos 70 para os anos 80, momento esse caracterizado pelo renascimento dos movimentos sociais, algumas iniciativas comegaram a despontar, pontuais no inicio, mas que foram aos poucos se ampliando. A defesa da Psico- Jogia como ciéncia e como profissao foi gradativamente ganhando contornos que superavam 0 corporativismo, buscando uma ampla participaco da categoria na discusséo dos problemas que a envol- viam, mas que nao poderiam ser limitados & mera defesa de interes- ses intrinsecos a ela. Sua compreenséo implicava uma articulacéo com a realidade social como um todo e, fundamentalmente, com 0 estabelecimento de um compromisso radical com ela. Era necessé- fio, antes de tudo, admitir a ampliagao da categorie e trazé-la para uma participacdo efetiva em seus drgios representativos, ou, em outras palavras, fazia-se necessério que esses drgaos passassem a representar a maioria dos psicdlogos. Nesse aspecto, hé que se considerar as mudangas ocorridas nas orientages dos Conselhos Regionais de Psicologia - CRP, Consetho Federal de Psicologia - CFP, Sindicatos de Psicélogos e, mais tarde, jé produto dessas mudancas, a criagéo da Federagéo Nacional dos Psicélogos ~ Fenapsi. Vale lembrar que esse movimento comesou a se materi zar em S80 Paulo, mais precisamente a partir de uma histérica reu- nigo ocorrida no Instituto Sedes Sapientiee, com o apoio de madre Cristina Sodré Déria 146 HISTORIA 0A PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS. ‘A questao a ser enfrentada nao era propriamente a defesa do mercado de trabalho, mas a busca de respostas as demandas so- Clais que se impunham. Nesse contexto, a questao ética passava & ser central, devendo ser enfrentada nfo mais como estritamente de ambito da ética profissional, mas fundamentalmente de ética so cial, Impunha-se a necessidade de construcao ¢ reconstrugao de uma Psicologia enraizada e comprometida com sua realidade. Para isso, era necessario também produzit novos conhecimentos @ no- Vas formas de interven¢do, difundi-los e torné-los parte da forma- fo do psicdlogo. Ora, isso implicava um movimento amplo, que Geveria contar com os varios segmentos da rea: conselhos, sindi- catos, associacdes, universidades, instituigdes vérias @, sobretudo, 0 envolvimento da categoria. ‘Como ia foi dito, além das entidades, cabia Universidade uma importante tarefa nesse processo. Sua participagao foi subs: tancial para o engendramento dessas transformacdes. Mais parti: cularmente, alguns setores ligados a pesquisa ¢ a busca de novas formas de intecven¢ao contribuiram sobremaneira para a constr: ‘go de novas concepcées em Psicologia. A busca de um conheci Frente comprometido com os problemas sociais abriu um campo Vesto para a ampliago do olhar sobre o fendmeno psicolégico, lovendo nfo $6 & busca de novas teorias, categorias ¢ conceitos, bom como de novas bases metodolégicas para a pesquisa na érea, ‘as quais deveriam dar conta da complexidade de seu objeto, mas também & construgéo de novas praticas que pudessem responder melhor aos desafios que se impunham & Psicologia. € uma tarefa dificil ilustrar esse proceso, pois muitos s80 0s grupos que para isso contribuiram; mas, para efeito de ilustragéo, Vale a pena lembrar a criagdo da Associaco Brasileira de Psicologia ‘Social - Abrapso, no inicio dos anos 80, que congregou psicélogos des varias regides do pais, os quais tinham como principal linha de agdo a construcao de uma nova maneira de se fazer Psicologia por meio da discussao e da socializacdo de conhecimentos e praticas. Esse proceso nao ocorreu sem sofrer resistencias académicas, mas se fortaleceu ao longo do tempo, sendo a Abrapso hoje compost por um grupo amplo de psicélogos de outros profissionals interes: Sados em fazer da Psicologia uma area de conhecimento e um cam po de agdo articulados e comprometidos com a transformarao de Sociedade, Embora tenha se evitado citar nomes relacionados aos tempos mais recentes, ndo 6 possivel deixar de lembrar o papel que APSICOLOGIA NO BRASIL NO SECULO XX 47 desempenhou Silvia Lane nesse proceso, com a colaboragio ¢ a participagao de um sem-nimero de profissionais das varias regies Go pals, alm do contato com estrangeiros, com quem foram esta belecidos intercmbios que produziram ricas possibildades de avango da érea, Destes, podem ser citados, dentre muitos outros, Ignacio Martin Bard, Maritza Montero, Fernando Gonzalez-Rey ¢ Karl Scheibe ‘As transformagées da Psicologia se manifestam mais clara- mente no Ambito da ampliagdo de seus campos de intervensdo. Para as primeiras geragées de psicdlogos formados pelos cursos especificos de Psicologia, as opgées por campo de atua¢o limita- vam-se praticamente aquelas que se consolidarem nos anos que precederam a regulamentacéo da profissé 70, comecavam a aparecer modalidades de interven¢ao que. ta de muito esforgo, apontavam possibilidades efetivas de go psicoldgica. Segue abaixo descricfo de algumas re: que podem ilustrar esse proceso. Nessa époce, a atuag&o de psicélogos em hospitais comecava ase efetivar. Aos poucos, e & base de um incansével trabalho (nao apenas no que se refere a0 préprio campo de aio, mas também no que diz respeito & tentativa de convencer os demais profissionais da possibllidade efetiva de intervengo da Psicologia nesse émbito), alguns profissionais demonstravam, por sua atuagéo, que varios Setores hospitalares podoriam usufruir desses servicos, ampliando seu raio de a¢do e, principalmente, estendendo os beneficios da Psicologia a pessoas que até entéo tinham negadas algumas de suas necessidades humanas fundamentais. Assim, os ento profis- sionais da satide (hoje o psicélogo ¢ considerado também como tal) '¢ sobretudo seus usudrios comecaram a reconhecer a potencialida- de e a necessidade da Psicologia nesse campo. Mais do que isso. 8 Psicologia estende-se hoje para muito além da interveneao hospite jar, tendo presenca marcante em diferentes setores da assisténcia 4 satide e participacao significativa no ambito da pesquisa na rea ‘A Psicologia era considerada até pouco tempo como um cam po de aco estritamente urbano (exceco deve ser feita ao trabalho pioneiro de Helena Antipoff com educagéo rural. Entretanto, sua preocupagdo com os rovimentos sociais, seja no plano da pesqui- a, seja no da intervenc&o, veio mostrar, dentre vérias outras pos: sibilidades, que a Psicologia possui um potencial efetivo de traba tho, tanto nas regiées urbanas como nas rurais. Isso se demonstra em perspectivas varias de aco, como aquelas que atuam com 148 ISTORIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS assentamentos de sem-terra, tribos indigenas, mutirdes, etc. Tam bém deve ser lembrado que, nessa area, trabalhos realizados com grupos vitimados por preconceito e intolerancia ~ tais coro mulhe: res, negros, gays e Iésbicas, pessoas portadoras de deficiéncias - so de relevancia ndo apenas profissional e académica, mas sobre- tudo social. Nessa perspectiva, deve-se sublinhar a importéncia his térica da psicologia comunitéria, que pode ser considerada como uma das expressées pioneiras da ampliagao dos campos de aco da Psicologia, especificamente voltada para o atendimento de segmen- tos da populacao antes alijados dos beneficios que a Psicologia poderia thes proporcionar. A psicologia jurfdica surgiu com uma proposta de superar e estender seus servicos para além daquilo que era realizado pelos peritos-psiedlogos, procurando criar um modelo de ago alicercado no atendimento as necessidades psicolégicas e no encaminhamen- to de criancas assistidas pelas entéo denominadas Varas de Meno- res, 0 qual foi, posteriormente, requisitado também pelas Varas de Familia. A isso se deve acrescentar a intervengao da Psicologia em casos de violéncia sobre criangas e adolescentes; em institui¢des totais, como presidios; ou ainda sua importante participacao no movimento antimanicomial E possivel dizer que as criticas feitas a Psicologia pela propria Psicologia foram os mais substanciais fatores para sua superacéo, (© que pode ser ilustrado pelo aumento quantitativo e qualitativo de sua produgao, abrangendo a pesquisa, os campos de aplicacao, 0 ensino, as publicagées, as entidades representativas, os congres- 808, atividades essas que, sem divida, contribufram para que se possa dizer que elas forjaram um possivel novo momento hist6rico da Psicologia no Brasil Além disso, é importante a reflexéo sobre as rolagdes entre a Psicologia e questdes mais gerais, especificamente aquelas de na- tureza epistemolégica. As grandes discussdes epistemolégicas, hoje, fazem referéncia constante a crise do conhecimento, pautada pelas igidas demarcagoes entre as dreas de saber, © negago da com- plexidade dos fendmenos, em busca de leis explicativas gerais, Essa tradigao tem suas raizes na emergéncia da ciéncia moderna, com Galileu e Newton, acrescida da influéncia de Descartes (com par cular influéncia sobre a Psicologia, especialmente por seu dualismo interacionista relativo & questo mente-corpo) ¢ levada as Ultimas: consequéncias pela tradic&o positivista. Embora essa tradicéo A PSICOLOGIA NO BRASIL NO SECULO Xx 149 persista, talvez na maior parte da produco psicoldgica (e da cién- cia em geral), é possivel dizer que a Psicologia tem avangado muito na superagdo dessa perspectiva, sobretudo ao assumir uma con. cepco transdisciplinar (que admite e afirma a necessidade de tran- sito pelos diferentes campos disciplinares), considerando-se que @ compreenso do fendmeno psicolégico concreto transcende os mites de seu objeto de conhecimento e exige 0 trdnsito por outras 4reas de saber que dao conta da multiplicidade de fatores que 0 integram, pois sua redugdo aos préprios limites a faz permanecer no plano da abstraco, abortando a finalidade de sua compreensio. ‘Ademais, fica cada vez mais explicito o fate irreversivel da atuaco multiprofissional (como a coexisténcia de miltiplos profis- sionais contribuindo naquilo que thes cabe para cumprir determina: das finalidades), em favor da qual diferentes profissionais devem ‘atuar conjuntamente no plano da intervengdo sobre a realidade. Deve-se reiterar que, ao adotar essa concepcao, torna-se um contra: senso qualquer defesa corporativa da profissdo, pois 0 que deve mover o trabalho da Psicologia ndo pode ser a defesa do mercado formal de trabalho, mas a possibilidade de contribuir para o enfren. tamento dos grandes (e pequenos) problemas que assolam a humani: dade, que na sociedade brasileira nao sdo de forma aguma menores. Essa discussao extrapola os limites ¢ os objetivos deste texto, mas 6 importante dizer que tais questdes devem ser cuidadosamen- te pensadas para cada uma das manifestacées da Psicologia. Den- tre tantos aspectos, deve-se sublinhar a importncia da formagao do psicélogo, que, se se furtar a uma sélida e ampla base tedrica ‘em Psicologia, fundamentalmente articulada as dreas afins, assim como a absoluta necessidade de articulac&io com a realidade social @ prética, pouco se avangaré nesse processo jé iniciado de constru- ‘go de uma Psicologia capaz de compreender 0 fenémeno psico- légico em sua complexidade e pluralidade e sobre ele intervir efeti: vamente. Para finalizar, deve-se reiterar que a pluratidede da Psicologia contempordnea no Brasil é tal que seu perfil s6 podera ser visto mais nitidamente com o passar do tempo. O que est aqui exposto nada mais 6 do que uma viagem panoramica que certamente con- 16m a perspectiva particular da autora; por esse motivo, no hé aqui a pretensao de expor um quadro completo e que dé as diferen- tes e possiveis interpretacdes para 0 processo, néio sendo esse item nada mais do que uma reflexdo sobre a atualidade da Psicologia no 180 ‘ TORIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS Brasil. De qualquer maneira, 6 necessario que a Psicologia exerca sua fungao de pensar-se a si prépria, isto é, ser também objeto de estudo da Psicologia Referéncias bibliograficas ALVES, Isaias (1927) Teste individual de intelligencia. Salvador, Officinas Graphicas da Luva ALVES, Isaias (1930). Os testes e a reorganizagao escolar. Salva- dor, Nova Graphica. ANTUNES, M. A. M. (1991). 0 processo de autonomizacéo da Psi- cologia no Brasil ~ 1890/1930: uma contribuicao aos estudos em Histéria da Psicologia. S80 Paulo. Tese de doutorado. S40 Paulo - Psicologia Social, PUC/SP. (19992). A Psicologia no Brasil: leitura histdrica sobre sua constitui¢ao. S80 Paulo, Educ/Unimarco. ___(1999b). Processo de autonomizagao da Psicologia no Bra Psicologia e Sociedade, v.11, no. 1, jan./un. _ Psicolagie e Educacao no Brasil: idéias que antecederam a sistematizacéo do escolanovismo no Brasil. (no prelo). ANTUNES, M. A. M. (coord.). Quadra de Referéncias sobre a Psico- Jogia no Brasil. Sao Paulo, Programa de Estudos Pos-Gradua- dos em Educacao: Psicologia da Educacao, da PUC/SP. ARZABE, Ana Cristina Teixeira (2000). Memdrias de professores: um estudo sobre a implantacéo de um curso de Psicologia em Séo Paulo na década de 70. Sao Paulo. Dissertacdo de Mes- trado ~ Psicologia da Educagéio, PUCISP. BARRETO, Anita Paes e CAMPOS, Alda (1936). Um decénio de atividades no Instituto de Psicologia (Pernambuco). BRIQUET, Raul C. (1935). Psicologia social. Rio de Janeiro, Francis- co Alves, 1935 CABRAL, A. C. M. (1980). A psicologia no Brasil. Psicologia ~ Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciéncias Letras da USP, v. 119, n. 3, pp. 9-51 CARVALHO, Francinete Maria Rodrigues (1997). Reconstruindo histéria do curso de Psicologia da Universidade Federal do Par. Sao Paulo. Dissertacao de Mestrado - Psicologia da Edu- cago, PUCISP. t A PSICOLOGIA NO BRA No SéCULO xx 151 CARVALHO, Oscar Freire de. Etiologia das formas concretas da religiosidade do norte do Brasil CASTRO, Verissimo Dias de (1890). Das emogdes. Rio de Janeiro, Tip. de “O Comercio” KLINEBERG, Otto (org.) (1953), Psicologia moderna. Sao Paulo, Agir LOURENCO FILHO (s. d.). “A Psicologia no Brasil”. In: AZEVEDO, Fernando (org.). As ciéncias no Brasil. Séo Paulo, Methora- mentos, s. d. (1954), v. Il, Republicado em: Arquivos Brasile ros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, pp. 41-53, set. 1971 MARTINS, Joel (1953). Ensaio da indugéo dos comportamentos neurotiformes em ratos brancos através da aprendizagem. S80 Paulo. Tese de Doutorado - Instituto de Psicologia da Univer- sidade de So Paulo. OLMOS, Jozélia Regina Diaz (1999). Histdria e meméria do curso ‘de Psicologia da Universidade de Mogi das Cruzes. $80 Paulo. Dissertacaio de Mestrado ~ Psicologia Escolar, Universidade de Sao Paulo PESSOTTI, |. (1988). “Notas para uma historia da psicologia brasi Ieira’, In:. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem ¢ 0 psicélogo brasileiro? S80 Paulo, Edicon, PESSOTTI, Isafas (1975). Dados para uma Historia da Psicologia no Brasil. Psicologia. Ano 1, n.1, maio PFROMM NETO, S. (1979). “A psicologia no Brasil”. In: FERRI, M. G. e MOTOYAMA, S. (orgs.). Historia das ciéncias no Brasil Sio Paulo, Edusp/EPU. v. 3, pp. 235-276. PSICOLOGIA REVISTA ~ Revista da Faculdade de Psicologia da PUCISP (1999). Sao Paulo, Educ/Fapesp, ano 8, pp. 97-132, maio. QUAGLIO, Clemente (1911). Compendio de Paidologia, Séo Paulo, Typ. Siqueira. (1913). Educacéo da infencia anormal de intelligencia no Brasil. RAMOS, Arthur (1952). Introducao a psicologia social. 2.ed. Rio de Janeiro, Casa do Estudante do Brasil RAPOLD, Rita de Cassia Maskell (1999). Ura contribuicdo para a Historia da Psicologia no Brasil: 0 curso de Psicologia da UFBA, cronologia, memdrias e alguns depoimentos (1961-1973). S80 Paulo. Dissertacio de Mestrado ~ Psicologia da Educagio, PUCISP. Uns FoRULUGIA NU BRABIL: NUVUD EB1UDOS AMPAIO DORIA, A. S. (1926). Psychologia. S8o Paulo, Typ. do Instituto D. Anna Rosa. ANTOS, Lilia Midori S. P. dos (1999). Estudo de caso sobre a criagBo de um curso de psicologia: uma contribuigéo para a discusséo sobre o ensino superior. S80 Paulo. Dissertacao de Mestrado ~ Psicologia da Educagao, PUCISP. OUZA, Cicero Christiano de (1953). O método de Rorschach. S80 Paulo, Companhia Editora Nacional APAJOS, José Estelita (1890), Psicofisiologia da percepedo e das representacdes. RUJILLO, Jane Persinotti (1999). Reconstrugao histérica de um ‘curso de Psicologia: pensando a formagéo no ensino superior privado. Sao Paulo. Dissertagao de Mestrado - Psicologia da Educacao, PUCISP. ‘itsuko Aparecida Makino Antunes ‘ofessora do Programa de & sicologia da Educacio. da Pont Jos Pés-Graduados em Educacéo icla Universidade Cat Paulo. vu A CONSTITUICAO DA IDENTIDADE DE ALGUNS PROFISSIONAIS QUE ATUARAM COMO PSICOLOGOS ANTES DE 1962 EM SAO PAULO Marisa T. D. S. Baptista Introducao Este ¢ um estudo sobre a constituicdo da identidade do psicd: logo na fase anterior & regulamentacdo, abrangendo aproximada- mente 0 periodo que se inicia na década de 1920 ¢ vai até 1962. Ele tem um cunho histérico e é realizado pela perspectiva de identi dade enquanto metamorfose (Ciampa, 1990). 0 objetivo é clarificar ‘como foram se constituindo em S40 Paulo, antes de 1962, as iden tidades de alguns profissionais que desempenharam atividades no campo da Psicologia e que poderiam ser considerados pioneiros em sua introduc&o na nossa realidade social, assim como os contextos nos quais eles circulavam ‘A necessidade de compreender 0 processo de constituicao da identidade do profissional em Psicologia antes da regulamentacdo da protissao se justifica, porque o fato de serem formados em uma rea e depois se dedicarem profissionalmente a outra mostra a ocor- réncia de um movimento de transformacao de identidade. ou seja, 0 processo que Ciampa (1990! denomina "metamorfose”. Ademais: 2 existéncia dessa metamorfose nos leva a crer que houve, no co texto da época, uma abertura que possibilitou e perm formagées. Nesse sentido, torna-se também fundam

Você também pode gostar