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x i y vlaely UNIVERSIDADE LUSIADA LISBOA * PORTO * VILA NOVA DE FAMALICAO LICENCIATURA EM ; DIREITO } f eee ~ Apontamentos de Direito ; Penal I (PARTE GERAL - VOLUME 1) Programa e Bibliografia da disciplina Materiais de apoio (para uso exclusive dos alunos) Mestre Auguste Silva Dias 4 OUT LISBOA. - .. UNIVERSIDADE LUSIADA AUGUSTO SILVA DIAS e299 oe gS Ss 8 S s g fy $ 5 a 3 a Es ie @. 6 88,0." DIREITO PENAL I PROGRAMA PARTETL FUNDAMENTO E LIMITES DO DIREITO PENAL I. Nogdes basicas 1. Oconceito de Direito Penal 11. Direito Penal em sentido estrito e Direito Penal em sentido amplo. 1.2. Parte geral e parte especial do Direito Penal. 1.3. Direito Penal nuclear e Direito Penal complementar: critérios formais e materiais de distingao. 2. A localizacao do Direito Penal no ordenamento juridico 2.1. O Direito Penal como ramo do Direito Pablico. 2.2. Autonomia e dependéncia do Direito Penal relativamente a outros ramos do Direito: critica 4 tese de BINDING da natureza puramente sancionatéria do Direito Penal e defesa de um sentido moderno da ideia de subsidariedade. I. Fundamento e funcées da intervencao penal do Estado 1. O conceito de crime 1.1. O conceito formal de crime: seu significado e alcance. 4.2. O conceito material de crime e as fungées do Direito Penal. a) crime como comportamento lesivo de valores ético- sociais da acco e a funcao do Direito Penal como tutela de tais valores (HANS WELZEL). b) O crime como comportamento disfuncional ao sistema social e a funcdo do Direito Penal como exercicio de 1 teconhecimento da validade das normas (GUNTHER JAKOBS). c) O crime como comportamento lesivo de bens juridicos fundamentais da comunidade e a funcao do Direito Penal como proteceao subsidiaria de bens juridicos. 1.3. A teoria do bem juridico a) Origem e evolucao histérica do conceito de bem juridico. b) O conceito de bem juridico entre «mundo-da-vida» e experiéncia constitucional. ©) Estrutura pessoal-relacional do bem juridico e 0 conceito de dano jurfdico-penal: a distincéio entre objecto de proteccio e objecto da acgao. d) Classificagéo dos bens juridicos: bens juridicos individuais e bens juridicos supra-individuais; teorias monistas e teorias dualistas. ©) Funcgdes do bem juridico: fungdes imanentes e funcéo critica do sistema penal. f) O dano produzido num bem juridico como critério fundamental do «merecimento de pena» de uma conduta. 1.4, «Merecimento de pena» e «necessidade da pena» e a natureza subsididria da intervencao penal. Os movimentos de criminalizagéo _ e de descriminalizacao: 0 exemplo do Dircito de mera Ordenacao Social (DL n°433/82 de 27 de Outubro). ee Oo” Dy” Ge? GOB egress as et 2. Oconceito de pena. 2.1. Os fins das penas: fins de retribuicéo e de prevencio; uma resenha hist6rica, Fins das penas e func6es do Direito Penal. 2.2. O problema no Direito Penal portugués vigente. a) Posicionamento do Direito Penal portugués perante a distincao entre sistemas penais monistas e dualistas. b) As sangdes penais: sancdes penais principais, acessérias e substitutivas; tracos gerais do respectivo regime juridico. 2.3. Distingéo entre as sangdes penais ¢ outras espécies sancionatorias: as coimas, as sangées disciplinares e as «penas privadas», - 2° £4 , 4 , a ee > es i ee oe ILL Limites a intervencao penal do Estado: os principios de garantia com incidéncia penal. 1. O principio da subsidariedade e a natureza do Direito Penal como ultima «ratio» de defesa da sociedade. 2. O principio da culpa. 3. O principio da proporcionalidade. 4. O principio do «facto». 5. Os principios da tolerancia ¢ da humanidade. 6. O principio da legalidade. PARTE II TEORIA DA LEI PENAL L Breve histéria da legislaao penal portuguesa 1. O periodo do Direito Penal intimidat6rio (até ao tiltimo quartel do séc. XVI) 1.1. Os forais. 1.2. A lei das «Sete Partidas». 1.3. Das Ordenacées de D. Duarte as Ordenagées Filipinas. 2. O periodo do Direito Penal iluminista (do altimo quartel do sec.XVII até meados do sec. XIX). 2.1. Princtpios do Direito Penal iluminista. 2.2. O projecto de c6digo criminal de MELLO FREIRE e a influéncia de BECCARIA. 2.3. O movimento codificador. 3 3. O periodo da codificaco e as preocupacées de reforma: o percurso desde 0 Codigo Penal de 1852 ao Cédigo Penal de 1982. IL. As fontes do Direito Penal portugués 1. A lei: 0 principio constitucional da reserva de lei («mullum crimen, nulla poena sine lege scripta»). 2. O papel do costume, da jurisprudéncia e da doutrina. III. A interpretacio da lei penal 1. A interpretacao da lei penal no contexto da teoria geral da interpretacao. 2. Os limites da interpretacao e o problema da analogia («nullum crimen, nulla poena sine lege stricta»): sentido ¢ alcance da proibicio da analogia (art°1 n°3 do CP). 3. Os limites da interpretagao e as exigéncias de certeza e de preciso da lei penal («mullum crimen, nulla poena sine lege certa»): 0 problema das leis penais em branco, das clausulas gerais e dos conceitos indeterminados. IV. Ambito de aplicacao temporal da lei penal 1. O principio da nao retroactividade da lei penal («nullum crimen, nulla poena sine lege previa) e a aplicacao retroactiva da lei penal mais favoravel. 2. A questao das leis penais temporarias e de emergéncia (art2 n°3 do CP). 3. A determinacdo do momento da pratica do facto (art®3 do CP). 4 aannenne aa ens e e e e e e e e e e e e 9 yeyovvuecuvuvvvuvvewerveeee v. Ambito de aplicacao espacial da lei penal 1. Direito Penal Internacional e Direito Internacional Penal. 2. Aplicacaéo da lei penal portuguesa a factos cometidos no territério nacional (art*4 do CP). 2.1. O principio da territorialidade. 2.2. Extensao da competéncia territorial: 0 critério do pavilhio ou da bandeira. 3, Aplicacao darlei penal portuguesa a factos praticados fora do territ6rio nacional (art do CP). 3.1. O principio da nacionalidade activa e passiva. 3.2. O principio da proteccao dos interesses nacionais. 3.3. O principio da universalidade. 4, A determinacao do lugar da pratica do facto (art?7 do CP). 5, Aplicacao da lei penal estrangeira mais favorével pelo juiz: nacional (art? do CP). 6. Relevancia interna das sentencas penais proferidas por tribunais estrangeitos: efeitos negativos e efeitos positivos de caso julgado. VI. Ambito de aplicacio pessoal da lei penal VII. Ambito de aplicacao material da lei penal 1, Distincao entre 0 concurso aparente ou de normas e 0 concurso genuino ou de crimes. 2. As relacdes inter-normativas de especialidade, interferéncia ¢ heterogeneidade e os. critérios de solucdéo do concurso aparente: 5 especialidade, subsidariedade (implicita e explicita) © consuncao (propria e impropria) PARTE III TEORIA GERAL DO CRIME L Introdugao 1. Evolucao historica da teoria geral do crime: teorias do crime viradas para as ciéncias naturais - a dogmitica classica de LISZT_e BELING - e teorias do crime viradas para as ciéncias do espirito - a dogmatica neo- cléssica. de MEZGER, EDUARDO CORREIA e CAVALEIRO DE FERREIRA e a dogmiatica finalista de WELZEL-. A dogmatica funcionalista contemporanea, suas variantes e outras orientagdes dogmiticas p6s-finalistas. 2. Pensamento sistematico e pensamento problematico na dogmitica juridico-penal. 3. A dogmitica juridico-penal no contexto de uma «ciéncia global do Direito Penal». IL. O ilicito penal: caracteristicas gerais 1. O ilicito penal concreto como fundamento da punibilidade e como naicleo da teoria do crime: bem juridico - norma - tipo legal como elementos centrais da « > > > > > > > > > > > > > > > ee ee 2.5. O erro sobre 0 papel do comparticipante: proposta de solugao. | 2.6. O concurso entre varias formas de comparticipacao no mesmo facto. j V. O crime negligente 1. Conceito e espécies de negligéncia: negligéncia consciente e inconsciente (art°15 do CP). Graus de negligéncia: negligéncia simples e negligéncia grosseira 2. O facto tipico negligente. 2.1. A violacao objectiva de um dever de cuidado. 2.2. A capacidade do agente. 2.3. Crimes negligentes de mera actividade e crimes negligentes de resultado. 7 2.4. A imputacao objectiva nos crimes negligentes de resultado. 3. O facto ilicito negligente. 3.1. Desvalor da acco e desvalor do resultado. 3.2. Particularidades das causas de exclusdo da ilicitude: a dispensa do elemento subjectivo. 4, 0 facto culposo negligente. 4.1. O problema da consciéncia da ilicitude no facto negligente. 4.2. As causas de exclusaio da culpa: especificidades. 5. A punibilidade do facto negligente. VI. O concurso de crimes 1. Nocdio e regime juridico (arts. 30 n°, 77 ¢ 78 do CP). 2. O crime continuado: unidade natural e unidade juridica de accao (arts.30 n°2¢ 79 do CP). PARTE IV 4 TEORIA DAS CONSEQUENCIAS JURIDICAS DO CRIME 1. As penas 1. As penas principais 1:1. A pena de privacao da liberdade 12. A pena de multa 5 a 2. As penas substitutivas 3. As penas acessorias Il. A medida da pena 1. As fases de determinacio da pena a 1.1. Escolha da espécie de pena (art°70 do CP). 12. Determinacéo da medida abstracta da pena: estrutura essencial e estrutura acidental do crime; as circunstancias modificativas. 1.3. Determinacdo da medida concreta da pena (0 art?71 do CP). - 2. As regras especificas da reincidéncia (art® 75 e s. do CP) ¢ da punicao dos delinquentes por tendéncia (art°83 e ss. do CP) e alcodlicos e equiparados (art®86 e ss. do CP). IIL As medidas de seguranca (art°91 e ss. do CP). es eC me Oe) ee ee eee Cee ee ee ee eee eee eee er ee eee ee ee BIBLIOGRAFIA. I. BIBLIOGRAFIA PORTUGUESA 1, Comentarios ao Cédigo Penal de 1852/86 FERRAO, Silva, Theoria do Direito Penal Aplicada ao Cédigo Penal Porluguéz, vols. [a III, Imprensa Nacional, Lisboa, 1857. JORDAO, Levy Maria, Commentario ao Codigo Penal Portuguez, tomos I e IL, J.B. Morando, Lisboa, 1854. OSORIO, Luis, Notas ao Cédigo Penal Portugués, vol. I, 2 ed., Coimbra Ed., Coimbra, 1923. 2. Comentarios ao Codigo Penal de 1982/95 GONCALVES, Maia, Cédigo Penal Portugués - anotado e comentado, 11" ed., ed. Almedina, Coimbra, 1997. 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Derecho Penal Aleman - Parte General, Chile, 1970). ORegente: Mestre Augusto Silva Dias 20 u* GeO * Go eat -ete fs as" tah Bs tet > G3 tt tet efeh wae tem “eis Os Both ° ef a ietat te a a a ee. | eee > ! ; PARTE I FUNDAMENTOS E LIMITES DO DIREITO PENAL CAPITULO I SIGNIFICAGOES BASICAS ‘enal waterial como pats de-ume “cigacta gloval do Dizsite Penal’ funcional da "gesamte Straftechtswissenschat . de Roxix: do Direito Penal como tarreita trumente da potitica zi & perspectva Como discigtinas de uma fustiga penal giobat: ~0 Ditsite Processual Panat-o C.P.P. de 1987 ~Q Diteito de Exeouedc das Penas - atts, 474% 3 484 do C.P.P. @ o Dec. Lain! 265/79 — : : = O Ditaite Penal dos Jovans - Dao, Let n! 401/82;de 23 de Setembro (para jovens dos 16 aos 21 anos} ~A ctiminologia. Fase I i Ligdes de Dizeito Penal I eS e ee aceaaena HER TEEPE Roxin, Straftecht, AT, bd.l, §1 IV, 14: tem de se ter consci&ncia de quea compteensdo cientifica de justica penal nio basta, de modo nenhum, o conhecimento da Direito Penal Material O Direito Ponal diz apenas quaié os comportamentos ctiminalmente proibidos e com que penas ou medidas de seguranga so ameacades. Mas este conhecimento benificia, ou aproveita, aquele que que ndo sabe se e com que pressupostos é implementavel uma pretensio penal, segundo que pontos de vista se deve medi uma eventual pens, como se deve exectitéta, onde residem as causas reais da cri alidade e coma se pode reintegrar o mais possivel o autor no caminho da legalidade. Pois podem as solugdes de problemas juridicos num dmbito (por ex. o Direito Penal uaterial} depender dos comhecimentos de outta Subito (p.ex dados processuais ou opinides criminalégicas}. Um Direito Penal moderne nao é pensavel sem uma colaboragdo’ permanente e estreita de todas as disciplinas parcelares de uma “ciéneia global do direito penal". O Direito Penal material é apenas 4 cincia base do ambit juridico global; porque a punibilidade de um comportamerite, a determinar de acordo com as suas tegras é 0 Bressuposto para que o resto das ciéncias que ser a administragao da justica penal se possa acupar do caso. Pot exerts, ~ a influncia de“Vitimologiz na legislagio processual nena! e na constr dogmitica; ~ uma estreita conexéo entre o Direito Penal material e 0 Direito Processual Penal, nomeadamente com os processas de prova permitides, desaconselha o legislador de recotrer a elementos subjectivos como niclea da desctigéa do ilicito € 0 interprete de ofectuar consttugdes dogmiticas subjectivizantes, Porque ambas cobrem sérios problemas de avetiguacio. Hassemer, Alternativ Kommentar, 1990, vor §1, n? 218. 2-0 Direito Penal Principal e 0 Direito Penal Secundério. Critétios, formas e materiais da distingao. ~A distingio situa-se no Ambite do Direita Penal material; - Fenomenologia do Direito Penal Secundétia. ~~ A juridificagio de actividades sociais deye-se em Tegta ao aumento da intervencio do Estado na esfera social e econéutica; 0 Direito Penal surge aqui como tefargo sancionatétio de outros ramos do dizeito. Dec. Lei u'20/ad de Fase. 1 2 co} q POSOR TOT IFIRISIIGESHS LigGes ‘de Dizeito Penal I 20/01 (crimes anti-econémicos), Dec. Lei n*376A/89 de 25/10 { crimes fiscais aduaneiros), Dec. Lei n' 430/83 de 13/12 (crimes de tréfego e consumo de estupefacientes). - Critétios formais - A tmica distingdo que alguns autores consideram posstvel & entre o Dirsito Penal dentro e Direito Penal fora do Cédigo Penal. Assim, Roxin, AT, §1, III, 7; Hassemer, §1, 11370 e ss. ("os princinios que presidem & op¢do por parte do legislador entre uma e outra solugao nio sao pricipios de justiga, mas de oportunidade , prudéncia e sensatez politica’). Embora Hassemer ao abordat os ctitétios que presidem 4 insetgio de uma matéria ne Cédige Penal fale na vocagds de permanéncia do protegido. Oraisso é um sintoma de uma caracteristica estrutural - Mas é possivel ix mais longe e atribuix um sentido diferente a esta disincGo, adoptando um ccitério material que diferencie o Direito Penal Principal do Direito Penal Secundério, por sua vez distinto de um Direito Penal secumdério no sentide puramenta formal atrés teferido . Figueiredo Dias, num estudo.-cbre 0 crime de “asseciagao crintinasa™ dos arts. 287! e 288! do CP. e-maic “dncretamente acerca da determinagés do que significa “crime” , distingue ( i uma posigdo nova ma sua obra) wh Direito Penal. Secundéria auténtico, que niu sé se perfila fora do CP. como releva de interesses extremamente contingentes e mutdveis, reflectindo um catécter attificial e éticamente neutto, (come persamos set o caso de muitos crimes anti- econéticos) de um Direito Penal Secundétio formal, i é, que se ettcontra fora do &P. mas que, tal como o Direito Penal Principal releva de comensos bésicos da sociedade e que, pottanto, possui um catacter ético e uma vocacéo de permanéncia. (2, anosso ver, o caso dos crimes contra o ambiente, e a qualidade de bens ou servicas destinados ao consumo). Mas outras notas complementares peruitem reforcar a destringa entre os dois dominios: 0 Direito Penal aut@nticamente secunditio visa tesolver problemas de integracdo sistémica, i é, responder a certas disfuncionalidades econdmico-sociais em Ambitos da sociedade técnica, normalmente tegulados j4 por outros ramos do Direito; o Direito Penal surge ai, entio, como’ reforgo sancionatétio - nem sempre com bons fundamentos e com fins muito transparentes - de outras disposigdes juridicas. Por isso, pata poder concluir se a conduta é ilicita sdo necessatias operagdes complicadas que tém a ver com a Fase. 1 3 Ligdes de Direito Penal I interpratagdo dessas disposigdes jurtdicas extra-penais em conexto com as normas penais, Ao invés, no Direito Penal Secundério em sentido formal, que constitui afinal um verdadeiro Direite penal de justiga situade fora do C.P. a veloragdo da conduta delitiva como ilicita &, do ponto de vista ético-jurtdico, manifesta; ou soja, & aprenstvel uma valoragdo ética quasi “natural. Este Direito Penal Sacundirio bem pode figurar na C.P., com o valor simbélico que isso acarteta. Assim, G. Arzt, in Roxin / Arzt / Tiedemann, Introduccion al D.P, yaDPP, Amiel, 1989, pags. 85 e 99; Padovani, Diritte Penale, 1990, pags. 2 @ ss. onde afitma que o CP. deve compreender “as incrininagdes de maior significad social através das quais se identifica a drea tradicional do Dirsito Penal" v. tb. pag. 12. 3~A Parta Geral e a Parts Espa do Direite Penal (Distingfo também operada no seio do Direito Penal material)” AS divisGes correspondentes do C.P, ndo asgotan o sentide desta distingfo: h&, com efaito, uma parte geral e uma parte especial do Direite Penal fora do C.P., Quanta a parta especial, a questfo no Tsyanta dificuldade alguma, dasde logo nels existéncia abundante de incriminacdes secundérias, previtas et Isgislac%o avulsa, como vimos. Mas hd também uma parte geval fora do C.P., constituida, nZo s6 por disposigdes qua figuram na legislacto penal secundétia e que de algum todo excepcionam o tegime do C.P. , mas também por conceitos @ regras dogmiticas © polttice-criminais com alto grau de estabilidads isto é, sedimentados ao longo da um processo de provas dadas-~ v. Naucke, IntrodugZo 4 Parte Espacial, AAFDL, 1989-, 0 qua so explica pela sua elevada capacidade para a tesolugto justa de problemas préticos. Trata-se de uma espécie de Direito penal nfo legislado, construtdo para além do C.P., embora astaja om astreita conexfo com 0s respactivos preceitos- p. ex. a teoria da imputacfo objectiva, Fase. I 4 ae a“ Ligdes de Direito Penal I CAP{TULO II FUNDAMENTOS E FINS DA INTERVENCAO PENAL DO ESTADO Senedd sede Cleese sessed ees Pata compreender as funcdes do Direito Penal devemos partir de uma andlise dos seus elementos constitutivos fundamentais: os crimes e as penas. 0 ree ‘ : : Seas 1-O conceito de crime wes eS D ame - yereree Sobre o conceito de crime & passivel dar duas-definigdes: ape 7 te Ain abt L.1.Nogdo Formal Sa 2 aed 65. Segunda uma nogio formal, crime é todo o comportamento que a lei sanciona com uma pena. Para as autores que advagam esta concepcad do crime, o Direito Penal surge, correspondentemente, ‘como o conjumto de normas juridicas que associam consequéncias juridicas especificas, préprias - as penas e | as medidas de seguranga - a deteruinades comportamentos humanos. 3 Loti} Re ° Bockelmann/Volk, Strafrecht, AT, 4? Ed., 1987, §1, 3, 1, aceita‘mesmo que Bump, osta a tmica nogdo de crime aduissivel, em consequéncia do principio da jtto sf ayoulegalidade criminal: crime seré apenas a conduta para a qual-a lei comina uma ee eee ee ee ee ee S sancio penal. Nao resta outta via que néo seja determinar o conceito de crime 4 sates com a ajuda da punibilidade. papianien Sage Tém razdo BockelmanryVolk ? Nao negamos a importéncia de ums += conceito formal de crime, sobretudo pelo factor de seguranca que ele introduz: yt com efeito, se os crimes ndo estivessem prévia e tigotosamenite ‘previstos na lei, “/¢ << _ avida social era insuportével porque ninguém saberia ac certo se pot um facto [. yer-ore qualquer ae ou nfo ser privado da sua liberdade. £ certo Fe outeOs,, ee Fase. 1 sem wd ET By punto Be Dib ‘a fornia ¢ merntnne YAR a oman rf 44 any? Beet Cn ee tame, woes é CC pep 7 ein? PINS bpd og Sule eae CA Print tape POE OE eS LigGes de Direito Penal I ordenamentos sancionatétios, como certas partes do direito civil, ou o direito disciplinar, no apresentam a mesma dependéncia do principio da legalidade, mas isso nfo é de estranhar se nos lembrarmos que o Direito Penal dispde da sangdo taais gravosa para os direitos e liberdades dos cidadaos. Mas 0 conceito formal de crime permite-nos apenas identificar o que é e o que néo é crime numa determinada otdem juridica; ndo nos diz o que deve eo que nao deve set crime’ Nao nos responde a questéo de saber porque é que so crimes aquelas condutas legalmente definidas e nio outras, ou seja, se 0 legislador procedeu ou nao cotrectamente ac incriminar aqueles comportamentos. E pois i iente pata compreender as fuitgdes e os fins do Diteito Penal 1.2. Nogdo Material Para dat resposta a essa questéo ter-se-a inevitévelmente de abandonar a ee perspective que nos é oferecida pelo conceita formal de crime e avangar pata ~~ o2 uma nogéo material. Esta consubstancia yma postuta critico-valorativa que vous, antecede 0 direito positive e fornece ao i~zislador um critério politico-criminal pe -"" . para determinagio do que deve punir ¢ #9 que devs deixar impune. Assi, Fens Romi, AT, §2, n'L; Padovani, Dititto Pensle, pag. 93 e s,, que distingue entre conceita material de ctime dé tipo sucioligico-desctitiva, que pretende ne r- identificar o minimo denominador comum a todos os crimes e acaba pot coincidir nae « sonduta @ cartas atitudes bésicas de fidelidade ¢: de qesp2ite palos valores tundamantels, constitul a misséordo fireita Penal Este tent “uma funcio ética posites, uma fungie de formagio ética € etvica dos cidadaos. Qua dizer da concepgéo de Welzal (que tem algumas afinidades cott outras concepgdes que analizarenos em seguida) ? Ena priniaizo lugar, destaqus-ie que 4 ameapa 6 & aplicagao de penas 840 instrumentos improprios pata qealizar fungdas da socializagZo ou de aducagds civica dos cidadios, Ao Direlto Panal és compate educar as passoas: 0 Estado a soctadade tm de prossaguir esse fii com ouitos tasies tals adéquadas € menos gravosos. A intarvengto penal 56 indirectamenta “interfere ne socializago, porque, ao punit cettas condutas soclalments danosas, teforga & importancid” dos*valores lesados na consci@ncia colactiva. Por outras palavras, sendo o Direito Penal a ‘iltima linha de defesa da sociadade, ele deve concenirar as suas anetgias Ta protacgéo dos valores @ interesses vitais indispensdveis & sobravivéncia da propria sociedade, O Direito penal néo € 0° insteumento idéneo para a produgéo de um quumdo ético, funcionando apenas como modo de reptodugéo ac nivel da consciéncia colectiva dos valores lesadas. Fasc. 1 7 | | Ligdes de Direito Penal! O Direito Penal intetvém pois na tutela dos espacos de cousenso social, ié, naquele ambit valorativo que foi e é objecto de socializagao e que é fruto de um acordo generalizado. As normas juridico-penais nao cumprem imediatamente fins de socializagdo, apenas reforgam valores getalmente aceites. Se quisetem, o Direito Penal néo desempenha tatefas de socializagdo primétias, mas apenas secundérias, visando o fortalecimento de valores jd interiorizados na conscténcia colectiva. Por outro lado, esses bens ou valores que o Direito Penal pretende em ‘iltima linha tutelar, nao sZo valores da acco ou deveres ético-sociais, do tipo “deves fazer isto”, "ndo deves fazer aquilo”. A funciondlizacdo do sistema penal A protecoZo destas, teptesentaria uma indefenicfo ¢ um dlargamento significative da érea de intervencao do Direito Penal A proteccio de normas ético-sociais’ da acco antes instrumental em relagio & protecgio de certos valores tiltimos, pois sdo estes que confetem validade aquelas. A tazéo pela qual a notma "néo roubes” tem um sentido ético, advém do valor socialmente atribuido 4 propriedade como elemento indispensivel para a realizado da pessoa. Eo significado da relagdo da pessoa cow o bem que confere validade as exig@ncias de dever assinaladas e nao ao contrétio, como: Welzel parece sugetir. A validade dos valores da accia subordina-se, pois, as necessidades de protecedo dos valezes de resultado: é na proteccio imediata de bens furidicos que as normas jucidicas, de fundo ético-social, encontram justificagdo, O contribute do Direite penal para o reforgo dos valores ético-sociais da acgéo 56 tem lugar no limite (estreito) consentido pela necessidade de protecgdo de bens juridicos. Pot seu ture ‘as exigéncias ético-sociais de dever funcionam como supotte da proteccao dos bens juridicos que as fundatrantam. Neste sentido se pronuncia também Roxin. Segundo ele, Welzel confunde meios e fins: a estabilizagdo das normas na consciéncia. da colectividade pettence as tarefas do Direito Penal como prevencio geral positive. Mas a aquisigdo do-tespeito pela vida alheia, a propriedade, etc. sé sucede pata evitar as lesdes de bens juridicos. Ela é, portanto, um meio para o fim de protecedo de bens juridicos-AT, n’34es. : Posigdo semelhante defende Hassemer, vor §1, n'251 e s.: para.o autor a promogio e perservacao de valores ético-sociais da atitude e a protecgéo de ‘bens juridicos ndo se excluem, antes correspondem a niveis fundamentais distintos; a validade dos valores ético sociais da atitude & a condigio -de possibilidade da proteccGo de bens juridicos. Por outro lado, o bem jurtdico é 0 “puraco da aguiha" através do qual o Direito Penal tem que encontrar os valores da accio. Nenhuma norma juridico-penal aceitével se néo puder inyocar a Fase. 1 ae d d | | — = ee Ligdes de Direito Penal I proteccdo de um bem juridico, mesmo que esteja orientada para valores de acco. yA ” 1.2.2. Outras cortentes apreciam as tarefas do Direito Penal de um ponto de vista funcionalista ancorado ma hoje tio em yoga teoria dos sistemas, sobretudo na verso de Talcott Parsons e de N. Luhmann Um dos defensores mais dlustres- desta orientagdo no campo do Direito penal é hoje G. Jakobs. A sua visio das funcdes do Direito penal assenta numa simbiose da teoria dos sistemas com a chamada psicologia profunda. Para Jakobs ~ 0 Direito Penal é formalmente legitimado através da realizagdo em termos constitucionais das leis penais. A legitimagio material consiste em que as leis juridico-penais so indispensdveis para a preservagdo da ordem estatal e social... O contribute que o Direito penal presta & presetvagdo da ordem estatal e social consiste na gatantia de nortmas. A garantia esté em que as expectativas que sio irerumctivets para o funcionamento da vida social na forma real e na forma legalmente exigida, no podem ser abandonadas no :aso ido. Pode-se pois definit como bem a proteger pelo 1% xito penal a resistncia 4 defraudagio das expectativas normativas essencia jecignado no tuiuro por bem juridico-penal... A lesdo de um furidico-penai do é constituida pela causaco de uma morte (ela é dpencs a lesio de umbem), mas pela violagde da norma que profbe 0 homictdio evitivel: o homicidio evitével tem o sentide de uma infracgdo da norma que est na base dos delitos de homicidio porque o autor, conhecendo ou padenda ter conhecido, é considerado competente para escolher o comportamento ditigido aquele efeito endo uma alternativa inofensiva. A norma obriga & organizagéo inofensiva (do comportamento), mas o autor organiza-o de modo danoso e imputével o seu ptojecto de mundo é oposto ao da norma Sé esta perspectiva eleva.o bem. juridico-penal aos niveis em que se tealiza a interacefo social pelo Direito Penal: o nivel do significado do comportamento (delictive) como negagéo do significado das normas e 0 fortalecimento do significado das normas. através da teacgdo punitiva. Bem juridico-penal no Smbito dos crimes contra a propriedade 6, pata esta solugao, nao-a coisa alheia ow.a telago do proprietitio com as suas coisas, como unidade funcional para a satisfagdo de necessidades ou para a obtengio. de luctos, mas a validade do contetido normativo de que a proprtiedade deve ser protegida; do mesmo modo, a_bem juridico-penal no Ambito dos crimes contta a integridade fisica é a yalidade do contetido normativo Fasc. 1 See Ligdes de Direite Penal Ambito dos crimes contra a integridade {lsica é a validade do contetido normativa da que sa deve raspeitar a integridade corporal de outrém ete. O bani jurtdico- penal é a obtigatoriedade pritica da norma”, ~Steaftecht, AT, 2'ad., 2/1 ess. Eva poucas palavras, Jakobs sustanta que o Direito Penal visa teafirmar a confianca nas tormas (expectivas getais de comportamentos) quando elas so violadas; a intervergdo do Direito Penal pretende acentuar na consciéncia colectiva a conviccdo de qua 4 norma ndo prescreve uma alternativa de comportamento susceptivel de discussdo, pois a sua violagdo (infidelidade) coraporta um dever de suportar os custos (aceitacto das consequéncias), Dé esta concepcéo uma explicagdo aceitével do que € materialmente 0 crime e, portanto, da legitimidade da intervencdo penal? Julgamos que nfo, Pot um lado, dasempenhando primordialmente afuncdo de orientagdo ¢ institucionalizagdo da confianca, o Direito Penal perde o seu carécter de ditina “ratio” de defesa da sociedade, pois dat ndo rasulta-um critério yélide para a seleceda das condutas a sanctonar pela—Direito penal A concepedo exposta pate dc adequagio Ge ieivens punitiva a restaurar a confianca institucional abalada pelo comportamento, Mas, em primeira lugar, essa adequagio funcional pode set conseguida com meios ético-socialmente desvaliosos, por ex, com um Direito Penal de terror que visa diminuir as quotas da criminalidade cou 0 sactificio da liberdade individual 6 do respeito pelas Bessoas. Para que isso nido suceda, os adeptos das teorias sistémicas veeu-se obtigados a intoduzir restrigGes, fundadas na ideia de Estado de Direito, quo sdo exteriores e alias & légica da adequagfo funcional. Em segundo lugar, a funcionalizaggo da interveriggo penal ao teconhecimento das normas @ ao teforgo da confianga néo-oferece wm limite 4 actual hipertrofia do Direito Penal, Quais as normas cuja estabilidade compete 20 Diveito Penal assegurat ¢ questéo que estas teorias nfo solucionam Nesta medida elas ndo d&o uma resposta capaz ao problema do que é materialtenta uma conduta criminosa. Pelo contrério, elas fecham-se numa aute- teferencialidade normativa que é prépria das tases positivistas (0 crime € a violagdo de uma exnectativa riormativa instituida social e jutidicaments). Neste sentido Hassemer, Alternativ Kommentar, vor § 1, 08254; Einfuhrung, §27, 1, 1; A. Baratta (y. infra) ; Santiago Mir, Introduccion alas bases del Derecho Penal, 1976, pags. 138 ¢ s, Eu diltimo lugar, as teovias sistémicas asquecem a medig&o do objecto e do benaficiério da tutela penal. Por um lado, o objacto da tutela penal ou, 53 Fase. I /10 eb SS OWS OUD OSS Owed WO ew” LigSes de Direito Penal! quisermos, o bem juridico-penal ado pode ser a validade ou a obrigatoriedade pratica da norma, como para Jakabs, mas os valores ou situagdes valiosas a que esta vai buscat o seu fundamento de validade e obrigatoriedade. Aqueles sé podem ser valores sociais basicos, comumente partilhados. Quanto mais estreita for a ligagio da tutela penal a estes valores e quanto maior for a conctetizagdo & determinagdo do substrate {mais ou menos material) em que repousan, mais crcunscrito e ‘preciso se torna o ambito do Direito Penal e maior é, pot isso, a gatantia dos cidadaos face ao poder punitive do Estado. Pot sua vez, o Benefictério da tutela penal néo pode set 0 sistema social enquanto tal (como un todo ou dividide em sub-sistemas} tas as pessoas que participam na interacgdo social na qualidade de titulares de bens ou intesses. As perspectivas sistémicas que estamos ttiticando reduzem a pessoa A dupla condigdo de “destinatétio da norma e de portador do conflito” (Schelsky] isto é, convertends na linguagem de Jakobs, de um subsistema psiquico-fisico 4 custa do qual serd teafirmada a confianga nas expectativas por ele dofraudadas. Quanto a nds, 0 beneficidtio da tutela penal, ott seja, 0 ceniro em torno do qual gira todo do Direito Penal, é a pessoa como fim em si mesmo (e nido como meio au instrumento de consecucéo de fins alheios), Em suma, o sistema juridico-penal 36 deve assegurat 4 astabilidade das expectativas na medida em que e enquanto supuset 4 defesa dos bens e interesses da pessoa. ~y. Costa Andrade, Consentimento e Acordo, 1992, pag. 426 e ss. 1.3. Estamos, pois, com todos aqueles que definem o crime como lesdo de bens juridicos fundamentais e y@er come tarefa fundamental do Diretto Penal a proteccdo sibsidiéria de bens juridicos. Nao queremos significar com isto que 0 crime & uma agressdo contra bens juridicos mas que 0 crime deve set uma tal agressao. Nao atribuimos., pois, exclusiva ou sequet primordiaimente ao bem juridico uma fungdo sistemética descritiva ou de reconstituicac dogmitica do sistema. (Precisaremos adiante este ponto}. Dizemos também que a protecgéo dispensada pelo Diteil tem ratureza subsididria porque 4 ideia de que 0 crime € Tesdo_de_um bem juridico fundamental dénos apenas um primeito enquadramenta sobre 0 merecimento de pena dos comportamentos lesivas; ni vetdade, 0 Direito Penal so protege una parte dos bens juridicos e nio 0 faz de mode getal, mas apenas conta algumas formas (as mais graves) de agressdo. Apesat de existir ainda hoje forte controvérsta acerca do conceito de bem juridico, mais p: icfica 0 cee a A desde logo, quase toda a doutrina assinala aipartincia do-ber ra tundamentat Fasc. If fil Ligdes de Direito Penal Umitar o campo das decisdes de ctiminalizagio. O principio da protecgia exclusiva de bens juridicos integrou definitivamente 0 elenco dos principios de uma politica criminal ractonal E claro que a operatividade que o bem juridico tem nesta sede depende em larga medida do conceito que for adoptado. b] Note-se, em primeiro lugar, que o bem furidico deve sex encontrado nos gtandes espacgos de consenso social: antes de ser juridicamente teconhecido ele tem de ser um bem, um valor comum, pelo que, desde logo, nio se obtém em éeas de conflito social e em dominios axiolégicamente indeferentes. $é quando, em torno de uma certa situagdo da vida carecida de tegulagdo, & possivel lograr um consenso fundamentada, se pade dizer que essa situagdo é ético-socialmente valiosa e que o pode ser também juridicamente, se for necesséria a intervengdo do Direito, Falamos em consenso fundamentado; isso significa que 0 bem juridico no é um facto bruto “que o legisladar possa staplesmente extrait da realidade social e possa transpor sem mais pata o Cédigo Penal" - Hassemer, Alternativ, vor §1, n? 200 - ; neste sentido os bens ndo existem nio podendo o legislador reptoduzi-los ou declarétos, mas somente obtélos de modo hermeneutica, isto é, interpretando e ponderando as tazdes em torno das quais é posstvel forjar 0 consenso social Aluz do quadro de principios e exiggncias estabelecidas pela ordem juridico-constitucional. Deste todo, o legislador é também um intérprete que profbe ou otdena cettos comportamentos em fungdo das tazdes que fundam o cardcter valioso dos estados ou situacSes sociais contra os quais aqueles atentam. { De testo, as fronteiras entre os valores da Constituicio material eas valoragdes do “mundo da vida" so fluidas e pouco defénidas; os valores coustitucionais materiais que formam o contetido minimo de uma Constituigio integram também os valotes da tradico cultural, que séo fruto da integragio social e conferem identidade a um determinado sistema social e politica). Contudo, como sustenta com razda Hassemer, os bens jurtdicas nao se obtém de forma puramente normativa. Hd uma relacdo dialéctica entre factos © valores que néo podemos aqui ignotar: “os bens juridicos tém um substrato ewpitico que o legislador deve observar; sé pode existir um bet juridico onde haja uma necessidade social intensa [ a tal situagdo da vida ou estado de coisas necessitado de tegulacdo de que falimos] que é lesada ou colocada em pertigo com cetta frequéncia e cuja lesdo provocou reais sentimentos de ameaca”. ~ Ob. cit, Iec. cit- -¥. tb. Ernst J. Lampe, Festschrift fiir Welzel, p. I51e ss, Fase. II /12 ext ona 3S ol om me om LigSes de Direito Penal! ee O bem jurfdico tom, assim, uma componente ffctica (qua nfo & necassériamente uma redlidade objectual] ¢ uma componente valorativa. c}) A este luz ndo mos parecem cortectas aquelas concepges que identificam o bem juridico com um valor imaterial, por ex. com um “valor ideal da ordem social’ (Jescheck, Tratado da Derecho Penal (tead.espanhola de Mufioz Conde/Santiago Mir}, vol. 1, § 26, 1, 2} nem com aquelouttos que, a0 invés, reduzem o bem jurfdico A dimenso de um objecto tangivel, de um “algo concrato”. As primeizas aspititualizam 0 conceito tornando-o demasiado vago: 0 bem jurtdics asia definido & destituide de substrato emplrico € por isso ndo € modificdvel causalmente, néo & lasével em sentido préprio, O dano, nesta perspectiva, néo & tuensurdvel, teduzindo-se a uma perda de valor siuplasmente ideal, tmagindtia, A ideia da proteceéo dos bans tornase ut principio stmplesmante formal que nfo fornece ao iegistador nenhutt eritétio acetca da importéncia do beni pata avida social, nem permite uma graduagao das wodalidades do iltcita, isto 6, una definigdo da gravidade das eventuais formas de agrassto. 86 a ligagdo do vator a um substrate empfrico, constituide por ua ' ra estado-de coisas ou tealidade que pode ter naturaza psico-fisiea (come a vide}, BOX» snormativo-social {como 4 honra) ou consistir numa relagfo da vida (como 4 familia), numa relagdo juridica (como 4 propriedade), numa relagde juridico- cot scondtsica (como 6 patriménio) etc., permite intvoduzir anog%o de dano e, assizs, eee ee ee ee co pS Seve’ agraduagdo das formas do ilicito. BoD ~ _ No sentide da critica efectuada, Karl. Kunz, Das strafrechiliche Bagatellprinaip, 1984, p. 139 @ ss. ‘As cancengSes qua apresentam 0 bam jurtdico como alge material, como objecto do mundo exterior que as pessoas véem coma bem néo dever também Z vw ser aceites, Ht primeizo lugar, porque & ideia de bem ndo pode renumciar 4 um eo pemomente valorativo, 6 um consenso social acerca de contedidos jur(dicos: um ae oy bem nunca & um facto brute captével pelos sentidos, mas uma tealidade J Yelp fnterpretada ¢ valorada. Como diz Kunz (ob. cit, pag, 143] “os objectos reais, a _, tomados emt si, nd so merecedores de protecgdo, mas apenas adquirem essa Ry gs” qualidade através de um consenso social normative’. Em segunde lugar, porque a fd bens furidicas que como vimos, integram situagBes sociais (como a honta) o& ena outro tina da relagdes pouco objactualizévels, Em todo 0 caso, 0 significado a & desvalioso da conduta- criminosa nfo tem de resultar da modificaggo ou TA. destruig&o dessas estados de coisas, sejam eles mais ou menos materiais, mas da Be : Seg dtminigto da sua utilidade pata 4s pessoas; por outras palavtas, da rastriggo das Lo. SS Prot ¢, Fase / 13 Ligdes de Dizeito Penal ! possibilidades de serem distrutados ou utilizados pelas pessoas. A contratio, 0 valor ético-social desses estados advém da sua importincta para o livre desenvolvimento da pessoa. f este 0 ponto de vista da valoragdo. Em terceiro lugar, porque uma tal concepgdo tende a confundir bem juridico com objecta da ac¢io, isto & com a realidade corpérea sobre a qual incide a conduta. 0 objecto da acgdo ndo se confunde nem com o substrate empirico do bem juridico, nem, como é evidente, com a tespectiva dimensdo valorativa. Nos crimes contra a vida, 0 substrate empitico do bem jutidico protegida é a vida na sua expressdo bioldgica; 0 objecto da accis é o suporte concreto desse estado bioldgico, ou seja, 4 pessoa atingida; a componente valorativa do bem jurfdico traduz-se na televancia, ético-socialmente aferida, daquela realidade biolégica para a tealizagio da pessoa. Nos crimes contra a proptiedade, o substrato vaiorado é a telagdo de posstvel utilizagdo entre a pessoa e as coisas pettencentes ao seu universo patrimonial, ou seja, as coisas sobre as quais ele exerce um dominio juridicamente titulado; o abjecto da accdo é a coisa de que foi concretamente privado pela conduta lestva; o valor consiste no significado ético-social daquela telacdo para o desenvolvimento da pessoa. O bem juridico é, pois, um coriceita complex, constituido por elementos Efcticos e por elementos normativos, e distinto do objecto da acgdo. | | | ' ! d d s aia ir c} A doutrina distingue tradicionalmente entre bens juridicos individuais {como a vida, a honra, a reserva da vida privada, etc.) e bens juridicos universais (como a seguranga do Estado, a economia publica, a administraggo da justica). O que esté em jogo nesta distincdo é naturalmente a identificacio do titular dos varios bens juridicos. A categoria de bens universais é heterogénea: nela cabem bens juridicos do Estado, da colectividade como um todo e da colectividade como conjunto de individuos. Esta distingdo tem relevincia pritica, nomeadamente para a questio de saber se é posstvel consentit efectivamente na leséo do bem jutidico e se é possivel defesa legitima contra agressdes de terceiros. a. - ¥. Hassemer, vor §1, n! 269; Jescheck, Tratado, §26, I, 36; Maurach/Zipf, Strafrecht, AVI, 7? ed, §19, n!10 g Mas as perspectivas com que a distingdo é efectuada podem ser de duas espécies: tendo em vista uma sistematizagdo dos interesses juridico-penatmente ptotegidos de um ponto de vista desctitiva, ou atribuindo a distinggo um sentido erttico, isto 6, tornanda a questo de que bens merecem ser objecto de proteccdo penal dependente da questéo de quem deve ser o titular diitimo dos eas 9 m8 Od ee 4 of? “efi” “tafhs* = Fase. ID /14 ann ital” “eh on Ligdes de Dizeito Penal { bens juridicos. Ambas as perspectivas, desctitiva ¢ critica, se encontram presentes, embora de mode diferente, nas teorias que sobre o problema se digladiam: as teotias tmonistas e as teorias dualistas. Dualista 6 por exemplo, Klaus Tiedemann: ele afirma simplesmente que existem duas espécies de bens juridicos, que possuemt estrutura diversa e cuja tutela obedece a critérios e principios diferentes. Referindo-se ao objecto de protecgéo do Direito Penal Econdmico, diz o autor que o bem juridico central é naste campo “o decurso das relagdes econémicas ua sua globalidade; a economia piblica, Este bem, incluindo as suas estratificagdes em forma de | gedons econdmicas patciais, § supra-individual e no pode sex interpretado ners : juridica nem economicamente, como simples soma de interesses dos operadores econdtiicos singulares ... {uma tal concepgio] nio consegue explicar o bem juridico das leis politice-econdmicas mais importantes © tem por base um modelo : ideolégico que é hoje criticado na doutina ocidental da politica econémica. £ um dado adquiride para aquela doutrina que 4 economia é sempre e sé pensdvel , e possivel como fendmens instituido pelo Estado ¢ pela sua ordem juridica..”. , ~ Talbestandsfunktionen i Mebensstratrecht, 1969, ndg. 66 @ s., Poder } Econdmico y Delito, 1985, pag. 12 es. > ‘Em suma, pata o autor, a pat dos bens juridicos individuais, existem, com { plena autonomia, bens juridicos supra-individuais (como os interesses protegidos : 7 pelo Direito Penal Econémico, que de modo nenhum se podem identificar com } interesses pattimoniais dos individuas). E se Como critica 3s concepgies dualist § \podemos destacat que elas wet privilegiam wine Optica deseritiva ett ptejuize de uma Optica cxtica em telagio.3 ee -¥” ordem de bens juridicos. Flas conseguets uma desctigdo realista dos bens ve nr jurtdicos existentes, oferecendo como ptineipal vantagem um consideravel ao oe” poder explicativo. Isto suceds, porém, ¥custa de uma imprecisdo e acentuada one vacuidade do conceite de bem juridico e de uma legitimagdo “a posteriori” da nate ade yee punibilidade. Cada vez que 0 ligislador penal intervém no dominio das telagdes CN socia-econéniicas € sempre possivel individu Por X alizat 0 objective prosseguida © Fransformélo em bem juridico: pot exemple a punicdo da fraude na obtengio de crédito titela 0 “bem juridico” confianga pétblica no sistema de crédito, ou 0 abuso de sinais e petigo atenta contea o bem juridico "paz piiblica” -art. 294* do CB. Resta saber, todavia, se estas capacidades funcionais -3 luz do que atrés expusémos- se podem considerat aut@nticas bens juridicos, ou seja, se 0 Dieito Penal est vocacionado pata a protbigio e punicéo de condutas que disftmcionalizam a estabilidade de subsistemas. Uns bem juridico como 4 “paz Fase. HI /15 Ligdes de Direito Penal [ piblica” por exewpto, ndo proporciona nenhuma orientagde politico-criminal: contra 4 paz ptiblica atentam todos os crimes e também as contra-ordenagdes (ex: A passa um sinal vermelho @ despista-se com grande estrondo). Falta ds concepgdes dualistas “a abdbada sobre as duas colunas* nas palavras unitéio qua notteis com pracista ¢ Este aitrie unde consti « preocupsgde das teorias monistas, Para alguns autores ele & concebida na éptica da colectividade, surgindo os bens jutidicos individuais como atribuices juridicas derivadas das fumedes do Estado {as pessoas s&o vistas na qualidade de membros do grupo. social} ou como aspectos do funcionamente imperturbado do sistema social. - Partidétios de uma teoria estatal ou social monista sdo Hori Einwilligung, 1919, p.118; Mir Puig, Derecho Penal, 1990, p. 183 {que parte das hecessidades de funcionamente do sistewa social}; Hitsel, LK, von §92, nt 165, (a quem se deve o conceito de “bem juridico universal": 2 conceite tanto interasses do individu (como 4 vida ou a integridade f{sica}, se beta que apenas face a agressdes dolosas, e interesses da comunidade). Segundo outros autores, (conto M. Marx e Hassemer) o problema do bem jurtdico € Viste na Sptica da pessoa, considerando legitimos bens juridicas universais ou supra-individuais apenas na medida em que sirvam a realizagio do individuo. A disputa enize auibas as tendéncias monistas centra-se afinal na teoria do Estado. Cada uma delas prociira responder As seguintes quest6es: quais sfo as fungSes e os fins do Estado moderne, mormente na sua veste punitiva ? Que concepcdo do Estado subjaz & nossa ordem politico-constitucional ? Ent nosso entender nenhuma das modalidades da teoria monista do bem. jutidico responde correctamente a estas questdes. A cotvente monista social, explora e acentua a vertente social do Estado moderno derivando dafos bens da Pessoa. Esta posigdo contraria frontalmente a nossa otdem de valores constituctonal, na qual a dignidade da pessoa ocuna o lugar de fundamento do Estado Portugués - att. 1! A cortente tonista individual, nor sua vez, reaica a vartente liberal do Estado modetno em detrimento da vertente social Embora seja acertado o seu ponto de partida consistente em subordinar os interesses sociais 4 proteccéo da pessoa, ela vé a pessoa fundamentalmente como ser individual, como um "Robinson Crusué* em torne de quem o mundo gita, Em Fase. IE / 16 fee ae Rae Tt eee Oe eee ee eet Ligdes de Direito Penal | PERE DEEESSSaMnPvceereeeieecteceer ee ene uo eee termos juridico-penais, isto conduz a uma tutela de bens universais estreitamente dependente da protecgdo de bens individuais. Por ex, na opinido de Hassemer, as agressdes ao meio ambiente s6 devem ser punidas na medida et que pontaam em petigo bens juridicos individuais, coma a vida, a integridade fisica, etc. - v. vor §L, n'280 e s. Néo representam, portanto, lesdes de um bem juridico auténomo, mas modos de colocagao em petigo de bens individuais tradicionats, autonomizados em virtude dos meios e do contexte da sua tealizacao. Vitimas, nesta visio das coisas, sé podem set sujeitos individuais. Ora, i nossa ordem juridico-constitucional subjaz uma concepgda de Fstado como Estado de Direito Democratico e Social cuja intervengdo é funcionalizada & ctiagdo de condigSes para a auto realizagao da pessoa. A um Estado de Diteite desta natureza cabem dois tipos de taréfas: uma que visa proteget a esfera de actuagdo da pessoa come ser dotado de autonomia ética, constituida principalmente pelos direitos individuais; outea que vai no sentido de proteget a esfera de actuacdo da pessoa como ser social, ou seja, de satisfazer as necessidades da pessoa decorrentes da vida emt sociedade, e é conformada pelos direitos saciais de catdcter econémico, sociale cultural. Assis, Figueiredo Dias, Sobre a Autonomia Dogmitica de Direito Penal Econéutica, in Estudios Penales y Criminolagicas, 1986, p. S2es. + Daqui resulta uma visdo pessoal dualista do bem jutidico, que parte do primado ético-juridico da pessoa, mas no a encata como um “Robinson Crusué”. Segundo esta posi¢ao, a proteccdo das bens sociais da pessoa € telativemente independente da protecgao dispensada aos bens individuais; nfo hé entre uma e outra qualquer relagdo de instrumentalidade. Mas a “abébada” entre ambos é teptesentada pela pessoa. rH Nesta linha, o Direito Penal do Ambiente deve cuidar de comportamentos que atentam gravemente contra o direita ao ambiente, como direito social cuja titularidade pertence.a todas e a cada uma das pessoas {interesse difuso). Deste modo se consegue articular um conceite critico de bem juridico com base no qual o legisladot deve proceder a selecedo das futuras condutas puniveis a desctiminalizagdo daqueles comportamentos que wdo se coadunam com ele. Um tal conceito nio se queda pela visio estitica e redutora de um Direito Penal minima, limitado aos direitos fundamentais individuais (como quet Alessandro Baratta, v. Principi di Diritto Penale Minimo, in det Dititi e delle Pene, 1985, p. 443 e s,) nem ultcapassa o limite tepresentada pelos direitos sociais. Sew entrar profundamente na teotia dos direitos sociais, na sua estrutura e no seu tegime constitucional, é oportuno para clatificar a linha de fronteira pot eles constituida, distimguitos daqueles objectivos econémicos e sociais cujo cumprimento a Fase. I /17 Ligdes de Direito Penal [ Constituigdo, de uma forma programética, impde ao Estado. Embora os direitos sociais sejam direitos a uma prestacdo do Estado, nisso ndo se esgota a sua natureza; eles sfo também direitos a uma abstengdo por patte do Estado e de tetceiros e possuem mecanismos, instrumentos processuais préprios de reivindicagio - por ex.: o direito de acgdo popular nos direitos ao ambiente e a qualidade de bens e produtos destinados ao consumo - art. 52, n*3 da CRP. Nao se confundem, pois, com as imposicGes Ie egife' erantes, enderegadas, a0 ) legislador aiGao > nos dominios da organizagad scondmica Ali temos a protecgdo de direitos; aqui_temos a regulacdo “de subststemas soctais, eventualmente importantes para 4 satistagao daqueles direitos, mas que pettencem imediatamente a uma outra galéxia: a otdenagio da vide social, a Btossecugae de objectivos de poittica econdiica etc. Por isso, néo concordamos com Figueiredo Dias quando estende a tutela penal aos "valores constitucionais ligados 4 organizagdo econémica” -v. Sobre a autonomia dogmitica, p. $5; saimos do dmbito de tutela de bens da pessoa para entrar na esfera da tutela de fungdes. E isso deve ser vedado a um Diteito Penal marcado pelo principo da protecgdo dos valores do “mundo da vida" e pela ideia de “ultima tatio” da intervengao punitiva do Estado. De fora devem ficat os bens ou interesses da colectividade como um todo, “administrados" pelo Estado. Ura conceito de bem juridico enformado pelos bens individuais e‘sociais da pessoa consegue estabelecer uma proporgao entre os bens juridicos iesadas com o crime e 0 bem jutidico atectado e Imitado com a pena: a Woetdade - que & como Je sabe, um bem constitucional - sé deve sex tosttingida na medida em que isso for “necessdrio” para a proteccdo dos bers da pessoa -Assim, Padovar o Penale, p. 10¢=— A esta luz @ injusto privar alguém da liberdade para tutelar, mera funces sos = £ certo que a teoria pessoal dualista que sustentémos udo consegue descrever fielmente a latguissimo espectro dos intetesses que o Direito Penal actual tutela. Nao se trata, todavia, de um defeito desta teoria, mas antes de uma ctise que afecta qualquer orientagio que confira ao ‘bem juridico funcies axiolégico-criticas; porque ela visa a constituigio de um Direito Penal justo e propotcional e nao a legitimacdo e a reconstruc sistemética do Direito Penal vigente, dominado pela hiperctiminalizaggo. Hassemer coloca lucidamente o problema testes moides: ou temos um conceito de bem juriiico precisa e critica, mas alheio as necessidades da pritica ou temos um conceito de bem juridico pritice e mais préximo da tealidade, mas vago e inconsistente - vor §1, °268. Fasc. If /18 ¥ aA Ligdes de Diteito Penal £ -Sobre a crise do conceite de bem juridico e as suas causas, v. Palazzo, 1 confini della tutela penale, in Riv.ttaliana di Dit, Prog. Penale, 1992 nt 2, p.460 wa: coe ess. pepunte oo Bmpr Preferimos, pelas rag®es expostas, 0 primeira termo da alternativa: logtaremos, assim, um concgite de bem furtdice pobre em efeito legitimador do sistema penal vigente, mas*tico em poder axiotégico-ctitics, funcionando come ousticulo & “sobrelotag%o" do Direite Penal e possivilitanto a sua reforma continua, ont) a ee Sm tend re pcenteere ar a _telativemente.astungesatribuiveis—_so concaite ge bent furidico, podetios distinguir entre fungdes transcendentes ou ctiticas “do sistema penal vigente, que temos vindo a realgar, e que co-detertiinam 0 eritétios de wmerecimento da pena a que adiante nos dediceremos, fungdes imanentes a0 sistema penal que se decompoem na fungdo sistematizadora (que preside & classificagdo dos etimes da parte especial), na funcae ulerpretativa (em que 0 bem. furtdico surge como elemento de iterpretagio teleolégica dirigida 4 descoberta do fim da norma) e Tia (ungko de critério de medida da pena - art 7. Em virtude de téo grande diferenca de fungdes, 0 conceite de.bem juridico nfo € coincidente em ambas: é mais estreito na primeira do que na segunda, sem, todavia, chegar a confundir-se com o fim da notma. Tem razio Mantovani, Dititto Penale, 2" ed., 1980, p.206, quando afirma que o conceito de fin da norma & mais amplo do que o de bem juridico, pois aquele é induzido a partir de todos os elementos constitutives do preceito penal Tomando como exemple o tipo de burla, podewos dizer que, enquanto o bem juridico consiste no patriménio, o fit da nortia consiste em impedir o° enriquecimento de alguém & custa do etpobrecitiento (aumento do passive ou dininuig§o do active patrimontal) de” outrém, através de um artif{cio fraudulento, - Sobre o problema, v. ainda, Padovani, Diritte Penale, p. ST e $55 Santiago Mit, Derecho Penal, P.G., 1999, p. 140 © s{ salientando esta Gitima fungdo); Jasctieck, Tratado, §26, 1, 3, Hassemier, vor §1, 0429; Roxin Strafrectt, AT, §2, ni7 ( este autor tecorda a ligagto entee as fungées imaentes do coticeite de bem jutidica 8 a concepgéo mel até tada pot Honig ald gica suste {que via no bee juridico uma sitese “do sentido e fim das conctetas proposiges furidico-penats"), Max Grumtut (que definia como abreviatura da Fideia de fim" ) ou Schwings (pata quets o bews jurtdico mals ndo era do que a “ratio legis" dos tipos legais concretos). Esta concepgéo foie & criticada pela sua Fase. 11/19 Ligdes de Direito Penal I cunilateralidade, renumciando attibuir ao bem juridico um qualquer sentido politico-criminat: 0 bens juridico s6 desempenha fumgGes imanentes). 2} O bem juridico, nos termos e com as fungdes assinaladas, é 0 principal critétio de apreciacdo do merecimento da pena de uma conduta (merecedora de pena é em primeiro lugar uma conduta que atenta contra interesses juridicos ' fundamentais]; isto ndo significa que o legislador possa, com base nele, praceder 4 por via dedutiva, sem qualquer espago de manobra ou margem de discticionaridade, ou que rio existam outros critérios tacionais que auxiliem o legislador na determinagdo daquela qualidade da conduta. A categoria do merecimente da pena tem cardcter material e encérra um | aspecto normative e um aspecto emptrico: o pritieiro traduz-se num discurso de justiga { é justa a inctiminagdo de uma certa conduta ?}; 0 segundo traduz-se num <“y fiscurso de cportunidade ou utilidade (& necessétia ¢ efectiva a inctimmacao Qo daquela conduta ?). Ambos os discursos tém de poder efectuarse © reat cumulativamente para que o legislador possa concluir no. sentido da 4 re criminalizagio do compottamento. A justica e a opottunidade nfo estio la 7x0" soparadas tma da outea, antes fecundam-se e linitam-se reciptocamente numa 7, telagio de tensio: um conceito oportune, mas injusto de comportamento 2 criminoso é inaceitivel num Direito Penal préprio de um Estado de Direito Democrético e Social; punindo meras bagatelas com a pena de morte poderia 0 legislador intimidar a populagdo, reduzir as quotas de criminalidade e, portanto, ' criat um Direito Penal util num sentide superficial, mas ele néo forneceria um | conceit de merecimento de pena aceitével e compativel com a nossa cultura juridica. Por sua vez, um conceito justo mas moputtme de comportamento critinoso é igualmente rejeitavel; um objective justo mas perseguide por uma via inadequada, conduz a consequéncias indesejadas, gera normalmente mais ptejuizos que bereeficios ¢ inviabiliza um Direito Penal eficaz ~ Assim, Hassemer, vor §1, n+ 193 e ss. Dentre os critérios de justica, ocupa um lugar de destaque, como dissémos, 0 conceito de bem juridico: outros critérios de igual natureza limitam vemlugar de fundamentar, 0 juizo de metecimento da pena. Sé0 coustituidos por principios de garantia com incidéncia penal, que adiante estudaremos melhor. Enunciamos por agora alguns: ~ O Principio da ofenstvidade (intimamente tigado ao principio da proteccdo exclusiva de bens juridicos) segundo o qual, sé deve considerar-se netecedora de pena aquele conduta que atenta de mado vistel. contra um bem Ee ina / Fase. IE /20 THE eo i} t E aa Ligdes de Direito Penal jutidico; isso sé sucede quando ela lesa ou coloca’concretamente em petiga o bem furidico -rejeigdo das cri le petigo absteacto; ~ O Principio da Direito Penal do facto: Ségiinde o qual, os estados de tigosidade e as atitudes ou intengies das pessoas nio podem ser objecta do juizo sobre merecimento da pena; ~ O Principio da proporcionalidade {também designado por Principio da ptoibicgo de excesso -at'l8 n'2 da CRP) segmdo o qual, entre outras aplicagSes, 0 grau de punigdo merecido deve coresponder 3 gravidade do facto cometido; pressuposto deste ermmciado € que tanto ilicito como a pena significam a restrigio de bens juridicos; - O Principio da determinabilidade dos tipos peruis, segundo 0 qual, sé Bode ser merecedor de pena aquele comportamento que pode ser desctito com tiger suficiénte para ndo deixar o prenchimento da sua previsdo entegue a arbitratiedade do aplicador do direito. Os critétios de opottunidade na definigio do compottamento ctiminoso ptesidem ao exame ctitico sobre se e até que ponto é ttl a criminalizagéo da acgdo. ~Assim Hassemer, vor §1, 0212 ¢ ss. H Una tal andlise corresponde 4 exigéncia de um Diteito Penal orientado pata as consequéncias, lige de puna reproduoto sinbéice © de uma stuegio ctimindgena geradora de graves distumgdes sociais. Ttervencao q a, se for’ desnecesséria, sucedendo isto quando existem outros instrumentos de controlo social que gatantem as exigéncias de reptessio e prevencdo do comportamento de forma mais adequada e menos gravosa para os eventuais inftactores: a apteciagdo da necessidade da pena é feita em termos negativos, por exclusdo de partes ¢ progredindo nos meios de controlo social & disposigao, com-cu sem natureza juridica, por ordem crescente de gravosidade. Se um meio mais suave se tevela na pratica come adequado, entdo a busca de uma resposta social a inftaccdo deve ficat por at Mas a intervengdo é ainda inoportuna se, apesar de passar o teste negativo da necessidade, se revela ineficaz, isto é, se apesat de nao existirem mecanisttas de controlo alternativos ao Direito Penal, a punigdo se tevelar todavia inadequada por provocar consequéncias mais negativas do que positivas. Trata-se agota de uma anilise positiva dos custos e beneficios da intervengdo penal: através dela se rejeita em principio o recurso 4 chamada legislagdo penal simbélica, isto é, a leis penais criadas com intuitos politicos tranquilizadores da opinido pitblica, obedecendo muitas vezes a um discurso de Fasc. 11/21 Ligdes de Dizeito Penal I “Iai a orden, e cuja expectativa de aplicagdo € mula ou esporédica e marginal. Nesta Glfime caso, nfo sa consague mais do que produzit “bodes expiatérios". ‘A aficdcia das normas penais afere-se do seguinte modo: umd lei penal qua nunca é aplicada, significa que nunca & violada ou que a sua violagéo comporta uma elevada percentagans do cifras negras @ qua portante nfo serve para orientar 0 comportamento social; uma lei penal que 6 sisteméticamenta aplicada porque & sistomsticamante violada, é igualmente imprestdvel porque pune comportamantos socialmante senfidos como justos e 6, pois, geradora do conflitas, Em atbos os casos a lei penal provoca mais prejuizo do que bansficio 2 a criminalizaggo @ uma solugo aperente. Pata qua isso nfo suceda & nacessitio que a norma penal nde peque nati por defeito nem por excesso, mas consiga maniter as texas de infraccdo dentro de limites histérice @ socialmente razodveis. ~Sobre a necessidade e a eficécia da pena, v. Carlo Paliato, Il principio di effetivit’ del Diitto Penele, in Riv. It di Dititto e Proc. Penale, 1990, m2, p.430 @ ss; J. Driendl, Zur Notwendigkeit und Moglichkeit einer Strafgesetagebungswissenschatt in der Gegenwart, Tubingen, 1963, paz e ssy Roxin, AT., bd. I, §2, n!28 ¢@ s. Ske astas catagorias do merecimente de pena que d&o forma e conferen sentido ao principio da subsidariadade ou da “ultima ratio" do Direito Penal: ott pritsiro lugar o Dirsito Penal sé protege uma parcala dos bans jurtdicos 36 contra certas espécias de agrass%; pracisamante aquelas relativamente as quais outras madidas de rasolucgo de problemas sociais se revelam nadequadas @ & amieaga de pena se manifesta a todos os titulos como eficaz. Com sdlienta Roxin, 0 princfpio da subsidariedade ¢ mais uma directiva, uma linha reitora politice-criminal, do que um imperative vinculante. Compete, por isso, ao legislador varificar dentro de um certo espago de decisdo, as condigdes de preenchimento @ de merecimento da pena - Strafracht, AT., 2, nil, A estutura e o rigor ractomais das cetegorias analisadas gera uma dindmica de processos juridico-sociais, dasignados pot movimentos de ctiminalizacfo 0 de descriminalizagto, As consequéncias produzidas por cade wm dastas movinentos (resttigfo dos espagos de Werdade nos casos da ctiminalizagio; alargamento desses espagos nos casos da descriminalizagéo) reparcutemse no tipo das exig@ncias préprias de cada um @ conduzem a umd aplicacdo diferanciada das categories do tuerecimento da pena, Enquanto para dascriminalizar basta a comprovaggo de que a conduta nfo atenta contra um bet Fase. [11/22 iug = ea? Ge = ee a eo a Ligdes de Direito Penal I ee nn nan aidico fundamental, pata incriminar esta condi¢go € necessétia mas no suficiente; tém de verificat-se todos os restantes momentos do merecimento da pena que mencionétios. 7 Estes movimentos cotrespondem a mudanca histética das valotagSes acerca dos compottamentos sociais e representam por isso uma constante ao Jonge dos tempos. O que se pretende, hoje mais da que nunca, é tacionalizéos. Como exemplos de neo-criminalizagdo temos hoje os crimes contra o ambiente (que serdo, provavelmente integrados no CP., ajulgar pela existéncia de um crime de politigdo (att.279") no Projecto de Revisdo do Cédigo Penal}; 0s w-——4, , crimes de manipulacdo informética e em matéria de branqueamento de dinheiro eee "J; 0s crimes na érea da manipulagdo genética. Seria “7 1 Gaeiéso analisat até que ponto o legislador respeitou, nestes casos, as exigéncias de merecimento de pena. Quanto & descriminalizagao, podemos distinguir, seguindo a ligio de | Figueiredo Dias / Costa Andrade, Criminologia, 1384, - entre estratégias de fy sasfas_— | descriminalizacdo indirecta e estratégias de descriminalizagio directa. As g 7 9 | primeiras procuram restringir a &ea: do punfvel sem consistirem numa. intervengao legislativa sobre as inctiminagSes singulares. Podem tevestir as modalidades seguintes: 1-Intervengio sobre os elementos abjectivos do tipo: Exempla da burla: ndo hé engano da vitima quando a sua situagdo cognitiva se pode caracterizer pela davida concreta. A vende um automével a B gatantindothe que a viatura nunca tiveta qualquer acidente sendo certo que 0 estado da chapa apresenta sinais visiveis e conctetos de coliséo. Era exigivel a B que alargasse o seu campo de jnformagdo ou temumeiasse a comprat 0 automével No esté realizado o tipo de burla pelo menos na sua forma consumada: 0 Direito Penal ndo deve proteger os “talos*. Mas se areptesentacae do caso se puder considerat de dévida difusa, em que nao sdo vistveis sinais exteriores susceptiveis de ultrapassar um estado generélizada de davida, entio a conduta de A configura um artificio fraudulento ¢ realiza o tipo legal do art.313. ~Sobre esta construcdo, v. Amelung. 2. Intervencae ao nivel da parte getal. : : Fase. III /23 = Ligdes de Direito Penal I A dispensa ou rentmeia a pena do art? 75 representa wma forma indirecta de descriminalizar em sentido amplo, ou, em sentide mais preciso, de despenalizar. 3. Alargamento da area dos crimes de acusacao particular. Colocando nas méos da vitima a decisio’ quanto 4 promogdo da acca penal, refargase o seu papel no sistema conferindothe um poder de seleccdo da criminalidade. Exs., arts.142 e 211. 4, Intervengéo na drea do processo penal Caso tipico desta solugdo é a figura da suspenséo proviséria do procesgo do art281 do CPP. Hla obedece a um alatgamento do principio da oportunidade com vista a dotar o Ministério Piiblico de medidas alternativas para responder 3 pequena ctiminalidade. Tratese de uma conctetizagdo do velho principio Romano “minimis non curat praetor", cujo sentido actual é reforgado pela comprovacdo do efeito ctimindgeno das penas curtas de privacio da liberdade. As estratégias de descriminalizagdo directa incidem sobre as prdprias incriminacdes, retirando-thes a qualidade de merecedoras de pena. Exemplos: 1. Compottamentos que deizam de ser considerados socialmente indesejados, porque cessou o consenso pritica (fundamentado} em torno do seu carécter desvalioso. £ o caso do adultétio, que na vigéncia do Cédigo de 1886 era considetada “crime contra a honestidade” e punido pelo art!.40!, tendo esta disposigdo sido parcialmente revogada pelo art!.61 do Dec. de 3/11/1990 (Lei do divércio). Hoje é apenas um fudamento da acgdo de divércio com eficécia juridico-privada. Foi também o caso dos jogos de azat punidos pelo art265 do CP de 1886. A pumigio destas condutas assentava na ideia de que, getando a flusdo de ganho fécll desligado de uma actividade produtiva (veja-se a conexio que 0 att.264 estabelecia entre jogadot e vadio), o jogo de azar promovia uma transferéncia da tiqueza de um modo sociaimente deseducativo -v. Padovani, Diritto Penale, pades. 2. Condutas que apesat de serem socielmente indesejadas nio se revelam, no entanto, merecedoras de pena, porque esta é comprovadamente desnecessatia ou ineficaz. Sia realizagGes desta ideia: Fase, 111/24 fol ° fof *aef Sue? Wht whe cane a” tah | eee ne eee me ee ee eee eee eee ee eee ee tee eee Ligdes de Direito Penal I Se aeeeeeee eae eee erect LA, Alibertacda do Diteito Penal da um certo dognatismo moral. # 0 qua sucede com a pornogratis, 4 prostituigde (definida no Cédiga anterior ~att!.71- cotio estado “para-panal” que eta objecto da aplicagio de medidas de saguranga (pré-delituals}: af se falava dos "rufides que viviams a axporsas da prostitutas” ¢ das “prostitutas que séo_ causa de escindalo piblico ou dasobedacem continuamante as prescrigées policiais"), 2 bigamia (asta, se virmos bam, nio é um crime contra 4 familia em si mest, pois ela nfo abrange 0 casamento contratdo par alguém que vive conjugalmente com outrém om regina de unio de facto, mas comistitul antes a alterag%o de um astedo civil que goza de uma certa (¢ pGblica; com mais propriedade, 0 Codigo de 1886 qualificava a Digamia como crima conta o estado civil das pessoas, Rasta, porét, saber se isso constitui um bem jur{dico metecedor de tutela penal ). 22, Areas de crime sem vitima, Mais eficaz do que o Direito Penel é nasta caso a promogdo de alternativas terapéuticas aplicadas com 0 consentimento do visado. £0 que suceds com os crimes "de anti-socialidade ¢ associalidade perigosa" dos arts, 282 a 284, em que a prética do crima é apenas condigto .de punibilidade do préprio estado de embriagués ou di toxicodependéncia - sobre 0 problema v. Teresa Quintela de Brito,. a 7 WAAFDL, 1991-¢ com crime de consume de estupefaccientes do art! 25 do Dec.Lei 1430/33, subordinado & eptgrafe “traficante consumidor™. . Aineficdeia da pana nos casos de crimes sem vitiea, como expés Costa Andrade, A vitima eo problema criminal, 1990, p.104 @ ss, prende-se com 0 seguinte: En primaico lugar, em algumas constelagdas o autor é-4 prépria vitina, como acontece no crime de “traficante consumidor", o que fogs 4 astrutura habitual qua est4 subjacente 4 intervencZo.penal em que 0 autor e 4 vitima sfo possoas distintas, Por isso, ninguém. assume o papel de vitima, que é normalmente a instincie mais emperthada na acco penal, e o crime-apresenta, wma elevada taxa de “cifras nagras”, com as consequéncias negativas dat adveniontes. Em sagundo lugar, quando & posstvel dissociar 0 autor da “vitima" como no crite de venda de bebidas alcodlicas a embriagado (art!263), n&o existe coacgdo ou violencia sobre a dita “yftima’: esta e o autor nao se encontram em confitto -asteutura habitual dos crimas- mas muma relagdo de solidariedade. A “yitima” nZo-procura a solidariedade da ordem jur(dica contra 0 delinquante, antes sa solidariza com este contra a sociedade. Por Gltimo, communi 20s crimes som vitima ¢ 0 facto de-a sua incriminaggo dar origans a grandes manifastagSes de crime secundétic. Todos tém lugar no ambito de actividades destinadas a satisfagdo de nacessidades.e isso propicia o aparacimanto de mercados iltcitos Fase. 111/25 Ligdes de Direito Penal [ vitados pata o fornecimento de produtos e o consequente crescimento do crime organizado. (Foi o que se passou com a “lei seca” nos EUA dos anos 30 e & 0 que se passa hoje em dia como tréfico de estupefaccientes) Tudo isto contribui para a ineficdcia e para a distuncionalidade das sangées penais neste dominio. 2.3. Criagda de dreas do crime impossivel A ideia central nesta matéria é de que o Direito Penal néo pode funcionar como remédio para a desorganizagdo e a falta de imaginacio da sociedade e, por isso, a teotganizagde social surge como a técnica de controle mais adequada. Servem como exemplos desta realizacao: a institucionalizacio do sistema de pré- pagamento em telagdo a alguns casos de burla do art316, mormente os das als. a 1G 2F oP oc 0 cheque gatantido, sistema em vigor na Alemanha, Austria, Holanda © ah “—Pinamarca. Entre nds foi mtroduzido no art'8 do Dec.Lei n*494/91 de 28 de Dezembrd®- diploma que consagra o novo regime geral do cheque- pata cheques de montante ndo superior a 9-800:88. Trata-se aqui de uma verdadeira 5" Goscriminalizagao, transfetinda-se 0 conilita para o aubito das telagdes entre o autor ¢ ¢ banco. * “an vi 2.4. A solugdo sancionatéria alternativa como técnica de controlo social. ed a} 0 sistema juridico-civil e a concep¢fo de Louk Hulsmann. Este autor yor? holandés defende o fim do Direito Penal, inserindo-se numa corrente hoje A” (72% conhecida por abolicionismo. A sua tese nuclear é de que o sistema penal ndo o? necessétio nem bom: causa softimentos, amplia e reproduz desigualdades e “rouba" a conflito as partes. A proposta de Hulsmann vai, pois, no sentido de devolver 0 conflito as partes attavés da implementacio de processos dé s woe composicao e, em caso de insucesso, através do recurso aos tribumais civis com ¢ Y vista & obtengio de uma reparagde. Embora o abolicionismo n&o tepresente actualmente a opinido maioritéria acerca da importincia e da necessidade do Direito Penal, algumas das suas ideias ndo deixaram de ser tidas em conta em programas de descriminalizacéo. Considerando que o furto em grandes armazéns, pelas técnicas de “matkting” utilizadas na exposigdo dos produtos, é um tisco do negécic, O Projecto de Lei alemdo sobre o furto em armazéns Presctevia a descriminalizagdo de furtos de valor inferior a S00 DMs , conferindo ao proprietério do estabelecimento além do diteito & restituigio do valor do objecto, a possibilidade de exigir uma soma pecumiéria a titulo de sangdo. As partes podem, assim, resolver o conflite no local, ndo chegando o caso ao conhecimento dos tribunais. b} O ilicita de mera ordenacdo social Apés algumas vicissitudes politicoregislativas também o Gicito de mera ordenagdo social ou das contea~ Fase. IL /26 ag q = = et Ligdes de Direito Penal! a ordenagées se cristalizou na nossa ordem juridica como importante manifestagao do movimento descriminalizador. Criado pelo Dec. Lei n! 232/73 de 24 de Julho foi pouco tempo depois esvaziado de contetido pelo Dec. Lei nt 4114/79 de C110, ao revogar este 0 at. I! nf Je 4 daquele diploma que transformava ett contra- ordenagGes todas as contravengées punidas com multa; 0 fundamento invocads, com alguna pertinéncia, para a dita revogagdo foi a inconstitucionalidade material e orginica. «> ~y, Teresa Beleza, Direito Penal/2* ed, p. M6 ess. O Dec. Lei n! 433/82 de 27/10, elaborado ao abrigo de uma autorizagdo legislativa, fustamente para contornar o problema da inconstitucionalidade, reeditou nos seus tragos essenciais 0 regime do Dec. Lei nt 232/79, dando forma Llei quadro’& sombra da qual 0 governo inimeras conttaordenages nos mais variados dominios: em matéria de infracgdes econémicas (Dec. Lei n* 28/84 de 20/01), em matéria fiscal {Dec. Lei nt 187/83 de 13/05), em matéria de defesa da concorréncia (Dec. Lein! 422/83 de 03/12) etc. As contravencdes sdo, pot essa via, sectorialmente transformadas em contra-ordenagdes, continuanda as que ainda 0 nao foram. a tegulat-se transitériamente pelo Cédigo Penal de 1886 (art. &* do Dec. Lei n* 400/82 que aprovou o nosso Cédigo Penal). © aparecimenta do Micite de Mera Ordenacio Social deve-se, pot um Jado, & ctescente intervengdo do Estado na vida econémica e social e a necessidade de dotar a Aduinistragdo de instrumentos sancionatérios adequados para a execugio dessas tatefas e, por outro, ao interesse em purificat 0 Direito Penal, destinando-o ao combate aos crimes aut@nticos, ou seja, as agressdes graves contra bens juridicos fundamentais. Essa descriminalizagdo, contudo, deve fazet-se com tespeito por certas garantias fundamentais, dado que, apesat de ndo possui natureza ‘penal -em sentido conteétio, Cavaleixo de Ferreira, Ligdes, 1992, p.93- 0 ilicito das contra- ordenagdes é um otdenamento punitive que contends com determinados direitos dos cidadaos, nomeadamente de natureza patrimonial. Essas exigéacias de gatantia foram entre nds cumpridas através da aplicagio a este nove ilicite de certos quadros categotiais do Direito Penal que dizem respeito a tais exigéncias. £ assim que o Dec.Lei nt 433/82 consagra no att'2 o principio da legalidade, no art'3 n'2 0 principio da aplicacao da ei mais favorével (corolério do principio da legalidade}, nos arts. 8,9,10, 0 principio da culpa -que intoduz um importante Iinite ao poder sancionatério- no art!S$ e ss o principio da jurisdicionalizacao. £ preciso no ésquecet, porém, que, por forca da natureza deste ramo do Diteito, o cenério garantista desenhado sofre importantes restrig6es. Desde Fasc. II] /27 Lh 5 LigGes de Direito Penal I logo, 0 facto de as contea-ordenagdes lesarem fungdes sociais, reprasentaren, portanto, condutas disfuncionais a objectivos de ragulagta a de controle administrativos de actividades sociais, torna as leis que as definem mais vagas © imprecisas (tipas abertos). Depois, a.censura propria deste illcito traduz-se ~ come tealga Eduardo Correia in Boletim-da Faculdade de Diraito, n'49, 1973, p.266 ¢ s- numa ideia da adverténcia social, sem qualquer conotagdo @ astigma Stico-social, o que faz com qua essa adverténcia possa ser efectuada por entidades administrativas, reservando-sa a instincia judicial pata a hipstese de recurso (restrigga do principio da jurisdicionalizagfo), e com que ¢ coima, aplicada por aquelas entidadas, possa ser fixada independentemente do cardcter cansurdvel do facto {art!l n'2): trata-se de uma importante rastrigdo do principio da culpa que se quada, nestes casos, por um nexo de imputacdo subjectiva {art#.8). Por seu turno, as sanigSes préprias das transgressdes & ordam, as coimas, apresentam importantes diferangas de regime em relagdo as sangdes penais, em particular as ponas de multa. Ambas consistom om sangdes pecunidrias, mas as maultas sfo convartivais am prise e as coimas ndo, Por outro lado, as multas sho suscepttvais de registo criminal enquanto as coimas néo. A doutrina portuguesa -e também a alem& num contexte muito semalhante- tem-se interrogado sobre se a asta diferenca de regime jurtdico corresponds ume distingZe quantitativa ou qualitativa entra o ilfcito penal e 0 ilicito contra-ordenacional Por outras palavras, este representa eta relaggo Aquela um “minus” ou um “aliud"? Esta questéo € objecto de forts controvérsia doutrinal Entre nés, enquanto Cavalatro de Ferreira -Lig5es, 1992, p.92 6 s- Beleza dos Santos -in Revista da Oxdem dos Advogados, anoS (1945), p.39 @ ss- a Costa Andrade -in Revista de Direito e Economia, anos VI e VII (1980/81), p.116 @ ss- por via distintas, rejeitam uma diferenca qualitative, Eduardo Correia .-od.cit~ Figueiredo Dias -in Jornadas de Direito Penal, ed.CHJ, p.327 @ ss- e Terasa Beleza -Direito Penal, voll, p.133- com fundamentos divatsos, defendem uma distingdo nasse plano. No é este o lugar préprio para ponderar os argumentos & favor ou contra cada uma das posigSes para proceder aum exame dos critérios apontados por cada um das autores citados, Diremos apenas que nenhun deles & totalmente acertado « qua néo node set dada uma resposta unfvoca ao problema colocado. Por um lado, o Direito de Mera Ordenagéo Social tem uma composicfo bastante hetarogénea em que ao lado de infracgdes administeativas ctiadas "ex novo", surgem as antigas, contravencdes, as infracges econémicas atc, Por Fase. HI /28 wm & a q a Perr aeeeea | BFS HOG OH 4 OHH BEY HS OTD VOD Varn Owe ww ow Ligges de Diretto Penal I cE outro lado, nd, como vimos, um Direito Penal ligado a intervencdo do Estado na vida sdcio-econdmica, que néo tutela autfnticos bens juridicos mas mevas fungdes (necessidades de controlo administrativo, confianga pablica em certos mecanismos econdmicos etc.}, e 4 que chamimos Direito Penal Secundétio autntico, que carece de tessonéncia ética e que, pot isso, se assemelha estruturalmente ao ilicito’ das-contra-otdenagées. Nestes casos a distingio, a existx, secé puramente quantitativa, baseada numa diferente ordem de gravidades. Pode dat-se como exemple as condutas desctitas nos arts.32, 33, 34, 40 do Dec. Lei n*28/84, em comparaggo com as descritas nos atts.61, 65 e 66 do mesmo diploma. Por tiltimo, verifica-se uma fea em que a distingdo é clatamente qualitativa. No Direito Penal de Justica ou nuclear, dada a sua inegével televancia ética resultante da protecgao imediata de valores fundamentais da existéncia, diminui o espaco de descrictonaridade do legisladot na definigdo das condutas proibidas. Ndo vet. Aideia punir um honicidio, um sequestta ow um roubo como contra-ordenagao - deste modo, Roxin, AT, bd, §2, n'40 e ss. Depois de abordar o Direite Penal apartir do comportamento, f1o-emos seguidamente através da sangao. 2. O conceito de pena. 2.1. As sangGes juridico-penais: quadro geral. aj A distingio bésica é entre as pemas principais, que sio a nena de prisfo (art!40 @ ss) e apena de maulta (art!46 es}; e as medidas de seguranca, quer de privagdo da liberdade {o internamento do art’91 e. ss), quet nao detentivas (a interdigio de profissdo do art'97 e s, que pode funcionar também coma pena acess6ria nos termos do ari*63). b) Existem ainda as penas acessérias (art!65 e ss} que podem acompanhat a aplicagio de uma pena principal e se traduzem na privagdo de direitos civis, profissionais e politicos. Entre elas contase a pena de demissio de funcionério pidblico {art#66), a de suspensdo temporéria da fumgao (art'67) ¢ a interdigao do exercicio de ptofissdo (art*69); e as penas substitutivas da pena de prisdo, que se distinguem entre as que substituem a aplicagdo da prisdo, que sao, além da multa, aptisio por dias ivces (at®4d), a admoestacio (art58) e a prestagio de trabalho a favor da comunidade (art?60) e aquelas que substituem a execucio da prisdo, que so a regime de semi-detengéo {art!4S), a suspensdo da execugdo da pena (att!48 e ss) e o regime da prova (att's3 e ss). Fasc, 111/29 Ligdes de Direito Penal I Apesar de o nosso sistema sancionatério apresentar um leque telativamente amplo de sclugdes , concordamos com Cavaleixo de Ferreira - LigGes de Direito Penal, PG, II, 1989, p.55- quando diz que a pena de prisdo é 0 esteio fundamental do sistema penal portugués. Por um lado, a estatuigdo das normas inctiminadoras é constituida geralmente pela pena de prisdo (0 novo regime dos crimes fiscais nao aduaneiros -Dec.Lei n'20-A/90 de 15-1- representa uma excepedo pois a pena principal cominada é a de multa, ocupando a prisdo 0 lugar, néo de pena substitutiva, mas de pena subsididria a inflig somente quando o condenado ndo cumprir a pena pecumidtia -y.sobre o problema Augusto Silva Dias, O novo Diteito Penal Fiscal, in Fisco, ano? (1990), n'22, p.26}. Por outro lado, a pena de multa é sempre aplicada em alternativa com a pena de prisdo pelo que a condenagdo em multa implica sempre a condenacdo ent prisdo (art#46 n'3), e as penas substitutivas intervém regra geral em lugar de penas curtas de prisdo (cujo limite m&ximo é de 3 meses nuns casos e de 3 anos noutros) deixando de fora um vasto dominio em que a pena de prisio é ‘insubstituivel. Podemos assim afirmar que a privagdo da liberdade representa o minimo denominador comum de todas as penas: todas incidem potencial ou actualmente sobre a liberdade das pessoas. Por conseguinte, quando nos interrogamos acerca do metecimento de pena de um determinado comportamento o que estamos aperguntar é se é se e até que ponto a privagdo da liberdade constitui, de um modo ou de outro, uma reaccfa justa e opottuna aquele comportamento. Desta forma se delimitam reciprocamente o conceito material de crime e a pena de prisdo: no actual estado das coisas, criminoso é todo o comportamento metecedor de pena e o juizo acerca do merecimento de pena pauta-se pela justiga e oportunidade da privacio da liberdade. 2.2. Os fins das penas. A questéo de qual é a fungo das-penas preocupa o pensamento juridico e-0 pensamento filosdfico desde tempos imemortiais. Desde sempre se opuseram sobre o assumto concepgées assentes numa teoria da justiga, sobretudo comutativa, e concepgdes de base utilitarista: as primeizas sdo designadas por teorias absolutas visto excluirem qualquer finalidade da pena desligada da sua aplicagao puta e simples a um facto passado, e as segundas por teotias relativas porque atribuem as penas certas fungdes futuras. Exporemos sinteticamente umas e outras atendendo as suas formulacies mais tepresentativas. a) As teorias absolutas outetributivas. Fase, 111/30 oo ks q ie a ie an one eaIwea 8 eu Ligdes de Direito Penal I __ eee A. sua formulado primitiva & conhecida pela lei do talifo e pode encontrar-sa no Esodo, 21,24: “vida por vida, olho por olho, dente por dente". Tratese de uma forma ainda muito rudimentar de racionalizar e restringic -vinganga privada que, de outro modo, nfo teria limites. Na idade moderna ficou célebre a defesa que dastas teorias fizeram. Kant ¢ Hagel. O primeiro propunha que 4 pena funcionasse segundo a lei do talido mas agora perante a barra do tribunal: @ correspondéncia entre o crime ptaticado @ a pena ainfligir deve basear-se numa igualdade aritmética a realizar pelos poderes péiblicos. Afirma Kant que 0 critério da punigfo é “o principio da igualdade (na posigdo do fiol da balaniga da justiga) de nfo pender mais para um lado do que pata o outro. Portanto, 0 mal indasculpével qua infliges a um outro do povo a titesma 0 fazes. Se 0 injurias injuriaste; se 0 furtas futtaste ati. se co matas matas-te a ti $6 0 divatto de retaliacdo -mas, entenda-se, diamte da barra do tribunal (no do teu jutzo privado}- pode indicat com precisdo a qualidade @ quintidads, da pena" -Métaphysique des Moeurs, Docttine do Droit trad.APhilonenko, 1979, p.215. O catdcter absolute da concepeo retributiva de Kant & levada ao exitemo Tio famoso exersple da ilha. Dizia Kant que “testis qua a sociadade dvi se dissolvasse com o consentimento de todos 0s seus membros (por exemplo, tm pove que habitasse numa itha, decidia separar-se 2 espalhat~e pelo taundo}, 0 filtime assassino que se encontrasse na priséo teria de ser previanente axecttado para que cada um tenha & Tetribuigdo que as seus actos qmsreceti 6 0 sangue dertanado tio recaia sobre o povo que néo reclanou esta punigdo; porque 0 povo pode ser considerado ctmplice desta violago piblica da justiga® - Métaphysique des Moeurs, p.216. Também Hagel comunga do programa retributive perspectivando-o segundo o sau método dialéctico: sustenta nos seus Princfpios de Filosofia do Direito, Guimardes Editores, § 99 que “a violagho sé tem existéncia positiva como yontade particular do criminoso. A violagdo desta Gltima, como vontade existents 6, portanto, a anulac%o do crime que, de outta modo, se tornaria vélido, ea restauracto do Diretto”, para mais adiante -§101- actescentat que "a anulaggo do crime [4 pena] reteliagdo, na medida em que, pelo conceito, eld & a violagdo da violaggo ¢ em que, pela exist@ncia, o crime tem uma carta dimensfo qualitativa quantitativa pelo que anegagéo dela como existéncia também a tem...‘ Fm suma, 4 Ordem Jurfdica (e a sua inviolabilidada) & a tase, a negagdo dela através do crime € a antitese 8 a negacgo dessa negagdo serd a sintase (a pena). Fase. 1/31 _ Ligdes de Direito Penal I Apesar de se denominarem estas concepgdes como absolutas isso ndo significa que elas no assinalem 4 pena fungdo alguma: como pademos constatar da exposicao feita, a pena visa realizar a justiga de uma forma incondicionada, testaurando a Ordem Juridica violada, garantindo a ordem das lberdades abalada etc., e, por outro lado, ao estabelecerem uma proporgao qualitativa e quantitativa entre pena e crime, as concepcGes absolutas pretendem proteger 0 cidaddo, impedindo que ele seja utilizado como meio para a realizagio de finalidades politicas e sociais. Todavia, estas fungdes da pena, se bem que importantes, ndo atendem 3 sua ptojeccao no futuro rem a realizacio de fins sociais. Sao fungies que se esgotam no acto de aplicagdo da pena, buscando a sua justificagio num facto passado, sem representarem as consequéncias que a pena pode ter sobte’ a vida do delinquente e da sociedade. Correspondem, por isso, a uma visio ultrapassada dos fins do Estado. Diz~se em sentido inverso, e comrazdo, que um Estado Social de Direito no pode alhear-se das efeitos sociais da pena e do destino do delinquente. Entre as tarefas de solidatiedade social que incumbe ao Estado moderno tealizar, contase a de ajudar e prestar asistencia ac cidadao delinquente -sobre isto, v. Hassemer, Alternativ, vor §1, ‘386. Estes objectivos sio propugnados pelas teorias preventivas dapena: b} As teotias relativas ou preventivas da pena. Em getal, os defensores destas teorias teagem as concepges tetributivas apelidando-as de metafisicas e acusando-as de se alheatem das necessidades préticas, furtando-se intencionalmente a todo o juizo sobre a utilidade ou oportunidade da pena. ba) Aptevencéo especial Para esta modalidade das teorias preventivas, a pena tem por fim impedir que oc delinquente pratique outros crimes no futuro. Nio se pune “quia peccatum est” (como nas teotias retributivas}, mas “ne peccetur” (Grécio). No século transacto, sob o impulso do positivismo antrapolégico (Lombroso} e sociolégico (Garofalo, Ferti), a concepgo especial preventiva conheceu um grande desenvolvimento assaciada co estudo das causas do crime e das solugdes pata a sua eliminagdo, £ constante a partir dat a sua ligagdo, em moldes mais ou menos extremos, aquilo que hoje se designa pejurativamente por “ideologia do tratamento”. Uma versio elaborada desta concepgdo é apresentada por von Liszt, um autor eclético que procurou fazer a ponte entre a abordagem do crime e da pena prépria das cifncias médicas e sociais e uma abordagem juridico- Fase. IIL /32 C—O oe LigGes de Direito Penal I doguitica de teor clissico. Para este autor * a pena é coacgao. Dirige-se contra a vontade do ctiminoso enquanto lesa ou aniquila os bens furidicos nos quais a vontade se matetializou. Como coacgdo, a pena pode ter uma natureza dupla: a} coaccaa indirecta, mediata, psicoldgica ou de motivacdo. A pena dao criminoso os motivos susceptiveis de contrariat a prética do crime que Ihe faltam e aumenta e teforca os motivas jf existentes. Surge como adaptagéo attificial do ctiminoso a sociedade por uma de duas maneiras: correccao, isto é, por implantacdo e teforco de motives altruistas e sociais, intimidagao, isto é, por implantagde e raforgo de motives egoistas mas capazes de coincidir nos efettos com os altruistas b) coacedo directa, imedtata, mecinica ou de poder. A pena & sequestragao do criminoso...eliminagdo, expulsdo da sociedade, ou internamento na mesma..”~ La teoria dello scopo nel Diritto Penale, tad. A.Calvi, Giuffré, psles. Contrada no aspecto da corteccdo e da emenda, teve entre nés larga aceitagio, nos fins do sec XIX e no inicio deste, uma corrente designada por cortecionalista, que assentou nas ideias do filésofo aleméo Krause, bastante divulgades na peninsula ibérica (a0 contrétio do pouce eco que encontraram na Alenanha) e.do seu discipulo, Roeder, que foi professor de Direito Penal da Universidade de Heidelberg. Esta concep¢io influenciou o -pensamento juridico-penal de Levy Maria Jordéo esteve mesmo por detrés da aboliggo da ga oon rae yaaa «oe infligido por a pena de morte et Portugal E cast de oUutES taal, thas como ux bet, pois possibilitava a correcsio moral e 0 melhoranierté do individuo. Fase, 111/33 Liges de Dirsita Penal I Uma wers3o elsborada desta concepgae & apresentada por von Liszt, um autor eclatica que procurou Eazer a ponte entre a abordagem do crime e da pena propria das ciéncias médicas 2 sociais e uma abordagem juridico-dogmatica de teor classico. Para este autor“ a pena & coacgSa. Dirige-se contra a vontade da criminoso enquante lesa ou amiguila os Gans jurfdicos mos quais a yortade se rmatevializou, Como soacgdo, a pana pode ter uma natureza dupla: a] coacgdo imdirecta, mediats, psleclégica ou ds motivacdo. A pens da ao erimineso os motives suscentiveis de contrariar a pratica do ‘ofime qué fhe faltam @ aumenta e reforgca of rnothzos a existentes. Surge como adaptagSo artificial do orhminoso 4 sociedade por uma de duas maneiras: correcgSo, isto & por implantagSo 2 reforga de motives altruistas 2 sociais, intimidagSo, isto & por implantagSo | reforgo de motivos agoistas mas capazes de ooincidir nos efeitos corn os altruistas by coacgSo ¢ directa, imediata, mec3nica ou de poder. A pena é é sequestagdo de sriminosa..eliminagSo, expulso da sociedade, ou intemamento na mesma..." - La teoria dello scope nel Diritte Penale, trad. Calvi, Giuttré, p.51 2s. Centrada no aspecta da correcedo e da emerda, teve entre nds larga aceitag3o, nos fins do seo.KIX e no inicio deste, uma coirente designada por correcionalista, que assentou nas ideias do fildsoto alem$o Krause, bastante divulgadss na peninsula fbérics (0 cantedtis da pauce eco que encontraram na dlemariha} e do seu diseipuio, Roeder, que toi professor de Direito Penal da Universidade de Heidelberg. Esta soncepgdo imfivenciou 0 pensamento juridices penal de Lewy Maria Tord$a esteve ‘mesimo por detras da aboligZa da pena de marte em Portugal. Ela nde cancebia a pena como. um mal imiligido por causa de outta mal, mas como umn bem, pois possibilitava a sorreogao rnoral e.9 malhoramento da individuo. A pena era urn meio para atingir este tim (0 tmico fim da pena], que Lewy Maria Jord3o o distings la do fumdamento de diraita de pumir e das conseguéncias ds pena (a mtini jagdo racional sobre a sociedads, causada pela natureza dos meios de melhoramento}. ¥W. Cédigo Penal Portuqués. Tome I. Relatério. 1864, 3. 27.¢ 5. > Bath "afta ‘e a2. Ligdes de Direito Penal L atiena que os cédigos actuais esto em contradigSo com este - objective de emenda e correcgde do delmquente, pois “todos partem ainda de um principio absolutamente falso de que 0 essencial da pena consiste na sua fimalidade de mal, fisico ou moral, que se. & dever ior ao cfimimoso, em vez ‘de The dar a educagso que ele ndo recebeu antes, de modo qué cedo ou tarde se consiga um beneficio tanto para ele como para a sociedads... a pena nao poderd deixar de se apresentar como tant bem... O imico fim justo da pena, quanto 3 rim, consiste em dar ao citininoso todas as condigSes exteriores para a sua regeneragao, a sua emenda moral e, a0 mesmo tempo, a sua instrugda nao sé religiosa Tas também intelectual e protissional, eu yejo, por isso, 0 Bireito Penal como uma espécie de direito de tutela em getal ‘Wa medida em que ch 2 delin ara a necessidade de evitar que 2 exeougae da pend acentue nele oF tactores de anti-socialidade, as teorias da prevengao especial apresentam im aspecto positive. Mas sio de rejeitai, por contraditorias € freficazes, no que diz respeito an Seu propasite de ourar 2 melhorar através da privagio da iiberdade. H4 mnuite que a orimimolagia mais avangada ¢ urn sector importante da doutima penal vert anunciando a crise da ideia de ressocializagao, sobretudo ligada 20 “ynadelo médico” do tratamento e da reforma coactiva do imfractor [alertando também para o periga, de smal sontrario, do regresso de um neo-retributismno). - Entre nds 2. 05 artigos de Teresa Beleza e da Anabela Rodrigues, in CidadSo Delmquente: Reinserg3o Social ? - 1983, ps. 159 e ssi ps. 15 ess.- Em primeira lugar, saliantou-se 4 incompatibilidade . do tratarnento e de qualquer outro objectizo terapéutico coma prisko, Bducar para a Tberdade em condigdes de nao liberdade & uma espécie de quadratura do ciroulo, tanto mais que nao figuram nos programas de tratamento as causas sociais, aconémicas e politioas da delinquéncia. Depois, o tratamento é praticamante meficaz. Desda as mvestigagies de Clemmer. realizadas em cadeias americanas Nos anos quarenta, 4 cee winal dae esac ca chama Tha Pesan Comunity. 2° ed 1958 atengSo para a pessoa do. LigSes de Direito Penal I carcerSria. Segumde o autor, coenistern na prisdo dois sistemas de vida diferentes e mesmo contiapostes: a oticial, representads pelas nommas legais ou regulamentares que disciplimam a vida na prisdo e unm sistema no oficial, que realmente dirige a vida dos ceclusos: Se quem entra na prisdo quer sobreviver, o melhor que tem a Eazer é adaptar-se 3 forma de vida e 3s regras que norteiam as relagGes entre os reclusos. Clemmer chara a isto a prisionalizagSo; ao recluso nada mais testa do que aprender uma nova linguagem, desenvolyer novos habites no comer, vestir, na conduta sexual, ro contacto con as drogas “que encontra, assumir um papel de lider ou subordmado. no grupo, ete... Este pracessa de prisionalizagSo prejudica toda o tipo de tratarnenta, pois possibilita a aprendizagem e¢ 0 aperteigeamento da carreira do crime e desenvolwe no recluso uma sensibilidade anti-social. A tudo ‘isto acrescem a deficientes condigdes de habitabilidada da maior parte dos nossos estabelecimentos prisionais. Por tiltimo, 6 idedtio da prevengSo-tratamento néo estabelece, por si mesma, nenhum limite ao poder pumitivo do Estado. 0 obisetivo da regenerar socialhmenta o delmquente pode levar a admitir praticas e métodas que Invader a estera mais intima da personalidade - p.ex: a ressocializagdo através de lazagens ao cérebro-. ou. tmodificam a estrutura fisica do indivfdus - por ex.:por meio de lobatomia, sastragSo, ate. '- Assim, Padovani, Diritto Penale, P.G.,p. 388. Embora tude isto tenha frustrado o optimisrno posto iniciahmente no objective da ressocializagSo-tratamento, m0 significa que devamos renumeiar 3 humanizagSo @ reforma do sistema prisional e deinar de testar altemativas que poduzam consequénsias mais positivas, nomeadamente os chamados substitutivos penais, aos quais j& atrs fizemos reteréncia. Como nota Hassemer, Altematiy, vor $1, "421, continua a ser obrigagso do Estado e da sociedade ajudar o delinquente, estimulando-o e oferecendo-the condigdes para a sua adaptago social com respeito pela sua dignidade e isso passa pelo abandono do tratamento coactivo © pela Interveng3o sobre as efeitos dissocializadores merentes. ao sisterna prisional. Em suma, devem prossequir os estorgos na sentida de PCIV/S> tomar apena o menos dissocializadora possivel. 2) fom Med Metep eae & seed deere Ligdes de Direito Penal I ~ Em sentido similar, Figueiredo Dias, Direito Penal 2, Cohribra, 1988, p. 56 es. bb] A prevengao geral. Huma tormutagao muito genérica, as teorias da prevengao geral atribuem 4 pena a finalidade de evitar que os potencia delinquentes pratique nes Tw futuro, exercendo ui intimidagdo sobre 9 conjunto da sociedade, (prevengSo geval negativa) ou reforgando na consciéncia colectiva 4 contia no sistema penal, abalada pelo crime {prevengdo gecal integradora}. Defensor da prevengo gerai negativa foi Anseim Feuefbach, um penaiista alemaa neo-kantiano do principio : do séc, XIX, Para ele, “o tim da cominagdo da pena na lei a i idagdo de todos ... frente as vinlagdes do direito. O tim da jcagdo da mestna & fumdamentar a eficacia da ameaga penal, na medida evi que sem els esta ameags. sefig wazia [ineficaz). Posto qua a lei deve intimidar todos os cidaddes e que a execugdo bite Gar eficdcia 4 lei, o fim imediato (thr itima) da e+ & iguatments 2 tera f idaggo dos cidat ddospela tei - Lehrbuch des gemeinen in Deutschland gi peinlichen Rechts, tt ed., 1832, $16. Contra esta versio das teorias praventivas foi dito que ela no colocs limites ao poder punitive do Estado, porauanto o delinquente “é utiizado para fins que nao sBo os seus e convertida em instiumento de promogdo do bem-estar social: ele nao & punido por causa de si proprio, mas para Eomecer um exenplo aos outros, Tudo iste & incompati vel com: o principio da dignidade da pessoa humana, que 8, coma se sabe, um dos fumdamentos da nossa ordem oonstitucional. O sonseito de intimidag$o levanta também problemas empiricos: uém pode calcular a teite mtimidstario que = pena pode ter nomalmente ties delinquentes potenciais. Pata que se varifique un efeito dasta natureza s8o necessarios certos pressupostos que s ratamente se reimem: por um lado, que os delinquentes potenciais comhegan 3 cee ee e a acto de aplic: ‘ da pens &. gondut Bal Bo diraltoTAotivando-s enrages equa as pessoas ee “cOMp: paeavl: LigSes de Direito Penal I por nommas Stico-sociais_ do que pelas nommas e pelas sentengas penais e.que s@.orientam por motivagdes que pouce tam 4 ver com a pena @ com o Direito Penal; o respeite par certos valores Eundamentais, o medo da repravagio e do astigrna social ete... Isto no significa que a pena 30 possa ter efeite intimbdatério sobretudo no, Habito do direita penal secundaria. Sucede rnuitas vezes ai que o delinquavite, “o orininéso de colariiho branco", pondera econdmicamente as vantagens ¢ incemwenientes de ser descoberto os custas da sangdo penal: a falta de ressonancia étioa da acg3o nesses dominios eo facto de os Jelingquentes actuarem informados 2 aconselhados por peritos, diligentes e conscientes dos riscos, possibilitam a eoraprovagao sobre se a ameaga da pena eonstitul um sontra- estimulo sificiente para apratica do crime. Mas hoje em dia sSo cada vez mais as vozes que ateiouern 3 a pens, quer ne fase da sua GoriinagSo quer na da sua splicago, uma tunggo de prevengdo geral estabilizadora ow Integradara, consubstanciada em trés tins e efeitos principais: 0. efeito pedagégion-sonial, 9 euerefein de Sdelidade ao Direito que 6 Provecada na populage mela actividade da justiga penal, o efeita de contianga, que surge quando o cidad3o va que o direite € realizado, imphernentado; e finahnente, a efeite de satisfagdo, que se produz quando a oonseiéncia jurfdica geval se teamquiliza com base 10 sancionamernte da violag3a do direite e vd resolvido o conflita cam o autor. - Assim, Roxin, Stratrecht, ALLL Sa, ne2? Esta soncepgdo da pena - entre nés defendida por Figueiredo Dias - & precorizeda até as Gltinas consequéncias por Jakobs. Ela it ve-se na concepgo reprodutora a legitimadora do sisterna penal, vigente. Como afinna A. Baratta, ela produz uma mensagem tecnoligica dando a corhecer aos Eumcionarios enoatregues da adwimistragho da justiga penal o fumdamento real do sistema penal, e uma mensagem ideolégica “dirigida aos fimcionarios e 3 colectividade em geral no sentido de considerar nornais e justas as fungGes da pena mencionadas. - Veechie @ nuove strategie nella legittiratione del Diritto Fenale, delle Pene. ano IIT (1985). n2sp. 2at “tc, * ah * tad > at ed a GE eal “eid Ligdes de Direito Penal Se é certa que ela tern em relagdo 4 tearia da prevengdo geral negativa a vantagem de no situar o problema dos tms 5 das penas no campo da comprovabilidade emplrica, fugindo 3 eritica neste plano {pois ela sempre poderd dizer que imdependentemente dos rnativos, & um facto que a maioria da populagao se comparta de modo fiel a0 direita e tem contianga ja justiga penal] tera de ser testada num plano valorativoe. E aqui, das duas uma: ou se recorre 4 pitmefpios de garantia do Estado de Direito, que cbedecer a urna filosofia diferente da desta tedria, para fhe restrngir, por dentro ou apartir de fora, 05 efeitos fumestos - como faz Fiqueiredo Dias e nds proprios- ou asta teoria 4 de todo msustentavel 3 luz daquela concepedo de Estado. A sua légica pura vai no sentido de considerar a astahilidada do sistema social como bem supremo © os cidadSos como objecto de prevengSo, como destinatarios de uma acgao do Estado que serve para euercitar a seguranga ea | confimga no Direito. O cidadSo nfo é visto como um auténome titular de direitos, mas, como atirma A. Baratta “o ode expiatério através de cujo sacrificio se realiza a meprasentagao. da ordem euistente © 9 restabelacimento da seguranga de todos os cidadaos numa “normalidade”. na qual 0 sujsita humamo -2 no 56 0 papel de pumido- & um elemento funcional e 136 ura fim”, Vista deste modo, tarmbémn a pravengao geral estabilizadora serve a lagitimagdo ¢ a expansao das penias. | ~ y. &. Baratta, ob. cit, p. 262; para uma critica mais desenvoluida a esta teoria da pena ». A. Baratta, La teoria | della prevenzione integrazione, in Dei Delitti e delle Pene, ano : Ti (19841, m* ip. Sess; Gerlinda Srnaus. Le legitimazioni del Diritto Penale, in Dei Delitti e delle Pene, ano ITT (1985), w* 1p. IS ess. | ! } ! Podemos stetizar brevemente os resultados da anilise das varias teorias dos fins das penas do seguinte modo: todas alas revelam msuficiéncias que fica a dever-se, no caso das tearlag —ratrioutivas—ao—desprezs—pelas—consequéncias individuals @ socials da aplicagao das panas, € 70 caso das pe eee ee ee ee ee ee eer Ligées de Direite Penal I salieytar o Hacasse empliioo ma primeira wor meficacia do tratamenta carcerario @ na segunda devido 4 sua incoraprovabilidade- ¢ em relag3a & prevengdo geral positive, o papel teenooratioe elegitimador do sistema penal vigente. Ums concengia corrects dos fins das perias Se d contuda, nenosptez zat as aspectas posi tivos de cada uma das imaladas, was olue-los. Isso nio deve ser felto através da sua , unifioagSio yaais ou menos smslgamiada, isto &, de uma sobreposigSa sera aritério; ter-se-a antes de artioular cada uma dacuelas sonstrugdes com as diversas tases em que o Estado, no exercfoio do poder punitive, se confronta como cidadae -como fazem Rosin, Stratrecht, At., I, $3, r41 © s, e Padovani, Disito Penale, p. 389 a dos fins das penas . Comeganda por este Ultrao ponto, sontunde-se muitas veres a -quasteo aceica da raza ou razSes da pumigso corn a dos ims da pumigdo: a resposta a primeira qu seste basela-se em cert Biessupostos, enquanto & fespost] & sagt da assanta ray Dusante ac individualizar tres momentos na relagdo ¢ raoments em que o Esta ooMpatamento, o raarmento & momento em gt opera una estratificagSa rigorosa dos ims das alertar para a sua diferente importancia nas varias tases da aincia juifdics. Da combmagio de cada um destes uma daquelas questées, resull Estadojeidaddo: 0 ga Com pena um determinads A, RazSes da Pen we 2, Momento da Aplicagdo da Pena Fascz2v/40 BiBAPaa Rena, a i ie ie ow d = ma = | ! Ligdes de Direito Penal I 3. Momento da Execugdo da Pena 1A. A razio porque se comma uma pena, porque se ameaga com pena um detennmada comportamento, reside na waloragdo desse cormortamento como merecedor da pena: como virios, ns conclusdo de qua a pena constitul wma reacgSa:justa e oportima Aquele corritortamento. E is: depende desde logo # etn primeiro lugar da questo de saber esse comportamento aterita contra umn valor fmdamenta! da existéncia juridicarrente reconhecido. Curnpre-se na determinagSo do meresimenta da pena’e na correspondente fivagZo da arneaga da pena o Principio da Subsidariedade do Direito Penal. 1B. O tim da eominagSe penal consiste 7 na prevengdo garal positiva, cuja sentido e alcemce é contormade pelos critérios do ymeracimento da pena. A tmglo do Direito Penal -corno de qualquer espécie de controle secial- é afinnar os valores fumdamentais da existéncia, tomando possivel 9 convivio sovial: entre estes valores contam-se no £6 profbigtes como miatar ou agredir fisicarnents outeera, yas também a proibiggo de encesse (interdigao da punigdo para alévn do necessrio @ da justo}, a proibigSo de pumir alguém sem culpa formada ou sem ser treviamente ouvido etc. “Ao empregar os seus instrumentos respeitando ¢ atienando na pratica esses valores, o Direito Fenal leva a cabo uma fumglo pedagégico-social: taforgar os valores Atico-saciais da acgSo resalvendo e elaborando os conflitos mais graves que produz a conduta desviadia" - Hassemer, vor $1 n" 334 2 231 2 ss. A prevengao geral positive traduz-se, assim, no reforgo ne consciSneia colectiva dos valores que Emdamentam e fraitam ainternengao penal. Fode dizer-se, portanta, que o efeito geral preventivo da pena 2 tanto maior quanto mais os comportarnentos yumiveis correspondern a ofensa grave de Ligdes de Direito Penal I Diiritto Penale,p. 203} ¢ quanto mais for resueitada aproporgso entre o “quantum” de pena legalmente finado e a gravidade do facto punivel. Com . efeito, a utilizaggo de penas desproporcionadas pode ihtroduzir na consciéncia colectiva uma subvers3o da hierarquia dos valores, contdbuinds n3a sé para a anomia valorativa mas também para um aumento da cfirninalidade: sep. eu. o “viseo perial" do roubs € da howicidio fosse o mesma, todo o tadro se sentiria motivado a matar a itis; o pr i i motivagso equinarande ou awronimmando as raoldures penais da routo e do homiefdio, isto §, alterando o actual significado social dos dais comportamentos. Wo se exclui que, dentro destes limites 2 atendenda acs yressupostos atras referidas -conh 0 da. yumigZo. por parte dos destmatarios, etc... a ameaga de pena possua também uma ftumgdo de intimidagao (prevengdo geral egativa}. Mas & importante distinguir a este propdsito entre a noma de compertamenta e a noma Ge sang a primei pietende motivar oz. destinatarios a realizar ou nao atenmnmadas acgbes, x ando, vara isso, comesponder as valaragies ético-socisiz fimdamentsis. A norma de cormmertamnento pretends que os destinatarios fagarn suas as rages da tioimna 8 actiiem sm contormidade cor sla: poste isto, ela visa antes de mais persuadir as pessoas & obseruanicia. Por sua vez, anonna de sage, alérn de alertar parao elevado significada social dos valores protegidos, representa a ameaga de uma intervengSo coactivapara 0 caso de na ser cunrmrida anonna de comportamento: ela tem a fumgio de dissuadir a insbservancia e nesse sentido de intimidar. Para que a possa anercer legitima e efectivarnente, a sangdo deve operar no quadro de valores que a na de comp ro pretends atignar © persemar, au seja, deve reforgar a corjuito das fazies dessa noma - dissuadindo apenss dentro dos parametros da urna prevengdo geral posithvs, scb pena de artima logiea de terror-, 2 § ainda necess4rio que o atario a covhaga e que por ela s@ teria decidida a nao inffingir a noma oO que, coma assinaldmos, $4 acontecer3 num nitrnero reduzide de casos. rasezu]t 4 Daeg a Hab Clore Ss Here Vw ww Ligdes de reite Penal l 2. A. DO fundarnente da pumigde est& aqui th tica de um Eacto ilfeite 2, portanta, & ciroumstancia de ter sido vi Ss a 3 punide por causa do cfime que piatl satanto, de acorda com a gravidade deste sortraldo pela sua pratics, iste é, sequmde a si mwa { segumda um guaiquer orit&rio de igualdade termal, come nas versdes ie stas que analisSmos}. ~ A culpa no famece apenas o limite fetibuigde mas 2 dentro do qual podem ser prasseguidas as finalidades i Em primeiio lugar, de prevengo geval, paste que da pena wise reforgar na consci &ncia social o bem je do e nromover o (ecorihecimnente gerieralizade dz noma violada que o tutela; em segundo lugar de prevengde agpecial porque o juiz, stendends As vondigdes do meio social = prisimal, deve escather a espacie a para evitar no condenado o desen- silidade igedir tetiha um efeite desso edoi. O piincipi intervétn tarabérn na determinagdo da pena aplicdvel em sonorete (art. Fido C.P.], devends o juiz pioceder ao evame sobre a adeauagSo preventiva das penas que tem a disposigae, da menos Grave 3 mais arave. As fazdes de prevengSo geral e especial podem levar a finar apena aquém do limite minimo da culpa ow mesmo dispensar ou renunelar a ela f{act.?a do C.F.) mas numea possibilitam 9 estabelecimente da pena para além entide pela culpa revelada no fa: lade da pena na fase mela se trata di teddo sancionatésic onna. sobre 9 sentido concrete da priotitariamente a prevengao especi alcance do individua meios e condigSes que protiovani a Sia reinsergao social. ™ a 3 ty oo BS & Dw 3 Fr FA Ligdes de Direito Penal I 2.3. Fins das Medidas de Seguranga 2.3.1.0 tage fundamental da distmgSo entre pena e medida da seguranga reside em que, enquanto a primeira é ratribuigso de uma certa culpa, a segunda tem oo Biessuposto nao 2 culpa mas a perigosidads do delinquent apoiada AO reo fumdado da pratica tutura de outros fastos tipicos graves fart. 31, mW ido CP]. Esta diferenga deve-se ao facto de 9 destinat&ria das penas ser uma pessoa livre, um sujeito racial, capaz de se deterninar de todo diverse (responsivel} de, por isso, ser nfluenciado pelas Tiormias, passo que o destinatario das medidas de sequranga & um sujeita incapaz de se auto-deterninar —_livremente responsavel), _ineapaz de entender 2 querer, ou por padecer de anomalia psiquica ou por ser tremor de 16 anos (eresungSc’ inilidfvel de intmputabilidade, art. 19 do CPJ e que se revela Rerigoso no caso conereto. Ern consequéncia as penas anlinam- Sea Riput is, Stryuanto as medidas de seguranga de privagda de “Woerdade walemi, em principio, para os imimputayeis. 2.3.2. A tazdo de ser ds aplicagso de medidas de sequranga radica na necessidade de protecg3o de bens juridicos. face. a agressBes de inirmutaveis. A sua timalidade consiste na recuperago social do delmquente, quer através do imtemamento hospitalar Ino caso da anornalia 3 psiquica) quer Bor meio de seclus#o em locais de reeducagSo (rio caso da incapacidade de culpa em raza da idade}: 2.3.3. Este firn de prevengao especial, tal como sucede para as penas, sb deve ser realizado dentro de determinados limites filiadosna ideia de Estado de Direito. aj Em primeiro hu gat, 30 sfo admissfueis medidas de seguranga ps-d isto &, devem ter come pressuposts a pratica de um facto orimatmente ilfeite. Com asta reatizagao do principio do direito penal do facto, ees impedit-se a fi Py Bah > 99MM RAMANA aaa 2 2 Ligdes de Direito Penal I nuin prognéstico -isto @, numa atirmag3o de probabilidade sobre a conduta humana tutura- baseado em Eactos crimmatmente ilfcitos do passado. b) A durago da medida de sequranga deve sar proparcimal 4 perigosidade do agente, cessando a medida logo que a perigosidade termine (regra que o C.P. respeitou no art. 92, n't} e@ nunca devendo exceder eri mais de quatra anos o Iiraite yiduimo da pena legal correspondente ao tipo de crime praticado (art. 92, 172}. 86 deste iodo se salvaguarda uma carta proporedo entre a sangSo e o Eacto ilicite praticado, que constitui um litnite de garantia. E certo que o art*92 n°2 36 estabelece um tal limite para o caso de primeira Mtemamento e dentro de certas comdigdes expressas na parte tial do preseito 8 que a solugSo da “prorragagao sucessiva” das ynedidas de sequrenga parece legithmada pelo art*30 n'2 CRP. Wo podemos esquecer, todavia, que a medida de seguranga é uma sangSo © que o interesse social ma recuperagio do inimputavel nSo deve ser satisteito 3 custa do sacriticie total dos seus direitos © garantias. Tanto as qarantias decarrentes do art. 18, 12 CRP como da proibigo constitucional de aplicagao de medidas de seguranga corn caracter pemétuo ou de durag3a ilimitada ou indetnida - art.30, mt produzem uma lacuma na nossa Ordem Juridica para os casos nao abrangidos no n72 do art. 92 do C.P., lacuna essa, que 4 falta de melhor critério, dave ser cohmatada com 4 aplicagle analégica do regime consagrado neste preceito. Trata-se de analogia “in borat partemn" e, por isso, nao é abrangida pela interdigSo do art. 1, n"9 do C.P. Portanto, Emdo o perfodo de tenmpo assinalado -3 anos além do limite maximo da pena legalmente cominada- sem ter cessado 9 estado de perigosidade, este s6 pode ser debelado fora do universo paroerario. 2.4. O sistema sancionatério de Cddigo Penal Wimos que a pena e a medida seguranga possuem fmalidadas comms, nomeadarnente, a preyengdo especial, exibora prosseguida por Ivocessos © vias diterente: articula o CP. o campo de utilizagao das duas sangdes basicas 2. Pot, outrasspalau(a per i dualista 207” Como Fascd Ligdes de Direito Penal 1 A disting3o entre sistemas penais bended = sistemas penais dualistas pode empregar-se riumn duple sentido: wm sistema penal @ dualista, num sentido arapla, quando prevé medidas de seguranga para minputavels © penas para trputdveis; & dualista em sentido restrito, quando a par das penas, permite a aplicagio de medidaz de seguranga 3 iiputaveis (4. neste sentido -Actas da Cormissio Revisora, Parte Geral, Vol. I, p.8-]. Mo primsiro sentido, praticamente todos os sistemas pensis Zo duslistas; no segundo sentido, apenas alguns 9 so. "Mutatis mutandis" monista em sentide arnplo ser& aguele sistema que estabelece para imputayeis & inimputaveis uma tmica sang3o penal -solug3a preconizada pelo movimento da “Nouvelle Détense Social"- e monista em sentida restrita seran by ou outa, pair aoe aa interpeotagio que sa fizer dos arts 103 e ss. e da pena relativamente Mdstenninada do ait. 63 ass. WSn conta, note-se, para esta questfo nem as medidas de sequianga aplicaveis a menores de 18. anos, dado que estes s3a serepre inhrgutaveis 2, por detinigge, nZo Ines podem ser aplicadas penas, nem a medida de seguranga de mterdigao de profiss$o, pois ela & compativel som 3 culpa e aplica-se, sem problemas, & feputéveis (uv. art. 97, 1): como sublitha Gavaleiro de Ferreira, Ligdes de Direito Penal, Vol. IL, p.2t2, "h& estados de perigosidade criminal que mais resultam de gausas endgenas, do ambiente, do que de um estado pessoal de perigosidade...": a perigoridade no Gltima caso nde deriva de usas enddgenas que que passam atesctar a qapacidade de a pessoa der a significado dasvalioso da sua conduta. Quento ae preceituado nos art. 103 © 105, entende Lopes Rocha, ¢ bern, que nao se trata de auténticas medidas de seguranga porque a anomalia psiquica soncoritante ou posterior & pratica do crime nSo fumda.a perigosidade do delinquente, mas apenas toma 0 regime dos estabelecimentos comuns Mmadequade para ele. Poste isto, aplica-se-The o regime das medidas de seguranga por se revelar mais apropriada:: oi skews “9 TOT “ete? whe? wee > Your tet ems mer ees es a ee Ligées de Diraito Penal I - yu Para uma Howa Justiga Penal, Almedma, 1983, p. 41; discarde da auter quanda afinna que re se pode falar neste: casos et medidas de seguranga “pois, por defmigho, 2 smemalia psiguica rao exclui a irmutsbilidade": o que se pretende saber é precisamente se aniusse sistema penal prevé a aplicag3e de medidas de seguianga & 4 ‘pelo que o facto de 4 anomalia psiguica rds encluir a inmputabilidade, signi fi putdvel endo gue a re. ga. Decisive para isso & saber se nestes casos $@ veiificam Lodos os pressupostos das medidas & sequramga ¢ aqui sim tem razdo Lopes Rocha quando diz que o Intemamento pao tem por base a perigosidade do agente; sempe dade nia ha medida de sequranga. Mas ja admite Lopes Rocha - ob. cit. p. 40 ¢ 5.- que o art. 104 sobretude quande se retere aos efeitos previstos no art. 91 configura uma medida de seguranga: embora a anomalia psiquica n3o se veritique 10 momento da pratica do facto, sendo emtSo o autor capa: de culpa, o seu diagnéstics sobreveniente aponta para a possibilidade de realizago futura de factos ilfcitos graves. Isto n&a basta, porém, para detinir o jtemzmento como auténtica medida de seguranga. 4 perigosidade v0 vern docurmentada no ou nos Eacto[s] ilfcita{s} cometido[s} 2, portanto, o mtemamento wae constitui a sangao para esse(s] facta(s]; trata-se de urna perigosidade sobreveniente causada por wma anomalia psiquica posterior que em nada influiu no crine praticade. Por isso, penso que tarnbérn neste caso o legisladar se limita aprescrever o reghne da medida de seguranga por se2 ajustar melhor. Corrobara esta leitura o art"106 ao qualiticar a disposto nos aits.103 e 104 como “alteragdes ao regime normal de execugde da pena”. Trata-se do sistema geraimente designade por vicarial (de latin “yicarius” - 0 que faz as vezes de), baseade no imtereSenbio entre o regime de execugas da pena {em estebelecimentos prisionais cornums] @ 9 da medida de sequranga (em estabelecinentos haspitalares) , fumcionalizando-os 3 (do delinquente. Caracteristioa 5d zaGho da duragao.d ‘gata eurmprir Zack toa nea eos ta Srriatnenta FACT] Ligdes de Direito PenalI nt2 de C.P_- 9 que significa que o tratamento hospitalar so tem lugarno limite da pena (da culpa) aplicada ao crime praticado. Desta forma os art. 103 e ss do CP. n§o estabelecern propriamente medidas de seguranga para imputaveis como sangdo -infligida imdependentemente da pena, mas aplicada cumulativemente com esta- pela crime praticada, mas determina a aplicagSo Squi do regime de execugdo das Madidas de seguranga. Pode considerai-se que esta salugao no 4 suiciante: para caracterizar o nosso sistema penal como dualista em sentido restrito. is -Discordamos, pois, de Cavaleiro Ferreira, Licgdes, II, 1983, p. 21, ac considerar que os art. 103 e ss. contém medidas de sequranga. GO panorama altera-se, no entanto, em relagSo earacterizagao da pena relativamente Indetermimada. Esta figura est entre nds enibrionariamrente ligada 3 teoria da culpa na formagSo da personalidade que fol um dos cavalos de batalha de Eduardo Correia e da escola de Coimbra atéha bem Pouce tempo. Procurande um caminhe qua cenciliasse uma concepgap ético-retributiva da pena com as necessidades de regenaragso do delinquente, ou seja, que reunisse os conceitos de culpa ¢ de personalidade, Eduardo Correia encontra-o na ideia de que o homem § respons4vel por aquilo que & ou melhor, por aquile em que se foi tomanda ao longo da vida. Nas palavras daquele autor, “na medida em que o diraito criminal afirma ceitos valores ou bens juridicos, crla para os seus destinatarios o dever de formar, ou ao menos de preparar asua persomalidade deynods a que, na sua actuagSo na vida, se nd0 ponham em emnflite com aqueles valores ou imterasses. Vislende este dever constitul-se ° delinquente em culpa pela ngo fommagSo ou ne preparagdo conscierite da sua personalidade". ~ Projecte de Cédiga Penal, P.G., 1953, p.26 (t8o importante fa no pensamento de Eduardo Cortsia esta concepedo da -oulpa na formaggo da personalidade que the dedica 40 das 66 Raginas da introdug3o ao projecto.} Em, suma, a censura da culpa juridico de acorda | com valores do Dirsite. Neste quadro, o orkne praticade & apenas a via pela qual se al g2 a personalidade Stica do sau agente (a porta de acesso 4 sua personalidade censuravel): 9 que ele fez 2 9 pretexto para 9 Punic Rorque aquilo que 4, ou noutros terms, por aquilo que n3o conseguiu . Belas tendéncias perigosas {hereditarias, adquiridas, psicogenéti ete.) que nas dominou e que ameagari perdurar, conduzindo-o 4 pratica de tuturos cstvies. { Exempla do “Retrato de Dorian Gray" de Oscar Gilde). -¥. Projecto, P.G., 1963, p.92 es, Posto isto, a medida ds BimigSo concreta pode ir alérn Ga pana aplic4vel ao facto quando o modo de ser que o agente igéncias de reprovagdo e de am cartes cases a mite indeterminada, iste 8, da ume pens ¢ oscile entre um minke e un 10. Ela sera acommpanhada de um plano de readaptaglo dss dalinquentes que tem por debelar os aspectos defannadores da personalidads que radios a tendéy ara o crime. No seguhmento desta doutrina a Projecto eomsagrava a amente mdeterminada yp: as aimes conta o patriménia, vadiagem, mendicidade, actos contra a natureza, prostituiggo, associaggo de malteitores. « receptagaa (art. $4}, para os delinquentes por tendéncia (ait. 95 2 96] e aleadlicns e equiparados (art. 98]. A pena relativamente Indeternninads, hoje limitada a estes dois diltimos casos, sera, neste contento, uma verdadeira pena da culpa [na qual se combmnam culpa pela facta e pela personalidade) e autorizara a olassiticago do nosso sistema penal oo: Sucede, porérs,. que nem a pene _ felativaments indeternnads pode ¢ deve-ser ertendida no te de uma culpa nia Eormagao da personalidade nem to pouco a culpa dave ser parspectivada dessa modo. Emi priv lugar, toda @ culpa 6 culpa da passea: mas uma coisa é.a culpa “aa pessas pelo facto praticado, medida ere fimgZo do seu-enperiho = implicag3o nesse facto, qutra é a culpa Belo deteito. global da “del ade ‘anteriords ao crime e resultaites de factos da vida passada Ligdes de Direite Penal I que, ou nZo podem em si mesmos ser considerados censuraveis - coro acgées realizadas com frieza, egofsmo, calculismo, ete. no Smbite de actividades licitas e honestas - ou sho oriumdas de disposigées congénitas {mcontrolaveis] ou ent3o manitestam-se antes dos 16 anos e s30 cohertas am amibas os casos pela mimputabilidade. Corno adverte Sousa Brito [que seguimos tia 2 ritioa), A Medida da Pena no Hosso Cédiga Penal, Coimbra, + 15, ura tal concepg3o Violaria, entre outros, 0 prineij ional da conexSo entre 0 crime ¢ a pana, Dorduanto 3 pena deinaria de basear- sen cre nia medida era que em que variasse em Eumgao de factos n3o eriminosos tem eulposos e@ gue nao podem considerar-se come ciroumstancias do crime". Detendendo que a personalidade autimoma do & fem que se filia a perigosidade do agente] intluencia decisivamente a medida da pena, a teoria da culpa na tormagao da personalidade acaba ‘por pumir o prprio ladrSo que Eurta uma carteira, nd0 tanto pela atitude censuravel revelada no furto, mas por ser quem 4, ou seja, pela forma errada como conduziu a sua vida no passado @ lo raceio da a de outros crimes baseado n: dado. Em segumdo lugar, esta doutrna @ incompativel com a consagragdo na nossa Constituigdo de um.sistema de dupla via de reaceSa ao crime, com penas eadas na culpa ¢ medidas de sequranga baseadas na parigost fark 30). Ao reservar as medidas de seguranga enclusivarnente para os inimputaveis, a doutrina criticada distingue, sem fundamento, entre duas espécies de perigosidade: a derivada de anomalia psiquica e de menoridade, por um lado, e a derivada de tendéncias ¢ meliegdes criminals, por outra lado. Gra, coma vimos, o que & desisivo para scaracterizar e medi a perigosidade 6 0 tundado reoelo da pratica de futuros rive baseade no crime ou crimes praticadas, e ndo a respective causa felquéen pede ser de rauel por padecer de anoraalia psiquica ol por ser menor de 16 anos e ndo ser jerado perigoso}. Esta podera, quando muito, mfluenciar a regime de execug3o da medida de seguranga mas n3o possibilita uma distmgao do campo de aplicagdo das sangdes penais f&umdamentais. Deste thodo,-nerihumaspecto da personalidade do 53g * podésittluenciar autonomamente 4 medida da peas ‘ar wa ionoenl Ligdes de Direito Penal I Deste modo, nenhum aspecto da personalidade do agente pode influenciar autonomamente a medida da pena, s6 contando para esse efeite aqueles elementos ou tragos do caracter precipitados e revelados no facto e que sejam censurdveis - v. art72, nt2 als. d, e] € A}; como diz Lackner, Strafgesetzbuch mit Erlaiiterungen, 18?.ed., 1989, $46, IV 2, vor a. tratese de “indicios para determinar a medida da atitude e da intensidade criminosa derivadas do facto" - pelo que a perigosidade inerente a esses tragos é perfeitamente absorvida pela culpa do facto e as exigéncias de prevengao dela decorrentes satisfeitas no quadro por esta culpa desenhado. De acorda cam o expasto, @ prorragacao pripria da pena relativamente indeterminada ndo sendo, em alguns casos, alheia a tendéncias e inclinagdes perigosas expressas em factos criminosos anteriores, 6, contuds, estranha 4 culpa documentada no facto ao qual se aplica. Sendo vejamos. Quer no art. 83 n#2, quer no art 84 n#2, quer no art, 86 n'3, a relativa indeterminagao da pena é fixada entre um minimo e um maximo a partir da pena de prisdo que “concretamente caberia ao crime cometide’. Ora esta pena concreta, tal como as anteriormente aplicadas, nos termos 4; &. art. 7: ui fam, come vimos, culpa do. facto. Sendo assim, a perigosidade revelada em cada um dos crimes j4 fol contabilizada na pena atribuida a cada um deles, pelo que a perigasidade em gue a prorrogacao da pena se. funda esta para além da culpa do facto ¢. provém ou dé dima acumulagao de ‘crimes dolosas - arts. 83 ¢ 84- ou de um modo de ser criminégeno do agente. A tendéncia cu inclinagdo aqui detectadas’ se, por um lado, pode diminuir a culpa, na medida em que diminua a possibilidade de o-agente se determinar de. outro. made {sem que essa diminuigae va ao ponto de provocar a inimputabilidade nos termos do for outro, aumienta a sua perigasidade para além de um limite. compativel com a culpa ¢ &, por isso, objects de uma medida de seguranga cumulada com a pena. Concluimas pois, que a agravagao da pena concreta mais nao é do que uma medida de seguranca aplicada a um delinquente Imputével e assim, que o nosso sistema penal &, neste ponto, dualista em sentids restrito.- Nao concordamos com Sousa Brito -ob. cit, p. 20 e s., quando considera que a agravagae da.medida legal da pena se reconduz ainda & culpa do facto, nem com Cavaleirs de Ferreira Lighes, Il, 1989, ps. 28 e¢ 60- embora seja a este respeito algo confuse. Depois de na pag. 60 afirmar que “na pena. indeterminada a fixagdo da pena corresponde 4 culpabilidade, FasoN {51

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