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rN genialidade d’ A Teoria Co Ele ie ested yet) como da sua’ proposta Cientified) Sz] ell dima coy *caminhos a discussao sobre a origem do CL Corey Vidaedo Universo. - Brees iil -ic-ig plagiar primeiro‘homema pisar na Luaem 20 de julho'de BET) TE Ca Ce OME RO CLC CLC iret it) ren Nort olat*] CK : ), diria qué A Teoria Corpuscular do Espirito “é um pequeno.passo , Para oO homem, mas ‘um salto gigantesco para a humanidade”. ter Tar anés saber aproveitar.... Professor Doutor Luis de Almeida Bree COR =as RUE U PAC ae eee me) Pee eee et cicero ee eel Seren a co da NASA. Giontista da Agéncia Espacial Européia. ACiéncia Devassa 0 Espirito — Prof. Aleixo Victor Magaldi — (Catedratico na Faculdade de Farmacia e Odontologia da Universidade de Juiz de Fora — MG, ao ensejo da edicao inicial). Neste segundo meado do século que precede o “Terceiro Milénio", a Ciéncia deve projetar luz mais viva sobre 0 espirito, visto que, sobre a matéria, j& se projetou intensamente. Com este propésito, agora, um engenheiro acaba de pér todas as suas horas extras do servico roteiro, em prol de uma teoria nova, verdadeira revolugao no Neo-Espiritismo. Este companheiro surgiu em Sao Paulo. Seu nome: Hernant Guimaraes Andrade. O livro que ele escreveu e editou compée 0 primeiro de uma série de quatro volumes, dignos da atengo acurada dos mais categorizados espiritualistas. Eis 0 nome do livro: “A Teoria Corpuscular do Espirito”. Trata-se de uma teoria que intenta estender a idéia do espirito a concepeao atdmica adotada para a matéria, Segundo "A Teoria Corpuscular do Espirito’, 0 espirito também 6 constituido de atomos; 6 suas propriedades decorrem deste fato singular que o caracteriza (0 espirito) como uma manifestacao energética de ordem superior & da matéria, Estabelecidas tals bases, “A Teoria Corpuscular do Espirito” procura oferecer explicagdes coerentes a varios fenémenos que vém resistindo as interpretag5es materialistas. Entre eles, destacam-se: a) a vivificagao da matéria; b) a origem da vida; ¢) os fenémenos metapsiquicos; d) a evolucao biolégica; ) a evolugao embriolégica, etc. Dentro do campo espirita, "A Teoria Corpuscular do Espirito” esclarece satisfatoriamente cortas matérias ainda inexplicadas. Ei-las: a) 0 que é a substéncia espiritual; b) qual a origem dos espiritos e como eles se formam; c) qual a verdadeira morfologia do espirito, considerando-o como um. ‘com plexo “continuam espaco-tempo” d) como deve ser considerado realmente o Perispirito ¢ quais as suas verdadeiras relagdes com 0 espirito; e) qual o mecanismo fisico, guimico, biolégico e espiritico da reencarnacao. Na elaboragao de “A Teoria Corpuscular do Espirito’, foi evitado, o mais possivel, 0 tratamento matematico. Todavia um dos livros futuros seré inteiramente escrito em termos de matematica superior — Unica forma de exprimir com inteira corregao as conceituagdes que compoem “A Teoria Corpuscular do Espirito” O presente compéndio tem o carater demotico aise ce he A.obra completa, cuja elaboragao exigiré 16 anos: para ser executada, constard de 4 livros, ja estando projetados e em elaboragao os 3 volumes restantas. Os 4 livros S80: 4) “A Teoria Corpuscular do Espi 2) “Novos Rumos & Experimentacao Espiritica” obra tratara dos métodos experimentais geridos por “A Teoria Corpuscular do Espirito”. 3) “As Bases Matematicas da Teoria Corpuscular do Espirito” - Este volume, conforme 0 titulo indica, sera o desenvolvimento matemético da Teoria. 4) “As Conseqiléncias Filos6ficas da Teoria Corpuscular do Espirito” — Neste tiltimo trabalho, sero desenvolvidos problemas mais avancados de ordens flloséfica e metafisica. Leiam essa trilogia! Hernani Guimaraes Andrade Fundador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiotisicas LB.PP. A TEORIA CORPUSCULAR DO ESPIRITO Unc Extensa des Conceitas Quénticas e Ctimicas % Idéia do Espirite editors Casa Bditora Espirita “Pierre-Paul Didier” ‘ste tna martadnazar cor ator era TSS0S Das cprugp (NT eae 3401 28 err.com br Go saudese mestre Francisca de Paula Domingues, cuja bendade ¢ sabedoria guiaram meus primeizes passes pela estrada do. verdadeire conhecimenta, a minha eterna gratidéio. Cl keine Victor Magatdi, brithante inteligéncia, vasta cultura e grande conache, com as eapressies mais sinceras da minha profunda amizade, ea Jason Monteiro Gatenbeck, incomparduel modelo de bondade e dedicagie as prdaxime, com a minha grande admiracée ¢ imensa ecatima, dedico. esta aba. Prélogo Meu caro teitor: O livro que ora Ihe oferecemos € 0 produto de longos anos de estudo e meditagdo. Nao obstante, este trabalho esta ainda em sua fase inicial; cheio de imperfeiges e imprecisdes. Nao espere encontrar, nas paginas que se seguem, um romance atraente ou uma dessas magnificas divulgacdes cientificas que habilmente suavizam o aprendizado do leigo, levando-o as alturas vertiginosas dos mais intricados conhecimentos. Este livro é de dificil leitura. Exige paciéncia, atengao e uma certa dose de imaginagao. Tivemos 0 cuidado de incluir, no texto, as indispensa- veis elucidagdes concernentes 8 parte cientifica. Elas irio facilitar-lhe a compreensio do assunto abordado. Todos os elementos cientificos, assim ventilados, sero absolutamente necessérios 4 perfeita assimilagao da Teoria Corpuscular do Espirito. Em vista disso convém a vocé inteirar-se bem dessa parte preparatéria. De modo geral, 0 plano deste livro obedeceu a um critério diddtico. Suas diferentes secgdes foram dispostas de maneira a leva-lo, progressivamente, a atingir com um minimo de esforgo o pleno dominio do assunto. Esperamos ter alcangado a primeira etapa do vasto programa a nés confiado. A Teoria Corpuscular do Espirito 9 Seremos imensamente gratos, se Vocé nos honrar, enderecando-nos suas criticas e sugestdes, assinalando especialmente as falhas e imperfeigdes deste nosso modesto trabalho. Hemani Guimariies Andrade 10 Hemani Guimaraes Andrade Prefacio ..... Capitulo I O ESPIRITISMO PERANTE AS OUTRAS CIENCIAS O Espiritismo e as Ciéncias... O Atual Aspecto Experimental do Espiritismo . ‘A Necessidade de uma Teoria Cientifico-Espirita Capitulo II DAS BASES DA TEORIA ‘A Natureza Corpuscular das Substancias A Natureza Corpuscular do Espirito .. Os Componentes do Atomo Espiritual ... O “Bion” e o “Campo Biomagnético” ou “Campo Vital” ...... A Realidade do Bion... O “Percepton” e o Mecanismo da Percepgao-Meméria O “Intelecton” ou o “Quantum” de Inteligéncia Ativa e Pura... O “Ménaton”, a “Ménada” e os Demais Atomos Espirituais Capitulo Tt : A QUARTA DIMENSAO E O HIPERESPAGO Os Superficiais. O Hiperespaco ... ‘A Curvatura do Espaco . ‘A Natureza Hiperespacial do Espirito As Experiéncias de Zéllner .. Polarizagio dos Atomos Espirituais .... A Opinio dos Sabios .... Hiperespaco: Realidade Objetiva ou Subjetiva? Capitulo IV DAS FORMACOES ESPIRITUAIS Formagées Espirituais Das Formagées Espirituais Simples A Diafaneidade do Espirito .. A Energia Radiante dos Elementos-Espirito O Psicosc6pio A Associagao dos Elementos-Espirito Das Formagées Espirituais Compostas ou Espiritos Propriamente Ditos Génese dos Centros Auténomos Os “Chacras” A Lei do Carma Metabolismo Espiritual ‘A Morfologia Espago-Tempo do Espirito Capitulo V O FENOMENO DA VIDA O Problema da Origem da Vida .... As Fronteiras da Vida A Organizaciio Biol6gica e 0 2° Principio da Termodinamica A Estrutura da Matéria Viva... Capitulo VI A ORIGEM DA VIDA A Proteina e os Acidos Nucléicos .. A Molécula Viva (Biomolécula) Ago Miitua entre Espirito e Matéria Vivificagao da Matéria Pela Polarizagdo e Captacaio dos “Elementos-Espirito” ... Os Quatro Principais Casos de Polarizagio dos “Elementos-Espirito” ... A Génese Biolégica das “Form: Compostas”e a Origem da Vida ‘A Dinamica Ascensional do Espirito e a sua Repercussao Ideoplastica na Evolugao da Matéria Organica . . 191 . 198 se 205 Capitulo VIL A REENCARNACAO E A GENETICA. A Teoria da Reencarnagéo A Multiplicaciio das Células por Divisio Simples, ou Amitose .. Cariocinese ou Divisio Celular por Mitose.. Meiose ou Cariocinese Reducional. Os Cromossomos e os Genes ... A Estrutura Espago-Tempo do Espirito, ea Textura Histérica do Soma Psfquico .. A Diferenciagao Celular O “Principio do Arbitrio Légico’ e 0 “Modelo Dindmico-Espiritual” .. Génese das Leis da Reproducio. Capitulo VILL 4 O MECANISMO DA REENCARNACAO A Substancia da Hereditariedade A Reencarnagio nas Biomoléculas A Reencarnacio nas Macromoléculas ... A Reencarnagao nas Nucleoprotefnas - Virus Os Quatro Casos da Reencarnagdo nas Nucleoproteinas - Virus 1, Céipula e Duplo-Espiritual Perfeitos 2. Ciipula Espiritual Perfeita e Duplo Incompleto .. 268 3. Ciipula Perfeita e Duplo Ausente 4. Ctipula Imperfeita e Duplo Ausente A Reencarnagio pela Amitose. Reencarnagio pela Cariocinese (Mitose) A Reencarnagio pela Unido Sexual 267 . 273 ea Formacao do Embriao (Meiose).. 279 AAlma.... . 289 Capitulo IX OS FENOMENOS METAPSIQUICOS ‘A Metapsiquica O Ectoplasma Hipétese sobre a Composiciio do Ectoplasma Mecanismo da Formagio do Ectoplasma e das Ectoplasmias .... Os “Recursos da Natureza”, ou “Elementos das Plantas e das Aguas”. Desdobramentos e Fantasmas de Vivos . 293 . 294 . 299 . 305 317 Capitulo X_ CONCLUSAO A Primeira Etapa A Experiéncia como Complemento da Teoria Corpuscular do Espirito ... A Matematica Aplicada a Teoria Corpuscular do Espirito .. O Plano de Desenvolvimento Futuro da Teoria .... PREFACIO Durante milhares de anos, alguns homens tém sido perseguidos (e alguns continuam ainda a sé-lo), pela simples idéia de no aceitarem que a Terra seja um planeta vulgar no meio de milhares de milhdes de outros tantos e que gira @ volta de uma simples estrela, o Sol. Até que ha 2.500 anos saiu-se das trevas impostas pelos senhores da ignorancia, surgindo no século VI a.C, a grande alavanca propulsora de todo o pensamento humano: a Ciéncia. Ao considerarmos 0 Sul da velha Europa no século V aC., deparamo-nos com um conjunto de pequenas ilhas e litoral recortado por pequenas enseadas no Mediterraneo oriental, despretensiosas e muito pastoris, as colénias gregas da Jénia. Os jénios afirmavam, contrariamente ao pensamento corrente, que o Universo era conhecivel, porque exibia uma ordem interna. Nele havia constantes na natureza que permitiam desvendar os seus segredos e mistérios; tudo na natureza era feito de atomos. Os seres humanos e os outros animais resultaram de formas mais simples; as doengas nao eram causadas pelos deménios ou deuses. A natureza nfo era completamente imprevisivel, existiam regras e métodos a cumprir. A este fato ordenado e admirdvel do Universo chamaram-lhe Cosmos. Esta foi a primeira vis&o cientifica do mundo: ultrapassou a superstigao religiosa e a respectiva corte de prodigios. A Teoria Corpuscular do Espirito 15, Estas idéias surgiram na J6énia e com elas os primeiros cientistas da humanidade. Em época e espago muito diferentes, ocientista brasileiro Hernani Guimaraes Andrade (1913-2003) Jegou 4 humanidade, em 1958, uma obra fundamental para a analise do Universo: A Teoria Corpuscular do Espirito. Gragas a esta teoria, pode-se aceder a uma outra dimensao epistemolégica, mais facilitadora da compreensio das categorias que nos sao familiares, tais como: tempo, causalidade... A Teoria Compuscalar do Espirito: ... Comparo-a com o Very Large Telescope (VLT), The European Southern Observatory (ESO) do Paranal, Chile®, que € a mais complexa estrutura do mundo. Uma auténtica janela para melhor entendermos o Cosmos. Da mesma forma, A Teoria Corpuscular do Esptrito constitui, desde as primeiras paginas, uma janela para a alma, um meio para melhor entendermos o Espirito, a Humanidade e o Universo. ... Favorece 0 didlogo sério e racional, assim como consegue articular-se com todos os saberes validos no 4mbito da comunicagao, alargando e dando coeréncia ao nosso quotidiano. Sabe estimular os processos de circulagio entre as disciplinas cientificas e os saberes de carater mais técnico, © Q Observatério do Sul Europeu (European Souther Observatory) localizado no Chile é um observat6rio astronémico e foi criado em 1962, com 0 objetivo de promover a cooperagao européia no dominio da Astronomia e proporcionar & comunidade cientifica uma infra-estrutura de observagio da mais alta qualidade no hemisfério sul, agrupando hoje nove paises, entre os quais Bélgica, Dinamarca, Franca, Alemanha, Itélia, Holanda, Suécia, Suiga e Portugal. 16 Hemant Guimaraes Andrade isto é, valoriza a sua “tradugéo” em linguagens sucessivas até ao dominio do saber comum. ... E capaz de incutir nos mais novos o prazer de descobrir, o gosto de apreender, o gozo de imaginar, fomentando na juventude 0 espirito cienttfico. ... A ciéncia € parte fundamental deste projeto, despertando e incentivando uma atitude de abertura a nds proprios, aos outros e ao mundo, corroborando o que o astrOnomo norte-americano Carl Sagan (1934-1996) afirmou: “a idéia de que a ciéncia e a espiritualidade se excluem mutuamente presta um mau servigo a ambas.” Guimaraes Andrade tem a sabedoria de juntar estas duas grandes dimensdes da Humanidade: a Ciéncia e a Espiritualidade, que atualmente se constituem, sobretudo, em projeto académico, mas que rapidamente se encaminham para uma dimensio sociocultural. ... E uma biissola para rompermos com os grilhdes do corporativismo universitério que fechou as universidades as pesquisas que levam as exigéncias espirituais, explicagdes da vida e a transcendéncia da cultura de varios povos que habitam este belfssimo planeta. ... Deixa a porta aberta 4 pesquisa, ao tentar dar uma indicagao credfvel as indagagdes da humanidade: Onde estamos? Quem somos? Para onde vamos? De onde viemos? ... Deixa espago ao sonho, como dizia o distinto fisico luso, R6mulo de Carvalho (1906-1997) (ou o seu «alter ego», o poeta portugués Antonio Gedeiio): “O sonho comanda a vida”. . Sua leitura é um poema cientifico. Inspira-nos que comegamos como viajantes e viajantes continuaremos a sé- lo. Demoramo-nos o suficiente nas imensas praias do oceano césmico e que, finalmente, estamos prontos para zarpar a caminho das estrelas. A Teoria Corpuscular do Espirito 17 ... Deixa transparecer muita semelhanga com 0 teorema de incompletude, de Kurt Gédel (1906 — 1978), que mostrou ser impossfvel construir um sistema de pressupostos a partir do qual todas as verdades matematicas seriam construfdas. Nao é a Matematica que é incompleta nem as verdades matematicas deixam de ser verdades. O que se revela impossivel é capturar toda a Matemética num conjunto fechado de axiomas e regras. ... Teve a sua primeira edig&o em 1958, sendo que esta é a sintese da ideia original da teoria do “Modelo Corpuscular do Espirito”, de Hernani Guimaraes Andrade. Posteriormente, esta tese foi desenvolvida e atualizada nas trés obras do autor: “Morte, Renascimento, Evolugdo: Uma Biologia Transcendental (1983),” Espirito, Perispirito e Alma: Ensaio sobre o Modelo Organizador Biolégico (1984)” e “PST Quantico: Uma Extensdo dos Conceitos Quénticos e Atémicos a Idéia do Espirito (1986)”. ® Talvez. seja o teorema mais incompreendido da hist6ria com livros inteiros dedicados ao assunto, Hé quem diga que foi a descoberta que fez entrar a Matemdtica no mundo p6s-moderno e quem afirme que se trata de um resultado ‘que mostra que jamais se podem obter certezas. E um teorema simultaneamente complexo e importante que incide sobre os préprios fundamentos da Matematica. O seu criador foi o matemético de origem alema Kurt Gédel, muito admirado por Albert Einstein, tendo apresentado na cidade de Kalinegrado, Riissia, alguns dos resultados a que havia chegado numa sus tese de doutoramento. O primeiro resultado, inclufdo na sua comunicagio, mostrava que a chamada logica de primeira ordem, ou céiculo de predicados, é completa, ou seja, que os axiomas e regras de inferéncia dessa l6gica formal permitem provar todas as proposigdes verdadeiras dentro do sistema. A primeira vista, nao se tratava de nada surpreendente, embora fosse um resultado diferente. Mas foi no tiltimo ano de discussfo que o matemético checo nascido em Briinn (a época, pertencente ao império austro-htingaro) deixou escapar a bomba que trazia preparada e que constitui o seu célebre primeiro teorema de incompletude (habitwalmente consideramos dois teoremas). Revelou ser possivel encontrar proposigdes mateméticas verdadeiras que nao eram demonstriveis no sistema formal da Matematica, 18 Hemani Guimaraes Andrade A importancia da “imaginacao geometrica” em Ciéneia A cultura mateméatica da Grécia antiga distingue-se das do Egito e da Mesopotamia pela preocupagéo em apresentar demonstragdes. O exemplo mais conhecido desta atitude mental é 0 dos Elementos de Euclides. Dois acontecimentos remotos, ligados as escolas de Crotona e de Eléia, estao na origem de duas caracteristicas dessa cultura matematica, bem visivel no tratado de Euclides: a separagaio nitida entre os campos da Geometria e da Aritmética, por um lado, e um cuidado notério no tratamento de questdes que envolvam o infinito, Trés séculos antes de Cristo, um matematico grego descobriu um método para medir as distancias da Terra ao Sol e da Terra & Lua. Pouco depois, outro sébio grego comparou o tamanho da Terra com o da Lua. Logo em seguida, outro matematico grego conseguiu medir 0 raio da Terra. Muitos séculos depois, Johannes Kepler (1571-1630) refinou essas medidas e Edmund Halley (1656-1742) propés um método para medir com maior precisao a distancia da Terra ao Sol. Na (minha) cidade do Porto houve, em 1769, quem colaborasse num esforgo internacional para usar esse método. Nessa altura, a distancia da Terra ao Sol passou a ser conhecida com erro inferior a 2%. Como foi possivel fazer todas essas medidas? Com imaginagao geométrica! Albert Einstein (1879-1955), na sua forma de fazer ciéncia também inusual, sentava-se, usava a imaginagdo, escrevia equagdes, voltava a realidade, fazia ajustes, regressava 4 teoria... A Ciéncia até entio muito ligada ao Positivismo e ao Materialismo. O ffsico alemao naturalizado norte- americano tinha como laboratério experimental um papel e uma caneta. Toda a sua obra se deve 4 sua fantdstica A Teoria Corpuscular do Espirito i9 imaginag4o geométrica. O professor emérito inglés Sir Ken Robinson (1950 - ...) autor do livro “Out of Our Minds: Learning to be Creative”® defendeu em Portugal que os grandes cientistas so incrivelmente criativos e intuitivos. 0 processo cientifico valida, mas é a imaginagao que cria. Esta imaginag&o geométrica intuitiva é caracteristica de um cientista como Hernani Guimaraes Andrade, ao apresentar-nos n’A Teoria Corpuscular do Espirito de forma brilhante o “Modelo Geométrico do Espirito”. A imaginagio intuitiva teve em Albert Einstein um papel fundamental, senao vejamos melhor: «Einstein uma vez perguntou a um amigo poeta: Como trabalha um poeta? Como assim? — preocupou-se 0 amigo. Quero dizer, como vem a concep¢dao de um poema? Nao sei, apenas sinto. Ela simplesmente surge. Mas é isso mesmo que se dé com um cientista. - Concluiu o fisico. — O mecanismo do descobrimento nao é légico... Vocé nao vé? Euma iluminagdo subita, quase éxtase. Ha uma conexdo com a imaginagdo. A imaginagdo € mais importante que o conhecimento. Eu penso 99 vezes e nada descubro — disse Einstein. — Deixo de pensar, mergulho em um grande siléncio e a verdade me é revelada. A mente avanga até 0 ponto onde pode analisar, mas depois passa para uma dimensdo superior, sem saber como ld chegou. Todas as grandes revelagées realizaram este salto. © Sir Ken Robinson, PhD em educagio, escritor, orador, conselheiro internacional sobre educagio, conselheiro sénior da Fundagéo J, Paul Getty em Los Angeles ¢ orador mundial sobre gestio e membro do Conselho Cientifico. 20 Hernani Guimaraes Andrade A Fisica. ina da Filosofia? No inicio do século XIX, a Ciéncia tornou-se demasiado técnica e matematica para os filésofos. Desta forma, estes reduziram 0 objetivo de suas pesquisas ou 0 seu universo de trabalho, de tal modo que o filésofo austrfaco mais conceituado do século XX, Ludwig Wittgenstein (1889- 1951), afirmou que “a vinica tarefa que resta a Filosofia é a andlise da linguagem”. Que grande queda, para a enorme tradigao da Filosofia, desde Sdcrates (470-399 a.C.) até Immanuel Kant!... (1724-1804). Mas A Teoria Corpuscular do Esptrito volta a cimentar a Filosofia e a Ciéncia. Dando- lhe uma forma sustentada e equilibrada.” Qual é, entao, a relagao entre estas duas disciplinas? Atualmente varios sao os fisicos como Orpheu Bertolami que consideram que a histéria da Ffsica € um continuo conquistar dos temas filos6ficos. A teoria da relatividade dé um novo impulso a esta ligacao, porque trata do espago, do tempo e da matéria, assuntos que até entao estavam restritos as discussdes filos6ficas. Hoje isso é um lugar-comum para os fisicos, que se apropriaram do discurso filoséfico naturalmente, ao ponto de Karl Popper (1902 -1994), fildsofo da Ciéncia, dizer que a filosofia do século XX é a Fisica Tedrica. Ha ligagdes muito préximas, afirma. Segundo a pritica corrente, existem, por exemplo, a cor, o doce, o amargo, porém, na realidade, 0 que existe so “étomos e vacuo”, escreveu o fil6sofo grego Demécrito no século V a.C. Assim, existe Filosofia ou Fisica? Na época, no h4 diivida que se tratava da primeira, mas igualmente da origem das ciéncias exatas, pela natureza das questdes colocadas e pela metodologia usada por alguns autores, A Teoria Corpuscular do Espirito 21 Os fisicos tem uma agenda prépria e as suas investigagdes procuram responder a questées de Fisica Tedrica e nao filosdficas, contudo existe uma lista de problemas que queremos resolver e que esbarram com questées filoséficas, como sejam: a estrutura do espago-tempo como um todo, a relag&o entre simetrias e 0 mundo concreto. No fundo, um. fisico tedrico, um cosmélogo e mesmo um matematico sio fildsofos. Diria tratar-se de um novo conceito de fazer Filosofia. E assim que Albert Einstein vivia em Filosofia e em Ciéncia. N’A Teoria Corpuscular do Espirito, 0 Prof. Hernani Guimaraes Andrade volta a despertar a uniao entre a Filosofia, a Ciéncia e as suas relacdes biunfvocas. O Nobel da Fisica em 1979, Steven Weinberg (1933 ~ ...), transmitiu-nos um comentario bem a propésito quando de nossos didlogos: «quanto mais o Universo se torna compreensivel através da Cosmologia, mais nos parece sem sentido. Mas a propria ciéncia que aparentemente “matou” Deus esta, aos olhos dos crentes, a restaurar a fé». Os astrofisicos e cosmélogos deparam-se com sinais de que 0 Cosmos foi feito 4 medida, para que pudessem existir vida e conhecimento. “Quando compreendermos que as leis da natureza tém de estar numa incrivel sintonia para produzirem o Universo, constataremos que tudo se conjuga para estabelecer a idéia de que o Universo nao aconteceu por acaso, que tem que haver um desfgnio na sua origem”, afirmou sem qualquer equivoco o astrofisico de Cambridge, John Polkinghorne (1930 -. 22 Hemant Guimaraes Andrade Filosofia e Religido. os verdugos da Ciéncia As idgias novas, em principio, sao quase sempre rechacadas. Nao por maldade, mas por ignorancia. Acontece ao longo da hist6ria da civilizagao humana e constata-se no movimento espirita. Com o surgimento de novas e esclarecedoras propostas, os pensamentos vao mudando e uma nova mentalidade vai abrindo novos caminhos para troca de idéias, no sentido de valorizar o intercimbio e a liberdade de pensar. Os Jénios representaram um papel muito mais concordante com a Ciéncia moderna, constituindo uma perda irrepardvel para a humanidade, ao terem sido oprimidos e eliminados. A sua influéncia s6 se fez sentir fortemente durante dois séculos, porém observemos uma realidade inegavel: este surgimento de grandes génios oriundos de ilhotas da Grécia, teve, em simultaneo, um periodo de notével fermentacgao intelectual e espiritual por todo o Planeta. Foi a época também do faraéd Necho, do Egito, que mandou circum-navegar a Africa, de Zoroastro, na Pérsia, de Confticio e Lao-Tsé, na China, dos profetas judeus em Israel, Egito e Babel, e do Gautama Buda, na India. E dificil deixar de relacionar todas estas atividades, durante um periodo impar da histéria da humanidade, umas com as outras. As culturas nao se desenvolvem a ritmos semelhantes e progridem de forma diferente, surgindo em alturas diferentes e evoluindo a ritmos diferentes. Tal como 0 ® Novas descobertas e evidéncias cientificas permitem outras leituras. Por vezes, aquilo que foi considerado absurdo e inverossimil prova-se ser verdadeiro. Sio intimeros os exemplos de teorias ou idéias que, aquando da sua divulgacio no encontram de imediato o terreno favordvel ao seu entendimento. A Teoria Corpuscuiar do Espirito 23 homem social e as instituigdes, € um fato inegdvel da Lei do Progresso (Ver O Livro dos Espiritos, cap. VII). Apesar de haver quem seja contra, que critique, condene e tente abater, nao hé como destruir a Lei do Progresso. Embora lhe faga danos irrepardveis, como aconteceu outrora com os carrascos da Ciéncia (Filosofia e Religiaio) que, por medo, humilhagao, citime, inveja, poder e tantos outros caprichos egoistas, tentaram eliminar a Ciéncia. (Vejamos OLE na pergunta 781. “Tem o homem o poder de paralisar a marcha do progresso? Nao, mas tem, as vezes, 0 de embaragé-la.”). A Ciéncia ficou mais de 20 séculos, 2.000 anos sob o poder da Religiao e da Filosofia. Era importante, para estas, 0 controle sobre a poderosa alavanca do conhecimento humano e, assim, da Liberdade. Desta forma, puderam usufruir das riquezas e dos prazeres através do terror, da ignorancia, da tortura e mesmo da morte que infligiam as vozes discordantes. Deve-se aos detentores destas duas disciplinas do saber o atual estado evolutivo da humanidade. Sem diivida, nesta tiltima década a Humanidade evoluiu quer tecnologicamente quer cientificamente muito mais do que durante milhares de anos de civilizagio. Tudo se deve a libertagio da Ciéncia das mordagas e peias. Quantas formas civilizacionais nao foram destrufdas e adulteradas pela intransigéncia dos membros das veneraveis “senhoras”? © 0 Livro dos Espiritos, Allan Kardec, 76* edigo FEB, Parte Il Das Leis Morais, Capitulo VIII, Da lei do Progresso, pagina 362. © 0 Livro dos Expiritos, Allan Kardec, 76* edigdo FEB, Parte III Das Leis Morais, Capitulo VIL, pergunta 781, linha 5. 24 Hemant Guimaraes Andrade Os génios também cometem erros Desconhecidos para muitos, Platéo e Aristételes sentiam-se bem numa sociedade escravista. Deram justificagdes para a opressao, servindo tiranos, provocando varios separatismos concordantes com uma sociedade déspota ¢ tirana. Divorciaram a Terra do Céu, pensamento que veio a dominar todo o Ocidente até os dias de hoje. Usaram mesmo. metdéforas da escravatura para ligar 4 sua Politica e 4 sua Cosmologia. Tal como aconteceu a mais de trezentos volumes e brochuras de obras espiritas na cidade espanhola de Barcelona 0 “Auto-de-Fé” de 9 de outubro de 1861, as 10:30 horas da manha, Platéo e Aristételes mandaram queimar e destruir todos os livros dos sabios j6nios, entre eles Demécrito, por este nao reconhecer a imortalidade dos intimeros deuses ¢ porque acreditava na existéncia de um ntimero infinito de planetas. Dos 73 livros que cobriram todo o pensamento humano deste j6nio nenhum ficou - 0 mesmo se passando com quase todos os cientistas jénios. A Teoria Corpuscular do Esptrito, também passou por ataques semelhantes e alguns muito violentos. Coisas normais do homem comum. Ou seja, a supressdo dos fatos inquietantes, a defesa da idéia que a Ciéncia deveria ser reservada a uma pequena elite, o desprezo pela experimentagao, a adogdo do misticismo religioso e a facil aceitagdo das sociedades escravocratas, por si s6, retardaram e influenciaram o progresso da Humanidade. Ainda hoje existem pseudopensadores que se opdem & popularizagao da Ciéncia e, portanto, do conhecimento, dizem que o conhecimento sagrado (apoiando-se como no passado grego, nos dogmas escravistas dos religiosos) é para ser mantido no Ambito do culto, no conspurcado pela divulgacio publica. Parece-me que na Idade das Trevas, aquela que se convencionou a chamar-se Jdade Média, os homens da A Teoria Corpuscular do Espirito 25 Filosofia e da Religido aprenderam bem a licdo de seus pais, Platao e Aristételes. O leitor deverd estar espantado por estas revelagdes acerca de Plato (428/27 a.C. - 347 a.C.) e Aristételes (384 a.C. - 322 a.C.). E, ainda mais preocupado que eu esteja a criticar estes génios da humanidade. Nao, nao os estou a julgar, estou a relatar fatos. A condenacio ficaré eventualmente para 0 leitor. O que eu pretendo dizer com esta histéria veridica — patrim6nio da humanidade — € que até os grandes génios como Platao e Aristételes cometeram erros gravissimos e que, por isso, afetaram a evolugao da humanidade. Como 0 leitor pode constatar, todos nés cometemos erros. Uns mais que outros. Nao existem defensores da “verdade absoluta”. Os grandes “defensores” de Jesus Cristo, da pureza impar de sua mensagem Libertadora e Consoladora, até criaram um exército que O “defendia” a troco da tortura, crime, assassinatos, etc. e tudo sempre em Seu nome. Que o digam os argiiidos do Tribunal da Santa Inquisigéo. Nada melhor que socorrermo- nos duma histéria do Novo Testamento para nos esclarecer: Quando os apéstolos de Jesus foram presos e levados ao Sinédrio por divulgarem a doutrina do Mestre, Gamaliel, um sdbio doutor da Lei, afirmou: “Agora vos digo: Dai de mao a estes homens, e deixai-os, porque este conselho ou esta obra, caso seja dos homens, se desfard; mas, se é de Deus, nao podereis derrotd-los; para que nao sejais, porventura, achados até combatendo contra Deus.” (Atos, 5: 33-42). 0 medo da Ciéncia Depois de um longo sono mistico, em que foram deteriorados os instrumentos da investigacio cientffica, finalmente foi redescoberta a perspectiva jénica. O mundo 26 Herman! Guimaraes Andrade ocidental despertou de novo. A experimentagio e a pesquisa despertaram novamente, que o diga Allan Kardec (1804-1869), no seu trabalho, baseado (experimentagao/pesquisa) nestas prerrogativas. Existe, na atualidade, muito da ciéncia jénica e também uma boa dose de livre e corajosa pesquisa, pelas quais nds, espiritas, nos pautamos, mas também existem temiveis superstigGes e “fatais” ambigiiidades éticas. Estamos feridos e recalcados de contradigSes antigas; alguns de nés ainda defendem estes postulados que destrufram o pensamento j6nico. Nao aprendemos ainda com tantas das vitimas dos auto-intitulados “defensores” como Tito Lucrécio (+/- 98-55 a.C.), Galileu Galilei (1564-1642) e Charles Darwin (1809- 1882). Nos dias atuais, repete-se a hist6ria, muito embora, ja nao se seja assassinado, torturado ou condenado ao cércere no sentido literal da palavra, porém é-se condenado por outras formas. A Ciéncia continua a incomodar muita gente. Em particular os homens do poder. Religiao e Filosofia continuam a vé-la com as lentes do passado. Serd no minimo absurdo, que alguém de formagao teligiosa ou filos6fica venha criticar veementemente uma obra de indole cientffica. Sim, A Teoria Corpuscular do Espirito & de natureza cientffica. Se n&o fosse, a Astrofisica Teérica, Fisica Teérica, Cosmologia e a Matematica (excegao da Criptografia) também nao o seriam. E preciso entender 0 que é Ciéncia. Ou seré que Albert Einstein, Stephen Hawking (1942 - ...) e tantos mais nfo sero cientistas? Joao Magueijo (1967 - ... ), cosmdlogo portugués, é considerado um dos dez maiores génios da atualidade no meio da Cosmologia. Neste milénio, Magueijo publica um livro, Mais rapido que a Luz, editado no Brasil pela Record e em Portugal pela Gradiva. Livro este que teve edigéio nos EUA e A Teoria Corpuscular do Espirito 27 no Reino Unido. Magueijo é autor de uma teoria que questiona a premissa bdsica por tr4s da relatividade einsteiniana: a de que a velocidade da luz no vacuo é sempre constante. Por incrivel que possa parecer, foi perseguido, teve mesmo o seu emprego em risco, como cientista que é, por tal tese académica. A publicagdo de seu livro no Reino Unido foi inicialmente proibida. Como se pode proibir um livro de teor cientffico? Ser que a Inglaterra nao é um pais democratico? Légico que o é. O problema é que recua sempre ao mesmo: a condenacio, pelos nao-cientistas, aos homens da Ciéncia. A velha histéria grega repete-se. O cosmélogo portugués, teimoso como qualquer lusitano, conseguiu que sua obra fosse publicada em terras de Sua Majestade. Mas nao foi ele que o escreveu, foram os seus advogados. Quem o perseguiu e quem continua a perseguir os homens da Ciéncia? Os mesmos de sempre, os burocratas da Ciéncia. Aqueles que nada entendem de Ciéncia e que pensam que sfo os detentores da verdade absoluta. Numa revista cientifica inglesa 0 seu trabalho cientffico foi classificado de “heresia’”’. Ha sempre aqueles que tém uma reagao subjetiva, puramente irracional, no sentido de aversao a qualquer coisa que é nova. E também h4 os que tém uma reacdo objetiva, mas no sentido neutral e critico de que qualquer coisa nova tem de ser testada primeiro. Obviamente tera de ser testada com coeréncia légica, coeréncia matematica, depois com observagées, experiéncias, caso estas sejam possiveis, etc. Reagées negativas ha sempre dos dois tipos. Os primeiros, creio-os completamente inaceitaéveis, os segundos sao importantes, imprescindiveis mesmo, para nos ajudarem a melhorar, a afinar as idéias. Trata-se da critica feita com 0 propésito de aduzir esclarecimentos, corregdes, aquela que permite o progresso. 28 Hernani Guimaraes Andrade Por que continuam algumas pessoas inflexiveis a novas formas de pensamento? Ao progresso cientifico e tecnolégico? Serao os mesmos de antanho? Algumas verdades... Hernani Guimaraes Andrade jamais procurou superar-se a Allan Kardec. Bem pelo contrério. Guimaraes Andrade teve sempre por biissola o professor lionés Hippolyte Léon Denizard Rivail. Homem simples e discreto, nunca procurou evidenciar-se. Sua obra e vida falam por si. Nao deixa de ser no minimo curioso que alguns criticos infundados da obra supracitada utilizassem a Ciéncia Oficial para derrubar a teoria proposta por Guimaraes Andrade para, logo de seguida, utilizarem a mesma ciéncia, para defenderem a existéncia do espirito, do perispirito, do mundo espiritual, de Deus, etc. Afirmaram também que Guimaraes Andrade era um esotérico e mistico. Nao basta dizer levianamente: € necessdrio demonstrar. Pela andlise das suas obras, tal ndo me parece nada correto. Quanto a mim, fui um jovem ateu convicto e orgulhoso, até que encontrei O Livro dos Espiritos e me apaixonei pelo seu contetido, quer pelo teor das perguntas, quer pelo contetido das respostas. Sei também que esse magistral compéndio da Vida nao € nem missal nem livro consagrado, repleto de dogmas e/ou verdades absolutas. A partir de entao, tenho-me dedicado ao estudo da Doutrina Espfrita, tendo sempre por btissola Allan Kardec. Nada tenho aver com religides, seitas ou filosofias esquisitas ou verdades absolutas ou penso vir a ter. Sou um cientista, tenho analisado, dentro de uma perspectiva que nao é s6 minha, A Teoria Corpuscular do Espirito. Nada mais. A Teoria Corpuscular do Espirito 29 Dizem outros criticos que a teoria corpuscular do espirito nado oferece nenhuma consisténcia, do ponto de vista cientifico. Quanta tolice para se afirmar tal inverdade! Que se prove... Nao basta afirmar mentiras. Estamos a falar de Ciéncia, nao de filosofias. Para provar, é necessario demonstrar que a teoria é um equivoco. Espero estar bem vivo para assistir a isso! N’A Teoria Corpuscular do Espirito, primeiro capitulo, Guimaraes Andrade atesta que o Espiritismo precisa progredir, superar os velhos conceitos mecanicistas dos séculos passados e que “os adeptos da Doutrina devem ter a coragem de voltar atrds, se preciso; reformar conceitos velhos; sacudir 0 pé da suposigdo para descobrir a realidade soterrada; abrir mdo do dogmatismo comodista e ignorante, que se aferra a forma e esquece o espirito.”® Estou totalmente de acordo com Hernani Guimaraes Andrade. Apesar de varios equivocos que se encontram na Doutrina Espfrita, os comodistas, os receosos e os poderosos continuam a persistir nos erros que criticam nos outros. Recusando-se a aprender e a corrigir os seus. Como Allan Kardec sabiamente testemunhou em A Génese: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais sera ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitard.”® Mas, apesar de sabermos que nao existe qualquer possibilidade de vida inteligente no planeta Marte, © A Teoria Corpuscular do Espirito, \*, Edigio, do autor, 1958, pagina 17, linha 10, 30 Hernani Guimaraes Andrade continua-se a defender-se 0 indefensdvel. Apesar das provas evidentes, ainda hoje vemos espiritas a cafrem no ridfculo, mas o mais grave é levarem a Doutrina Espirita ao ridfculo. N&o existe qualquer hipdtese de vida inteligente — falamos de vida organizada e encarnada —, quer no Planeta Vermelho quer em outros do sistema solar. Esta é uma evidéncia da minha ciéncia. Por outro lado, em nossas escolas jé se ensinam o que so fluidos e vibragdes. Exceto os teimosos de muitos espiritas que continuam a repetir as mesmas asneiras, contribuindo novamente para a ridicularizagio da Doutrina Espirita, por parte da sociedade esclarecida e do futuro. Esquece-se que hoje os jovens estudantes com 14, 15 anos ja sabem o que é um fluido e uma vibragao. E esses conceitos no sao condizentes com o que o Espiritismo afirma. Eu fico com a Ciéncia. Sei também que Allan Kardec faria o mesmo e foi o que Guimaraes Andrade também fez. Cosmologia & Teorias E necessério niio esquecer que as teorias sfio apenas representagOes da realidade: no sao as realidades“”, Somos nés quem cria uma teoria, resolve as equagdes que dela resultam e verifica se a imagem que se obtém dessa teoria corresponde a realidade. A Génese, de Allan Kardec, 36 Edigao FEB, Capitulo 1, pégina 40, item 55, linha 22, © Por exemplo, os planetas, a0 moverem-se nas suas Srbitas em volta do Sol, niio esti constantemente a resolver sistemas de equagdes diferenciais que lhes dizem como mover-se, tal como também nao esto fixos as esferas celestes Esto, simplesmente, a mover-se, indiferentes aos nossos cdlculos e estudos. A Teoria Corpuscular do Espirito 31 Existem dois tipos de teorias para descrever as leis fisicas do nosso Universo: as teorias construidas e as teorias descobertas. As primeiras sio como um edificio que se inicia por um apoio sélido e onde sao assentadas as paredes, janelas, portas em posigSes que dependem do objetivo do edificio. Se quisermos, posteriormente, mudar as portas, janelas ou paredes, poderemos fazé-lo sem afetar a sua estrutura. Da mesma forma, uma teoria construida pode ser alterada para estar de acordo com os novos resultados experimentais, partindo do princfpio de que os resultados nao contrariem 0 seu alicerce. A teoria descoberta pode ser comparada a um pedago de terra “perdida” e desconhecida no oceano, a época dos navegadores do século XVI. A terra é encontrada casualmente pelo descobridor, quando este percebe que existem muitas gaivotas a passearem nos céus. Onde ha gaivotas, implica que existam peixe e terra. Ap6s circundar as gaivotas, verifica uma enorme linha de terra no horizonte. Ao contrario de uma teoria construida, uma teoria descoberta dificilmente pode ser modificada, uma vez que ndo se pode avaliar 0 pedago de terra antes de o encontrar. Mas, devido ao fato de a “descoberta” se basear em pesquisa tedrica e nio na experimentagio, uma teoria descoberta pode ser desenvolvida na auséncia de novos resultados experimentais, 0 que € deveras dificil fazer com uma teoria construida. Um exemplo de uma feoria construida € 0 modelo- padrao das interagdes fundamentais que descreve trés das quatro forgas conhecidas: forca eletromagnética, forga fraca (responsavel da radioatividade) e a forga forte (responsavel pela estabilidade do préton). Entretanto o modelo-padrao nao descreve a quarta interag&o, a gravitacional. O alicerce do modelo-padrao é a Teoria Quantica da Forga Eletromagnética. Esta teoria jé foi verificada com a preciséo de uma parte em 32 Hernan! Guimardes Andrade um bilho, sendo a base sdlida do modelo-padrao. As outras duas, a forte e a fraca, sao descritas usando-se generalizagdes dos conceitos latentes da Teoria Quantica do Eletromagnetismo. Na década de 70, descobriu-se a possibilidade de as particulas fundamentais serem ressonancia de um objeto unidimensional: uma corda. Esta descoberta foi feita por acaso. A teoria de cordas descreve as partfculas elementares como modos de vibragdo de cordas unidimensionais fechadas (/oops) ou, mais recentemente, membranas bidimensionais. Todavia existem outras teorias que também tentam unificar a gravitagdo com as outras 3 interagGes. A teoria das cordas est4 sendo descoberta e nao construfda, logo as propriedades da teoria nao podem ser adaptadas para concordar com as propriedades pretendidas. A Teoria Corpuscular do Espirito serd uma teoria descoberta ou construida? Atualmente, a teoria das cordas é das mais bem estruturadas que se conhecem dentro da Fisica Teérica. Embora ainda exista alguma controvérsia, a opiniao da comunidade cientifica internacional é a de que esta teoria “is the only game in town”, ou seja, de todas as diversas teorias que emergiram para tentar explicar a nova Fisica para além do modelo “standard”, esta € a tinica que nao foi ainda dada como incorreta.“? O problema que se coloca é que a sua linguagem cada vez se torna mais complexa. Cria-se matematica. Inventa- 0 A controvérsia que existe deve-se & falta de dados experimentais exaustivos para validar a teoria, Na verdade existem ainda muito poucos resultados experimentais. Mas, sem diivida, é uma érea cientifica superativa e em franco desenvolvimento. A Teorla Corpuscular do Espirito 33 se uma nova matemética. Esta linguagem universal comega a ser tao especifica, logo entendida por muito poucos. A Fisica est em todo lado. De fato, as leis da Fisica regem o Universo, o Sol, a Terra e até as nossas préprias vidas. Na sociedade de hoje, em rapido e constante desenvolvimento, estamos cada vez mais dependentes da alta tecnologia — computadores, transportes e comunicagdes sdo apenas algumas das dreas-chave que resultaram de descobertas realizadas por cientistas dedicados aos mais diversos ramos da Fisica. Os fisicos te6ricos usam a Matematica para descrever determinados aspectos da natureza. Sir Isaac Newton (1643-1727) foi o primeiro fisico teérico, embora na época a sua profissao fosse chamada — imagine-se — “filosofia natural”. Atualmente, j4 entendemos estes equivocos propositados, mas no passado os povos tinham usado a Algebra e a Geometria para construir maravilhosos trabalhos de Arquitetura. Porém a Algebra e a Geometria descrevem somente objetos aparentemente imdveis. A fim de descrever as coisas méveis ou de alguma forma em mudanga, Newton inventou 0 Calculo. Criou, entéo, uma nova matematica. Atualmente os fisicos teéricos trabalham freqiientemente nos limites da matematica conhecida, inventando as vezes mateméatica nova, na medida das novas necessidades, tal como Newton 0 fez com o cdlculo. Enquanto © Os objetos moventes visiveis como, por exemplo, o Sol, a Lua, os planetas & as esirelas intrigaram, desde sempre, os seres bumanos. Para eles o cientista inglés criou um novo célculo do céu (Newton) durante a noite, Combinado com as “Leis de Newton”, elaborou um modelo matemstico para a forga da gravidade que descrevia no somente os movimentos observados dos planetas ¢ das estrelas no eéu da noite, mas também de pesos balangando. 34 Hemani Guimaraes Andrade tedrico e experimentalista, Newton empregou longas horas — ao ponto de negligenciar a sua satide — a observar 0 comportamento da natureza, de modo a consegui-la descrever pormenorizadamente depois, as leis que descrevem a natureza nao sao abstratas e a natureza nao se vé forgada a obedecer a estas. Na sua descrigéo é que se emprega a linguagem matemiatica. Nos séculos XVIIe XVII, a teoria e a experiéncia caminhavam juntas. Atualmente, as fungdes da teoria e da observacao esto divididas em duas comunidades distintas na Fisica: as experiéncias e as teorias. Ambas bastantes mais complexas do que na época de Newton. Os fisicos teéricos exploram dreas de natureza na Matematica que a atual Tecnologia ainda nao permite experimentar. Ludwig Joseph Johann Wittgenstein tinha razado.“4 Mesmo assim, perguntamo-nos como pode a Filosofia analisar algo da Ciéncia, se pouco entende de Matematica ou de Fisica ou de Medicina ou Qufmica ou de Informatica ou Engenharia? Partindo de pressupostos que nao entende e desconhece facilmente, chega a premissas erradas. Infelizmente, na atualidade, o grau de especializagio e complexidade evoluiu de tal modo, que facilmente o filésofo pode ser considerado um analfabeto, no que as coisas da Ciéncia diz respeito. As teorias podem ser, simultaneamente, 0 ponto de chegada e de partida de cientistas que nelas esperam encontrar {9 Muitos dos fisicos tedricos tomaram consciéncia de que nfo tém como comparar e/ou experimentar a forma como se harmonizam as suas descrigdes matematicas com a prpria realidade. Aprenderam a viver com a ambigilidade e a incerteza no seu labor descritivo da natureza, usando-se para tanto da Matematica. 9 0 fildsofo austriaco mais conceituado do século XX, Ludwig Wittgenstein, afirmou que “a tinica tarefa que resta & Filosofia é a anlise da linguagem”. A Teoria Corpuscular do Espirito 35 resposta a determinado problema. Ou seja, uns controlam o acerto de suas teorias, outros experimentando (quando da para © fazer); para isso, tém de fazer uma operacgdo intermediaria. Tém de extrair da teoria uma previsio concreta. Tém de antecipar 0 que acontecerd em circunstancias concretas, se sua teoria estiver correta. Aqui reside a proposta d’A Teoria Corpuscular do Espirito. Nao se trata de uma Lei, mas é uma Teoria. Jamais Guimaraes Andrade afirmou categoricamente a verdade absoluta de sua tese académica. Uma Lei, em tese, compde-se de regras e de formulas que enunciam uma relagio invaridvel, constante e mensurdvel entre fendmenos. Todavia, muitas vezes, nao € assim tao linear, jé que, ao longo da evolugao cientifica, nos deparamos com erros grosseiros nas leis, Hipocritamente, alguns cientistas tentam escamoted-las, sem que outros 0 saibam. Outras vezes, por serem de dificil eliminagdo ou substituigdo, os menos escrupulosos “donos” da Ciéncia decidem manté-las, a fim de que nao os afete o descrédito da sociedade. Seria totalmente absurdo irmos buscar um planeta, estrela, galaxia ou até o préprio Universo e submeté-los experimentagao. Como fazé-lo? Colocamos as nossas estrelas, o Sol, por exemplo, num laboratério? Sera que se pode colocar numa lamela para ser observado através de um microscépio, podendo alterar parémetros e/ou manuse4-los? Ser4 que podemos efetuar experiéncias com ele? A resposta parece- nos evidente. Ser um cientista no € 0 mesmo que ser um homem. ou mulher de formagao cientifica; sfo campos bem distintos e com os quais muitos se equivocam. Um cientista trabalha “yinte-e-quatro” horas por dia com a Ciéncia. Vive, come, respira, sonha e ama a Ciéncia. Nao é um filésofo, no sentido usual da palavra. Nao perde tempo com jogos de palavras. E um trabalhador da Ciéncia. Trabalha como os jénios, com as 36 Hernant Guimaraes Andrade “maos”. Apesar de serem milhares as pessoas de formagio cientifica, infelizmente, sfio poucos os cientistas. O cientista reconhece que a tinica certeza que tem é que nfo tem certezas absolutas; tudo esta alicergado nas probabilidades e nas incertezas. Sem dtivida que nao é perfeita, nem pode, mas é uma das melhores ferramentas que o homem tem ao seu alcance, para se autocorrigir e progredir incessantemente. E este 0 alicerce com que o professor Hernani Guimaraes Andrade teve como modelo na elaboragéo de A Teoria Corpuscular do Espirito. Por varias razdes a Cosmologia é uma ciéncia tinica. De um ponto de vista formal — a mais importante — é que em Cosmologia s6 podem fazer-se observagées e nao experiéncias, Existe apenas um Universo para estudar, do qual, alids, fazemos parte, e nao é, portanto, possfvel alterar este ou aquele parametro, este ou aquele ingrediente e registar 0 que acontece de diferente. Naturalmente, isto conduz a alguns problemas sutis. Por exemplo, a questdo de “quao especial é 0 nosso Universo” é de formulagdo complexa, porque nao ha um “universo tipico” que possa servir de comparacio. Obviamente, 0 simples fato de a nossa espécie existir impde limitagSes a possiveis percursos evolutivos ou significados fisicos. Do ponto-de-vista pratico, no entanto, a maior dificuldade esté no fato de as escalas caracteristicas de espago e tempo em Cosmologia serem muito superiores as habituais. Assim, a Lua, que se encontra a cerca de 400.000 km, esta a cerca de 1,3 segundos-luz. Note-se que, ao olhar para a Lua nao a vemos tal como ela é agora, mas sim tal como era ha 1,3 segundos.O céu noturno é de fato uma “maquina do tempo”. Salientamos ainda que a expansdo do Universo é uma expansiio do préprio espaco e nao uma expansao das galaxias num espaco que ja existe. De fato, 0 espaco é A Teoria Corpuscular do Espirito 37 “criado” a medida que o Universo se expande. Além disso, também nao é correto imaginar 0 comeco do Universo como uma explosao em algum ponto do espaco; primeiro, porque nao existe qualquer ponto privilegiado (0 Universo € homogéneo) e, segundo, porque o conceito de explosio esta associado a um gradiente de pressao (e o Universo é isotrépico). Em particular, o Universo pode expandir-se tio depressa quanto quiser: a velocidade de expansao nao est4 limitada pela velocidade da luz, porque nao existe qualquer transporte de energia nessa expansdo. Normalmente, designa-se por especulacdo algo com que nao se concorda, pelo que se poderia pensar que a especulagdo nao tem qualquer papel a desempenhar na Ciéncia. Na verdade, ocorre exatamente 0 contrario. Em Fisica Te6rica, e especialmente no ramo da Cosmologia, passa-se a maior parte do tempo a tentar descobrir falhas nas teorias que ja existem, bem como a analisar novas teorias especulativas que porventura permitam descrever téo bem ou melhor que as anteriores os dados experimentais. Uma das ferramentas é duvidar de tudo que outros propuseram antes, para se proporem alternativas ousadas geradoras de discussio. A tudo isto chama-se Ciéncia. E para isso que nds, cientistas, somos pagos. Albert Einstein tinha a vida facilitada, pois s6 precisava de uma caneta ou de um lapis e de folhas de papel. Sera que Einstein, por ser um fisico teérico e nao utilizando a experimentagao, nao é um cientista? E 0 que dizer-se dos matematicos de profisso (n&o se incluem professores de Matemitica ou pessoas com forma¢io em Matematica, estou a falar de verdadeiros matematicos: pesquisadores de Matematica, cientistas)? Guimaraes Andrade deixou estas premissas bem claras na elaboragao d’ A Teoria Corpuscular do Espirito. 38 Hernani Guimaraes Andrade A genialidade d’ A Teoria Corpuscular do Espirito, bem como da sua proposta cientifica, é a de abrir novos caminhos & discussao sobre a origem do Homem, da Vida e do Universo. Sem querer plagiar o primeiro homem a pisar na Lua em 20 de julho de 1969, da missiio Apollo 11, o astronauta norte-americano Neil Armstrong (1930 - ), diria que A Teoria Corpuscular do Espirito “é um pequeno passo para 0 homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”. Cabe-nos a nés saber aproveitar... Porto - Portugal, 25 de abril de 2007. Professor Doutor Luis de Almeida(*) (Cientista da Agéncia Espacial Européia) © 0 Professor Doutor Luis de Almeida é licenciado em Engenharia Acroespacial, mestre, doutor e p6s-doutor em Astrofisica e Cosmologia Multidimensional. Pesquisador da Agéncia Espacial Européia e consultor da NASA. A Teoria Corpuscular do Espirito 39 Capitulo I O ESPIRITISMO PERANTE AS OUTRAS CIENCIAS “O Espiritismo serd cientifico ou nado subsistira.” Allan Kardec O Espiritismo e as Ciéntias Desde os memoraveis acontecimentos de Hydesville (1848), os fatos do Espiritismo vieram sendo catalogados e, gradativamente, passaram as rigorosas observacées levadas a efeito por intimeros cientistas dos séculos XIX e XX. Como é€ natural, surgiram e ainda surgem os opositores a esta jovem Ciéncia; mas seu numero vai diminuindo diante das provas esmagadoras que se colhem a favor da autenticidade dos fenémenos espiritas. As argumentagGes dos negativistas nado tém conseguido abalar os sdlidos fundamentos do Espiritismo, pois, furtando-se andlise dos fatos abundantes da sua fenomenologia, seus adversdrios agarram-se a preconceitos filos6ficos e teolégicos, aridfculas observagdes pessoais de poucos casos fraudulentos ou a transcrigéo de relatos sem cunho cientifico, incapazes de A Teoria Corpuscular do Espirito 41 contrabalangar 0 testemunho dos verdadeiros estudiosos e pesquisadores. Consideramos, portanto, como realidade incon- testavel, a existéncia do espirito. Negd-la seria 0 equivalente anegar o resto dos fatos observados no Universo; atitude esta que sé se justificaria diante da total ignorancia do assunto ou da mentalidade sectarista fanatizada por dogmas e pre- conceitos. Embora nao concordando com as suas hipdteses explicativas dos fendmenos espiritas, estamos com Richet, quando diz: “Temos lido e relido, estudado e analisado as obras que foram escritas a este respeito e declaramos bastante inverossimil e mesmo imposstvel que homens ilustres e probos como Sir William Crookes, Sir Oliver Lodge, Reichenbach, Russel Wallace, Lombroso, William James, Schiaparelli, Fr. Myers, Zéllner, A. de Ochorowicz, Morselli, Sir William Barrett, Ed. Gurney, C. Flammarion € tantos outros se tenham deixado todos, em centenas de sess6es repetidas diferentemente, apesar de sua vigilante atengdo, enganar por fraudadores e que tenham sido vitimas de uma credulidade chocante. Nao poderiam ser todos e sempre téo cegos para ndo perceberem fraudes que deviam ter sido grosseiras; bastante imprudentes para concluirem quando nenhuma conclusdo fosse legitima; tao indbeis para jamais, nem uns, nem outros, fazerem uma tinica experiéncia impecdvel. “A priori”, suas experiéncias merecem meditadas seriamente e ndo rejeitadas com desprezo",” © Charles Richet ~ Traité de Metapsychique. Deuxieme Edition 1923. Livre Premier, pag. 6. Traduzido este trecho pelo autor. 42 Hemant Guimaraes Andrade O progresso efetuado no setor do Espiritismo Cientifico nao foi pequeno porém seu raio de ag&o nfo tem ultrapassado os limites da fenomenologia meditinica. As pesquisas em torno dos fatos supranormais foram exaustivas. Esquadrinharam-se todos os recantos do vasto edificio do mediunismo e do animismo. Provou-se de maneira cabal a presenga do ectoplasma nas manifestagées telecinéticas e teleplasticas. Constatou-se de maneira insofismavel a intervengio de inteligéncias extracorpéreas, agindo e presidindo aos diversos, variados e chocantes fatos do Espiritismo. Ainda hoje, os pesquisadores praticamente repetem as mesmas experiéncias e as mesmas investigagdes, levadas a efeito no século passado e princfpios deste. Ha, atualmente, em torno dos fendmenos espiritas, uma curiosidade insacidvel, uma tremenda sede de provas da sobrevivéncia do espirito, que muitas vezes impede se v4 além da simples observagio pessoal, faltando, em alguns casos, até o rigor do controle cientifico que sempre presidiu o trabalho sério dos veneraveis e sébios experimentadores de outrora. Lamentamos a quase estagnagdo em que se encontra atualmente 0 componente cientifico do trio inseparavel da doutrina: Ciéncia, Filosofia e Religiao. Admiramos e aplaudimos seu grande avango no campo filos6fico e sobretudo no religioso, aqui, no Brasil. Devemos 4 mediunidade de Francisco Candido Xavier uma aprecidvel evolugao dos conceitos espfritas e, nos admirdveis relatos psicogréficos de André Luiz, podemos colher farta messe de ensinamentos também de ordem cientifico-espirita. Mas onde encontraremos uma teoria que englobe e enquadre todos esses fenémenos dentro de uma armagio racional? A Teoria Corpuscular do Espirito a3 A Fisica, a Quimica, a Astronomia, a Biologia, todas as Ciéncias, enfim, emergiram progressivamente do bojo materno da Filosofia para tragarem véos audaciosos nas asas das teorias. A Alquimia evoluiu para a Quimica, impulsionada pelas teorias e hipéteses da Lavoisier, Proust, Dalton e outros. A Fisica escapou da magia, arrastada pelas concepgdes arrojadas de Galileu, Newton, Hertz, Maxwell, Fitz-Gerald, Minkowshi, Steinmetz, Rutherford, Niels Bohr, Einstein e tantos mais. A Astrologia converteu-se em Astronomia, gragas a Ptolomeu, Copérnico, Keppler, Galileu e muitos outros pioneiros arrojados do pensamento, que buscaram, nas hip6teses formuladas a luz da intuicdo légica, uma antecipagio as constatagdes experimentais, dando a estas um roteiro seguro e um plano de pesquisas dentro da faixa de maxima probabilidade de éxito. No entanto o Espiritismo ressente-se da falta de teorias que Ihe facultem avango seguro na estrada da pesquisa metédica de laboratério. Hoje, abundam meios de investigagao, assim como métodos modernos de ensaios sisteméticos. Os laboratérios de Psicologia vio pouco a pouco ganhando terreno nas sondagens das faculdades e fendmenos da alma, gracas as teorias de Freud, Pavlov e outros. J4 possufmos electro- encefaldgrafos. Os fisiologistas comegam a vislumbrar as possibilidades da psicossomatica na cura de inimeros males. Toda a Ciéncia vai avangando, tendo como guia as hipdteses e as teorias. Acerta aqui ou acold. Retificam-se conceitos basicos. Modificam-se certos detalhes das premissas e, de aperfeigoamento em aperfeigoamento, as teorias conquistam 0 galardiio de leis da natureza. 4a Hernani Guimaraes Andrade Por que nao fazer o mesmo com 0 Espiritismo? Ser que j4 conhecemos tudo a respeito do fascinante problema do espirito; das suas relagdes com o mundo fisico; das suas propriedades; da sua natureza real? Allan Kardec procurou estabelecer uma ordem, uma concatenagao e, sobretudo, uma sintese de todo o Espiritismo, mas nao desenvolveu completamente o assunto. O Codificador veio ao mundo na ocasiao em que a Ciéncia se preparava para uma grande transformagio e os arrojos de pensamento encontravam terreno fértil para rapida propagagao. Os velhos conceitos mecanicistas jA estavam em vésperas de sofrer os seus primeiros abalos, mas os homens ainda julgavam ver na mecanica racional a pedra bdsica para a solugao de milenares enigmas. O espirito cientifico situava-se no ponto ideal em que a razao e o método coexistem com a fé e a intuigao. Os espiritos colaboradores de Kardec revelaram, ent&o, uma doutrina cuja terminologia e fundamentos cientificos foram adaptados ao nfvel da €poca. Nota-se, por exemplo, o acentuado uso das expressées fluido elétrico e fluido magnético, com que topamos a cada passo nas obras do Codifi- cador e, também, na dos autores de obras espiritas e congéneres de entao. Nao vemos a mengio clara e explicita das idéias relativistas e quanticas que estavam para aparecer no entanto Os conceitos mecanicistas de vibracées, éter, etc., continuavam a ser empregados pelos reveladores. Vé-se bem a influéncia do agonizante pensamento cientifico da época, nas expressdes usadas pelos mentores espirituais. Estariam eles errados? Desconheceriam porventura aquilo que hoje é banal e corriqueiro? Pensamos que nio. O escopo da revelacao espirita talvez se limitasse a formar uma base inicial para a Doutrina. Nao interessava, ao que parece, aos supervisores espirituais ensinar Ciéncia Fisica, pois, A Teoria Corpuscular do Espirito 45 certamente, jd deveriam saber do seu progresso dentro de pouco tempo. Visavam, quem sabe, a falar aos homens em sua propria linguagem, para serem entendidos e nao discutidos academicamente. Por isso, provavelmente, nao cuidaram da precisdo tecnolégica dos conceitos fisicos, nem procuraram corrigir as obsoletas concepgdes ainda conservadas pela Ciéncia Oficial, uma vez que tal imprecisao nao viria a prejudicar a idéia basica e fundamental, a qual sé poderia ser bem langada, caso nao viesse chocar-se contra 0 pensamento oficial predominante na época. Allan Kardec declarou, em suas obras, que 0 Espiritismo abriria mao dos conceitos expostos a favor das conquistas da Ciéncia Oficial: “0O Espiritismo, marchando com o progresso, ndo serd jamais excedido, porque, se novas descobertas the demonstrarem que estd em erro sobre um ponto, ele se modificard sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitard®.” Por conseguinte, a Ciéncia Espirita tem campo aberto & pesquisa e ao desenvolvimento de seus princfpios basicos, os quais podem e devem evoluir paralelamente a Ciéncia Oficial. E, tal como esta, precisa progredir até mesmo, se necessario, 4 custa de reforma nos seus postulados. $6 assim, o Espiritismo logrard fugir a triste sorte de converter em dogmas as suas conceituagdes, impondo-as como artigos de fé, precipitando-se na vala comum das doutrinas cristalizadas em religiao. @ Allan Kardec~A Génese, Nova Edico de 1900, Traduzida sob os auspicios da FEB., cap. I - § 55, pag. 43. 46 Hemant Guimaraes Andrade Nao € nosso intuito desmerecer ou relegar a plano secundario os outros aspectos da Doutrina Espirita. O que visamos € alertar quanto ao perigo de atrofia de uma das suas componentes. Nao podemos esquecer-nos do triplice caréter do Espiritismo: Cientifico, Filos6fico e Religioso. O Espiritismo nao pode desgarrar-se da Ciéncia. Necessita acompanhé-la passo a passo. Os adeptos da Doutrina devem ter a coragem de voltar atrds, se preciso; reformar conceitos velhos; sacudir o pé da suposig&o para descobrirem a realidade soterrada; abrir m&éo do dogmatismo comodista e ignorante, que se aferra & forma e esquece 0 espirito. Devemos perder a timidez e 0 comodismo e soltar as asas da inteligéncia, acompanhando 0 progresso, ainda que isso nos custe o sacrificio de imolar & verdade os fdolos da mente iludida. Possuimos farto material coletado através de pesquisas sistematicas, levadas a efeito durante varios anos®. Parece que nos encontramos em posig&o andloga 4 dos cientistas do século XIX, diante dos fenémenos fisicos; um esquema mecanicista ajustava-se quase perfeitamente ao quadro do Universo vislumbrado pelos sabios daquela época. Confirmando a teoria das ondulagdes de Huygens e Euler, Fresnel constatara os fendmenos de interferéncia e difragaio da luz. No sentido de explicar a polarizagao da luz de acordo com a hipétese ondulatéria, admitiu-se um meio eldstico capaz de vibrar e servir de intermediario a propagagio dos raios luminosos: 0 éter. O éter era um paradoxo, devia ser © Ao leitor ainda pouco familiarizado com a parte cientifica da Doutrina dos Espiritos, recomendamos a leitura do espléndido livro: Afinal, Quem Somos?, de Pedro Granja, onde podera encontrar uma sintese magistral dos melhores trabalhos sobre o assunto. A Teoria Corpuscular do Espirito az perfeitamente eldstico, possuir rigidez quase infinita, ser de uma sutileza extrema e encher todo 0 espaco, sem deixar vazios, nem exercer qualquer atrito imagindvel que oferecesse resisténcia ao movimento dos corpos. A teoria do éter césmico fora definitivamente entronizada apés os trabalhos de Maxwell. O mecanicismo atingira 0 seu apogeu, e os sdbios ensaiavam, j4, uma explicagao mecanicista generalizada para todos os fendmenos naturais, inclusive os biolégicos. O Universo era uma imensa maquina. A solucaio do gigantesco mecanismo era questo, agora, de tempo. Nada mais faltava para ser descoberto. Em 1861, A.A. Michelson e E. W. Morley realizaram, em Cleveland, a classica experiéncia com o interferémetro de sua invengao. Procuravam determinar, por meio de experi- mentos 6pticos, “o movimento da Terra com relagio ao éter”. Os resultados obtidos surpreenderam o mundo cientifico. Fora constatada a constaéncia da velocidade da luz. Como conseqiiéncia, o éter universal tornou-se uma quimera. Verificou-se a sua inexisténcia. O ponto nevralgico do mecanicismo fora atingido em cheio. Todas as idéias dai por diante, a respeito da matéria, do tempo e do espaco, deveriam sofrer uma quase total modificagao. Surgiram, entao, os grandes teoristas. A Fisica sofreu profunda revisdo em seus postulados, resultando no espetacular avango que ora observamos. Mas custou algum sacrificio, alguma rentincia, algum dissabor a reviravolta nos conceitos que imperavam até entio, pois os homens se apegam muito 4s suas doutrinas, As suas convicgdes. Nao é facil desarraigar crengas e concepgées, ainda que provemos & saciedade sua inconsisténcia. Por isso, as novas teorias, as novas doutrinas e as novas idéias costumam penetrar mui lentamente a gigantesca 48 Hemant Guimaraes Andrade barragem oposta ao progresso pela intolerancia, pela vaidade e pelo espifrito de rotina. A nossa posigao, como o dissemos, com relagiio aos fendémenos espiritas, tem semelhanga com a dos fisicos do século XIX. Nao se trata dos resultados demolidores, de um novo experimento como o de Morley e Michelson. Trata-se justamente de uma caréncia de experimentagao orientada em outro sentido e precedida de uma teoria que fornega as diretrizes necessdrias. N&o pensamos em uma subversdo ou em uma der- tubada do edificio teérico j4 existente. Acreditamos, apenas, na possibilidade de um pequeno avango no dificilimo campo cientifico espirita, pela formulagao de uma hipotese de trabalho que faculte a incursdo almejada e que coloque o Espiritismo em fase com as progressistas ciéncias de hoje em dia. 0 Atual Aspecto Experimental do Espiritismo Atualmente, intimeros pesquisadores fazem expe- riéncias sistematicas em torno dos fenémenos chamados metapsiquicos. Observam sobretudo os pacientes em transe. Nao obstante o rigor e a orientagao cientifica dessas experién- cias, as observagGes, de modo geral e com raras excegées, ainda nao sairam da fase das manifestagdes meditinicas. Por outro lado, as interpretagdes tedricas dos fendmenos partem, quase sempre, do ponto de vista de Charles Richet, que via em tudo a manifestag&o exclusiva de faculdades supranormais do médium. Com essa idéia preconcebida, os metapsiquistas modernos atiram-se 4 medida e observagao das “emissdes de A Teoria Corpuscular do Espirito 49 ondas cerebrais” ou outros fendmenos correlatos, atentando sempre para a suposigdo de que a manifestagao dos espiritos € uma hip6tese dispensdvel, anacronica e absurda®. Quando saem da rotina metapsiquista, as pesquisas primam por falta de unidade de objetivos e, também, por falta de método cientifico, As experiéncias sao feitas isoladamente, publicadas logo aos primeiros ensaios e, em torno do acontecimento, tecem-se as mais absurdas hipdteses, seguidas de conclusées precipitadas. Assim, tornam-se famosas certas experiéncias, cuja descrigdo é transcrita de narrador para narrador, sem que ninguém se meta a evidencid-las novamente pela observagao, confirmando-as ou contestando-as. E bem notério 0 caso do anteparo feito com uma solug&o de dicianina, destinado a revelar a aura humana. O autor da descoberta é M. Walter J. Kilner, membro do Colégio Real dos Médicos de Londres. A comunicagao foi feita em um livro, em 1912. Em 1920, foi publicado novo livro pelo autor, versando sobre as mesmas pesquisas. Vejamos algumas opinides de observadores daquela époc: Prof. Haschek de Viena (1914): nao concordou com a hipotese da existéncia da aura. Admitiu tratar-se de um fend- meno de oxidagao dos produtos normais de excregao da pele. A. Hoffmann (1919): conclui tratar-se de um fené- meno de sugest&o, ou melhor, de ilusao de dptica, resultante da fadiga retinica. Clifford Best (1923-1924), do Instituto Metapsi- quico de Buenos Aires: constatou tratar-se de fadiga retinica. Como exemplo, ver os trabalhos do Prof. Ferdinando Cazzamalli, publicados na revista Metapsichica, de Bologna-Itdlia ~ Ano IX, Fase. 50 Hernani Guimaraes Andrade O préprio Kilner, autor da tal historia da dicianina, nao conseguiu fotografar, por esse meio, a aura humana. Isso vem confirmar as hip6teses emitidas por Hoffmann e Clifford Best. Essas experiéncias surgem, fazem ruido, sao transcri- tas em revistas e jornais dos meios espfrita e metapsiquista, mas seu reflexo no mundo cientifico oficial € fraco. Seria ma vontade dos cientistas? Pensamos que nao. O defeito nao é da ciéncia — nés sabemos bem disso. Todavia, seriamos injustos, se generalizdssemos essa nossa apreciagao. Indiscutivelmente, ainda existem nticleos espfritas, aqui e no estrangeiro, que fazem experimentagao espfrita de verdade. Citaremos, como exemplo digno de ser imitado, os belfssimos trabalhos levados a efeito com os médiuns Francisco Lins Peixoto (Peixotinho) e Fabio Machado, sob a orientago do ilustre espiritista patricio: Dr. Rafael Américo Ranieri. Os relatos de tais experiéncias foram enfeixados em um livro, intitulado Materializagdes Luminosas (Ed. Lake). Recomendamos a leitura dessa obra, verdadeiro modelo de experimentagao do tipo classico, porém modernissima quanto 4 época em que se realizaram as pesquisas, além do cardter inédito de grande nuimero delas. A Teoria Corpuscular do Espirito 51 A Necessidade de uma Teoria Cientifico-Espitita Lamentavelmente, é tendéncia da Metapsiquica negar a manifestagio dos espiritos, atribuindo ao médium as faculdades necessdrias e suficientes para desencadear todos os fenédmenos. Fundada por Charles Richet, herdou deste 0 seu ponto de vista. Assim, sistematicamente, ela se afasta do Espiritismo e ndo vemos raziio para este correr atris®. O Espiritismo Cientifico, com ou sem a Metapsi- quica, € a Ciéncia dos Fenémenos Espiritas, e nao ha necessidade de mudar-Ihe o nome a fim de achar um lugarzinho entre as Ciéncias. Ele se impord, mais cedo ou mais tarde, ao conceito dos cientistas. Falta ao Espiritismo Cientifico uma teoria que Ihe faculte coordenar os fendmenos e tragar um plano de pes- quisas, prescindindo-se mesmo dos médiuns extraordinarios que permitiram até agora a observagao dos fendmenos metapsiquicos. Uma teoria pode nao corresponder exatamente & realidade, porém torna-se cémoda e econémica, facilitando o avango de um conhecimento e a sistematizacao racional da experimentagdo, dependendo de posterior verificagiio a sua validade ou a corregfo de suas imprecisdes. Uma vez estabelecidos os pontos basicos de uma teoria, firmados os seus conceitos e criada a sua nomenclatura técnica, torna-se vidvel aplicar os instrumentos mateméaticos que suprirao as deficiéncias dos sentidos e a imprecisio das © Ver: Ciéncia Metapstquica ~ Dr. Carlos Imbassahy, Edigdes “Mundo Espirita” — Rua do Carmo, 65, 4°, Andar, sala 1 ~ Rio de Janiero (RJ). 52 Hemani Guimaraes Andrade medidas, levando a dianteira ao empirismo quase sempre oneroso e dificil. Isto posto, resolvemos tentar a tarefa de langar os fundamentos de uma Teoria Corpuscular do Espirito, seguindo o esquema da Teoria At6mica da Matéria. Achavamo-nos avancados em nosso intento, quando fomos surpreendidos pelo interessante trabalho de autoria do ilustre Dr. G. B. Quaglia, publicado na revista Metapsichica, em o ntimero de janeiro — margo 1955, ano X, fasc. I, 4 pag. 27, sob o titulo: “Atomi e molecoli in rapporto alla psiche e ai fenomeni metapsichici”. E escusado dizer da nossa satisfagao ao ver que, no culto meio europeu, cientistas ilustres j4 vislumbram a possibilidade de se estabelecerem as bases de uma teoria nesse sentido, Todavia o trabalho do Dr. G. B. Quaglia difere funda- mentalmente da nossa teoria, no tocante 4 natureza dos constituintes fundamentais do dtomo espiritual, denominado por ele: dtomo psicobiofisico. Trata-se, contudo, de uma magnifica concepg4o, muito bem fundamentada e exposta de maneira elegante, clara e légica. Merecem citados os seguintes trechos desse importante trabalho. “Tratemos, agora, de tragar uma descrigdo do dtomo psicobiofisico. E evidente que, unicamente com o uso de um tal modelo atémico, na explicagdo de alguns fendmenos metapsiquicos, poderemos dar-lhe um significado mais concreto. Como no intcio havia dito (citando as palavras de Heisenberg), nao devemos esquecer que todo novo conhecimento nasce, por assim dizer, pela metade e se equilibra sobre um abismo. Assim é para o dtomo psicobiofisico. O seu uso e a sua aplicagdo, apenas, A Teoria Corpuscular do Espirito 53 poderdo passo a passo tornd-lo plenamente significativo. A experiéncia, somente, poderd consagra-lo. No centro desse dtomo acha-se um niicleo que é 0 oposto do nticleo psiquico”, ou melhor, metapsiquico, no sentido de “mais que psiquico”, ou entao, “além da psique”. Um tal nicleo, evidentemente, nao pode ser percebido sendo interiormente pela mente humana. Nenhum instrumento poderd provar-lhe diretamente a identidade. Isso nado impede que possam idealizar-se experiéncias, com o fim de uma demonstragéo indireta. A integridade mental do homem, a imaginacéo racional, pode reconhecer-lhe a necessidade. O antinicleo é efetivamente um sol espiritual, um pequeno sol vivente em todas as minimas particulas do corpo humano. Esse sol imaterial é, por assim dizer, o traco de unido entre 0 mundo da espiritualidade e a entidade psiquica e somédtica humana®”, G. B. Quaglia apresenta 0 seu modelo de dtomo psicobiofisico por meio de um esquema onde se vé, no centro, um nicleo, tendo em volta desse nticleo “tantos circulos quantos sao os eléctrons e os campos esferoidais neutrinicos”. Ele admite serem os neutrinos as particulas que dio origem ao campo biolégico. Faz, assim, uma tentativa de unido entre o dtomo material e o psicobiofisico. A pag. 46 da mesma revista, lemos essas notdveis palavras: “Ndo me estenderei mais nesses particulares, que requereriam, cada qual, um tratamento a parte. © O grifo € nosso. Opus cit. 54 Hemant Quimaraes Andrade Ao terminar, desejo notar quanto esta hipdtese do dtomo psiquico possa, evidentemente, parecer mera fantasia, porém ela nao é contraria aos princtpios da Psicologia Analitica, a qual foi iniciada e fundada pelo grande psicdlogo-médico, Carl Gustav Jung. A audécia desta hipdtese, se auddcia assim é, é relativa sobretudo 4 ciéncia fisica e biolégica do passado, mas nado certamente, eu o creio, com relagao 4 verdade e a realidade””. Podemos acrescentar que nao vemos outra safda para o desenvolvimento do Espiritismo-Cientifico, a nao ser na hip6tese da natureza corpuscular do espirito. Para sermos mais precisos: somente uma teoria fundamentada sobre tal hipétese podera fornecer os pontos de fixagdo para se encaixarem os raciocinios matematicos necessdrios ao desenvolvimento da Ciéncia Espirita. E por que, perguntard o leitor, se faz necessario 0 tratamento matematico das questGes espiritas? - Respondere- mos com o panorama da Ciéncia Fisica atual, que, embora ignorando o que sejam as particulas tiltimas constituintes da matéria, sabe, com o auxflio da Matematica, como elas se comportam. A nossa posigao, em face do que seja 0 espirito, nao difere muito da do fisico, diante do que seja a matéria. A Teoria At6mica, por exemplo, apenas facultou um esquema para melhor compreenséo dos fenémenos, permitindo a estruturacao das férmulas matematicas. As particulas ou ondas talvez nem tenham realidade no sentido que emprestamos a este vocdbulo, Por conseguinte, nfo serfamos tao ingénuos © O grifo € nosso. Opus cit. A Teoria Corpuscular do Espirito 55 ao ponto de alimentar a ilusio de atingir algo mais do que os. fisicos conseguiram com respeito & matéria. No entanto temos acerteza de que a adigao de uma hipétese corpuscular 4 nogao que temos do espirito atualmente traria inimeras vantagens, especialmente no concernente & orientagdo das pesquisas metapsfquicas, hoje em dia, levadas a efeito com objetivos muito restritos ou de maneira muito dispersiva. 56 Hemant Guimaraes Andrade A LIT Capitulo II DAS BASES DA TEORIA “Como serd o tecido sutil da espiritual roupagem que 0 homem envergard, sem o corpo de carne, além da morte? Tao arrojada é.a tentativa de transmitir informes sobre a questdo aos companheiros encarnados, quao dificil se faria esclarecer a lagarta com respeito ao que sera ela depois de vencer a inércia da crisdlida.” Emmanuel ~ Roteiro A Natureza Corpuscilar das Substancias Leucipo (Séc. VI a.C.) e Demécrito (Séc. V a.C.) legaram-nos a concepgao da natureza atémica da matéria. Demécrito era materialista e concebia a matéria como sendo formada de particulas rigidas, extremamente pequenas, ao ponto de tornarem-se indivisiveis. Seu objetivo envolvia duas idéias: 1. A impossibilidade da divisio da matéria, ao infinito; A Teoria Corpuscular do Espirito 57 2. A redugdo da imensa variedade de substancias conhecidas 4 combinacio de determinados tipos de particulas elementares, satisfazendo, assim, a simplicidade fundamental que deve ser uma caracteristica peculiar 4 natureza. Epicuro (342 - 270 a.C.) e Lucrécio (98 - 55 a.C.), foram seus seguidores. René Descartes (1596 - 1650), em 1625, concluiu nao s6 da existéncia dos 4tomos, como da de particulas ainda menores, aproximando-se, até certo ponto, dos conceitos modernos a respeito da natureza desses corptisculos. Um dos argumentos mais comuns antepostos a concepgao atémica é o da possibilidade ideal de dividir-se uma substancia ou extensao em quantas partes desejar-se. Por pequenas que sejam tais particulas, nada impede que, teoricamente, venhamos a admitir a possibilidade de fraciona- las, sempre e sempre, ao infinito. Veremos que este raciocinio resulta do fato de pretendermos emprestar as realidades da natureza os resultados a que chegamos através de abstragdes mentais, criadas sobre uma interpretagao iluséria daquelas mesmas realidades percebidas através dos nossos sentidos. E muito conhecido o paradoxo atribufdo a Zenon de Eléia (490 - 485 a.C.): “Seja um segmento de reta, limitado por dois pontos: Ae B, separados por uma determinada distancia.” (Fig. 1) A B Figura n. 1 Em um segmento de reta, marcam-se dols pontos Ae B. Um mével deverd percorrer esta distancia AR, indo de A para B. 58 Hemani Guimaraes Andrade — Em quantas partes poderemos dividir 0 segmento dado: AB? A resposta mais comum e imediata é: — Em um niimero qualquer de partes, inclusive em um ndmero infinito de pontos. ‘Vamos admitir que tivéssemos dividido o segmento AB em um ntimero infinito de pontos. Ora, ninguém duvida do fato de ser possivel a um determinado mével ir do ponto A ao ponto B, deslocando-se ao longo do segmento em questao. Consideremos, ent&o, 0 que ocorreré. O mével, partindo do ponto A, passaré ao ponto seguinte, dentro de um certo tempo que designaremos por T. 'T = Tempo necessério para Figura n. 2 atravessar a distancia entre dois pontos consecutivos. Para percorrer a trajetéria AB, 0 mével passard sucessivamente por todos 0s pontos em que foi dividida a distancia de A até B. Os pontos esto representados, na figura acima, por discos, a fim de torné-los visi Representaremos 0 movimento pela figura acima (Figura 2), em que fizemos os pontos como se fossem circulos. Admitamos que T possua um valor determinado, maior do que zero. Existindo um ntimero infinito de pontos entre A e B, o mével levar4 um tempo, também infinito, para fazer o percurso todo. Com efeito, toda quantidade maior do que zero — no caso presente, o tempo T necessério para ir de um ponto ao seguinte — multiplicada pelo infinito, sé podera dar como resultado 0 infinito. Logo o movimento entre Ae B A Teoria Corpuscular do Espirito 59 € impossivel, em virtude de exigir uma eternidade para realizar-se, 0 que contraria a nossa experiéncia didria. Admitamos, entao, que o mével, ao passar de um. Pponto ao consecutivo, ndo gaste tempo algum. Isto equivale a fazer: T=0 (zero). Ainda assim, o resultado seria paradoxal pois zero multiplicado por qualquer quantidade dard sempre zero como produto. Logo o mével nao gastaria tempo algum para deslocar-se de A para B. Isto significa achar-se o mével simultaneamente em A e em B, o que vem a ser um absurdo. Qual a causa do paradoxo de Zenon de Eléia? ~ Resulta do fato de atribuirmos a natureza qualidades ou possibilidades apenas ideais, nascidas das nossas abstragées. A descontinuidade é uma maneira de ser da natureza, ¢ todas as vezes que infringimos tal regra, caimos em absurdos tais como este de negar-se a possibilidade do movimento. A extensdo produz em nés uma sensagao da qual extraimos a nogao abstrata de espago. No entanto, nao devemos acreditar que, fora de nds, a extensdo venha a ser exatamente como a sentimos. Como exemplo, citaremos a sensag4o das cores. O fendmeno real, exterior, que provoca a sensagado da qual extraimos a nogio de uma determinada cor, nao passa de um movimento vibratorio. Sdo duas cousas inteiramente diversas, embora correlatas. A continuidade e a tonalidade sao apenas aparentes para o caso da cor, pois nao nos dao a idéia real da natureza do fenémeno que as provoca. 60 Hernani Guimaraes Andrade O continuo s6 poderé ser considerado através de uma abstragao, por meio de um mecanismo do pensamento. Mas nao podemos levar tal abstragao para o palco dos fatos reais. Assim é que chegamos 4 conclusdo de que nao existe 0 espago em si, pois a nogao de espaco € uma abstracao oriunda da sensacio de extensao, Mas a extensdo depende de seres reais préprios que a formem. Logo a descontinuidade vem a ser uma caracteristica intrinseca da substancia, decorrendo daf que as particulas fundamentais devem existir, independentemente de possuirem extensdo. Seriam, pois, inextensas e at6micas na verdadeira acepgao do termo atémico. A Natureza Corpuscutar do Espirito Consideramos suficientemente provada a existéncia do espfrito como algo distinto da matéria, capaz de animé-la e, também, de manifestar-se independentemente, fora das organizag6es materiais chamadas seres vivos. Os mesmos argumentos Idgicos que levaram a admitir-se a descontinuidade da matéria como necesséria e imprescindfvel sao aplicdveis 4 nog&o que hoje temos do espirito. O espirito, sendo alguma coisa, possui extensio e, em conseqiiéncia, pode e deve ser divisivel ou decomponivel em corptisculos atémicos. O argumento da divisao ao infinito, neste caso, cai por terra pelas mesmas razSes apontadas anteriormente para o caso da matéria. Daf néo podermos sair da concepgdo corpuscular, segundo a qual os elementos Uiltimos existem em ntimero limitado, resultando os demais atributos do espirito da combinacao desses diferentes corptisculos. A Teoria Corpuscular do Espirito 61 Intimeros fendmenos espiritas e biolégicos revelam sua natureza vibratéria. Uma grande maioria leva a concluir que a chave da explicagao do comando do espirito sobre a matéria e da reacao desta sobre aquele reside nas agdes mii- tuas entre dois campos: o biomagnético e 0 eletromagnético®. Admitindo-se 0 espirito como um continuo, varias dificuldades se manifestam para a explicagio destes e dos demais fatos observados. Quando se chega ao terreno das manifestagdes de origem vibrat6ria, tais como as aparigdes luminosas, af entéo a dificuldade se avulta, pois torna-se patente a elasticidade da fonte emissora. Se uma substancia é suscetivel de entrar em vibragao, apresentard partes mais densas e partes mais rarefeitas. Tal peculiaridade contraria as qualidades conferidas aum continuo, 0 qual, a rigor, nao deve apresentar variagdes ou quaisquer outras diferengas em nenhum de seus pontos. Nao podemos atribuir ao continuo propriedades que sé caberiam ao descontinuo. Os fendmenos de aparigdes luminosas, citados como exemplo, revelam que a natureza da fonte que as produziu s6 pode ser eldstica e deve ter uma constituigao corpuscular perfeitamente regular. Poderia objetar-se que o ectoplasma, sendo uma substancia material, teria a propriedade que pretendemos atribuir aos espiritos. Referimo-nos, no entanto, ® O campo biomagnético seria um campo de forgas organizadoras, responsivel pela manifestagdo dos esquemas biolégicos, desde as compiexas estruturas moleculares organicas, até os seres vivos propriamente ditos. Oespitito, pela sua estrutura corpuscular, seria portador de campos biomagnéticos especificos e, por outro lado, poderia sofrer as agdes de campos desta natureza, criados pelas proprias estruturas moleculares e organizagbes biolégicas. 62 Hemani Guimaraes Andrade &s manifestagdes em que o ectoplasma nio intervém e que sao percebidas pelos chamados médiuns videntes e pelos préprios espiritos em seu habitat natural. Naturalmente, devemos subentender que a substncia espiritual é suscetivel de diferenciag&o, pois os préprios espiritos declaram como o sendo de fato. Nos relatos psicograficos de André Luiz, transmitidos através da mediuni- dade de Francisco Candido Xavier, é revelado que os espiritos apresentam uma constituigéo heterogénea, havendo, ali, intimeras citagGes até de 6rgaos perispirituais®. Mas, dirdo alguns, o simples relato de André Luiz nao constitui uma prova cientffica. Argumentaremos com a absoluta honradez do médium, com as descrigGes correlatas, obtidas de outras fontes e, sobretudo, com os abundantes exemplos de fendmenos metapsfquicos, cuja natureza exige a estrutura descontinua do espirito como tinica hipdtese plausivel. Baseamo-nos em auténtica convergéncia de provas. Finalmente, as manifestagdes do espirito, tanto dentro do campo biolégico como no terreno metapsiquico, revelam, indiscutivelmente, ocorrer com ele 0 mesmo que se dé com a matéria. Todavia foge a finalidade desta obra especular sobre tais quest6es. Nosso objetivo principal consiste em estabelecer as bases de uma Teoria Corpuscular do Espirito e testar sua © Ver a magnifica colegdo cujos livros em ordem cronolégica sio os seguintes Nosso Lar, Os Mensageiros, Missiondrios da Luz, Obreiros da Vida Eterna, No Mundo Maior, Libertagao, Entre a Terra eo Céu, Nos Dominios da Mediunidade, Acfio e Reagdo, Evolugdo em Dois Mundos, Mecanismos da Mediunidade, Sexo ¢ Destino, Desobsessdo, E a Vida Continua. - Edigao da Fed. Espirita Brasileira. A Teorla Corpuscular do Espirito 65 eficdcia na explicagdéo dos fenédmenos bioldgicos, metapsiquicos e congéneres. Nao pretendemos apresentar uma solugdo definitiva do grande enigma da natureza do espirito. Desejamos apenas sugerir um esquema, um modelo de dtomo espiritual, atri- buindo-lhe certas e determinadas propriedades. As aplicagdes posteriores na elucidagdo dos fendmenos, assim como as pesquisas de laboratério sugeridas pelo préprio modelo, fornecerao os elementos de corregao ou de total aprovagao do mesmo. Deste modo, recomendamos ao leitor que procure nao incidir no erro, bastante comum, de tomar como realidade objetiva uma representacao esquemiatica. Tal engano tem sido fonte de intimeras interpretages falsas dadas aos modelos do 4tomo fisico, assim como a outros esquemas criados pela Ciéncia para a interpretagao dos fendmenos da natureza. Convém, a respeito disto, citar as palavras de James Jeans: “0 fato essencial reside simplesmente em que todas as configuragées da natureza, esbogadas pela Ciéncia e que parecem ser as tinicas acordes com o fato observacional, sao as configuracgées matemdticas. A maioria dos cientistas concordaria com a afirmacéo de que tais representagdes nao passam de simples croquis ~ ficgdes, se quiserem — se ficgdo significa nao haver ainda a Ciéncia entrado em contato com a realidade dltima”,” James Jeans ~ O Universo Misterioso ~ Edigio de 1941, em portugués, da Companhia Editora Nacional, 64 Hemant Quimardes Andrade Os Componentes do Atomo Espiritual O que se tem observado, até agora, leva a concluir que a maneira de ser das coisas da natureza segue estritamente 0 raciocinio matematico puro. Este fato justifica, portanto, que se arquitete um esquema representativo desta maneira de ser, de forma a possibilitar jogar-se com seus dados do mesmo modo que a natureza usa para jogar com os dela; mas sem confundi-los. No intuito de facilitar a compreens4o dos menos versados em Ciéncias Fisicas, adotaremos um modelo de dtomo espiritual, semelhante ao de Rutherford-Bohr para o étomo material. Sem dtivida, o mais recomendavel seria usar os métodos da Mecfnica Quantica e Ondulatéria e, abandonando qualquer modelo ou representagao sensivel, enquadrar as propriedades do dtomo espiritual dentro de equagdes matemiaticas exatas, as quais traduzissem fielmente todas as suas propriedades. Todavia sacrificariamos a clareza em beneficio da preciséo, fugindo a um dos objetivos deste livro, que é ser inteligivel a um maior ntimero de leitores, dentro, naturalmente, de uma exatiddo razoavel. Desta forma, o modelo de 4tomo por nés adotado consistiré em um niicleo central, em torno do qual gravitarao corptisculos planetérios com érbitas bem definidas. Elegido este tipo de dtomo espiritual, precisamos caracterizar os respectivos elementos componentes, os quais deveriio conter, em gérmen, as propriedades fundamentais do espirito. ee A Teoria Corpuscular do Espirito 65 Observando os seres vivos que nos rodeiam, distinguimo-los imediatamente dos seres inanimados, através de certas peculiaridades comuns a todos eles. Vamos tomar como exemplo a maneira de comportar- se de um animalculo muito citado nos tratados de Biologia e facilmente observavel ao microsc6pio: 0 paramécio. Trata-se de um animal unicelular, isto é, constituido de uma tinica célula, tendo diversas partes diferenciadas e adaptadas as suas varias fungGes vitais. O paramécio movimenta-se, reproduz-se e, logo que encontra substncias nutritivas, tais como bactérias, trata de devord-las. Se algum agente externo o agride, procura fugir- Ihe ou neutraliza-lo. Um obstaculo qualquer que o impega de locomover-se é evitado através de uma série de tentativas. Observam-se mais ou menos as mesmas manifesta- gdes em todos os demais seres vivos, tanto microscépicos como macroscépicos, divergindo tais fenémenos apenas no que concerne 4 maior ou menor complicagio de suas fungées. De modo geral, recaimos sempre em trés grupos distintos: 1. Vida, representada pela coordenagiio das atividades fisicas, quimicas e biolégicas dos seres chamados vivos. 2. Percepgdo-Meméria, caracterizada pela receptivi- dade aos estimulos do meio que envolve o ser vivo. 3. Inteligéncia, tevelada pela correlagao entre o estimulo e a resposta a este mesmo estimulo. Notamos, ainda, que 4 receptividade acha-se aliada a mem6ria dos estimulos, pois 0 ser vivo guarda lembranga dos mesmos, o que 0 leva a prevenir-se contra fatos idénticos, criando defesas ou meios de adaptagiio. 66 Hemani Guimaraes Andrade Nos seres mais complexos, vemos a associagao dessas faculdades elementares resultando nos érgaos dos sentidos e em todo o complicadfssimo aparelhamento de percepgiio, interpretaciio e registro dos fatos. A inteligéncia, armada da percepgao, faz desta seu arquivo de experiéncias, do qual langa mo para melhor aparelhar o ser vivo nas respostas aos estimulos do exterior. Por mais que procuremos achar outra caracteristica fundamental e comum a todos os seres vivos, cairemos sempre nas trés ja descritas: vida, percepgdo-memoria e inteligéncia. Podemos admitir que estes trés componentes, comuns a todos os seres vivos, possam existir em graus diversos, miltiplos de um quantum indivistvel que seré a unidade fundamental de cada um deles. Terfamos assim: - um quantum de vida, - um quantum de percepg&o-meméria, - um quantum de inteligéncia. Esta expressio — qudntum — é aqui tomada como constituindo a menor fragao possivel, tendo, porém, um valor constante, fixo e determinado para cada componente-tipo. Caracterizarfamos cada componente pelas suas propriedades, como se segue: VIDA - como poder de animar a matéria, resultando nas manifestagdes conhecidas tipicas dos seres vivos, tais como movimento, crescimento, alimentagio e demais fendmenos fisicos, quimicos e biolégicos, coordenados neste sentido; A Teoria Corpuscular do Espirito ov PERCEPCAO-MEMORIA — como propriedade de sentir e registrar as influéncias exercidas pelos agentes exteriores; INTELIGENCIA ~ como faculdade de pensar, discernir, querer e responder seletivamente aos estimulos. Acada componente acima faremos corresponder uma particula espiritual elementarissima, capaz de possui-la em seu grau quantico especifico. Teremos, além disto, de dar nomes adequados a estes corpiisculos, de forma a identifica- los facilmente. Propomos, respectivamente, os seguintes: INTELECTON: - corresponde & inteligéncia; PERCEPTON: - corresponde A percepgao-mem6ria; BION: - corresponde a vida. Atribuindo-se ao espirito a propriedade de animar a matéria inerte, podemos identificar seus atributos com os das componentes corpusculares atras enunciadas. Podemos ir mais longe, admitindo que o préprio espirito é produto do arranjo destas particulas, do mesmo modo que a matéria advém da disposigao dos corptisculos atémicos. Os atributos do espfrito resultarao, desta forma, das caracteristicas de seus componentes, ntimero, disposi¢ao e combinagao, tal como obseryamos no caso da matéria, cuja diferenciacao depende dos varios arranjos de seus constituintes atémicos. 68 Hemant Guimaraes Andrade Veremos, adiante, como ser4 possivel compor os diferentes détomos espirituais, jogando com os corptisculos atrés caracterizados. Por enquanto, convém analisar pormenorizadamente estas particulas, a fim de gravar bem na mem6ria as qualidades peculiares a cada uma delas. Lembramos, ainda, que ficou estabelecido corresponder a cada corptisculo um qudntum da propriedade respectiva. Em vista disto, resultam também indivisiveis, representando cada um deles a fronteira limite entre 0 ser e 0 nao-ser constituinte fundamental do 4tomo espiritual. 0 Bion” ¢ 0 “Campo Biomagnetico”. ou “Campo Vital” O Bion é a particula correspondente a vida em si mesma, independente de prévia organizacao. E o agente vivificador da matéria’”. Convencionaremos como negativa a sua natureza energética, e adotaremos 0 sinal (-) para a carga vital quantica da qual é portadora esta particula. Assim, o sinal (-) indicaré sempre uma carga vital oriunda de um excesso de bions nao neutralizados. A carga de um bion vem a ser a unidade de carga vital. 9 Ver O Livro dos Espiritos — livro 1°. cap. IV, Principio Vital - Allan Kardec. A Teoria Corpuscular do Espirito 69 Os bfons podem achar-se livres ou cativos. Em liberdade, formam o grande manancial césmico de fluido vital, ou 0 prana universal dos ocultistas, sendo, assim, atraidos e dirigidos sob forma de correntes vitais, absorvidos, emitidos, condensados, armazenados, tal como ocorre com a eletricidade. Quando cativos, encontram-se nos espiritos, animando células vivas organizadas, vitalizando 0 protoplasma e gravitando em torno dos niicleos espirituais. As culturas bioldgicas, as florestas, o mar, etc., sao fontes riquissimas de bions, dado o mimero considerdvel de seres vivos ali em constante desenvolvimento ¢ destruigdo. Os homens, no futuro, dominaréo completamente esta fonte prodigiosa de energia. Seu emprego revolucionaré a Medicina e, como conseqiiéncia, as moléstias serio totalmente varridas da face da Terra. Os médiuns curadores talvez sejam verdadeiros geradores naturais, capazes de fornecer correntes bidnicas de certa intensidade e que usamos nos pacientes em desequilfbrio de satide. eee Sabemos que uma carga indutora, em movimento, provoca o nascimento de um campo. uma lei da natureza. Por exemplo, se um eléctron descrever uma trajetéria circular fechada, no interior deste circulo apareceré 0 campo que designamos com o nome de campo eletromagnético. Alids, nao & necessdrio que a trajetéria seja circular e fechada. Qualquer movimento efetuado por uma carga elétrica resultaré no aparecimento do respectivo campo eletromagnético. A diregdo e o sentido deste campo sao tais, que sua reagdo sobre a propria carga indutora tende a impedi-la de deslocar-se livremente. A expresséo matemiatica que da a relag&o entre a 70 Hemani Guimaraes Andrade carga, sua trajetéria e o campo, é conhecida pelo nome de Lei de Biot-Savart™, Por outro lado, qualquer variagio de um campo eletromagnético tende a pér em movimento as cargas elétricas da sua vizinhanga, dando, desta forma, nascimento a uma corrente elétrica. Sendo, o bfon, portador de uma carga indutora, também devemos atribuir-Ihe a propriedade de provocar, quando em movimento, um campo biomagnético. Recipro- camente, o bion deverd sofrer a influéncia de um campo biomagnético varidvel. Estabelecidos tais princfpios, achamos licito aplicar uma lei semelhante 4 de Biot-Savart ao movimento de uma carga bidnica, obtendo deste modo a expressio do campo biomagnético criado. Lei de Biot-Savart. i= O valor de uma carga indutora em movimento circular; ds = Um elemento infinitesimal de extensfio percorrida pela carga; M-= 0 valor do campo no interior da trajetéria; r= Raio da trajetéria deserita pela carga indutora, A Teoria Corpuscular do Espirito a Certos fendmenos biolégicos sugerem a efetividade da existéncia de um campo biomagnético ligado as grandes moléculas organicas. Seria um campo organizador, como sugere Jacques Bergier ao comentar as experiéncias de Paul Weiss. Este tltimo, conforme publicou a revista norte- americana “Science News-Letter”, de 5 de maio de 1956, anunciou em um congresso sobre a organizag&o biomolecular, que havia conseguido reconstituir uma pena de galinha, a partir de células do embrido de pinto, dissociadas do seu meio primitivo e separadas uma das outras antes da aparig&o dos germes das penas. O Dr. Weiss, comentando os resultados de suas préprias experiéncias, declarou que as mesmas provaram que “uma porgdo qualquer de células da pele, que nado tenham jamais feito parte de uma pena, pode, desde que em grupo, criar condigdes - um campo — que conduzirao membros do grupo a se deslocarem e a crescerem, seguindo um esquema especifico de organogénese”. Jacques Bergier assim se pronunciou com relagao a comunicagao de Paul Weiss: “E certo que, se essa experiéncia pode ser repetida, a existéncia de um campo organizador, exercendo-se em um grupo de células, ndo poder mais ser negada"””. No interessante livro de J. Bergier, que aqui citamos, fomos encontrar, trés anos depois de havermos ja escrito 0 presente capitulo e com grande prazer da nossa parte, no sé a formulagdo da hipdtese do campo vital, como certas expressdes semelhantes 4s que usamos nesta obra. Para Jacques Bergier - Mystéres de La Vie — Ed, “Le Centurion” ~ 1957, 72 Hemant Guimaraes Andrade satisfazer a curiosidade do leitor e no sentido de demonstrar que as idéias que expomos nao sao destitufdas de sua raziio de ser, assim como nao sdo exclusivamente nossas, vamos transcrever um apreci4vel trecho do trabalho de J. Bergier: “Serd que entre esses campos de forcas ndo existe um campo vital? Um campo cuja caracteristica é a de organizar a matéria e a energia? Talvez esse campo seja reponsdvel pela ordem no organismo vivo. Quem sabe mesmo ele se prolongue para Id do organismo vivo. Explicar-se-iam, assim, tio bem a evolugdo quanto os fenémenos ditos parapsicolégicos. Nestes tiltimos tempos, a Fisica imaginou e mesmo descobriu um grande nimero de particulas novas. Esté tentando descobrir o graviton, portador do campo gravitacional. Acaba de provar a existéncia do neutrino (esta parttcula, durante muito tempo pesquisada pelos tedricos, foi detectada finalmente por Reines e Cowan em agosto de 1956), ligada por sua vez aos corpiisculos de luz e ao campo mesénico. E possivel que detectores extremamente senstveis, colocados no caldo de cultura do Prof. Weiss, detectassem, no momento da reformagao da pena de galinha, particulas novas portadoras do campo de vida as quais poderiam chamar-se vitons ou vitergons. A Biologia teria feito entGo definitivamente sua jungdo com a Fisica e um dos grandes segredos da vida poderia ser atacado pelos matemdticos com todos os poderosos recursos de que eles dispoem”. O Prof. J. Bergier, em brilhante exposigio, apresenta ao mundo uma verdadeira antecipagdo no campo das futuras 4 Opus cit. Pag. 118 — O grifo é nosso. A Teoria Corpuscular do Espirito 73 conquistas da Biologia. Nao tardard, pensamos nds, o dia em que os pesquisadores acabarao por detectar os vitons de que fala o Dr. Bergier. Todavia as propriedades que ele atribuiu as suas particulas, os vitons, diferem um pouco daquelas que atribuimos aos bions. Na realidade, os vitons, tal como séo concebidos na obra de Jacques Bergier, manifestar-se-iam no espago fisico, ao passo que os bions por nés imaginados teriam outro habitat, conforme explicaremos logo mais adiante. As propriedades dos bfons englobariam as dos vitons. Estes seriam 0 resultado fisico-energético daqueles, quando agindo sobre 0 nosso espago — sobre e nao dentro do espago fisico. O campo vital, sim, corresponde perfeitamente & nossa concepgio do campo biomagnético. eee E oportuno assinalar a importancia destes conceitos que atualmente principiam a invadir a propria Ciéncia Oficial, embora ela deva ser materialista por principio légico. Esta eclosio de pontos-de-vista semelhantes é fendmeno natural. Resulta do julgamento simultaneo ou da simulténea observagao de um determinado fato. Se os acontecimentos e os observadores sao semelhantes, evidentemente as conclusdes © serao também. Os fendmenos biolégicos estéo neste caso, especialmente os que a acurada técnica moderna tem permitido reproduzir em laboratério. A reagdo, diante dos extraordindrios e inexplicaveis fatos observados, nao se faz esperar: jd se fala abertamente em um campo vital, em um campo organizador. A titulo de ilustragdo, vamos transcrever mais alguns trechos da mesma obra de Jacques Bergier. a Hemani Guimaraes Andrade Tratando do desenvolvimento de um embriao, Jacques Bergier cita a opiniiio do Prof. Edmund W. Sinnott, decano da Faculdade de Medicina de Yale, considerado uma autoridade em Biologia, opiniao aquela contida no titimo livro do Dr. Sinnott: Biologie de |’Esprit (Edigdes Gallimard, col. Frontiéres de la Science): “As conclusées do professor Sinnott sdo as seguintes: a vida tende para um fim, e é inegdvel que 0 acaso apenas ndo basta para explicd-la. A segunda lei da termodindmica, 0 principio da menor agdo, é contrariado pela vida. E o Prof. Sinnott conclui: “Procuremos nomear alguma coisa que é dificil de traduzir em palavras: existe um principio de organizagao. Este princtpio de organizagGo extrai a ordem da desordem, extrai o espirito da matéria e a personalidade a partir de elementos neutros, impessoais e ndo-diferenciados”. Aseguir, 0 autor cita a opiniao de mais outro cientista e vulgarizador da Ciéncia, John W. Campbell, cujas reflexdes a respeito do campo organizador sao mais precisas: “Campbell considera o principio de organizagao como um verdadeiro campo de foreas no sentido da Fisica. Este campo de forcgas produziria, no espaco onde ele funciona, uma entropia negativa”. Finalmente, destacamos ainda da mesma obra as considerag6es seguintes com referéncia ao professor Wassermann, do King’s College de Londres: “Ele é mais ambicioso que M. Campbell, pois que conta englobar em seu campo, que ele chama a funcdo “V", nao somente os fenémenos organizadores da vida, mas ainda aqueles da evolucdo e mesmo os fendmenos parapsicolégicos”. A Teoria Corpuscular do Espirito 73 A existéncia desse campo vital, ou biomagnético, como o designamos, é conhecido dos espiritos que a ele ja se teferiam h4 muito tempo. Na obra espirita intitulada Missiondrios da Luz, podemos ler o seguinte: “Ligada a mente, através de princtpios eletromag- néticos do campo vital, que a Ciéncia comum ainda nao pode identificar, comanda as forcas subconscientes sob a determinagdo direta da vontade”, Outros fenédmenos biolégicos demonstram a possibilidade de interagio dos dois tipos de campos: 0 eletromagnético e 0 biomagnético. O mecanismo da sensagio é, de todos os fatos, o mais sugestivo da agéo miitua entre estes dois campos. Comegaremos por assinalar o tempo aprecidvel que separa a sensacio de um estimulo, a sua percepcio e interpretagiio e a conseqiiente reag&o. A corrente nervosa nao pode ser identificada com a corrente elétrica, A sua velocidade de circulago j4 é um argumento sdélido contra esta hipétese. Pelo menos um dos nossos sentidos capta os fenémenos eletromagnéticos e os transforma em correntes nervosas. Os olhos executam esta maravilhosa operagao. O préprio cérebro transforma suas vibragdes mentais em correntes elétricas registraveis pelo electroencefalégrafo. ‘Vai mais longe: emite ondas hertzianas, conforme diz ter assinalado o Prof. Cazzamalli®®. da Luz, psicografado por Francisco Candido Xavier, Ed. Federagao Espirita Brasileira, Primeira edigdo, 1945, pag. 21. O grifo énosso. 9 Revista Metapsfquica da A.IS.M., de Bologna, Itélia, ano XX - Fase. I, de janeiro a margo de 1954, 76 Hernani Guimaraes Andrade As ondas eletromagnéticas excitam o crescimento das células vivas e estas, por sua vez, produzem radiacdes eletromagnéticas. E muito conhecida a experiéncia seguinte: Tomam-se duas cebolas e extraem-se-lhes todas as raizes menos uma. Aponta-se uma destas raizes para a haste da outra, conservando-a a disténcia de mais ou menos 2 cm., durante cerca de um quarto de hora. Quatro ou cinco horas mais tarde, examina-se ao microscdpio a raiz que foi exposta 4 ago da ponta da outra. Notar-se-4 que as células do lado atuado manifestam uma proliferagdo anormal. As radiagdes emitidas pela ponta da raiz tiveram seu comprimento de onda medido e constatou-se pertencerem ao espectro do ultravioleta: 0,0003mm de comprimento. Vemos aqui um fendmeno eletromagnético estimulando um fendmeno biolégico, e vice-versa, um meio bioldgico emitindo radiagdes eletromagnéticas. Ahipétese do bfon como carga vital elementar, capaz de criar um campo biomagnético suscetivel de agir sobre 0 campo eletromagnético, parece perfeitamente racional, como se vé pelos exemplos citados. Experiéncias bem conduzidas poderiam fornecer as constantes numéricas que ligam a conversao das duas formas de energia uma na outra. Determinadas as agdes mtituas dos dois campos, eletromagnético e biomagnético, tornar-se-ia simples tarefa de laboratério em calcular a carga vital de um bion, ou seja, o gudntum de energia vital. Do mesmo modo, o conhecimento dessas leis permitiria a construgao de um gerador bidnico, utilizando-se de meios elétricos e mecanicos. A Teoria Corpuscular do Espirito 77 A Realidade do Bion O bion, no 4tomo espiritual, faz o papel do eléctron no atomo fisico. A corrente elétrica tem a sua correspondente na corrente bidnica, cuja influéncia sobre os drgiios fisicos de um ser vivo se manifesta de varias formas. Entre estas, assinalamos as correntes nervosas. Nao se trata, como a principio poderia supor-se, de correntes bidnicas canalizadas ao longo dos nervos. Os bions nao se manifestam assim no espaco fisico. Sua influéncia é apenas indutiva, mas sobre a propriedade indutiva dos bions assenta-se 0 mecanismo da vivificagao da matéria, conforme veremos mais adiante. O bion possui quatro dimensdes, e 0 seu meio de acio € o hiperespago. Também sobre este fato daremos completa elucidagao nos capitulos subseqiientes. Por enquanto, o leitor deverd satisfazer-se com explicagdes mais singelas, assim como nos ensina André Luiz: “Os eléctrons e fotons que vos constituem a vestimenta fisica integram, igualmente, os nossos veiculos de manifestagdes, em outras caractertsticas vibratérias™.” Ema mesma obra léem-se mais estas descrigGes feitas por André Luiz orientado pelo Instrutor Alexandre: © Missiondrios da Luz ~ André Luiz ~ Psicografado por Francisco Candido Xavier — pag, 98 ~ 4%. Edigdo ~ Ed, Federagdo Espfrita Brasileira 78 Hemant Quimardes Andrade “As glandulas do rapaz transformaram-se em nicleos luminosos, a guisa de perfeitas oficinas elétricas. Detive- me, porém, na contemplagdo do cérebro, em particular. Os condutores medulares formavam extenso pavio, sustentando a luz mental, como chama generosa de uma vela de enormes proporgdes"®,” aes Quanto a sua realidade, como poderfamos encarar 0 bion? — Parece-nos que nada ficarfamos a dever aos fisicos, quanto A resposta que caberia A pergunta idéntica formulada com respeito ao préton, ao néutron ao eléctron, etc, Eles sabem, apenas, que € mais c6modo admitir tais particulas, embora nao se consiga definir sua natureza fntima. A razao disto esta em que os fatos sao facilmente explicaveis, quando se considera que elas existem e possuem certas propriedades caracteristicas determinadas pelos fatos mesmos. Diremos, apenas, que entre o eléctron e o bion a diferenga talvez resida unicamente em suas propriedades dimensionais. O eléctron possui trés dimensGes e o bfon, possuiria quatro. Ambos seriam turbilhdes energéticos; nada mais. A diferenga é pequena, mas os seus efeitos sao imensamente grandes. A vida af esta como demonstragio imediata do que acabamos de assinalar. 4 Missiondrios da Luz — André Luiz ~ Psicografado por Francisco Candido Xavier — pag, 98 - 4°, Edigio — Ed. Federagdo Espirita Brasileira, A Teoria Corpuscular do Espirito 79 O “Percepton” € 0 Mecanismo da Percepcao-Memoria O percepton € 0 corptisculo possuidor da faculdade de perceber estimulos e registré-los em um verdadeiro arquivo mental. Tal sensibilidade, associada & meméria do fato registrado, nao deve ser confundida com a percepgao sensorial facultada pelos sentidos nos organismos superiores. Na realidade, ela é a origem da mente receptiva e registradora dos fatos percebidos pelos sentidos, mas, entre uma e outra coisa, medeia um abismo de complexidade, tal como a relagdo entre os pigmentos da tinta e as figuras de uma tela famosa. O percepton conserva a meméria das suas rudimenta- rissimas experiéncias; é a base fundamental das lembrangas e dos registros dos fatos que, somados, irdo constituir 0 cabedal de conhecimentos adquiridos pelo espirito. Dele se originam as faculdades mais complexas do ser vivo, tais como os instintos, certos atavismos, etc. E como um filme sensfvel capaz de perceber e registrar uma grande porgio de estimulos do meio que o envolve, conservando-os em sua seqiiéncia natural, constituindo uma verdadeira hiperfigura crescente, ou seja, um continuum espago-tempo. Essa curiosa faculdade do percepton no que se refere 4 meméria é 0 embrido do senso de duragaio que os seres vivos possuem, facultando-lhes situar, simultaneamente, no espago e no tempo, a série de atuagdes captadas do mundo exterior. Em virtude dessa propriedade do percepton, concluimos que ele deve ter mais uma dimensio além das trés por nds conhecidas. Sua configuragdo abrange, pois, 0 hiperespago; isto é, 0 percepton tem quatro dimensdes. Daf ser-lhe possivel constituir configurages no continuum espago- 80 Hemani Guimaraes Andrade tempo, mantendo a seqiiéncia permanente dos eventos registrados, sem mistura ou fusdo dos mesmos. No capitulo II] daremos uma explicagio do que seja o hiperespago. Por enquanto, seremos obrigados a referir-nos aessas nogées, assim, de maneira rapida, sem o que careceriam de precisio e de ldgica as bases em curso de formagiio, sobre as quais pretendemos erguer a estrutura racional desta teoria. Nao poderiamos falar em registros de eventos, sem introduzir a nogdo de tempo, a menos que admitissemos a fusio dos fatos registrados, o que contraria a nossa experiéncia didria prépria de seres vivos que somos. Uma vez que a memoria dos fatos guarda seqiiéncia no tempo, além da diferenciagio de posigao no espago, sé temos uma safda: admitir a configuragao quadridimensional para o percepton, situando-o no seio de um hiperespago, ou melhor, de um continuum espago-tempo. Sendo receptivo a qualquer estimulo, sua natureza energética resulta neutra. Quer dizer que o percepton, isolada- mente, é bioenergeticamente equilibrado. No entanto esté sujeito a um desequilibrio energético que Ihe permite unir-se ao intelecton, de maneira estavel e intima; forma de associagio esta, quase normal e exclusiva, sob a qual se encontram estes corptisculos. O “Intelecton” ou 0 “Quantum” de Inteligéncia Ativa e Pura O intelecton é a particula ativa e inteligente, centelha divina, sede do pensamento, do discernimento e da vontade; capaz de responder aos estimulos e de interpretar 0 arquivo mnemé6nico do percepton a que estiver aliado. A Teoria Corpuscular do Espirito aL Como o percepton, o intelecton deve possuir configurag4o quadridimensional, sem o que nao teria acesso aos registros daquele. O intelecton interpreta e associa os diferentes eventos que compéem a seqiiéncia fenoménica tramada pelo percepton no continuum-espago-tempo. Assim, toma conhecimento do meio ambiente, através do percepton, relacionando os acontecimentos entre si e deles tirando suas rudimentarissimas nogées de causa e efeito. Isoladamente, o intelecton representa o “quantum” de inteligéncia pura e ativa, e manifesta 0 conhecimento transcendental mais elementar possivel. Suas nogGes talvez nao excedam, nesse estado, as idéias elementarissimas e apriorfsticas de tempo e de espago. Associado ao percepton, ele consegue exercer suas fungdes & custa dos registros efetuados por aquele. Deyemos atribuir ao intelecton uma carga bioenergética que convencionaremos como sendo positiva. Usaremos o sinal (+) para indicar a natureza da carga oriunda de um excesso de intelectons nao neutralizados. O intelecton normalmente associa-se ao percepton, formando com este tiltimo os micleos dos 4tomos espirituais. O campo bioestatico criado pelo intelecton mantém cativos em suas 6rbitas os bfons que vitalizam as moléculas da substancia viva. 0 “Monaton™. a “Monada” ¢ os Demais Atomes Espirituais Assinalamos as principais caracteristicas dos corptisculos que compéem o dtomo espiritual. Inimeras outras poderfamos enunciar, mas ndo o faremos, a bem da clareza que, ao nosso ver, é absolutamente indispensdvel a perfeita fixagao por parte do leitor, dos caracteres mais importantes que se atribuem aos componentes do referido 4tomo. Resumindo, temos as seguintes particulas com seus respectivos atributos quanticos: BION (negativo) = vida PERCEPTON (neutro) = percepgao-meméria INTELECTON (positivo) = inteligéncia. As diferentes formagGes espirituais resultam da associagao destes corpiisculos, os quais se agrupam segundo o modelo do dtomo fisico, assumindo, porém, uma configu- ragio quadridimensional. Neste esquema at6mico-espiritual, 0 nticleo € constituido de combinagées do percepton com 0 intelecton, ao passo que as camadas hiperespaciais orbitarias sao preenchidas por bions em movimento rapidfssimo. De todas as associag6es nucleares, a mais simples é a que resulta da unio entre um percepton e um intelecton. Resolvemos propor-lhe um nome: ménaton. O ménaton € 0 nticleo at6mico espiritual correspon- dente ao préton na escala material. Possui apenas dois constituintes intimamente ligados entre si: um percepton mais um intelecton. A carga biopositiva do intelecton cria um campo em torno desse nticleo simplicfssimo, o qual captura um bion, que passard a girar ao redor do foco de atragio. Em sev giro, o bfon executa uma trajetéria envolvente quadridimensional, constituindo, desta maneira, 0 elemento espiritual ntimero um, ou o dtomo espiritual, mais simples que pode conceber-se, o qual identificaremos como sendo a ménada. (Figura 3) A Teoria Corpuscular do Espirito 85 Este dtomo espiritual elementarfssimo, tendo seu campo biomagnético anulado em virtude do movimento de o bion efetuar-se de forma envolvente quadridimensional, mantém-se em equilibrio neutro fora do nosso espago fisico, ou melhor, tem 0 seu habitat natural no seio do hiperespago. Animando um ser vivo — 0 mais elementar concebivel —, 0 campo biomagnético da ménada representa o protétipo da alma. Neste caso, conforme explicaremos no capitulo IV intitulado “A Origem da Vida”, seu equilibrio biomagnético achar-se-4 rompido, podendo a m6nada atuar em um espago tridimensional, equivalente ao espago fisico. bion — percépton + intelécton oO & (n)< Oc) 2 ménaton \ ‘ S ménada Figura n. 3 A Formagio da Monada. A mOnada seria 0 tomo espiritual mais simples imagindvel. O esquema acima corresponde, na realidade, a entes de quatro dimensées, incluindo a prépria ménada. 84 Hemani Guimaraes Andrade Os outros dtomos da série espiritual terdio micleos mais complexos, 4 medida que subirem na escala do mimero de particulas ali encerradas. Este aumento se dard pela combinaciio sucessiva de ménatons (nticleos da ménada) com perceptons (partfculas neutras), formando dtomos espirituais cada vez mais mentalizados, Chamaremos a estes 4tomos: formagées espirituais simples, ou elementos-espirito. (Fig. 4) percépton _ intelécton., — percépton Q Ow WHQ Ow \ / Percépton in) as ménaton @(*) (*)@ ménaton @@ nucleo (++) percépton ({n) ré~ c bfon go A N 7 Figura n. 4 Formacao de um Atomo Espiritual. © miicleo compae-se de mdnatons (micleos da ménada) aliados a perceptons. O mimero de bions ocupantes das érbitas externas é igual ao mimero de ménatons existentes no ndcleo. © esquema acima corresponde a entes com quatro dimensées, inclusive 0 nticleo. A Teoria Corpuscular do Espirito 85 Assim como os atomos materiais tém afinidade entre si, capacitando-os de combinar-se a fim de formarem moléculas, as formagées espirituais simples também poderao originar combinagGes, as quais levarao o nome de formagées espirituais compostas. A evolugao do espirito resulta do crescimento em complexidade de uma “formagao espiritual composta” e é processada, inicialmente, através da vida no mundo fisico, onde as experiéncias adquiridas nos varios ciclos de encar- nagoes sucessivas tornam possivel a constituigdo de “formagées espirituais” cada vez mais complexas. eee Achamos oportuno comentar, neste ponto, as idéias do ilustre Professor Whately Carrington, Membro do Conselho da “Society for Psychical Research”. Em seu livro, “A Telepatia”, Carrington considera 0 espirito como um sistema de psicons. No cap. IX assim se expressa ele: “De acordo com a minha presente concepgdo, 0 espirito consiste pois em sensa e imagens, como entidades reais existindo por si mesmas, de um cardter ndo-fisico, tendo com as entidades fisicas relacdes do género atras indicadas, entre outras o fato de ter de qualquer modo ancestrais comuns nas entidades neutras como os relata de que se compée o universo organizado. Considero-os, estes sensa e imagens, como sendo os tinicos elementos constitutivos do espirito, do mesmo modo que os eléctrons e os prétons, os pdsitrons € os négatons sao (provavelmente) os tinicos constituintes da Como se vé, hé uma tendéncia em admitir-se uma estrutura at6mica para o espirito. O professor W. Carrington chega quase a comparar os psicons com os constituintes atémicos da matéria, porém nao cogita de assinalar-lhes nenhuma estrutura peculiar: “Nao sei se os sensa, ou imagens, ou os dois sdo sempre ou pelo menos algo reduttveis pela andlise a qualquer coisa de compardvel aos dtomos dos elementos qutmicos, mas isso pouco importa ao objetivo que me proponho.” (Opus cit.) Nés optamos pela estruturagio atémica do espirito, no sentido real e morfolégico que ela evoca. Chamamo-los dtomos espirituais ou elementos-espirito e admitimos para eles a estrutura no estilo dos étomos da matéria, diferenciando- os destes apenas no ntimero de dimensdes e no habitat onde podem manifestar-se livremente. Com seus psicons o Prof. W. Carrington consegue explicar brilhantemente certos fatos da metapsiquica subjetiva. Todavia restam inexplicados os fendmenos objetivos e, sobretudo, os fenémenos bioldgicos, que a Teoria Corpuscular do Espirito aborda facilmente, além de abranger a gama fenoménica esclarecida com os psicons de Carrington. eae Daremos, nos capitulos seguintes, a aplicagéo dos principios basicos da Teoria Corpuscular do Espirito. Antes, porém, de passar a estas questdes mais profundas, faz-se mister um preparo, sem 0 que, muitos leitores deixarao de compreender o significado das expressdes por nds usadas no decorrer desta obra. No presente capitulo, fomos A Teoria Corpuscular do Espirito 387 obrigados a citar algumas vezes os termos: hiperespaco, quadridimensional, continuum espaco-tempo, etc. E, mais para diante, néo poderemos furtar-nos a expressdes semelhantes, embora muito a contragosto, Infelizmente, a prépria natureza do assunto assim 0 exige. Para nao perdermos a precisdo dos conceitos em troca da clareza, preferimos escrever o capitulo III, cuja finalidade € colocar 0 leitor em condigdes de entender pelo menos o significado dos termos empregados. Quanto A parte matematica, tratada de forma elementarissima, ainda que nao possa ser alcangada por alguns, nao serd indispensdvel 4 perfeita compreensao do assunto, desde que as conclusées sejam bem assimiladas. Passemos, pois ao capitulo III, onde o leitor fara um. pequeno estdgio preparatério, necessério ao prosseguimento do estudo encetado nos dois primeiros. 88 Hemant Guimaraes Andrade Capitulo III A QUARTA DIMENSAO E O HIPERESPACO O ndo-matemitico € tomado de uma sensagao mistica, quando ouve falar de “quatro dimensoes”, um sentimento semelhante aquele que produz em nds o fantasma do teatro. E, no entanto, nada € tao banal como a afirmagéo de ser 0 mundo em que vivemos um “continuum espaco-tempo” a quatro dimensées. Albert Einstein A teoria da Relatividade Restrita e Geral ~ARelatividade e 0 Problema do Espago. Os Superficiais A exata compreensao do que iremos expor daqui por diante, a respeito da Teoria Corpuscular do Espfrito, dependerd do conhecimento de certas nogdes ainda pouco familiares a grande ntimero de pessoas. Nao obstante a aridez do assunto, procuraremos desenvolvé-lo da forma mais elementar possivel. Vamos partir do estudo sucinto de um mundo imagindrio, habitado por seres dotados de inteligéncia porém possuindo somente duas dimensdes: comprimento e largura. A Teoria Corpuscular do Espfrito 89 Tais seres viveriam em uma superficie, de modo andlogo ao como habitamos um espaco. Iremos chamé-los de “superficiais”, por causa deste fato, e vejamos como se comportariam com relag&o a nds que, por analogia, serfamos os “espaciais”. Para os “superficiais”, uma linha representaria um. obstdéculo como uma parede ou um muro. Um circulo para eles seria equivalente a uma esfera para nds. (Figura 5) Dificilmente suspeitariam os estranhos habitantes da superficie que fosse possivel a existéncia de um mundo espa- cial. No entanto, alguns fatos inexplicdéveis poderiam leva- los a concluir pela existéncia de mais uma dimensao além das duas por eles jd conhecidas. Por exemplo, se um “superficial” tentasse introduzir algo em um cfrculo fechado, ver-se-ia na O mundo em que vivemos Z_ tem trés dimensées: comprimento, largura e altura (x, y, 2). © mundo onde vivem os seres superficiais tem apenas duas dimensdes: comprimento ¢ largura oy) 0 Figura n. 5 Nesta figura faz-se a comparaco entre um mundo de duas dimensdes ¢ 0 nosso, que possui trés. Um cfrculo, para os superficiais, corresponde a uma esfera, para nés. Do mesmo modo, um retangulo corresponde a um paralelepipedo. 90 Hernani Guimaraes Andrade contingéncia de ter de romper a circunferéncia em um de seus pontos, abrindo ali uma passagem, sem 0 que nao poderia penetrar no circulo. Para nds, representaria simples tarefa intro- duzir ou retirar objetos de dentro do cfrculo, sem romper a circunferéncia, O fato de possuirmos mais uma dimensfo, a altura, ja seria o suficiente para executarmos a proeza. Os “superficiais” encher-se-iam de assombro diante do fendmeno, tal qual os experimentadores espiritas quando assistem ao transporte de objetos para dentro de recintos fechados. (Figura 6 e 7) ‘Um ser bidimensional poderd ser facilmente A removido de dentro para fora de um paralelogramo, sem precisar romper suas linhas de delimitacio. Basta, para isso, que um ser ge tridimensional o tire, fazendo-o passar pela “terceira dimensio” (ou espaco). Figura n. 6 Um ser tridimensional homem) poder ser retirado de dentro de tum recinto hermeticamente fechado, sem precisar abrir passagem por suas paredes ou delimitagdes, Basta, para isso, que tum ser tetradimensional 0 remova dali, fazendo-o passar pela “quarta dimensio” (ou hiperespago). Figura n. 7 A Teoria Corpuscular do Espirito 91 Os “superficiais” iriam defrontar intimeros problemas semelhantes aos que nos preocupam atualmente. Um deles seria a natureza da superficie sobre a qual se achassem, como nds, do espago em que vivemos. Que enigmiatico para eles, i sombras pensantes, 0 misterioso fato de a superficie tudo penetrar, servir de suporte para seu universo, transmitir vibragGes, ser mais resistente do que o mais tenaz dos seus elementos e oferecer menos atrito do que o mais ténue dos seus corpos! Chamé-la-iam éter. Tentariam de mil e uma maneiras descobrir a sua natureza. Alguns acabariam por negar-Ihe existéncia real. O espago tudo penetra, serve de suporte as ondas eletromagnéticas, vibra transmitindo a luz, esté ao mesmo tempo em todos os lugares e corpos, possui intimeras outras propriedades talvez ainda nem suspeitadas, e ndés ficamos, como os “superficiais”, sem saber 0 que ele realmente é. Batizamo-lo com o nome de éter, chegamos a negar sua existéncia e, ultimamente, consideramo-lo a regiao onde se manifestam certos campos de forgas, nada mais. Tenazmente, a ciéncia busca uma solugao, reduzindo tudo a formulas matemiaticas, tinica janela aberta para o imperscrutavel. Mas, assim como os “superficiais” poderiam suspeitar da existéncia de seres “espaciais”, diante de fatos inexplicdveis como o da penetragao do circulo sem violagao da circunferéncia, nds também somos levados a concluir pela existéncia de um mundo hiperespacial, quadridimensional, sem © que, permanecerfio inexplicados muitos fendmenos constatados pela experiéncia. 92 Hemant Guimaraes Andrade O Hiperespaco Do mesmo modo que, para fazer-se uma viagem a um lugar muito distante, necessitamos de aparelhos como avides, navios, etc., vamos, agora, precisar de meios adequados para efetuar uma excursdo ao mundo fabuloso da quarta dimensao. Somos incapazes de imaginar seres ou coisas dessa singular regiaio, pois, ainda que munidos de grande dose de fantasia, nao conseguiremos fugir aos nossos modelos tridimensionais. No entanto, tudo faz crer que, na realidade, os entes do hiperespago seriam uma cépia dos do espaco, porém, com a proporgao de semelhanga da sombra para 0 objeto que a produz. Precisamos, portanto, aparelhar-nos a fim de podermos visitar os mundos do hiperespaco. E a viagem nao serd, infelizmente, tio agraddvel como muitos irao esperar, em virtude do tinico meio de que dispomos para efetué-la: a Matemitica. Tentaremos suavizar o melhor possivel tal situag4o, e estamos certos de que a paciéncia do leitor seré amplamente compensada. Esclarecemos, ainda, que, conquanto seja essencial o tratamento matematico da questao, nao é ele absolutamente indispensdvel 4 compreensio da teoria que vamos desenvolver. Por isso, 0 leitor pouco afeito as disciplinas matematicas poderd, sem inconveniente aprecidvel, passar de leve sobre esta parte, atendo-se, porém, as conclusdes tiradas dai. ‘Vamos considerar duas retas que se cortam em um ponto O, formando entre si um angulo reto YOX. (Figura 8) A Teoria Corpuscular do Espirito 93 y Um sistema de dois eixos cartesianos: OX e OY - define um “espago bidimensional”, A posicdo do ponto P na superficie flea determinada pelas suas coordenadas cartesianas: x e y. Figura n.8 Teremos, deste modo, um sistema de eixos, chamados “cartesianos”, em relagio aos quais poderemos definir as posigGes de todos os pontos que se encontrarem no plano sobre o qual se acham tais eixos. Com efeito, seja um ponto P (Figura 8) situado no plano dos eixos OX e OY. Se projetarmos o referido ponto P sobre esses eixos de referéncia, obteremos os pontos P, e P, situados, respectivamente, sobre OX e OY. As distancias do ponto O a esses pontos tém o nome de coordenadas do ponto P. Se as projecdes foram feitas seguindo diregées paralelas aos eixos perpendiculares, dizemos que x e y sao as “coordenadas cartesianas” do ponto P. Teremos entio: x = OP, y oP, Bastam as duas coordenadas acima para determinar- se a posig&o exata do ponto P (x,y), sobre o plano. 94 Hemani Guimaraes Andrade Os “superficiais” usariam, certamente, as coordenadas cartesianas para o estudo das figuras do seu estranho universo. Dispensando o uso do préprio desenho, poderiam definir perfeitamente uma reta ou uma curva, yeferindo-as a um sistema de eixos cartesianos, tal como o fizemos com o ponto P. Consideremos 0 mundo bidimensional, pais dos “superficiais”, e vejamos até que ponto sua geometria poderia fornecer-Ihes um quadro de seu “universo superficial”. Para eles, a posigao de um ponto seria definida por intermédio de duas coordenadas. Adotado o sistema de eixos cartesianos, tanto para os “superficiais” como para nds os “espaciais”, a representacio de uma figura plana qualquer como, por exemplo, a circunferéncia, a elipse, a hipérbole ou a parabola, seria obtida por meio de equagdes do segundo grau a duas varidveis cuja expressaio generalizada resumiremos, por comodidade, assim: F(xy) = O Se os “superficiais” admitissem a possibilidade de adicionar-se ao sistema mais um eixo cartesiano, perpendicular aos dois outros eixos do plano por eles habitado, poderiam situar pontos fora do seu universo superficial e chegariam facilmente 4 equagio representativa de figuras do nosso espago, tais como a esfera, o hiperboldide, o paraboldide, etc., que so entes geométricos bem conhecidos do espago tridimensional. Seriam equag6es do segundo grau, a trés varidveis, que escreverfamos de uma forma geral e abreviadamente assim: F (x,y,z) = O aD A Teoria Corpuscular do Espirito 95 Sem a necessidade de uma representacio grafica ou mesmo de um modelo, os “superficiais” poderiam estudar analiticamente todas as propriedades da esfera, do hiperboldide, do elipsdide, etc. Para nés, a inclusao do terceiro eixo cartesiano daria um sistema de referéncia espacial. (Figura 9) Um ponto P (x,y,z), figura 9, estaria definido pelas suas trés coordenadas cartesianas: x OP, y = OP, 2 Seria licito incluir-se mais um varidvel em nossas equagées, referindo-as a um sistema de quatro eixos cartesianos? — Pensamos que nada impediria que assim 0 fizéssemos. Daf por diante, 0 ponto P (x,y,z,h), seria definido ‘Um sistema de trés eixos cartesianos: OX, OY e OZ - define um “espaco tridimensional”. A posigo do ponto P no espaco, fica determinada pelas suas coordenadas cartesianas: x,y,z. ve B Figura n.9 96 Hernani Guimaraes Andrade dentro de um hiperespaco de quatro dimensGes. Entaio os correspondentes quadridimensionais da esfera, do hiperboldide, do elipsdide, etc., seriam representados por uma equagao geral do segundo grau a quatro varidveis, cuja expressio abreviada seria esta: F (x, y,z,h) = O ai Sucessivamente, poderfamos acrescentar uma quinta, uma sexta, etc., coordenadas, referindo-as a cinco, seis., etc., eixos cartesianos, e assim estudar as propriedades dos entes geométricos nos espagos de cinco, seis ou mais dimensGes. O assunto seria objeto de uma metageometria Polidimensional. Nao necessitamos ir tio longe. O nosso objetivo alcanga apenas 0 hiperespago quadridimensional. A equagio (III), cuja forma abreviada apresentamos como: F (wy,z,h) = O dm) representa um modelo matematico de hiperfiguras regulares do hiperespago, e poderfamos estudar-lhes todas as propriedades geométricas, inclusive deduzir os resultados da intersecg4o de umas com as outras e, também, com um espago tridimensional. Podemos, pois, manejar estas equagées, prescindindo das figuras reais, por ser impossivel e desnecessaria, neste caso, semelhante objetivagio. Por isso dissemos que a equacao (III) representa um modelo de hiperfiguras quadridimensionais. A equagao (III) desenvolvida para um sistema de eixos quaisquer resultaria muito extensa, razao pela qual a apresentamos sob aquela forma resumida. A Teorla Corpuscular do Espirito 97 As coordenadas: x, yez poderiam ser as coordenadas do nosso espago tridimensional e a quarta coordenada: h neste caso, estaria no hiperespago quadridimensional. Na equacao (IID): F (wy,z,h) = O se anularmos a quarta coordenada, fazendo h =O (zero) teremos F (yz) = O erecafmos no caso de entes do espago tridimensional, os quais sao representados pela equagao (II): F (&y,z,) = O aq Anulando sucessivamente as coordenadas, voltaremos até 0 ponto, onde ndo hé dimensio alguma. ‘Vamos supor que os “superficiais” habitassem uma superficie ndo-plana, e que seu tamanho, relativamente ao seu universo superficial, fosse muito pequeno. Neste caso, dificil- 98 Hernani Guimaraes Andrade mente suspeitariam que um espago superficial pudesse apresentar curvaturas. Se as medidas por eles obtidas nao acusassem discrepncias além da sensibilidade de suas escalas, os “superficiais” admitiriam definitivamente serem habitantes de um universo plano. Uma terceira dimensao nao sairia do terreno metafisico e valeria para eles a Geometria Euclidiana. Os geémetras superficiais, estabelecido o teorema: “a soma dos angulos internos de um tridngulo ¢ igual a dois angulos retos”, entregariam aos fisicos a sua comprovacio. Estes, usando escalas adequadas, procederiam as medigdes de um tridngulo superficial e, nao alcangando, os instrumentos, o erro advindo da curvatura da superficie, concluiriam pela exatidao do teorema, admitindo ser um plano o mundo por eles habitado. Engano semelhante foi cultivado antigamente pelos sdbios da Terra. Consideravam-na plana. Mais tarde, a Geodésia veio permitir a determinagao rigorosa da verdadeira forma do gedide onde curtimos as nossas imperfeigdes. Até h4 pouco tempo, ainda perdurava ilusdo semelhante com referéncia ao espago césmico. Muitos supunham-no infinito e isento de curvaturas. Para um caso assim, valeria a Geometria Euclidiana. Todavia descobertas mais recentes vém dando apoio a teoria da curvatura do espago. césmico. Inicialmente, predominou o ponto de vista einsteiniano que considera 0 espago universal como sendo curvo e fechado sobre si mesmo. Um espago deste tipo seria finito, embora ilimitado. Ultimamente, a observagio da distribuig&o das galdxias pelo espago césmico estd revelando que 0 nosso Universo deve manifestar 0 aspecto de um hiperparaboldide de dois ramos tetradimensional. Nestas condigées, ele ainda seria curvo, porém infinito. A Teoria Corpuscular do Espirito 99 A Curvatura do Espaco Podemos dizer que as primeiras nogées tedricas de espago curvo principiaram com Karl Friedrich Gauss e seu ilustre discfpulo Bernhard Riemann. Este tiltimo apresentou, em 10 de junho de 1854, perante seleto auditério, a sua teoria sobre a curvatura dos espagos de um ntimero qualquer de dimenses. Somente em 1905, Albert Einstein, percebendo a importancia dos trabalhos de Riemann na solugao de grandes problemas cosmogénicos, langou os fundamentos da Teoria da Relatividade, levando as idéias abstratas do discfpulo de Gauss a um contato com a realidade experimental. Segundo as conclusées da Teoria Geral da Relativi- dade, 0 nosso espago césmico é curvo. Tem uma configuragio esférica quadridimensional. Seguindo a nomenclatura de Riemann, Einstein chamou de “continuum espago-tempo” ao conjunto quadridimensional que compée o espago universal. Este “continuum” consta de trés dimensdes de espago e uma de tempo, formando um todo em que nfio podem separar-se, um do outro, 0 espago e o tempo. James Jeans em sua obra O Universo Misterioso, apresenta-nos uma imagem muito interessante no sentido de dar uma idéia mais objetiva do universo einsteiniano: “Em suma, uma bolha de sabao com irregularidades € corrugacées na superficie talvez seja, em termos de coisas simples e familiares, a melhor imagem do novo universo revelado pela Teoria da Relatividade. O universo nao é o interior da bolha de sabao, mas a sua ~ superficie, e cumpre-nos lembrar sempre que, enquanto esta superficie tem apenas duas dimensdes, a bolha- universo possui quatro: trés dimensdes para o espago e 100 Hemani Guimaraes Andrade uma para o tempo. E a substancia da qual foi soprada esta bolha, a pelicula de sabao, é constituida de espaco vazio amalgamado ao tempo vazio...”°% A nossa extrema pequenez ante o tamanho considerével do Universo Césmico torna imperceptiveis e muito inferiores a precisdo de nossos instrumentos os desvios devidos 4 curvatura normal do espacgo. Alguns fatos, néo obstante, puderam pér em evidéncia deformagées mais acentuadas do espago nas imediag6es de grandes campos gravitacionais, conforme previsao feita por Einstein com base na Teoria Geral da Relatividade.% Segundo este sdbio, a luz, ao passar pelas proximidades de campos gravitacionais, sofre um determinado desvio, em virtude do grande encurvamento espacial ali existente. Calculada a deflexdo que sofreria a luz das estrelas cujas projegdes passam bem préximas ao Sol, foi encontrado o valor de 1,75 segundo de arco. As fotografias obtidas pelas expedigdes que foram observar, nas regides equatoriais, 0 eclipse solar, ocorrido em 29 de maio de 1919, revelaram um desvio médio de 1,64 segundo de arco para a juz das estrelas mais vizinhas do disco solar. Levando-se em conta a precisao dos aparelhos utilizados, pode considerar-se © resultado obtido como espetacular confirmagao da previsio feita. Outras observagées experimentais vieram atestar o valor da Teoria da Relatividade e, por conseguinte, das conclusdes as quais ela leva com relagio ao nosso universo césmico. © Q Universo Misterioso - Cia Editora Nacional — So Paulo - Pag. 149 - Edicdo em portugués ~ 1941. © Albert Einstein — La Théorie de la Relativité Restreinte et Génerale — Ed. Gauthier — Villars ~ 1954 - Trad. do aleméo para o francés por M. Solovine. A Teoria Corpuscular do Espirito 101 Citaremos 0 efeito Einstein e 0 desvio da érbita de Mercirio, como as mais interessantes comprovagées desta teoria, além da acima citada. Deformando-se, 0 espago, nas proximidades dos campos gravitacionais, s6 poderd fazé-lo no sentido de uma outra dimenso além das trés espaciais que conhecemos fisicamente. Nao devemos confundir o tempo contado nos ponteiros dos nossos relégios como sendo esta misteriosa quarta dimensdo. Este tempo assim considerado é uma medida relativa a situagdo e estado ao longo de uma das diregdes do hiperespago. Como nao podemos admitir um ser real, abstraindo-nos do tempo de duragiio do mesmo, isto é, um ente instanténeo com realidade fisica, dizemos que as coisas dependem do tempo para existirem objetivamente. Medimos, ento, um intervalo entre dois eventos, o qual pode ser avaliado por meio de relégios, do mesmo modo que nos utilizamos de escalas para medir as extensdes espaciais. Os acontecimentos dao-se no seio de um “continuum” abrangendo trés dimensdes de espago e uma de tempo. Os eventos formam hiperfiguras “espaco-temporais”, e a nogao de passado, presente e futuro perde, para um ser quadridimensional, a significagdo que tem para ndés que habitamos um espago tridimensional. Um habitante do hiperespago pode abranger, de uma s6 vez, toda a morfologia de um fendmeno no espago e no tempo, do mesmo modo que abarcamos com os nossos sentidos as trés extensGes do espaco fisico ocupadas por um objeto material. 102 Hemani Guimaraes Andrade A Natureza Hiperespacial do Espirito No capitulo anterior, mencionamos o caso do percepton e do intelecton, os quais deveriam possuir conformagaéo quadridimensional, em virtude de suas propriedades ligadas ao registro e percepgo dos eventos no espago e no tempo. Sem esta configuracao, nao seria possivel ao percepton reter a meméria dos estimulos, situando-os ordenadamente uns apés outros, em seqiiéncia natural, de modo a constituir verdadeiras hiperfiguras abrangendo um “continuum” com trés dimensdes de espago mais uma de tempo. Uma outra decorréncia do que assinalamos no citado capitulo € 0 fato de o espirito possuir, também, uma configu- ragdo hiperespacial. Conclusao que se tira imediatamente, visto seus constituintes fundamentais serem desta natureza. Por conseguinte, o habitat natural dos espiritos seria 0 seio do hiperespago. Em vista disso, um espfrito pode ter livre acesso ao interior de um recipiente hermeticamente fechado, sem perfurar as paredes que o envolvem, do mesmo modo que os seres do espago fisico conseguem penetrar ou sair do interior de figuras fechadas planas, sem romper suas linhas de delimi- tagao. Nesta propriedade é que reside a explicacio para os fendmenos do transporte de objetos materiais para dentro de recintos fechados, da leitura de livros encerrados, dos diagndsticos de lesdes internas do organismo, das operagdes com extragao de tecidos doentes sem abrir-se o paciente, da aparente interpenetragdo da matéria e intimeros outros, abundantemente citados e relatados pelos experimentadores espiritas e metapsiquistas. A Teoria Corpuscular do Espirito 103 As Etperiéncias de Zoltner Zéllner publicou uma série de experiéncias notabilissimas, enfeixadas em um livro intitulado Fisica Transcendental”, Nessas experiéncias, o professor Zéllner diz ter obtido a prova da existéncia e da natureza quadridimensional dos agentes que atuaram na realizacao dos fenémenos. O proprio Zéllner sustentou a hipdtese de tratar-se de seres inteligentes, dotados de quatro dimensdes ou da possibilidade de deslocar-se ao longo de qualquer uma delas: “Jd tive ocasido de discutir alguns fendmenos fisicos que devem ser posstveis a seres do espaco de quatro dimens6es, uma vez que, sob certas circunstdncias, estejam habilitados a reproduzi-los de modo visivel no mundo material de trés dimensées. Ja discuti, de modo mais ou menos longo, o né numa corda sem pontas, para chegar & dedugdo precedente. Se uma corda tiver as suas extremidades atadas juntas e lacradas, um ser inteligente, tendo o poder, pela sua vontade, de produzir nesta corda curvaturas e movimentos das quatro dimensédes, deve poder, sem desfazer 0 lacre, amarrar um ou mais nés nesta corda sem ponta. Esta experiéncia foi efetuada com bom éxito, em Leipzig, em 17 de dezembro de 1877, as 11 horas da manhd, na presenca do médium americano Sr. Slade. (opus cit). @ Johann Carl Friedrich Zéliner — Alemanha— Professor de Astronomia e Fisica na Universidade de Leipzig, membro da Real Sociedade Saxdnica de Ciéncias, ‘membro correspondente da Real Sociedade Astronémica de Londres e da Imperial Academia de Ciéncias Fisicas e Naturais de Moscou, membro honoririo da Associagdo de Ciéncias Fisicas em Frankfurt — Sobre 0 Maine, da Sociedade de Estudos Psiquicos de Paris e da Associagdo Britinica Espiritualista de Londres. 104 Hemant Guimaraes Andrade O trabalho do Prof. ZélIner contém uma série de relatos extraordindrios de notdveis experiéncias feitas sob tigoroso controle e com a presenga de observadores insuspeitos: Fechner, Weber, Scheibner e outros. Entre tais experiéncias, salientamos a descrita acima, a respeito dos nés dados em uma corda tendo suas extremidades atadas, lacradas sobre uma mesa & plena luz do dia, estando o médium sob as vistas de dois outros observadores e com as maos seguras. Na série de fatos descritos por Zéllner, encontramos casos de aparecimento e desaparecimento de objetos sélidos, como seja: 0 extraordindério fenémeno de uma mesa que desapareceu para reaparecer momentos depois, descendo do teto, a plena luz. Para todos estes fatos Zéllner propés uma explicacgao baseada na idéia da intervengio de seres inteligentes, capazes de agir dentro de um meio de quatro dimensées. Admitiu, como tinica hipdtese, a existéncia de uma quarta dimensao. Comentando as experiéncias de Zéllner e dos demais metapsiquistas, René Sudre, em sua obra laureada pela Academia Francesa, Os Novos Enigmas do Universo, assim se expressa: “Estes fendmenos metapstquicos, que os sdbios vém verificando isoladamente de quando em quando, porém aos quais n@o héo dado ainda direito de cidadania na Ciéncia, embora muitos, e dos maiores, estejam convencidos de sua realidade, nao encontram melhor explicagdo que a proposta por Zéllner. Agora que Einstein ndo vacilou em deformar o espaco e o tempo para explicar as grandes forcas naturais, néo hd maior atrevimento em agregar uma quarta dimensGo ao espaco para explicar as dissimetrias dos cristais e dos seres vivos e 0s “milagres” da telergia, para mudar uma concha direita em uma concha esquerda, entrar em um espago ‘fechado e fazer nés em uma corda sem pontas livres”. A Teorla Corpuscular do Espirito 105 Apoiados, pois, em fatos e opinides de sdbios renomados, nao vacilamos em prosseguir em nossas especulagGes sobre a natureza do espirito. Polarizacao dos Atomos Espirituais Quando livres e em estado normal, os elementos- espirito devem apresentar uma configuracao quadridimen- sional. Seus bfons, gitando segundo um espago envolvendo os respectivos nticleos, geram uma figura de quatro dimensGes. Em dadas circunstancias, esta configuragao tetradimensional podera ser alterada. Um dtomo espiritual, sob a ago de um campo adequado e suficientemente intenso, sofreré uma polarizacao, isto 6, a trajetéria e os movimentos dos bfons se modificarao. Como conseqiiéncia, tais corptsculos passarfo a girar segundo uma superficie envolvendo uma figura tridimensional. A perda de uma dimensao ird acarretar 0 aparecimento de um campo, ao qual demos o nome de “campo biomagnético”, por ser gerado pelos bions em seus movimentos, tanto de translagdo em torno do micleo como de rotag4o sobre si mesmos, admitindo-se que também possuam spin. Em estado de polarizaga4o, o 4tomo espiritual assemelha-se ao dtomo fisico, naturalmente com certas diferengas importantes. Ambos manifestam-se dentro de um © Spin & uma palavra inglesa que significa rotagdo. 5 fisicos holandés Goudsmith e Uhlenbeck (1925), para explicar a origem da estrutura ultrafina dos espectros luminosos, admitiram que os eléctrons giram sobre si mesmos, isto é, que tém um spin. 106 Hemant Guimaraes Andrade espago tridimensional. Todavia 0 4tomo espiritual nao perde totalmente a sua configuragiio tetradimensional; o nticleo e mesmo os bfons deformam-se apenas em parte. O campo origindrio do spin destes corptisculos seria proporcional a esta deformagao parcial. As influéncias miituas entre os campos eletromag- nético e biomagnético devem causar, nas proximidades da matéria, constantes deformacGes nas camadas bidnicas dos 4tomos espirituais, resultando em freqtientes polarizagdes destes ultimos. O maior ou menor mimero de bfons nas camadas envolventes dos nucleos dos elementos-espirito determinaré sua maior ou menor suscetibilidade de polarizagdo. Por conseguinte, de todos eles, a ménada deve ser o mais facilmente polarizavel. Veremos, no decorrer da presente obra, ser importantissima a hipdtese da polarizagéo dos détomos espirituais, cuja adogao trar4 esclarecimento para inimeros fendmenos bioldgicos, dentre eles, o da vivificagao da maté- ria, consequentemente, o da encarnagdo do espirito. A Qpiniao dos Sabios No final do presente capitulo, em que tratamos de maneira tio resumida um assunto sobre o qual poderiam escrever-se varios volumes como este, merecem citadas as opinides de alguns sdbios, sobre a questao do hiperespago. Einstein, admitindo a curvatura do espago, implicitamente admitia a realidade do hiperespaco: A Teoria Corpuscular do Espirito 107 “Pelas razes apontadas, parece ser que devemos admitir a idéia de um universo em expansdo, apesar do seu curto “tempo de vida”. Se se procede assim, a principal questo resulta ser a de se 0 espaco tem uma curvatura positiva ou negativa”.29 Como a constatagao da curvatura positiva depende da medida da densidade média de matéria no Universo, acrescenta: tempo: “Pode conceber-se que seja possivel demonstrar que o mundo é esférico (é dificil imaginar que se possa demonstrar que é pseudo-esférico). Isto depende do fato de que sempre pode dar-se um limite inferior para densidade média do Universo, mas nunca um limite superior”. Einstein referia-se sobretudo ao continuum espaco- “Portanto: 0 mundo dos acontecimentos forma um continuum quadridimensional” 2 Lincoln Barnett, em sua interessante obra de divulgacao: The Universe and Dr. Einstein, que j4 existe traduzida para o portugués, diz: © The meaning of Relativity ~ Albert Binstein. 9 A. Binstein e L. Infeld. A Evolugéo da Fisica, Ed. Cia. Editora Nacional, S. Paulo - 1939 5 Opus cit 108 Hemani_ “As distorgdes combinadas, produzidas por todas as inumerdveis massas de matéria que existem no Universo, {fazem que 0 continuo se dobre sobre si préprio, formando uma grande curva césmica fechada”.?® James Jeans expressa-se claramente a este respeito: “Assim como a sombra sobre uma parede forma uma projecdo bidimensional duma realidade de trés dimen- sdes, também os fendmenos do continuum espago-tempo poderéo ser projegdes quadridimensionais de realidades que, de fato, ocupam mais de quatro dimensées.”°? Deste modo, James Jeans admitia a possibilidade de realidades até mesmo além das quatro dimensdes do continuum espago-tempo. Eddington em seu 6timo livro: Espago, Tempo e Gravitagdo, assim se expressa: “Por muito fecunda que seja a teoria do universo de quatro dimensées, é dificil deixar de ouvir uma voz interior que nos diz: “Do fundo de tua inteligéncia, bem sabes que uma quarta dimensdo é um desatino”. “Imagino que esta voz tera ressoado frequentemente na historia da Fisica. E porventura desatino dizer que esta mesa sdlida, em que estou escrevendo, é uma colegao de eléctrons que se movem com velocidades prodigiosas em espagos vazios que, relativamente as dimensées 5 Lincoln Barnett — O Universo e o Dr Einstein. Ed. Melhoramentos — $. Paulo - 1955. © James Jeans — O Universo Misterioso, Ed. Cia. Editora Nacional - S. Paulo ~ 1941. A Teoria Corpuscular do Espirito 109 eletrénicas, sao tao grandes como os que existem entre os planetas do sistema solar? E desatino dizer que o sutil ar tenta esmagar meu corpo com uma carga de quatorze libras por polegada quadrada? E desatino dizer que 0 enxame de estrelas, que neste momento vejo através do telescépio, é resplendor de uma época que se passou faz 5.000 anos? Nao nos deixemos seduzir por esta voz. Esté desacreditada.” A seguir, Eddington esclarece bem a questio: “Porém a afirmagdo de que o tempo é uma quarta dimensdio pode suscitar dificuldades desnecessdrias, que uma definigdo mais precisa evitaria. No mundo exterior é onde estéo as quatro dimensées, nao nas relagées do mesmo com a pessoa que faz um estudo direto do espaco e do tempo.” L’Abbé Th. Moreux, Diretor do Observatério de Bourges, dedica ao estudo do hiperespaco grande parte de sua obra intitulada: Que hd de ser de nds depois da morte? Eis alguns trechos deste curioso trabalho: “Esta nocdo de hiperespaco, jd que em simesma nada tem de absurdo, apresenta, portanto — quer queiram quer ndo ~ a possibilidade de um fato e este fato fica acesstvel & nossa inteligéncia. Mais ainda: esta hipétese cuja legitimidade nds 56 podertamos negar, negando a légica humana, dd-nos 0 ® A.S, Eddington - Espacio, Tiempo y Gravitacion, Ed. Calpe - Madrid — Barcelona - 1922. 110 Hernani Guimaraes Andrade direito de a submetermos & Andlise Matemdtica, de a estudarmos pormenorizadamente, aplicando-lhe as regras que nos dirigem tanto na nossa Geometria, como nos nossos processos algébricos.” Logo mais adiante, mencionando fatos supranormais reconhecidos oficialmente pela Igreja como auténticos, onde os espiritas e metapsiquistas enxergariam imediatamente os fenémenos classicos de bilocagio, telestesia, etc., acrescenta: “Todos estes fatos — repitamo-lo — s6 podem ter-se realizado por uma mudanca das leis que regem atual- mente o nosso mundo espacial. Portanto foi por um milagre. Enfim, ignoraremos sempre 0 intimo mecanis- mos do fendmeno, mas a Metageometria, a do Hiperespaco, em particular, que estudamos, ai fica para esclarecer com nova luz estes fatos extraordindrios e para nos demonstrar que, em si mesmo, ndo sdo nem absurdos nem opostos a razdo.""? A linguagem, como se vé, além do cunho de autoridade cientifica do eminente astrénomo, est4 impregnada de Teologia Romana, o que, em absoluto, nao Ihe tira o grande valor; até pelo contrario... Ao concluir este subcapitulo, nfo deixaremos de transcrever também os seguintes versiculos do Bhagavad Gita. © L’Abbé Th. Moreux - Que hd de ser de nds depois da morte? — Tradugao portuguesa da 45*. edigGo francesa, por José Agostinho, Ed, A. Figueirinhas, Ltda. — Porto ~ 1938. A Teoria Corpuscular do Espirito Mt I 4—-“Todo este Universo, tanto em suas partes, como em sua totalidade, é uma emanagio minha, e Eu 0 penetro em minha forma invisfvel, Eu que sou o imanifesto. Todas as coisas de Mim provém, mas Eu niio tenho origem nelas; em Mim esto todas as coisas, mas Eu — em minha Divindade — nao estou compreendido nelas. 5 — Nao pense que todas as coisas sejam Eu mesmo. Eu sou o sustentador de tudo, penetro tudo, mas nfo sou limitado nem encerrado nisso.”° Magnificas e extraordindrias palavras, escritas ha milhares de anos, e que encerram a “mais alta ciéncia e 0 maior mistério”, conforme declara o titulo da parte IX: RAJA — GUHYA-YOGA, e que, hoje, 4 luz dos modernos conheci- mentos, estamos compreendendo melhor. Vemos, ao travar conhecimento com a sabedoria antiga, que muitos s&o os caminhos através dos quais podemos atingir 0 conhecimento das causas das coisas. Aqueles que s6 admitem a porta estreita dos sentidos como meio de constatar as verdades intuidas pela mente dificilmente encontraraio uma explicagio “racional” para as verdades como esta, reveladas pelos instrumentos do espirito. © Bhagavad Gita — Trad. de Francisco Valdomiro Lorentz, 4*. edi¢ao da Empr. Ed, “O Pensamento” Ltda. - S. Paulo ~ Parte IX - Vs. 4e 5. 112 Hemani Guimaraes Andrade Hiperespaco. Reatidade Objetiva ou Subjetiva? Parece-nos que esta quest&o ainda se encontra pendente de solucio definitiva. Nao que sejam nulas as razdes e mesmo os fatos a favor da interpretagao de uma quarta dimensao como realidade objetiva, porém a Ciéncia Oficial ainda n&o possui todos os elementos necessdrios para um pronunciamento definitivo sobre tal proposigao. Todavia, seja objetiva ou subjetiva a existéncia do hiperespago, isso nado importa e mesmo nfo invalida a solugdo que apresentamos para o problema da natureza do espirito. Fundamentalmente, continuamos a manejar esquemas ou modelos correspondentes a uma realidade ainda inacessivel. O mesmo ocorre com a Fisica. Chegaremos, por exemplo, um dia, a compreender 0 misterioso fenémeno que se esconde sob a aparéncia corpuscular do eléctron? O préprio modelo do dtomo, mais em voga atualmente, porventura nao passaria de modestissima e imperfeitissima caricatura da realidade? Quando subimos 4s intricadas expressdes matematicas, que nio deixam de ser também modelos melhorados, vamos encontrar a mesma situagdo. Ai, entao, topamos com outros tipos de engenhosas ficgGes, se € licito designar assim os espagos de Hilbert e de Minkowski, as matrizes de Heisenberg e a equacdo de Schrédinger, os tensores e uma infinidade de outros artificios extraordinaria- mente geniais, criados para a interpretagdo do grande enigma que é o mundo em que vivemos. Nao importa, pois, por enquanto, saber se estamos considerando uma realidade objetiva ou subjetiva, isto 6, se 0 hiperespago existe fisicamente ou apenas metafisicamente (no A Teoria Corpuscular do Espirito is ee i sentido de para 14 da realidade fisica). Basta que possamos armar nossas equagdes e com elas descrever coerentemente todos ou a maior parte dos fendmenos que estamos tentando abordar; ou entéo, usando modelos com propriedades especiais, dar uma idéia do mecanismo dos mesmos fenémenos. Por isso, recomendamos ao leitor que procure aceitar os conceitos, apenas sob esse ponto de vista; é recomendavel nunca perder-se 0 contacto com a realidade fisica, acessivel & experimentacio. ‘A adociio do modelo nao deve implicar a aceitagiio de sua realidade objetiva. Porém, nao devemos depreciar o valor do modelo, pois sem ele seria diffcil o estudo racional da fenomenologia a ser pesquisada e conhecida. E licito duvidar-se da realidade até do espago fisico, mas isso nao deve impedir que usemos a hipdtese da sua existéncia quando, por exemplo, tivermos de calcular 0 volume de um sélido. 114 Hemani Guimaraes Andrade Capitulo IV DAS FORMACOES ESPIRITUAIS “Donde venho? De eras remotissimas, Das substéncias elementartssimas, Emergindo das césmicas matérias. Venho dos invistveis protozodrios, Da confuusdo dos seres embriondrios, Das células primevas, das bactérias”. Parnaso de Além-Tumulo Augusto dos Anjos (Trecho de poema psicografado por Francisco Candido Xavier), Editora FEB. Formagoes Espirituais ‘Vimos, no capitulo II, as caracteristicas fundamentais dos corptisculos que entram na composigio dos espiritos. Tomamos conhecimento, também, dos princfpios basicos que regem as combinages destas particulas, a fim de formarem os elementos-espirito. ‘Vamos, no presente capitulo, estudar as diferentes modalidades de espiritos que resultarao da combinagao destes elementos fundamentais, dando origem as “formagdes espirituais”. A Teorla Corpuscular do Espirito 15, a tsts—<“

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