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CeCe ee Set een eee Mosos — como o Centro Georges Pom- Piel emo aT aTe) [ease CoC Ro ECe an ee OS ecu a nce acta eee Coe auc eat ee ete ee monstra, nas entrevistas concedidas ao jor- naalista Renzo Cassigoli aqui reunidas, que RCO Rel eee Mica A sempre estar na escala das necessidades humanas COC etic eae ee sia) CO Roun neck eat Cmte ae toae iets Cec Ramee euicomee neti CO cee ct eck sas finalmente, a maior das responsabilidades. MN & ci rm fa ra Fy ce ) a a uh Gg 2 iy A arquitetura sustentdvel Em seu Diério de bordo voce escreveu: “Se respeito a0 ambiente significa pér umas sandélias ¢ caminhar pelo campo, entio no me interessa”. Depois voc? explicou o conceito assim: “E correto, no entanto, falar de sustentabilidade da arquitetura, que é coisa bem diversa: significa entender a natureza, respeitar a fauna flora. Situar corretamente edificios e construgées, desfrutar a luz co vento”, O ques preende nessa declaragéo & que, pelo que sei, Renzo Piano é 0 nico a falar de uma “arquitetura sustentével” 20 final de um século ¢ de um milénio em que fomos compelidos a \certar as contas com a sustentabilidade de um desenvolvimento (que nio é infinito) em selagio direta com a salvagio do planeta ¢ das espécies que © habitam. E 0 que suspreende mais ainda é que vocé nao sé fale disso, desafiando a Utopia a tornar-se um lugar possivel para @ homem, mas também ponha em pritica 0 conceito por meio de obras realizadas em pa(ses e continentes diversos. Nesse sentido, citem-se 0s exemplos dos dois projetos rea- lizados no Pactfico: 0 Centro Cultural Canaque em Numeia, na Nova Caledénia, ea torre de Sydney. Mas poderiamos mencionar muitas outras obras, do museu da Fundacio Beycler na Basil 20 [projeto de renovasio do edificio] Lingotto de Tarim. Uma —_ escolha que implica respeito nio sé pelo ambiente, mas também pela cultura que nele se exprime. Uma relacao inteligente com 0 ambi nte que, segundo suas préprias palavras, “assim como todas as relagdes inteligentes, também comporta certo grau de tensio entre 0 construido e a natureza”. Mas como se chega a conceber a “arquitetura sustentivel” Como se chega? Bi fn se cheg pergi dizer que cheguei a0 ando; depois, como empre acontece, aos pouces fui crescendo. E ao crescer a gente sso” sio duas armadilhas infernais, ¢ que em seu nome cont fnuam nos fizendo mal. Assim como continua fazendo mal outra nental neste pais e na sciment este pais e na Europa: “crescimento’ © crescimento nio pode ser inf 0. Foi isso que o fer pensar ‘arquitetura sustentave plodirem e construirem as piores periferias, feitas de muros, mas sem p Je muros, mas sem sestruturas nas quais uma sociedade se organiza e vive. E assim qui se chega a refletir sobre uma “arquiterura sustentivel”. No segundo Pago ao campo c aos povoados vizinhos, dando vida a uma espécie dle conurbagio continua. Por fim, hoje, depois de tantos pecados E endo, por exemplo, comecamos a pensar desde os anos 1980 so bre como estévamos construindo ¢ a refletir s cidades implodirem, deveriamos tentar reabsorver os vazios urbanos provocados pelo processo de desindustrializacéo; deveriamos tentar recuperar aqueles “buracos negros” criados pelas dreas industrais que se iam liberando a medida que a cidade, ao crescer, tornava ne cessitio 0 deslocamento das atividades produtivas. De resto, o que cra Potsdamer Platz eno o “buraco negro” de Berlim? Tratava-se d enfrentar um processo complexo, gerando uma preocupacéo com 10s centrog histéricos. Em suma, tomévamos consciéncia da neces sidade de recuperar as areas que ficaram enredadas no crescimento desmedido das cidades. Isso talvex queira dizer que a cidade comega nerar-se, comesa a cicatrizar suas Feridas? Certamente, mas os tempos infelizmente sio longos e nao é certo que o éxito seja garan- tido, Serd necessério secundar o processo evitando repetit os errosj cometidos. Fundamental sera ligio das cidades ancigas, que foram inder e de se adequar, sobrevivendo assim durante apaze séculos at fem ans, Serd preciso estar muito atento sobre pos que nosso século fez degenerarem as cidades, esta grande invengio do homem. Ele poluiu seus valores positives, alterou a mistur cardter distintivo; e por fim, também, a qualidade arquitetonica. A qualidade do que é construido, heranga de um tempo que passou e hoje sobrevive com esforgo, sufocada e desnaturada em nossos c ros urbanos, Ep suma, em vez de continuar fazendo-as explodir ‘crescimento” sem fim: a ideia “crescimento sustent > qual as peiferias podem se transformar em cidades. E esta a nos- sa verdadeira e grande aposta para os préximos cinquenta jo de rota, Uma completa inver Isso mesmo, uma inversio de rota, Nos tltimos cinquenta anos, do 40 Rezo Piano final da guerra em diante, fizemos as cidades explodirem ¢ criamos periferias inabits vamos ver se nos proximos cinguenta anos podemos rransformar essas periferias em cidades. Mas como? Nao bastaré ppulso do alto, seré preciso uma nova era cultural que aja no mais profundo da sociedade, modifi- des. cando hébitos enraizados com a injegao de novas sensi Quando voc fala de um trabalho de longo félego, ¢a isso que se refere? E preciso fazer desembarcar também na perifetia aquela busca que tende a construir uma “cidade feliz”. Onde estd escrito que a cidade, para ser verdadeira, deve ser triste? A “cidade feliz” € um conceito a ser levado também as periferias, encontrando assim © caminho para sair do engano, da armadilha infernal em que ‘nos metemos a0 fazer bairros periféricos (As vezes até construldos dignamente), transformando-os em lugares onde seja possivel vi- que no sejam somente dormitérios. Porque, enquanto forem dormitétios, néo serio cidades, mas lugares nos quais a delinquén- cia pode aninhar-se mais facilmente, tornando tudo cada vez mais, dificil. Como voce vé, esse conceito de “crescimento” ¢ filho do conceito de “progresso”; que € filho, por sua vez, da “moderni- dade”, Todos grandes temas com os quais nos trapacearam. Mas vocé se dé conta de que estamos no ano 2000? Como 0 2000 nos fazia sonhar quando éramos meninos! Voce se lembra? A fantasia nao tinha freios. Caro Cassigoli, fomos enganados! Vou lhe dizer ‘0 que é 0 2000, Fomos ludibriados, ¢ mais que isso, Tiraram os bondes das cidades para nos dar os dnibus, que eram mais moder lziam. Voce lembra? Parece um sécuilo,¢ se passaram apenas poucos anos. © énibus ndo tem nada de modernidade. O bonde nfo polui, é econdmico, ¢ racional quanto ao trinsito, nao neces: A anqurreruna sustewravel | 41 sita de faixas preferenciais porque tem seus trlhos, é confidvel um meio de transporte mais moderno que o Onibus, apesar de ter cem anos. Mas 0 que é realmente moderno? J4 nos perguntamos na ver sobre isso? Frequentemente, incorremos no erro de pensar apenas em termos de atualidade e, assim, ser moderno como muydar de roupa, seguir a moda, Que grande mal-enten dido! Como se devéssemos considerar 0 cimento armado mais moderno que a madeira ou que os tijolos, s6 porque existem o} painéis pré-fabricados em cimento que, como sabemos, tornam 0 ambiente mais rigido em relagio as fungdes. E. preciso precaver- se diante dessas armadilhas. Tudo aconteceu tio depressa que no pensamos que a modernidade verdadeira s6 pode residir ne material, na técnica construtiva, na idela mais antiga. Cafmos na armadilha da “modernidade” ¢ nos compromeremos sozinhos. Somos autossugestionados, nao & mesmo? © grande tema do progresso. Giinther Anders, em O homem é antiquado, observa: “Mudar 0 mundo nao basta. Seja como for, o fazemos. E, em larga medida, essa mudanga ocorre mesmo sem nossa colaborasio. Nossa tarefa também ¢ interpreté-lo. E. isso, precisamente, para mudar a mudanga. Para que 0 mundo nao continue mudanda sem nés. E, por fim, para que no se mude um mundo ‘se 15s". Se por mudanga podemos entender progresso, podemgs dizer, entio, que até 0 progresso deve ser interpretado. Para tentar interpretar, ou melhor, entender 0 tema do “progresso”, basta refletir um instante sobre uma coisa muito, muito simpl. a ética, Basta se pergunta sim, houve um grande progresso té- nico ¢ cientifico neste século que esté nos deixando, mas houve uum progresso ético ¢ moral equivalente? Infélizmente, a resposta é“nio"!A defasagem ¢ justamente essa. Essa é a terrivel difereng que corre entre progresso técnico ¢ cientifico e consciéncia étic moral. E veja que desastre. Pense nesse grande tema, tio caro 20 lho Bobbio (a quem mandamos nossos calorosos parabéns) estd o grande tema para os préximos anos: comegar a preencher 0 modernidade. O abismo entre o progresso cientifico e tecnolégico “O fim justifica os meios”, escreve Bobbio em O elogio da sereni dade. E. depois se pergunta: “Mas quem justifica o fim? Acaso 0 fim, por sua vez, no deve ser justificado?”. Nesse ponto, o gran: de fil6sofo acrescenta uma longa e urgente série de indagagées: “Todo fim que se proponha ¢ um fim bom? Nao deve haver um critério ulterior que permita distinguir os fins bons dos ruins? E rnio devemos nos perguntar se 0s meios ruins talvez nao corrom- pam até os fins bons?”. Por fim, acrescenta: 0 que conta “é a ética dos resultados, e nao a dos principios? Mas de todos os resulta. dos? E se quisermos distinguir um resultado de outro, nao serd preciso remontar mais uma vez aos principios?”. Essas indagacSes, de Bobbio repropdem justamente o né que voct indica para a re- flexao a propésito da relagio entre o progresso e a ética. As regras, pois, nao para a ciéncia, mas para a tecnologia c seus usos. Um conceito clarissimo em Bobbio. Basta pensar no que aconteceu no que ocorreu e continua a ocorrer na Africa e na América Latin as gucrras étnicas ¢ tribais (umas para conquistar terras pobres, ou tras para ocupar terras ricas em petrdleo ou diamantes); a fome qui mata centenas de milhares de criancas. Vocé agora me provoca so- tema da arquitetura sustentivel. Mas como » eda modernid, provocamios desastres assor dos. Ee O ano 2000: ser senio assim? Como voc orre nas cidad ‘Como se pode viver de m plodimos”. As cidades exp! diram, rosos, Nada daquilo que pensévamos Ihe no mundo? é diante

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