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Ciéneia e tecnologia nos planos de desenvolvimento: 1956/73 Epuanno Auousto pe Aves GoIMaRaes* Fowa Murzexnecter Foro * 1 Introducao Este texto tem por objetivo avaliar a importincia conferida & pro- lematica cientifica e tecnoldgica nos planos governamentais ela borados a0 longo do perfodo 1956/78. Em particular, pretendese identificar em que medida as necessidades tecnoligicas derivadas do proceso brasileiro de desenvolvimento se refletem nestes planos, bem como determinar se esses documentos governamentais propéem ¢ articulam medidas e iniciativas que possam ser caracterizadas como constituindo uma politica de ciéncia € tecnologia, Gomo se sabe, recente a énlase do planejamento governamental fem rélagio a questdes de matureza cientifica © tecnoligica, Cabe observar, no entanto, que © fato de apenas nos iiltimos planos de Governo aparecerem referencias explicitas a tais questées € 0 des taque crescente que vem merecendo nestes documentos podem suge- rir equivocos de duas espécies. De um lado, a conclusio de que inexistiv, no passado, qualquer preocupacio com 0 desenvolvimento cientifico e tecnolégico do Pais, negligéncia usualmente interpretada como decorrente de uma pers pectiva de curto prazo e equivocada das autoridades governamentais. Algumas veres, tal interpretagio € associada A alirmagio de que prevalecia entéo uma valorizagio indevida da contribuigio da acumulacio de capital fisico, visé-vir a fo iglo de capital humano, 0 processo de desenvolvimento econdmico, + Da Financiadora de Estudos Projets. ey Plus aon. Rio de uh, ak ae De outro Iselo, a cendéncia a exagerar as possibilidades © a subes timar os limites do esforgo para a promocio do desenvolvimento cientitico e tecnaldgico do Pais, considerando muitas vezes como {ator exdgeno capar de, por si $6, determinar inflexdes ma irajet6ria de cerescimento econdmien, indepentententente e/ou a despeito das de- mais politicas de Governo. Tais equivocos parecem ter duas origens. Em primeiro lugar, de- rivam de uma leitura de documentos governamentais que se atém as referencias explicitas & problennitiea da ciéncia e da tecnologia, abstendose de examninar as implicacées, do ponto de vista tecno- Iégico, des demais politicas de Govern, Da mesma forma, decor rem também de nio se comsiderar que uma politica de citneia € tecnologia, mesmo descartada a hipdtese de objetivos auténomos, pode visar a objetivos de naturezas diversis € que as diretrizes con- ‘erotas associadas a esses objetivos alternativos assumem, por sua ver, aspectos distintos em cada wna das ctapas do processo de cres mento econdmico.* Este artigo pretende evitar estes equivocos, analisando, ao lado das politicas cientificas © tecnoKigicas explicitadas em cada um dos planos de Governo, as implicagies tecnotégicas das demais divetri- es € medidas de politica econdmica ai propostas, bem como carac- terizando os objetivos contemplados por esas politicas, explicitas fe implicitas, de cigncia © ceenologic. 2 — Algumas proposigées bisicas As consideragics aprosentadas implicam, portanto, a necessidade de se identificar, ao fado de uma politica explicita de ciéncia € tecno- Togiz, ou face & sua inesisténcia, elementos esparsos, mas expect fico, dos planes governamentais que podem ser articulados a pos teriori, de modo a delinear umz “politica implicita © especttica de cidacia e tecnologia”, bem como as implicagées, do ponto de vista teenoldgico, las demais politics setotiais que caracterisem 1A capresso “potitica cienafin « ceenol6gic™ & wiizuda aeste trabalho dhe forme gendviea, Numes vires, referee apenas ao que devetia ser desig- fnado, em set ana ett, como “pobitia eee 386 Peig. Plan, Bean. (2) des. 1975 uma “politica implicita © derivada de ciéncia © tecnologia”, Tal exame permitird avaliar em que medida os planos de Govern, que hao formularam uma politica cientifica © teenol6gica, foram per meiveis as nevessidades tenokigicas do pracesso de crescimento € também detectr eventuais incompatibilidades entre as politicas cientiticas € tecnobdgices forrmmente anunciadas € a estratégia eral de desenvolvimento dos planos governamentais correspondentes. Cabe lembrar aqui as citcunstancias de que os planes de Governo hem sempre sio fimplementados em sua totalidade; de que, muitas veres, as medidas ¢ iniciativas mais relevantes da politica econdmi ca sia adotsdas & margem dos planos, quando aio em oposigio a estes; de que, em alguns casos, os documentos de planejamento nfo exprimem nem mesmo 0 consenso ¢ as intengies da equipe de Go- verno no momento em que é formubido, Neste sentido, uma avalia- 0 da politica cientifica e tecnolégiea em um determinado periodo requcseria, evidentememe, a consideragao das medidas e ini especificamente relacionadas 4 ciéncia ¢ & teenologia, bem como das conseqiténcias das acées implementadas em outras areas de politica Nio se pretende dar tal abrangéncia a este texto, que se restringe, portanco, quase sempre, & anilise das formulagées comtidas nos planos governamentais, Um segunda ponto a ser destacado diz respeito & natureza dos objetivos de uma politica de ciéncia © tecnologia. Além da possi Dilidade de que esta defina autonomamente seus objetivos, hipétese {que no sera consideradla, cabe apontar, tomando a dependéncia tec noligica como cxitério primeiro de diferenciagio, dois objetives al termativos: x) responder as exigéncins tecnoldgicas do sistema pro. Gutivo, acelerando a incorporagio e a difusio de inovacdes no Ambi- to desse sistema, mas indiferente & opgio entre produgio imerna e importacio de tecnologia; e b) redurir a utilizacio de tecnologia proveniente do exterior, através da maior capacitacio nacional para «riagio, adaptagio ou incorporacio de conhecimentos téenieas. Para facilitar (aturas referéncias, uma politica voltuda para 05 objetivos dda primeits especie pode ser designada como uma “politica de ree posta”: a outa alternativa caracteriza uma “politica de autonomia relative”, Ciencia © Feenotogia 28 Cumpre assinalar que uma “politica de autonomia relativa” pode visar, por sua vez, a abjetivos distintos. De um lado, pode refletir a preocupagio de induzir ou criar condigdes para uma reorientacio do processo de crescimento, tendo em vista alcangar padres de de- senvolvimento que io decorrem das tendéncias prevalecentes ate entio, De outro, pode contemplar apenas atender, « partir de fontes internas de tecnologia, as necessidades derivadas da operagio do sis: tema produtivo, objetivando reduzir a dependéncia face ao exterior sem, no entanto, pretender modificar o marco ¢ a diregio vigentes do processo de creveimento, © enfogue bisico deste texto consiste na distingio entre “politica de resposta” ¢ “politica de autonomia relativa". Contudo, nos pla fnos que propoem politicas ciemtficas e tecnoldgicas identificaveis como “de autonomia relativa, eaberd indagar quanto a0 que se pretende, do ponto de vista das carscterstias mais gorais do. pro- cesso de crescimento, ao formulas. Cumpre acrescentar que essa distingio entre “politica de resposta” “politica de autonamia relativa” deve ter presente que cada etapa do processo de cxescimento econdmico define necessidades tecnolé- sicas especificas. Como contrapartida, distinguemse também as ma neiras de atender essay exig2ncias, seja internamente, seja através dda transferéncia de know-how do exterior, De resto, vale observar aque uma “politica de autonomia relativa", mesmo se bem sucedida, vfo acarretard necessariamente uma redugio cfetiva da dependéncia tecnoldgica do exterior, uma ver que pode estar asociada & emer gincia de necessidades tecnologicas de outra especie €, por conse- guinte, de novas formas de dependéncia; neste sentido, tal politica staria, na verdade, referida a uma modalidade especifica de trans: feréncia de tecnologia. Fazse, por conseguinte, necessirio defini, ainda que a nivel ex quemético, os elementos constitutivos de uma “politica de resposta € 08 objetivos viveis de uma “politica de autonomia” em cada uma dessas erapas. CObservese neste sentido que, nas primeiras ctapas do processo de industrializacio, a demanda de tecnologia nfo se manifestava de forma explicita, tadurindose na demanda de bens de capital ¢ ma necessidace de pessoal técnico dotado de determinadas qualificagoes. 338 Peags Plan, Bon. 32) des. £975 Prevaleceram, como formas de atendimento dessa demanda, a im- portacio dos bens de capital requeridos, a incorporagio de imigran- tes qualificados ao processo produtivo e a formacio no Pais de recur- sos humanos tendo em vista a operagio das unidades industriais existentes, Para os empreendimentos que envolviam tecnologias mais ‘complexas, inexistiam Tizar os investimentos necessirios, geralmente de longo prazo de ma- funagio. Assim, buscavase no exterior mio apenas a tecnologia ¢ 08 bens de capital mais adequados, mas ainda o préprio capital que tormava possivel o empreendimento."* Também nesse caso a deman- da de tecnologia nio se explicitava, uma ver que “a transferéncia teenol6gica constituia um subproduto da inversio de capital.” wualmente “recursos internos capazes de rea. A medida que avangava 0 processo de incusteializagao, essas moda- lidades ¢ canais de suprimento de tecnologia se tornavam insuficien- tes face a uma demanda cada vez mais complexa. A compra de bens de capital nfo supria mais as unidades produtivas da. tecnologia requerida; “os novos procesos produtivos ¢ 05 novos produtos exi- giam mais do que simples instrugdes fornecidas pelos fabricantes dos bens de capital utilizados.” ¢ Fariase necessitio o dominio de tecno- logia nfo incorporada de maior sofisticagio do que a envolvida até enti na operacio das unidades industriais, Por conseguinte, a0 lado do recurso as formas jé apontadas de transferéncia de tecnologia, sistema produtivo nacional passou a recorrer a contratos com. agentes estrangeiros, procurando obter projetos e servigos de enge- haria necess 4 solucfo de problemas especiticos, bem como gi- rantir asssténcia técnica permanente & operagio das unidades pro- dutivas do Pais. Além disso, nos casos de produtos protegidas por patentes ¢ de utilizagio de marcas comerciais, nfo bastava 0 domi- a tecnologia envolvida em sua fabricagio, A empresa brasi- Jeira era obrigada a contratar, com 0 proprietatio esirangeiro dos 2B. Almeida Diato, F. A. de Almelda Guimaries © MoH. Poppe de Fi fruciedo, A Tuanvferéucia de Teenologia mo Bravil, Série Estudos para 0 Pla. ejamtemto (Brasilia: WPEA/IPLAN, 1978), n° 4, p. 12. © 1hid, 4 Wid, pos, Ciéncia € Tecnologia 280 privilégios legais, a cossio destes.” 5 Neste contexto, tornava-se expli- ita a demancla de tecnologia por parte do sistema produtive do Pris [A exquematizagio dessas duas etapas distintas, cujo exame se re- tomara adiante, quando da referéncia espectlica a cada um dos pla. nos governamentais elaborados no periodo 1956/75, permite exem- plificar 08 objetivos alternatives de uma uma “politica de autonomia ca de resposta” € de Neste sentido, ma px ina etapa antes caracterizada, uma “po litica de tesposta” contemplatia, principalmente, viabilizar x im. portagio de bens de capital, promover formagio dos recursos hu- manos necessitios & operagio do sistema produtivo © atrair capi. tais estrangeitos para as atividades produtivas exigentes Ce tecnolo- gia mais complexa, Por outro lado, dentte os objetivos possiveis de uma “politica de auronomia”, destaquese, tendo em vista a mo- dalidade predominante de transferéncia de tecnologia, a substicui- io de importagio de bens de capital [Na segunda etapa descrita, apontese como objetivo de uma “po. litica de resposta”, ao Iado daqueles j4 destacadios nia etapa anterior, agilizar 0 novo {luxe de conhecimentos téenicos do exterior, vale dizer, © recurso a contrates com agentes estrangeitos, através dos quisis se tem acess a tecnologias niio incorporadas, inexistentes no Pais. Do ponto de vista de uma “politica de autonomia”, assinalese, ‘como sua diretriz centual, @ promover a capacitagio nacional para produzir internamente os conhecimentos tenicos demandades pelo sistema produtivo, até entio provenientes do exterior. Tais consideragdes reaparecem a seguir no exame dos diversos planos governamentais formulados no periodo 1956/73, Na verdade, a atencio as necessidades especilicas de cada etapa do processo bra Icito de industrializagio, a preocupagio em identificar, ao lado das proposicBes enunciadas nos pianos, elementos que caraeterizem po- Iiticas implicitas de eiéncia e tenologia eo reconhecimento da posibilidade de formular ¢ imprimir orientagbes ¢ objetivos alt ativos & politica ciemtifica € tecnoldgica, delineiam © marco ge em que se sittia a analise apresentada em continuagio. 8 Bid. sm esq. Plan, Beow. 32} dee. 1975 3 — 0 Programa de Metas’ © ponto de partida deste estado € 0 conjunto de objetivos setoriais formulados pelo Governo em fins de 1956, que constinaiu o Pro- gtama de Metas (1956/60). © Plano Gnha como marco uma etapa do proceso de substituicio de importagies que ii consolidara os sey. mentos producores de bens de consumo nio-duriveis e bens de con. sumo duriveis menos complexos, os quais, ao lade de alguns em: preendimentos na aires dos produtos intermedidrias ¢ dos bens de capital, caracterizavam entao 0 mictco industrial do Pais. Nesse qua- dro, atribuia prioridade absoluta & complementacio da estrutura industrial, através da crisgio de indstrias produtoras de insumos Dasicos © de um importante setor produtor de bens de capital, bem coma 4 constituigio do capital bisico, que deveria servir de apoio a ces estrutura, reunindo as metas propostas sia, transporte, alimemtacao, industria de base e ensino, A orientagio proposta por esse documento para o proceso. brasi- lciro de desenvolvimento acarretava ineremento significative das necessidades tecnoligicas do sistema produtive do Pais. A. simples indicagio dos segmen nds. contemphados pelas metas relativas 4 tia de base sugere 0 aporte adicional de tecnologia que seria reque. vido: siderurgia, aluminio, metais nao ferrosos (chumbo, estanho, ni- quel, cobre © rinco), cimento, Alcalis, celulose e papel, borracha, exportagio de minérios de lero, industria automobilistica, indis, © Mresidencia da RepdblicaConsetha de Dewivolinents, Programa dé Metas (Rio do Janeiro, 1958}. 7 Para uma snallse da economia braslira sa déeada de 50 © uma avaliae io das proposcas © da implementacio do Plano de Meta, ver C. Lessa "Quince Afios de Politica Eeondmica en et Brasil”, in Boletin Leondmtico de. Amerion Latina, vol. IX, n& 2 (novermbxo de 1964) pp. 158218; M. C. Tavares De Subst tigdo de Insortayies ao Capitalisma Finanesiva (Rio de Janeitor Laban al fores, 1972; A. Candal, “A Invlustraliagio Reasilira: Dlagnostin ¢.Perspece isa", im Progrnna Estratégico de Desenvoirimente (Ria de Janeito: Ministerio do Planejamento © Goordenagio Gera. 1968); C. Lafer, “0 Planejaniento. no Brasi Observagées sobre © Plano de Metas 1956-191)", 61 Planejamento no Brasil, ediado por RM. Laler (So Paulo: Editors Penpectiva, 1950): 0. anni, Fatado # Plonrjamento Econdmico na trait (1900-1970) (Rie Jancio: Ealtora Civiiragto. Brasileira, WT) Ciencia © Teevologia sol tria de construgio naval e indiistria mecinica € de material elétrico pesado. Ademais, a sofis ago da demanda de tecnologia nessa nova eta cexigindo a utilizagio mais fre qilente € mais intensa de conliecimentos técnicos no incorporados de maior complexidade, implicava ainda a necessidade de recorrer a novas fontes ¢ formas de suptimento de know-how. De fato, até ento os requisitos tecnolégicos dos empreendimen- 10s industriais existentes — em geral, restritos & tecnologia incorpo- rada aos bens de capital utilizados ¢ a conhecimentos técnicos rela- tivamente simples ¢ difundidos — eram supridos através da impor- tagio daqueles, das instrugdes fornecidas por seus fabricantes, do aprendizado pas proprias instalagdes industriais, da consulta & lite- ratura técnica © do weinamento ¢ da formagio tedrica ministrado pelas escolas de engenharia do Pais. Tais fontes ram, no entanto, insuficientes do ponto de vista das necessidades derivadas da nova fase de industrializagio. Apesar dese quadro, 0 Programa de Metas é timido em suas for- mulagées explicitas relativas & ciéncia € tecnologia. Na verdade, 20 Jado de uma preceupacio manifesta, mas marginal, com os as pectos cientificos teenologicos associados ao programa de energia huclear, o Plano restringiase 4 meta de formacio de pessoal téenico, enfatizada, no entanto, antes do ponto de vista do atendimento das necessidades de quadtos téenicos para a operagio do sistema produ- tivo em expansio do que como um esforgo para viabilizar uma par- ticipagio nacional mais efetiva no suprimento da demanda de tec- nologia associada & nova onda de inversies. Reconhecendlo que “o desenvolvimento econdmico pressupoe (...} methoria da produtividade pela técnica, isto é, mellior apro- veitamento dos fatores de produgio, trabalho e capital, pelo apro- fundamento tecnolégico’,,® ¢ referindose & “educagio para 0 desen- volvimento”, 0 programa estabelecia como metas, entre outras, au- mentar para mil novos alunos por ano a capacidade das Escolas de 5 Peesidénein a RepublicaConell p.m. de Desenvolvimento, op. ity vol. 1h, 392, esq, Plan, com, 5(2) des. 1975 Engenharia, fortalecer o ensino médio industrial e ageicola e instalar 14 institutes de pesquisa, ensino ¢ desenvolvimento, * Muito embora se esgotem ai, na meta de formacio de pessoal técnico € no programa de energia nuclear, as formulagies que po- dem ser catacterizadas como constitutivas de uma politica especi- fica de ciéncia © tecnologia, # as demais divetrizes de politica eco- némica contidas no Programa de Metos traziam implicitas solucées para o suprimento da tecnologia requerida pela etapa de industria. Tizago que o Plano se propunha a inaugurar, vale dizer, para o sus primento da tecnologia incorporada aos bens de capital e de tecno- logias nao incorporadas ainda ¢ nio disponiveis no Pais. Tais solu. ses aparecem no contexto das politicas relativas zo capital estran- geito © & producio ¢ importagio de bens de capital No que diz respeito a primeira, 0 tratamento liberal ¢ os incen- fivos concedidos ao capital estrangeiro, ao induzit a Pais de subsidiarias de empresas de economias ji industrializadas, acarretavam efeitos de duas naturezas. De um lado, criavam um canal de transferéncia de conhecimentos técnicos para o Pais, como decorvéncia da_necessidade de que a matriz suprise a subsi didria da tecnologia requerida para sua instalagio © operagio. De ‘outro, afetavam favoravelmente a capacidade nacional de importar bens de capital, seja pelo aporte de divisas propiciado pela inversio externa, scja pelo ingresso de méquinas e equipamentos como parte mesmo do investimento estrangeiro, ® Dota institutos de mecénica, dois Snstitutos de quimica € tm Instituto de rmatemitica, de isle, de clevotéenica, de geologia, de mineracla © meta lungia, de genctica, de economia, de mecinica agricole, de tecnologia mural € de ‘economia rural, 10 Asinatese ainda algumas reteréncias & pesquina agricola ¢ indicades zee UUsas 0s problemas tecnolgicos asociados & producio de papel @ eeluloe, Presidéncia da Repblica—Consclho de Devenvolvimenia, 02. ct, pp. 18 @ 217. AM © imestimento sirangeizo sob a forma de méquinas © equipamentes, rmecanisino Targamente utilizado durante © perioda do Plano de Metas, fora egulamentalo atravt da Tastrugio U1 da SUMOG, de janeiro de 1955, Para fama discusdo sobre importincla dessa tastragio. na formagie de capital fisio © ma participacio do capital estengelto ao longa do proceso de indus- Uwilizagio, ver Re Bonelli e R. Totipan, Pollen Industriel no Brasil: Um Resume de Dues Décadas (io publica) Gitncia ¢ Tecnologia 203 Foi ainda uma preocupagio marcante, durante a exeeugio do Programa, viabilizar a importagio dos bens de capital nece:siios para a expansio industrial. Ess preocupaclo se refletia nfo sé ma Enfase na superacio do estrangulamento extemno da economia atrae yés du captagio de investimentos € financigmentos eaternos, mas timbém na conecssio de cimbio mais favorivel para a importagio dle maquinas € equipamentos ¢ na reducio di tarifa alfandegéria aplicada aos bens de capital sempre que comprovada a is lidade da obtengio do produto no Pais. Destaquese aqui que as medidas € politicas apontadas, quer as especificamente relacionadas & problemdtica teenolégica, quer aque: las de conseqiiéneias indiretas quanto a tais questdes, clelineiam um eshogo de politica cientifica © teenoligica que pode ser caracte zada como “de vesposta”, segundo a distinggo apresentada ante- viormente: se por unt lado pretendiam atender dis exigéncias detiva- das clo processo de crescimento, de outro se propunham a fazé.lo sem alterar @ quadro de dependéncia do Pais face ao exterior. ‘As implicacées, do pomto de vista tecnotégico, decorrentes da me- ta de desenvolvimento da indiistria brasileira Ge bens de capital de. finem, no entanto, wm quadro diverso e sugerem uma “politica de autonomiia”, jd que acarretavam a substituicio de fontes externas de suprimento de tecnologia incorporada. Cabe, contudo, indagar se tal proposta deve ser encarada como um objetivo auténomo ow se resulta da pripria Logica do processo de substituigio de impor- tages, bem come seo cumprimento de tal meta eletivamente sig, nifica a redugao da dependéncia tecnologica face a0 exterior. Em relagio & primeira questio, assinalese que, ao contririo dos objetivos referentes a transporte € energia, “cujo funcionamento cra indispensivel ao funcionamento da economia (...), substi tuigio de importagées de bens de capital {...) no era ‘necessiria’ para a corregio dos desequilibrios do setor extemno, posto que no periodo de realizacio do Plano atuow como um [ator a mais de pressio sobre a demanda de importages. De qualquer modo, ape. sar de no ser ‘necesstria’ nesse sentido, 2 adogio desses objetivos foi 12 Tais digosiges foram tntiodusidas pola Lei de Tariéay Altandegiias, de agosto de 1957. A propio, ver C. Less, op. city pp. 391192. soe Pegs Plan. ron, $2) des. 1978 induzida sem davida pela evolugéo anterior. Por wm lado, a natu: ral aspiragio nacional de contar com industras tipicas das econo- rmias maduras e a nfo existéncia de interesses vulneriveis pela com petigio deram respaldo interno 4 adogio de uma politica de esti rus. Por outro lado, a demanda reprimida deses bens, sobretudo de elementos de transporte, configurava entre seus antigos expor- tadores uma estrutura de interesse favordvel & produgio interna dos imesmios, euija Tivre importagio resultava_ impossivel.” De qualquer maneiva, ainda que se entenda tais objetivos como de natareza auténoma, no se explictava, ao formulitlos, qualquer intengio referente ao desenvolvimento da capacidade interna de claboragio de tecnologia e 4 reducio da dependéncia tecnoldgica em relagio ao exterior. Mesmo porque, ¢ aqui cabe abordar a segunda indagagio indica- ‘a, 0 processo de substivuigio de importagio de hens de capital, na forma em que foi conduzido, significava sobretudo a redetinigao das modalidacles predominantes de transferéncia de teenvlogia para © Pais, reduzindo a importincia do aporte externo de tecnologia incorporada, mas acarretando a intensificagio do fluxo proveniente do exterior ce conhecimentos téenicos nao incorporados, através da presenga de empresas estrangeiras no setor e dos contratos de assis: téncia téeniea firmados pelas empresas nacionais. 4 Desta forma, a “politics de autonomia” implicita ma politica de substituigio de importagées de bens de capital deve ser entendicia no marco estrito do seu significado tecnologico. redugio da de- 1G, Lesa, of. city p16 14 As cimpreas nationals contavann, prlacipalmente, com dss Fontes exter- nas de teenologlas ao iacorporadas: ay empresas dle cousultoria cas empress indwssinis que no disponham nem prclendiam instalae subsiidrias no. Pats Para estas sltimas, 2 yenda de Cenologis se consttnis, muitas vores, na dnica alternativa de paticipagio no mereade brasileiro face ais restrgbes is impor ragées, a prewnga de concorrentes estrangeis no Brasil ¢ 4 possbilidade de empresas nucionais se implantarem om Ienow-hew sdquiside em otra fonte, Ver, a propésito, F. Almeida Wiato, EA. de Almeida Guimaries e M. H. Poppe de Wiguciredo, op. cit, pp. MIG, Quanta ao cata especifice da industria de beng de capital, ver F.'S. Brber, J. T. de Araujo Jr, SF. Alves, L. G. Reis @ M. L. Roslinger, Absoredo ¢ Crlagdo de Teenolegla’ na Indistria de Bens de apical (Rio de Janeleo: FINEP, 17H) Cidneia © Teewslogia 305 pendéncia externa nfo era certamente 0 objetivo da politica global de Governo, que, na verdade, promovia um nove modo de inser ‘Gio da- economia brasileira no sistema capitalista internacional. Néo foi por acidente que o esforgo para reduzir a importagio de tec nologia incorporada fezse acompanhar pela consolidagio de novas formas de wansleréncia de tecnologia, ‘Tais formas correspondiam 4205 novos vinenlos entre © Pais ea cconomia mundial. 4 — O Plano Trienal * A formaulagio do Plano Trienal dle Desenvolvimento Econdmico ¢ Social para o periodo 1963/65 inserese numa conjunturi caracte: rizada pela aceleragio da inflagio e pela redugio da taxa de eesci niento do produto, refletintlo 0 agravamento de tensies © desequir brios acumulados no passado € o esgotamento das possibilidades de expansio através do processo de substituisio de importagées, Por outro lado, os anos que antecedem ¢ 0 que sucede a elaboragio do referido Plano si mareados por acentuada instabilidade politica ¢ institucional, © que, 20 lado dos problemas enfrentados pela eco- nomia, acarretava a auséncia de perspectivas, a indefinigio ea tran sitoriedade dos esquemas de politica econdmica propostos no. pe- iodo. 8 © préprio Plano Trienal foi aferado por ess instabilidade, sen- Go sua implementagio progressivamente abandonada durante © ano Ge 1963, antes mesmo das mudangas institucionais provocadas pe: les acontecimentos politicos de 1964, Nesse sentido, xs consider: Ges apresentadas a seguir dizem respeito antes 2s intengbes e dive- trizes exbogacas nese Plano do que A politica econdmica desenvol- a durante 0 periodo. 15 Presidéncia da Repsilica, Plano Trienal de Desenvolsimente Eronémica 4 Social, 1963-1965 (Sintese) (Brasilia, 1982) 39 Para uma anise da economia brasileira e da politica econémiea no pe- odo, ver M. €. Fawwaes, op. cit; G Lessa, op alts A Camda, oft ty 0, Jann, of. eft: © ©. R. B.M. Macedo, "Plano Trienal de Desenvolvimento Bea. aco Social”, in Planejamento no Brasil, eitado por Betty Mindlin Fafer (Eaivora Perspetiva, 1970) 305 esq, Plan, Eeon, 52) des. 1975 Ainda que, na ordenagio de seus objetivos biisicos, a manutengio de uma (xa elevada de ciescimento da renda antecedesse a redu- io progressiva da pressio inflacionaria, ndo hi divida que, a0 con- trario do Plano de Metas, o foco das preocupagbes destoca-se do pro- blema do desenvolvimento industrial para a atenuagio do processo lacionario, Por outro lado, no que se refere “is preocupagdes de longo praza (...), € possivel distinguir uma vaga tendéncia A di- versificagio dos objetivos propostas (...), seia devido & demanda de reformas biisicas, seja pelas exigéncias de uma estrutura diversi- fieada (...), junto & preoeupacio pela complementagio do sistema industrial, medidas parciais orientadas para o desenvolvimento re- gional, « modificagio do setor agropecusrio, 0 fomento das expor- tagdes inclustriais, ete”, "7 Do ponto de vista de suas implicagdes tecnoldgicas, assinale-se ‘que, ainda ao contririo do Plano de Metas, a estratégia de desen- volvimento proposta no acarretava incremento expressive da de. manda de tecnologia por parte do sistema produtiva. & verdade que as necessidaces tecnoldgicas da economia brasileira cram entio significativamente mais complexas ¢ mais intensas do que em mea- dos da década anterior. Contudo, essa situagio decorria da. prépria evolugio da economia brasileira (em particular da expanséo da in- diistria mecdnica e elétrica e do segmento produtor de bens inter- mediarios). Quanto ao Plano ‘Trienal, apenas a intengio de promo- ver a reestrutmagio € modlerizagio do setor agropeeurio fazia ptever modlificages substantivas na demanda de tecnologia; as de. inais indicagdes das politicas setoriais, como, por exemplo, a expan so da indistria de bens de capital, apontavam somente para 0 apro- fundamento das necessidatles tecnoligicas ja manifestadas. Ademais, ji se assinalou que, 20 longo da evolugio anterior da economia brasileira, haviam sido estabelecidos os canais de tans: feréncia que garantiam o suprimento da tecnologia requerida para 4 comtinuidade do processo de industriatizagio. & verdade que os problemas enfrentados pela economia no inicio da década de 60 ameagavam a eficiéncia de operagio deses canais de transfevéncia, De um lado, a conteagdo da capacidade de importar dificuleava 0 1G. Lessa, op. et, p. 198 Glincia ¢ Peenologia 0 ‘acesso & tecnologia incorporada a bens de capital. provenientes do exterior, De outro, a perda de dinamismo do proceso de cre mento, @ conjuntura econdmica desfavorivel ¢ a instabilidade pol tica desestimulavam 0 ingresso de capital estrangeivo, Comtudo, do ponto de vista de uma “politica de respost entiaves no implicavam a necasidade de adogio de medidas es pecificas na area da ciéneia ¢ da tecnologia, Os obsticulos existen- tes A continnidade do atendimento da demanda interna de tecnolo. gia a partir de fontes externas, uma vez que resultavam de proble, mas manifestos a nivel mais amplo, tinham também sua superagio condicionada a adogio de medidas mais gerais de politica econd- mica. Cabe apontar, portanto, inicialmente, as agies governamentais hessas dreas, bem como identificar seu significado do ponto de vista tecnologico. ais Em primeiro lugar, observese que dimimui, em relacio ao Plano ‘de Metas, a impottincia conferida & contibuigio do capital estea geiro a0 processo de crescimento. Sob esse aspecto, assinalese, como providéncias adotadas & margem do Plano ‘Trienal, a aprovagio da Lei n 4.131, que regulamentava a inversio estrangeira e a re. mesa de Iuctas para o exterior, de carter nitidamente restritivo ¢ diseiplinador. Embora nao fosse esse o aspecto enfatizado pelo Plano de Metas fem sua politica relativa 20 capital estrangeiro, a implantagio e a operacio de empresas estrangeiras constituiam-se num canal impor tate de transferéncia de tecnologia para o Pais; neste sentido, mudanca de orientagio introduzida pelo Plano Trienal significava, na verdade, accitar a diminuigio do aporte tecnolégico propiciado por esse canal dle transferéncia, No que diz respeito as dilficuldades do balango de pagamentos ¢ suas conseqiiéncias quanto a utilizagio da teenologia incorporada aos bens de capital importados, destaquese a nitida preocapacko em avancar no processo de substituigio de importacées de miquinas € equipamentos, traduzida, por exemplo, na elevada parcela destin: da a esse setor do total de inversées previstas pelo Plano e na meta de produzir intermamente 2/3 dos equipamentos necessirios a rea. lizacio do Plano no setor industrial sas Pesq. Plan. Econ, $2) des, 1975 Tais indicagées revelam intengio de promover inflextes nos par ‘droes de desenvolvimento vigentes, Essas intengdes manifestavamse também no Ambito do préprio Plano Trienal, nas propostas de re- formas de base e, em particular, da reforma agriria. Além disso, 0 discurso politico do Governo enfatizava ainda mais essas perspectivas ‘de mudanga de rumo, Seria de esperar, portanto, que as transforma ‘es indicadas pelas divetrizes politicas mais gerais fossem acompanha- dlas de uma reorientagio da politica de ciéncia ¢ teenologia que The desse respaldo. Vale diver, se do ponto de vista de uma “politica de resposta” eram limitadas as mecessidades de medidas especiticas na area de cigncia e tecnologia, requeriasse, no entanto, uma vigorosa “politica de autonomia" que viabilizasse as modilicagies dos. pa- res de desenvolvimento que, embora em forma pouco detinida, se propunha, Nio ¢ Mcito afirmar que o Plano Trienal tenha ignorado a ne cessidade de uma agio nesse sentido. Do ponto de vista da afirma- io de principios, explicitava sua atengéo a0 desenvol tifico ¢ teenoldgico do Pais ao enunciar entre seus objetivos basivos: Incensificar substancialmente a agio do Governo no campo educacional, la pesquisa cientifica € tecnoligica € da saie publica, a fim de asegurar uma ripida melhoria do homem como fator de desenvolvimento dle permitir 0 aceso de uma parte crescente da populagio aos frutos do pro- sgresso cultural.” Da mesma forma, no contexto das direcrizes bisicas relativas 4 energia nuclear, indicava que essa preocupagio no estava restrita apenas a assegurar 0 atendimento da demanda tecnolégica, mas com- preendia também a intengao de propiciar maior eapacitagio do Pals para a claboracio de tecnologia. prépri “Na medida em que se considere industrialmente desenvolvi- do o Pais que possa atender as suas necessidades Iisicas me- 30 teferese antes Apoidea relax a0 capita eatiangeiro ide do proceso de substitu ce importagbes de bens de ‘nx verdade, um aprotuailamento de diene ja contemplada pelo Programa de Metas 1 Presidéncia da Republica, Plana Trienat..., op ei Ciencia e Teenoingia 0 ante téenica € recursos proprios, 0 Brasil nfo venceri, nem 4 Tongo prazo, 0 ciclo do subdlesenvolvimento se, nessa época, por deliciéncia do programa governamental, de téenica ¢ de apticio industrial, permanecer dependente da importagio de cexperiéncia, técnica, equipamentos ¢ combustiveis nucleares, com a evasio de divisas estrangeiras daf decorrentes, para a producio de eletricidade de fonte nuclear”. *° Do ponto de vista da proposicio de medidas concretas, embora © Plano Tricnal nfo articule uma politica explicita de ciéncia tecnologia, € possivel identificar segmentos de uma politica dessa natureza nas formulagdes referentes ao programa de energia nuclear, 8 formagio de recursos humanos e as necessidades tecnolégicas do setor agricola, No que diz respeito & energia nuclear, © Plano delineia um con- junto de inieiativas que caracterizam bem um programa secorial de desenvolvimento cientifico € temnolégico, cuja importincia para os formutadores do Plano 6, alias, evidenciada pela citagio vanser ta acima, No que diz respeito a0 setor agropecuétio, o Plano Trienal ma: nifestava a intengio de promover sua modernizaczo ¢ reestrutwra- io, idemificando na deficiente estrucura agriria do Pais © mais sé rio obsticulo 4 exploragio racional da terra ¢ a0 permanente apri- moramento tecnoldgico da atividade agricola e incluindo enwre seus objetivos basicos “eliminar progressivamente os entraves de ordem institucional, responsiveis pelo deygaste de fatores dle producio e pel lenta assimilagio de novas téenicas.” ** Ademais, reconhecendo que a elevacto do grau de tecnificago da agricultura “depende, em Tar- ga medida, da imtensidade ¢ da continuidade dos trabulhos de pes- 2 Ibid, po MB. 21 © programa que deverka ser implementado pela Comissio Nacional de Bnergia Nuclear, em cooperaeio com drgios de pesquisa ¢ inddstria privada, previa, 20 lado da construgio de centiais nucleres, da produgio de combi: Hivel nuclear ¢ ut prospeccio, Intra e benefiiamento de niinérie nuceares, 3 realizaglo de pesquisa clenificr © tcenolégica, notadamente no campo dos reatores ¢ ros materiais pars reatores, © © desenvolvimento da tecnologia dos radiolstopes, tendo em vista sua produsia « aplicaco, 82 Presidéncia da Repiblica, Plano Tremal..., ops city pe & 00 Peag. Plan, Econ. 5(2) des, 1978 quisa, experimentagio, demonstracio ¢ fomento, os quais, por sma natureza © custo, so podem ser realizados através de agéncias gover namentais”, afirmava a necessidade dle reformular-se a estraturs € as nonnas de operagio do aparello yovernamental ¢ propune. a expandit os dispendios piiblicos em programas de pesquisa ¢ for mento, Nio avangava, no entanto, além dessa indicagio de diretrizes € no formulava meilidas mais coneretas, Quanto & formagio de recursos humanos, observese que a ques: {Bo merece menor destaque do que o que Ihe é concedide pelo Pro, grama de Metas, O programa de educacdo, de resto sucinto, confere maior atengio 2 edueagio primérin e secundaria.** Indica recur sos para pesquisa cientifica ¢ teenoldgica que montam a 1,2% dos gastos totais do programa, sem discriminar, contudo, sua aplicacaio, Em que pese ser menos enfitico do que © Programa de Metas, 0 documento nao desconhece as necessidades cle pessoal especializado no sistema produtivo, indicando.as no contexto do programa de de- senvolvimento industrial, com mais clareza inclusive da que o Pla- no anterior, Reconhecendo na falta de pessoal especializado nos di- versos nfveis um obstéculo & aceleragio do desenvolvimento indus ial, apoma a necessidade de incrementar a formagio de técnicas (cm particular de engenheitos e desenhistas projetistas) para atender 2 esperada expansio da indistria mecinica, Observese que, também aqui, a preocupacio com a formagio de recursos humanos esté yoltada para o suprimento dos quadros tee nnicos requetidos para a operagio do sistema produtivo, Contudo, ainda que permanecam invariéveis os objetivos de tal politica, a expansio anterior da industria de bens de capital implicava uma mudanca qualitativa nessa demanda de téenicos, uma vez que se tomayva conveniente, mesmno pata a operacio desse segmento indus tsial, 0 desenvolvimento da capacidade nacional de projetamento. Ademais, 0 Plano Trienal afirmaya mesmo que a participagio pre- dominante de projetisas estrangeiros na elaboragio dos projetos de instalagio de novas unidades industriais reduzia a competitividade 28 Did, p16 2% Destinase, no entanto, para educacio superior MH" do financiamento previsia no programa para o triéni. Gléncia ¢ Teenologia so a indiistria nacional de bens de capital, pela dificuldade em aten- dor as especificacées indicadas, ¢ propunta, a0 lado de formacio de engenheivos e desenhistas projetistas, a organizagio de esc ‘especializados para esse fim. Destaquese, por fim, como iniciativa paralela ao Plano Tricnal, 4 aprovacio da Lei n.® 4.131, que, além de regulamentar a inver- so estrangeira € a remessa de Jucros para o exterior, dlefinia, pela primeira vez, 0 tratamento a ser concedido aos contratos com 0 exterior relatives 4 wansferéncia de tecnologia & dispunha sobre os pagamentos a serem efetuados sob esse conceito, Esse texto legal, embora situado “no contexto geral de uma lei cuja preocupagio basica consistia na imposicio de restrighes A remessa de rendimen- tos para o exterior, visava, a0 Indo dessas restricdes, a incentivar a absorgio de tecnologia, exiando, inclusive, uma estrutura de incen- tivos diferenciada segundo 0 grau de essencialidade da industria i qual se destinasse a tecnologia.” ® Acrescentese que o decreto do Execativo que regulamentou essa Lei introdwziu modificagdes im- portantes no que se refere & disciplina da transferéncia de tecnolo- gia, limitando a cineo anos © prazo durante © qual os contratos go- zavam da faculdade de gerar remessas e restringindo o montante de tais remessas a 2% do custo ou da receita bruta do produto." © conjunto apontade de medidas especificamente relacionadas & iéncia e tecnologia era, sem duvida, insuficiente do ponto de vista da definigio de um esquema alternative capaz de substituir as fon- tes externas de tecnologia ¢, assim, apoiar uma politica global que contemplava a modificacio dos vinculos existentes entre a economia Drasileira € os centros econdmicos mundiai Ademais, tampouco ¢ posivel identifiar uma politica cienti fica ¢ tecnoligica, implicita nas demais diretrizes de politica econd- ‘mica do Plano Tvienal, capar de ensejar as transformagies neces 2% F. Almeida Wisto, EA. de Almeids Guimaras © M. H. Poppe de Fl: qucitedo, of. ot, pp. SIBZI0. A Lei m9 4.131 Iomitava a ann maximo de 9 Thum prazo de cinco anos, as dedudes, nie dectaraches de venda das peswoas jivicas, por reinesse conexpondentes 4 importagio de tecnologia 26 Para unt anilixe da lepilagio que regulamente a tramsferéncia de tecnologia, ver F. Alaicida Binto, E, A. de Almeida Guimaries e M, Hl. Poppe de Figueiedo, of. city pp. 215-282, 02 Pes, Plan. Bean, 5(2) des. 1975 sivias. Nesse ponto, 0 Plano Trienal difere do Programa de Mets, © qual, embora no formulando uma politica explicita de ciéncia ¢ tecnologia, travia respostas as necessidades daquela etapa do pro- cewo de crescimento através dos demais instrumentos e medidas de politica que mobilizo No caso do Plano Trienal, além das conseqiitneias ja destacadas da politica de capital estrangeiro adotada, campre apontar apenas tivas tendentes a fortalecer a industria de bens de capital, Sob esse aspecto, assinale-se que a politica de manutengio do ni- vel de investimentos piiblicos teve efeitos favoraveis iquele segmen- to industrial, j4 que o Estado se constituia no principal comprador (c, em alguns casos, tinico) de bens de capital. Da mesma forma, & favorccimento ao setor se traduzia também nas propostas de maior rigor na aplicagéo do conceito de similar nacional no Ticenciamento de importagies de méquinas € equipamentos © de participagio go: vernamental no financiamento da venda de bens de capital. Nessa mesma linha, destaqy nda, embora seja anterior 30 Plano Trienal, a reforma cambial de 1961, que “estabeleceria uma reserva de mercado mais eficiente para a indistria nacional de bens de capital, a0 aumentar 0s precos relatives destes bens, 5 — O Programa de Acéo Econémica do Governo ™ © quadto da economia brasileira em que se insere o Programa de Agio Econdmica do Governo (1964/66) nio difere qualitativamen- te daquele em que se definin 9 Plano Tvienal; apenas se haviam acentuadlo as tensdes © os desequilibrios ji manifestades naquela Epoca, tendo como conseqiiéncias a intensificagio do ritmo inflacio- nitio © 0 agravamento da desaccleragio do processo de crescimento econdmico. Nesse sentido, as dilerencas existentes entre esse novo documento de planejamento € 0 anterior patecem decorrer antes Lesa, ops itp. 208 Ministéio do Planejamento e Coordenacio Keondmiea, Programa de Ado Feonimica do Governo, 1964-1966 (Sinise) 22 Liao, 1955) Cidncta ¢ Tecnologia 405 das profundas moditficagies politico-institucionais que marcaram 0 ano de 1964.2 A semelhanga enire as situagdes econdmicas a que deviam fazer face ambos os programas de Governo & evidenciada, inclusive, pelos objetivos bisicos da pol .a formulados pelo PAEG, sig nificativamente préximos daqueles apresentados pelo Plano Trienal: acelerar © riano de desenvolvimento econdmico do Pais; conter pro- gresivamente 0 proceso inflacionario; atenuar 0s desniveis econd- micos setoriais ¢ regionais ¢ as tensdes cr ibrios socinis; assegurar, pela politica de investimentos, oportunidades de emprego produtivo & crescente oferta de maodeobra; e corrigin a tendéncia para deficits descontrolados do balango de pagamentos. Dentre esses objetivos, » combate & inflagio recebeu, sem diivida, maior prioridade, supondose, de certa forma, que a retomada do processo de crescimento decorreria do controle do processo infla- No que diz respeito a ciéneia ¢ tecnologia, além de no formu lar um politica explicita para o setor, so escassas as medidas es pecificamente relacionadas a cais atividades. Restringemse & poll: tica educacional voltada para a ampliagio das oportunidades de acesso 4 exucagio, para a racionalizagio do emprego dos recursos dis: poniveis © para a adequacio da composicio do ensino as necessi- dades «enicas ¢ culturais da sociedade moderna, A inexist2neia de uma politica explicita de promogio do desen- volvimento cientifico ¢ teenoligico do Pais no significa, no en- canto, 0 desconhecimento pelo PAEG das necessidades da econo- mia brasileira nesta srea. Na verdade, 0 documento afirma que “a melhoria tecnolégica & vio ow mais importante, para o process de desenvolvimento, do que 9 préprie aumento de taxa de forma io de capital.” Apenas, retomando as diretrizes do Programa de ‘Metas e tornando.is explicitas, 0 PAG visava ao atendimento des- 2 Para wma andlse da economia brasileira ¢ da politica econémica no pero lo, ver 8. Candal, op. cits O- Tati, op. cits B.C. Tavares, op. cits ©. 1. Mar tone, “Andlie do Plano de Agto Famndmica do Governo", in Plancjamento no Boosil, editado por B. M. Lafer (Sio Paulo: Editor Pempeetiva, 1970) 1 Ministetio do Plnsjamiente © Cuordenacso Keaubaiea, of. et, p. LS me Penge Plan. cow, 512) des. 1975 sas necessidades a partir de fontes externas, Ademais, esti imy tas nas demais diretrizes de politica econdmica indicagdes capazes de caracterizar a solucdo proposta pelo PAEG para as questics techo- logicas do. processo de desenvolvimento brasileiro, Sob esse aspecto, destaquese a politica de estimulo ao ingresso do capital estrangeiro, baseada no reconhecimento do sew signifies. do do ponto de vista do aumento marginal da taxa de investimento © do reforgo da capacidade de importar do Pais, bem como da con. ibuigio temolégica para a modernizacio da economia brasileira € para o aumento da produtividade dos fatores de produgio nat nais, Tal politica visava a corrigir, inclusive através de modifica: ‘GOes da Lei de Remessa de Lucros, o tratamento inadequado o cima hhostil ao capital estrangeiro do periodo anterior, que haviam con- tibuido “para o estancamento do seu influxo em passado recente, depois da importante contribuigio que teve para o desenvolvimen. to da economia nacional em anos anteriores ¢ especialmente no pe viodo 1957/61, em vesposia a um cratamento legal menos res Neste sentido, 0 PAEG retomava a abertura dla economia biasi- Ieira para 0 exterior promovida pelo Programa de Metas, fundando sua insergio no sistema econémico internacional e enfatizando as “vantagens em manter certo geau de divisio internacional do tra: Dalho.” Do ponto de vista do aporte de tecnologia 20 sistema produtive do Pais, a politica de estimulo ao capital estrangeiro tinha em vista duplo objetivo, De um lado, o ingresso de capital, © neste caso se incluiviam 0s empréstimos ¢ financiamentos, ao elevar a capaci- dade de importar viabilizava a necesséria importagio de bens de ‘capital € da tecnologia ncles incorporada, De outro, o ingresso de ‘capital de risco “facilitanos, também, maior conhecimento tecno- ligico, poupando-nos dispéndios substanciais em pesquisis (...). A convivéncia internacional, através das fontes supridoras de capitais, representa a formula mais accessivel para que o Brasil se atualize esse requisito basico do progresso econdmico.” M1 Mou, p49 82 thie, v.47 B Tbia, p13 Ciencia © Tecnologia as Essas diretrizes explicitam a natmeza das solucdes propostas pelo PAEG para os problemas tecnolégicos associatlos a0 crescimiento € & operacio do sistema produtive do Pais, caraeterizando-a como um “politica de resposta” que comespondia, a nivel da problemiitica tee nolégica, & reabertura para exterior prevista pela politica econd- mica como um todo. Neste sentido, tratava-se de reconstituir 08 estimulos mais significativos ofetecides a0 setor privado — 05 cetimulos ao desenvolvimento industial ¢ 3s exportagies — bene- ficiavam igualmente empresas nacionais ¢ estrangeiras, fundamen: talmente a grande empresa. A politica industrial do periodo tinha como instrumento central © subsidio & formagio de capital nos setores industriais prioritérios através da concessio de isengées do imposto de importagio e do imposto sobre circulagio de mercadorias, no caso de compra no exterior de miquinas e equipamentos sem similar nacional, ¢, par tir de 1970, da concessio da isen¢io do imposto sobre produtos in- dustrialindos sobre os bens de capital importados, do addito 40 comprador de equipamento nacional do valor do IPI ¢ do dircito de depreciagio acelerada dos bens de fabricagio macional para efei- to de apuracio do imposto de renda, © ‘SH Para uma anise dessa exporiénca, Yet J, T. de Araijo Junior © V. M. Dick, "Governo, Empresas Multinacionais e Empresas Nacionais: 9 Caso. dt via Petroquitica", in Pesguien e Plonejomento Econdmieo, vol. 4, no ‘dezembro de 1974), pp. 629-654. 8 Para uma andlise da politica industrial no periado, wer W. Surigan, R. Bonelli, M. H.. Tagues Hosts e €. A. Lavdder, of. cit a Peas, Plan. Keon, 5(2) dex 1875 men. A implementagio dessa polftica pelo Gonselho de Desenvolvi to Industrial teve, no entanto, cardter pouco seletivo: nko sb tals incentivos foram estendidos 2 quase toralidade da indkstria de trans- formagio, mas ainda a aprovagio dos projetos submetides 20 CDI era praticamente automatica, baseando-se na constatagio de que a responsabilidade basica da decisio de investir cabe A empresa privada Embora essa politica de barateamento do custo do investimento tenha sido eficaz no sentido de estimular a expansio do nivel de investimento na indlsiria, a concessio indiscriminada de incentivos impediu que esse instrumento fosse utilizade para adequar 05 flu x08 de investimentos aos objetivos da politica do Governo, Desta forma, a sistemitica adotada apenas tornava mais rentiveis opebes de inversées sugeridas pelo mercado. De resto, esses incentives eram concedidos igualmente a empresas nacionais ¢ estrangeiras, A politica de incentivos & exportagio caracterizouse pela conti- nua mobilizagio de novos instrumentos ¢ medidas que implicaram, sucessivamente, a retirada de gravames, a concessio de subsidios ¢ © estimulo 20 aumento da capacidade produtiva. * Dentre os incentivos tendentes a mumentar a competitividade «os produtos brasileiros no mercado internacional, que contemplavam igualmente empresas nacionais e estrangeitas, sobressaem 0 crédito fiscal do 1P1 € do IGM, relative aes produtos exportados, isengio do imposto de importacio € do IPI na compra de bens de capital, insumos ¢ matérias;primas por empresas exportadoras € a assistén. cia financeita governamental a atividade exportadora, Ao lado destes, foram induzir di adotatlos, em 1972, estimutos destinados a Ses de investir para exportar, prevendosse, inclusive, a importagio, com isengio do imposto de importagao ¢ do IPL e sem observineia da lei do similar nacional, de equipamentos novos € usados de conjuntos industriais completos, mesmo se jé em funcio. namento em outros paises, desde que destinados a produzir essen- cialmente para o mercado externo, Tais “beneficios tinham como alvo principal as grandes corporagées multinacionais aqui instala- 1 A propisito da politica de exportacie na periodo, ver C. Von Deellinger, HB de Casto Faria © 1. ©, Cavaleant, of, ft Ciéncia € Pecnologio 235 das, ow que para cé se transferissem (,..), dentro da concepgio de que tais instituighes ceriam melhores possibiidades de liderar inere- mentos mais substanciais de exportagdes”.® De resto, como se ob servou, “firmas essencialinente nacionais, especialmente pequenas € médias, podem ficar eventualmente, em consegiiéncia dessas_me- didas, em posigio de relativa ‘desvantagem comparativa’, nfo x no mercado externe como interno,” © Nesse contexto, face aos fortes estimulos que contemplavam igual mente empresas nacionais ¢ estrangeiras, x maior flexibilidade € 0 maior dinamismo operacional das empresas multinacionais Ihes per- mitiram responder mais prontamente jis indicagdes do mercado € ‘aos incentivos governamentais, fortalecendo suua posicio relativa fra visd-vis a empresa nacional. Existiram, sem dt vida, excegdes; mas estas ocorreram, principalmente, em setores, co- mo 0 sideriirgico € 0 petroquimico, onde 2 condugio da politica in- dustrial assumin caracteristicas peculiares, Ai, em que pese a eles vada densidade de capital ¢ 0 alto grau de complexidade tecnolé- gica, 2 posigio do capital nacional foi resguardada ¢ sua participa. ¢io realirmada, Contudo, ai também a ago govermamental nfo se Timitou ao manejo «le mecanismos indizetos de incentivo, mas in dluiu # mobilizaggo de instrumentos mais coneretos, « definigio de metas ¢ a delimitagio dos caminhos abertos & iniciativa privada € a participacio eletiva da empresa pablica, Cumpre identiticar, por fim, no clenco de medidas e instrumen. tos de politica econdmica adotados no periodo, aqueles de reper cussies mais imediatas do ponto de vista do desenvolvimento cien- tifico e teenol6gico do Pats, ‘economia br: Neste particular, cabe considerar, inicialmente, a pega central da politica de estimulo ao desenvolvimento industrial, ow seja, & po- Iitica de barateamento do custo do capital, implementada pelo Con: selho de Desenvolvimento Industrial. Os efeitos desfavoriveis dessa politica no tocante & consolidagio da industria de bens de capital tém sido largamente enfatizados: particularmente notiveis até 1970, © Did v.45 1 Tbid po AS. Cumpae asinalar, no entanto, que estes alliimos Incentives nig chegatam « aletar 0 descupenho relatio de empresas nacionals © estan firas no periodo em questio, se Pesgs Plan, Bear 52) des 1975 quando os incentives referiamse apenas aos bens efeitos manifestaramse ainda, embora de forma atenuda, apos as reformulagdes introduridas naquele ano. Ao acentuar a prelerén. cia pela importagio, de resto ja propiciada por diversos outros fa- tores, a politica de subsidio 4 formagio de capital constitufase, sem diivida, cm fator limitativo & expansio da indiistria de bens de capital ¢, em especial, desestimulava © avango do processo dle substi tuigio de importacées desses bens através da producio de maqui nase equipamentos tecnologicamente mais sotisticados.°* No que diz respeito aos incentivos a investimentos voltados para a expor- tagio, é evidente o seu significado do ponto de vista da indistria nacional de miquinas e equipamentos, mportados, esses Ainda no tocante & indiistria de bens de capital, observese que, apesar de sucessivos documentos governamentais enfatizarem a jin portineia de conferirse priovidade nas compras governamentais a rviquinas ¢ equipamentos produzidos no Pais, 2s empresss piiblicas jquase sempre ignoram tal ditetsir de politica, com o que se des perdligow um instrumento importante para promover a elevagio do nivel tecnolégico ds indistria mecinica e elétrica do Pais. De fato, uma vez que um dos principais obstienlos ao avanco teenolégica do setor consiste na incertera quanto & evolucio da demand € no con seqiiente desestinnulo para enfrentar os viscos envolvides no desen- volvimento ou na aquisigio de novas teenologias, a programagio a prazos mais amplos das compras governamentais ¢ uma clara ma- nifestagio de preferéncia pelo produte nacional poderiam consti tuirse em fator propiciador de iniciativas empresariais nessa srea Em particular, ese conhecimento antecipade da demanda futur 84 Mesmo apés a reformulacle de 1970, “permaneceu ainda uma pequcra sarge de diseriminasfo dos bene de capital de organ nacional, representada pelo ICM, dedutivel no caso da inmportecio”, embora “iso deva ser compenside secleada, permitida aomente aos bens de capital de producto "(W. Suzigan, R. Bonelli, MH, T. Taques Horta € C. .\. Lod, op. cit). De qualquer manciza, inexinia protogko tatfiria aoe bens ce capital sim similar nacional. Ora, @ conceito de similar macional nem sempre € de apli ‘acto inequivoca, notadamnente nos casos don bens de capital que, por sin om plesidade tecnoligia, x encontram na frontcira da capacidade nacional de 0: Adusio © que, por iss mesmo, corresponderiam aoa pasos subseqdentes do pro ‘eso de substiuigio de importacto de bens de capital Ciencia © Pecuatogia 7 parece ser, sobretudo no caso dos hens de capital sob encomenda condigio indispensivel para que a expansio desse segmento indus. tial se apdie em tecnologia desenvolvida internamente, ao invés de se recotrer continuamente a licengas de fabricagio do exterior. Assinale-se, por outro Iado, como iniciativa que se refletia favor ravelmente sobre a indistria de bens de capita, « introduc pelo FINAME de novos esquemas de financiamento & tabricagia © ven dda de hens de capital sob encomenda, prevendo prazos mais amplos € taxas de juros mais reduzidas, Outro ponto a ser destacado diz respeito as implicagées tecnol6. gicas da experiéncia empreendida no setor petroquimico, de ins titucionalizagio de novas formas de relacionamento entre a empresa stata ¢ capitais privados nacionais e estrangeiros, Sob ese aspecto, observese inicialmente que tal experiéncia veio consolidar uma no- va sistemtica de transferéncia de tecnologia em que 0 aporte de tec ologia externa nio esti associado a implantagio de wma subsidid- ria de empresa estrangeisa — aparecendo, portanto, como um resi tado do investimento realizado — nem tampouco decorre de ples contratos firmados entre empresas do Pais e do exterior. Neste caso, parte da participacio estrangeira no capital da empresa se integraliza sob a forma mesmo do aporte de tecnologia, remuncran- dose 0 know-how do processo e parte dos servigos de engenharia Lago. ‘com ages da empresa em impla A nova sistemztica veio, sem diivida, posibilitar “a implantagio de um ramo industrial sofisticado, que provavelmente vai operar, segundo os padrdes téenicos mais atualizados ao nivel internacional, com empresas controladas por capitais nacionais ¢ sem ter sido ttilizado o reeurso do monopélio estatal." Observese, por outro Indo, que, “de certa maneira, podese dizer que as empresas esto ficando capacitadas muito mais no sentido de operar suas fabricas 89 A propésito dos problemas de abrorgio € eriagio de tecnologia na indi nis de hens de capital ver F. 8. Baber, [.'t, de Atadjo Jv 8. Fe Aes, Le G Reis e M. I, Redinger. 9p. ci 6H Ver W. Surigan, R. Bonelli, M. H. T. Tagues Horta © €. A. Loader, of cit, pp. 2031 OF J, Toile Arajo Winior © VM. Dick, of. cir es Ibid, 654 ae Pag. Plan. Keon. 32) des. 1975 do. que no de dominar os conhee rados, devido ao pequeno contato com os problemas contrais nas reas cla engenharia e processo de produgio." ® Contudo, a con: centtagio que se vem observando ma contratagio de servigos de cengenliria a serem realizados no Pais em torne de um pequeno nuimero de empresis de engenharia poled permitir “o fortaleci- mento de umn micleo de empresas de engenharia que, embora nto esteja desempenhiando no momento um papel relevante na absorcio de tecnologia, pode vir a ser um instrumento importante part su perar as restrigdes apontada ntos que nela estio incorpo- Por fim, enfatizese que as consideragdes upresentadas tituem, como se assinalou, uma anilise da politica econdmiica do perfodo 1967/78, nem tamponco esgotam o exame de suas impli- cagées tccnolégicas. Parecem, no entanto, sulicientes para permitir que se responda algumas das indagacdes propostas no inicio deste uabalho, Sob esse aspecto, cabe afirmar que as divetrizes de aumento da taxa de absoreio de mio-leobra e de fortalecimento da emprest nacional — associadas, respectivamente, as politicas de ciéncia e tec nologia do PED ¢ do PND-PBDCT — nao foram certamente preo- ‘cupacées dominantes da politica econdmica no periods. possivel, sem diivids, apontar mediday destinadas a apoiar a empresa na- Gional. ‘Tais medidas, no entanto, nao se inseriam ma linha prin cipal da politica econdmica vigente Dai porque, por um lado, no cabe considerar a politica de ci cia © tecnologia proposta pelos planos governamentais como aspecto isolade da politica de Governo ¢, por outro, ha que reconhecer que ela se articulavaprecariamente com os aspectos mais globais da politica econimica efetivamente implementada no_periodo, © objetivo central dessa politica, ou seja, a manutencio de texas elevadas de crescimento econémico, prescindia de avangos significa tivos no gran de capacitagio do Pafs para a criacko e adaptacio de tecnologia, uma vez que o ritmo requerido de incorporacio de no. vas tccnologiay podia ser, como foi, garantido através da importa: © Bb, p, B50, 20 Ibid Ciencia ¢ Teenalogia 9 Gio de know-how e de hens de capital. esse contexto, os prineipais instrumentos e medidas de politica econdmica mobilizados estiveram yoltados apenas pata a intensificagio © 2 aceleragio do flux de transferéncia de tenologia. Cabe caracterizar, portanto, como uma “politica de resposta”, as solugbes para as necessidades cecnoldgicas do processo de crescimento implicitas na politica econémica imple: mentada no periodlo. 10 — Conelusbes Os comentarios formulacos no decorrer deste estudlo permitem ca- sacterizar, no quadro conceitual proposto inicialmente, o watamen to conferido pelos diversos planos de Governo as questdes cienti: ficas © teenoldgicas associadas a0 processo brasileiro de desenvolvi mento, 0 Plano de Metas € 0 PAEG, em que pese nao compreenderem uma politica explicita de cigncia e tecnologia, contém, implicitas ica econdmica, respostas as necessi- dacles tecnolégicas correspondentes as respectivas etapas do proces- so de industrializagio, além de preverem medidas e iniciativas es. parsas na siren da ¢ da tecnologia. A natureza dessa politi ca inmplicita nas agdes esparsas © na politica econdmica global é ine- quivoca ¢ permite caracterizé-Ja como constituindo uma “politica de resposta”, logia requerida pelo sistema produtivo a partir do aporte de know how externa. Correspondix a proposigio de abertura da economia para o exterior e de aprofundamento dos vinculos que ligavam 0 que tinha em vista garantir 0 suprimento da tecno- Pais aos centros econémicos snundiais. © Plano Trienal, a semethanga dos mencionados, tampouco con: tém uma politica explicita de cigncia e tecnologia. Por outro lado, cembora sua estratégia econdmica apontasse a necessidade de uma igorosa politica cientifica e tecnolégica que contemplasse maior a tonomia teenoligica, as agées. propostas. pelo Plano foram insul Gientes do panto de vista da definicio de esquema alternativo paz de substieu as fontes externas de tecnologia e, assim, apoiar as 10 Prog. Plan, Boon, 52) de 1978 eranstorm cies pretendidlas aa fonna de insergio do Pais no siste nico mundial. © Programa Estratégico «le Desenvolvimento detine, pela primei- ra vez, uma politica explicita de céneia e tecnologia, apresentando ind um programa de acio que, no fundamental, reaparecera nos Planos posteriores — Metas ¢ Bases para a Agio do Governo ¢ 1 Plano Nacional de Desenvolvimento. A politica proposta por esses Planos pode ser caracterizada como wna “politica de autonomia”, ieluindo entre seus objetivus a capacitacio do Pais para a adap. taglo ¢ eriacio de tecnologia, de forma a reduzir a dependéncia de fontes externas de Auow-how: Tal orientagio tinha em vista, no caso do PED, 0 desenvolvi- mento de tecnologias mais ajustadas & adoggo de fatores de_produ- gio do Pais, de modo a assegurar maior absorgio de mao-de-obra, Essa diretriz articulase com a preocupacto expressa pelo PED em relagio & criagio de um mereado de massa como forma de garantit lum crescimento auto-sustentivel, Observese, conto, que essa preo- capicio foi estrinla 4 polities econdmica eferivamente implantada ng perfodo © que a evolugio da economia brasileira reflete o insu cesso dessa politics de ampliagio de mercado interno pela incorpo ago das cammadas de menor poder aguisitivo. Fost preocupagio € também abandonada pela politica ciemtitiea © tecnologica proposta pelo I PND (e detalhada no I PBDCT), que, a0 reafirmar a intencio de reduziy a depentléncia do tow-how ex temo, vincula essa diretriz jis proposigdes de fortalecimento do po- der de competigio da indistria brasileira e de fortalecimento da emprest nacional, Como se assinalou, o aumento do poder de com io da indistria brasileira no justiticava, por si si, a diretris de promover a m jor capacitagio do Pais para a et do de tecnologia, uma ver que os conhecimentos téenicos que, para a conseeugio daqucle objetivo, deveriam ser continuamente incor porados pelo sistema produtivo poderiam ser suprimidos por fontes externas, seja através da participagio de empresas estrangeiras, seja auavés da simples importacio de tecnologia, Neste sentido, aquel divetris sé aparece como uma necessidad? quando associada 4 pro- posigto de fortalecer a empresa nacional ¢ assegurar sua. participa lo no prowesso de crescimento econdmico brasileiro, incho © adapt Glin © Ternatogin 451 Assinalese, no ent nto, que nas inieiativas governamentais de apoio jis empresas nacionais, © fortilecimento dessas empresas nko foi a preocupagio dominante da politica econdmica do periodo, vol. tada sobretudo para a manutenedo do ritmo acelerade de cresci mento, Da mesma forma, a5 solugdes para os problemas teenold sgicos associados ao processo de crescimento, implicitas nos prineipais instrumentos © medidas de politica econdmica adotados, visaram s0- 0 flux de transfe bretudo a assegu ndo, portanto, wma “poli ncia de tecnologia, caracte ica de resposta A evolugio da economia brasile as medidas de apoio & empresa nacional foram, de certa forma, pre- judicadas pelo maior dinamismo da empresa multinacional num contexto em que os principais incentivos oferecidos ao setor privado ~ 0 subsidio & formagio de capital na industria e os estimulos as exportacées — contemplavam igualmente empresas nacionais © es trangeiras. Por outro lado, a posigio da empresa nacional foi efe. tivamemte fortalecida naqucles setores em que a acio governamen formas especificas € mobilizou instrumentos mais con em anos recentes revela gue Sob esse aspecto, cabe lembrar que, muito enibora a adogio de uma politica cientitica e tecnoligica adequada seja um dos fatores de viabi de um dado padrao de erescimento econdmico, a atuagio governamental na drea dla ciéncia e da tecnologia mio é ea paz de, por si s6, ceterminar esse padtdo, Mesmo porque a propria eficécia dle uma politica cientilica ¢ teenolégica depende do seu grate de convergéncia com a evolugdo natural do sistema econsmico e/ou com a politica econdmica vigente, bem como do respildo que lhe € fornecido pelas demais medidas ¢ instrumentos de polttica 4m Peay. Plan. Boon, 52) des. 1915

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