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Desorientação

Largos, dias, Domingos, de


Andrade, Chefe de Redacção

Para lá das razões do


descontentamento, há duas
leituras da manifestação dos
professores em Lisboa que não
podem ser ignoradas.

A primeira é social. O movimento


de contestação a este Governo
tem assumido, desde Março de
2007, uma escalada sem
precedentes. Sabendo que as
alternativas ao PS são frouxas,
sabendo que o diálogo social e
político é inexistente, estando
cada vez mais presentes as más
políticas e menos as boas, só
resta ao português médio exigir
atenção na rua. É assim que este
Governo socialista corre o risco de
ficar para a história como tendo
liberalizado as relações laborais,
desmantelado a Saúde, feito
reformas atabalhoadas na
Educação, mexido a medo na
Função Pública. A raiva que os
portugueses têm alimentado faz
esquecer o que de positivo se tem
feito. E a tolerância parece ter
limites, mesmo depois dos dois
governos desastrosos de Durão e
Santana.

A segunda leitura é política e tem


como expoente máximo o ministro
Augusto Santos Silva - o mesmo
que alarmou para um golpe
constitucional se Cavaco fosse
presidente da República -, a
chamar fascistas aos
manifestantes de Chaves. Mostra
a desorientação de um Governo
irritado com a falta de gratidão que
acha que os portugueses lhe
devem, que não sabe sequer
como explicar o "voluntarismo" da
PSP, que foi às escolas para
tentar saber quantos iam à
manifestação. Mas, enfim,
esperamos ansiosamente por ver
polícias nas sedes do Partido
Socialista a perguntar quantos
militantes vão estar presentes no

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comício/manifestação a favor do
Governo do próximo sábado, no
Porto.

O que se percebe é que a


estratégia de Sócrates de atirar os
portugueses uns contra os outros,
como se fosse o 'Robin dos
Bosques' dos sem- -privilégio, já
não engana ninguém. Porque
entre os professores há pais e os
pais já começam a perceber que a
instabilidade na Educação é a
mesma que se viveu na Saúde,
em que os casos de Alijó e de
Anadia contribuíram para a queda
do ministro. Se o arrependimento
levasse ao céu, Sócrates já lá
estaria desde o dia em que
decidiu manter Maria de Lurdes
Rodrigues. E agora é tarde. Não
pode demitir a ministra, sob pena
de mostrar fraqueza. Não a pode
manter, sob pena de perder o
controlo da rua. E o poder na rua
pode ter efeitos perversos.

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