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intervengio direta do Estado em matéria doutrindria, caminhou pa lerancia, quase sucumbin as tentages de riqueza. © espantoso 1 lero 20 bemvestar foi lastimado por alguns. Sao Jeronimo chegou a arigaa, tizar os abusos decorrentes da prosperidade erescente da Igreja Romana Desde o séeulo IV vinha o cristianismo atraindo alguns dos espiti- tos mais expressivos da sociedade romana - Santo Ambrésio, P Santo Agostinho, Atanisio, Joio Criséstomo, Demais, a riqueza gue antes se aplicava na consteugio de ceattos © aquedutos destinava-s agora & edificacao de igrejas. : 3 ges imperi Estado era incapaz de ocupar. Em 476 caiu o Império ¢ 0 Estado fracionou-se. Das nas estou a Igceja, tinica forga organizada. Ancorada no prestigio que Ihe dava sua doutrina, detentora da c possuidora de bens ¢ terras, péde consoli dat progressivamente sua posicdo. Por isso, da autoridade soberana, imperi- al e universal de Roma, fez-se 2 herdeira presuntiva. Sugestoes de leitura BROWN, Peter. A Antiguidade Tardia. A Igr ARIES, Phi A dia ___ ARIES, Philippe & DUBY, George (Org). Hissra da Vida Privada. Séo Paulo: Comps. nia das Letras, 1990. p. 259-73. COMBY, Jean, Historia da Igreja, Sto los 426. DANIELOU, Jean & MARROU, Henri. Nova Histéria da Primérdios a Sao Gregério Magno. Petrépolis: Vozes, 1973. v. 1. lo: Ed. Loyola, 1973 + Capitu- ‘Tema para debate Os ctistios diante do Estado Romano: accitacio ou oposigia? 26 texto A SACRALIZACAO DO PODER TEMPORAL Gregério Magno e Isidoro de Sevilha ASE ROMANA E BIZANCIO © desmoronamento do queda do lmpério Romano diante desprotegida, em meio extremamente hos de Roma nao era reconhecida pelos bérbaros que ocupsram al 2 Africa do Norte, por adotarem o arianismo. tema politico ocidental, decorrente da deixou a lgreja A presenga do baebaro ¢ querelas religiosas nao interessam nem 20 papa hem ao imperador. Entretanto, as relagées harmoniosas entre a lereja do reconhecimento miituo das prer- concorriam para difcultar a separacio absoluta dos poderes: 0 prestigio de que gozava a monarguia sageada e, sobretudo no Ocidente, a destruigio da antiga ideia romana de Estado e a penetracdo progressiva do espiritual na esfera do Estado, cujo papel é posto a servigo da Igreja. Diante de suas dificuldades no Ocidente, a Sé Romana busca apoio em Bizancio. Mas fica entre dois fogos: de um lado, sofre pressao dos barbaros; do outro, esta Bizncio, que, chamada 4 protegt-la, tem de ser tracada com abs existird poderosa teocracia bizantina, Houve mesmo momentos de interven vio lenta do poder temporal, da qual resultou a deposigéo, 0 exilio ea morte de apts. O século V tinka sido o da luta pela ema edificagso da liberdade da Igreja com Inocéncio I, Leio |e Gelasio, O séeule Vlapresencars dificuldades, mas, apesar de alguns momentos graves, scbre, ido na época de Justiniano, as relagdes cam o lmpério Bizantino tendem a distender-se. Justiniano (527-565) tem ideia muito clara do saeerdotium* « do Imperium, ou seja, do poder espiritual e do poder imperial. Basta ler a 6 jamais abriu *dadeiros dogmas divinos". Embora afir asse a superioridade do sacerdocium de forma alguma subscreven a doutti, a gelasiana, Seu interesse pela teologia nao parece ter-lhe propiciado uma convic¢ao pessoal em matéria de f& Autacrata nato, nao tinha duvide da Preeminéneia do seu poder imperial. Sua politica celigiosa pode néo ter sido celiberadamente contra Roma, mas sem divida suas intervengdes em mate. Fi religiosa tornaram draméticas as relagées entre o papada e 0 Império, Nao obstante protestasse veneracio a Sé Apostdlies de Peco, como wr warn fica na carta que enviou a Jodo Il (532-535), Justiniano considera 6 pape simples patriarea do Ocidente, ox seja, no mesmo plano do patriarea rest, dente em Constantinopla, As presses de alguns imperadores contra os papas provocou um distanciamento entre os dois poder: ‘ha, que passou a ter mais firmeza “iruprura da ordem eclesidstica estabelecidia por Justiniano, foi a destouigag do Ilirco pelos avaros ¢ eslavos, juntamente com a perda do Meditersanes invasées germénicas introduziram elemen. f0$ novos na civilizago romana, enquanto substratos helenisticos e orfen. fais tomaram na cultura ¢ na vida bizancina luger preponderante, Iso fes com que Roma ¢ Constantinopla seguissem rumos diferentes. O afsstamen. 0 que se operou entre © Oriente ¢ 0 Ocidente talver pudesse ter side evita, do se 0 ponto do Itico, nos Balcés, nao tivesse sido deserufde, Conrado, ¢ precio nio esquecer que 0 cinon 28 do Coneilio da CalcedSnia (451), 90 afirmar a plena igualdade entre os bispos da Nova e da Antiga Roma, fort Prever o choque agudo entre os dois grandes centros 1 igiosos. Foi exatamente a presenga dos lombardos na planicie do Po (568) tum dos fetores favoréveis ao papado, Ocupado com o avango dos bulgaros, Persas ¢ arabes, © Império Bizantino nao péde desguarnecer suas defesny otientais e atender a0 pedido de socorro que the chegava da Itélia, 0 fator foi a expansio do Isl. A queda da Siria, do Egito e da Africa nas dos arabes aumentou o prestigio do papa no Ocidente e acabou per ‘ar Importantes rivais do bispo de Roma ~ os patriarcas de Alexandvia, Antioquia e Jerusalém. © triunfo do Isla, como acertadamente afirmon 28 “engrandecimento de Roma em Ferdinand Lot, propiciou indizetamente R virtude da rufna das grandes cidades do Oriente, bergo do cristianismo’ Sua rival agora era apenas Constantinopl De onde vem esse poder temporal do papado? Sabemos pela cor respondéncia de Gregério Magno que a lgreja possui considerivel pattiménio, teeurosenanGmieas de montne beneclawe de denies. © papado £6 maior proprietério da Italia. Outro fator favoravel: inexiste um poder ei eam Roma. E 0 papa quem secorre a populagio menos favorecida, protege of Priioncvor «or exravos,aprovicionae cfende a cide conte ave s6es, Tornavse a dinics forsa capaz de opor-te aos lombardos. De tudo isso the advém grande prestigio. © papa ¢ o senhor da cidade e 0 unico represen: tante do Império. A Igreja, herdeira da aucrorivas de Roma. GREGORIO MAGNO E A REALEZA CRISTA E em quadiro de enormes transformagées que transcorre 0 pontifi- cado de Gregério Magno (590-604). O nove papa é um romano perfeita- mente convencide de que o Império permanece como a expresso politica ‘deal do universalismo cristo. E sidito fel do imperador. Essa fidelidade toca por veres a humildade, que @ muitos parece subservitncia. Colocado entre “ts agitages do mundo © as obsigagdes do gover- ro", esse mistico trocaria de bom grado o trono pontificio pela vida monés: tica, Como tentou fazer, aliés, quando declinou de sua eleigdo em carta 20 imperador a quem cabia, segundo o costume, ratificar a escolha do pontifi- Perfeitamente identificado com a dura realidade do seu tempo, & levado a aproximar-se das monarquias que se constituem no Ocidente, de ccujos reis assume a diregao espiritual. Teve 0 mérito de elevar-se acima das contingéncias e de propor & sociedade uma concepgio do mundo na qual a reflexao sobre o poder ocupa lugar salience, Opontificado gregoriano transcoreeré entre o sentimento de fl lidade & ordem antiga, ou seja, 2 estrutura imperil zomana, ¢ © apclo & ordem que se estabelece — os reinos nascidos das invas6es bécbaras. Gregério teve o mérito de “descobrie” o Ocidente, de trazer a Tgeeja para a Europa, fo. Decepcionado com 0 Império, jue sera o palco principal de sua atuagio. D : agora represntado por Bizancio, buses apoio de tes rains para exercer sua missio evangelizadora, Estende ao clero sua autoridade e firma a juris prudéncia do papado sobre a Igreja, que passa a ter efetivo controle sobre a disciplina eclesidstica. Fixa com preciso a doutrina oficial na Igreja, segun- do 0 que esti expresso nes quatro coneilics ecuménicos. Gregorio Magno tem sido visto mais como tm papa da [dale Média ‘ou como um soberano do que propriamente como bispa de Roma, Na ver. ade, ele ainda estd preso & Antiguidade, é 0 ultimo papa do periodo. Sofee dda nostalgia de Roma, Permanece ligado a0 Império, politica e sentimental inente: Eatravésda sua nogéo de que o poder nfo se confande com acuta Pessoal que esse romano tipica rompe com a Antiguidade e abre perspective nova para Idade Media. E dentro da nogio de que'e poder nae ce Brivilégio, mas uma fungio, que ele se torna o primeico papa medieval, Estudo moderno acentua que Gregsrio adquiriu a estatura de soberang espititual do Ocidente porque exerceu sua autoridade episcopal sobre toda 8 Europa, promoveu @ reconquista espiritual dos anglos e se corresponden com monarcas para o beneficio das igrejas locais, Gregério, baseado na doutrina antiga, sustenta que © bie Roma é 0 deposittio da fe eo responsivel pela douttinn: Sec deena ‘mento com o impersdot Mauricio (587-602) insere-se nessa visto do pon ce. A primeira desavenga ocorreu quando 0 soberano interditou a fice, fiose militares o acesso a vida mondstica. O papa publicou o eato impert ¢ apresentou seu proteste a Mauricio (agosto, 593). Fato mais grave rece couse em 595. © bispo de Constantinopla, Joio, o Jejuador, atibutene ¢ tteulo de patrirea ceuménico. A reagio de Gregério foi enésgica, Em carta 20 imperador, afirma que somente Cristo é o Mestre universal no enivte em toda a Igreja, que s¢ estende pelo mundo, quem posse chamerae cumlnico, A indignagto do pepa contra atiide da Sé de Constantinepla cexplica-se pela sua ideia de que existem dots prineipios de univercalichte ara um tinico mundo: a Igreja e o imperador. Sendo a universalidade segundo ele, um atributo da lgreja, nenhum pattiarea pode arrogarse eae dlireito. Para anular a pretenséo de Constantinopla, Gregsrio sustente fandamento dogmatico do primado papal, ou seja, "Ta és pedrae sobre sata peda.” (Ep V, 37). Curiosamente, esta soberania universal na ordem eo, tual, que Gregsrio agora denuncia, sera mais carde eivindicada pelos es fucessores ¢ culminard na rivalidade entre o sacerdatiam e o Imperium, De qualquer forma, o violento protesto do papa foi exagerado. Nao havia na atitude do patriarca oriental a intengio de usuzpar a juradigao sobre wlgre Js universal nem de recusar a primaria de Roma, segundo entende umn espe cialsta da questo entre Roma e Bizincio, Aliés, a designagto de "patriarce scuménico,” da tielatura bizantina, era bem ancesior a Oregurio ¢ sac de, signava o universo, mas o impéio. Aspecto particularmente importante € o da realeza cristé em Gregério Magno. © papa renova a literatura patrstica e apresenea ume teoria sobre a origem eo fim do poder. O ‘que busca, evidentemente, é outra Justificativa do poder. O que oferece é uma nova imagem da sociedade alt tica. Para ele, caso subsista, o Império serd oriundo de uma necessidade do 30 mundo. Sua visio é a do rex (cei) ideal, fundado na moral. Nessa realeza terrena, preparagio para a tealeza divina, todos so convidados, ninguém. esta excluido ~ imperador ou reis das nagées. Convém lembrar que essa nogéo de Império como centro fundamental da civilizagao, de origem greco- romana, foi *purificada” pelo cristianismo, suja missso era essencialmente ecuménica, A conjuntura ocidental reclamava uma sintese, uma ideologia. Gregétio procurou uma explicagio e uma solugéo para o& problemas do mundo. Sua época é 2 do nascimento da Europa, quando a emergéncia dos regna, quer dizer, dos reinos que se formaram, assinala nova etapa nas rela ges entre a lgreja e 0 Estado. Os principes catdlicos ortodoxos marcham em bom entendimento com Roma, sealidade nova que se abre a0 papado ¢ propicia a expansio da lgroja. E nessa perspectiva que Gregério Magno deve ser interpretado. Gregsrio nao foi, certamente, um inovador, mas o cristianisme Ihe deve, apés séculos de espera, a oportunidade de inspirar a vida politica. Apoiado nas Sagradas Escrituras, ¢ tendo por mestre Santo Agostinho, clabora teoria sobre as atribuigées do poder. Suas ideias resultam de sua grande experiéncia como pastor ¢ administrador. Antes dele a doutrina po- lieica estava “implicica”,refletia a observacdo que se fazia da realidade social. Com ele, ao contrério, surge uma forma tedrica de abordagem politica, Vivendo no Ocidente e voltado para o Ocidente, a monarquia aparece em como dele como a tiniea forma de governo existente, O papa nao tem esco- tha: é monarquista por necessidade. No pensamento gregoriano, o poder é uma missio, um dever, no tum privilégio, ¢ deve ser exercido em beneficio da coletividade. Prevalece, aqui, a ideia de servigo. Preocupado com a ética dos governantes, © papa inquieta-se com os males que o poder pode acarretar. Prine(pios devem ser respeitados pata preservar a dignidade dos que exercem fungo de mando piiblico, Por isso, adverte dos perigos que ceream o poder, alerta sobre os sonhos do ambicioso, comenta a soberba ¢ fala do tirano, isto é, do mau principe. Mais pastor do que tedlogo, preocupa-se também com a salvagéo dos reis, pelos quais se cré responsivel perante Deus. Depois da queda do Império do Ocidente, Gregério foi o primeizo a reatar a patristica e a extrair dos textos sagrados uma linha politica. A doutrina de papa precisa a atribuigo dos poderes em termos de esti uunidade, ou seja, sem distinguiro temporal do espiritual. Sua Regula Pastoralis (Regra Pastoral) destina-se, igualmente, a reis e a eclesiésticos. O tema do principe a servigo da Tgreja aparece na correspondéncia com reis e 0 impera- dor. A nogo de servigo que o cristianisme confere ao poder sransfere as ica e acaba por anular a ideia de pessoas muito do peso da instituicto pol Imperador e reis tém agora tarefa comum em beneficio litos. Mas corna-se inegavel que esse Dei) faz do Estado um instrumento de salvagao, Claro, porém: Gregério ndo pretendia submeter os principes a sua autoridade. Em outros termos, respeta a jurisdigéo mondequiem, Ao sacralizar 0 poder p tem em vista a concepgio de uma ordem exist do mundo. Nesse se inge a dindmica do Estado, como tende, a fazer quando de com o Impétio. Ha quem veja em Gregorio Magno uma “tuptura da tradigho consta deliberadamente extraida das ideias contidas no sistema gelasiano. e escotha, digas ‘mar o caminho politico al. Temos, pois, que as concepsaes p tem sua visio mfstica do mundo. A doutrina gregoriana nao conilita com a soberania do Estedo, mas € uma tentativa no sentido de estreitar a volabo- asio entre os poderes. Fazer de Gregorio Magno um campedo da ideologia lureja-Eatado toca a0 anacronistno, Nao existe a supostateacracia de Gregerio, legitimas” o poder temporal pela devosio & abria espago giavam 2 unio m que, pelo menos no Ocidente, a arruinada, © pensamento politico de Gregorio presto retagoes exageradas, Alguns historiadozes foram tentar lum fervoroso adepto do agostinismo Como mostrou Marcel Pacaut, a preocupacio de Gregério Magno ers evi tar a fragmencagio religiosa, que poderia favorccer a dispersao eo isolamers "0s decorrentes do estabelecimento dos birbaros no Ocidente. Para rnava-se imperativo gerar certa coesfo em torno de um pélo dinica, a saber, a Igreja, Nao via outro meio de alcancar esse obj mando as prerrogativas do papa, a primazia romana, simplificadora condusiria no futuro, certamente, do soberano pontifice 0 nico promotor e defensor da autoridade 2c, sucessor de iosa no Oct imento da teocracia a inter fazer desse papa lo da teocracia, , como se pretendet, um i 6 um exagero de interpretacio. ‘Sua doutrina procede de sua experiéncia pessoal de pastor ¢ admi- dor, Seu pensamento tem ratzes na teadigso romana ¢ ociden Prépria concepsa0 ministerial de poder encontrarse em Santo Ambrdsio « expressa uma recusa das teorias orientais, O esforgo de Gregsrio fo Para sujeitar a politica a moral. A teologia politica gregotiana, que rey na tealeza de Cristo, no conduz necessariamente 4 32 Pode-se dizer, com um especialista, que Gregério Magno abriu uma via que sed amplamente seguida durante a dade Média: a via da razdo ¢ da nacio. Ao lado desta, os Care abriram outra ~a que deveria ensejar ao papa ¢20 imperador 0 dominio do mundo. © pontificado de Gregorio Magno assinela uma nova época na histéria do papado. A Sé Apostilica fortalecew-se economicamente, viu cres- cer sua autoridade moral e ganhou enormne prestigio gragas a intensa at dade diplomética, Acrescente-se a isso a significativa expansio através da conversio dos anglo-saxdes, da aproximagio da Espanha visigética e das +elagées com a Gala, A evangelizagio do Ocidente, promovida por Gregério, criow uma Igreja diretamente vinculada no pontifice Um século separa Gregorio Magno de Gelésio I. A realidade era ourra. Alteram-se as relagdes entre 0 bispo de Roma e o imperador. Ao afirmar a dualidade de poderes, Gelisio enfarizou a autoridade dos pontif- pesada porque tém de prestar a Deus contas dos proprios res. Essa nogdo de auctoritas, diferente da de principado, origina-se da propria fangio episcopal, mais particularmente do papa, guia espiritual dos sobaranos. As condigSes agora sio outras. A Igreja Ocidental softeu o peso do cesaropapisma bizantino. Coube a Gregorio estabelecer as atribuigdes dos dois poderes em termos mais amenos, Por fim, aparece exatamente como o testemunho da substitui¢do do fundamento "providencialista” pelo fundamento racional do poder ISIDORO DE SEVILHA E SEU PENSAMENTO POLITICO E da Espanha visigética do século VII a primeira contribuigio objetiva a ideia de realeza no Ocidente medieval, Em obra de marcada influ- encia gregoriana, Isidoro de Sevilha tragow-lhe a doutrina. © bispo espa- rocurau orientar seu trabalho para a solugio de problemas concr: icar uma teologia moral adequada as na tentativa de e Isidoro defxou importante conteibuigio, Desde dade, por sinal, 0 principe cristéo aparece como 0 protetor da Ta 20 cristianismo era a nogio bisica. Com Isidoro, io Magno tém uma definigio mais clara, A realeza passa a roduto do direito natural, mas como o governo do povo cristo". Acentua-se, desse modo, a nogdo de servigo. Evie dentemente inspicado em Gregério Magno, o autor espanhol identifica como seu tempo, mais precisamente com as transformagoes por que passava 6 reino visigodo, que necessitava de uma ideologia nova as teses de Gre; set concebicla néo mais como Enas. Sentencas que se encontra o essencial das idetas {sidorianas acerca da realeta, A obra foi escrita algum tempo depois da morte de Recaredo, rei visigode que renuinciara ao arianismo e seligara A lgreje, Pro. blemas graves afligiam ¢ Espanha apés a morte desse soberano. O princtpio de monarquia eletive de base heredicdsia, estabelecido pelo IV Coneiio de Toledo (633), mostrava fallas. sidoro compreendeu a necessidace ce uma dloutrina mais solida, Prestou inestimavel servigo & realeza que dominava « Espanha, livrando-a do seu “pecado or! ibertou-a de sua inferiotida- de diante do Império. Com efeito, em face da tradigao imperial romana, 0s reinos que se constituiram no Ocidente pareciam uma fatalidade histérica absurda, A ideia imperial permanece e exerce constante fascinio sobre as mentes, em fonho que se projeta pelos séculos da Idace Média, Os homens da Igreje Procuram *humanizar" os reis birbaros e erat o ideal de uma realeva crsta Assim foi com Gregorio de Tours, bispo que teve grande infludncia na vide politica da Galia merovingta, e também com Gregério Magno. Essa difiwal, dade de desembaragar-se do ideal do Império levou o erudito lating Cassiodoro a mascarar Teodoro de prince (principe). Isidoro foi mais felis Teve @ seu favor o advento rardio da monarquia erista na Espanha. Ac romover a renovario da realeza espanhola, exorcizou as lembrangas nocives, O ensamento politico de Isidoro repousa no principio de que a realeza estd a servigo da Igreja. A monarquia ndo aparece como urna imite: sto fraudulenta do Império, porém como uma instituiggo a servigo da cause segundo a vontade de Deus. A Tgreja assume o principio da universa- idade do Império, em vietude da nova conespgao do mundo. No entanta, a0 contrério da ideia original de Império, que €, por definigio, unitdria totalitéria, a Igceja admite pluralidade: sustenta a unidade da realess de Cristo, mas, sendo universal, compoe-se de multiplaseélulas. Esse pensa, mento jd havia sido, aliés, exposto por Gregério Magno na palémica com o atriarca oriental Jofo, o Jejuador. Ao coneeber a realeza como um servico do povo cristio, Isidoro, indiscutivelmente, assimilava-a ao episcopado. “Inventando a realeva erists” 7 Sicteven um especialisca~ ‘ele libercava do Império as realezas nacionais ¢ thes conferia uma legitimidade propria". Tal sistema politico parte da afr, mmagio de que a Igrejaconstitui o regniam Christ (reino de Cristo). A teologia Politica de Isidoro ¢ cristoldgica por exceléncia, Ao tornar-se cristho 0 prin cipe, altera-se a natureza do seu poder. Modifica-se, igualmente, a maneira de exereé-lo, Bstabelece-se, dessa forma, estreita relagdo entre a realera ¢ a Tateja, vale dizer, entre o Estado ¢ a Igreja; do mesmo modo, eriamse novo Javos entre governantes e governados, Esse trago de igualdade entre todos, de comunhio sob a autoridade de Cristo, dé especi loriana de poder. A realeza de Cristo ocupa, poi 4 Pensamento de Isidoro. O bispo espanhol nao € movido por razdes polit: cas, mas pela necessidade da luca doutrindria que itialiderar na reconstru. so da realeza visigstica, Essa realeza nao aparece aos seus olhios como vine esnécie de Império universal modelado segundo a imagem do Império terres- tre, porém se perpetua através dos séculos, Segundo Mare Reydellet, essa realera de Cristo se exerce no interi- or da Igreja, de que Cristo ¢ 0 Esposo. Isidoro assimilou de maneita admit’. velo sentido dessa imagem de Ret ¢ Esposo consagrados pela mesma uncao, A critica moderna explica a ungde real como um rite de patticipact interagdo. Diferentemente da ung#0 no Antigo Testamento, que si cleigdo divina e devia permanecer secreta, a realeza crista é concebida na Teceja c fundada na nogdo de devotamento e subordinagio existe qualquer comprovagio da existéncia do rito da ungio real na Espanha visiastica da época de Isidoro. Nao hé duvida, porém, de ter sido o reine © © primeito a realizar tal ceriménia, Convertidos ao catolicismo, seus seis foram os Unicos a receber a sagragio, isto é, a ungio sacramental que thes conferia excepcional prestigio, Sempre préximo do pensamento de Gregorio Magno, Isidoro pre- ‘ccuparse com os perigos do poder. Por isso, dirige-se aos reis, uturos sabe. ranose pretendentes.irealeza, Tece consideragGes acerca de acontecimentos contemporéneos. O poder para ele nao sinénimo de perdigao, apenas oxi. se do seu detentor uma forga espiritual superior. As reflexées que aparecers thas Sentengas a propésito da realera demonstram sua preocupacio de pas. tor. Assim € que, 20 retomar a teoria cristé sobre a origem do poder, ignn. doa 20 plano da salvagao, pée em relevo a modificagao intredusida pelo eristianigmo no plano social. Nao se trata apenas de colocar 0 principe servigo da Iereja, E a prépria esséncia da realeza que se transforma ~ inst tuigho real é na verdade uma fungéo no interior da sociedade. Embora o fundamento das ideias de Isidoro esteja sobretudo em Santo Agostinho ¢ Gregério Magno, foi ele o primeiro dar formiulacao mais nitida a esses prineipios. Nas Eqymologiae (Etimologias), sua obra mais completa e de grande sucesso nos primeiros séculos da dade Média, 0 bispo sevilhano revela seu ideal do rex, a0 indicar a origem do nome: ‘o nome de rei vem de agit com retidio" (Etym IX, 3, 18). Ao cecer consideragées sobre as virtudes do rei, assevera: “As virtucles reais essenciais sfo em numero de duas: a justiga e @ Piedade. Mas, entre os reis, a piedade é a mais louvavel; porque a justica, or si propria, & mais severa” ~ "Regiae vires praecipuse due: iusitia ee Pitas. Plus autem in regibusladaturpietas; nam instiia per se sovera eat” (Ete 1X, 3, 5). Nas Sentengas, obra pastoral, euida do modo como deve agir @ soberano. Em Gregorio, a palavra rex tem interpretagao laudatéria. Isidoro nao foge muito a isso e segue de perto a tradigéo legada pelo estoicismo, segundo a qual sébio € 0 rei Para Isidoro a realeza deve ser, antes de tudo, uma realeca em si mesma; 0 verdadeito rei sabe dominar seus instintos e resist a si prépro. Saliente-se que, em Isidoro, rex é a tiniea palavra carregada de um peso metaforico. Princeps (principe), que aparece varias vezes nos capitulos das Sentencas, parece ter um valor puramente institucional; Isidoro nao acompa- nha a Gregorio Magno, que via, por detras do princeps, um repositério de espiritualidede. De resto, a0 formular o seu ideal de rex, Isidoro nao Ihe empresta o aleance de um principio constitucional. Néo prega que o rei que peca deva ser destronado. Seu ponto de vista é 0 da gramatica e da-m © rel que falta a seus deveres trai seu nome ¢ sua missao (M. Reydeller). O perfil do principe eristao isidoriano acompanha o modelo esbo- sada por Gregorio. Parece que lsdaro considera a exegese de GregSrio mais adequada & moral politica que ele tenta impor no reino ibérico. E impelido a Gregorio possivelmente por razio Particular. A éptica de Santo Agosti- nho, de duas cidades em confronto, reflete a observagio de um mundo ‘Pagao; a perspectiva de Gregorio e Isidoro é a de uma sociedade crista. A transferéncia que se processa aplica-se a0 novo povo de Deus, isto é, 0 pave cristo, Em suma, no que diz respeito aos perigos do poder, ao ideal do rex ‘ou a doutrina do mau rei, 6 pensamento isidoriano fundamenta-se intima- mente em Gregério Magno. Assim ¢ que pede ao rei que refreie sua cupidez € adverte que o bom princige “no despoja ninguém para fazer um pobre rico” (Sent IIL, 49, 2). O srande problema que se coloea a Isidoro é o de saber o camninho 4 tomar depois ca conversto de Recaredo. Em outros termos: qual o signif cade da realeza em uma sociedade crista? Néo se tratava apenas, como ob. serva um estudioso do pensamento de Isidoro, de definir as relagées entre a Igreja e 0 Estado. O grande perigo era ver 0 soberano visigodo tentar sub- meter a Tgreja, a exemplo dos imperadores. No momento em que a resleza espanhola procurava seu caminho era importante revest-la de uma just cago ideolégica, ou soja, daquilo que um historiador das ideiae chamou de "helenismo cristo," Essa teoria originada de Eusébio de Cesaréia ~autor de importante Historia Eclesiéstica -, era a doutrina oficial do Impé- rio Bizantino, a partir de Justiniano e seus sucessores. Esse foi o quadro de que se valeu Isidoro para elaborar sua concep- Gio polties.# dentro desea perspeciva que esboga seu modelo do princi cristio. Antes de definit as qualidades do principe, ele pergunta a que crité- "os deve o cel responder em uma sociedade erst, Diante da yravidade do 36 ‘momento, assume a orientagéo da realeza. Com efeizo, toda a doutrina po- ica de Isidoro fundamenta-se na interagio Ipreja-Estado, Q texto que tra- tadas relagdes entre os dois poderes tem sido objeto de interpretagdes exage- radas. Nao serd, pois, demais repeti. “Os principes seculares ocupam, por vezes, a supremacia do poder na Igreja a fim de proteger, através desse poder, a disciplina eclesiéstica, De resto, na Igroja esses poderes nao seriam necessérios se nao impuisessem 0 terror da disciplina, o que os sacerdotes so impotentes para conseguir com sua pregacao. Frequentemente 0 reino celeste vale-se da realeza terrena quando aqueles que esto na Igreja vio contra a fé e a disciplina, eo destrufdos pelos principes. Que estes saibam que Deus lhes pedira contas a respeito da lgreja, por Ele confiada & sua protegio. Pois, quer a paz ¢ a dlisciplina eclesidstica se consolidem pela ago de principes fii, quer periguer, ‘Aquele lhes pedir4 contas,jé que confiou sua Igrefa ao seu poder” (ISIDORO, Sententiae I, 51. PL83, 723-24, Apud ARQUILLIERE. Augustinisme politique p. 142). Examinado isoladamente, este texto parece indicar 0 esvaziamenta do con- terido proprio do Bstado, isto é, presta-se a uma interpretagao teacrética, O trecho que precede essa citagdo é parcicularmente importance. Nele afirma Isidoro: "Os poderes seculares esto sujeitos a disciplina religiose; € nao obstante disponham da supremacta real, continuam ligados pelos lagos da fe", Se ligarmos as duss passagens, vemos que, em relagdo & lereja, o principe the eve sujeisdo; em alguns casos, nao obstante, conserva seu poder dentro da propria Igrsja - isso quando chamado a assegurar a disciplina diante da imporéncia da autoridade eclesisstica. O texto abrange os limites da inter- vengio do poder civil no interior da Igreja. Nao se trata, portanto, de sub meter 0 Estado a0 poder Possivelmente influenciado pela doutrina de Celis, Isidoro insis- te na distinclo dos dois domtnios. As intervengées do poder leigo nos negs- cios da lareja resultam dos deveres desse mesmo poder, que os principes receberam de Deus "para afastar os povos do mal". Néo objetivam trans(or- ‘mar esse poder de natureza secular em poder eclesidstico ou supra-eclesisti Marcel Pacaut viu com lucides 0 postulado isidoriano ao escrever: “Portanto, néo se dis mats que a lgreja dé ao Estado seu dinamismo nem mesmo que © Estado est na Igreja (o que implicaria subordinagio), mas simplesmente que, sem o servigo da Igreja e sem a fé cris, nfo hé nenhuuma ". O estudo lterdrio de Mare igualmence que o prelado espanhol, fo de seu concetido préprio, poe-se em guar” ipe no dominio eclesiistieo. Reconhece nele Para suprie a impoténcia dos cléigos’, Tenha- /e numa Espanha tardiamente convertida, A “longe de querer esvaziar o Est da conera as invasées do pr somente 0 Nota-se em Isidoro, como se afirmou, uma definigao mais precisa dos postulados expressos por Gregério Magno no que concerne ac papel do Poder leigo na manutengio da diseiplina e da moral cristis. A monargiuia {sidoriana torna-se uma fangao" na sociedade. Pode-se dizer que, como Gregorio, o pensamento de Isidoro é dominado por um desejo de “ ue nio deve confundir-se com um projeto teocratico, Pode-se uma negagio do di ir a0 poder temporal fungao rel a "4 gerou confusio entre os poderes. Todavia, nao era cle- gado ainda o momento de substituir a ceocracia imperial pela teocracia OU, Jean & MARROU, Henri. Albores da Cristandade Medic- in: __. Nova Histéria da Igreja. Pecedpolis: Vozes, 1973, v. 1. p. LLORCA, Bernardi __ Historia de la 631-59 « 664.75; dem. La Ig cit, p. 691-717, ULLMANN, Walter. E] Enfoque Occ El Cesatopapismo Imperi Tn: Pe io en la Edad Media, Barcelona: Editorial Ar 1985p. 45.51 ‘Tema para pesquisa bi A vealeza crista segundo a doutrina politica da Alta Idade Média, 38 A IGREJA E A IDEALIZAGAO DO IMPERIO CRISTAO Carlos Magno ATGREJA E O IMPERIO CAROLINGIO E célebre a resposta do papa Zacaties & consulta de Pepino a respei- to dos francos merovingios que na Francia desse tempo néo detinham o oder real: “Deve ser chamado de rei aquele que realinente exerce o poder 2 fim de que a ordem do mundo nao seja perturbada" (750). A ordem a que se referia Zacarias no era a do zeino franco, mas a ordem do mundo, segundo a definigfo de Santo Agostinho. Na verdade, Pepino nao queria passer por uusurpador e necessitava legitimer sua realeza. A ungdo que the conferiram ‘os bispos francos meses depois de sua eleigao imprimiaThe a graga de Deus ¢ cereava de respeito 0 seu poder. Inaugurava-te a alianga entre os carolingios #2 Sé Romana. Ameagado pela nova incursso dos lombardos na Iedlia, 0 papado buscava apoio no Ocidente. © ano de 754 marca nova etapa. Firmacse 0 acordo entre Pepino € tévao Il (752-757). O nove pontifice era romano, ligado & corrente cleto de sentimento nitidamente latino ¢, por consequéncia, anti- lombardo e anti-bi soberano franco e seu: 8 dos romanos, isto é, protetores da cidade e da populacéo de nga completa-se com a segunda sagcagdo de Pepino e também com a.ungio de seus filhos Carlos ¢ Carlomano. Estabelece-se entre o rcieo ice verdadeiro pacto de “compaternidade”, no dizer de Fole. O apoio

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