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Pecas Comprimidas 5.1_| INTRODUCAO Denomina-se coluna uma peca vertical sujeita & compressdo centrada. Pecas comprimidas axial- mente s4o encontradas cm componentes de treligas , Sistemas de travejamento ¢ em pilares de sistemas contraventados de edificios com ligagdes rotuladas (ver Figs. 1.30b e 1.316). Ao contrétio do esforgo de trago, que tende a retificar as pegas reduzindo o efeito de cur. Vaturas iniciais existentes, o esforgo de compressio tende a acentuar esse efeito. Os desloca. Inentos laterais produzidos compoem 0 proceso conhecido por flambagem por flexdo (Fie. 5.la) que, em geral, reduz a capacidade de carga da pega em relagéo ao caso da pega traciona, da. As pecas comprimidas podem ser constituidas de seco simples ou de seco muiltipla, con- forme ilustram as Figs. 5.10 e 5.le. As pegas méltiplas podem estar justapostas (Fig, 5.1) ou afastadas e ligadas por treligados ao longo do comprimento, As chapas componentes de um perfil comprimido podem estar st que € uma instabilidade caracterizada pelo aparecimento de desloc: ieitas & flambagem local, -amentos transversais & cha- pa na forma de ondulages, A ocorréncia de flambagem local depende da esbeltez da chapa b/t Fig. 5.16), | " ~_Flambagem oe f ‘ + ‘ ' : ' ‘ 1 ' ' ~~ _Flambagem I ‘global por Flexo (©) Sogo simples (0) Seco muttipia Fig. 5.1 Colunas de seca simples e de segtio méltipla. 120 capituios Este capitulo apresenta o critério de dimensionamento de pegas em compresso sim. ples, considerando os efeitos de flambagem por flexio e de flambagem local, em peeas de segao simples e de seedo multipla. As hastes submetidas & flexocompressio sfo tratadas nc Cap. 7 5.2 | FLAMBAGEM POR FLEXAO_ Os primeiros resultados te6ricos sobre instabilidade foram obtidos pelo matemético sufcc Leonhardt Euler (1707-1783), que investigou 0 equilfbrio de uma coluna comprimida na po sigdo deformada com deslocamentos laterais. O resultado obtido esta ilustrado pelas duas re tas identificadas na Fig. 5.2d por coluna ideaimente perfeita, j4 que este é valido para as se. guintes condigdes: = Coluna isenta de imperfeigdes geométricas ¢ tensdes residuais — Material de comportamento eldstico linear — Carga perfeitamente centrada, Nestas condigSes, a coluna inicialmente reta mantém-se com deslocamentos laterais nulos (6 = 0) até a carga atingir a carga critica ou carga de Euler dada por (Gere e Timoshenko, 1994): wEl e A partir desta carga néo é mais possfvel o equilffrio na configuragéo retilinea. Aparecem entio deslocamentos laterais, ¢ a coluna fica sujeita a flexocompressio. Em fungao da hipéte- se de pequenos deslocamentos c rotacées, ficou indeterminada a fumgo carga N versus deslo- camento 8 para N > N,,. ¢ por isso o aparecimento dos deslocamentos é representado na Fig. 5.2d por uma linha tracejada horizontal. Dividindo-se a carga critica pela area A da seco reta da haste, obtém-se a tensio critica Nw G1) (5.2) onde €/i = indice de esbelter. da haste i= YT/A, raio de giragio da segdo, em relagdo ao eixo de flambagem. As colunas reais possuem imperfeiges geométricas, tais como desvios de retilinidade, oriun- das dos processos de fabricagdo e nem sempre pode-se garantir na pritica a perfeita centrali- zagio do carregamento. Nas Figs. 5.2b e 5.2c esto mostrados os casos de coluna com imper- feigdo geométrica (8,) e de coluna com excentricidade de carga (¢,). Nestes casos 0 proceso de flambagem ocorre com a flexio da haste desde o inicio do carregamento como indica a cur- val da Fig, 5.2d. Oeesforgo normal Nem uma coluna com imperfeigio geométrica representada por 85 produz uma excentricidade adicional 8, chegando-se a uma flecha total 5, que, em regime eldstico de tensdes, é expressa por (Gere & Timoshenko, 1994): 5s INI (5.3) O grafico N X 8, da Eq, (5.3) corresponde & curva 1 da Fig. 5.2d. A evolugdo das tensdes normais na se¢ao mais solicitada de uma coluna de sego H em flambagem em torno do eixo Y esté ilustrada na Fig, 5.2e. Para a coluna imperfeita de material elistico (curva 1) observa-se 6 Pegas Comprimidas 121 a ocorréncia de flexocomprestio em toda a extenséo do caminho de equilfbrio com as tensdes médximas na segao dadas por o G4) A Ww onde N6, representa 0 momento fletor atmante na sego do meio do vio, e W'é 0 médulo elAs- tico a flexdo [ver Eq. (6.1) ¢ Fig. 6.5]. Se 0 material da coluna for elastoplistico, a maxima tensdo solicitante obtida com a Faq. (5.4) atinge a tensfio de escoamento f, no ponto E da Fig. 5.2d, € a coluna experimenta uma redugio de rigidez devido a plastificagao progressiva da se- go mais solicitada, passando a seguir 0 camino da curva 2, No ponto F, a coluna atinge sua resistencia pela plastificagdo total da seco central AS colunas fabricadas em ago, além de possuirem imperfeigdes geométticas, esti sujeitas, previamente & ago do carregamento (ponto B da Fig. 5.2d), a tensoes oriundas dos processos de fabricagio, denominadas tensGes residuais , (ver Seo 1.8). Essas fensdes se somam 3s Coniiguragso doformada + Contigurapio Inia! (a) Coluna de Euler (©) Imperaigae geométrica (6) Exconticidade do carga (iealmerte perteta) CColuns idealmante ereta(Eulor} Euler M cane I + -Coluna importa de rmatoralelétion 2- Coluna imperfota de 3-Coluna Imperteita de material 2 inelistico & com tanoéee rackluaie a 5 i ¥ 122. capitulo 5 tenses devidas ao carregamento, induzindo o infcio da plastificaco sob agdo da carga N, egy. respondente ao ponto D da Fig. 5.2d; a coluna passa, entZo, a seguir 0 caminho da curva 3 ay, gindo sua resisténcia sob agfo da carga N, no ponto G (ver também a evolugdo das tenstes normais na seco central na Fig. 5.2) A carga N, € denominada carga ttima ou resistente e, como se observa na Fig. 5.24, podg ser bem menor do que a carga critica (W,,) da coluna de Euler correspondente. A tensfo tilting nominal f, é obtida admitindo-se somente a agio do esforgo normal N, (sem flex4o) na secgy transversal de érea A: East (5.5) Assim como a tensdo critica f,, [Eq. (5.2)], a tensdo iiltima f, também depende da esbeltey £/i da coluna em torno do eixo em que se dé a flambagem, como mostra a Fig. 5.3. Quan. to mais esbelta a coluna, mais deformével serd seu comportamento e menor seré a tensig Ultima. Fig. 5.3 Comportamento de colunas com diferentes indices de esbelter sob ago de carga crescenteaé atingir a tensdo ltima nominal f. A Fig. 5.4 apresenta a variagio da tensdo tiltima f, dividida pela tensdo de escoamento f, material, em fungi do indice de esbeitez ¢/i. A curva tracejada poderia representar um critéio de resisténcia para colunas geometricamente perfeitas com material eléstico-perfeitamente plastico, onde se notam duas regides: — Para, <{, a tensdo tiltima f, 6 a propria tensio critica f,. — Para, > f, a tensio tihima /, pode ser tomada igual a ,, Entretanto, como jé observado na Fig. 5.2d, devido aos efeitos de imperfeigdes geométi- cas e de tensdes residuais, 0 conjunto de valores de tenses tltimas obtido em resultados experimentais tem a distribuigto ilustrada na Fig. 5.4, estando abaixo da curva da colunt perfeita (para colunas curtas os valores experimentais de f. sto maiores que f, devido a0 en- cruamento do ago). Pecas Comprimidas 123 Coluna perfetta (Euler) Coluna com tensdes residuais e com impertei¢oas geométricas x Resultados oxperimentais Cen)? eit Fig. 54 Variacio de resistencia de uma coluna comprimida, em fungio do indice de esbelter 6/1 A curva em linha cheia da Fig. 5.4 (denominada curva de resisténcia 4 compressio com flambagem ou simplesmente curva de flambagem) representa o critério de resistencia de uma coluna considerando-se os efeitos mencionados anteriormente. Observam-se trés te. gides: ~ Colunas muito esbeltas (valores elevados de ¢/i) onde ocorre flambagem em regime elds- ticof, 1.0), Na prética utilizam-se gréficos como abacos de pontos alinha- dos (Anexo H da NBR 8800, 1996) aplicdveis a situagGes bastante restritas. Na atual abordagem adotada por algumas normas de projeto inclufca a NBR $800 (2008), o esforgo normal resis- tente das colunas pertencentes a pérticos pode ser obtido com base na esbeltez obtida com K = 1,0; este procedimento impe o eélculo dos esforgos solicitantes por meio de anélise de 2.* or- dem ja incluindo-se os efeitos das imperfeigdes geométricas referentes aos desvios de prumo da estrutusa e da inelasticidade do material (ver o Item 7.4), 5.4 | CRITERIO DE DIMENSIONAMENTO DE HASTES EM COMPRESSAO SIMPLES 5.4.1 Férmula de Dimensionamento Oesforgo resistente de projeto, para hastes metdlicas, sem efeito de flambagem local, sujeitas & compressiio axial, 6 dado pela equagio: Pecas Comprimidas 127 Naw (5.84) onde Ff. = tensio resistente (ou tenséo tiltima) & compressio simples com flambagem por flexio A, = area da segao transversal bruta da haste 1,10 para combinagdes normais de agdes (ver Tabela 1.7) A tensiio f, considera o efeito de imperfeicdes geoméiricas ¢ excentricidade de aplicagiio das cargas dentro das tolerncias de norma, além das tensdes residnais existentes nos diferentes tipos de perfis. 5.4.2 Tenséo Nominal Resistente f. Numerosos trabalhos de pesquisa sobre resisténcia 4 compressa de colunas realizados na Amé- rica do Norte e na Europa a partir de 1970 resultaram no conceito de miltiplas curvas de flam- bagem de modo a abranger toda a gama de perfis, tipos de ago e processos de fabricacao utili- zados na industria da construgao, Por exemplo, Bjorhovde (1972, apud Galambos, 1998) estu- dou numérica e experimentalmente 112 colunas. A Fig. 5.7a ilustra 0 aspecto da faixa de va- ico das curvas de flambagem desenvolvidas considerando-se a imperfeigao geométrica inicial 8, igual a L/1000. Todas essas curvas foram posteriormente agrupadas em 3, tornando- se as curvas recomendadas pelo SSRC (Structural Stability Research Council) na América do Norte. Cada um dos 3 grupos é formado por diferentes tipos de perfis, processos de faoricagdo tipos de aco. Por exemplo, o grupo 2 inclui os perfis leves tipos Ie H laminados em aco A36 enguanto no grupo 3, de menor resisténcia, esto inseridos os perfis de mesmo tipo porém de maior espessura (perfis pesados) e portanto com maiores tensbes residuais. Bjothovde (1972, apud Galambos 1998) também desenvolveu 3 curvas de flambagem conside- rando a imperfeigtio geométrica inicial igual a L/1470, que foi o valor médio encontrado no estudo estatftico conespondente, Essas curvas séo referidas como curvas IP, 2P e 3P do SSRC. A norma americana AISC e a brasileira NBR 8800 adotaram a curva 2P (jlustrada na Fig. 5.75) como curva tinica de flambagem, a qual é descrita como uma relagao entre o parametro adimensional y, €0 indice de esbeltez. reduzido Ay [Fq. (5.6a)]: x= 0,658 para dy = 1,50 (5.94) 0,877 Ms para A, > 1,50 (5.9) 5.4.3 Valores Limites do Coeficiente de Esbeltez As normas fixam limites superiores do coeficiente de esbeltez (K€/i) com a finalidade de evi- tara grande flexibilidade de pecas excessivamente esbeltas. Os limites geralmente adotados so: Edificios (AISC, NBR 8800) 200 Pontes (AASHTO) 120 128. copitulo 5 (a) i 10 0.9 08 - or Euler O68 rT 1 08 | o4 t 08 - 02 on oo 00 05 10 18 20 25 ty 30 (o) Fig. 5.7 Curvas de flambagem: (a) faixa de variacdo das curvas de flambagem (adaptado de Galambos, 1998); () curva tinica de flambagem das normas ATSC (2005) e NBR 8800:2008. 5 | FLAMBAGEM LOCAL | 5.5.4 Conceito Denomina-se flambagem local a flambagem das placas componentes de um perfil comprimido. A Fig. 5.8 mostra uma coluna curta (no sofre flambagem global por flexdo), cujas placas com- ponentes comprimidas apresentam deslocamentos laterais na forma de ondulacées (flambagem local). Fm uma coluna esbelta composta de chapas esbeltas, os processos de flambagem por Pecas Comprimidas 129 Segdio transversal apés 2 flambagem local Fig. 5.8 Coluna curta apés a flambagem local. flex:io da coluna (global) e de flambagem local (das chapas) ocorrem de forma interativa redu- zindo a carga tiltima da coluna sem consideracdo de flambagem local (carga N, da Fig. 5.2d). 5.5.2. Flambagem da Placa Isolada O comportamento, sob cargas crescentes, de uma placa isolada, comprimida uniformemente e apoiada em seus bordos laterais, é mostrado na Fig. 5.9. Se a placa é compacta, isto é, com baixa relaeao b/1, o encurtamento A aumenta linearmente com a carga P até a plastificago da segio (P = P,). Entretanto, se a chapa é esbelta (elevado valor b/#) ocorre a flambagem local (P = P.), caracterizada pelo aparecimento de deflexdes laterais, ¢ a conseqiiente redugio da rigidez da placa. O saldo de carga aplicada entre a carga critica local (P.,) € a carga dtima da placa (P,) € considerado uma reserva de resisténcia pés-flamhagem, ¢ seré tanto maior quanto mais esbelta for a placa, Destaca-se, na Fig, 5.9, a distribuigdo de tensGes na seco transversal, que passa de uniforme a niio-uniforme apés a carga critica local (P > P,.). Essa distribuigdio, caracterizada pela progressiva Tedugiio de tensGes no trecho central da placa e 0 acréscimo de tensdes nos bordos, deu origem ao conceito de largura efetiva wilizado no dimensionamento de columas com chapas esbeltas. A tensio critica de flambagem local de uma placa perfeita foi obtida por Timoshenko (959): PE 12 (1-4) @/ay? onde & é um coeficiente que depende das condigées de apoio da placa ¢ da relagao b/a largural altura, P. oe 5.10) 130 capitulo s Esbeltez da chapa = bt 8 ee |r Comms) “Placa compacta. } LULL E L ‘ Bordos itt apoiados g A fir | 5 Resistencia | Péseambagem Fig. 5.9 Comportamento da place isolada perfeita sob compressa. Encuriamento A 5.5.3 Critérios para Impedir Flambagem Local Considerando-se 0 caso de placa isolada perfeita, o valor limite de esbeltez da placa (b/), para impedir que a flambagem local ocorra antes da plastificagio da sec&o 6 obtido igualando-se a tensdo critica eléstica {¢,, ca Eq, (5.10)] & tensio f, b kre E i: =) = fJ5-* = 0,95 ve f= G11) (3) 120 —v*) f, ele onde k= 4 para bordos apoiados; k = 0,425 para um bordo apoiado ¢ outro livre. Para considerar os efeitos de imperfeicdes e de tensdes residuais, as normas apresentam valo- res limites de b/t menores que (6/0), da Eq. (5.11). Os valores limites de b/t para placas compo- nentes de alguns tipos de perfis sf mostrados na Tabela 5.1. Os valores diferenciados para os diversos casos tém origem nas condigdes de apoio das placas [coeficiente k da Eq, (5.11)] Por exemplo, as abas do perfil cantoneira (Grupo 3 da Tabela 5.1) e as mesas dos perfis Te 1 (Grupo 4) tém um bordo livre e outro “apoiado”. Entretanto, 0 apoio nos perlis T ¢ I oferecem major restriedo 4 rotagdio da mesa do que 0 apoio da aba do perfil cantoneira, Jé as almas dos perfis 1, He U (Grupo 2) tém dois bordos “apoiados” Se as placas componentes de um perfil tiverem valores de (b/t) inferiores aos da Tabela 5.1, no haverd flambagem local eo esforgo resistente de compressio da coluna sera calculado com Eg, (5.8). No caso contririo, deve-se levar em conta a redugéo do esforgo resistente da colu- na devido a ocorténeia de flambagem local. Pecas Comprimidas 131 Tabela 5.1. Valores limites de b/rem chapas componentes de perfis em comptessto axial para impedir que a flambagem local ocorra antes do escoamento do material (NBR 8800; AISC) coferecida como apoio & placa da mesa do perfil 5.5.4 Esforco Resistente de Hastes com Efeito de Flambagem Local A redugao na capacidade de carga das colunas devido & ocorréncia de flambagem local é con- siderada pelas normas através do coeficiente Q. As exptessdes para Q sio bascadas no compor- tamento das placas isoladas (ver Item 5.5.2). As placas componentes de um perfil sfo classifi- cadas como: 132 capitulos — Placa nfo-entijecida: com um bordo apoiado e outro livre (Grupos 3 a 6 da Tabela 5.1); por isso so denominadas também por placas tipo AL (apoio-livre); — Placa enrijecida: com dois hordos apoiados (Grupos 1 e 2 da Tabela 5.1), placas tipo AA, No caso de placas enrijecidas, a reduciio de rigidez da coluna € considerada através do co- eficiente Q,, baseado no conceito de largura efetiva. Esse conceito esté ilustrado nas Figs. 5.10c © 5.10d. Na Fig. 5.10c vé-se a distribuico ndo-linear de tensbes apés a flambagem local na segdo transversal da placa (ver também Fig. 5.9). Para descrever 0 comportamento da placa, 0 diagrama nao-linear de tensdes 6 substituido por um diagrama de tensio uniforme, igual a ten- silo maxima nic, de maneira que a resultante seja a mesma forca P. As tensbes uniformes se distribuem em dois trechos de largura b,/2, e a placa original de largura b passa a ser represen- tada por uma placa de largura efetiva b,.. Dessa forma tem-se: Peo, 4, =f o (x) de Ae A, onde A, = area efetiva da placa = bre Q, Observa-se que a largura efetiva b, depende da intensidade da tenso Cais. As placas ndo-enrijecidas (Figs. 5.10a e 5.10b) possuem resisténcia pés-flambagem muito pequena, de modo que é prudente reduzir a tensdio média no perfil ¢ evitar a flambagem local Essa redugdo ¢ feita através de um fator Q, aplicado a tensao tiltima da coluna f. O esforgo axial resistente de edlculo em hastes com efeito de flambagem local 6 ento dado por: AK (5.8) You N, News onde Q=Q,+ Q, = coeficiente de redugdo, aplicdvel a segdes em que uma ou mais placas componentes tém relagao b/r superior aos valores da Tabela 5.1. J. = tensio resistente da coluna determinada através das Eq. (5.94) em fungi do indi- ce de esbeltez reduzido da Eq. (5.6a) modificado pelo fator Q: (5.6c) onde i aio de giraco da seedo bruta, em relagdo ao eixo de flambagem global. Segdes com Placas Nao-enrijecidas Nas placas nao-enrijecidas (Fig. 5.10a), nao existe reserva de resistencia apés a flambagem; 0 céleulo é feito numa situagao anterior & flambagem, com uma tensi0 Média Gyan = QO, Ors Gig. 5.10b). O coeficiente Q, pode ser obtido com equagGes no formato a seguir: — flambagem local ineléstica fee (6.120) Pecas Comprimidas 133 Pp P | ble ie leo! lel ai Gras = Os Fo t Gu | Gree | i 4 Bordo |_| apotado () 0 @ Fig. 5.10 Efeito de flambagem local em placas isoladas. (a) Placa niio-entijecida (am bordo apoiado ¢ ‘um bordo livre); variacio das tensbes entre dn,, nO bordo apoiado e 0s, no bordo livre; (b) tenszio média na placa ndo-enrijecida Oyss. = O, Cau (C) placa enrijecida (dois bordos laterais apoiados); variagiio das tensOes de compresstio entre Ti, no bordo lateral ¢ ga, no meio da placa; (d) largura efetiva b, = Q,b. ~ flambagem local elistica 2>(2) oer (5.128) ra (2) ME As equagdes para o coeficiente Q, e os valores limites de esbeltez, para os diferentes tipos de placas ndo-enrijecidas encontram-se na Tabela 5.2. Segdes com Placas Enrijecidas Nas placas enrijecidas (Fig. 5.10c), existe reserva de resisténcia apés flambagem; 0 célculo entio feito numa situagdo pés-flambagem, admitindo-se uma largura efetiva b,, trabalhando com a tensio maxima (Fig. 5.10d). A largura efetiva pode ser obtida com a equagdo a seguir - [-€ Els (5.13) onde C = 0,34 para placas enrijecidas em geral C = 0,38 para mesas ou almas de segGes tubulares retangulares ou quadradas. Na Eq, (5.13), oé a méxima tensiio nominal de compressaio atuante na érea efetiva: OA, f. Ag Ag Occéilculo ¢ iterativo, j4 que o esforgo normal resistente nominal N. [ver a Eq, (5.8a)] depen- de da largura efetiva que, por sua vez, depende da tensio oy, fungaa W.. De acordo com as nor- mas NBR 8800 e AISC, no caso de placas enrijecidas em geral, o processo iterativo pode ser o 434 capituios RTA CH Pecas Comprimidas 135. ter at cispensado tomando-se o = f,, sendo f, calculado com Q = 1,0. Em qualquer caso pode-se ilar 0 processo iterativo adotando-se conservadoramente o =f, Secdes com Placas Enrijecidas e Nao-enrijecidas Nas secdes contendo placas enrijecidas e nio-enrijecidas, o coeficiente Q é dado pela equacio: 4, -Z@~b)t 2= 0,0, = 0, (6.14) , 5.6 | PECAS DE SECAO MULTIPLA 5.6.1 Conceito Denominam-se pecas de segdo milltipla, ou simplesmente pecas miiltiplas, as formadas pela associagao de pegas simples, com ligagdes descontinuas. Em geral, identificam-se trés tipos de colunas em seco miiltiple (ver Fig. 5.11): — Pecas ligadas por arranjos treligados; — Pecas ligadas por chapas igualmente espacadas; — Pecas justapostas, com afastamento igual & espessura de chapas espagadas A determinagao do esforco normal de uma coluna de segiio miiltipla envolve trés aspectos: ~ A flambagem da coluna como um todo; — A flambagem das pecas componentes; — As forgas atuantes nas ligagées, (b) to) Fig. 5.11 Pecas de segdo muiltipla: (a) arranjos treligados; (b) chapas igualmente espacadas; (c) pecas Jjustapostas. 136 Capitulo 5 +4 ‘ " cK | | | = foeonestesseaaisiats (a) (b) © Fig. 5.12. Flambagem de pecas miltiplas © comportamento da coluna como um todo depende da flexibilidade devida a flexfio e 20 cisalhamento e também da deformabilidade das ligagdes. O efeito das deformagGes cisalhantes esti ilustrado na Fig. 5.12, que mostra a distoreao de uma se¢io originalmente reta na flamba- gem de uma coluna miltipla. Na Fig. 5.12a vemos duas hastes sem ligagao entte si, sob efeito de uma compressio N; ha- vendo deformacdo lateral, uma seco originalmente plana das duas hastes se transforma em dois planos. Na Fig. 5.12b vemos as mesmas hastes com ligacdo continua; uma seeao original- mente plana das duas hastes mantém-se plana apds a deformacao lateral, assegurando o traba- Iho das hastes como se fosse um perfil simples. No caso das hastes sem ligacZo, a carga tltima Ga colna é calculada com um momento de inércia igual & soma dos momentos de inércia das segGes isoladas. No caso das hastes com ligacdo continua, o momento de inércia é muito supe- rior ao das segdes isoladas, resultando em uma carga titima muito maior, Na Fig. 5.12c vemos as duas hastes ligadas por barras horizontais, Para tratar esta estrutura com ligagdes discretas como uma pega continua e de segzio uniforme é preciso levar em conta as deformacdes por cisalhamento que sio as distorgdes da seco reta, Na figura em que as has- tes estiio deformadas, nota-se que uma segao originalmente plana das duas hastes apresenta-se em dois planos distintos, porém com deslocamento relativo bem menor do que no caso das hastes sem ligagio. A ligagdo descontinua funciona como uma ligagdo continua de menor efi- ciéneia e, para certos tipos de treligados, produz um momento de inércia quase tio grande quanto o da ligacdo continua. Nestas condigdes, as pegas metdlicas com ligagdes descontinuas tém grande importancia em estruturas metélicas. 5.6.2 Critério de Dimensionamento de Pecas Maltiplas Admitindo-se um modelo de pega continua, a carga critica N,,* de uma coluna com segiio mtl- tipla é obtida teoricamente considerando-se as deformacées por cisalhamento existentes em funcdo do tipo de arranjo trelicado utilizado, A menor eficiéncia das ligagdes, em relag&o ao caso de ligacdes continuas, pode ser considerada utilizando-se um indice de esbeltez. fic (Gq/i)*, superior ao calculado admitindo-se ligagdo continua. Aumentar o indice de esbeltez Pecas Comprimices 137 | voy ns ' va 7 * © le fe) Fig, 5.13. Pegas comprimidas formadas por associagao de cantoneiras justapostas com ligagdes descon- tinuas: (a) cantoneiras de abas iguais; (b) cantonciras de abas desiguais, lado a Tado; (©) cantoneiras de abas iguais, opostas pelo vértice; (d) cantoneiras de abas desiguais, opostas pelo vértice; (e) vista longi- tudinal da coluna, mostrando as chapas de ligacao, @, = comprimento livre da pega individual; 1 1 = eixo em tomo do qual se dé flambagem da pega individual; x7 x = exo em fomo do qual se dé flambagem da pega composta. equivale a reduzir a carga critica, uma vez que a tenséo critica decresce quando (€,,/) cresce (Eq. (6.2)]. O Eurocédigo 3 apresenta critérios para projetos de colunas de segao miltipla (su- jeitas a requisitos construtivos e geométricos) considerando 0 modelo de pega continua com deformagdes por cisalhamento. ‘No caso de pecas miiltiplas ligadas por barras ou cantoneiras, formando planos treligados, comparando-se alguns possiveis arranjos treligados conclui-se que os arranjos em lagos sim- ples (Fig. 5.114) e duplo, se respeitadas algumas condigdes geométricas, produzem um indice de esbeltez ficticio (£,,/i)* muito préximo do indice de esbeltez da coluna com ligagées con- tinuas. Por isso, anorma americana AISC permite se determinar a carga tiltima dessas colunas como se as pegas fossem unidas por ligagdes continuas, desde que seja considerado 0 efeito da deformabilidade das ligagdes. Outros tipos de arranjos treligados padem também ser usa dos, mas no célcuto da carga tltima niio se pode desprezar 0 efeito das deformagées por cise Ihamento. | As colunas compostas por pegas justapostas podem ser analisadas como coltnas de seo sim- | ples [ver a Fig. (5.13)], desde que o espagamento /, entre os pontos de ligagao restrinja 0 indice de esbeltez, méximo da pega isolada a 1/2 do indice de esbeltez. da pega composta (NBR 8800): Li) h 2hG ‘com onde i, é 0 menor raio de girago da pega isolada. 138 capitulos Fig. 5.14 Flambagem por torgo de uma cantoneita, sujeita a uma carga axial NV (aplicada no centro de gra- vvidade G). (a) Vista isométrica; (b) Segdo a meia-altura da cantoneira, mostrando a rotagdo de mesma em torno do centro de toredo O. 5.7 | FLAMBAGEM POR FLEXAO E TORCAO DE PECAS COMPRIMIDAS Na flambagem por flexo e torgao de pecas comprimidas, a deformacio transversal da haste é mais complexa: a seo transversal sofre flexo em tomo do eixo principal (Jy) € torgao em tomo de um ponto chamado centro de cisalhamento ou centro de torcao. Em perfis laminados I, H ou perfis compostos com segao celular, a flambagem por flexio produz cargas criticas menores que os outros tipos de flambagem, nao havendo, portanto, ne- cessidade de verificar flambagem por torcio ou por flexotorgao. Em perlis laminados U, L ou perfis compostos abertos, a verificacio da flambagem por fle- xo e toretio ou por torgao 86 precisa ser feita nos casos de pequena esbeltez, pois para valores mais elevados de €,./i a flambagem normal (por flexZo) é determinante. Praticamente a flambagem por toro nfo intervém nas construcdes metdlicas usuais. Nas estruturas metélicas Ieves, feitas com chapas finas dobradas, a flambagem por flexotoreao é freqlentemente determinant do dimensionamento. ‘As expresses de carga critica (N,) de flambagem em toreao e flexotoreao para hastes de seco aberta encontram-se em Timoshenko e Gere (1961). De acordo com a norma NBR $800 o dimen- sionamento pode ser feito utilizando-se a curva de flambagem, sendo 0 indice de esbeltez red zido Ay Eq, (5.60) obtido com a carga critica comespondente ao modo de flambagem. ‘A flambagem lateral de vigas envolve também agao simultinea de momentos de flexiio e de torgdo, O problema serd tratado no estudo de vigas (Item 6.2.3). 5.8 | PROBLEMAS RESOLVIDOS 5.8.1 Determinar a resisténcia de céleulo & compresséo do perfil W150 x 37,1 kg/m de ago ‘ASTM A36 com comprimento de 3 m, sabendo-se que suas extremidades sto rotuladas ¢ que }& contengao lateral impedindo a flambagem em tomo do eixo y. Comparar com o resultado obtido para uma pega sem conteneao lateral, podendo flambar em tomo do eixo y-y. Pecas Comprimidas 139 W 180 .x 87,1 kg/m : y : Fig. Probl. 5.8.1 140 Capitulo 5 5.8.2. Calcular o esforgo normal resistente no mesmo perfil do Problema 5.8.1, sem contengéo lateral, considerando-o engastado numa extremidade ¢ livre na outra. Comparar o resultado obtido para uma pega engastada numa extremidade e rotulada na outra. Pecas Comprimidas 144 5.8.3 Calcular 0 esforco resistente de projeto & compressfio em dois perfis HI52 (6") x 40,9 ‘kg/m, sem ligacdo entre si, ¢ comparar o resultado com o obtico para os perfis ligados por sal- da longitudinal. Considerar uma peca de 4 m, rotulada nos dois planos de flambagem, nas duas extremidades. Material: ago ASTM A36. ¥| It (@) Os dois "H" trabalhando: 15.20m | 15,20m Isoladamente (b) Os dois "H" tabalhando ‘como uma paca tnica Fig. Probl, 5.8.3 5 8 g Peas Comprimidas 443 3.8.4 A figura deste problema mostra diversas formas de segdo tansversal com a mesma drea Gi2em), Adnmitindo 0 comprimento de flambagem £, = 350 m nos dois planos de flambagem,com- | pare a eficigneis das segGes em hastes submetidas a compressiio. Utilize ago A36. 144 capitulo s 21.0 kg/m com um comprimento de flambagem de 3,00 m nos dois planos de flambagem, rificar se 0 perfil de ago AR350 € mais econdmico que o de ago MR250. Pecas Comprimidas TAS E 8.6 Calcular 0 esforgo de compressio resistente de projeto de duas cantoneiras 2038") X 10264") X 53,66 kg/m trabalhando isokadamente ¢ comparar com o resttltado obtido para os is ligados por solda fornando um tubo retangular. Admitir f, = 300 cm nos dois planos de Te ago MR250, Fig. Probl. 5.8.6 146 capitulo 3.8.7 Uma coluna é engastack na base nos dois planos de Flambagem e, no topo, tem condigties de apoio diferentes em cada plano: rotulado no plano az e livre no plano yz. Admitindo-se um perfil soldado CS, posicionar o perfil da melhor maneira (Posigao | ou Posigtio 2 cla Fig. Probl | 58.79, : Fig, Probl. 5.8.7 Pecas Comprimicas TAF 5.8.8 Selecionar um perfil soldado CS de ago A36 para a coluna do Problema 5.8.7 com 4.0 m de altura e que deve suportar as seguintes cargas: Permanente N, = 300 KN Utilizagio N, = 300 kN 448 copitvios 3.00 m, 5.8.9 Uma diagonal de treliga term o comprimento de nciras 64 X 64. X 6. pats 5 & : z a ; i g 5 & é as disposigies indicadas na figura. Material: ago MR250, SAGAS y Pec0s Comprimidas 149 150 capitulo 5 4.8.10 Uma coluna tem se¢do em forma de perfil H, fabricado com duas chapas 8 mm X 300 im para as mesas e uma chapa 8 mm X 400 mm para a alma, todas em ago ASTM A36. 0 comprimento de flambagem & K¢ = 9,8 m. Caleular a resisténcia de céleulo para compresséo axial, considerando flambagem em tomo do eixo mais resistente (x — 1). Admite-se que a peca tenha contengdo lateral impedindo flambagem em totno do eixo de menor resistencia (y ~ 9). 8x00 Fig, Probl. 5.8.10 Pegas Comprimidas 151 PROBLEMAS PROPOSTOS 391 Porque a curva ace da Fig 5.4 niio é adequada para definir a tensio resisten- te de colunas de aco’ 59.2 Qual adiferenca ent a carga critica (N,) €a carga ttima ou resstente (, da Fig. 52a)? _ $9.3 © que so curvas de flambagem ¢ como foi obtida a curva apresentada pela NBR 8800? Te SUTIN 1 152 capitulo s 5.9.4 Qual o comprimento de flambagem dos pilares dos pérticos ilustrados na figura? Viga tretiga muito rigid Fig. Probl. 5.9.4 5.9.5 Levando-se em conta o aspecto econdmico, qual deve ser a relacdo entre os mo- ‘mentos de inércia dos eixos principais de um perfil que trabalha a compresséo axial sem contengio lateral com condiges de apoio iguais nos dois planos de flambagem? 5.9.6. Uma escora de comprimento de flambagem 10:m deve suportar uma carga de 300 KN do tipo permanente. Dimensionar 2 escora utilizando ago MR250 e os seguintes perfis: a) Perfil soldado VS (Fig. 6.2); b) Duplo I (Fig. 6.2b): ¢) Duplo U aberto (Fig. 6.2¢); &) Duplo U fechado formando um tubo retangular (Fig. 6.2f). 5.9.7 O que € flambagem local e em que circunstincias ocorre este fenémeno? 5.9.8 A ocorréncia de flambagem local de um perfil tubular retangular em compressio axial representa o colapso da coluna? 5.9.9 Como 6 considerado o efeito de flambagem local no célculo do esforgo resistente & compressio de uma coluna? 5.9.10 Uma diagonal de treliga, formada por dois perfis justapostos de ago MR250, tem um. comprimento de flambagem de 2,50 m e uma carga axial de 150 KN, em servico. Dimensio- nar a diagonal utilizando duas cantoneiras ou dois perfis U justapostos (ver Fig. do Problema |= 5.9.10). Indicaciio: os perfis podem ser considerados como tendo ligagio continua, ——— Fig, Probl. 5.9.10

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