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Questdes tedricas e metodolégicas Patologias no sistema da comunicagao, ou 0 que fazer | quando o objeto desaparece | \ Pathologies in the system of communication, or what is to be done when the object disappears amo de Pelabrasclave: tora defn counicncin, ierahira eapareda, teil, pesquisa em Comunicagio no Bra atravessa hoje um momento cial, Reentemente—devido pelo menos om parte ao estabelersmnto de no- ‘vs pleas da rintagho para os cursos de pl yradbaglo a questo do objeto do dls pareoo terretomad com fora total latom sido sem cdvda, um dos randese nus polbnicos) fons de debates da com nidadecientfcs da Comunfeagho nos ih ‘osanos,cnmo damonstaotépiee eso do para a abertura do IX Encontro da Compas, em usa de 2000: "8 Constiat {fo do Campo da Comunicag: Dsafios e ‘Tndtncis™.O sentido do titulo pode ser inlopretndo comosinomden do unas fo do incrtor: 0 grande Fe Geof da comunicapao so ao encanto de un ebjto consonstal, masque omos atualmento so apenss fon dncias. Mais rocontoneate faco a0 resullado da tina avaliagio das programas de pés-graduagdo, eso prblo- tha steam significativas dimensbes poise int tuclonaiscuj discuss am- bm ¢ do extrema importan- cia, liso porque a maneira como o debate tomou corpo ness periodo india uma dispta aida pelahegemonia docepital intelectual da pos auiss em ComuniceeHo. Ba stuaco talvez ‘osen ser resunida ou sinplifada no cho- Ge entre um concete, menos seabed mas abeno, sobre o que € 2 comunicagio © outro, bastanto mals linitado, que parece tomar anogio de mes de comunicogeo de smasstcomo elemento carecerzadoreeen- lal dos fendmenos comunicaconas Em uma disciplina recente ede nture- zm apatentemente transdseipline, como é caso da Camunicagto, ao mrpreende que a qunstio do objeto so continuamente e- tomeda, Contudo «discus of tavada no campo indi também um lato preoct- pantereinexetfacia do um eonsanso mat 1" \ \ \ \ | 20 \ rmamente definide entee 0s pesquisadores a respeito do objeto da Comunicagao. Isso 1g record uma cusiosa (o provavelmante ‘ronica) definigzo de culture oferecida por Julian Huxley: “cultura ¢ a denominagso ‘quo os antropélogos dao a matéria central de sua ciéncia”, Comunicagio também & ‘© nome que os twiricos de nossa dren dio & rotéria central de sua controversacitncia, Mas a definicao, alm de nao definr efeti- vamente nada, também aponta para o ft0 do que, sem consenso na comunidade ci entice, amatéria central da Comunicacio dioixa de existin. Ursa consequéncia prag- mética desse problema é a caréncia de cri- {érios objetvos para definir se um artigo, livto.ou projeto de pesquisa constituem, de fato, wabalhes de Comunieagio. Eo quesi- toddzadoquagioa da deconhecimentotar now-se, mais que nunca, fator fundamental para coneassa de balsas permissa para 6 funcionamento de novos programas de és-graduagio, Tudo so passa como se, na austncia de ‘aitérios mais rigorosos, os érgios de com- trolee fomento do sotortontassom impor a ‘comunidad ciontifica dto:minado enten- dimonto a rspoito do que constituiria real objoto da Gomunicagao, Em rulagdo.a ou twas vas do conhecimoato, mais vidas 0 definidas,solremos de certo “complexo de inferioridede", © pare superé-lo necessita- mos, com urgincia, desenvolver um con- senso formado a marteladas. Contudo, essa cconcepeao particular sobre o campo da co- smuicagao ainda nao chegou a ser cient ‘camente justificada. Além disso, defini os “meios” como objetos no resolve nossa problema pois sequer existe consenso so- bre a propria nogao de mediagao. Tenho a impresséo, portanto, de que o problema pode ser desdobrado em dois aspectos: | | * Osartges dos professores Mania Sodré, Cabrio Cohn 2 José Luiz Brags, presentados ro encontro, fran publ ads uniamente com textos de outos pesquisadores no solime de Gabriel Cohn, ea. Compe da eannionga: caracterizacto, problematizacso e perspectives Spud Leste Whe. O eanaito de sistemas ultras p19 4) um propriamente epistemoligico. que \ exigiria uma demonstragdo de que deter ‘minado conceite de comunicagio deve pre- valecer sobre outros ou, por outro lado, 0 simples abandono do modelo da def fechada, eb) um politico-institucional, den- tro do qual se desenrola o conflito pelo do- ‘minio do capita intelectual do campo. Pre- tendo concentrar-me na avaliacdo do primeiro aspecto, sugerindo alguns instra- ‘mentos conceituais que possam nos ofere- ‘cor manoiras mais proficuas de lidar com 0 problema da delimitagio do campo. Entre- tanto, nas inhas fina do texto, tecerei tam- bbém algumas consideragies a respeito do aspocto politice-institucional. Paraco-mme legitimo iniciar o enfrenta- ‘onto do problema pela busca de experidn- iasosituagbos somolhantes em outrasdreas de conhecimento préximas da Comunicago. Estudando o que tem se passado em disci- plinas aparentadas, podemos encontrar su- ‘gstbes adaptaveis a nosso contexto particu- lar. Estou convencido de que possivel ‘om uma diva cuja tradigio inteluctual nes permitiria, a primeira vista, classifici-la como dlisciplina forte. A atualsituagdo no campo da Literatura Comparada?,cujes origens po- dem ser remontadas ao século XIX, com a formacao do conceito de lteraturas nacio- ‘nas, permite aproxims-la da maior parte de nossa dias a respeito da communicagao por, pelo menos, dois motives. O primeiro ¢ 0 ‘que chamo de certa convergéncia de obje tos. Em fendmeno curioso para quem parte de uma concepgo tradicional de Literatu- 2, a compamtivistica debruce-se, cada vez ‘mais, sobre objetos que pareceriam mais adequados ao campo da comunicacao que ‘0 da literatura: imagens, meios de comini- cago, tecnologias, atos de recopeso. 'Na werdade, & possfvel mesmo afirmar que nos Estados Unidos, onde nos iltimos anos surgiram as contibuigdes mais origi- nais ao campo da literatura comparada, a disciplina tonde a fundir-se com os chama- dos “estudos cultura’, Esta 6 a opiniso do | 21 ‘ritico J Hills Miller, para quem essa trans- {formagao implice principalmente uma nova percepeio dos estudos literérios, mais ‘centrados na eoria, na histéra ena politica do que propriamente na interpretagho do ‘eat lterrio. Eo que sio estudos culturais? Entre os wérios “axiomas” que Miller usa para descrevé-los,o mais interessante para nés 6 (© que 0s define como “malti-discipinares (cross-diseiplinary e multimidiéticosem sun orientagio™. Nesse sentido, a tradicio no te-americana jé consagrada dos media ‘studies, parece menos representativa dag lo que,em nosso meio, tondemos aconside- rar como Teoria da Comunicago. Os medio studies sio mais factuais, pragméticos e vol- tacos principalmente as uesides prementes dl otividedejomalistica ox publicitéria, do sudo das piblioos ou das particularidedes estruturas de cada meio. Enquanto iso, 05. estudos culturais adotam uma perspectiva ‘eminentemente terica,cujos principais fo- cos do interesse so instrumentos e mecanis- mos de comunicagio em sua insergio no ambiente cultural (io se deve esquecer que também ¢ propria Literatura 6 uma forma do ‘comunicacéo). ‘A proximidade entre estudas culturais ¢ estudos de Comunicagio permitix inclusive ‘uma experiGncia efetuada no émbito da Es- cola de Comunicagio da Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro, que insitui um curso do posloutorado com dea de concentra nesse novo setor do pesquisas. Boa parte da- * Teka initio sea o entre comunicugdo © peed desde ue tome conhecimento da re batho realizado por um grupo de pesquisadoresreunidos especialmente na univeridede de Stanford. inka de pos (usa, ehamads “matarilidads do comminion", nv 326 pope das matras, formas astra flseos dos me ee communicado ma determinagao de wos de rocep20 imensoyens. Ver maiaros deaths nas lnlas qu se segue Gf fick Felina. "Isto nao ura cachimbo nem um bro de ‘comunicago:noassobe estado fuel dears da comm capo no Brasil algumas conergneiasntresantes com oF ‘studs lterdrios presentado no XXII atercam. es Mas. # Brick Felina. “Meteilidades da communicado: por um novo lugar da matécia na tora da comunicago™ In: Ciberlegenda Y¥ dsponivet- p/w mesten’ep im “heir Mlastration, p14 \ \ quilo que se publica hoje em nossos peril cos cientificos de comunicagao podria, sem grandes difculdades, ser calalogado deatio a diva dos cultural studies 1 & convergéa- cia enlre Comunicacao, Estudos Coltarais e Literature Compara tomaese ainda mais sig nifcativa quando se leva em consideracie ‘uma das mais recente eintriganteslinhas de ‘posquisa da comparativistcs: a chamada in ‘vesligagao sobre as “materalidades dacomi nicagaa"’ Os antecedentes dessa linha de uisa podem ser encontras, euiosamente, fem outra experiéncia da teoria litedria que também se aproximou bastante dos estudos decomunicagéo nes anos 70:aestética da re- ‘copcdo,Lntre os pesquisadores que se ren ram na escola de Constanea, miclen princi- pal des estucosde estética da rocopgio, ostava o alemio Vans Ulrich Gumbrecht, en to.um brilhante discipnio de Um dos problemas Hans Robert Juss ¢ hoje uma 5 dasfigomsdepontada psgi- quocabeentenré ews matali de a oficuidade: ceomunicagio. Das invests adiidtece separ samen Dt mt comunicagao ¢ Culture ——_preservou principalmer ensinamonio de qua L sua nfo podia ser pensada fora do hocizonte histérico- cultural do sua racepgao. Nes- se conceito jexistia, portanto, am indicio ds ‘quea compreensio do foxto como objeto de ‘eamunicagi exigia a consieragao de fator 1s materials © culturais envolvidos wt sua produgio @ consumo. ‘Ao omigrar para os Estados Unidos ex 1989, Cumbrochaglutinow um grupo de pes- iquisidores com idéias communs ~ 2 matoria do origom ouropéia ~ no Depastamento de rama Comparadla da Universidade de ianfowd, Alise desoavolveram os peincipais ‘oncestos da materialidade da comunicagao, Ente esses conceitos esta a nogao de que « csirutura material des virios meios de comu- nicagio 6 parcialmente responséivel pela do- terminagio da uatureza ¢ dos contoddos das monsagons por eles veiculadas’. Em outras | \ palavras, ponsara comunicagdo envolve pon- ‘sar em primeiro lugar sua medialdlade, com todos os tragos das forcas materiais envolvi- das nessas medialidades, bem como as for ‘mas de acoplagem (um conceito tomado a Maturana e Varela) que entretim com seus “usuarios”, Outro conceit ee grande impor tncia é a nogie de “campo néo-herme- néutico”. Gumbrecht angumanta quo toda a tnajetiaflesstica do Ocidonte pode sor ca- racterigada como “hermenéntica”,porcantmr sua atenodo nos fendmenos interprtativos ‘No fimbito das materialidades da comunica- (Bo, sungo uma opistomologiaaltornativa, 2g racentrada om fondmonoseuja natura 6 an- terior intorpretagio e quo coopera par tonstrugi de sonido, som sorem, eos p= prios, sentido, Nao dispomos de espago suficionte para uma doscrigdo mais detaliada sobre as teses ‘in oscola das materialidados da comunica- ‘Go, mas tampouca 6esse nosso objetivo, Pen 4 quo as brovas indicagSes aqui oferecidas so suficientes para demonstrar o que consi- ero uma interessante convergoncia de obj. tos entre as campos da literatura comparada eda comunivagao. Mas mencionei anterior. ‘moule que havia ainda uma evtra razao para ‘considerar a trajetéria da comparativistc como instrumento itil para a eflexio sobre rnossos problemas no campo da comunica- ‘io, Trala-sedaccise de paradigmas queatin- 4giu, de manoira dfs, todas as disciplinas dda esfera das ciéacias hurmanas nos uiltimos ‘anos, mas gue parece adquitir forea especial ros campos da comunicagio e a Iitoatura [Essa crise se manifesta intensamente em di vvorsos setores do sabec— na Antropologia © na Sociologia, yor exemplo—mas osentimer- tode vacuicade do objeto dessns disciplinns pio aleanga © nivel de insoguranca caract. ristica da TStemtura, Comoafirma Gambrocht \ | * Naturament, ess we encontieantecedentes nace lun puopouio de Metshan "0 me'o € 2 mensagen™ as sin om nos extices de jacques Deda, ere tzo per SardarerAvscola dos moteedadesseconfoser tits Giessen pemadores, man foe sas rs sobsv © dado moter ame escola neo pened. 22 no ensaio em que me inspire para o titulo deste artigo, “Cada vez 6 mais dificil definir -seuobjeto [dos estudosliterrios), pois con- ceito tradicional que fundamentou a institucionalizacao da disciplins ‘literatura’ pperdv suavalidade™, A"hterature” de Pas lo Coelho podecia servi como exemplo des- ‘saczise’, pois seu enorme sucesso é indicative de que “hoje em dia, praticamente qualquer texto pode encontrar um leitorqueolerésim- plesmente’ por prazer, e neste caso tanto © texto quanto 0 leitor se situam no limite do sistema da Literatura. Mas nio é 36 isso. A dificuldade em de- finiro que-éoundo fendmeno digno de aten- (Gio dos estudos literérios também resulta ‘Ge um problema oriundo do préprio termo “literatura”. Teemo quose tao eontroverso quanto “comunicagio", a “literatura” esté ‘marcada por uma nogio de escritura que no vigorou em todos os momentos da his- ‘ria e que pode deixar de vigorar mum fu- tro préximo, com a possivel substituigao o suporte material do texto literério por ‘moio das novas tecnologias’. Questo, como a da “oralidade” tipica de exporién Iitordria na Tdade Média, ou 0 sfacela- monto dos géneros lterrios na modem dade, acabaram por corroer a fixidez dos cconceitos da Literatura. A situagdo do objoto no campo da co- smunicagio é ainda mais dramatica, i que Teoria da Comunicagdo nunca chegou a alcangar o status disciplinar dos estudes literérios. Nao existe unidade concoitwal nas bibliografias que costumamos qualifi- car como de “comunicagao”, e em cada torsitorio geogrfico-cultural os estudos de Ccomunicagao assumem feicoes diferentes, Serao eles, afinal, os media studies ou os ‘cultural studies nore-americanos, ou ex- tio ainda as “ciéncias da informacio ¢ da comunicagio",comoquerem os franceses? | Aliés, 6 no ambiente cultural francés que | trae indefinigéo dos estudos de co- :municagio parecem ser mais francamente encarados. Como corajosamente sugere Daniel Bougnoux., por exemple: \ A comunicacio" resist (_.) is tenta- tivas pematuras de fazer dela ua rea fochads, uaiverstéia ou profisional uma dsciplina desconfortével para ‘o-estudante s sto espera tm progr a, objeto ou perspeetivns, pots. como «Filosofia, ola compensa su auséncia Ge fundamentos ou deteoria derainan- to, cirealando enw ossaberes@reques- tionando estes times. E Armand ¢ Michéle Mattelat corrabo- ram essa indefiniio essenciallem sua peque- na ¢ jé popular Histria das Teorias ca Co- ‘municopde: “Se a noc de comunicagae constitu prublema, ade teria da comunica- ‘go nio fica ats. Para os autores, estatu- toeasconcepeis sobre a tora ransformam- se grandemente a passigem de uma esealaa cutra, Nao existe uma epistemologia domi- ‘nantonem um acordo sobs limites do cam- oda comunicagio, Ainda que surja um con- senso em torno da nogio de medialidade — ‘conmunicago sora todo ato (humano) de trans- fertinciadeinformagao através dealgum meio técnica ~o que fazer com os diversoselemon- tos que participam da comunicagio som sar comunicaio? Sor vidvel pensareestudar unt fendmeno de comunicaglo fora do sua cir ‘cunstciahistGrica, cultural ow material? Ui estudosobreasesiruturas opist6micas dacul- tura pés-modema, como a Bra Neobarroc, ‘de Omar Calabrese, 6 legitimamente um tra- batho de Comunicagao em todas os seus as- pecios ouapenas quando envolve dinetamente 4 andlise de algum produto ou meio de co- ‘municagao? Um dos problemas que cabe en- fremtaré a dificuldade de separar comunica- fo ¢ cultura. Umberto Eco chega a aimar quo todo alo cultural 6 um ato de comunica- ‘cao. Enuma cultura que foi qualificada de | ‘Hons Ut Gumbeect. Carpe e forma, p83. Pora um estudo que conju, de forma istigarte,comant ‘capo, Meratere «9 fondeene Prulo Coeo, vero iro de eat fino. * idem. A este respeito, consular, por exemplo, Bager Charter. A aventura doi: doIitor ao navegas Daniel Bouse sides da comuniai 14 2 Armand Mater & Michele Histria dos tearias da eomoni- acti, p31 23 re midiitico, essa dificuléade parooe ainda snaiot' Outro problema, como lembra Luiz Maitino, que ado possulimos sequer uma Aefinigao precisa do estatuto particular dos uasios de comunicagio em relagdoaos outros objets téenicos que nos corcam. O que é efetivamente um meio? O que é um meio de ‘massa? Eo que significa “massa” no horizon tw das chamadas novesteenaogias do info. ‘macéo e comuniongla? As incertezns apenas se multplicam Que fazer diante desse quadro de incer- tezas, ue angustianéo apenas os estudan- tos, sogundo cx Bongnoux, mas também os proprios pesquisodores, oma bem sabemes? eterno 20 exemple da Literatura Compars: da. trajtéri da compaatfstica 10s ‘mos anos indica uma ebertu- rm progrossiva em relagfo 2 natuteza do abjeto. Fs aor tra pode ser encara Ge for ‘ma nogativa, come erise, ou positive, como um onsiqueci- tuonto di disciplina. Para Gurnbrechi,aatitude do estu- dioso da Literatura nao deve ser, de moda algum, saudosis- ta, Acoitar a abertura 6aveltar uma realidad ineseapavel. ‘plologia’ crate dosisema dlliteratura, segundo o teéri- 0, consiste ne prolifera de novas formas do comunicagi ~ televisio, rio, cinema, ‘tc ~ quo acaba por suplantar aquilo que teria sido a6 hoje asua grande fanedo: ofe- rwce-nos “outras visoes da ealidade ‘ curioso que a origem central das pa- tologias do sistema da literatura residapre- Gsamente naquile que alguns tomam como objeto central da teoria da comunicacéo; os mwios tecnolégicos. Mas ease fendme- tno ajudaaexplicar também o pereurso que os estudos literrios parecom estar desen- volvendo; face 8 “fragmentagio" da nogdo tradicional do Ktexirio, os compartivisins voltam sua atongéo tanto para as citcunstin- cias que senipre cercaram o objeto eo atode omunicasio litersia como para os instri~ \ \ Dente as pataboges 8 comunioagio esta a pesquisa que valoza resufados pragmaticos | l rmentos que agora parecem subtitulos, Hé angst presente no campo da literatura ‘campareda, coma indica 0 preficio do li vro de Claudio Guillén, The Challenge of Comparative Literature. Treta-so om cam- po que parece possuir antes um certo an- seia que um objeto espectfico™. Contudo, a angtstia nfo pode ser contornada com sub- torfigios. Curbrocht af enon uma opor tunidade, ono hosita om sugerir que o de- saparocimonto da nogio tradicional da literatura pode indicar a “necessidade de substituirmos 0 campo tradicional abarca- do polos ostudas de iteratura por ulro mais ‘mplo, o das Giéncias Humanas”®. 'No volume do ensaios Materialities of Communication, organizade por Gumbrocht e Karl L. Pfeiffer, a diversida- de de temas abordados & assustadora e dé- nos a impress angustiante de que existe objoto quo unifique os percursos das ‘pesquisas. A impressa0 €correta. Nao exis- {e um objeto, mas antes uma perspectiva, certo tipo de experiéneia, que Pioifier de. fine como “cena de multidirecionelidade (..) metafore geral para o impacto conjun- to de instituigoes (..) ¢dos meios que elas predoninantomente empregam (..)"" ‘Se possivel falar em umaepistemologia ‘pés-madema’, sea principal trago seria 0 scmpimento das fronts diseiplinars 0 esfumagamonto das noges de objeto e cam. po. Nesse sentido, a 180 falada inter ou transdiscioinaridae enractritica la To ria da Comunicagio vai deixand tami do ser marca diferonciador, jt que a ten- déncia, como testorunha « fore exemplo da Literatura Comparada, 6a fexbilizegio das fronteras de todas as disciplinas das | | | i * of Davglas Kelner. A entre do mda © eC. Martin 8, Tours a eomunleaede: con ets, eealasvtendéncios. "Hans Ulich Gum seh Compo forme, 122. Chancho Guillén. The Challenge of Comparative Literature, p 4 Wem, 187 CGurabtecht & Karl indwig Pein, Materdlitts of Connmanieaion, Ciénclas Humanas. Quanto ao objeto, nto | interagies comunicacional [sic] que os ca- seriajustofalasimplesmentoem um disa- | ractrkam™ parecimento, mas antes na possibilidade de "Nossa sontido, tenho aimpresstode que trabelhar com zonas de indefinicao. Nese \ um da nossos principals esforgos devord ser sentido, oermo “campo” parece, inclusive, | o estudo dessas “intoragdes comunicacio- ‘maisapropriado que “ebjeto”, mas umcam- | nais” om seus miltiplos aspectos. Devers po cujas fronteiras se encontram em cons- | esbogar mapas, conligurar teritérias, mas tante processo derevisio. NaLiteraturaCom- | _sompro coma consciécia de que tais dese- parada, a concretude do objeto “literatura” | hos sio constcutos provisérios o sujeitos a vvai dando lugar a uma multiplicidade de | permanent revisdo. Nao se trata de buscar Thommen | eee nen eres totus No ppm msitdicens, | arate ingiaun, gun hoje pars © ponto dvd se icterpraaios por | noes pleas de fotene to cana Cambaldades de “lore no novo pare | edefni oes: de Comunicnas ca Agnnpropost pla essa materiale | tude soho ol do oe dads pont dvistadox mocaniosma | Se pods lar de pats no sna totais quo colaborar para» producio de | dacomunicagdo, uma das mis danas seaidos em uma cultura, [parece ser esse desojo simplista e rexlucio- nistade recortar um objeto empirico tranqui- Por uma definigao lizador para o campo e um determinado operatéria modelo de pesquisa que valoriza resultados pragmaticos. Ceio que poderfamos identi cor essa patologia come um imperative Pace me quo a Tot | | tenia cents em qu as verbs | pode aprender dua I da Comunieagia exemplos da comparalivistica: primeira, a | par poaquisa to cada vez mais escasses.pa- Jmpossibilidade, no alual centio intolectu- | _recelégico propor estratégas de pesquisa que 4, de recortarobjotos precios demarear | usquem simular os resultados obides por campos fechados;segundo,aneenssidadede | reas decombeeimento mais “duras", Naohé preslar mais ateagie as questGes onvol dhvidas de que ainda ha bastante trabalho a ‘a estrutura material dos meios. Em sew n- | sar feito para que nossa rea se consolide saio, "Consttuigao do Campo da Comini- | como campo de posqisas, mas esses resul- caro" Jot ai Braga feico un compe | alos nos cin eng tata. tente resumo da situacio comrente na rea, | mos com ailusti de uma mimese posstvel com as posstveis opg0es quesemosapreson- | de outrasdisciplinas, em que a oblengao de tum, Essas opgées podetiam ser traduzidas | resultados “concrotos” é mais visivel fm dvas aides principals: un ais Ansurezn comple, tntivel fabrangente ¢ aberta, que toma como “obje | dos fendmonos comunicacionais ‘o" uma nogto de interagao social (postura | —estejamos atoatos ao carter operatério de adotada, por exemplo, pelo professor Fran- | nossas dofinigées. Assim coma os «isco Ridigen) outra mais fechala, que se / comparativistas tim aprendido a lider com concentra sobre a nogéo dos meios | as imcortozas do sua fren (pedpras, aig, tccnolégins. Brgsinclinse paras primeira {deste nosso endo pés-mocvm, tomes op, canta, senha sugerindo una a de aprender a loxbilizar nosis concop- dleinfurmodiri,quoeoncentm suaatengto | odes do campo, objeto o seplinaridate sobroas moios,com todas importtreia his- / Nocaso da pesquisasobreas materialidacies t6rico-eutural que thes édeviea, "mas nio da comunicagao. a nog chad de obj excl outros objetos desde que nos so 8 = como enfoque principal a quastia das | “Jos? Lutz Braga Consiga do campo da camenicndn, p25 25 to foi substitufda por um enfoque @ uma ‘motodologia do posquisa particulares. Naa oxisto campo dofinide a prior, mas sim 0 festudo do um fondmeno que se mantfosta ‘om varios campos eobjotos: a medialidade, Para Gumbreeht,o futura dos estudos lite rézios estd na tematizagao das tocnologias da comunicagZa ede sou acoplamento com ‘corpo humano (na verdad, estes parocom ser os dois grandos horizontes de estudo das Gioncias Humanas atualmente). CCuriosamente, essa nocd do materia de sempre esteve praticamenta ausente los ostudos de comunicagio em sun tajetiria histérica, Dominados pelo paradigma hhormendutico, om nossa modolos & Jas, estivems inleressados eminentomonte nos fenémenos de sentido, Contudo, a teo riadacomunicagao seria um locus des] para © estado da materialidade @ seu papel na constituigao do sentido. O campo das no- ‘vas tecnologias ~ que envolve temas como a transformagio do corpo ea nocao de rea- lidade virtual -seriaenormemente encique- «ido pelo perspectiva das materalidades, Como afirma Vivian Sobchack em uum dos ensaios mais interessantes do volume om sganizada por Gumbrocht: "[a teenolegial sempre é também ‘incorporada’ e vivida’ por sores hin mnos que se envalvem nela tdontro de uma estrutura de sentidos e me- taforas na qual as relagées sujeito-objeto stio cooperativas, co-consiitutivas, dinfmi- cas ¢ reversiveis"®. Em tempos de crise © indefinigdo, 0 grande dosafio 6 encontrar nfo aponas novos campas e nbjetas, mas lambém novas manoiras de investigé-los. Mas isso 6 toma para o futuro, Por agora, precisamos apenas aprender a lidar coma inevitivel desaparigao do objeto, * Cumbrech Karl indwie Mio. Materiales of Gommuniestion, pi Referéncias bibliograticas comunieagdo: earactorizacdo, problematizacdo e perspectivas Joie Pessoa: Lditora niversitéria, 2001, BRAGA, José Lula, “Constituipao da campo da comunicapa”. In: COHN, Gabriel et alii, Campo da BOUGNOUX, Daniel. Introduedo ds ciéncias du comunicagdo. Bauru: Edust, 1999. CHARTIER, Roger. A aventura do livre: do leitor wo navegador. 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