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DOSSIF: ENCONTRO DE FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA EMANCIPACAO HOJE E OS DESAFIOS DA DEMOCRACIA! Rarion Melo? Resumo: O presente artigo discute a questio da emancipagio hoje em duas ctapas. Inicialmente, procura apresentar as principals mzdes que fizeram com que os paradigmas da revolucio e da reforma, centrais para as classicas orientagdes socialistas, deixassem de ser o referencial mais adequado para uma teoria renovada da emaneipagio voltada 4 compreensio dos novos movimentos socials. Além disso, assumindo 0 ponto de vista da teoria eritica contemporinea, sublinha que um dos maiores desafios da democracia hoje consiste justamente no fato de que a emancipagio nao pode mais ter apenas um sentido, mas € perpassada antes por uma pluralidade de sentidos ¢ perspectivas Palavras-chave: emancipagio — teoria critica — movimentos sociais ~ democracia A onda revolucionaria ¢ de movimentos de protesto que marcou os iltimos anos recolocou novamente desafios teéricos para sua plena compreensio. © conjunto complexo desses acontecimentos — que abarca protests no mundo arabe, manifestagdes na Franga, Espanha, Inglaterra ¢ Grécia, movimentos de ocupacio (seguindo o Occupy Wall Street) crescentes lutas por reconhecimento — nao trouxe consigo a explicitagio de suas causas comuns ¢ de seu potencial de mobilizagio social. A reagio global de revolta ocorre de maneita estrutural, porém dilui de forma pouco clara suas pautas € reivindicagdes: no ha uma bandcira. Certamente, os movimentos sociais estio mundialmente presentes, mas nfo se deixam esclarecer internamente com as grandes narrativas que explicavam classicamente os sentidos da luta social e politica’, Tentativas de explicagio tedrica recentes parecem titubear ante a articulagio desses fenémenos politicos diversos ¢ a justificagio de orientagdes que reivindicam o “velho” nifesp. Gostaria de agradecer « todos os participantes do Encontro por suas ertieas ¢ sugestdes, em especial 20s professores Rodnel Antonio do Nascimento e Edson Teles 2 Professor do Departamento de Ciéncia Politica Faculdade Universidade de Sio Paulo. 5 CE VRADIS e DALAKOGLOU (orgs), Revlt and Grr in Groce; PERAZZO © HOROWITZ, Ocipy Wall Sree: The Comat Movement Rebers, BEREND, Fre it Cris: Bal frm the Ble? "Yesto apresentado no I Ensniro Nasional de Pista Poltica Contemporives, ocorrido em absil de 2012 9a Ut Filosofia, Letras ¢ Ciéneias Humanas da ote Fes Peica | Neo 28 | Pana vocabulétio da emancipagio. Jeffrey Alexander — importante socilogo politico que hé muitos anos estuda os novos movimentos sociais ¢ publicou recentemente estudos sobre as revolugtes nos paises érabes e sobre as revoltas recentes na Europa € nos BUA — apresenta, entre os teéricos sociais tradicionais, uma interpretacio muito significativa. Segundo 0 autor, desde a bancarrota do socialismo realmente existente, a teoria mais representativa da esquerda @ tradigio do pensamento critico marxista) enfrenta um déficit explicativo que nfo permite compreender de forma imanente os novos movimentos sociais. Isso ocorreria porque as teorias dos movimentos sociais seriam incapazes de articular amplos sentidos emancipatérios com © esgotamento das utopias.’ Para cvitar falsos contetidos explicativos, no cntanto, Alexander entende que as narrativas classicas precisariam ser substituidas pelo mero elemento petformativo dos conflitos sociais. Com isso, 2 agio € a performance tomam o lugar das pautas, dos ideais e dos valores que norteavam a praxis politica de outrora, seja ela revolucionétia, de resisténcia ou de revolta Ja mesmo antes das ondas recentes, outros autores que se autodeclaram mais estreitamente ligados 4 tradicio critica marxista ressaltaram, sobretudo, a profi movimentos, sem que para isso fosse necessitio rever o paradigma revoluciondrio tipico do io dos socialismo, Para Fenesto Laclau, se antes a tcoria social se orientava pela emancipagao de um sujeito revoluciondrio (0 proletariado), bastaria agora adotar © termo emancipagio em seu sentido plural: no se trata de falar mais na emancipacio, mas sim em emancipagdes.’ Laclau identifica na variedade de tais “emancipagées” uma caracteristica constante, a saber, a “rebeliio de varios particularismos — érnicos, raciais, nacionais e sexuais — contra as ideologias totalizadoras que dominaram © hotizonte da politica nas das precedentes”.® Mas essa mudanca traria consigo a impossibilidade de se pensar uma “emancipacio radical”? Com a perda da classe universal, saem de ccna também os pressupostos centrais da totalidade ¢ da dimensio holista?” A defesa da liberdade radical pautada nos novos particularismos ¢ na pluralidade das vozes dos novos movimentos sociais aponta néo para um enriquecimento da orientacio critica, mas sim para um “empobrecimento” do vocabulétio emancipatério? Bu gostaria de analisar esse tipo de problema explicativo enfrentado pela tcoria social ¢ pela teoria politica contempordneas remetendo-o pata as reflexdes mais amplas sobre a relagio entre teoria e prixis tal como foi recepcionada na tradicio de pensamento conhecida como £ ALEXANDER, Payormance and power, p. 31 € ss. Em livro anterior, Alexander j4 chamava atenglo a rmudancas tebricas importantes em relagio aos estudos dos movimentos sociais. CE. ALEXANDER, Tle Cail Spher. ‘Tal como sugere o titulo do livro: LACLAU. Emanspaton(. SLACLAU, Emanepation(), pv 7 LACLAU, Fimancpation(), p. 10 688 Fes Peica | Neo 28 | Pana? teoria critica.” Mais especificamente, estou interessado em entender como a teoria critica contemporinea manteve seu interesse emancipatério vinculado 4s transformagbes pritico- politicas das iihtimas décadas. Embora a formulacio em si mesma do problema nio seja recente, parto da ideia de que ela pode iluminar linhas de continuidade frutiferas para a renovagio do diagnéstico politico do presente. O intuito aqui, no entanto, no passa de uma tentativa de desobstrucio de referenciais teGricos até entio considerados decisivos, mas que podem sim ter enfraquecido seu potencial atualizador. Ea razio desse enfraquecimento reside no vinculo entre a teoria politica ¢ a “gramitica” historica dos conilitos sociais: ar nas msimentos sociais revelaram que suas revindicagies nose configuram mais no marco revoluiondrio ou rformista Para pensar a questio da emancipagio de acordo com as condigties atuais da critica social, iniciatei apontando, ainda que muito esquematicamente, alguns limites teéricos que fizeram parte dos pressupostos gerais da discussio. A dimensio do conflito classicamente considerado pela esquerda entre capital ¢ trabalho, que deu ensejo aos paradigmas revolucionirio e reformista, no poderia mais pretender representar as condigties politicas, sociais, econdmicas € culturais a partir das quais podemos diagnosticar as possibilidades emancipatorias imanentes para a realizagao de mudancas nos contextos de nossa época (0. Isso significa que o esgotamento das utopias no pos de lado a orientasio emancipatéria cenquanto tal, mas sim suas determinagiesfotalizantes. Mesmo que nfio possamos articular o amplo sentido dos novos fendmenos sociais, nfo se pode dizer que inexistam justificagbes tebricas priticas para os fendmenos de revolta e mobilizacio que marcaram as € essa é minha tese principal, a emancipagio no pode mais ter apenas 1m sentido, mas é perpassada antes por uma pluraldade de sentidos e perspectivas. E apesar da caracteristica plural das novas mobilizagdes, os movimentos sociais atuais esto orientados pela ampliago de seu espaco de participagio politica, de disputa pela influéncia do sistema politico ¢ pela luta contra formas de opressio cultural. Uma teoria critica da politica pode, nesse contexto, clucidar os vinculos entre uma pluralidade de culturas € diferentes movimentos sociais emancipatorios porque ainda procura compreender a prixis politica situada reflexivamente em processos histéricos carentes de reparacio pritica (ID). ltimas décadas. Porém, E provivel que o diagnéstico negativo sobre a impossibilidade da emancipagio hoje decorra de uma inadequacio entre 2 compreensio dos obsticulos e potenciais inseritos nas manifestades sociais recentes, de um lado, ¢ uma expectativa tedrica que orienta velhos ideais 8 Nio poderei no presente artigo recuperar aspectos da historia dessa tradi. Sobre seu desenvolvimento, ef DUBIEL, Téeop and polities: Studies inthe deucopmens of erica! thary ¢ NOBRE: (ong). Cars fede tena erica Coteros ete FsshsPelea | Nimo 23 | Papa emancipatérios, de outro. ‘Transformagées politicas no so imediatamente uma realizagio pritica da filosofia: elas precisam estar inscritas de algum modo no diagnéstico do presente, configurando a constituiglio de categorias te6ricas criticas a partir de seus contextos de surgimento. E esse € precisamente ponto de partida de Marx’. O passo tedrico mais relevante da atitude critica inaugurada pelo materialismo historic esti longe de se limitar demincia da futa de classes, mas reside antes em poder atticular teoria ¢ préxis a0 simultaneamente descrever o processo real da vida material que compoe a sociedade capitalista sem sujeitar a realidade a um ideal comunista posterior, a “um estado que deve ser implantado”; pelo contritio, Marx permitiu que a deseri¢ao das condigdes econbmicas reais que constituem a sociedade civil submetida & forma capitalista j& alimentasse o “movimento gétive que supera ‘© estado de coisas atual”.'” Marx compreendera que uma critica social teoricamente bem fundamentada permititia apontar para a possibilidade pritica da negacio hist6rica da propria sociedade capitalista, A decomposigio da sociedade do trabalho trouxe uma série de problemas para esse modelo critico-revolucionétio que decorria de Marx. Nao apenas porque deixou para tris os referenciais explicativos ¢ ideais transformadores presos 4 sociedade do trabalho que fundavam scu modo particular de rclacionar teoria ¢ pritxis — na articulacio entre ciéncia materialista e consciéneia de classe — mas sim porque também obrigou a teoria a renovar seu diagndstico de tempo acompanhar as mudangas de seu referencial sociolégico que sustentam a forca de toda critica da sociedade pretensamente imanente. Pois a passagem do capitalismo liberal para o monopolista determinou um desvio cheio de consequéncias em relagio & teoria da consciéneia de classe que remetia a Marx e a G. Lukées. © eapitatismo tardio trazia mudangas para a estrutura social que estava na base da teoria das classes, seja em relagio aos servigos, 20 declinio da classe trabalhadora. manual, a0 afrouxamento dos lacos de solidariedade, diversidade socioeconémica interna, a discrepincia entre jovens e aposentados, 4 clivagem por género, a imigracio etc.,' Essa intensa fragmentacio, aliada aos processos de reificacio tratados pela teoria exitica, ou seja, aos processos mediante os quais a consciéncia individual se adaptava as exigéncias funcionais de um sistema formado pela economia monopolista € pelo Estado autoritirio, engessou o potencial pritico-politico smo Habermas reconhece ao pensar aniculagio entre “contexto de sugmento” e “eontexto de aplicagio” de eaegorias da teosa exliea, Cf, HABERMAS. Teoria ¢ prixic Estadus de flamfia sal, prccipalmente a Introdusio. Para a relagio entre exitica imanente © propésito emancipstério, ef, ainda MELO, “A teoria da emancipacio de Karl Marx pp. 35-58. 19 ENGELS E. MARX. Destiche Idle, p. 98. 1 ANDERSON ¢ CAMILLER (orgs). Un ma de egurda na Earopa cident. 22 €, Caterer etc FbssPelea | Nimo 2 | Papa: atribuido A orientagio emancipatoria marxista estreitamente vinculada & teoria da luta de classes”. A estratégia reformista, por sua vez, limitou o campo do politico & meta de uma administraco eficiente pautada no estimulo estatal para 0 creseimento econdmico ao mesmo tempo em que incentivos fiseais ¢ monetirios foram utilizados para compensar socialmente disfungdes, riscos e incertezas do mecanismo de mercado. Embora tais compensagies ineluissem direitos sociais que amenizavam os efeitos negativos do sistema econdmico, a expanslo da intervengio estatal e da “juridificagio”, para usar um termo de Jiirgen Habermas, deslocou os conflitos entre capital ¢ trabalho para o problema da distribuigio justa das chances de vida geradas socialmente. O resultado desse processo para a teoria da emancipagio revelou um aspecto altamente ambivalente: baseado em um amplo sistema de compensagies sociais, 0 incremento administrative deformou burocraticamente os ptincipios democriticos, neutralizando a participagio politica ativa dos cidadios."? A pacificacio do mundo do trabalho € 0 esvaziamento da participagio politica, que resultam assim de um arranjo domesticador do antagonismo de classe produzido paradoxalmente pelas conquistas socials, acabam inviabilizando o discernimento de “contratendéncias” ante os processos de reificagao oriundos de uma integrag3o repressiva provocada pela economia ¢ pelo aparclho estatal. Como, entio, reencontrar potenciais de protesto em geral apesar de os conflitos de classe existentes nas democracias de massa terem sido em grande medida engessados de modo funcionalista? Nao posso, infelizmente, ir além dessas poucas ¢ esqueméticas referéncias centrais para justificar meu ponto de partida segundo o qual apenas uma teoria capaz de renovar ctiticamente seus diagnésticos de época, isto é compreendet as caracteristicas ¢ desafios politicos proprios das democracias contemporineas, teria condicdes de esclarecer os sentidos dos novos conflitos sociais. FE isso sem saidas “‘pés-modernas”, ou scja, ainda mantendo o pano de fando que marcou os referenciais principais da teoria critica desde Marx: trata-se sempre de compreender de que modo processos hist6ricos diagnosticados como destrutivos 22 A Tterarura é vasta em relgio a este ponto. Cabe notar, principalmente, as pesquisas empfrieas do Instituto de Pesquisa Social no que diz respeito a entender as causas historieas que fzeram com que © proletariado no ccamprisse sua tarefa emancipatéria, Cf, FROMM, Ariviter and Angetelle am Vorsbend des Driten Roches, Eine susialpoculiicle Untersachang, HORKHEIMER (org). Staion ber Awtritit and Pamile. Pata uma revisio das teses empiricas, cf, HABERMAS. Theorie der kommunikation Handel, Band 2, capitulo VILL. Além disso, ef. 0 abrangente estudo de GROH, Emanipation and Integration: Beitnige zur Sogial- and Polttgschiche der dotecen Arwiteraveung ind des 2, Rei. © CE, HABERMAS. Toone des kommunitasnen Handels, Band 2, p. $22 ¢ ss; também ARATO ¢ COHEN, Gail soit and political theory, p. 11 € 88. Ambos os autores partem de OFFE, Strukturprblome des kapitalistiscen Staats. Coteros oie FhasfaPelea | Niner 2 | Papa 0 ‘ou patolégicos podem ser reparados em conexio renovada com uma préxis emancipatiria.'* Mas qual seria entio a ressonincia que os antigos ideais emancipat6rios encontram na experiéncia acclerada das sociedades democriticas atuais? Como coneiliar, na perspectiva do presente, 0 propésito emancipatério da tcoria critica estando consciente tanto da pluralidade cultural como do fim das “grandes narrativas”? Como diagnosticar as patologias socialmente _geradas em sociedades capitalistas altamente complexas diante das evidéncias de que o capitalismo j4 nfo pode mais ser considerado como um sistema unificado de racionalidade social? E se os processos de reificagio jé no surgem necessariamente na esfera em que sio provocados — por exemplo, apenas no “mundo do trabalho” — de onde surgiriam os novos potenciais politicos de revo? 0 A emergéncia de novos movimentos sociais surgidos na “periferia” do conflito entre capital ¢ trabalho — que, embora sintam as consequéneias da reificacio social, aio foram dirctamente atingidos pelos resultados funcionalistas dos conflitos de classe na forma de uma democracia de massas € do reformismo do Estado social — indicam potenciais de conflito que nio podem ser marginalizados pela teoria social. No lugar dos conilitos tradicionalmente considerados pelos socialistas, os quais se concentravam em torno da propriedade, da redistribuigio, do salirio ou do emprego, os novos conflitos sociais abrangeriam diferentes causas e objetivos, mobilizagdes e formas de acio politica, mediagSes € transformagées sociais.'* Refiro-me aqui as formas de protesto conhecidas como as new politics © 08 novos movimentos sociais, em gue passa a seF po dos efeitos colaterais do centro do sistema econémico ¢ politico sobre uma periferia prenhe de zonas de conflito, Eles apresentariam os principais potenciais de revolta na transigo para uma sociedade pés-industrial.' No final dos anos de 1960, uma nova ¢ longa transformacao politica ¢ social entrou em marcha,'7 Os movimentos dos civil rights e dos pacifistas nos Estados Unidos, a revolta de 1968 na Franga, os protestos estudantis na Alemanha, Inglaterra e mesmo México, as coalizbes entre estudantes € trabalhadores na Itilia, a mobilizacZo da sociedade civil nos ‘el identificar a ressondncia % Procure desenvolvet como as madangas poticas ats influeniaram a situagao da nova teria erica em MELO, Mars Habra Tener or ets da emanipae, Viva versio tesumida desse problema tis geal se encontra em MELO, “Teoria ees €o8 sentidos da emaneipago” °C RASCHKE. Segiae Beg: in ior aematcher Gran apo 6. 8 Ch MARCUSE. The Now Lit and the 19605 MELUCCI, “The symbolic challenge of contemporacy movements", Hi ainds TOURAINE. “Novos moximentos soci e também dele O psalm, apt 6 CE MULLER, Conesting democracy, BLEY. Forgery: The itor of tb fix Pare, 1850 2000 Coteros oie FhssfaPlea | Nimo 23 | Pagna processos de democratizagio em lugares diversos, como Madrid, Roma ¢ em Praga ainda comunista, bem como em paises da América do Sul etc., setiam apenas alguns dos exemplos de uma ampliagio sensivel no quadro das politicas progressistas em curso e que se desdobrariam na revitalizagio do discurso da esfera publica ¢ da sociedade civil nos anos 1990."* Desde entao, as demandas ¢ tematizacées, cada vez mais diversas ¢ plurais, scriam compostas principalmente pelo feminismo, com as politicas de género, pelas campanhas antinucleares ou movimentos pela paz, movimentos gays € outras amplas politicas em torno da sexualidade, politicas comunitirias localizadas, como os movimentos indigenas, movimentos nacionalistas ou regionais, movimentos sociais urbanos (moradia, mobilidade, patriménio cultural), lutas por reconhecimento, que abrangem, sobretudo, politicas antirracistas que respondem a problemas de imigragio ou lutam pela afirmagio de minorias Etnicas ¢ culturais. “Mesmo que muitos desses contflitos estejam ligados de algam modo as estraturas do capitalismo tardio, dificilmente elucidaremos seus sentidos simplesmente localizando-os partir de sua posicio na estrutura do trabalho ou da relacio com os meios de producto. Em linhas gerais, quando passam a se sobrepor aos velhos conflitos, as novas manifestagdes politicas sio deslocadas da zona de reproducio material, concentrando-se na restituigio ou implantagio de formas de vida auténomas, Os “novos conflitos”, afirma Habermas, “sto deflagrados por questies envolvendo a gramitica de formas de vida, nao problemas de distribuigio”””, Se, em termos socialistas, a “velha politica” se ancorava principalmente nos trabalhadores, nos empresitios e na classe média dedicada 8 indistria, na “nova politica” ela passa a se constituir em tomo dos problemas da qualidade de vida, dos direitos iguais, da autorrealizacio individual, da participacio politica e dos direitos humanos, ecoando principalmente em uma nova classe média, em uma geragio mais jovem ¢ em grupos de formagio escolar qualificada. © que pretendo sublinhar nio diz respeito ao recorte socioeconémico mais diversificado dos grupos politicamente ativos, mas sim 4 distingZo entre os conilitos que ocorrem no centro das camadas diretamente envolvidas no proceso de produgio € uma periferia conilitante constituida por uma diversidade de clementos, mas que se definem, em contextos de CE DIANT e DELLA PORTA. Soria! moeymonts, introdugio; ARATO © COHEN. Chil scey and politial theor, introducio, capitals 1 ¢ 10; e LAVALLE, “Sem pena nem glériar O debate de sociedade civil nos anos 1990", pp. 91-110, HABERMAS. Thvorie des kamaunibatin Handel. Band 2, p. 706, Esse deslocamento do paradigina disteibutivo para o da autonomia (ou reconhecimento) das formas de vida foi amplamente assumido pela teorla erica contemporiines. CE. ARATO ¢ COHEN. Citi! secesy and politcal ther, HONNETH. Lit por reconbeimente: graitica moral die conftes scar, BENHABIB. The claim of cater, capialo. 3; FRASER, Jace Dnterpt: eritical reflections on the ‘pestcodalit” condition, Para uma apresentagio mais sistemitica da questio, ef. MELO. Mure « Hoemas: Tora erica eos remiss da emancpagao, capa 6. Coteron oie a FhssfaPelea | Nimo 2 | Papa 2 capitalismo tardio, por estar mais longe do “micleo produtivo”. Assim, esse deslocamento da “distribuigfo” para a “autonomia” deve poder ser entendido segundo a capacidade de resisténcia dos sujeitos que se revoltam diante de sua perda de liberdade, os quais agem contra as consequéncias autodestrutivas provocadas por processos socials que produzem patologias. Outro aspecto fundamental a ser considerado, sobretudo se estamos olhando para a logica dos movimentos sociais a partir da década de 1980, diz respeito Aquilo que se convencionou chamar de “democratizagio da democracia”. A anélise da situaglo da democracia de massas do Ocidente capitalista consiste em admitir que a demoeracia, a despcito da amplitude sem precedentes de sua adogio ¢ das formas de sua implementacio, vem perdendo sua vitalidade. Conforme esse diagndstico, os mecanismos democriticos clissicos de expressio da soberania popular se limitam aos imperativos das eleigdes competitivas de partidos e Ideres politicos em busca de cargos legislativos e executivos subordinam-se forma de organizacio burocritica do sistema administrativo do Estado. Esses_mecanismos de representagio inibiriam 0 ioteresse pela politica ao engessarem a participagio democritica nos canais institucionalizados, impedindo a tomada de deci politicas fandadas na discussio publica aberta ¢ dindmica entre os cidadios.”” Assim, as possibilidades de formacio espontinea da opiniio publica ¢ da vontade coletiva teriam sido limitadas pela segmentagio do papel de eleitor, pela concorréncia entre as elites dos partidos, pela estrutura vertical dos processos de formagio da opiniio pitblica dentro dos aparelhos partidérios burocratizados, pela autonomizacio dos grémios parlamentares ¢ pela excessiva concentracio de poder sobre os instramentos de comunicagao publica es diante desse quadro que se coloca a questio da “democtatizacio da democtacia”. Pois a sociedade civil no procura mais simplesmente lutar contra o sistema politico econmico, mas aumentar seu poder de influéncia, colocando em marcha uma tendéncia de transformacao democritica da relagio entre Estado ¢ sociedade juntamente com a tadicalizagio de espagos considerados mais democriticos de participagio politica. Esses conflitos colocam um desafio para a democracia atual ¢ fundam 0 horizonte a partir do 08 obsticalos existentes sio diagnosticados. Os movimentos sociais ha muito tempo apresentam criticas ao sistema representativo e procuram, por exemplo, influenciar processos legislativos © decisées do judiciétio. Fles simultaneamente modificam 0 sentido da emancipagio © apresentam uma atitude critica diante do presente: nfo se Iuta “contra” a democracia ¢ 0 dircito, ou simplesmente “ao lado” deles, mas por dircitos e pela radicalizagi0 % CE BARBER. Strong demooray. BESSETE, The mild wice of razon, Deliberate democracy and American national _gptemiment,iotrodugio; GUTMANN. “A desarmonia da democracia”; BOHMAN, Pablcdilberaton, intcodusio; € ‘MELO, O ss piles de nao: Phralismo « demacaca em angen Habermas, capil 3, Cater escola | Minow 2 | Papa 3 da democracia”, Essa perspectiva critica esti amplamente presente nas pautas politico- juridicas atuais, com a ideia do plutalismo juridico, das transformagies da cidadania e da representagio politica, da reforma do judiciério € mais acesso A justiga, das ages coletivas das tematizagdes piblicas ligadas as reivindicagSes em torno de desigualdades ¢ diferencas™. Ora, essa luta pela radicalizagio da democracia, no entanto, nio diz tespeito apenas telagio mais reflexiva entre Estado e autodeterminagio politica, isto é aos mecanismos politicos de participagio € ao exercicio da autonomia piiblica dos cidadios. Uma mudanga significativa no imaginério politico atual coloca nocdes de identidade, diferenea, cultura reconhecimento no centro dos desafios a serem enfrentados pelas democracias. Os ideais que tradicionalmente inspiraram as lutas socialistas por transformagio na organizagio social e nos atranjos institucionais nfo apenas esgotaram suas energias ut6picas, mas tiveram ao menos de dividie espaco com as demandas por reconhecimento de diferencas culturais. Essa “condigio pés-socialista”, para usar um termo de Nancy Fraser, pode ser diagnosticada adequadamente apenas se a teoria critica contemporinea repensar profundamente a relagio entre teoria & praxis, Assim, € preciso entender que, segundo tal diagnéstico, uma das principais tarefas da teoria critica consistiria em compreender a piluralidade de lutas sem englobélas em algum projeto emancipatiro totalizante™. Segundo Fraser, nos conflitos atuais caracterizados como pés-socialistas, demandas por “teconhecimento das diferencas” alimentam a luta de grupos mobilizados sob as bandeiras da nacionalidade, ctnicidade, raga, géncro ¢ sexualidade. Nesses conflitos “pés- socialistas”, identidades grupais “substituem interesses de classe como principal incentivo para mobilizagio politica, Dominago cultural suplanta a exploracio como a injustiga fundamental. E reconhecimento cultural desloca a redistribuicio socioecondmica como o remédio para injustigas ¢ objetivo da luta politica”.* Contudo, vale notar que Fraser insiste no fato de que a desigualdade material persiste como fonte de conflito paralelamente 4s disputas por reconhecimento, ¢ formula um projeto de teoria exitica em que questdes de justica envolvem, ainda hoje, tanto reconhecimento como redistribuicdo. “Com a perda da centralidade do conccito de classe”, afirma a autora, “movimentos sociais diversos mobilizam-se ao redor de eixos de diferenga interrelacionados. Ao contestar uma série de injusticas, suas reivindicagBes as vezes sio sobrepostas; outras, contfitantes. Demandas por mudanga cultural misturam-se a demandas por mudangas econémicas, tanto dentro como entre movimentos sociais. Porém, CE HABERMAS, Paki and Gillam, ® C£ COSTA; MELO e SILVA. “Sociedad civil, Estado y derecho em América Latina: eres modelos interpretativos”. Ver também o conjunto de artigos sobre “dizeto, sociedade ¢ Estado” publicados em RODRIGUEZ. e SILVA (orgs). Manual de soil jridica ® ERASER, Justice Interapons: Critical fltons om the ‘pastioili” condton, pp. 35. % FRASER, “Da redistribuigio a0 reconhecimento? Dilemas da jstiga na era pos-socialisa”, p. 245, Coteros oie FhssfaPelea | Nimo 23 | Papa 8 de forma crescente, reivindicagbes com base em identidades tendem a predominar, j& que prospectos de redistribuigao parecem retroceder, © resultado é um campo politico complexo com pouca coeréncia programética’”™* Esse novo “campo politico complexo” mostra, por fim, que os acontecimentos recentes deslocaram 0 centro de uma teoria da emancipagio preocupada exclusivamente com a contradigio entre capital € trabalho. Pois a fraqueza de um projeto emancipatério totalizante tomou cada vez mais claro para a teoria critica contemporinea o fato de que os conceitos determinados pelo esquema geral da produgio, nas palavras de Jean Cohen, “nao serviriam mais como ponto de partida para unificar, ‘eérica e praticamente, a pluralidade de lutas € movimentos sociais na sociedade contemporinea”.” Os limites de uma concepgio de priais politica totalizante como orientagio emancipatéria consistitia, assim, na sua restrigo para dar conta de uma ampliacio de demandas, atores, ¢ questdes a serem incluidos na agenda da esquerda contemporinca, Ela excluiria perigosamente “a possibilidade (..) de poder haver outros modos de dominagio que nio as relagdes de classe socioecondmicas, outros prinefpios de estratificacio além de classe (nacionalidade, raga, status, sexo, ete), outros modos de ctiagio histrica e de interacio que nfo o trabalho © a prixis revolucioniria, outras fontes de motivagio para a orientagio da ago social, outras formas de intetagio politica (participacio) que nao relagdes hierérquicas de poder, ¢ outtas maneiras de contestar a sociedade capitalista que no as lutas de classe et torno de necessidades radicais que emergem na dialética do trabalho”. Em suma, a emergéncia de novos movimentos sociais mostrou que as tradicionais explicagdes politicas sobre as transformagdes sociais precisatiam ser revistas. Apesar do potencial critico para denunciar formas de dominagio ¢ desigualdade, 0 conceito totalizante de emancipagio fio poderia mais ser o referencial exclusivo para uma visio alternativa de sociedade ou para a interpretagio das dindmicas de contestagio e transformacio do presente. O pressuposto marxista de que as instituigSes de uma sociedade civil modema e as relagdes de classe proprias do modo capitalista de produgio sio uma ¢ a mesma coisa acabatia encobrindo “os principais aspectos da sociedade que tém de set questionados ¢ impede toda a compreensio do que € novo nos novos movimentos sociais”.* Essa critica, portanto, motivada por uma mudanga significativa no imaginétio politico atual que se volta para a diversidade de sentidos emancipatorios a serem enfrentados pelas democracias: os ideais que tradicionalmente inspiraram as lutas socialistas por transformacio na organizago social ¢ nos 2% FRASER. “Da redistrbuigio ao reconhecimento? Dilemas jstiga na era pos-socialista”, p. 248, 2° COHEN, Class and evil ce: The limits of marian etca bony, p. xi. (0 grifo & mex) ® COHEN. Clas and cil sia: The limits of marian etl thar, p. 19. % COHEN, Class an sl ciety: The limits of marian etal thr, p. xi Cater escola | Minor 2 | Papa 5 arranjos institucionais no apenas esgotaram suas energias utopicas, mas tiveram de ceder lugar para outras demandas Portanto, as orientagdes emancipatérias nfo se emudeceram com a perda das utopias totalizantes. A pluralizacZo da sociedade civil exigiu antes que © marxismo ¢ a teoria politica contemporinea abrissem novos caminhos em diresio a um discernimento mais adequado & sua propria dinamica. Em outros termos, a alternativa “reforma ou revolugio” nao seria suficiente para compreender os desafios da democracia diretamente ligados @ conflitos sociais de outra ordem: ambientalismo, homofobia, racismo, violagio de direitos humanos, violéncia doméstica etc. Somente pelo prego de uma redugio indesejvel uma teoria critica da politica poderia colocar tais fendmenos dentro de um referencial explicativo totalizante, isto é, sob referencial de uma sociedade pensada em sua totalidade como uma sociedade do trabalho. Os novos movimentos sociais propdem assim novos sentidos para as lutas emancipatdrias diante da dominacao politica ¢ social, renovando juntamente 0 proprio critério cxitico. De qualquer modo, eles criam um padsio eritico-imanente para a propria democracia que dispensa alternativa clissica da esquerda: nfo € necessirio adotar uma posico reformista pata apontat os petigos do paradigma revolucionirio, assim como nao é preciso assumir a saida revolucionéria para denunciar os limites da via reformista. Uma radicalizacio da democracia é suficientemente critica diante do engessamento presente do horizonte emancipatério, isto é diante das mais novas formas de “teificago da soberania popular”.”” EMANCIPATION TODAY AND THE CHALLENGES TO DEMOCRACY Abstract: The article discusses the question of emancipation today in two stages. Initially, it attempts to briefly present the main reasons that caused the paradigms of revolution and reform, central to the classical socialist orientations, ceased to be the most appropriate reference for a renewed theory of emancipation focused on understanding the new social movements. Besides that, assuming the point of view of contemporary critical theory, it stresses that one of the biggest challenges to democracy today lies precisely in the fact that emancipation cannot have just one meaning, but rather is permeated by a plurality of meanings and perspectives. Key-words: emancipation — critical theory — social movements — democracy, » Sobre a passagem do sentido “moaoligico” ou “totalizante” de emancipagio para o dignéstico dos “sentidos” da emancipagio, ef. MELO. Mars e Habermas: ‘Tenia orca ¢ at sentder da emancpapie,peincipalmente a terceira parte ® Segundo a expressio utilizada por Habermas no contexto das erises recentes na Furopa, Cf, HABERMAS. Sobre costae de Parepa. Une enain, pp. 51 6s escola | Mimo 2 | Papa 6 ERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDERSON, Perry ¢ CAMILLER, Patrick. (orgs). Um mapa da esquerda na Europa Ocidental. Rio de Janciro: Contraponto, 1994. ALEXANDER, Jeffrey C. The Civil Sphere. Oxford University Press, 2006. . Performance and power. 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