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CANTO SEGUNDO
Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi cndida e bela,
Sendo das mos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido, a cor murchada,
Tal est morta a tal donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva cor coa doce vida.
Lusad.
I
Que sons descompassados troa o bronze
Nas torres do mosteiro? Que ais carpidos,
Que agudos uivos desgrenhadas gritam
Essas mulheres plidas? Que fnebres
Alas so essas de homens todos de luto,
De escuro vaso e longo d vestido?
Que hinos de morte roucos murmurando
Vo esses cabisbaixos sacerdotes?
Que pompa essa? Um atade a fecha.
Orgulho do homem, ds o arranco extremo
Na vaidade da campa. Que grandezas,
Que distines queres pleitear ainda
Na igualdade terrvel do sepulcro?
Desengano da morte, s tu acaso
Outro sonho dos mseros viventes?
Quem desenganas tu? Viram de longe,
Caminho do mosteiro, os viajantes
Enfiar a porta mxima do templo
Ordem longa de tochas, bao lume,
Claro triste dos mortos. Sons perdidos
Do salmear montono lhes trouxe
A gemedora virao da noite;
E o ar pelos ouvidos lhestremece
Com o dobrar das campas desentoadas.
CANTO QUARTO
J a vista pouco e pouco se desterra
Daqueles ptrios montes, que ficavam:
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Ficava-nos tambm na amada terra
O corao, que as mgoas l deixavam:
exteriores, e no servem seno uma vez. As primeiras so o madeiramento que sustenta a casa;
as segundas, os andaimes que servem para constru-la e que se refazem para cada edifcio.
Estas so enfim a ossatura, aquelas o vesturio do drama. Alm disso, regras no se escrevem
na potica. Richelet no imagina [autor francs 1631-1698 -, comps Versificao francesa e
um Dicionrio francs]. O gnio, que adivinha antes de aprender, extrai, para cada obra, as
primeiras da ordem geral das coisas, as segundas do conjunto isolado do assunto que trata.
No maneira do qumico que acende seu fogareiro, sopra seu fogo, esquenta seu cadinho,
analisa e destri; mas maneira da abelha, que voa com suas asas de ouro, pousa sobre cada
flor, e tira o mel, sem que o clice nada perca de seu brilho, a corola nada de seu perfume.
HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime. Traduo do Prefcio de Cromwell. (1827)
Traduo e notas de Clia Berretini. So Paulo: Perspectiva, 1988